Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 19
Possessão


Notas iniciais do capítulo

boa leitura.



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—Zalgo...- continuei pronunciando seu nome, gemendo de dor e olhando para o monstro.

Eu estava deitada de barriga para baixo e com as mãos no ferimento, uma posição que não ajudava em nada pra ser sincera. Minha barriga ardia intensamente e minhas energias pareciam estar se acabando. Minha cabeça pareceu pesada, então ela simplesmente caiu no chão e precisei virar meu rosto pra não respirar areia.

Eu realmente vou morrer aqui depois de tudo isso?

...

Não. Não pode ser agora.

Tentei sobreviver mais uma vez. Talvez pela última vez.

 Levantei meu rosto e olhei para o meio do círculo, sem notar mais nada, apenas Zalgo. Seus olhos pareciam grudados em mim e ele parecia notar o que eu faria... parecia propor um acordo infernal. Reuni todas as forças que ainda me restavam para dar, supostamente, meu último grito, que saiu longo e rouco.

—ZAAAALGO!

No primeiro milésimo em que comecei a gritar, percebi que Zalgo se desfez em fumaça no meio do ritual e voou como uma nuvem negra rapidamente em minha direção. Quando a fumaça escura se aproximou de mim, eu o senti possuir meu corpo e fui brutalmente levantada e jogada para trás, de costas no chão. Fechei meus olhos antes do impacto, porém, não senti nenhuma dor.

 No mesmo instante, abri meus olhos e parecia ser outra pessoa. Um ser de imenso poder. Eu podia sentir todos os seres do mundo, ouvir todos os gemidos de dor e desespero. Eu ouvia choros e lamentações e eu sabia que carregava o medo de todas as pessoas, e era eu quem os causava também. Porém, apesar de todo esse poder, me senti extremamente vazia... como se todo o medo que eu causasse às pessoas, voltasse em dobro para mim. De repente, eu pareci ficar com apenas 1% de minha consciência ativa. Tudo que vi, tudo que falei... eu parecia estar sonhando. Eu não podia me mover ou falar nada, e eu parecia ter me tornado outra pessoa... alguém com desejo de matar, apenas matar. Eu encarnei Zalgo. Eu me tornei Zalgo.

 

Zalgo

 Finalmente eu tinha conseguido a última alma. Levantei da areia sem dificuldades. Eu curei os ferimentos que me machucavam. Olhei para minhas novas mãos, meu novo corpo. Era perfeito... e era o que eu precisava. Um único corpo humano era o suficiente para conquistar o que eu queria. Sem aquela jovem eu jamais teria conseguido. Sua consciência dormia no fundo de seu corpo, mas não era forte o suficiente para acordar sozinha, assim como todas as outras nove consciências que eu havia coletado. Todas aquelas pessoas cujas almas haviam sido tomadas por mim, existiriam para sempre, mas nunca mais viveriam. Aquela menina permitiu minha entrada em seu corpo, diferente dos outros que eu apenas havia pegado as almas.

 Olhei para frente e vi aquela figura repugnante. Foi gratificante para mim ver aquela expressão de medo em seu rosto, como se não tivesse para onde correr. Ele estava com aquela boca enorme aberta, olhos arregalados e... haha! Sua faca tinha até caído de sua mão. Mais além, Slenderman parecia confuso e furioso e suas crianças pareciam ter tomado a consciência. Olhavam para mim, chorando e gritando, mas paralisadas, já que o Homem-Esguio as havia prendido em seus tentáculos. Seus proxies eram humanos, apesar de tudo. Eu podia sentir seus medos... ah, como estavam desesperados, ansiando a morte. 

Comecei a levitar meu novo corpo até ficar nas alturas, quase tocando as nuvens, onde todos os meus monstros pudessem me ver. Percebi que alguns humanos começavam a aparecer de longe, então estalei os dedos e parei o tempo dos seres bons, para que apenas os dignos de ouvirem minha mensagem pudessem notar o que estava acontecendo. Olhei para cada uma das crianças e, uma a uma, foram caindo no chão e perdendo suas vidas. Slenderman olhou para mim. Pude ouvir uma voz rouca e cheia de ódio ecoando em minha cabeça.

Você. Matou. Minhas. Crianças.

—Ah, meu caro...- ouvi a voz da menina saindo de minha boca.- Logo, logo não precisará mais desses sacrifícios. Você me invocou na hora certa. Na hora em que minha última presa seria capturada... seu simples ritual está prestes a...- sorri.- Mudar o mundo.

Respirei fundo e senti todas as estrelas do Universo. Por todos os cantos, criaturas começavam a aparecer. Monstros emergiam das terras e do oceano. Espíritos apareciam nos céus... e eu sabia que ainda havia mais seres que não estavam ali. Alguns humanos entravam em minha hipnose e assistiam ao seu redor sem medo algum, certamente criaturas nojentas de sua raça, que já não eram mais humanos e sim, monstros. Ninguém parecia compreender o que acontecia, então iniciei minha explicação divina.

—Todos os dignos de minha Nova Era estão me ouvindo agora. Humanos, monstros, demônios... eu tenho o domínio de todos. Agora, com este novo corpo e dez almas humanas, eu posso tudo. Eu tenho poder sobre ambos os planos existentes, espiritual e físico. E não só destes, mas vamos com calma, por ora. Tudo nessa Terra irá mudar. Tudo se tornará novo.

Ouvi o pensamento de Jeff “Merda... estou morto.” Não segurei o riso de orgulho.

—Por séculos minhas forças provém dos medos, provém dos horrores. Minha jornada por um poder maior se iniciou há muito tempo... tempos soprados pelos ventos. Tempos tão antigos quanto as estrelas. Mas enfim...

Não resisti uma gargalhada totalmente orgulhosa. Nesse momento, senti até medos vindos até dos piores monstros, como Slenderman. Continuei.

—Dez humanos, de eras diferentes, finalmente pediram com todas as vontades de seus corações para que eu os possuísse. Não humanos quaisquer... dez humanos poderosos. E com apenas um único corpo humano...

Levantei meus braços e trovões ecoaram por todos os cantos.

—EU ME TORNAREI UM DEUS.

Ouvi gritos e grunhidos de todos os lados. Eu me senti poderoso.

 

Mas... havia algo a ser temido.

Eu sempre temi isso, mas não acredirava que minha destruição fosse ser meu poder. Os medos que eu causava, as dores que os outros sentiam por minha causa... tudo voltava vinte vezes mais forte para mim.

 Mas afastei aquilo de minha mente. Naquele momento, eu era o ser mais soberano.

—Demônios do mundo todo...- gritei.- Sangue. Chacina. Carnificina- comecei a acelerar minhas citações.- Loucura, psicose, vandalismo, homicídio, terror, horror, suicídio, doença, depressão, pecados... MORTE!... A Nova Era começou.

Gritos e mais gritos foram escutados.

Eu assistia orgulhoso e com todas as más vontades existentes em mim as criaturas felizes com o novo mundo, quando ouvi um sussurro...

Você nos teme...

Olhei com ódio para os lados, prestes a assassinar o maldito que havia se voltado para mim com aquelas palavras, mas não havia ninguém próximo a mim... até ouvir mais algumas coisas de vozes diferentes.

Humanos...

São...

Poderosos.

Me irritei e gritei para o mundo ouvir.

—CALEM-SE.

Trovões e raios partiram do céu. O Universo se silenciou. Todos olharam para mim, temerosos.

—QUEM FEZ ISSO?!- gritei.

—Nós.— ouvi em minha mente.

No mesmo momento, segurei meu próprio pescoço sem intenção e comecei a me sufocar.

—Não pode ser...- tentei murmurar.

Comecei a ouvir as almas dentro de mim se agitarem, enquanto segurava meu pescoço contra minha vontade. Ouvi os loucos sussurrarem. Gritei.

—O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO?

Sentia a positividade de todas as almas trabalhando em... argh... união. Pareciam ter retomado a consciência.

Você falhou Zalgo.

Não está com medo?

Nós somos os verdadeiros monstros.

Dos seus próprios pesadelos.

Não está assustado?

—NÃO!- gritei ainda segurando meu pescoço.- AS ALMAS!

—Agora... –minha voz saiu de minha garganta.

A menina do corpo também estava lutando.

De repente, senti todas as almas saírem de uma vez de meu corpo, em um clarão imenso. Menos a alma de... Wendy... esse era o nome dela. Eu ainda estava com seu corpo. Eu me enfraqueci completamente.

—Malditos sejam!- gritei.

A menina estava acordando dentro do próprio corpo e começou a se sacudir, se sufocando mais ainda. Alguém que suportou tanto tempo com um demônio como Jeff não desistiria tão fácil assim... e as almas que coletei eram de pessoas extremamente fortes. Eu não podia esperar menos. Confesso que me impressionei depois de tudo.

 As malditas almas estenderam suas mãos e, Wendy foi tirando devagar as mãos do pescoço para se segurar nos outros. Eu lutava com ela, no interior e no exterior. Mas, finalmente, ela agarrou a mão das outras almas, e estas puxaram sua alma para fora de seu corpo e eu fiquei neste sozinho. Mas eu não podia possuir um corpo humano sem uma alma humana.

 

Wendy

 Por mais estranho que pudesse ser, eu sabia o que estava acontecendo. Mas ao mesmo tempo, não conseguia compreender nada. Tudo pareceu um sonho, mas ali, flutuando com outras pessoas, eu via a insanidade de tudo. Eu já não devia estar acostumada? Sim. Mas a verdade é que eu estava com medo. Medo por ter o demônio em minha frente, medo por estar no plano astral e... Zalgo estava com meu corpo! Me desesperei completamente.

 Quando ele abriu a boca para falar, foi a voz mais poderosa, macabra e sinistra que eu já tinha escutado em minha vida. E foi a coisa mais horrível ver meu próprio corpo sendo o transmissor dessa voz maligna.

—Malditos!- ele começava a ir para o chão com meu corpo.

Quando meus pés (ou os dele) tocaram o chão, ele deixou o meu corpo e tomou sua verdadeira forma. Tornou-se um ser de “normais” 5 metros de altura, com chifres e olhos vermelhos. E na mesma hora, me senti sugada para o chão rapidamente.

 Senti uma dor de cabeça intensa, mas quando abri os meus olhos, percebi que estava de volta ao meu corpo. Sem nenhuma ferida. Me levantei rápido e olhei para Zalgo me sentindo totalmente pequena, inferior e assustada. Mas assustada do que nunca estive em toda a minha vida. Olhei ao meu redor e vi as piores formas de monstros e demônios sanguinários olhando diretamente para mim. Senti vontade de me matar, principalmente quando Zalgo também olhou para mim. Ele passou a mão com calma pelo ar e, como num passe de mágica, todos os monstros sumiram. E o tempo foi completamente parado. Jeff, Slenderman e nem o mar podiam se mover. O Universo ficou em silêncio. Zalgo ficou olhando para mim e pude sentir outras presenças ao meu redor. Quando olhei para os lados, notei que lá estavam a outras nove almas que me ajudaram, desfocadas e quase invisíveis. O curioso é que eu não podia ver o rosto de nenhuma delas... todas as vezes em que eu tentava olhar, seus rostos brilhavam como o Sol, tornando-os incapaz de serem vistos. Mas eu podia ver roupas de épocas diferentes, como se aquelas almas... já tivessem perecido há muito, muito tempo atrás. Mas... eu consegui enxergar um rosto, que mal parecia me notar. Meu coração quase parou.

—Mãe...?- perguntei com a voz trêmula.

—Sim.- ouvi a voz de Zalgo que vinha do alto.- Parece que a força de sua alma é hereditária.

Apesar do comentário que mais pareceu um elogio, seu tom indicava ódio e eu senti muito medo. Tremendo, eu olhei novamente para minha mãe, mas ela ainda não parecia me notar.

—Humanos.- ele começou.- Vocês são fortes. Vocês são unidos e juntos, viram que meu ponto fraco é meu próprio poder.- ele pareceu duro ao admitir.- E eu nem ao menos poderia ter o privilégio de atormentar a cada um de vocês, pois a alma de uns já deixou este mundo há muito tempo. E você- ele apontou com uma das garras para mim.- Ainda está no plano físico. Quer dizer, quase...

Não entendi aquilo, mas ele aproximou tanto o rosto do chão, para perto de mim, mais especificamente, que pensei que fosse me devorar. Eu estava com tanto medo que mal consegui notar como era seu rosto.

—Mas saiba que ainda posso te assombrar. E não pense que não vou aproveitar todas as oportunidades para me vingar.

Engoli em seco. Ele voltou para seu lugar.

—Suas almas possuem determinação. Mas saibam que eu ainda encontrarei uma maneira de dominar esta Terra. Por ora, a memória de todos vocês será apagada e ninguém desse mundo se lembrará de meu fracasso. Ou o que planejo fazer.

Ele riu maleficamente e todos os pelos do meu braço se ergueram.

—Desejo a todos sonhos ruins...

Ele estendeu a mão sobre nós e uma névoa branca começou a cair em nossas cabeças. Rapidamente, olhei para minha mãe e esta olhava para mim também. Ela estava sorrindo e a paz que seu sorriso transmitia, tirou todo o mau que parecia querer agir em meu coração. Ela abriu a boca e pareceu querer falar alguma coisa, mas nenhuma voz saiu... então, eu pude apenas ler os seus lábios.

Eu te amo...

Meus olhos começaram a lacrimejar no mesmo instante. Tentei correr para abraça-la, mas não conseguia sair do lugar. Olhei para cima e percebi que a névoa já estava começando a cobrir nossas cabeças.

—Eu também te amo!...- gritei, mas minha voz falhou.

E eu apaguei.

 

...

 

 Quando abri os meus olhos, ouvi o som das ondas do mar. Estava caída de cara na areia da praia. Não me lembrava do motivo de ter dormido ali, daquela maneira. Minha barriga estava doendo um pouco e logo me lembrei do que Jeff tinha feito, mas eu sentia que podia me mover. 

Então, devagar, me movimentei e me levantei. Levantei meu moletom e percebi que havia uma cicatriz no local onde ele havia cortado. Engasguei e me perguntei o que estava acontecendo. Olhei para Jeff, que parecia ter parado de ir em direção às crianças só para me chatear.

—Nossa... você não desiste mesmo.- ele reclamou.- Até parece que também usa magia.

Franzi as sobrancelhas.

—O-O que...- minha voz falhou.

—Venha acabar esse ritual logo! Acho que querem invocar Zalgo... vamos fazer uma pequena interrupção... hahaha!

—Zalgo?- perguntei.

Alguns pensamentos vieram à minha cabeça, como se tivesse acontecido alguma coisa. Jeff estranhou minha reação. Balancei a cabeça.

—Estou indo.- falei.

Enquanto caminhava, tentava me lembrar do sonho que tive. Eu pareci dormir por tão pouco tempo, e ainda assim, pareci ter sonhado muito, mesmo que me lembrasse de apenas alguns flashs do sonho. Mas parei de andar quando me lembrei de uma pequena parte do sonho que lembrava detalhadamente de minha mãe dizendo algo. “Eu te amo...”. Um sorriso bobo se formou em meu rosto. E então, eu escutei uma voz... uma voz horrível.

“Não se anime muito... sua ainda alma será minha.”

Olhei para trás e não vi ninguém. Achei que estivesse enlouquecendo e não pude deixar de soltar um gemido de medo. Olhei ao meu redor e não vi nada. Meus pelos se eriçaram.

—Você vem ou não?- perguntou Jeff.

Olhei para ele. Balancei a cabeça novamente.

—Sim, sim. Estou indo.- repeti rápido.

—Parece que viu um fantasma- ele riu.

Eu o ignorei.


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Notas finais do capítulo

Então, só para deixar claro, a Wendy realmente acha que as poucas coisas que ela consegue se lembrar foram apenas um sonho, mas aquilo tudo aconteceu mesmo. Zalgo apenas apagou a memória de todo mundo para ninguém se lembrar do fracasso dele ou do que ele planeja...

Qualquer dúvida nos comentários.

Anyway, obrigada por chegar até aqui. Nos vemos no próximo capítulo :)



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