Nunca dei muito valor a um antigo provérbio,cuja origem não sabia dizer. Aquele de que 'Os olhos são a janela do coração'. Na verdade, em nenhuma situação ele foi tão evidente, a ponto de martelar na minha cabeça por várias e várias horas. O jeito como Osten me olhou na hora de sair,assim como sua expressão antes de Kerttu e Maxon chegarem,me deixaram intrigada.

Era como se eu tivesse cometido alguma falha grave, porém, não conseguia entender exatamente o quê. Ele ainda não me desculpava pelas minhas palavras? Se sim, então por que conversou tão pacificamente comigo? Afinal, ele gostava ou não gostava da minha pessoa?Aquela dúvidas estavam me incomodando. Fiquei com elas durante o resta da tarde com a princesa e no jantar. Suspirei ao ver que estava parada no mesmo parágrafo do livro há uns minutos, um novo conflito na minha cabeça:

Tudo o que Osten fez naquela semana,toda gentileza, toda ajuda, todo consolo, todas conversas descontraídas..eu admitia que tinha gostado. Pouco a pouco,não sentia mais a repulsa e raiva que senti no dia do encontro. Contudo, cada uma dessas coisas cairia cairia por terra se o príncipe estivesse jogando comigo.Me ajudando, sendo gentil e se aproximando na última semana, que ele mesmo sugeriu que eu tivesse a mais no Palácio, para depois me humilhar em público na despedida.

 Seria uma vingança e tanto.

Pelo banho na fonte; Por não ser mais uma a beijá-lo sem questionar; Por chamá-lo de indecente... Fazia sentido. O perfil dele não deixava dúvidas de que sempre foi rodeado pelas garotas que quis. Dinheiro,posição e beleza. Eu não era muito fã de rótulos,mas via que, na prática ,pessoas com essas três características tinham mais chance de não valer nada.

E garotos orgulhosos não deixariam o que fiz barato. Veriam a minha rejeição como uma afronta pessoal à sua pessoa. À auto-imagem perfeita que construíram a vida inteira. Além disso, já tinha provas de me dar mal em casos assim. Dolorosas o suficiente. Por outro lado, e... se? E se eu estivesse enganada? 

Se sua educação viesse,de verdade, para o bem? Lembrava claramente do quão ofendido Osten ficou quando o chamei de não confiável,e também das coisas boas que ele fazia, como o fato ser a companhia de Kerttu desde sempre e se preocupar com Adelaide quando essa se machucou... 

Despertei-me desses pensamentos quando vi Suki se aproximar. Não sozinha. Ela vinha parcialmente agachada enquanto ajudava a princesa Amberly a andar na minha direção. A asiática havia me deixado sozinha com meu livro no sofá a uns minutos para disputar a atenção da princesinha, visto que várias meninas estavam tentando  mimar a pequena ao mesmo tempo. Essas mesmas que olhavam torto para Suki,paradas no lugar de onde ela veio.

"Olha a Rosie,Amby! Dá oi pra ela,dá!" Sorrio quando Suki segura a mão dela e a faz acenar para mim. Em seguida, senta ao meu lado com ela no colo.

"Amby de Amberly?" Franzo a testa deixando meu livro de lado.

"É. A Rainha me falou que esse é o apelido dela."Diz dando um beijinho no topo dos cabelos ruivos." Já notou que o nome Amberly parece com o seu sobrenome?"

"Hã... Ambers." Rio fraco." Não tinha parado para pensar."

"Fala Suki, Amby. Suki." A bebê me deixa impressionada ao repetir.

"Nossa. E não é que ela falou!"

"Ela está falando o nome de quase todas de nós."

Vejo Suki deixar sua pulseira na mão de Amberly. A ruivinha mexe no objeto, e quase que o coloca na boca.

"Que menina atentada" exclamo trocando um olhar com Suki. Rimos juntas da situação, e Amby se junta a nós gargalhando mais alto sem saber do motivo. Suki logo põe o objeto mais preso no meio antebraço, de maneira que Amberly continue a brincar sem que possa tirá-lo.

"Trouxe ela aqui para te distrair,e ver se você larga um pouco esse livro."

"Já larguei,não viu?"Suki revira os olhos perante minha postura de mãos para o alto.

"Ok...Agora fala Rosie, Amby!" Suki chama sua atenção." Ro..sie. Fala, bebê! Minha amiga vai ficar muito feliz se você dizer o nome dela."

"Eee..."

Amberly solta mais um ruído ininteligível e uma risada doce, que aumenta quando Suki faz cosquinha em sua barriga.

"Não, princesa. É, RO - SIE, RO - SIE."

"Ela não vai dizer."Rio. 

"Vai sim. Ela já conseguiu o da maioria das meninas."Suki continua tentando.

Observo conversa do outro lado do salão. As mulheres da corte estavam rodeadas por selecionadas. Bridget se sentou entre America e Eadyln num sofá. Ao lado da Rainha, estava Neena, uma das suas damas de companhia que chegara de viagem a alguns dias no palácio. Florence,Clairy e Karoline estavam em pé em frente a elas. Lucy e Marlee falavam com mais cinco garotas em pé,entre elas Jade. Josie ouvia tudo sentada num sofá,enquanto comia pote de doce bem grande. Grávidas...

O resto se distribuia nos sofás do salão,se distraindo com revistas de moda ou apenas conversa. Phoebe e Emma dialogavam em frente a televisão. Os garçons serviam as selecionadas com pequenos biscoitos e chá,e os guardas da porta estavam rindo de algo que Kerttu contava para eles. A brincadeira de boneca com ela me trouxe muita saudade da minha infância. De brincar disso com Hanna e Taylor.

"Ro..."

E mais nostalgia. Mesmo que Suki tentasse, Amberly não conseguia pronunciar mais do que "Ro",justo como Tyler me chamava...

"Sinto muito, acho ela não vai conseguir dizer mais do que isso hoje, mas outro dia pode falar." Percebo que Suki me olha com pena.

"Ro...Ro..."Amberly não para de repetir a meia palavra que aprendeu.

"Que isso. Não tem problema." 

"Eu vi que você ficou triste." Franzo a testa.

"Não." Não por isso.

"Ro..."A pequena estica o corpo e segura na minha mão. Abro e fecho-a fazendo carinho na dela e subindo dois dedos pelo seus braço até seus pescoço, como se fossem um ser caminhando. E faço cócegas de leve nela até que ria. 

Amberly segura minha mão e parece interessada um abri -la em fechá-la.

"Fica um tempo com a Amby . Vou lá na Phoebe falar uma coisa."Suki põe a bebê no meu colo e se vai. Fico sem ideia do que fazer. Imitar aquelas pessoas que falam fino com ela. Não sabia fazer aquilo,aliás, estava com vergonha,  visto que era observada. As pessoas achavam que eu tinha jeito com crianças,mas eu estava com dúvidas daquilo. 

Amby agarra meu colar,me deixando mais do que doida pela força com que puxa. Tinha pavor que o rompesse. Resolvo balançar seu corpo e deixá-la em pé no meu colo. A pequena não espera dois segundos apra começar a pular.

Sinto um alívio passageiro. Até ela começará a gritar de alegria e pular de um jeito que parecia que iria romper o tecido do meu vestido. Até as minha amigas viraram as costas da televisão. Tentei me concentrar na ruivinha rindo,e acabei me contagiando. É quando Kerttu aparece do nosso lado e sobe no sofá.

" OLHA PRA MIM,AMBY!" 

A bebê para e aponta aponta para ela. 

"Ttu,ttu..." Ergui as sobrancelhas.Pelo visto não era só meu nome que Amberly não sabia pronunciar...

"Tira o sapato dela para ela pular no sofá,Rosie." A morena diz ofegante. Atendo ao pedido e seguro as mãos da bebê para que pule ao lado da irmã.

Não demora muito para um aglomerado de pessoas ser feito ao nosso redor,incluindo as damas reais. Algumas selecionadas batiam palmas enquanto as duas princesas se divertiam.

"Eu deixo você sozInha por um minuto com a Amby e olha no que dá." Suki comenta rindo."Quer que eu faça ela pular agora."

Assinto dizendo um 'muito obrigada' Já estava com as mãos doendo. Suki assume o trabalho,depois Phoebe e Cintia.

...

  " Quer uma ?" Phoebe  me oferece uma xícara de chá. A maioria das selecionadas já tinha se retirado. Faltavam cerca de quinze minutos para o toque de recolher.

"Não, obrigada,eu estou cheia do jantar e dos biscoitos." 

"Essa noite foi uma das melhores noites aqui no castelo."Phoebe comenta e eu assinto." O que a Denise veio falar com contigo naquela hora, depois que você parou de brincar com a princesa? "

Questiona se servindo da xícara que tinha me oferecido,pondo a sua vazia de lado.

"Ah..." Suspiro" A mesma coisa que ela sempre me diz. Que eu estou usando as princesas para me aparecer"

"Ainda?" Ergue a sobrancelhas.

"É. Mas eu não ligo não. Relaxe." Ela concorda terminando de beber.Logo coloca uma terceira xícara." Nossa,você não tem fundo,não?"

Phoebe engole parte do chá rindo. 

"Eu tomo mais para acalmar os nervos. Sou muito agitada, e amanhã é o jornal. Tenho medo de como vou me sair."

"Ah,é..." Engulo o seco."Eu também."

"Você terminou de treinar o discurso?"

"Treinei hoje,uns minutos antes do jantar,mas acho que vou passar a noite inteira pronunciando. Para ter certeza." 

"O que você tem que falar nele?"

Começo a explicar o conteúdo, porém,sou interrompida por um guarda que se aproxima. Ele avisa que estavam para apagar as luzes do Salão. Olhei ao redor, e só estávamos nós duas ali.

Phoebe pediu a ele para terminar mais uma xícara e ele concordou saindo. Ela se serviu da última.

"É rápido, Rosie" Diz tentando entornar o líquido na boca.

" Vai com calma. Eu espero."Rio me rescontando perto da janela. E, por causa disso, acabei avisando o uma figura se mover em meio a escuridão. Apertei os olhos para enxergar direito. Era Osten. Ele carregava como se fossem livros. Moveu-se para a direção do Grande Pátio, depois perdi a visibilidade quando ele desceu as escadas.

Devia estar indo na direção das esculturas. Lá quase não tinha luz, o eu devia estar querendo fazer com livros?Acompanhei Phoebe até sua ala, no nosso andar, mas desisti da ideia de ir para o quarto. Me sentei no banco da minha ala para entender o que estava querendo. Haviam motivos para que eu escolhesse me encaminhar para a escada alternativa.

E, talvez, eu não tivesse muito tempo para falar com Osten no dia seguinte, antes do Jornal. Eu conseguiria me expressar melhor se não houvesse ninguém por perto.Desci aqueles degrais de caracol, não evitando lembrar de quando fiz isso para sair sozinha no meio da primeira noite. A diferença era que antes não tinha intenção alguma de me encontrar com o Príncipe Osten, agora tinha. 

Tirei os saltos altos antes de abrir a porta do saguão. Eu sabia que paredão verde tinha uma leve abertura que poderia me levar para o Grande Pátio. Fui obrigada a parar perto dela por causa de um som semelhante ao farfalhar de folhas.Poderia ser só o vento,ou alguém caminhando por perto. Expio por um tempo o Grande Pátio,e só o que vejo é escuridão.

Continuei meu caminho reparando que o piso liso era iluminado muito fracamente pela luz da lua. E que a vários metros dali estavam pequenos postes de luz amarelada.

Mirei meu olhar nas escadas, esperando que aquela iluminação  longíqua não servisse para que nenhum guarda para identificasse meu vulto se movendo entre as colunas. Quando cheguei aos degraus,vi que lá em baixo havia um pequeno poste de luz aceso,mas nada nada de Osten. Suspiro frustrada. Me arrisquei atoa. 

"Senhorita,já passa do toque de recolher." Viro-me na hora  encontrando um guarda ao lado numa das pilastras."Não pode ficar aqui."

"Ah... desculpe é que eu..."

"Acho bom que suba. Ou terei que informar à realeza." Diz de forma severa.

"Sim,estou  indo" 

"Pode deixar ela comigo,John" Osten conseguiu me assustar pela quarta vez seguida. Ele subiu a escada lateral com a pilha de livros que viu mais cedo. " O toque de recolher acaba de começar,em pouco tempo ela estará de volta ao quarto."

"Como quiser, Alteza."A postura do homem mudou. Ele fez uma reverência e e se retirou. Olhei para Osten completamente confusa.

Ele apenas sorriu brevemente, e estendeu um dos livros. 

"Pode me ajudar a levar isso?" Tão rápido quanto pego o objeto, ele sai andando na minha frente. Ele desce as escadas por onde esse desci e vai para a direção de uma mesa circular. 

"Então, o que veio falar comigo no meio da noite?" Questiona sem me olhar enquanto espalha os livros na superfície.

Olho-o como se estivesse vendo o impossível.

" Espera. Como você iria saber que eu vim falar com você?"

Osten me olha de relance.

" Dedução. Venho para essa região na maioria das noites e você não iria para outro lugar diferente da estufa. A não ser que tenha me visto vir para cá há uns minutos."

"Certo..." digo ainda estranhando. Ele vasculha o bolso e tira o que entendo ser um lápis de lá.

"Você ainda não respondeu minha pergunta."diz me encarando.

" Ahn.. é." Mexo na minha franja e cruzo os braços."Tem a ver com uma outra pergunta que você ia me fazer hoje. Qual era?"

Sua expressão demonstra entendimento.

"Ah, era só isso? Não era relevante.Eu disse para esquecer." Desvia o olhar revirando os volumes e olhando algumas capas.

" Hã. É porque.. Eu queria saber também se você não está com raiva de mim."  Vejo seu rosto franzir." Hum.. tem a ver com o fato de estarmos conversando hoje a tarde e você sair, do nada, e me olhar sério.Eu fiz alguma coisa?"

" Não sinto raiva de você. Por que sentiria?"

"Eu não sei. Também queria saber." Suspiro ."De qualquer jeito... eu queria aproveitar para te falar algo importante."Quase me afoguei de vergonha para continuar ao ver que ele parou a tarefa para me olhar" Essa semana recebi uma carta do meu melhor amigo,e fiquei feliz porque ele resolveu aceitar minha amizade de novo. Mas ele está com quase tudo pronto para conseguir um emprego em Clermont, e não vai estar em Columbia quando eu voltar. Ele é o meu único amigo na escola, como te falei." Gesticulo com uma mão.Osten assente." E eu fiquei bem mal,já que ele vai fazer falta."

"Aquele dia que você estava triste na biblioteca...?"

Concordo. Ele parece compreender.

"Sim,eu estava mal por causa disso. Mas o que eu quero mesmo te falar..." Pauso mirando o chão, antes de olhá-lo."É que isso serviu como um lição para mim. Eu poderia ter aproveitado meus últimos momentos com ele e,ao invés disso ,fui uma estúpida. Não queria que isso acontecesse de novo. Eu pensei nisso essa tarde e... bem, queria poder te pedir mais tempo no Castelo.Tem pessoas aqui que seria bom ter mais tempo para conhecer e também... tem você. Eu SEI que vai soar ridículo, mas  mudei de ideia. Eu quero..."

" Pare." Ergue a mão. Solto o ar com o coração acelerado." Você,então, mudou de ideia sobre o que te propus semana passada."

" Sim, mudei..." Ele olha para o lado e balança a cabeça rápido.

" E por que mudou de ideia tão de repente?" Seu tom de voz me dá dúvida se está sendo cético ou só frio. De qualquer forma, eu fui atingida.

"Tem uma e-explicação." Pressiono forte os saltos que tenho na mão."Tudo o que falei no Jornal Oficial passado era verdade.  Eu vim descobrindo que te julguei mal. A realidade é que você bom com sua família e também foi comigo quando,na verdade, era para ter me enxotado da pior maneira possível. Por tudo o que eu fiz. Por isso,me desculpe Osten." Sorrio fraco." Eu ainda não aprovo algumas coisas que você faz, e é difícil confiar em alguém que me lembra pessoas ruins. Mas... eu quero dar uma chance para sua pessoa. Para confiar em você,e ser sua amiga. Quero saber se ainda quer o mesmo. Pode ser até que enjoe de mim,  o quanto você me liberar de ficar aqui,eu fico."

Termino meu discurso aliviada e com certa expectativa.Osten me olhou nos olhos por alguns instantes.

" Você está me usando." Afirmou com convicção.

"Como?"digo incrédula.

"Você não quer ser minha amiga. Está pedindo isso para ficar aqui. Tudo bem, eu já entendi que não valho nada para você. A honestinadade já estava boa." Diz empilhando os livros.

"Do que você está falando?" Reflito por segundo sobre o que falou."Não é nada disso." Solto o um riso fraco." Olha, Osten,foi muito difícil para mim mudar a minha opinião, mas você conseguiu. Eu não te considero o pior carrasco do mundo,como falei naquele dia."

Tento passar o máximo de certeza com minha expressão. Ela vacila com sua pergunta.

"Então,você então confia em mim?" Diz num tom irônico,porém percebi que ele realmente esperava a resposta.
Suspiro.

"Ainda é muito cedo para isso."Vi que ele não gostou. "Mas pode acontecer,daqui a um tempo."

Osten balança a cabeça, e não diz mais nada. Me vem uma ponta de tristeza por causa disso. Pelo visto, eu estraguei bonito todas as chances de uma amizade saudável com ele.

"Desculpe.."Solto o ar e sussurro."Essa amizade estaria mesmo fadada ao fracasso.Nós começamos mal desde o início.Boa noite."

O principe não responde. Só espera eu dar quatro passos e alcança meu braço.

"Perdão." Diz quando me viro e posso ver seu sorriso ser aberto de leve." Eu não estava mais esperando por essa sua atitude. Digo, toda vez que eu me aproximava, você se continuava a se afastar."

"Sinto muito, eu..."

"Não precisa explicar. Você vai ver poder confiar em mim." Ele estende a mão. Olho confusa para ela.

"Isso que dizer que vou ficar?"Ele revira os olhos e ergue as sobrancelhas. Foram esses gestos que me passaram segurança para selar nosso acordo.

...