Orgulho e Segredo escrita por condekilmartin


Capítulo 2
Um


Notas iniciais do capítulo

Olááááá!
Capítulo 1 finalmente liberado ♥
Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771680/chapter/2

VALE DO CAFÉ - 1910

O dia amanheceu colorido na casa dos Benedito, mas foi só todos estarem sentados ao redor da mesa que dona Ofélia começou a repetir a mesma ladainha que todas as cinco filhas conheciam muito bem:

— Meninas, todo mundo sabe que um homem solteiro e de posses necessita de uma esposa. – O sotaque carregado da matriarca enfatizava a conversa mais repetitiva daquela casa.

— Mamãe, me ajude a fixar melhor essa ideia. – Elisabeta começou e todos ali já sabiam como aquilo ia acabar. – Todo homem solteiro ou só os ricos?

— Ara, Elisabeta, todo homem solteiro, é claro. – Ofélia disse revirando os olhos. Nunca ia se acostumar que a filha mais velha desdenhasse de sua vontade de arrumar bons casamentos para as filhas. – Mas, se ele tiver posse de algumas riquezas e, principalmente, casa própria, vocês cinco vão ter tirado a sorte grande! Nada mais move meu coração e a minha vida do que casar vocês, minhas filhas.

— Ofélia, pelo amor de Deus. – Seu Felisberto reclamou. – O Vale inteiro sabe o quanto você quer casar nossas filhas, mas isso só vai acontecer quando elas quiserem.

— Quando elas quiserem... – resmungou Ofélia. – Você acha mesmo que essas meninas sabem resolver um assunto tão grandioso feito esse sozinhas, Felisberto? Por Santo Antônio, protetor dos enamorados, nossas filhas precisam de um empurrãozinho e não há ninguém melhor do que eu para isso.

— Mamãe! – Elisabeta, Jane, Mariana e Cecília repetiram juntas. Lídia vivia bajulando e sendo bajulada pela mãe e logo tomou o lado dela da conversa:

— Ai, como vocês são ingratas! – Lídia revirou os olhos para as irmãs. – Vocês sabem que mamacita só quer o nosso bem.

— Lidiazinha, meu amorzinho, sabemos que mamãe só quer o nosso bem, mas algumas de nós não sonham com um casamento tão cedo! – Elisabeta falou para a caçula.

— Ara, Elisabeta, não me venha falando suas sandices e colocando minhocas na cabeça das suas irmãs. Não retorça os meus nervos. – Ofélia reclamou.

Elisabeta revirou os olhos e riu, afinal, já era acostumada a ter aquela discussão clássica com a mãe.

— Mamãe, - Cecília chamou. – a senhora não começou a falar sobre isso agora sem nenhum motivo, certo?

— Sim mesmo, Ofélia, por que fazer esse burburinho mais dramático que nos outros dias? – Felisberto questionou.

— Porque tenho novidades, ora. – A matriarca deu um sorriso misterioso. – Dona Ágata me contou que o Vale anda cheio delas.

— E que novidades seriam essas, mamãe? – Jane perguntou.

— Pode ir contando, viu? – Mariana já não se aguentava de curiosidade.

— Acredito que são as mesmas notícias que vim trazer para vocês, minhas amigas. – Ema chega de surpresa à casa dos Benedito. – Atrapalho?

— Lógico que não, minha amiga. – Elisabeta sorri para a amiga.

— E quais seriam as suas novidades, dona Ema Cavalcante? – Ofélia questiona a neta do Barão de Ouro Verde.

— Parece que temos dois novos moradores no Vale do Café: Camilo Bittencourt, filho de Julieta Bittencourt, a rainha do café, e Darcy Williamson, o lorde inglês que está responsável pela construção da ferrovia que passa pelo nosso amado Vale. – Ema sorriu e as meninas ficaram encantadas com a notícia.

O Vale do Café era um tanto parado e uma novidade daquelas não acontecia todo dia. O filho da rainha do café e um lorde inglês por aquelas terras? Seria a novidade do ano, mas dona Ofélia não pareceu tão satisfeita assim.

— Ora, Ema, parece que a senhorita tem conhecimento de apenas parte da novidade. – Ofélia sorriu. – Além dos novos visitantes, tem um certo rapaz garboso voltando para casa.

— Que rapaz? – Ema questionou.

— Rômulo Tibúrcio! – Ofélia praticamente gritou, fazendo com que todos os presentes tivessem um pequeno susto. Cecília ficou um pouco nervosa com a notícia. Como iria investigar a Mansão do Parque com mais gente além do Almirante morando ali?

— Ele não estava morando na capital? – Jane lembrou.

— Ara, dona Ágata mesma que disse que o próprio Almirante foi confirmar a chegada do filho mais velho em casa em duas semanas. E o melhor, um filho médico! 

— E o que isso tem a ver conosco ou com os novos visitantes do Vale, Ofélia? – Felisberto perguntou, mas já conhecia a resposta da esposa. Aquela ali não tinha jeito mesmo.

— Felisberrrtoooô, todo mundo desse Vale sabe que os Tibúrcio são uma das famílias mais ricas da região. – Ela falou como se fosse algo óbvio. – Quem sabe Rômulo não se encanta por uma de nossas meninas? Imagina que casamento mais chique que ia ser? Ai, meu Santo Antônio! Imagina, Felisberto, uma das nossas meninas casada com um médico?

— Mamãe, por favor! – Elisabeta revirou os olhos.

— Mas trago outra novidade ainda melhor! – Ema sorriu. – Aliás, acho que todas as novidades se complementam nesta aqui.

— Melhor do que essas, Ema? Acho difícil! – Lídia disse. A caçula era um tanto fogosa quando o assunto eram pretendentes.

— Lídia, por favor! - Felisberto resmungou e ela revirou os olhos. 

— Para receber os mais novos, e antigos, moradores do Vale do Café, estou organizando um baile de boas vindas! E vim convidá-las, é claro. – Parecia que Ema ia explodir de felicidade, já estava pensando no tanto de pares que iria formar na ocasião.

— UM BAILEEEEE?!?!?! – Ofélia estava ainda mais exultante com tudo aquilo.

— E, é claro, todos os homens solteiros da região foram convidados. – A baronesinha completou. – Vai ser em duas semanas, e eu faço questão da presença de todos os Benedito! 

A casa dos Benedito ficou em polvorosa com as notícias, especialmente a matriarca: um baile, homens ricos e solteiros chegando ao Vale... dona Ofélia ia fazer o impossível para juntá-los com suas filhas, quem sabe não dava certo e ela conseguia realizar a maior missão de sua vida que era casar as cinco filhas?

— Vamos, vamos, meninas, precisamos comprar tecidos para fazermos nossos vestidos. Podem ir pegando suas bolsas que nós vamos à loja do seu Jonas agora mesmo! – Ofélia praticamente expulsou as meninas da sala, fazendo com que elas corressem para se arrumar.

Elisabeta disse que não iria, pois já tinha algo preparado para o baile, portanto não precisaria de roupas novas. Ema bem que desconfiou da amiga, mas a mãe nem deu bola, achava que era apenas mais uma das asneiras da filha mais velha.

***

SÃO PAULO - 1910

Rômulo havia decidido voltar ao Vale do Café apenas uma semana depois de seu último encontro com Carolina. Ligara para o pai avisando quando chegaria e o Almirante garantiu que tudo estava pronto para recebê-lo em casa, inclusive a vaga no consultório de doutor Jonatas, o único médico da região. Bom, pelo menos, não mais.

O médico havia acabado de finalizar sua última mala quando se lembrou da conversa com a, agora ex, amante. Havia terminado tudo com ela, como haviam combinado e ele desconfiou que a mulher não aceitou muito bem a situação mas resolveu que não daria tanta importância para aquilo, não era mais uma parte da sua vida.

— Carolina, eu estou indo embora da capital na próxima semana. – Anunciou Rômulo momentos depois de chegar à casa da amante.

— Próxima semana? Tão cedo? – Carolina parecia decepcionada. – E como nós ficamos?

— Não ficamos. – Ele foi direto. – Você sabe muito bem disso.

— Mas, Rômulo, eu poderia ir ao Vale com você, poderia conhecer seu pai, sua casa... – A mulher começou mas logo interrompeu a própria fala, não ia se dar ao luxo de implorar, não agora. Quem iria implorar por ela seria ele.

— Querida, não dificulte, por favor. Já conversamos sobre isso.

Carolina continuava insistindo em tornar aquilo algo mais sério e, mesmo que não tivesse feito promessa alguma, o que eles tinham não ia evoluir. Ele não sentia nada por ela além de algo carnal, era apenas isso.

— Rômulo... – ela se aproximou dele e o beijou sedutoramente. – Está bem, está bem. Venha me visitar quando voltar à capital, sim?

— Sim. – Ele disse, mas sabia que iria evitar a visita.

Despediu-se da agora ex-amante e seguiu para o hotel onde estava hospedado.

Todos os seus relacionamentos eram feitos em comum acordo e, por mais que a maioria das moças quisesse tornar aquilo algo mais sério, ele não podia, não se isso significasse quebrar a promessa que fizera anos atrás, quando sua mãe faleceu. Não podia entregar seu coração a ninguém e vê-lo se despedaçar com o que quer que acontecesse. Ele era médico, havia visto vários corações se ferirem com doenças graves e até mesmo a morte, e isso o lembrava do estado em que seu pai e seu irmão ficaram com a notícia que dona Josephine havia morrido.

O pai tinha ficado completamente devastado, não mudara absolutamente nada na Mansão, preservava tudo o que podia da falecida esposa e isso acabou contribuindo ainda mais para a melancolia de Edmundo. Doía ver o irmão definhando, sem forças para seguir em frente, até que ele se mudou para a Europa, sobrando apenas o Almirante, Fani Pricelli e o próprio Rômulo naquela casa, até ele ir embora para São Paulo.

Rômulo olhou uma última vez pela janela do quarto de hotel em que esteve hospedado nos últimos anos e suspirou. Por mais que gostasse da sua vida em São Paulo, o Vale do Café era o seu lar e ele finalmente estava voltando para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

COMENTEM E RECOMENDEM ♥
Espero que vocês estejam gostando!
Amanhã tem mais.
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Segredo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.