Orgulho e Segredo escrita por condekilmartin


Capítulo 3
Dois


Notas iniciais do capítulo

E aí, meus amores? Como estão?
Mais um capítulo fresquinho para vocês, aproveitem ♥



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Rômulo estava de volta ao Vale do Café e, por Deus, como sentia falta daquele lugar! Era sua casa, afinal de contas, e ele estava sentindo que algo bom iria acontecer ali, só não sabia identificar ainda o quê.

Estava se aproximando da casa de chá quando avistou a família mais colorida e famosa da região. Os Benedito tinham algo que fazia o coração de Rômulo aquecer, pareciam aquelas famílias grandes e unidas por um laço inexplicável que existia em alguns dos poucos livros de ficção que já lera na vida e eram o sinônimo de tudo o que ele nunca teve: um lar amoroso e acolhedor.

O Almirante e Josephine Tibúrcio eram feito cão e gato e não tinha um dia sequer em que não houvesse gritos ecoando por toda aquela Mansão, fazendo com que Rômulo precisasse esconder o próprio medo e fosse proteger o irmão mais novo, Edmundo, que depois de tantos anos no meio de um campo de guerra na própria casa, sucumbiu à melancolia, que aumentara ainda mais quando fora informado da morte da mãe.

Rômulo sabia que o único consolo do irmão, além da bebida, era Fani, mas, por conta de suas próprias convicções, considerava que Edmundo estivesse apenas de namorico com a protegida da mãe. Inclusive, fora o próprio Rômulo quem convenceu o irmão a ir para Londres, afinal, lá ele ficaria longe das lembranças da mãe, trazidas pela Mansão do Parque e por Fani, já que elas eram tão próximas.

Enquanto observava as Benedito, Rômulo parou o olhar na quarta filha, Cecília, se não lhe falhava a memória, e quase não a reconheceu, tamanha a diferença. Não que tivesse convivido diariamente com as meninas Benedito ao longo da vida, mas havia encontrado com elas algumas vezes perdidas na infância, nos dias que precisava ir atrás de Ernesto e Luccino para se divertir e, sempre que a via, parecia que estava a observar um menino. Cecília estava sempre subindo em árvores, com as roupas sujas de terra, correndo no meio do mato e se escondendo das irmãs, mas, agora, ela estava diferente, muito diferente.

As roupas sujas haviam sido trocadas por vestidos delicados e os modos de moleque não existiam mais. Quem era aquela moça? Estava irreconhecível. E incrivelmente linda.

Tão linda que ele quase fez o motorista parar o carro para que pudesse cumprimentá-la, mas se conteve. Haveriam de surgir outras oportunidades para que pudessem ser apresentados corretamente. Não que ele se importasse com isso, não se importava, mas Cecília era uma moça que não se encaixava nos padrões determinados por Rômulo ao fazer a promessa e ele podia imaginar muito bem seus planos para o casamento e sabia que não seria capaz de realizá-los, embora tivesse uma pontada no seu coração, lá no fundo, dizendo que poderia fazer de tudo por aquela mulher.

***

Assim que o carro que o trazia de São Paulo parou em frente à Mansão do Parque, Rômulo observou a fachada da casa. Os tons terrosos, a arquitetura antiga e a imensidão daquele fazia com que uma chuva de lembranças voltasse à sua mente. Lembrou-se também de Edmundo e da falta que sentia do irmão, de quando eram jovens e tinham alguns dias bons por ali.

A porta da frente se abriu, rangendo a madeira e Fani apareceu na soleira ainda mais sisuda do que Rômulo lembrava, com suas roupas simples e monocromáticas e os cabelos presos em tranças. Ela estava séria e, ao se aproximar, tirou-o de seus devaneios.

— Doutor Rômulo, como vai? – Fani perguntou sem alterar a expressão.

— Fani, quanto tempo! – Ele deu um sorriso de lado, na tentativa falha de tornar o ambiente mais leve. – Estou muito bem e você?

— Estou bem. – O rosto inexpressivo da mulher continuava lá, mas Rômulo preferiu ignorar. – Onde estão suas malas?

— Não se preocupe Fani, eu mesmo levo minhas malas para o meu quarto.

— É meu dever, doutor, não se preocupe. – A moça já estava descendo as escadas e indo até o carro pegar as malas do médico. Ele bem que tentou argumentar, mas ela estava um tanto irredutível.

Assim que todas as malas foram tiradas do carro, Rômulo pagou o motorista e finalmente entrou na casa.

Pelo visto seu pai realmente não mexeu em nada ali, mesmo após tantos anos. A sala continuava com aquele ar pesado, os móveis ainda eram os modelos do século XIX e o quadro de Josephine pendurado em cima da lareira era uma constante lembrança da presença da mãe dele ali. Ela podia estar morta, mas nunca deixaria de se fazer presente.

O Almirante estava sentado lendo o jornal quando avistou o filho mais velho:

— Rômulo, finalmente! – Eles se abraçaram. – Vejo que seus estudos finalmente acabaram.

— Meu pai, como estão as coisas por aqui? – Rômulo questionou. – Senti falta da tranquilidade do Vale.

— O Vale continua parado como sempre, meu filho, nada de novo por aqui ou pela região. – O Almirante suspirou. – A não ser, é claro, pela presença do mais novo médico desse lugar.

— Então quer dizer que doutor Jonatas vai mesmo me contratar? – Rômulo estava um tanto desanimado com a proposta. Não que não gostasse de exercer a profissão, mas queria aproveitar para descansar um pouco e se aventurar pelo lugar antes de começar a trabalhar diariamente.

— Ora, ele disse que você começa quando quiser, mas é claro que sempre tem os negócios da família para tomar conta, já que não sabemos quando e se o imprestável do seu irmão voltará para casa. - O Almirante deu de ombros.

Edmundo sempre fora o favorito da mãe, ainda mais por conta da governanta que estava sempre junto do garoto. Fora difícil para o Almirante convencer o filho mais novo a ir para a Europa justamente por conta dessa aproximação, pois ele estava encantado por ela. Fani era a governanta da família, mas havia crescido como uma irmã. Era protegida de sua mãe, pois sua família queria dar uma chance para que ela tivesse uma educação melhor.

O Almirante tivera muita dificuldade em lidar com toda aquela situação, já que não aprovava em nada aquele relacionamento, afinal, a moça não era digna de nenhum de seus filhos, não tinha riquezas nem nada que pudesse contribuir para a família.

— Meu pai, por favor, - Rômulo suspirou. – Daqui a pouco Edmundo está de volta.

Assim que Rômulo disse isso, Fani entrou na sala e ele percebeu o olhar da moça se iluminar um pouco, mas ela logo voltou a sisudez de sempre.

— Chegou um convite para os senhores. – Ela estendeu o bilhete que continha a caligrafia precisa e bem desenhada de Ema Cavalcante.

— E o que diz? – o Almirante perguntou.

— A senhorita Ema Cavalcante os convida para um baile que vai ser realizado na Mansão Ouro Verde em duas semanas. Parece que é um baile de boas vindas aos novos moradores do Vale do Café.

— Boas vindas aos novos moradores? – Rômulo sorriu. – Então com certeza eu devo ir, afinal, sou o mais novo morador do Vale, não é mesmo?

— Você vai representando a família, meu filho. – O Almirante deu de ombros. Socializar com as outras pessoas da região não era do seu feitio, mas Rômulo já estava acostumado.

— Você vai, Fani? – Rômulo perguntou à moça.

— Você acha mesmo que Fani, uma empregada, foi convidada, Rômulo? – O Almirante encarou a moça e ela se encolheu.

— Não, doutor Rômulo, eu realmente não sou o tipo de moça que é convidada para esse tipo de festa. – Ela disse e se retirou.

— Precisava de tudo isso, meu pai? – Rômulo disse indignado. – Fani cresceu conosco, merece respeito.

— Fani é minha empregada, não minha filha. Sua mãe que bajulou demais essa menina e a fez esquecer qual o seu lugar. – o Almirante manteve a expressão séria.

— Tenha um pouco mais de respeito, sim? – O médico suspirou. – Vou arrumar minhas coisas e tomar um banho, mais tarde quero ir à oficina.

— Não vai encontrar seus amigos italianos vai? Os irmãos dessa aí?

— Se vou à oficina é claro que vou encontrar com Ernesto e Luccino, meu pai. Sinto falta dos meus amigos. – Rômulo sorriu e se retirou, deixando um Almirante um tanto bravo para trás.

***

Cecília podia sentir alguém lhe observando quando estava chegando à casa de chá com a família, mas não soube identificar quem era, mesmo que estivesse com a sensação de que tinha algo bom acontecendo ali.

Resolveu deixar para lá e aproveitar o momento com a família. As cinco meninas Benedito e a matriarca, dona Ofélia, foram escolher os tecidos para os vestidos do baile de Ema e estavam estupefatas com as escolhas feitas, que não poderiam significar nada menos do que elas mesmas.

Mariana havia escolhido um tom de laranja afogueado, extremamente representativo.

Jane iria de azul, doce e delicado, assim como ela.

Lídia escolhera diversos tons de rosa, um pouco extravagante na opinião de Cecília, mas a caçula era assim mesmo.

Cecília escolheu um tom de verde um pouco mais claro do que o que estava usando naquele dia e que realçava muito seu tom de pele. Assim como a cor representava, a moça tinha esperança de que o baile seria maravilhoso.

Elisabeta foi a única que não escolheu um tecido, por ter dito que já tinha uma roupa para usar no baile, o que deixou Ofélia um tanto desconcertada:

— Ara, onde já se viu? - Ela reclamava para a filha mais velha. - Como você já tem roupa pronta se até hoje de manhã nós não sabíamos que iria ter um baile?

— Mamãe, Ema é minha melhor amiga e havia comentado comigo sobre o baile alguns dias atrás. - Elisa repetia isso pela milésima vez, o que deixava a mãe ainda mais encabulada. - Por isso que já escolhi minha roupa.

— E posso saber por quê foi que a senhorita não compartilhou da informação comigo e suas irmãs? - disse desconfiada.

— Ora mamãe, - Elisa bufou. - Porque Ema pediu que eu não dissesse, está bem?

— Sei... - tanto Ofélia como Elisabeta reviraram os olhos. Eram mais parecidas do que se podia imaginar.

Antes que a discussão virasse uma catástrofe e uma cena ainda maior - naquele momento, todos na casa de chá observavam a discussão de mãe e filha -, as outras quatro resolveram mudar de assunto.

— Mamãe, não acha que escolhemos tecidos maravilhosos para nossos vestidos? - Mariana perguntou, suplicando por ajuda.

— Sim, mamãe, inclusive acho que todos os tecidos combinaram perfeitamente com nossas peles. - Cecília continuou.

— Acho que vamos estar deslumbrantes, mamãe, até Elisa! - Jane brincou, tentando aliviar o clima.

— Meu vestido será mesmo de matar! Quem sabe não encontramos alguns pretendentes, hein mamacita? - Lídia disse, despertando a mãe para um assunto ainda mais aborrecedor, dessa vez para as meninas, do que Elisa não ter comentado do baile: casamento.

— Pretendentes? - Os olhos da matriarca brilharam ao som daquela palavra.

As quatro mais velhas reviraram os olhos quando Lídia e Ofélia começaram a repassar os passos ditados pela mãe para conquistar o marido ideal.

***

Estavam voltando para casa quando Cecília decidiu que iria à cachoeira para ler, mas ninguém reclamou. Todas ali conheciam as manias da número quatro e já estavam mais do que acostumadas com seus sumiços para se aventurar em outros mundos.

Enquanto seguia para a cachoeira, Cecília passou pela Mansão do Parque e, curiosa como era, não hesitou em parar para observar aquele lugar. Ela se escondeu atrás de uma árvore grande que tinha ali perto e se concentrou. Não havia nada de incomum por ali naquele momento, nem mesmo Fani estava por ali, então Cecília resolveu seguir de vez para a cachoeira, até que ouviu a porta da frente bater e viu o filho mais velho do Almirante saindo um tanto apressado de lá.

Fazia muito tempo desde que tinha visto Rômulo e, nossa, como ele estava diferente! Que ele sempre fora bonito ela já sabia, mas agora... agora ele estava lindo! Os cabelos grandes, a barba por fazer e muito mais forte. Parecia aqueles mocinhos dos romances que ela tanto gostava de ler.

Cecília estava tão impressionada com Rômulo que tropeçou em uma das raízes da árvore onde estava escondida, fazendo um barulho um pouco alto demais, o que fez com que o homem ficasse desconfiado e fosse atrás do que quer que tenha ouvido.

A moça ficou nervosa e voltou a se esconder, sentindo a presença dele cada vez mais próxima de onde ela estava. O que iria fazer se ele a encontrasse escondida ali? Será que acharia que ela estava ficando louca de vez ou pensaria que ela estava tentando invadir a sua casa?

A sensação de que ele estava próximo logo passou, pois ele deu meia volta e seguiu seu caminho, deixando uma Cecília nervosa e com a respiração acelerada. Quase que era pega no flagra enquanto vigiava a Mansão do Parque, teria que ser bem mais cuidadosa.

Como que ela iria fazer para investigar os mistérios daquele lugar? Sabia que Fani não podia receber visitas por lá por conta da hostilidade e frieza do Almirante com ela, mas então, como?

Ela seguiu para a cachoeira refletindo sobre isso, mas resolveu deixar para lá, pelo menos por enquanto, já que seus pensamentos se voltaram para Rômulo. Deus, como ele era lindo! Mas Cecília sabia que nada ia acontecer entre eles, eram diferentes demais, como que poderia dar certo?


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Notas finais do capítulo

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