Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 29
Sorria para a dor


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei o que dizer.
Só... boa leitura :)



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 Lentamente abri os olhos sentindo uma dor de cabeça infernal, que me fazia querer vomitar. Senti meus cílios impensados contra alguma coisa e percebi que, mesmo abrindo os olhos, eu não podia ver nada. Eu estava vendada e sentada em algo que julguei ser uma cadeira sem braços. Minhas pernas estavam juntas, unidas por algo que se enrolava em meus tornozelos. Eu não podia sentir o que era porque estava com aquelas botas de cano alto, mas supus que fosse uma corda. Meus braços estavam amarrados um ao outro atrás das costas da cadeira, e eu tive certeza de que era uma corda que os amarrava, porque senti seu contato com meus pulsos.

 

Mesmo ainda estando com aquele maldito vestido, eu sentia meu corpo muito quente. Na verdade, o local onde eu estava parecia muito quente, e silencioso também. Eu podia ouvir apenas minha pesada respiração. Quando comecei a dar conta da situação, entrei em pânico. De repente, eu me sentia apertada e sem fôlego, como se estivesse tendo um ataque de claustrofobia. O ar não parecia querer passar nos meus pulmões, e meu corpo começou a parecer tão quente que eu senti como se estivesse pegando fogo.

Respirei rapidamente pela boca e me agitei na cadeira. Tentei não gritar de agonia, mas foi inevitável, e minha voz soou no local inteiro, como um eco. Me debati tanto que me derrubei junto com a cadeira para a lateral e bati a cabeça no chão, que doeu mais do que antes, como se tivesse levado uma facada nela. A lateral das costas da cadeira caiu por cima do meu braço, que estava amarrado por trás dela, e aquilo doeu.

—Hahahahahahaha! Que idiota!- ouvi uma voz.

Me assustei, porque não tinha escutado nada antes e pensei que estivesse sozinha ali. Eu reconheci a voz de Jeff e, além da agitação e do pânico, o ódio tomou conta de mim mais uma vez.

—Jeff!- gritei.- Por que você não me mata logo, seu monte de merda?!

—Você já tá morta... hahahahaha! Mas tem razão, você é inútil mesmo. Mesmo assim, eu não vou deixar que sua dor acabe tão rápido, isso seria... entediante.

Ouvi passos, como se ele estivesse vindo em minha direção, e então, senti seu corpo perto do meu.

—Hmmmm... vamos ver como vou fazer.- sua voz vinha do alto.- Talvez eu comece com um chute?

Ele esperou por um momento, e então, chutou com força minha barriga e eu me contraí e me encolhi, soltando um longo gemido. Por algum motivo, há algum tempo, nenhuma dor parecia tão horrível quanto antes, como se eu estivesse me acostumando com aquilo tudo; mas ainda assim, eu não era de ferro. Senti ele aproximar seu rosto do meu e senti um cheiro horrível. Aquele cheiro que ele tinha... de algo podre. Ele começou a sussurrar.

—Ei... você está tão estranha nessa roupa... hahahaha... você é tão estranha. Por que você resiste tanto? Por que você não morre...?

—Jeff...- tentei repreendê-lo.

—Cala a boca!- gritou, cuspindo no meu rosto.- Você é louca!

—Não! Você é louco! Por que você faz isso com as pessoas? Por que faz isso comigo?! Por que você não é normal?!

Ele começou a rir. Sentia seu rosto muito perto do meu.

—Normal...?- riu mais.- O que é ser normal em um mundo insano?!

—São pessoas como você que o torna insano, seu desgraçado!

Ele segurou apertou minhas bochechas com uma mão, quase fincando as unhas nelas.

—Se você continuar com esse maldito tom, eu vou morder seu nariz até arrancá-lo da sua cara.

Eu ri.

—Acha mesmo que meu nariz importa? Quem é nada não tem nada a perder.

Ele riu.

—Você me lembrou de algo que eu sempre quis fazer.

Ele saiu de perto de mim e levantou a cadeira sem dificuldades. E então, se sentou em cima de mim, com as pernas abertas e me segurou pelo cabelo com uma das mãos, puxando minha cabeça para trás. Minha repugnância foi tão grande, que quis vomitar, porque pensei que ele fosse me violentar.

—Espera! Espera!- gritei.

E enquanto minha boca estava aberta, senti uma ardência muito grande no canto dela, como se algo estivesse a cortando. E então eu raciocinei que Jeff estava rasgando a minha boca, para me fazer sorrir como ele. A faca escostava e cortava minha por dentro de minha boca também, machucando minha língua e gengiva, e batendo em meus dentes. Eu já senti dores piores, mas não podia negar que aquilo doía muito, muito mesmo. Essas dores são inexplicáveis, só as sentindo para imaginar. Me abalava não só fisicamente, mas emocionalmente também. Eu gritei e tentei secudir minha cabeça para me livrar da faca, mas Jeff me segurava com força.

—Fica quieta! Você vai deformar seu sorriso!

Enquanto me segurava pelos cabelos, cortou minha venda por trás, que escorregou de meu rosto e caiu no chão, mas ainda assim, não abri os olhos. Eu não queria olhar para Jeff tão perto de mim. Porém, nem precisei abrir os olhos para que as lágrimas começassem a cair.

Ele fez a mesma coisa no outro canto da minha boca. E eu só consguia gritar e chorar de dor. Eu sentia o sangue se espalhar por dentro da minha boca, com aquele gosto metálico, e escorrer no meu rosto.

Quando ele acabou, saiu de cima de mim e falou histérico:

—Perfeita! Não tanto quanto eu, mas ficou muito bom! Você se mexeu muito, então estragou um pouco.

Eu ainda não tinha aberto os olhos, apenas os mantinha fechados com força. Mal podia entender o que significavam suas palavras, eu só chorava de dor e ódio. Virei a cabeça e cuspi sangue no chão. Sentia meu rosto coberto de sangue e saliva. Passei a língua nos cantos de minha boca e senti uma ardência muito forte, e pude sentir os cortes ali. Ele cortou bastante minha boca por dentro também, mas apenas com a ponta da faca, sem querer (eu acho); não machucou minha bochecha fundo o suficiente para abrir a parte de dentro da minha boca, então acreditei que aqueles cortes se tornariam apenas fortes cicatrizes depois, como as dele.

Ele realmente queria acabar comigo. Ele realmente faria aquilo... mas eu não aguentava mais.

—Dói um pouco no começo, mas algumas horas depois passa.- Jeff disse rindo.

Só respirei pesadamente, tentando encontrar o que falar, e quando falei, as palavras saíram doídas de minha boca por conta dos cortes, e precisei fazer força para minha voz sair.

—Jeff... por que...?

—Para de perguntar isso. Você só...

—Cala a boca!- gritei.

Eu finalmente abri os olhos para encará-lo. Minha cabeça estava doendo e meus olhos começaram a derrubar lágrimas de ardência também. Senti minha visão um pouco embaçada no começo, mas logo notei que estava em um lugar muito escuro, com apenas uma luz amarelada e fraca sobre minha cabeça. Minha indignação com Jeff tirou minha curiosidade de olhar ao redor, mas atrás e em volta dele, até onde a luz alcançava, eu pude ver algumas estantes, a maioria vazia, mas percebi coisas que pareciam latas de tinta em algumas. Nas paredes eu via serrotes e pás presos. Atrás de Jeff, vi algo que parecia um grande portão de ferro, e podia quase jurar de que estávamos em uma garagem.

—O que eu quero saber é: por que você é assim? O que o mundo fez com você para torná-lo assim? O que tem de excesso ou falta dentro de você para te fazer agir do jeito que age?

Minha boca estava queimando e eu salivava o tempo todo, quase me engasgando. Eu não estava jogando com Jeff para tentar me livrar. Pra falar a verdade, eu não consigo imaginar o motivo de ter perguntado aquilo, talvez eu simplesmente estivesse falando compulsivamente. Eu sempre ligava para o que as pessoas sentiam, mesmo que fosse algo ruim, mas eu queria que Jeff morresse. Que se dane ele ou seus sentimentos malditos. Ele riu antes de responder.

—É engraçado como as pessoas não enxergam que as histórias não tem apenas um lado.- ele mudou o tom de voz e começou a gesticular com desprezo.- "Ai! Jeff the Killer é um monstro que matou a família! Protejam suas crianças, ele está vindo!"

E riu diabolicamente.

—Idiotas!- gritou.

Foi até uma das latas de tinta e a chutou com tanta força, que a lata abriu e manchou o chão de vermelho, o que fez o lugar ficar com um cheiro tão forte, que pensei que fosse explodir minha cabeça. Encarou a tinta por um momento, se ajoelhou e colocou calmamente ambas as mãos na tinta, depois as levantou e olhou para as palmas molhadas com o vermelho. Ele ficou quieto por um momento, como se estivesse pensando em alguma coisa, e depois começou a sussurrar em um tom medonho, e precisei ficar muito atenta para poder ouvir.

—Por que ninguém pode ver que eu estou sendo piedoso...? Por que eles não vêem que eu sou... Deus...?

—Chega dessas loucuras! Você não é Deus! Você é um demônio!

—Eu sou Deus sim!- ele berrou, levantando-se.- Eu mato para livrar as pessoas!

—Você se diverte matando, seu sádico! Olha o que você fez comigo! Olha o que você faz com as pessoas! Você as destrói! Você matou sua família!

Tenho certeza de que nossos níveis de ódio estavam idênticos. Eu podia sentir a ousadia na minha voz, sem medo nenhum, apenas com o sangue fervendo. E os olhos de Jeff pareciam queimar de raiva, como se ele estivesse possuído, e não parávamos de gritar um com o outro.

—Foram eles quem me mataram! Todo maldito segundo, toda maldita vez em que eu piscava eu via um mundo cheio de sangue à minha frente! Um mundo em que não valia a pena viver, porque eu estava morto! Porque me mataram logo no momento em que nasci!

—A culpa não é dos outros que você tinha uma vida de merda! Porque não se matou logo de uma vez?! Você...- eu ri, com deboche.- Tinha medo da morte, covarde?

Ele sorriu, maligno.

—As coisas não são divertidas se você simplesmente acabar com elas. Se eu não podia sentir nada de bom com o que tinha antes, eu devia criar meu próprio método de prazer! Eu apenas me divirto enquanto trabalho, levando as pessoas para a morte e as poupando dos sofrimentos da vida. Quem morre são os fracos. Só quem é digno de viver, como eu, deve ter esse tipo de prazer que eu tenho.

—Você é doente! Você que devia morrer, seu filho da puta!

Ele correu em minha direção e me começou a me socar, pra direita e pra esquerda. Minhas bochechas arderam tanto, mas tanto... que quase implorei para que ele parasse, mas ele fez isso antes que eu pedisse. Quando parou, senti uma pontada muito forte no meu pescoço, como se ele pudesse se quebrar a qualquer momento, e me peguei chorando de dor por conta de minhas bochechas. Eu gemia e chorava de dor, muito alto. Jeff riu.

—O mais engraçado é que você está sorrindo e chorando ao mesmo tempo! Hahahahahaha!

Eu não o suportava mais. Até sua voz me dava nojo. Comecei a gritar em meio ao choro.

—Você vai queimar no inferno algum dia! E eu prometo que sou eu quem vai te levar para lá, se não me matar primeiro!

—Você não sabe de nada que aconteceu comigo, sua vadia! Você não pode falar nada!

—Você não tem motivos para fazer o que faz! Tirou tudo de mim e eu não tenho nada a ver com a sua vida... por quê?!

Ele riu.

—Não ouviu o que eu falei sobre deixar viver apenas quem merece viver? Eu te dou esse privilégio! Eu dou o privilégio de sentir a adrenalina correr em suas veias da mesma maneira que eu sinto! Por que é tão ingrata, garota?!

—Jeff, você é nada! E não importa que você tenha esse complexo de Deus, você sempre será nada!

Ele levantou a faca e ia batê-la contra mim, mas com a outra mão, segurou o próprio braço que segurava a faca, como se estivesse se impedindo de fazer algo automático. Ele abriu a mão que segurava a faca e a deixou cair no chão. Envolveu as mãos em meu pescoço e o apertou, mas não forte demais. Aproximou o rosto do meu e riu, mas parecia nervoso. Eu sentia suas mãos tremendo, como se ele estivesse tendo um ataque. Suas pupilas estavam dilatadas, e seus olhos e boca tremiam. Ele apertava cada vez mais meu pescoço. Começou a falar em voz baixa.

—Eu não sei quem ou o que te protege, mas eu não consigo te matar.- apertou mais meu pescoço.- Simplesmente não consigo. Mas eu garanto que eu vou te estragar por dentro. Destruir. Aniquilar. Você vai sentir o mesmo que eu sinto. E a morte corporal que você tanto almeja, nunca vai acontecer. Eu não sei quem você é, não sei o motivo de estar aqui, mas eu queria que soubesse de uma coisa.

Ele aproximou aquela boca nojenta de minha orelha esquerda e sussurrou.

—Eu te odeio.

E com um movimento rápido, mordeu o lóbulo de minha orelha com força, tanta força que eu a senti se rasgar. Ele a mordeu com os caninos e, a princípio, tinha apenas fincado os dentes com força, mas em um ato de desespero, quando me debati e virei com com intensidade minha cabeça para o lado oposto, senti uma explosão em meu ouvido e soube que tinha acabado de ficar surda. Quando puxei minha cabeça, ele continuou mordendo, e isso fez com que ele puxasse meu lóbulo com os dentes, consequentemente, puxando o resto da orelha em uma direção contrária, com força, o que deve ter estourado tudo por dentro. E além disso, senti a pele de minha orelha se rasgando, inteiramente. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido, mas senti um zumbido muito, muito forte dentro de minha cabeça e a tontura se fez presente naquele momento. Eu gritei muito e senti muita dor, e quanto mais eu gritava, mais parecia que minha cabeça ia estourar, pois senti minha audição estremamente sensível, e meus gritos pareciam agudos demais. Comecei a chorar e Jeff passou a língua por dentro de minha orelha, lambendo o sangue. Senti um ar entrando em meu ouvido, como se estivesse o fechando e impedindo que o som entrasse, ou que o deixasse alto demais... eu não sei. Jeff riu.

—Vou te deixar sozinha com sua dor por um momento.- falou.

Sua voz soou alta demais para meu ouvido, e doeu minha cabeça. Eu continuava ouvindo o zumbido, que parecia cada vez mais alto, e fazia um inferno em minha cabeça.

Eu gritei e gritei, porque não conseguia parar de gritar.

Jeff saiu da garagem e eu nem ao menos notei aquilo.

 

Eu estava muito irritada, doente, triste e dolorida, por dentro e por fora. Eu não sabia mais o que falar ou como agir. Não sabia o que fazer para que aquilo acabasse, porque nunca acabava, não importava o que eu pudesse fazer. Meu ouvido e corpo doíam inteiramente e eu nem ao menos podia ficar em uma posição confortável, ou colocar a mão no lugar dolorido para fazer a dor passar. Eu estava começando a duvidar se era mesmo humana, porque era humanamente impossível alguém resistir a tudo aquilo. Ou talvez fosse apenas efeito da morte. Eu sabia que se me matasse, Slender me traria de volta para que eu fizesse o que ele queria. Eu não sabia a razão de ser eu quem estava ali, não sabia porque não podia ser outra pessoa, ou o que eu tinha de especial para estar ali. Eu era apenas qualquer uma que sentiu o que qualquer um sentiria ao ser tratado da maneira em que fui desde que ele chegou em minha vida.

 E o mais engraçado era que, mesmo com toda aquela negatividade; todo aquele stress; toda aquela maldição; toda aquela insanidade, eu estava sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar aqui.
Nos falamos no próximo capítulo :)



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