Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 18
Como o previsto


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Mais alguns dias se passaram e Jeff me levou à cidade, de madrugada. Eu não conhecia a cidade, e sinceramente, não senti vontade de perguntar a ele onde estávamos. Mas ela era pequena e com poucas pessoas. Inclusive não havia quase ninguém nas ruas às quatro da manhã, quero dizer, nem mesmo em lugares onde as pessoas costumam estar nesses horários, como boates ou casas de show.

 

Estávamos andando com os capuzes nas cabeças. Eu tinha lavado o casaco de Jeff para tirar o sangue e poder se disfarçar melhor. Ele não gostou muito disso, mas não me importei. Andávamos por uma rua cheia de casas chiques, mansões para ser mais exata. Talvez fosse a parte mais rica da cidade. Nossas mãos estavam nos bolsos dos moletons, escondendo as facas. As ruas eram iluminadas pelos postes de luz e pelo brilho fraco da manhã cinza que se iniciava.

—Onde estamos indo?- perguntei.

—Para a praia.- ele respondeu.

—Quer matar na praia? Não deve ter ninguém lá. Está frio e essa cidade parece ser pequena.

—Exatamente!- ele riu.- É mais fácil.

Ele era inteligente, de qualquer forma.

Andamos mais alguns metros e comecei a sentir a brisa em meu rosto. Olhei para frente e vi a praia deserta, com as ondas fortes e os rechedos mais distantes. Mesmo que não tivesse ninguém ali, temi que pudessem chegar logo, logo.

—Litorais não costumam atrair turistas?- falei.

—Sim, mas tenho meus métodos.- ele respondeu.

Balancei minha cabeça.

—Como assim?- perguntei.

—Vamos.- disse ele, me ignorando.

Andamos até chegarmos a uma calçada e colocarmos os nossos pés na areia, que se afundaram. Eu não ia à praia fazia tempo. O mar parecia agitado e não havia uma alma vivente por ali.

—Jeff, não estou entendo.

—Cala a boca.- ele falou e começou a andar.

Eu o segui, indo para onde quer que ele fosse. Começou a andar na direção oposta ao vento, os cabelos dele voaram para trás e pude ver melhor o rosto. Que visão repugnante. Aquele olhar era de um louco, esperando sangue em suas mãos para se divertir. E a parte mais louca era que eu estava indo fazer a mesma coisa. Abaixei a cabeça e ri. Antes de tudo, eu sonhava em ser psiquiatra e tratar de pessoas como ele, e veja só: eu me tornei como ele.

Doce ironia...

Continuamos a andar e eu olhava para frente, tentando avistar quem seria sua vítima. Não tinha ninguém ali... Pelo menos até eu olhar melhor. Bem longe de nós, pude ver algumas figuras. Uma delas, a maior, era magra e se vestia de preto. Não tive dúvidas de que era Slenderman. Ele estava parado, parecendo olhar para o mar, mas na verdade, havia outros seres na frente dele. Seres muito pequenos. Crianças. Slenderman e elas estavam de pé, formando um círculo e todos estavam de mãos dadas. Enquanto andava e chegava mais perto, percebia que as crianças não se mexiam e nem falavam nada, pareciam muito concentradas olhando para o Homem Esguio. Jeff e eu chegamos a alguns metros deles e nos escondemos atrás de alguns rochedos na beira do mar, observando-os.

—Eles não podem nos sentir?- sussurrei.

—Não...- Jeff respondeu.- Eles estão iniciando um ritual. Estão todos em transe profundo.

Ele deu uma risada diabólica, mas não muito alta.

—Matar crianças... Perfeito.- ele concluiu.

Olhei para elas. Havia três meninas e três meninos, todos aparentando ter entre cinco a sete anos. Eles olhavam tão concentrados para Slenderman que nem ao menos piscavam, e nem percebiam nossa presença. Notei que ao lado esquerdo e direito de Slenderman estavam dois adolescentes, ambos de mãos dadas com ele. Um eu conhecia, Jasper... O outro, eu odiava... Ticci Toby. Ele também não gostava muito de mim.

Nenhum deles falava nada. Todos estavam apenas de mãos dadas. Os meninos ao lado de Slenderman estava de olhos fechados, enquanto as crianças, já pareciam estar revelando um brilho negro saindo de seus olhos.

Olhei para Jeff e ele parecia ofegante, louco e pronto para matar, mas sabia que precisava ser paciente.

Seria um bom momento para tentar matá-lo... Pensei.

Me imaginei cortando seu pescoço e saindo correndo dali, indo para algum lugar onde as pessoas me acolheriam e me consolariam. Depois me colocariam numa cama, e quando eu acordasse, percebesse que tudo não passou de um pesadelo, e nada daquilo existia.

A vida não é assim.

Me perdi em meus pensamentos e quase não notei quando Jeff me chamou.

—Vamos.- ele disse, saindo devagar de onde estava.

Ele pegou a faca do bolso e foi devagar para perto do círculo e eu fiz o mesmo.

Enquanto me aproximava deles, sentia uma sensação horrível. Um mal muito grande estava presente ali, e ele era maior que Jeff, Slenderman e aqueles proxies juntos. Nós chegamos muito perto deles e, ainda assim, ninguém nos notou. Eles estavam parados como pedras, como se estivessem congelados. Jeff foi atrás de uma das crianças e colocou a faca debaixo do pescoço dela. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, abri minha boca.

—Não mato crianças.- eu disse.

Jeff parou e olhou para mim.

—Como é que é?- perguntou irônico, rindo.

Eu hesitei.

—Tenho padrões.- falei.

—Eu não tenho padrões.- ele disse tirando a faca do pescoço do menino.- Eu mato qualquer um.

Ele começou a andar em minha direção e comecei a recuar.

—Ah, Wendy... Não dificulte as coisas para mim.- falou, com o sorriso aberto nas bochechas.

Temi o pior.

—É sério que vai deixar de fazer o que queria por minha causa?- perguntei.

—Ah, pode ter certeza.- ele disse, rindo e andando mais rápido, enquanto eu andava de ré.

—Mate-as logo.- falei.- Não fará diferença eu fazer o mesmo ou não.

Ele parou e eu também. Ele me encarou e, por um momento, tentei imaginá-lo sem seu sorriso permanente. Ele não parecia estar sorrindo. Olhou para seus pés.

—Já estava na hora.- ele disse, parecendo falar com si mesmo.

—O qu...

Antes que eu pudesse terminar a frase, ele correu até mim e me atacou. Eu não tive tempo nem ao menos de me virar para poder correr. Quando percebi Jeff poucos centímetros à minha frente, eu podia sentir a lâmina inteira da faca dentro de minha barriga. A dor foi tanta, que nem consegui gritar. Senti que cairia, então segurei os braços dele.

—J-Jeff...- minha voz falhou.

Ele fez força e girou o cabo da faca 360 graus no sentido horário e depois no anti-horário. Senti a faca girar dentro de mim, cortando por completo meus órgãos internos. Gemi. Sentia tudo despedaçado dentro de mim.

Ele olhou para meus olhos. Eu estava apertando seus braços com minhas mãos, como se me sustentasse neles. Eu tremia e minha visão estava embaçada e sentia meus olhos lacrimejando. Minha barriga ardia mais que quando levei os arranhões de Rake nas costas. Senti o sangue escorrer por minha pele. A dor era tanta que me tirou atenção de sua expressão, mas eu percebi que ele sorriu.

—Eu não queria ter que fazer isso...- falou olhando para mim.- Mas você não me dá escolha!

Olhou para o cabo da faca e riu. Foi uma risada alta, que o vento forte levou para toda a praia. Eu não podia mais me manter de pé, então caí para frente, com o rosto no ombro dele. Senti um cheiro horrível... Cheiro de morte. Ele tirou com força e rapidez a faca de minha barriga e me segurou. Senti como se os pedaços de meu estômago fossem saltar por aquele furo da faca. Soltei seus braços e coloquei as mãos em minha barriga, apertando com força, tentando estancar o sangramento... E tornando a dor maior.

Ele me colocou no chão, devagar. E fiquei de joelhos, envolvendo minha barriga em meus braços. Eu gemia constantemente. Olhei para ele.

—P-Por... que?- perguntei usando as energias que me restavam.

Ele deu de ombros.

—Você não enjoa rápido das coisas?- perguntou.- Eu enjoo rápido das pessoas.

Ele levou a faca coberta de sangue aos lábios e a lambeu dos dois lados.

—Delicioso.-falou, frio.

Dei gritos baixos e gemi, caindo de rosto na areia. A dor estava se tornando mais forte a cada minuto.

—Te vejo no inferno, Wendy.- o ouvi falando.

Eu senti ele se afastar e soube que ia em direção às crianças fazer o que queria ter feito.

Então percebi que depois de todo aquele tempo lutando para sobreviver, escapando de monstros, vivendo aquela vida miserável, deixando tudo para trás, eu morreria ali, daquela forma. Da pior forma. Com quem eu imaginei que tiraria minha vida desde o início. Tudo aquilo que vivi tinha sido em vão e eu nem poderia descansar... Eu pagaria por todos aqueles pecados. E minha alma nunca teria paz. Nunca. 

Ali, gemendo naquela areia incansável, soprada para longe com o vento, eu pereceria e nunca tiraria o mal daquele mundo.

Eu não sirvo para nada.

As pessoas que matei me pertubarão do outro lado.

E o monstro em quem confiei...

Foi a minha destruição.

 

... 

 

Ou não.

Longe... Bem no centro do círculo ritualístico... Eu o vi.

Ele estava olhando para mim.

Vi o mal que estava sentindo. Pior que Jeff. E pior que Slenderman.

Jeff não parecia notá-lo. Ninguém parecia notar. Ele era tentador e sabia que eu precisava de ajuda. Sua pele era completamente avermelhada como sangue e seus olhos eram negros. De sua cabeça saiam chifres ameaçadores. Não... Não era o demônio. Era pior.

 

 

—Zalgo...- sussurrei.- Me ajude.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo :)



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