Les Crimes de Grindelwald escrita por themuggleriddle


Capítulo 15
Jardin des Tuileries




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“O curandeiro responsável por ela disse que vai ficar tudo bem. Digo, é um ferimento complicado, como todo ferimento causado por uma maldição, mas ela vai se recuperar.”

Os ombros de Tina estavam mais relaxados naquele dia enquanto eles caminhavam ao redor da fonte do Jardim de Tuileries. Passados cinco dias desde o fiasco no cemitério, Newt, Tina e Theseus estavam sendo mantidos em Paris, monitorados pelos Ministérios inglês e francês, além do Congresso americano. Eles podiam ir a qualquer lugar dentro da cidade, porém as pulseiras de metal presas aos seus pulsos eram um constante aviso de que sempre havia alguém de olho neles. Leta, apesar de restrita à uma cama de hospital, também havia ganhado um rastreador.

“Como você...?”

“Fui ver como ela estava,” Goldstein falou, parando para observar um menino e a mãe jogarem pedaços de pão para um grupo de pombos. “Ela perguntou como você estava.”

Newt encolheu os ombros. Ele estava cansado e com saudades de poder se dedicar aos seus animais outra vez.

“Estou bem,” o homem respondeu, forçando um sorriso no rosto. “E você?”

Apesar da postura mais relaxada, havia manchas escuras abaixo dos olhos de Tina e ela parecia mais pálida do que o normal. Eles haviam sido interrogados quase que ininterruptamente e, para a auror, a maioria das perguntas eram referentes a irmã, cuja fuga ao lado de Grindelwald parecia pesar mais do que os ferimentos pesavam em Leta.

“Estou bem,” ela murmurou.

“Entre eu, você, Theseus e Leta,” disse Newt, olhando rapidamente para a bruxa. “Quem você acha que está mentindo mais nos últimos dias?”

A mulher o encarou, piscando uma, duas vezes, antes de soltar uma risada fraca e cansada.

“Bom, seu irmão não está falando quase nada há cinco dias, você está se escondendo na sua maleta para cuidar dos animais sempre que pode e Leta está tomando poções que deixam ela mais para lá do que para cá de hora em hora...” Tina franziu o cenho enquanto falava. “Talvez eu esteja mentindo mais.”

“Talvez fosse a hora de você encontrar uma maleta para se esconder?” perguntou Scamander, antes de sentir o rosto esquentar. “Não a minha. Quero dizer, se você quiser ficar lá por algumas horas, é só pedir. Já vi alguns curandeiros do St. Mungus falarem que pacientes que interagiam com amassos se recuperavam mais rápido-“

Newt deixou a frase morrer ao ver Goldstein o encarando, pressionando os lábios um contra o outro para evitar que os cantos destes se curvassem em um sorriso.  Os olhos dela, no entanto, estavam brilhando um pouco mais.

“Quem sabe eu peça algumas horas lá dentro.” A mulher soltou os lábios, permitindo-se sorrir. “Apesar de que gostaria de rever o Dougal.”

“Ah, ele não está aqui.”

“Não?”

“Deixei-o em Londres. Achei que... depois do que aconteceu em Nova York, talvez fosse melhor deixar um semivisto em casa,” ele explicou. “São meio difíceis de encontrar, caso fujam.”

“Eu que o diga.”

A mãe e o menino que estavam alimentando as pombas terminaram de jogar os restos de pão para as aves e continuaram o passeio. Os pássaros permaneceram amontoados, lutando pelas migalhas, arrancando uma ou outra risada baixinha de Tina.

“Theseus diz que pombas são ratos alados,” Newt falou, observando uma pomba particularmente grande perseguir uma menor que tentava fugir com uma casca de pão presa no bico.

“Ratos alados,” a mulher repetiu, balançando para frente e para trás nos calcanhares e enfiando as mãos nos bolsos da saia. “Nós temos... algum animal mágico que sejam assim? Ratos alados?”

“Tem os Colo-Colos, da América do Sul, mas não são... ratos alados. Eles estão mais para uma ave que parece um roedor, só que... sem asas,” o magizoologista explicou, estreitando os olhos. “Eu só vi eles em cativeiro.”

“Por curiosidade... Qual foi o animal mais bizarro que você já viu?” Tina perguntou, voltando a andar ao redor da fonte.

Scamander acompanhou a mulher enquanto continuava observando os pombos. Quando deixou os pássaros de lado, ele olhou para as outras pessoas que circulavam pelo parque naquela tarde ensolarada de primavera e sentiu um vazio surgir em seu estômago ao se lembrar das visões que Grindelwald lhes mostrara dentro da cripta dos Lestrange. Será que Paris seria atingida pela guerra que estava por vir? Ele havia reconhecido Londres no meio das imagens, destruída pelas explosões causadas pelos aviões, mas quantas cidades a mais seriam atingidas?

“Não é o mais animador, mas o que sempre me deixa meio assustado: a mortalha-viva,” o bruxo falou. “Elas parecem capas que flutuam por aí, têm uns cinco centímetros de espessura e uma textura meio... não é couro. Parece a textura de tubarões ou arraias, sabe?” Tina encolheu os ombros e sacudiu a cabeça. “Oh, bem... É uma textura diferente.”

“E o que elas fazem?” a auror perguntou. “Além de flutuar por aí.”

“Elas cobrem as pessoas que estão dormindo e sufocam elas.”

“Oh.”

“E não deixam nenhum sinal do que aconteceu. Na maioria das vezes, encontram a vítima morta e nunca descobrem que foi uma mortalha-viva que a matou. Nos locais onde são mais prevalentes, há bastante registros de ataques falsos,” ele explicou. “Elas vivem em climas tropicais.”

“Ataques falsos?”

“Um bruxo mata o outro com uma Maldição da Morte, por exemplo, e diz que encontrou a vítima debaixo de uma mortalha-viva,” o homem falou. “Hoje em dia elas são bem raras, em parte porque já houve vários períodos nos quais elas eram caçadas aos montes, porque... Bom, as pessoas estavam sempre inventando ataques.”

“Toda vez que falo com você sobre animais, termino a conversa achando que somos as piores criaturas que existem no mundo,” Tina murmurou, abaixando um pouco o rosto.

“E não somos?” perguntou Newt, olhando a mulher. “Nunca vi animais iniciando guerras, por exemplo.”

“Goblins-“

“São seres, é diferente. Eles compartilham valores sociais, normas e regras de conduta, estilos de vida, hierarquias próprias, igual a nós, formando uma comunidade. E, ao longo do tempo, eles viveram muito em contato com humanos, tendo que se adaptar ao que nós fazemos,” o homem continuou. “E, mesmo assim, é diferente. Boa parte desses grupos não quer nada mais que... viver em seu território em paz. Quando um conflito se apresenta, eles tendem a discutir primeiro, arranjar outras soluções, antes de partir para ataques. Centauros, por exemplo, são muitas vezes considerados como bárbaros por humanos, mas eles tem todo um conjunto de regras para quando atacar ou não... Sabia que eles não atacam humanos que consideram crianças? Eles são muito rígidos em relação a isso e são muito raros os registros de ataques de centauros a crianças.”

“Mas existem animais que matam outros por questões de território.”

“Sim, mas... é diferente? Quando um leão novo toma o lugar de liderança em um grupo, eles matam os filhotes do líder anterior, mas isso é algo mais instintivo do que... realmente pensado?” Scamander torceu o nariz. “Eles não matam pelo prazer de matar ou com um objetivo muito claro em mente. Para o líder novo, ele está se defendendo.”

“Acho que é a primeira vez que vejo você falar tanto sem parar, Newt,” disse Tina, inclinando a cabeça enquanto o olhava. “Fora das cartas, é claro.”

O homem sentiu o rosto corar e desviou o olhar para a fonte, onde uma jovem agora jogava uma moeda e murmurava algo baixinho para si mesma.

“Me desculpe,” ele sussurrou.

“Não é uma coisa ruim.” A mulher riu, cutucando-o de leve no braço com o cotovelo.

“E... você?” perguntou Newt, rindo. “Qual o caso mais bizarro que já pegou como auror?”

Goldstein arqueou as sobrancelhas e torceu os lábios, pensativa. Scamander olhou para a auror e depois para o outro lado da praça da fonte, onde uma senhora estava vendendo flores. Aproveitando que a bruxa estava distraída com os próprios pensamentos, ele desviou a caminhada para aquele canto.

“Acho que a vez que um maluco entrou em Nova York com uma mala cheia de bichos não conta porque eu não era uma auror na época,” ela falou e o olhou, os olhos brilhando com diversão. “Teve um bruxo que decidiu ganhar dinheiro contrabandeando bebidas alcóolicas para os bares ilegais trouxas, mas ele decidiu que aquilo era meio sem graça, apesar de render bastante dinheiro, e começou a batizar as bebidas com poções aleatórias. Tivemos trouxas se transformando em outras pessoas por conta de Poções Polissucos, trouxas acordando no meio de funerais pela Poção do Morto-Vivo, trouxas falando todo que é tipo de verdade pela Veritasserum... Acabamos descobrindo quem ele era depois de um mês, quando ele decidiu usar uma poção do amor, mas esqueceu da chance de aparecerem trouxas correndo atrás dele no meio da rua, fazendo declarações de amor.”

“Oh.”

“É... Oh. Foi um caos.”

Scamander desacelerou a caminhada, passando a língua pelos lábios ao sentir a boca seca de repente.

“Tina, Jacob comentou que você estava saindo com um auror...”

A mulher parou de andar por um momento e o encarou, confusa, antes de piscar e suspirar.

“Oh, Achilles,” a bruxa murmurou, batendo as pontas dos pés uma na outra.

“Eu nem devia estar perguntando, porque não é problema meu, mas... ele... você...” Newt começou a falar e se odiou ao perceber que as palavras haviam se tornado um emaranhado em sua garganta. Tina apenas sorriu, tirando as mãos dos bolsos e dando um tapinha no braço dele.

“Achilles e eu temos um pequeno acordo: se ele me colocasse na missão de vir até Paris atrás de Credence, eu sairia com ele pelo tempo que a família dele estivesse em Nova York,” ela explicou. “Os Tolliver são do Noroeste do Pacífico e visitam apenas uma ou duas vezes por ano, mas ficam um mês ou mais nessas ocasiões e, bom, são dias bem estressantes para o pobre Achilles.”

“Por quê?”

“Estão sempre perguntando sobre namoradas e quando ele vai se casar, apesar de todos desconfiarem – se é que já não sabem – que Achilles seja um solteirão convicto,” ela explicou. Scamander imaginou que a sua confusão deve ter ficado muito bem expressa em seu rosto, já que a bruxa acrescentou: “Ele gosta de homens, Newt.”

“Oh.” Newt arregalou os olhos e, logo depois, franziu as sobrancelhas. “Oh... Então você estava saindo com ele para... despistar a família dele?”

“Exato. Quando eles voltarem para o Natal, Achilles pode dizer que nós terminamos e que ainda está muito arrasado para ir atrás de outra garota.”

O homem a encarou por um tempo, se surpreendendo por não sentir a necessidade de desviar o olhar e sentindo um sorriso lhe repuxar os lábios. Tina também estava sorrindo, fazendo-a parecer um pouco menos cansada. Sem saber exatamente o que estava fazendo ou de onde viera a coragem para isso, Newt ergueu as mãos, gesticulando para a bruxa ficar aonde estava, antes de lhe dar as costas e correr até a senhora que vendia flores.

Talvez mulher trouxa nunca tivesse visto alguém tão animado e afobado para comprar uma flor quanto Newt estava naquele exato momento. A senhora perguntou qual flor ele queria e, ao vê-lo se atrapalhar, perguntou se era para a moça que o esperava do lado da fonte. Ela então lhe sugeriu duas flores, iguais, apenas diferentes nas cores: uma vermelha e uma branca. Ele escolheu a branca e pagou a senhora com algumas moedas, antes de voltar para Tina.

A bruxa o esperava com as sobrancelhas arqueadas e, novamente, um sorriso que tentava ser contido. Scamander abriu a boca para falar algo, mas as palavras lhe faltaram e tudo o que pôde fazer foi entregar o cravo para Goldstein, que a pegou com um sorriso no rosto e a prendeu na lapela do casaco.

“Obrigada, Newt,” ela murmurou, alcançando a mão dele e a apertando de leve entre os dedos.

Tina se virou, olhando em volta, e Scamander viu o sorriso dela se desfazer lentamente quando alcançou uma das estátuas que estavam dispostas ao redor da fonte. Sob o som do fim da tarde, era mais fácil notar o tom avermelhado dos cabelos do homem que havia puxado uma das cadeiras da praça para perto da estátua e agora estava sentado de frente para esta, observando-a. Goldstein talvez reconhecesse o homem pela pulseira prateada que brilhava no pulso dele que pendia ao lado da cadeira, enquanto Newt o reconheceria em qualquer lugar apenas pela postura, apesar de esta estar mais encurvada do que o normal.

“Vocês já conversaram sobre o que aconteceu?” a auror perguntou.

“Como você disse: Theseus não está falando com ninguém essa semana.”

A mulher o encarou por um momento, antes de apoiar uma mão em suas costas e dar um empurrão de leve. Ela sorriu e acenou com a cabeça na direção da estátua.

“Espero vocês no hotel para jantar.”

Newt respirou fundo, antes de se aproximar, apanhando uma das cadeiras de metal distribuídas pelo passeio e levando-a consigo. O auror não desviou o olhar da estátua quando ele colocou a cadeira ao lado dele e se sentou, erguendo o rosto. Em cima do pedestal, um homem erguia um bastão com uma mão enquanto a outra segurava a cabeça de um touro com corpo de homem, o qual estava caído no chão, sendo imobilizado também pelo joelho do herói.

“Deixei ela dentro daquela tumba como ele deixou Ariadne em Naxos.”

O magizoologista desviou o olhar para o irmão outra vez, observando o perfil deste por um minuto e então voltando a olhar o rosto de pedra da estátua.

“Você não aparatou para fora sem ela,” disse Newt. “E Kama apenas queria tirar mais gente lá de dentro. Ele nem viu que Leta havia sido atingida.”

“Eu podia ter entrado lá de novo.”

“Grindelwald trancou o lugar com magia para ninguém entrar.”

“Então podia ter impedido os aurores de entrarem,” o homem murmurou. “Leta me pediu para ter cuidado com isso e eu sabia que era uma missão complicada. Merda, até Dumbledore me falou com todas as palavras para não interromper uma reunião de Grindelwald-“

“Você não é um herói grego,” Newt o interrompeu, abaixando os olhos para as próprias mãos e brincando com a corrente da pulseira encantada em seu pulso. Ele conseguia sentir o olhar do mais velho em si e apenas se encolheu mais na cadeira. “Você não precisa e nem pode salvar todo mundo, Theseus.”

O auror se ajeitou na cadeira, voltando a olhar a estátua. Quando eles voltaram do continente, assim que a guerra acabou, Newt foi para a casa dos pais e não saiu de lá por vários dias. Theseus, que voltara em outra chave-de-portal, demorara para dar as caras em Gloucestershire e, quando finalmente apareceu, tentou tirar o irmão mais novo de casa a todo custo. Depois de levar Newt até mesmo para uma exposição de porcos premiados em uma tentativa de animá-lo, o mais velho foi embora, para a decepção dos pais. Ele voltou uma semana depois, com uma carta do Ministério convocando o mais novo para uma entrevista de emprego no Departamento de Controle de Animais e Criaturas e uma maleta com um feitiço de extensão simples, o qual seria reparado e melhorado diversas vezes ao longo dos anos.

“O Ministério vai te dar algo diferente para ocupar a sua mente,” Theseus havia falado enquanto tentava escolher uma de suas roupas para o irmão usar quando fosse ser entrevistado para o trabalho. Ele havia passado os últimos dois anos enfiado em um uniforme e todas as roupas que tinha de antes da guerra haviam ficado curtas demais. “E se você sentir que as coisas estão muito... se for muito pra você, pode usar a maleta para conseguir um espaço silencioso por alguns minutos.”

Sentado ao lado do irmão no meio do Jardim de Tuileries, Newt agora se perguntava quantas vezes o homem havia precisado da maleta com o feitiço extensor que havia dado para o irmão. Theseus vestia a guerra como uma medalha ao redor do pescoço, algo pelo qual todos o reconheciam, principalmente por ele ter passado por aquela experiência horrível e continuar sendo o bruxo bom e bem-humorado que sempre fora. Com todas as poses para retratos que agora estavam pendurados no Ministério e jantares dados em seu nome, havia se tornado fácil ignorar o peso que aquela medalha exercia em Theseus.

“Tina disse que Leta já acordou,” o magizoologista falou, quebrando o silêncio entre eles. “Já foi vê-la depois disso?”

O auror negou com a cabeça. Newt suspirou, virando o rosto para olhar a mão do outro que pendia do lado da cadeira. Ele respirou fundo e esticou a própria mão, alcançando a do irmão e puxando-a para si. Os dedos de Theseus se fecharam ao redor dos seus e o mais novo ergueu o olhar para o rosto dele, vendo as sobrancelhas franzidas, os lábios pressionados um contra o outro e os olhos brilhando. O mais novo esperava que aquilo, aquele aperto de mãos, fosse o suficiente para deixar o irmão saber que ele havia, no fim das contas, escolhido um lado naquela guerra.

“Vai ficar tudo bem,” Newt murmurou, apertando a mão do outro.

“Vai ter outra guerra, Newt.”

“Ainda não sabemos se isso vai realmente acontecer.”

“Mas existe a possibilidade,” Theseus sussurrou e o mais novo viu o queixo dele tremer por um instante. “Eu não quero ir para outra guerra.”

“Se preocupar é sofrer duas vezes.”

O Scamander mais velho virou o rosto, encontrando os olhos do irmão e, depois de alguns segundos, permitindo que o esboço de um sorriso aparecesse em seus lábios. Newt sorriu também, mantendo o contato visual por mais um tempo, antes de olhar para as mãos deles.

“Não devia ser eu quem dá o apoio moral?” o auror perguntou, fungando baixinho. “Sempre fui eu.”

“Você está meio debilitado no momento.” O magizoologista riu quando uma risada escapou da boca do irmão.

Theseus arqueou uma sobrancelha quando um barulhinho baixo e esquisito escapou de um dos bolsos do casaco de Newt, soltando a mão deste e se inclinando para ver do que se tratava. Pickett estava esticando a cabeça para fora do bolso sobre o seu peito, espiando o parque a sua volta com seus olhinhos negros.

“Mamãe ficava tão irada quando você trazia um desses pra dentro de casa,” disse Theseus, rindo quando o tronquilho voltou a se esconder.

“Não seja assim, Pick,” Newt murmurou, enfiando os dedos no bolso e puxando o animal para fora. Pickett estava grudado em seus dedos e pareceu indignado quando ele o colocou sobre a sua mão, esticando-a para o irmão ver a criatura melhor. “Esse é o Pickett. Ele tem problemas de apego... Não quer mais ficar com os outros tronquilhos. Erga as mãos.”

“Aposto que você o mimou demais.”

O homem fez o que o irmão pediu e pareceu segurar a respiração quando Newt encostou a mão na dele, esperando que o animal fosse até ele. Pickett olhou de um Scamander para o outro, antes de pular para os dedos do auror e se esticar para olhá-lo melhor. Os ombros de Theseus pareceram finalmente relaxar e um sorriso mais genuíno apareceu em seu rosto.

“Sabe,” disse o magizoologista, virando-se na cadeira para ficar de frente para o outro. “Leta sempre adorou amassos.” O irmão desviou o olhar do tronquilho e o encarou, confuso. “E eu conheço um criador de amassos aqui em Paris.”

***

Leta estava mais pálida do que o normal, mas conseguia se manter sentada sem ficar muito cansada. Quando Newt chegou, a enfermeira havia acabado de trocar os curativos dos ferimentos, que cobriam o o braço direito da mulher até um pouco acima do cotovelo, seu ombro e parte do pescoço. Ela sorriu ao vê-lo e Scamander notou o olhar feio da enfermeira quando a bruxa puxou as cobertas que estavam sobre o seu colo para revelar uma bola de pelos alaranjada.

“Theseus disse que alguns curandeiros do St. Mungus descobriram que os pacientes se recuperavam mais rápido quando tinham animais por perto,” ela falou, afagando a cabeça da criatura felina, que ronronou alto. “Me pergunto onde foi que ele ficou sabendo desse estudo.”

“Ele tem amigos que trabalham no St. Mungus,” disse Newt, encolhendo os ombros e se aproximando da cama. “Como você está?”

“Tirando a dor excruciante quando o efeito das poções passa? Bem.” A mulher riu ao ver a expressão preocupada no rosto dele. “Seria a mesma coisa se eu tivesse sido atacada por um hipogrifo, Newt.”

O homem assentiu e a viu indicar a cadeira ao lado do leito. Hesitante, ele se sentou e se encolheu ali.

“Engraçado como ninguém que conheci nos últimos anos veio me visitar, salvo você e Theseus,” ela falou. “Mas todos que conheci nos últimos dias vieram. Oh, certo, eu já conhecia a Sra. Flamel, mas faz anos que não a vejo e ela apareceu aqui. Somente o Sr. Kowalski não veio, mas acho que é sábio da parte dele não aparecer em um estabelecimento bruxo tão cedo. Mas ele me mandou uns doces.” A mulher suspirou. “A Srta. Seong apareceu aqui... Você sabia que o nome dela é Young-Sook? Achei que tinha ouvido aquele menino chama-la de Nagini, mas pelo jeito era um nome falso.”

“O dono do circo achava que era um nome mais exótico e mais fácil de pronunciar, além de que as pessoas associavam mais com cobras por conta das nagas,” disse Newt, encolhendo os ombros. “Foi o que ela me disse. Pelo jeito ele tentou deixar toda a história dela mais exótica... Nagini, o anúncio de que ela teria vindo da Indonésia... Chama mais a atenção que uma imigrante da Coreia que veio para a Europa fugindo da ocupação.”

“Ela está bem?”

“Está grudada na Sra. Flamel, perguntando tudo o que consegue sobre alquimia. O Sr. Flamel queria conseguir uma varinha para ela.”

O amasso esticou a cabeça e bocejou, deixando a mostra as pequeninas presas, antes de voltar a se enroscar nos lençóis.

“Tina também veio me visitar.” A bruxa sorriu, brincando com a orelha do animal. “Ela é uma ótima pessoa, Newt.”

“É, ela é.”

“Você finalmente aprendeu a escolher as amizades certas.” Lestrange esticou a mão na direção dele, a qual Newt apanhou, entrelaçando os dedos nos dela. “Diferente de certas pessoas.”

“Você foi uma ótima amizade,” o magizoologista sussurrou. “Você é.”

“Eu fiz você ser expulso do colégio, Newt.”

Scamander abaixou o rosto, observando os dedos dos dois entrelaçados. A pele escura de Leta contrastava com a dele, a qual estava talvez pálida demais depois de meses na Inglaterra sem ver o sol direito.

“Não teria feito diferença terminar aquele ano,” o homem falou. “Hoje eu... estou onde sempre quis estar. Tirando, é claro, estar sob custódia do Ministério e temporariamente impedido de viajar... E correndo o risco de passar uma temporada em Azkaban. Mas o resto, as pesquisas e o livro e os animais, está tudo muito bom.”

“Eu tenho muito orgulho de você, sabia?” Leta murmurou, fazendo o magizoologista erguer o rosto para olhá-la. “De onde você chegou. A Leta de onze anos ficaria surpresa de ver Newt Scamander duelando com um bruxo das trevas e publicando um livro que logo vai ficar mundialmente famoso.”

“O Newt de onze anos também ficaria surpreso de ver Leta Lestrange pulando em cima do mesmo bruxo das trevas.” O homem riu. “O que você fez foi muito corajoso.”

“Ele estava machucando o meu amigo e iria machucar o meu noivo mais cedo ou mais tarde,” ela explicou. “Desde o terceiro ano, eu nunca deixei ninguém ofender você e sair sem pelo menos uma azaração. Não seria agora que iria deixar isso acontecer só porque se tratava de Gellert Grindelwald.”

Scamander observou o rosto da mulher por um tempo, tentando encontrar qualquer traço de que algo, além da dor dos ferimentos, a estivesse incomodando. A revelação do que havia acontecido com Corvus ainda era recente e ele esperava vê-la um tanto transtornada com isso, mas talvez fosse por conta das poções que Leta estivesse aparentemente tão tranquila.

“Já têm alguma informação sobre para onde eles foram?” a bruxa perguntou.

“Não. Grindelwald escondeu todos os traços de magia que pudessem levar alguém até eles,” disse Newt. “Mas o continente inteiro está a procura dele.”

“Como está Tina e o Sr. Kowalski em relação a...?” A voz de Leta foi sumindo ao longo da frase.

“Tristes, com era de se esperar. Jacob acha que pode ser culpa dele Queenie ter se juntado ao Grindelwald, apesar de que... Não é. O relacionamento deles era só uma das coisas que a estava incomodando,” o magizoologista explicou. “Grindelwald com certeza mostrou mais coisa para convencê-la. Tina... Sabe disso, que não é apenas o negócio de um relacionamento com um trouxa, e acho que é isso que a deixa mais devastada.”

Os dedos de Leta apertaram a mão de Scamander com mais força, fazendo-o a olhar de novo.

“Vocês dois tem isso em comum, não é? Vocês gostam de cuidar... Talvez até se dediquem demais a cuidar dos outros,” Lestrange falou, sorrindo fraco e olhou para o amasso em seu colo. “Eu nunca fui boa em cuidar dos outros. O Perseus aqui vai ser a minha primeira tentativa de verdade e você está mais do que autorizado a brigar comigo caso eu faça isso errado.” Os dois riram e o animal levantou a cabeça, olhando-os com os olhos estreitos. “Vocês podem cuidar um do outro, você e Tina. Podem, sabe, controlar o limite de cuidado um do outro também.”

Newt arqueou uma sobrancelha enquanto encarava a mulher, que encolheu os ombros e sorriu, travessa. Uma risada escapou da garganta do homem, a qual foi acompanhada por uma vinda da bruxa. Scamander ergueu a mão dela e beijou o dorso desta com calma, suspirando ao sentir Leta se inclinar por cima de si e pressionar um beijo no topo de sua cabeça.

 


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Notas finais do capítulo

Leta Lestrange merecia algo melhor que aquela morte aleatória depois de um só filme.



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