Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 17
Confie no medo


Notas iniciais do capítulo

hello, hello
esse capítulo foi inspirado em um sonho que tive com o Jeff. Até que foi quase isso mesmo, exceto algumas partes nada a ver de sonhos que precisei alterar para ficar normal...
de qualquer forma, boa leitura!



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Um mês se passou, e com ele, minha sanidade também. Afinal... para cada ação, uma reação. Eu matei mais de quinze pessoas naquele tempo, das mais variadas formas. E já não sentia mais remorso. Não me importava mais em ver as pessoas gritando ou pedindo por misericórdia. Não me importava mais em ver horror em seus olhares. Não me importava mais com os gritos. "Você agora é minha máquina de matar." Jeff me disse uma vez. Eu não me interessava mais em matá-lo, eu já havia aceitado que estava ali para servi-lo e o faria da melhor maneira possível.

 

Passamos o mês inteiro no mesmo lugar, no mesmo esconderijo, matando pessoas que acampavam na floresta ou viajantes que paravam na estrada. Ou até mesmo íamos até a cidade, matar todo tipo de gente, desde os mais inocentes aos mais culpados. Me encontrei muitas vezes com Jasper, o proxy de Slenderman. Eu trocava olhares com ele, e este sempre estava acompanhando por crianças, levando-as a algum lugar da floresta, fingindo risos e lhes dando doces. As crianças pareciam o amar, mas eu não fazia ideia do que ele fazia com elas, e sinceramente, não estava interessada em saber. Liu sumia entre a floresta e depois de um tempo aparecia para fazer uma visita, trazendo algumas vítimas para seu irmão se divertir. E Thomas havia desaparecido a duas semanas. Eu estava sozinha e já tinha me acostumado. Jeff cortou meu cabelo um pouco acima dos ombros, deixando-o repicado. Ele disse que meu cabelo poderia me atrapalhar e eu não hesitei em deixá-lo fazer o que queria. Eu não ligava para isso. De vez em quando, ele roubava algumas lojas e me trazia roupas novas, masculinas, femininas e de frio. Ah, o frio... Ele nunca parecia acabar. Jeff também roubava comida, muita comida, mas algumas vezes, fazia seu jantar canibal especial. Encontrei Slenderman na floresta algumas vezes, e em todas elas, meu coração acelerava de medo, mesmo que eu tentasse disfarçar isso. Ele também era acompanhado por crianças algumas vezes, principalmente por uma garotinha de cabelos cacheados e castanhos chamada Sally. Todas as noites ele aparecia na floresta, olhando para mim, antes que eu entrasse em meu esconderijo, e eu não contei a Jeff, nem tentei fazer nada a respeito, apenas ignorava, mesmo que, por dentro, eu estivesse me matando. Entrei em brigas sangrentas com Ticci Toby, que parecia me odiar. Uma garota com um relógio em um dos olhos, Clockwork, eu acho, quase me cegou uma vez. Jane não se envolvia comigo.

 

Certa madrugada de não sei de qual dia, me levantei e lavei meu rosto na pia do banheiro. Ele estava cheio de sangue, já que na noite anterior, Jeff tinha matado um adolescente ali. O cadáver já estava jogado na floresta. Me olhei no espelho e joguei água nos meus cabelos, tentando tirar a sujeira que estava nele. Eu roubei uma pasta de dentes uma vez que fomos à cidade. Vejam só, uma serial killer higienizada. Apertei um pouco da pasta na minha boca e esfreguei meu dedo indicador nos dentes para lavá-los. Cuspi a pasta e lavei minha boca.

Saí do banheiro e fui para meu esconderijo, trocar minha roupa. Coloquei um moletom preto, uma calça legging da mesma cor e um tênis masculino cinzento. Subi as escadas e fui para fora. O ar estava frio e os pássaros começavam a cantar. Ainda estava amanhecendo. Eu estava entediada, não tinha nada para fazer. Olhei para a tampa do esconderijo de Jeff, um pouco mais longe que o meu e me perguntei se ele estaria ali dentro. As portas dos esconderijos são camufladas por grama, mas aprendi a diferenciar o gramado do chão do gramado das portas, que parece ter um tom um pouco mais escuro. Eu estava olhando para lá, perdida em meus pensamentos, quando senti algo em meus ombros.

—Bu!- gritou.

Dei um pulo e me afastei rápido, me virando para trás. Era Jeff, que tirou as mãos de meus ombros. Ele riu.

—Se eu fosse te matar...- falou.

Fiquei apenas o encarando. Ele também cortava o próprio cabelo e estava em um repicado horrível, batendo nos ombros. Ele não tirava o maldito moletom branco nunca e quando olhei para sua boca, o corte parecia mais aberto, como se ele tivesse posto metade da faca dentro da boca e começasse a cortar sua bochecha de dentro para fora, para o corte ficar realmente aberto. Antes, era só uma cicatriz, como se ele só tivesse passado a faca em cima do rosto.

—O que foi?- perguntei.

—Está indo matar alguém?- perguntou, sádico.

—Eu não sei mais para onde ir.- respondi.

Ele me olhou dos pés à cabeça e colocou uma mão em meu ombro.

—Você evoluiu, sabia?- disse.

Ele falava aquilo como um pai que sente orgulho de seu filho. No caso dele, um pai maluco, sem noção da realidade humana.

—Para onde você vai?- perguntei.

—Pensei em esfaquear algumas adolescentes metidas hoje. Está interessada?

Fiquei calada por um instante.

—Não está cansado disso Jeff?- perguntei- Matar, matar e matar. Isso não é entediante?

Ele tirou a faca do bolso e se aproximou do meu rosto, colocando a ponta da faca na ponta de meu nariz.

—O que mais eu deveria fazer?- perguntou.

Apesar do sorriso, percebi que o tom de sua voz parecia mais irritado. Senti o suor escorrer na lateral de minha testa.

—Eu que pergunto.- falei.

Ele apertou mais a faca.

—E o que acha de procurar seu amiguinho inútil?- ele disse, com o tom mais ameaçador.

Engoli em seco.

—Tudo bem.- falei.

Ele tirou com rapidez a ponta da faca de meu nariz. Se afastou de mim e indicou a floresta.

—Certo.- falou sorrindo.- Vamos lá.

Ele começou a andar em direção à floresta e fui atrás dele.

Eu entrei poucas vezes ali, mas não era muito diferente da antiga floresta em que estávamos antes, árvores de todos os tipos e tamanhos, insetos não muito grandes, animais de pequeno porte, etc. Andamos por alguns minutos e eu olhava para Jeff pelo canto do olho, pensando no inferno que minha vida havia se tornado a partir de um tempo curto de férias que minha família decidiu tirar. Jeff já tinha me batido muitas vezes por erros que eu cometia na hora dos crimes ou apenas por vontade. Mas era certa a quantidade de porradas a mais que ele dava em Thomas. Cheguei a pensar que ele realmente tinha fugido de vez e me largado com aquele assassino sorridente, de pele encouraçada e olhos azul-gelo. Senti falta de uma companhia de verdade. E pela primeira vez em muito tempo, me lembrei de meu pai e meu irmão, que ainda estavam vivos, provavelmente me procurando e voltando àquela casa dos horrores. Será que voltaram mesmo? Eu finalmente consegui sentir saudades. Senti saudades de abraçar meu pai e de jogar videogame com meu irmão.

—No que você está pensando?- Jeff interrompeu.

Olhei para ele.

—Estou pensando no motivo de você ainda não ter me matado.

Jeff riu.

—Eu também me pergunto isso.

Pensei em deixá-lo nervoso.

—Por que não me mata?- provoquei.

—Eu sinto vontade de fazer isso.- ele parecia começar a ficar nervoso.

—Parece que tem medo de mim.

Eu sabia que ele se irritaria. Ele pareceu acelerar o passo enquanto sua raiva aumentava.

—Eu não tenho medo de nada.- falava sem olhar para mim.

—Então por que não me enfrenta? Eu já disse que odeio você?- falei.

Rapidamente, ele segurou meu pescoço com uma mão, me empurrou, prendendo-me contra uma árvore e deu um soco em meu rosto, que virou bruscamente para o lado. Tentei virar o rosto mas ele socou de novo. Senti o sangue escorrer pelo meu nariz e ir direto para minha boca, onde minhas gengivas sangravam. Eu apenas ri. Era legal provocá-lo, me trazia um prazer que eu não sentia matando, como ele podia sentir. Levantei minha cabeça e minha visão estava um pouco embaçada, minha bochecha ardendo, mas eu ainda ria do jeito irritado de Jeff.

—Pensou em tirar o dia para me pertubar?- perguntou ele, sorridente, porém enraivecido.

Eu dava risadas baixas. Ele ainda segurava meu pescoço.

—Eu dou tudo o que você quer...- ele colocou a faca próxima ao meu olho.- E você diz que me odeia?

Eu já estava perdendo o fôlego, então segurei as mãos dele presas em meu pescoço. Olhei para meus pés e ri da raiva dele. Dessa vez, ele me deu um tapa e meu rosto virou de novo.

—É por isso que não te mato.- ele disse.- Você é um saco de pancadas divertido.

—Você...- minha voz saia lenta, eu estava tonta.- você me vê como um... saco de pancadas... divertido.

Ele apertou mais ainda meu pescoço, me sufocando. Eu quase não conseguia respirar.

—O melhor saco de pancadas.- falou.

Ele gargalhou, soltou meu pescoço, se virou e saiu andando. Respirei fundo e limpei o sangue de meu nariz com a manga do moletom. Peguei minha faca e tentei atacá-lo, mas ele foi mais rápido, se virou segurando minha mão no ar e chutando minha barriga, me fazendo cair no chão. Gemi de dor e me encolhi. Eu o vi se aproximando de mim, e ainda deitada, estendi uma mão para ele.

—Chega, chega!- implorei.

Ele riu.

—Por que você está tão triste?- perguntou se aproximando.

Ele se sentou em cima de meu tronco, segurando meus braços acima de minha cabeça com uma das mãos.

—Vamos colocar um sorriso nesse rosto!- ele disse aproximando a faca de mim.

—Não, Jeff! Não!- eu comecei a me debater.- Não!

Mexi minhas pernas e consegui bater com força meu joelho em suas costas. Ele gemeu de dor e deixou a faca cair. Senti que ele afrouxou um pouco a mão que segurava meus braços, então me soltei e bolei por cima dele. Quando o deixei de costas no chão, peguei meu cutelo e saí correndo.

—Ah, não vai mesmo!- gritou Jeff.

Percebi que ele já tinha se levantado e o ouvi correr atrás de mim. Ele era muito rápido e parecia se aproximar cada vez mais. Ter um assassino psicótico correndo atrás de você é uma das experiências mais terríveis que se pode ter na vida. Finalmente ele me alcançou, pulou em cima de mim e nós dois caímos no chão. Bati meu nariz no chão e doeu, doeu muito. Ele virou meu corpo e se sentou em cima de mim de novo, dessa vez, colocando meus braços juntos ao meu corpo, embaixo de suas pernas e achei que ele quebraria meus braços.

—Para! Seu maluco!- gritei.

—Cala a boca!- ele berrou de volta fincando a faca com intensidade no chão, muito próximo de minha cabeça. Tão próximo que fez um leve corte em minha orelha. Ele estava ofegante, e com a respiração rápida. Ele segurou meu pescoço com uma mão e levantou a outra, fechada. Percebi que levaria outro soco. Fechei meus olhos, mas na verdade, ele não me bateu. Ele segurou meu pescoço com a outra mão também, apertando minha traquéia e me sufocando. Eu me debatia minhas pernas, como se estivesse tendo uma convulsão.

—Você deve me odiar muito mais agora!- ele dizia, rindo.- Não odeia?

—N-Não...- minha voz falhou.

Eu não sabia exatamente a resposta que ele queria.

—Eu também odeio você.- ele disse, sorrindo.- Ah, como odeio... Acho que vou atender seu pedido e te matar.

Eu não tinha chegado até ali para morrer. Eu estava ficando sem ar e mal conseguia respirar. Tentei parecer o mais conveniente possível enquanto sufocava.

—Eu...- falei.- Eu... N-não te... o-odeio.

Ele me olhou com desdém.

—De qualquer forma, vá dormir um pouco.

Ele me virou de costas e bateu o cabo da faca na minha nuca e tudo ficou preto.

...

Quando acordei, estava ainda estava na floresta.

—Ai...- gemi passando a mão em minha nuca, que sagrava um pouco e doía muito.

Olhei em volta e não parecia ter passado muito tempo depois que me lembrei de Jeff batendo em mim. Me levantei e procurei meu cutelo no chão e o peguei. Jeff não estava mais por perto e eu sabia que me encrencaria quando o encontrasse, então pensei em fazer uma surpresa.

 

Saí da floresta pensando na casa, onde me lembrei que tinha prendido uma adolescente, em um lugar bem discreto dentro de um dos quartos. Chegando lá, não encontrei Jeff, então eu podia agir devagar e esperá-lo chegar para surpreendê-lo, apenas para ele não me machucar mais depois.

Entrei na casa, subi as escadas e fui para um quarto que ninguém entrava. Chegando lá, abri o guarda-roupas velho e sujo que estava lá. A garota parecia estar morrendo, tinha um aspecto doentio e sua energia parecia ter se esgotado. Devia ter mais ou menos 16 ou 17 anos. Eu havia a prendido lá a apenas um dia e ela já estava naquela situação. Uma adolescente fraca e metida, como Jeff queria. Eu tinha amarrado suas mãos atrás das costas, amarrado seus pés um no outro e prendido sua boca com muita, muita fita. Ela usava uma calça jeans justa e uma blusa com mangas em um tom de rosa que doía os olhos. Quando ela olhou para mim, começou a se desesperar, tentando gritar e emitir sons de pavor. Eu a peguei pelos cabelos loiros e a puxei para fora do guarda-roupas. Ela caiu de cara no chão. A virei e as pupilas de seus olhos verdes tinham diminuído de tamanho, deixando seu medo transparecer até demais.

—Você parece Aurora.- eu disse enquanto ela se debatia.- Eu sinto um pouco de falta dela.

A menina se encolhia tanto, tentando se arrastar para sair dali, que eu ri.

—O que você está fazendo? Não vê que é inútil?

A menina continuava a se arrastar e percebi que ele emitiu um som parecido com "socorro". Eu a puxei de volta para mim e a encarei.

—Não adianta. Na hora da morte, estamos todos sozinhos.- falei.

Então, coloquei a faca entre seus seios, a apertei na pele da menina, e quando a perfurou, comecei a puxá-la para baixo, abrindo a barriga dela. Pude ouvi-la gritando perfeitamente, mesmo que com a fita na boca. As lágrimas desciam por seu rosto.

—Não se mexa muito!- falei impaciente.- Está me atrapalhando. Que parte de você seria um bom presente?

Abri o centro de seu corpo e puxei a pele para o lado, tentando ver seus órgãos. Ela se debatia tanto que pensei em matá-la logo.

—Nossa, cale a boca!- gritei.- Vá dormir!

Cortei seu pescoço que esguichou sangue até ela morrer, então tive uma boa ideia. A cabeça! Como não pensei nisso antes? Segurei-a pelos cabelos e comecei a cortar seu pescoço até ele desgrudar do corpo.

—Finalmente.- falei.

Coloquei o cutelo no bolso do moletom e saí do quarto segurando sua cabeça pelos cabelos. "Se Jeff não gostar do presente, vou cortar mais meus cabelos." Disse a mim mesma.

Desci as escadas e saí da casa, empolgada.

—Jeff!- gritei.- Onde está você?

—Parada!- ouvi atrás de mim.

Me virei e vi um grupo de quatro policiais apontando armas enormes para mim. Um deles olhou para a cabeça em minha mão e arregalou os olhos. "Me pegaram." Pensei. Tremi e deixei a cabeça cair no chão.

—Mãos ao alto! Agora!- gritou um deles.

Levantei meus braços e dois deles correram para perto de mim, com as armas apontadas em minha direção. Um deles segurou meus braços para trás enquanto o outro gritava em meu ouvido em tom militar.

—Quem é você?! Pra quem você está trabalhando?! Onde está o assassino?!- sentia ele cuspir em meu rosto.

De repente, o tempo pareceu parar para mim, como se eu tivesse de volta minha sanidade vendo pessoas normais, homens da justiça. Eu tinha duas opções naquele momento, delatar Jeff e me fazer de vítima, ou ficar calada e morrer ali mesmo ou qualquer coisa que fossem fazer comigo. Porém, eu estaria em desvantagem em qualquer caso, Jeff poderia matar aqueles homens que fossem atrás dele e me matar se descobrisse o que fiz. E nenhum deles acreditaria em minha história ao me verem com uma cabeça nas mãos.

Eu ia abrir a boca para dizer seja lá o que que fosse sair dela, quando senti que o policial atrás de mim gritou e o que estava ao meu lado, caiu no chão. Seu pescoço estava cortado. Os policias que estavam em minha frente tentaram reagir, mas vi um vulto vindo do meu lado e pulando em cima dos dois, cortando a garganta de ambos. Eu estava trêmula e respirava rapidamente, mas olhei para quem tinha feito aquilo e vi Jeff se levantando de cima dos policiais. Ele olhou para mim e percebi que ele não estava sorrindo, mesmo que o sorriso falso dissesse que sim, e tentei imaginá-lo como um garoto normal. Ele estava olhando para mim com indignação, raiva e até decepção talvez. Ou talvez fosse coisa da minha cabeça. Ele apenas saiu de perto de mim e entrou na casa, sem dizer uma palavra.

Ele me salvou.

Naquele momento, entendi o que Jane havia me dito:

"Dê sua confiança a um monstro, e ele te dará a dele."


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo :)



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