Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 3
Fluxos sanguíneos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Levantei-me muito rápido quando acordei, como se tivesse saído de um pesadelo. Eu estava em minha cama, com meu pijama. Saí apressadamente dela e abri minha mochila, que estava jogada em um canto ao meu lado. Não havia nada dentro dela, nem o pote com bolo, a garrafa de água ou me canivete. Fui para perto da cama e ergui meu travesseiro, o celular estava lá e anunciava 8:00 da manhã. Eu disse que voltaria até essa hora. Respirei rapidamente, assustada. Não pode ser... tinha sido um sonho? Foi tão real... desci as escadas e encontrei Aurora sentada no sofá, passando a mão nos cabelos pretos de Jackson, que estava deitado, com a cabeça em suas pernas. Ambos conversavam.

—Jackson... Aurora...

Quando me viu, Aurora me olhou, assustada.

—Você está bem, Wendy? Sua cabeça parou de doer?

—Sim...- respondi- Mas... o que aconteceu comigo?

Eles se olharam. Jackson se sentou e espreguiçou-se.

—Você não se lembra?- perguntou com os cotovelos apoiados nos joelhos.

Eu me lembrava sim... ou não?

—Hã... não muito bem.

Ele franziu as sobrancelhas.

—Você entrou correndo dentro de casa, acho que umas... 7:00 da manhã?- ele olhou para Aurora, que concordou com a cabeça, depois voltou os olhos para mim novamente- E gritava como uma louca... seus ouvidos estavam sangrando e parecia estar possuída.

Me imaginei naquela situação. Não me lembrava de nada daquilo... Slenderman teria manipulado minha mente ou algo do tipo? Eu estava com medo e não queria morrer.

—E a mãe e o pai? Onde estão?- perguntei.

—Saíram.- disse Aurora- Sua mãe achou que devia te levar para um médico, mas quando conseguiu te acalmar, te trocou e te pôs para dormir, achou melhor apenas ir comprar remédios. Nós vimos seu bilhete hoje de manhã. Foi para a floresta apenas explorar mesmo ou realmente acredita em Jeff?

Eu comecei a acreditar nele. Antes eu tinha ido explorar, mas naquele momento... sabia que era real, e Slenderman também. Mas ninguém acreditaria em mim.

—Fui explorar. Com licença, vou voltar para meu quarto.- olhei para eles antes de ir- Ah, e os aconselho que parem de ficar namorando naquela floresta.

Me virei e saí em disparada em direção ao meu quarto. Eu ia pesquisar mais sobre aquilo, bem mais. Quando entrei, olhei em volta e percebi que minha câmera de filmagem estava na prateleira dos livros e bonecas. Peguei-a rapidamente e comecei a ver minha filmagem da floresta. Estava tudo lá, até mesmo as interferências e o momento em que deixei a câmera cair e me filmar correndo. Pensei que veria Slenderman também, mas quando sumi de vista, as interferências voltaram e a gravação parou. Como diabos tudo aquilo ainda estava ali? Eu havia deixado a filmadora cair na floresta... como EU estava ali? Houve sim alguma coisa. Não foi um sonho. Mas já tinha em mente o que faria: me trancaria no quarto e sairia apenas para me alimentar e ir ao banheiro. Pesquisaria sobre Slenderman e tentaria descobrir o que tinha acontecido. Comecei a me lembrar de sua mão esticando-se para tocar meu rosto e estremeci. Lembrei-me das luzes e do barulho, e também de quando estava correndo na floresta. Meu maior medo foi quando o vi, a poucos metros de mim. Senti medo e congelei, saí do estado de transe apenas quando comecei a ouvir aquele som horrível.

Fui até a janela aberta e olhei as árvores, cujas balançavam com o vento, parecendo silenciosas e perigosas. E aquilo me deu um frio nas costas, me fazendo recuar e fechar a janela.

 

 Quando meus pais chegaram, me deram calmantes e passaram algum tipo de remédio em meus ouvidos.

—Eu quero ir embora daqui.- disse a eles.

Meu pai olhou para mim.

—Wendy, está estranha desde que chegamos aqui. Tem acontecido alguma coisa que queira nos contar?

Eu contava tudo aos meus pais, e mesmo que pudesse por a vida deles em risco, ficar naquela casa era pior.

 Então contei tudo a eles, desde o momento em que chegamos, encobrindo apenas Jackson e Aurora, que seriam descobertos sozinhos hora ou outra. Meus pais não acreditaram em mim, mas já que eu nunca mentia, a única coisa que concluíram foi que eu estava pirada.

—Você precisa de remédios.- disse a minha mãe. Ah, e a propósito, ela era psiquiatra- Você está apresentando alguns sinais de insanidade Wendy, e isso está me preocupando. Não pode continuar. Se esses sintomas persistirem, você irá para um médico.

Olhei para seus olhos, verdes como os meus. Encarei-a por uns instantes. Minha própria mãe não acreditava em mim.

—Não estou louca.- disse.

Pensei nas possibilidades. Se eu acabasse com nossa viagem seria vantajoso, já que nos distanciaríamos daquela maldita casa. Mas de qualquer forma, mesmo que eu quisesse negar, havia algo bem lá no fundo do meu ser que queria brincar com o medo. E pelo que pesquisei, não importa onde eu fosse, uma vez que eu visse Slenderman, ele me perseguiria para sempre. E eu não sei porque diabos ainda estava com um pequeno desejo de ficar ali, mas pela lógica, não havia volta. Insisti para contrariar minha mãe sobre minha mentalidade, mas até meu pai ficou ao seu lado.

 

 Passei o dia trancada no quarto, sem permissão para ir para a floresta (como se eu quisesse). Janela e porta fechadas. Procurei sobre os dois personagens terríveis, Jeff e Slenderman, e peguei todas as informações possíveis.

 

 De noite, saí para jantar e todos estavam calados na mesa. Com certeza meus pais já tinham contado a história para os dois preguiçosos. E eu queria contar sobre o que vi, e gritar para irmos embora, mas sabia que não adiantaria. 

O clima ficou tenso e eu não ligava para o que pensavam, o que importava era que eu sabia o que era real. Apenas me lamentava que algo ruim poderia acontecer, e eu não seria capaz de fazer nada. Ficou assim durante um tempo até que Jackson começou a contar suas piadinhas e começamos a conversar melhor. Mas mesmo assim, eu ainda estava nervosa. 

 

 Quando terminamos de jantar, eu fui mandada diretamente para o quarto. Coloquei meu pijama azul de calça e mangas compridas. Implorei para meus pais para dormir com companhia, então disseram que eu podia dormir com Jackson, já que seu quarto tinha uma cama de casal. Pelo menos eu não estaria sozinha. 

Entramos em seu quarto e foi aí que percebi que lá e o quarto de Aurora eram os únicos cômodos que não havia explorado. O quarto era parecido com o meu, mas com distinções nas paredes. O meu parecia o tom do céu nublado, uma coloração cinzenta nas madeiras gastas. Já o dele parecia um cinza mais escuro. Percebi que, no lugar do que devia ser uma penteadeira, como no meu quarto, tinha um grande guarda-roupa e ao lado da cama, havia um criado-mudo com um abajur em cima. Também tinha uma prateleira, com muito mais livros que a minha e sem bonecas. 

Nos deitamos na cama, nos cobrimos e ele deitou-se de barriga para cima com a cabeça apoiada nos braços cruzados. Desliguei o abajur e ficamos com uma leve luz da lua que vinha através do vidro da janela. Eu me virei para ele e começamos a conversar um pouco.

—Sabe...- comecei- Eu realmente quero ir embora dessa casa.

Ele ficou sem responder por uns instantes e respirou fundo, parecendo conter a paciência.

—Wendy...  você é bem estranha. Aquela creepypasta que contei nunca foi verdade. Nenhuma é.

—Eu também pensava assim...-falei olhando para ele.

Ele se virou para mim. Meus olhos tinham se adaptado mais ao escuro e pude enxerga-lo bem.

—Você precisa ter um pouco mais de realismo na cabeça. Mamãe acha que está louca e se isso for verdade...

—Eu não estou louca, Jackson.- o interrompi- Vocês não sabem o que eu vi. Eu quero livrar vocês do pior.

Seu rosto pareceu se decepcionar.

—Por que não consigo acreditar em você?- ele perguntou.

Jackson podia ser preguiçoso, interesseiro, um pouco idiota e metido, mas tinha um espírito bem paternal quando se tratava de nossa relação. E da mesma maneira que acontecia comigo, ele se decepcionava quando nossas ideias eram opostas em assuntos tão sérios. Me senti isolada. Todos estavam contra mim, até mesmo meu irmão. Me virei para o outro lado.

—Tudo bem. Boa noite.- eu falei.

Ele não me respondeu.

 

 Quando acordei, percebi que era madrugada. Minha garganta estava seca. Ia pedir que Jackson fosse comigo para a cozinha, mas achei melhor não incomoda-lo. Me levantei, coloquei meus chinelos e desci as escadas. Quando cheguei à cozinha, parei de andar. Pra falar a verdade, eu nunca queria ter descido aquelas escadas. Não naquela hora. Eu me arrependo muito disso. Bem previsível. Não sei como impedi minha boca de se abrir e gritar o mais alto que podia. Eu sabia que era ele. Aquele casaco branco coberto com sangue, e aqueles cabelos imundos e negros o denunciavam. Jeff, aquele demônio. O mal em forma de gente, de costas para mim. E quem dera ele estivesse apenas na minha frente, indo me atacar. Ele estava decapitando alguém. 

Minha vista se embaçou. Eu queria desmaiar e vomitar. Queria gritar, me mexer, pedir ajuda. Meu corpo tremia mais do que nunca. Ele ainda não tinha percebido minha presença, mas eu não sabia como lidar com aquilo. Senti as lágrimas correrem pelo meu rosto enquanto ouvia sua maldita risada insana, se divertindo com aquilo. Ele devia queimar no fogo do inferno, com certeza. Quando terminou de arrancar a cabeça, eu vi os cabelos. Loiros, cheios de sangue. Nossa família inteira tinha cabelos pretos, mas havia ali alguém que não era de nossa família. Aurora. Aquela garota tão linda teve seu corpo mutilado. Quando finalmente consegui olhar ao redor, percebi que a criatura não havia arrancado apenas sua cabeça. A cozinha toda estava ensanguentada, suas mãos jogadas em um canto da cozinha e seus pés enroscados por um fio em suas pernas. Ainda virado, Jeff pegou a cabeça de Aurora e começou a mordê-la, ou melhor, devora-la. 

Não aguentei. Senti uma força dentro de mim maior do que tudo que já senti depois que vi aquela cena. Mas essa força me fez fazer a maior burrice que podia fazer em toda a minha vida. Corri o mais rápido que pude e pulei em cima de Jeff, e nós dois caímos em cima do corpo de Aurora e sua cabeça rolou para longe. Jeff cheirava a carne estragada. Eu fiquei coberta de sangue. Ele se levantou mais rápido que eu e, quando fiz o mesmo, já estava o vendo pular por cima de mim, gritando. Quando fez isso, não fincou sua faca em mim, apenas me jogou para trás e não sei como minha coluna vertebral e costelas aguentaram aquele impacto forte contra a parede. Ele apertou minha garganta com uma mão, que era áspera, sufocando-me com força e tentei segurar o braço dele. Foi aí que pude ver seu rosto direito. Era como diziam, não havia cor natural. Era tão branco quanto o de Slenderman e cheio de cicatrizes. Seus olhos eram azuis e bem destacados, graças às queimaduras em volta deles, que saiam do branco do rosto e se transformavam em manchas pretas. Seu cabelo, o qual já tinha prestado atenção, era fortemente preto, como dizia sua creepypasta, por conta do fogo que o queimara e batia quase até seus ombros, era fino e mal cortado, de maneira repicada. E sua marca: Seu sorriso. O infernal sorriso de Jeff the Killer, aquelas cicatrizes enormemente fortes e profundas saindo de sua boca e se alongando ao longo das bochechas... poderiam serem vistas de longe. Ele realmente conseguiu um sorriso permanente como queria. O sangue de Aurora por todo seu rosto podia ser um detalhe especial para aquele rosto tão psicopata.

 Onde estão meus pais, droga?! Onde está Jackson?! Pensei. O maldito se aproximou de minha orelha, segurando com força meu pescoço, quase me fazendo perder a respiração.

—Está com sono, garotinha corajosa?

Sua voz... a coisa mais assustadora que já ouvi. Parecia de um menino normal, mas era rouca e tinha um tom insano. Eu estava perdendo meu ar e sentia as lágrimas pelo meu rosto. Senti seu cheiro podre. Ele continuou.

—Então... vá dormir.

Ele afrouxou um pouco a mão que segurava me pescoço e eu fechei meus olhos com força, esperando pelo fim. Mas... percebi que o fim demorava para chegar. Abri os olhos e vi que ele estava com a faca paralisada, 5 centímetros de meu rosto e olhando para mim com os olhos arregalados, o que me fez gemer de medo.

—Você...- ele disse, confuso.

Ele parecia notar o que estava acabando de fazer, como se seu objetivo não fosse me matar... pelo menos, não naquela hora. Me lançou um olhar mais insano do que antes, como se não tivesse noção do que estava fazendo.

—Grrr...- foi o único som que omitiu, mostrando os dentes e me olhando com ódio.

Pegou meu cabelo e colocou com força minha cabeça contra a parede, novamente. Sorriu.

—Amanhã eu volto.- disse.

Passou a ponta da faca lentamente pela minha bochecha, fazendo-me gritar, sem poder me mexer.

 

 Caí no chão e ele saiu correndo. Não pude ir atrás dele. Vi o corpo de Aurora alguns centímetro longe de mim e sua cabeça um pouco mais distante. Vi suas mãos em diferentes lugares da cozinha. Coloquei a mão na bochecha e senti a ardência do corte, que não pude imaginar o tamanho ou profundidade. Coloquei as mãos no chão ensanguentado e gritei. Gritei tudo que não pude gritar quando Jeff estava presente. Eu estava confusa. Eu queria morrer.


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Notas finais do capítulo

Desculpem pela enrolação... ashuahs
Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo.



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