Les Crimes de Grindelwald escrita por themuggleriddle


Capítulo 14
Cimetière du Père-Lachaise




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Quando Newt era pequeno, seu irmão o levara, durante a noite, até o cemitério da vila trouxa perto da qual moravam. Talvez fosse por ainda não entender exatamente o que era a morte e não ter plena noção do que havia enterrado debaixo das lápides e estátuas de pedra que descansavam no terreno atrás da igreja, mas o magizoologista não se lembrava de ter ficado com medo. Na verdade, se lembrava da animação que sentira, a sensação de estar saindo em uma aventura no meio da noite, escondido dos pais e guiado por Theseus, que conhecia todos os bosques e riachos e crianças que gostavam de brincar por tais lugares.

No fim das contas, o irmão queria lhe mostrar as pequenas luzinhas azuladas que surgiam aqui e ali no meio das lápides. Elas apareciam do nada, como se alguém tivesse acendido uma vela, e logo sumiam. Newt havia ficado encantado e havia implorado para que Theseus o levasse até mais perto das sepulturas, mas este lhe disse que eles estavam ali só para olhar, que deviam respeitar as pessoas que estavam enterradas no cemitério. Naquela noite, Scamander sonhou com chamas azuladas dançando sobre as lápides e com os corpos que dormiam debaixo destas.

O cemitério Père-Lachaise era bem diferente do pequeno cemitério atrás da igreja da vila trouxa. Os túmulos eram grandiosos e o lugar parecia uma cidade silenciosa. Andar entre os mausoléus e lápides no meio da noite fez com que Newt se sentisse um intruso: aquele terreno pertencia aos mortos e eles deviam, como Theseus recomendara há anos, respeitá-los. Pensar que Grindelwald estava organizando uma reunião com seus seguidores naquele lugar fazia o magizoologista sentir um arrepio atravessar o seu corpo. Quantos daqueles mortos estariam perturbados pela invasão naquela noite?

Leta os guiou através das ruas escuras e tortuosas do cemitério até pararem em frente a um mausoléu com uma escultura de um corvo logo acima da porta. O animal estava na mesma posição que a estampa no feitiço de chamado de Grindelwald.

“Lembrando que os aurores do Ministério muito provavelmente vão aparecer por aqui,” Tina falou, apanhando a varinha enquanto se preparava para entrar. “Tomem cuidado e aparatem assim que alguma coisa parecer errada.” Ela se virou para Jacob, que havia perdido o sorriso costumeiro e observava tudo com uma expressão séria no rosto. Naquele momento, Newt quase podia ver o Jacob Kowalski que lutara na mesma guerra que ele e o irmão. “Tem certeza que não prefere esperar aqui fora?”

“Queenie só veio parar aqui porque discutimos,” o trouxa falou, engolindo em seco. “Preciso falar com ela.”

“Queenie não vai estar ai dentro.” Goldstein soltou um muxoxo.

“Quanto a esses aurores, precisamos tomar cuidado com eles ou com a bagunça que podem causar?” perguntou Jacob, olhando de Tina para Newt.

“Com as duas coisas,” Leta respondeu, mantendo a cabeça erguida enquanto observava a estátua do corvo sobre a porta. “Nem todo auror é como Theseus, que tem uma cabeça do meio.”

Scamander mordeu o lábio inferior para se impedir de sorrir, sentindo o olhar incrédulo de Goldstein sobre si.

Uma vez que todos estavam com as varinhas em mãos, Tina empurrou a porta e entrou no mausoléu. O lugar era escuro, mas as silhuetas das tumbas e das estátuas se destacavam na pouca luz que entrava pela janelinha no alto da parede: formas de mármore branco tão imponentes quanto as estátuas do hall do Ministério da Magia. Leta, a última a entrar, hesitou na porta, respirando fundo várias vezes antes de entrar, só dando o passo quando Jacob se virou e esticou uma mão para ela, a qual ela aceitou com um sorriso pequeno no rosto.

“Lumus,” Scamander sussurrou.

A luz pálida do feitiço deu um ar ainda mais fantasmagórico ao mausoléu. No centro do aposento, havia uma tumba mais elevada cuja tampa era composta pela estátua de um homem seminu deitado, a cabeça pendendo para trás e uma mão escorregando para fora da pedra. Todas as paredes ao redor deles eram compostas por aberturas retangulares dentro das quais era possível ver mais tumbas de pedra.

“Está tudo bem?” Kowalski perguntou à Lestrange, que respondeu com um grunhido abafado. “Vocês tem certeza de que esse é o lugar certo-?”

A voz do trouxa sumiu, como se ele tivesse se engasgado nas próprias palavras. Os outros se viraram para ver o que havia acontecido e encontraram Jacob com os olhos arregalados, rosto pálido e uma varinha apontada para o seu pescoço. Atrás do homem, Yusuf Kama o mantinha no lugar com a varinha em seu pescoço e a outra mão lhe segurando o ombro. No fundo da câmara mortuária, duas silhuetas estavam encolhidas contra a parede.

“Eu não quero machucar vocês,” disse Kama, nervoso. “Eu só preciso terminar o meu trabalho.”

“Kama...” Tina murmurou, dando um passo na direção deles, mas parando quando o bruxo apertou a varinha com mais força contra o pescoço do trouxa.

“Eu só preciso terminar isso! Por favor!” O homem parecia estar próximo de se debulhar em lágrimas.

“Yusuf?”

Quando Lestrange se aproximou, o bruxo não intensificou a ameaça contra Jacob, mas sim o contrário: o aperto na varinha e no ombro do outro homem se afrouxou. Os dois irmãos observaram um ao outro e, mesmo em um ambiente mal iluminado como aquele, era possível ver que havia semelhanças entre eles: o formato dos olhos e da boca chamaram a atenção de Newt, assim como o jeito que ambos seguravam a varinha.

“Leta?” o homem balbuciou, abaixando um pouco a varinha.

A bruxa ergueu a mão para afastar a ponta da varinha de Kama e Newt se surpreendeu quando ele não fez nada, apenas encarou Lestrange com os olhos escuros brilhando com lágrimas. A mulher então segurou a mão dele que agarrava o ombro de Jacob, soltando dedo por dedo do casaco do trouxa até que este pudesse se afastar, correndo até Scamander.

“O que você está fazendo Yusuf?”

“Eu preciso...” O homem se virou para o fundo da cripta, onde duas pessoas ainda estavam encolhidas. “Eu preciso matá-lo.”

Uma das pessoas ergueu a cabeça, olhando na direção deles, e Newt reconheceu a maledictus do circo. Ela usava um vestido brilhante, provavelmente a roupa que vestia nas apresentações, a qual parecia fora de contexto dentro daquele mausoléu. Agarrado a ela, Credence Barebone esticou o pescoço para ver quem estava falando com o homem que o ameaçava.

“Credence,” Tina sussurrou.

“Eu prometo que a morte do garoto será mais rápida pelas minhas mãos do que pelo Ministério,” Kama continuou. “Vai ser rápido e indolor. Se os rumores forem verdade e ele realmente tiver um obscurus escondido em algum canto, vai ser melhor até mesmo para ele.”

“Você não precisa fazer isso, Yusuf,” disse Newt, enfiando a varinha no bolso e erguendo as mãos. “Credence precisa de ajuda, não de uma Maldição da Morte.”

“Aí que você se engana, Sr. Scamander.” Kama olhou para o grupo outra vez. “Eu preciso. Meu pai me fez prometer... eu sou preso a isso por um Voto Perpétuo. Ele me fez prometer matar todos que Corvus Lestrange amou, depois que seu pai enfeitiçou a minha mãe e a fez nos abandonar.” O homem ergueu a varinha, apontando-a para o rosto de Lestrange. “Parecia fácil. Corvus não amou muita gente.”

“Diga,” Leta murmurou, estufando o peito.

“Nem a própria filha ele amou.” Yusuf sacudiu a cabeça e Newt sentiu a mão do trouxa ao seu lado segurar a manga do seu casaco. “Mas o filho? O pequeno Corvus foi o único que conseguiu amolecer o coração do velho Lestrange. Seu pai sabia que eu iria atrás do menino e o mandou para a América, para bem longe, e qual foi a minha surpresa quando descobri que ele havia desaparecido no meio do caminho? Uma tempestade virou o navio e Corvus Lestrange sumiu no meio do oceano.”

“Exato. Ele sumiu e você está livre da sua promessa,” disse Leta.

“Os rumores de onde Corvus estava nunca foram embora, mas esse ano eles se tornaram mais fortes, mais concretos... Um menino órfão encontrado em Nova York, um garoto que destruiu metade da cidade com um poder sombrio.” Yusuf deu as costas para eles e se aproximou do casal no fundo da cripta. Young-Sook passou os braços ao redor de Credence, tentando segurá-lo quando o homem o agarrou pelo ombro e o levou até a frente de Leta. “Filho banido, desespero da filha-”

“Eu não me importo se ele me matar,” Credence murmurou, interrompendo o bruxo. “Só quero saber quem eu sou. Eu... sou mesmo Corvus Lestrange?”

“Sim,” disse Yusuf.

“Não,” disse Leta.

“Você é e eu sinto muito por isso.” Kama ergueu a varinha e o garoto arregalou os olhos.

Lestrange, que havia ficado para trás dos dois, respirava rapidamente, o peito subindo e descendo em um ritmo acelerado enquanto as mãos se agarravam uma a outra na frente do corpo. Tina e Jacob não sabiam para quem olhar e Newt se perguntou como eram as coisas na América em relação a famílias puras e todos os problemas que vinham junto quando se pertencia a uma delas.

“Corvus Lestrange está morto!” A voz de Leta ecoou dentro do mausoléu, fazendo todos se sobressaltarem. “Eu o matei!”

A mesma sensação de quando viu o bicho-papão da amiga pela primeira vez tomou conta do magizoologista, um arrepio forte seguido da sensação de estranheza para com o próprio corpo, como se estivesse vendo tudo de longe. Lestrange, mesmo adulta, não passava de uma menina assustada no meio da aula de Defesas Contra as Artes das Trevas, encarando o maior medo que se esgueirara para fora de um baú ou armário velho e finalmente a alcançara. Se fosse possível, Tina havia arregalado os olhos ainda mais, olhando rapidamente para Newt como se tentasse descobrir se ele sabia de alguma coisa do que a bruxa estava falando.

“Meu pai me mandou junto com Corvus para a América,” Leta murmurou. “A nossa criada, Madame Dugard, iria se passar por nossa avó. Ele chorava tanto... Nunca parava de chorar. Corvus dormia apenas alguns minutos e depois voltava a berrar.” A mulher levou as mãos até os lados da cabeça, cobrindo os ouvidos. “Eu só queria alguns minutos de silêncio. A moça da cabine em frente a nossa tinha um bebê tão quieto, tão querido, e eu só queria que aquele fosse o meu irmão, não aquela coisa que nunca ficava quieta.” Ela fechou os olhos e escorregou as mãos pelo rosto, antes de abaixá-las outra vez. “Eu queria uma noite com um irmãozinho educado com quem eu pudesse brincar sem que ele gritasse. Deixei Corvus no berço da outra cabine e peguei o bebê de lá. Ele era tão quietinho, tão adorável...” Lestrange abriu os olhos e observou Credence. “Eu queria que ele fosse o meu irmão.”

A mulher ergueu a varinha e sussurrou um feitiço de invocação. Uma caixa dourada se arrastou para fora de um dos buracos da tumba e flutuou até ela, pousando no chão com um som alto demais para o ambiente silencioso. Leta se ajoelhou e destrancou o lacre da caixa, desdobrando-a até que ela virasse uma placa com uma árvore pintada na sua superfície: o rosto de diferentes bruxos marcavam o fim de cada galho, enquanto pequeninas flores das mais diversas cores se enroscavam nos ramos.

“O resto você sabe, Yusuf,” a bruxa falou. “Irma Dugard conseguiu me tirar o navio, junto com o bebê que deveria ser Corvus. A moça da outra cabine pegou o meu irmão e entrou em outro bote, mas eu vi... Eu vi quando ele virou.”

Newt sentiu um vazio surgir em seu estômago ao finalmente entender do que se tratava o bicho-papão da amiga. Não apenas o irmão perdido no mar, mas o irmão que havia se perdido por conta de uma ação dela. O magizoologista deu um passo na direção da bruxa, esticando o pescoço para enxergar melhor a árvore genealógica esticada no chão: a miniatura de Corvus Lestrange estava acinzentada, como se tivesse sido queimada, e a flor que representava a irmã se enroscava mais e mais ao redor do galho dele.

“Você não sabia que isso iria acontecer,” Scamander murmurou, esticando uma mão e roçando a ponta dos dedos no ombro da mulher. “Não é sua culpa.”

Os dedos de Leta encostaram nos dele, apertando-os de leve, antes de ela se levantar e fechar a árvore genealógica com um aceno da varinha.

“Oh, Newt.” Ela se virou para o magizoologista, um sorriso triste repuxando os cantos de seus lábios. “Você nunca encontrou um monstro que não amasse.”

Scamander não era bom em abraçar pessoas, mas, naquele momento, ele queria abraçar Leta. Por mais que fosse importante tirarem Credence dali o mais rápido possível e encontrarem Queenie, o homem queria apenas abraçar a amiga e levá-la para um lugar tranquilo, talvez para dentro da sua maleta, onde ela poderia se distrair com os animais.

“Leta.” A voz de Tina o tirou de seus pensamentos e fez Lestrange finalmente desviar o olhar do seu. “Você sabia quem era o bebê? Você sabe quem Credence realmente é?”

“Não.”

Credence deixou escapar um barulho esganiçado. Young-Sook, que até então se permanecera afastada, alcançou o rapaz e apoiou uma mão em seu ombro. Yusuf Kama parecia perdido, encarando o nada enquanto processava o que havia acabado de ouvir.

“Nós deveríamos ir embora,” disse Goldstein. “Credence... Você se lembra de mim e do Newt, não?”

“Não vou sair daqui,” o rapaz falou, fechando os punhos e olhando para Young-Sook ao seu lado. “Não até descobrir quem eu sou.”

“Não vai ser aqui que você vai descobrir isso,” Leta balbuciou, esfregando embaixo dos olhos com os dedos e olhando para o garoto. “Tudo o que resta aqui são um monte de ossos da minha família.”

“Ele disse que iria me contar a verdade.” Credence se afastou da maledictus e voltou para o fundo da cripta, sumindo em um pequeno corredor. “O homem com um olho de cada cor.”

“Grindelwald já o enganou uma vez.” A voz de Tina tremia levemente. “Você ficou um bom tempo circulando pelo mundo bruxo, deve ter ouvido sobre o que aconteceu com o verdadeiro Percival Graves, não? Grindelwald te enganou usando o rosto dele e está tentando te enganar de novo.”

“Credence,” Newt chamou, gesticulando para a auror não o seguir enquanto ele ia até o corredor onde o garoto havia entrado. Era um corredor minúsculo e sem saída, e o rapaz estava no canto deste, olhando fixamente para uma das figuras em alto relevo na pedra. “Ele é um homem ruim que quer te usar. Desde Nova York, tudo o que Grindelwald queria era usar o seu poder. A magia de um obscurus é poderosa e quase incontrolável, resistente a maioria dos feitiços. Ter você ao lado dele seria como... como conseguir uma arma muito, muito poderosa.”

“É assim que todos eles me veem, não é?” o menino perguntou, virando um pouco a cabeça na direção do homem. “Uma arma. Por isso me atacaram no metrô e mandaram um homem atrás de mim aqui em Paris.”

“Grimmson o encontrou?” Newt sentiu o coração acelerar. “Ele o machucou?”

Credence ficou em silêncio e apoiou a mão sobre o corvo em alto relevo na pedra. Só então Scamander viu, de relance, um símbolo pintado de forma tosca sobre a criatura: um triângulo com um círculo dividido em dois no seu interior.

“Credence, por favor.”

O rapaz o olhou, o cenho franzido e a boca apertada, antes de pressionar o corvo de pedra, que cedeu sob a sua mão. A parede no fundo do corredor rangeu e os tijolos desta se abriram, um por um, até dar espaço para que eles passassem. Credence não hesitou e atravessou para a câmara seguinte, enquanto Newt esperou o resto do grupo o alcançar, sendo que Young-Sook foi a primeira a chegar e logo foi atrás do garoto.

Do outro lado da porta escondida, uma multidão de bruxos e bruxas estava disposta ao longo do que pareciam ser arquibancadas circulares. Distribuídos ao longo das fileiras, haviam mais tumbas com estátuas de pedra sobre as suas tampas e, no centro, um púlpito. Scamander imaginou que aquele devia ser o local onde os corpos dos Lestrange eram velados: extravagante e requintado, como tudo o que eles haviam deixado para trás.  Porém, o magizoologista não teve tempo de prestar mais atenção nas esculturas e entalhes que contavam a história da família ao longo das paredes, já que a sensação ruim de desconforto começou a surgir em seu peito assim que começou a perceber os outros sinais de ter tanta gente em um lugar fechado: o burburinho das conversas paralelas, o estalar dos sapatos contra o chão, a agitação no ar causada por tantas magias diferentes...

Credence havia sumido de vista. De certo já havia se esgueirado por entre os bruxos e bruxas a fim de escapar de ser tirado dali. Tina apressou o passo até estar na beirada da arquibancada superior, correndo os olhos por todas as pessoas ali presentes, com Jacob ao seu lado fazendo a mesma coisa. Ambos procuravam por Queenie e foi Kowalski quem a viu primeiro, um borrão de rosa e cabelos amarelos no meio de todos aqueles bruxos. O trouxa puxou Goldstein pela mão para levá-la até a irmã, empurrando as pessoas que encontravam no meio do caminho.

“Newt?”

O magizoologista se virou e encontrou Leta ainda parada ao lado da porta. A bruxa foi até ele, segurando o seu braço e o apertando de leve em uma tentativa de deixá-lo mais confortável.

“Foi tudo uma armadilha,” o homem murmurou. “A árvore genealógica, Credence sendo enviado até aqui, Queenie, Kama...”

“E caímos direitinho.” Lestrange enrijeceu ao seu lado. “Theseus vai cair nessa também.”

“Como?”

“Os aurores já devem saber o local da reunião. Grindelwald iria querer que eles soubessem e que viessem até aqui,” a mulher explicou. “Ele quer que eles ataquem, porque assim vai ter mais provas de que ele está certo e os Ministérios, errados. Vamos lá, Newt, você sabe toda a fama ruim que os aurores têm ganhado ultimamente. Você mesmo não gosta deles.”

Scamander mordeu o lábio inferior e desviou o olhar para os próprios pés. No início, os seguidores de Grindelwald não passavam de rufiões que queriam explodir uma coisa ou outra no continente, mas, com o passar do tempo, mais e mais gente comum e respeitada começou a cometer delitos no nome do bruxo: azarações contra trouxas, destruição de propriedades, um incêndio criminoso aqui, um bicho de estimação morto ali... Os aurores agora não iam atrás de bruxos insanos que deviam estar internados no St. Mungus, mas sim atrás de pais de famílias e cidadãos de bem. Ninguém gostou disso, ninguém gostou de ser tratado como os aurores tratavam os criminosos mais clássicos, e esses bruxos ganharam a fama de serem violentos e cegos pelo sistema que defendia mais os trouxas, nascidos trouxas e mestiços do que os bons e velhos puro-sangues.

“Precisamos sair daqui,” Newt sussurrou, virando-se para a porta apenas para vê-la se fechando outra vez e um bruxo parando na frente dela.

A multidão irrompeu em aplausos e Scamander sentiu a mão de Leta apertar seu braço com mais força. Lá embaixo, um homem caminhou até o púlpito e sorriu para o público. Grindelwald não parecia tão abatido quanto alguém que supostamente ficou meses trancafiado no MACUSA. Os cabelos loiros estavam bem penteados, assim como o bigode e o cavanhaque, que faziam ele parecer quase uma caricatura ambulante; as roupas eram impecáveis e ele parecia se sentir muito confortável dentro delas enquanto andava ao redor do púlpito, olhando todos aqueles que o aplaudiam. Em seu peito, um objeto prateado refletia a luz das velas que iluminavam a câmara, além de emitir um brilho peroláceo a partir de seu centro. Scamander esticou-se mais para tentar enxergar melhor o adereço curioso que lhe era familiar de algum lugar, mas Leta o puxou para trás outra vez.

Não foi preciso mais de uma frase para Newt entender que o maior poder do qual Grindelwald dispunha não era a sua magia, mas sim as suas palavras. Até mesmo os rostos que estavam apáticos e incrédulos antes do bruxo aparecer agora exibiam um brilho fascinado nos olhos e uma expressão esperançosa. O homem falava com suavidade, elogiava aqueles que haviam se deslocado até ali e lhes dava a segurança de que a sua indignação era válida. Para aqueles que não queriam se sentir pessoas horríveis por dar ouvidos a alguém como ele, Grindelwald oferecia palavras de conforto sobre como ele não tinha absolutamente nada contra trouxas, que reconhecia o valor das pessoas sem magia. Ao mesmo tempo, ele massageava o orgulho dos bruxos que carregavam a magia como seu maior feito, dando-lhes uma explicação para eles terem nascido com aquele dom: eles eram destinados a coisas grandes que tornariam o mundo um lugar melhor, estava nas mãos deles guiar os pobres coitados sem magia. O Gellert Grindelwald que discursava era muito diferente daquele que manipulara e traíra Credence em Nova York, que sequestrara Percival Graves, que havia matado e torturado pessoas por toda a Europa. O Grindelwald dentro da cripta funerária era um pai que queria cuidar de suas crianças, os bruxos e bruxas indignados com a sociedade mágica.

A entrada da câmara rangeu. Pelo canto do olho, Newt viu vários homens entrar e tentou se encolher dentro do próprio casaco enquanto Leta, ao seu lado, se aproximou mais dele.

“Lembrem: tenham calma,” disse uma voz familiar em um sussurro enquanto os homens se dispersavam ao redor do local. “Newt? Leta?”

Não levou um segundo para Theseus estar parado atrás deles, olhando do irmão para a noiva como se esperasse uma explicação.

“Chegou a hora de dividir com vocês o que eu vi do futuro, o que vai acontecer se não tomarmos uma atitude.”

A voz de Grindelwald pareceu pairar no ar enquanto todos observavam, ansiosos, uma bruxa se aproximar carregando um crânio nas mãos. No topo do esqueleto, havia uma mangueira preta, a qual ela ofereceu para Grindelwald, que a pegou e levou até os lábios. O crânio brilhou com uma luz dourada quando o bruxo inalou através da mangueira, enchendo as bochechas de ar e fechando os olhos. Theseus se inclinou para a frente, tentando enxergar melhor o que estava acontecendo.

Todos na câmara soltaram ruídos assustados quando Grindelwald soprou a fumaça e o que saiu de sua boca foi um borrão de cores e movimentos. As imagens se expandiram até ocuparem todo o local e o público se agitou quando viu uma cidade destruída logo na sua frente. Aviões trouxas davam rasantes e lançavam bombas que mandavam os prédios para os ares, pessoas corriam pelas ruas a procura de abrigo. A imagem mudou e agora eles estavam em um campo lamacento através do qual tanques de guerra se arrastavam, entre pessoas caídas. O ruído de aviões voltou a ecoar pela câmara, fazendo as pessoas cobrirem os seus ouvidos quando uma praia tomou forma, com milhares de soldados parados ao lado do mar, alguns em macas, e se jogando na areia para se protegerem da rajada de tiros que vinha dos aviões. Na água, um enorme navio sacudia e tombava, afundando lentamente. A praia deu lugar a outra cidade perdida no meio da fumaça, com filas de pessoas sendo conduzidas por soldados pelas ruas. Homens, mulheres e crianças sob a mira de armas de fogo enquanto os prédios queimavam ao redor deles, todos com uma estrela de seis pontas presa às roupas.

De onde estava, Newt conseguia ver Jacob se encolher e esconder o rosto nas mãos enquanto Queenie o abraçava. O próprio magizoologista havia se escorado em um dos pilares de pedra mais próximos e agarrado a mão de Leta sem nem ao menos perceber. Os barulhos da guerra que ele mais conhecia eram os rugidos dos dragões, mas era impossível não se lembrar do que havia visto enquanto aquelas imagens horríveis se desenrolavam em frente aos seus olhos.

Quando um barulho estrondoso explodiu dentro da câmara e uma luz forte os cegou por alguns segundos, Newt sentiu os dedos de Lestrange escaparem de sua mão ao mesmo tempo que o braço de Theseus o alcançou pelo pescoço, puxando-o para si. Os três haviam caído no chão, Leta também presa em um abraço esquisito pelo mais velho. Por cima do ombro do irmão, o magizoologista viu um cogumelo de fogo e fumaça se erguer sobre o púlpito.

“Theseus,” Leta murmurou, sua voz abafada contra o terno de Scamander. “Está tudo bem. É só uma visão.”

Newt piscou, sentindo algo apertar no peito. Aquele não era só mais um dos surtos de abraços do irmão, mas sim uma tentativa de proteger a ele e Leta, um reflexo que Theseus ganhara da guerra e que havia sido desengatilhado ao ver a explosão horrenda que Grindewald lhes mostrava.

“É isso que estamos lutando! Esse é o inimigo: a arrogância, a barbaridade e a sede de poder deles,” Grindelwald voltou a falar, sua voz agora deixando de lado o tom mais suave de antes.

“Precisamos levantar, Theseus,” disse Newt, sentindo a respiração acelerada do irmão e o leve tremor dos dedos deste onde eles o seguravam. “Credence está aqui. Precisamos encontrá-lo e tirar ele daqui o mais rápido possível.”

“Quanto tempo até eles virarem as suas armas contra nós?” Grindelwald continuou o discurso e a multidão de bruxos e bruxas irrompeu em murmúrios.

O Scamander mais velho respirou fundo uma, duas vezes, antes de soltar o irmão e a noiva, levantando-se em um salto e os ajudando a ficar de pé. O homem trocou um olhar rápido com outro auror que havia ficado por perto e o homem lhe deu um sorriso rápido e condescendente, que resultou em um Theseus muito vermelho. Enquanto o irmão se recompunha, Newt abriu apenas uma fresta da maleta e, com um movimento rápido da varinha, fez o pelúcio voar até as suas mãos. Ignorando o olhar confuso de Leta, o magizoologista colocou o animal sobre a própria cabeça e ficou na ponta dos pés. Não demorou para sentir a agitação do bicho ao enxergar o tesouro que o esperava no púlpito.

“Não façam nada quando eu falar. Vocês devem permanecer calmos e conter as suas emoções.” O público voltou a ficar em silêncio e Newt levou um momento para perceber isso, já que estava ocupado demais sentindo o pelúcio escorregar pelo seu pescoço, logo antes de sumir de suas costas. “Temos aurores entre nós.”

O burburinho voltou enquanto todos olhavam em volta, tentando identificar os intrusos. Não fosse o fato dos aurores não estarem preparados para serem descobertos, eles teriam passado despercebidos. No entanto, a surpresa estava estampada no rosto daqueles que rodeavam a câmara e não demorou para todos entenderem que aqueles eram os enviados dos Ministérios.

“Cheguem mais perto, meus irmãos! Se juntem a nós!” Grindelwald ergueu as mãos, flexionando os dedos para chamá-los. Atrás deles, quatro bruxos se aproximaram com as varinhas em mãos, guiando-os para as escadas.

Theseus desceu as escadas, de cabeça erguida, com Newt e Leta no encalço. O outro auror vinha logo atrás, com os olhos arregalados enquanto observava Scamander, esperando alguma ordem. Os bruxos pelos quais eles passavam torciam o nariz e murmuravam maldades, um deles chegando ao ponto de cuspir no chão por onde eles haviam acabado de andar. Quando estavam no meio do caminho, o magizoologista se forçou a erguer o rosto e olhar para o púlpito. Grindelwald tinha os olhos desiguais fixos nele, com um sorriso quase zombeteiro nos lábios.

“Eu reconheço alguns rostos. Ian Yaxley, o que faz por aqui?” perguntou Grindelwald, desviando o olhar para um auror do outro lado da câmara. “Ouvi falar da sua família... Muitos bruxos influentes no Ministério, uma história formidável. Por que, meu amigo, você está parado do outro lado?” O auror, um rapaz de cabelos escuros e mais novo que o próprio Newt, pareceu nervoso, mudando o peso do corpo de uma perna para a outra. “Os Yaxley não perderam uma pequena fortuna para o Ministério depois de um desentendimento com um trouxa?”

O jovem olhou em volta, procurando por algum superior na multidão, antes de assentir discretamente.

“Theseus Scamander.” Newt viu os ombros do irmão ficarem mais tensos do que o normal quando o bruxo se dirigiu a ele. “Herói de guerra. Você viu do que eles são capazes no meio de uma batalha, não é mesmo? As trincheiras, as armas de fogo, as bombas químicas... No fundo, você sabe que precisamos impedir que isso aconteça de novo.”

O magizoologista esticou a mão até alcançar a do irmão, tocando-a muito rapidamente apenas em uma tentativa de tirá-lo do transe que as palavras do outro bruxo pareciam causar em todos.

“Newt Scamander... O homem que me entregou para o Congresso americano.” Newt se encolheu ao ouvir o seu nome escapar da boca do homem. Ao redor deles, as pessoas voltaram a murmurar. “Não guardo nenhum ressentimento, meu caro. Na sua situação, eu talvez fizesse o mesmo... Incompreendido por muitos, tentando se provar para o Congresso e para uma mulher que o via apenas como um homem esquisito com uma mala cheia de bestas.” Foi a vez do Scamander mais novo sentir o rosto esquentar. “Expulso de Hogwarts no último ano, mandado para a guerra em uma tentativa de remediar o que havia acontecido. Você está sempre tentando fazer o certo, não é, Newt? E você cresceu em uma sociedade que lhe disse que o certo seria entregar um companheiro bruxo às autoridades... Eu não o culpo, ainda mais por saber que você é mais um dos inúmeros fantoches de Albus Dumbledore.” Grindelwald suspirou dramaticamente, erguendo uma mão para tirar uma mecha de cabelo loiro do rosto. “A única culpa que esses homens e mulheres têm é de não conseguirem abrir os olhos, mas não vamos ser bruscos com isso. Quanto tempo nós levamos para enxergar os erros? Para eles, tudo está justificado: matar meus seguidores, me prender e me torturar em Nova York, perseguir aqueles que procuram a verdade...”

Do outro lado da câmara, algumas pessoas gritaram depois que um clarão verde irrompeu da varinha de um auror. Uma bruxa estava caída no chão de pedra, morta, e o jovem que a acertara olhava em volta, assustado, antes de correr escada acima, balbuciando algo sobre a vítima ter tentado atacá-lo. Theseus aproveitou o momento para procurar por outros aurores ao redor do local e Newt pôde ver o desespero tomando conta das feições do irmão a medida que este via que boa parte de seus homens parecia assustado ou seduzido pelo discurso que estavam acompanhando.

Grindelwald subiu os degraus até onde a mulher havia caído e se ajoelhou ao lado dela, tocando-lhe a testa com delicadeza enquanto franzia o cenho e suspirava. Ele ergueu o rosto para olhar as bruxas que estavam paradas ao redor do corpo.

“Levem-na para a família dela,” ele falou e se levantou. “Desaparatem. Saiam daqui e espalhem o que viram. Deixem o mundo saber que não somos nós que usamos da violência, mas os Ministérios.”

Newt se sentiu uma criança quando automaticamente se grudou no irmão assim que os estalos das aparatações tomaram conta do lugar, cada um parecendo mais alto que o outro, enchendo os seus ouvidos e o fazendo ficar tonto. A visão de tantos bruxos e bruxas desaparecendo ao mesmo tempo, em meio ao barulho e agitação, não ajudou em nada. Além disso, o magizoologista havia passado pelo menos dois dias na companhia de alguém, sem tempo para ficar sozinho, e isso o fazia se sentir exausto. A exaustão das companhias constantes somada ao nervosismo de estar no meio daquela reunião e ao alvoroço causado pelo pedido de Grindelwald, de repente, pareceram ser demais.

“Newt.” A voz de Theseus o fez erguer os olhos do chão e encontrar as mãos do outro agarradas às suas. “Saia daqui. Você e Leta.”

O irmão o empurrou de leve e se virou outra vez para o púlpito. Grindelwald observava os aurores com um sorriso no rosto, o qual se alargou quando ele girou nos calcanhares e, com um movimento fluído da varinha, fez surgir um círculo de chamas azuis ao redor de si. Alguns dos seguidores do bruxo caminharam através do fogo sem hesitar, não sendo afetados pelo feitiço, até um homem hesitar e, ao pisar nas chamas, urrar e cair no chão, sendo consumido por estas.

“Aurores, se juntem a mim. Prometam-me a sua lealdade ou morram,” o bruxo falou, erguendo as mãos e encolhendo os ombros. “Só assim vocês conhecerão a liberdade e a si mesmos.”

Depois que a maioria da multidão aparatou, Newt pôde encontrar Credence e Young-Sook. A mulher estava garrada ao braço do rapaz, que descia as escadas na direção do púlpito.

“Credence!” Scamander gritou, correndo na direção do garoto e ouvindo Leta xingar atrás de si. “Credence, não!”

O rapaz parou e encarou o magizoologista.

“Ele não é a sua única opção,” Newt falou, parando a alguns metros dele. “Nós podemos te ajudar. Podemos tirar o obscurus de você aos poucos, te ensinar a fazer magia do jeito certo-“

“O que aconteceu da última vez que você tentou tirar o obscurus de uma criança, Sr. Scamander?” perguntou Grindelwald, andando até a borda do círculo e parando logo atrás das chamas. “Você a matou. Você se orgulha tanto de fazer sempre a coisa certa, mas quantas pessoas já morreram ou foram torturadas por isso? Eu sei que eu fui uma delas.” O bruxo apoiou uma mão no próprio peito, parecendo ofendido. “Quantas pessoas seus dragões mataram na guerra? E o menino que você quase matou em Hogwarts enquanto tentava proteger uma besta?” Scamander sentiu os olhos arderem e abaixou o rosto. “Mas você continua acreditando que está fazendo a coisa certa... Quem foi que o fez acreditar nisso, Newt? Dumbledore?” O homem deu um passo em frente e atravessou o fogo, subindo as escadas lentamente. Alguns aurores tentavam aparatar para fora da cripta, mas as chamas agora os seguiam e os alcançavam antes da aparatação estar completa.

“Newt!”

Uma lingueta de fogo disparou na direção de Theseus, que a afastou com um movimento rápido da varinha. Antes que pudesse sequer pensar, o magizoologista disparou um feitiço contra Grindelwald em uma tentativa de distrair o bruxo e evitar que ele controlasse a maldição que colocara na câmara. Grindelwald pareceu surpreso, apesar de ter se defendido sem dificuldades.

“Eu não consegui dar o melhor de mim no nosso encontro no metrô de Nova York,” o homem falou, sorrindo de lado.

Um feitiço atingiu o magizoologista no peito, jogando-o para longe. A queda nos degraus de pedra doeram mais que o impacto do feitiço, deixando-o desnorteado. Scamander se ergueu nos cotovelos, vendo um borrão cor-de-rosa atravessar as chamas, deixando para trás um Jacob desolado, que gritava. Um degrau explodiu ao seu lado e Newt rolou para longe, grunhindo ao escorregar para outro nível da arquibancada.

“Nagini, não!” O bruxo ouviu Credence falar e viu, de relance, o rapaz puxar o braço das mãos da maledictus e andar na direção de Grindelwald, que o recebeu de braços abertos.

“É só atravessar,” o homem falou, segurando o rosto do garoto entre as mãos. Em um degrau logo a frente de onde Newt havia caído, o pelúcio estava encolhido. O magizoologista sentiu um aperto no peito e se odiou por soltar a criatura em um lugar tão perigoso quanto aquele. Ele esticou as mãos e o animal correu para ele. “Vinda irá levá-lo para casa.”

Newt mal teve tempo de enfiar o pelúcio no bolso do casaco antes dos feitiços de Grindelwald recomeçaram. Ao longe, ele podia ouvir os gritos de Theseus se misturarem com os de Tina, que chorava em algum lugar, chamando pela irmã. Usar contrafeitiços parecia inútil, já que Scamander mal conseguia dizer de onde os encantamentos vinham, então tudo o que podia fazer era se arrastar e rolar pelo chão, tentando evitar os ataques.

O magizoologista deixou escapar um grito meio estrangulado quando sentiu-se ser puxado pelos cabelos até estar com o rosto erguido, cara a cara com Gellert Grindelwald. A varinha escapou de seus dedos enquanto ele erguia as mãos para tentar afastar o outro, que apenas riu e aproximou o rosto ainda mais do seu, ignorando toda e qualquer noção de espaço pessoal.

“Você acha que Dumbledore irá chorar a sua morte, Sr. Scamander?” perguntou Grindelwald, espalmando a mão que segurava a varinha contra o lado do rosto do outro. “Deixe-me lhe contar uma coisa: Albus Dumbledore ama um certo tipo de pessoa... Rapazes inteligentes e bons com magia, mentes rápidas e paixões intensas. Você não é o primeiro e nem será o último a chamar a atenção dele por ser assim. Certa vez, ele encontrou um rapaz assim e deu tudo de si para ele, mas o jovem tinha a personalidade forte e não aceitou tudo que Dumbledore dizia.” O bruxo mais velho deslizou os dedos pela face do magizoologista até estar segurando-lhe o queixo.  “Agora ele escolhe apenas aqueles que consegue influenciar, aqueles que estão quebrados e precisam de alguém para lhes assegurar de que são pessoas boas.”  Scamander segurou a respiração quando o homem aproximou-se ainda mais para lhe sussurrar perto do ouvido: “Agora me diga, será que Dumbledore choraria mais pela sua morte ou pela minha?”

Os dois bruxos foram jogados no chão quando algo atingiu Grindelwald pelas costas. Quando eles se levantaram, Leta estava com a varinha apontada para o bruxo, os olhos arregalados e as mãos tremendo.

“Ah, Leta Lestrange.” O loiro se ergueu do chão e passou as mãos pelos cabelos, respirando fundo. “Detestada entre os bruxos... Maltratada, privada de amor, mas tão, tão corajosa.”

Newt se sobressaltou quando sentiu alguém o segurando por debaixo dos braços, erguendo-o do chão até que ele ficasse em pé. O magizoologista reconheceu a mão do irmão pela cicatriz quando esta lhe entregou a sua varinha. Sua cabeça zunia, suas pernas pareciam fracas demais para sustentá-lo e tudo o que conseguia ver era Lestrange e Grindelwald.

“Venha, minha querida,” o bruxo falou, esticando a mão na direção da bruxa. “Vamos para casa.”

O mundo pareceu desacelerar e todo barulho sumir. Leta encarou a mão estendida do homem e olhou na direção dos Scamander. Newt viu os lábios da bruxa se abrirem e contornarem as palavras que ele não ouvia, mas conseguia distinguir, sem saber se estavam sendo direcionadas para si ou para o irmão. E então, ela ergueu a varinha e um feitiço atingiu Grindelwald no ombro, fazendo-o cambalear e tropeçar em um degrau. O homem rolou por dois níveis na arquibancada e isso foi o suficiente para fazer com que o seu controle sobre a maldição das chamas azuis ficasse fragilizado.

Leta gritou alguma coisa, gesticulando para eles, antes de arregalar os olhos e ser jogada contra os degraus quando uma bola de fogo azul a atingiu nas costas. Theseus gritou e Newt finalmente voltou a perceber os sons, ouvindo a voz do irmão logo ao lado de seu ouvido, mas, antes que pudesse entender o que estava acontecendo, o puxão da aparatação fez a cripta desaparecer ao redor deles.

“Não! Leta!”

Newt sentiu o ar fresco do lado do cemitério e tateou o chão, sentindo as ervas daninhas que se esgueiravam por entre os paralelepípedos do calçamento. Inúmeros estalos de aparatação ecoavam por perto, todos seguidos por grunhidos e xingamentos vindos de Theseus.

“Eles protegeram o local contra aparatações para dentro!” outra voz familiar falou e um homem segurou o Scamander mais velho pelo casaco, afastando-o do mausoléu.

“O que você fez!?” o auror vociferou, empurrando Yusuf Kama para longe, que foi aparado por Young-Sook, tão assustada e perdida quanto o próprio Kama. Scamander agarrou a maçaneta da porta de metal da tumba, sacudindo-a quando esta não abriu e então puxando a varinha. “Alohomorra! Abertus!”

Newt se sentou no chão e puxando as pernas contra o corpo. Ele ergueu as mãos e afundou os dedos nos próprios cabelos, mordendo o lábio inferior e respirando fundo enquanto observava o irmão bater contra a porta, desistindo de usar magia. Theseus continuou com as suas tentativas de entrar no mausoléu por mais alguns minutos, antes escorregar para o chão, os cotovelos apoiados na porta e os ombros tremendo com soluços.

Forçando os membros a se mexerem, Scamander se levantou e cambaleou até o irmão. Sem saber exatamente como fazer aquilo, ele se ajoelhou ao lado do outro e passou os braços ao redor do tronco do outro, puxando-o para um abraço desastrado. Theseus não pareceu se importar com a falta de experiência do mais novo e logo se virou, agarrando-o também. O auror agora tremia sem parar e deixava escapar barulhos esquisitos enquanto soluçava e chorava. Tudo o que Newt podia fazer era apertar mais os braços ao redor do irmão e afundar o rosto no ombro deste.

O magizoologista não sabia dizer quanto tempo eles ficaram daquele jeito, com Yusuf e Young-Sook em silêncio do outro lado da rua estreita que atravessava o cemitério. Quando os soluços de Theseus começaram a diminuir, o som de passos rápidos e um tanto cambaleantes ecoou em algum lugar próximo a eles.

“Newt!?” a voz de Jacob surgiu na escuridão do cemitério, junto com a respiração esbaforida do trouxa. “Ah, Newt! Oh Deus, a gente não sabia... não sabia se vocês tinham conseguido escapar.”

O auror se afastou rapidamente e encarou Kowalski, que agora se apoiava em uma tumba para tomar fôlego. Ele ergueu uma mão, pedindo um tempo.

“Tina nos tirou de lá,” o homem explicou. “Pediu para eu vir procurar por vocês aqui na tumba, mas que voltaria para me buscar-“

“Onde ela está?” perguntou Newt, enxugando o rosto com a ponta dos dedos.

“Ela foi para a casa do alquimista.” O trouxa gesticulou alguma coisa incompreensível. “A garota, Leta, não está bem.”

 


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Notas finais do capítulo

Coisas que eu queria ter visto mais: Theseus como o bruxo que passou pela Primeira Guerra que ele é e Grindelwald interagindo mais com o Newt, a pessoa que o desmascarou na frente do MACUSA.



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