Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Sorry pela demora... Esse capítulo vai em especial para as duas pessoas que vem me dando muita força para escrever: Lady L e Amelia K.

Beijinhos, espero que gostem! ;D



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Estranho.

A última coisa que eu pensava era estar num lugar como aquele, numa tarde jogada num sofá assistindo televisão e rindo com garotas que sequer conhecia. As únicas com quem fiz isso a vida toda foram minhas primas. Mas ali estava eu, junto com trinta e uma meninas que, apesar de terem rivalidade umas com as outras, pareciam não se importar com isso no momento.

Quem não estava em sofás, escolheu pufes ou poltronas para descansar. Muitos desses objetos foram trazidos do Salão das Mulheres, porque disseram que os do Grande Salão eram suficientes para a festa, e ainda colocariam mesas e cadeiras nos dois espaços.

Terminávamos de assistir um programa de desfile de moda da província de Clermont com o tema de vestidos de baile (tudo por causa da Seleção).

As garotas decidiram assistir para terem ideias do que pedirem para suas criadas para os próximos dias, já que os melhores estilistas de Illea participavam do evento.

Fazia uma hora desde que o último encontro com o príncipe terminara, mas estávamos esperando Silvia dar aula de boas maneiras para Clairy, Emma e Bridget num cômodo particular. Elas só tinham pegado pedaços da aula, graças aos seus encontros.

Silvia achou justo juntá-las para dar o "reforço" após finalizar a instrução da maioria. Por decisão dela e de Osten, ficou decidido que todas as selecionadas teriam direito a um tempo igual de arrumação. Assim, ninguém poderia subir para o quarto enquanto a aula das três não acabasse.

A atmosfera da sala estava agradável, embora fosse chato ouvir Jade falar das pessoas importantes que conhecia do desfile e das suas premiações como modelo.

"Ela devia receber um prêmio por tanto narcisismo" Suki sussurrou."E daí que ela tem destaque no mundo da moda? Isso não faz dela a melhor indicada para princesa."

"Deixa ela, prefiro Jade se gabando do que destilando veneno em todas nós." Sussurrei de volta. Suki e Mylene riram.

Eu tinha cada uma das duas de um lado.

Mylene sorriu em minha direção e escolheu se sentar do meu lado um pouco antes do programa começar. Ela puxou a Phoebe para o sofá. Essa e Denise ficaram sentadas nas pontas.

Suki, como sempre, alternava a vez de comentar algo sobre o desfile entre mim e Denise.

Apesar de trocarmos poucas palavras desde o almoço, Mylene me passou uma boa impressão, e o fato de desejar minha companhia dava a entender que talvez se tornasse mais uma amiga e aliada no palácio.

O programa de desfile de moda deu lugar a um de Culinária.

Seria uma edição especial sediada na província de Dakota. Um concurso com jovens aprendizes convidados que iriam cozinhar uma macarronada previamente escolhida pelos jurados. Eram vários dias de prova e os prêmios eram empregos muito atrativos.

Meu estômago roncou de fome. Eu tinha comido pouco dos biscoitos que nos trouxeram naquela tarde, teria que esperar o horário da festa. Ou, na hora de voltar para o quarto, poderia pedir algo às minhas criadas...

Ouvi as garotas elogiarem alguns garotos da competição, o que era bizarro, porque, até onde eu sabia, o objetivo da Seleção não era casar com o príncipe Osten?

"Ai, gente, olha aquele garoto ruivo de Yukon. Ele é tão lindo"

"Se é tão bonito assim, casa com ele. Menos uma na competição." A resposta de Denise fez Phoebe parar de se abanar e revirar os olhos.

"Fecha a boca, porque não era eu quem estava com um olhar de coruja sobre o loirinho de Dominica."

"Não estava, não."

Pela voz, Denise tinha se irritado.

"Sei. Limpa aí" Phoebe cruzou os braços.

"O quê?"

"A sua baba. Tá escorrendo."

Suki, Mylene e eu rimos da expressão boquiaberta de Denise.

"Você, cuidado com o que fala."

Pisquei atônita para o olhar cínico de Denise para Phoebe.E não fui só eu que me senti impactada com aquilo.

"Gente,por favor, uma das regras é que quem parte para a briga está fora." Suki interferiu.

"Eu não ia agredir ela, nem nada. Não sou burra."

"Ia fazer, o quê? Me sabotar?"

"Passou pela minha cabeça." Denise deu de ombros, e Phoebe deu uma gargalhada.

"Minha nossa, estamos mesmo brigando?"

"Você provocou."

"Eu estava só zoando você." Phoebe balançou a cabeça."Sabe, a realidade é que essa competição de culinária está cheia de bons petiscos. Entenderam?"

Ela mexeu as sobrancelhas nos fazendo rir do trocadilho.

Por um momento, achei que aquilo não ia acabar bem...

O comentário de Suki me fez lembrar de Bridget. Ela mostrou o punho na noite anterior. Se tivesse me batido, será que o guarda contaria a Osten e ela seria eliminada? Isso seria catastrófico para sua carreira.

"Olha, Rosie. São os competidores da sua província." Mylene fez com que todas nós voltássemos a prestar atenção no programa.

Dois garotos da equipe estavam conversando com o apresentador, enquanto os outros dois separavam os ingredientes. Meus olhos ficaram esbugalhados assim que os cozinheiros de costas se viraram com o alho e o óleo. Não podia ser. Aquele programa era em Dakota.

O que, raios, Tyler fazia em Dakota?

Ele não havia me dito nada sobre participar desse concurso. Eu sabia que ele sempre queria fazer mais e mais para crescer e ser chef, mas achei que seus planos eram apenas fazer universidade de gastronomia e trabalhar no restaurante dos pais. Pelo visto, eu estava enganada...

Ele sorriu para a câmera e acenou.

"Gente, esse garoto de cabelo castanho-claro e olhos azuis é muito lindo" Suki falou, e as três concordaram.

Fiquei calada sentindo meu coração acelerar. Elas falavam de Tyler.

"Será que ele tem namorada?"

Uma cobra, sim, Mylene.

"Ah, tem. Um garoto como ele não fica solteiro, não." Ouvi Phoebe comentar.

Meus olhos não desgrudaram da tela. Filmaram a equipe dele por um tempo. Tyler cortava os legumes da receita com agilidade. Ele sempre foi muito dedicado à culinária. Vê-lo ali me fez lembrar das tardes em que Tyler e eu cozinhamos juntos. Aprendi muito de cozinha com ele.

Suspirei pensando no quanto isso era maravilhoso e que nem tinha me dado conta de aproveitar mais.

O programa continuou por mais meia hora. Outras equipes também foram filmadas. Logo, já era a hora dos jurados provarem os pratos.

Abri um sorriso e comemorei internamente quando a equipe de Tyler ficou com uma das maiores pontuações daquela fase. Ele merecia. Apesar de ter sido um covarde comigo, eu ainda desejava o melhor para ele.

Minha alegria se dissipou no momento em que os acompanhantes dos participantes subiram no palco para parabenizá-los. Antes que Brianna pudesse abraçar o filho, uma figura de cabelos longos lisos pulou em Tyler. Um infeliz de um repórter fez questão de enfatizar o momento do beijo de Veronica e Tyler com um close.

"Eu falei que ele tinha uma namorada" Phoebe disse.

"Ah, que desperdício." Denise bufou.

Eu mal entendi o que elas falaram depois que a câmera focou em outros participantes. A imagem do beijo martelava forte na minha cabeça. Eu nunca tinha visto Tyler beijar outra garota. Eu sabia que ele já tinha feito isso com muitas, inclusive com a Veronica. Jamais tinha visto isso ao vivo e em cores.

Uma ardência na garganta e nos olhos me pegou de surpresa.Eu estava prestes a chorar? Respirei fundo piscando várias vezes. Não podia simplesmente sair correndo dali para o quarto, nem desabar na frente delas.

Minhas preces foram ouvidas quando Bridget, Emma, Clairy e Silvia entraram no salão uns minutos depois. A nossa instrutora disse que estávamos liberadas para subir. Várias selecionadas se levantaram animadas e quase saltitando por finalmente poderem se arrumar.

Segui as minhas colegas de longe. Elas não notaram muito. Comentavam sobre suas ideias para roupa e sobre a festa de Kerttu. Parei no meio das escadas. A vontade de chorar não havia passado, pelo contrário: estava cada vez maior e eu não queria que as criadas me vissem assim quando chegasse no quarto.

Dei meia volta com um destino marcado na cabeça. Antes, porém, que pudesse passar pelas portas do jardim, um dos guardas colocou a mão na minha frente.

"Desculpe, senhorita, mas está proibida a circulação de qualquer pessoa no jardim enquanto o resto dos guardas estiverem checando e planejando a segurança de hoje a noite."

"Mas... Eu só ia na estufa."

"Ela também está ocupada." O outro disse. "Sinto muito."

Suspirei concordando com a cabeça e voltei para as escadas limpando as lágrimas teimosas que escorriam pelo rosto. Não havia mais nenhum lugar naquele palácio em que pudesse ficar em privacidade?

A visão de uma placa me faz parar no lugar. Biblioteca Celeste.

Esse nome era familiar... Ignorei tal fato já adentrando no espaço. Lembrei que Silvia tinha passado direto por tal cômodo enquanto apresentava o palácio, porque ele estava em uso.

As estantes iam quase até o teto e paredes estavam obviamente abarrotadas de livros. Verifiquei rápido se não havia mais ninguém ali antes de escolher a estante final para me esconder.

Sentei no chão e apoiei a cabeça numa madeira. Foi a hora em que pude realmente chorar em paz.

Tentei controlar meus soluços para serem finos e baixos colocando as mãos na boca, para que ninguém soubesse da minha presença ao chegar perto do lugar.

Eu me perguntava repetidamente do por quê de estar assim.

Me sentia mal como nas situações em que saia humilhada na escola. Mas agora era por causa de um beijo. Por causa de Tyler. Talvez eu estivesse mesmo apaixonada por ele, como tinham me alertado.

A questão é: desde quando? Não importava, pois ele estava com Veronica. Foi com Veronica que Tyler viajou. Era ela quem ele beijava, com quem saia e se divertia.

Eu não passava da garota com quem ele passou a infância e que, para piorar, talvez nem aceitasse como amiga mais...

Meu secreto escândalo parou e voltou diversas vezes pelos minutos seguintes.

Não sei quanto tempo passou, só tinha certeza que havia perdido bastante tempo de arrumação. Mas, e daí? Eu nem ia durar tanto naquele lugar. Reprimi mais um soluço antes de ouvir o barulho da porta ranger.

Só faltava essa: ter que me esconder mais outra vez.

Não havia como escapar, porque as prateleiras terminavam na parede. A questão era torcer para não virem até minha seção.

Não é Osten de novo, né?

Isso seria uma super falta de criatividade do destino...

Controlei a respiração como fiz atrás daquela árvore. Apesar de estar chorando há uns segundos, acho que me saí bem.

Ouvi o som da pessoa revirando uns livros a algumas prateleiras de distância. Que acabe logo, pensei. Uns cinco minutos devem ter passado comigo ali presa e o indivíduo folheando.

Suspirei aliviada quando deu alguns passos e a porta rangeu novamente.

Hora de levantar e ir para o quarto.

Passei as mãos pelo rosto para poder não andar pelos corredores com ele encharcado.

Chega de chorar.

Me apoiei no chão para ganhar impulso. A porta se abriu de novo e isso me fez cair sentada. Diferente da primeira vez que entraram, seus passos mostravam a determinação de vir até o final da biblioteca... E, uau, o destino estava mesmo zoando comigo.

"Rosie? O que está fazendo aqui sozinha?"

"Eu... só estava pensando." Disse tentando levantar.

Osten andou até mim e me estendeu a mão para ajudar.

"Obrigada" disse cruzando os braços e desviando o olhar para o chão. Meu rosto ainda devia estar bem inchado.

"Pensar na biblioteca? Não disse que gosta de lugares floridos?" Senti um leve humor em sua voz.

"A estufa estava ocupada e aqui estava sossegado."Disse com a voz um pouco falhada."E você? O que te trouxe aqui?" Perguntei mais para desviar o assunto de mim.

"Estou procurando livros de idiomas. Alemão e francês para falar a verdade, por causa de alguns políticos que vem hoje na festa." Ele expressava certa animação.

"Entendi..."

"Por que está olhando para o chão?"

"Ah,é que..." Olhei para seu rosto brevemente e vi seu sorriso murchar.

"O que aconteceu?! Pra você...estar..."

"Não é nada, relaxe." Continuei a olhar para baixo"Eu... acho que devo voltar para meu quarto."

Tentei sair, mas Osten barrou uma e duas vezes.

"Sabia que as pessoas sempre dizem 'nada' quando querem esconder alguma coisa?"

Eu também já sabia disso, mas foi inevitável não fazer.

"Agora está tudo bem, Osten." Disse aumentando o volume da voz e arrumando coragem para olhá-lo nos olhos. O príncipe ergueu as sobrancelhas com ar incrédulo."Eu estava chorando, sim, mas era por bobeira, não é algo pelo que se preocupar. Eu só preciso voltar para o quarto correndo, porque já perdi muito tempo. Por favor... "

Foi difícil passar determinação enquanto seus olhos castanhos me estudavam.

"É o palácio? " Franzi a sobrancelha sem entender." Você não gosta daqui?"

"Eu já disse que gostava ontem, lembra?"

"Certo, então, o que é?" Cruzou os braços. Eu engoli em seco.

"São problemas pessoais, da minha província. Não tem nada a ver com aqui."

"Aconteceu algo com sua família ou seus amigos?"

Era notória sua curiosidade.

"Mais ou menos, é porque..." Suspirei vendo que Osten me ainda olhava calado esperando uma resposta. Encarei a estante. Tinha ficado sem saída com aquela pergunta.

Eu não podia simplesmente chegar e dizer: sabe, Osten, eu estava aqui chorando sozinha, porque acabei de perceber que gosto do meu melhor amigo depois que brigamos feio e, nesse momento, ele está junto com uma garota que odeio e que me odeia de volta.

Pensar em tal fato fez com que as malditas lágrimas voltassem a brotar.

"Desculpa, Osten. Isso é muito pessoal e eu não quero mentir para você. Eu realmente preciso ir..." Apontei para a saída com os lábios apertados. Vi-o arregalar os olhos e assentir freneticamente.

"Me desculpe, você, Rosie. Eu, às vezes, posso ser bem invasivo."

O príncipe disse num tom de culpa e suspirou me dando espaço.

Passei diante dele, e fui surpreendida por um puxão no braço. Um puxão que me fez girar e colou meu corpo ao seu. Arfei completamente assustada com o gesto enquanto ele me envolvia. O único garoto que me abraçou forte assim foi Tyler, mas ele eu conhecia. Por ser mais alto, Osten enterrou o rosto ao topo da minha cabeça e eu apoiei o queixo no seu ombro.

"Me perdoe por isso também. Pode ter parecido exagerado, só achei que a senhorita precisasse..."

Ouvir 'senhorita' me fez soltar uma risada baixa. Proposital ou não,aquilo funcionou para me fazer melhorar um pouco.

"Obrigada" Disse sentindo meu rosto queimar.

Minha nossa, ele ainda estava me segurando... Meu coração acelerou de nervoso, pela vergonha da situação. Torci para que ele não sentisse isso.

"Osten... você pode me soltar agora?"

"Claro que posso." Ele abriu os braços e eu dei um passo para trás. Vi um sorriso crescer em seu rosto" Engraçado, achei que as garotas gostassem desse gesto."

"Ah, sim, gostamos. Eu... apenas não estou muito acostumada. Só isso." Respondi cruzando os braços. Quanto à cor do meu rosto, eu nem me questionava mais...

Osten assentiu ainda sorrindo.

"Tchau, Osten" Sorri rápido e fiz uma reverência antes de sair. Ele riu.

"Tchau, Rosie. Te vejo mais tarde."

...

"Já estou acabando, Rosie, eu só preciso costurar esses dois botões. Como é que eles foram sair" Lee balançou a cabeça inconformada enquanto costurava o vestido na minha cama.

"Demore o quanto quiser, não estou tão desesperada assim para descer."

"Como não?" Audrey tirou o pincel do meu rosto. Ela me maquiava cantarolando antes disso, enquanto Amy fazia um coque desfiado no meu cabelo."Esta é a maior festa de todos os tempos por aqui. Vai ter selecionadas, celebridades e políticos. Todo mundo que é alguém vai aparecer."

"Exatamente por isso. Onde tem gente importante, existem câmeras cercando, prontas para captar qualquer erro."

"Ah, isso é verdade..." Audrey põe a mão na cintura.

"Mas acho que elas não vão estar muito voltadas para você." Amy opinou."Não estou querendo ofendê-la, Rosie, mas, você sabe, as pessoas que já aparecem na mídia vão ser mais visadas..."

Dei uma risada diante de seu tom desesperado. Isso soou tão parecido comigo...

"Sem problemas, Amy."

"Por falar em televisão, será que a Rebeca Collins vem mesmo?"

"Não viu o jornal de hoje?" Audrey negou com a cabeça para Lee." Ela cancelou. Por motivos pessoais."

"Ah... "

"Mas eu ouvi dizer que a Tracy King vem."

"O QUÊ?!" Audrey pulou com o comentário de Amy."Rosie, você pode pedir um autógrafo pra mim?"

Ela fez um gesto de prece com a mão. Lee bufou.

"Pode esquecer, Audrey! A Rosie tem que aproveitar a festa e até parece que ela vai levar papel e caneta lá para baixo. "

Fiquei triste de ver a loirinha desanimar.

"Sinto muito, Audy..."

"Não, tudo bem. Eu entendo." Ela voltou a me maquiar finalizando com um batom rosado claro, quase ao mesmo tempo em que Amy terminou meu cabelo. Lee se levantou com um sorriso satisfeito me mostrando a peça. O vestido era longo e dourado com alguns acabamentos pretos. Elas me ajudaram a colocá-lo e ficaram suspirando sonhadoras.

"O príncipe Osten vai dançar só com você" Ri do comentário de Audrey. Tão romântica...

Me despedi delas agradecendo e saí andando pelo corredor. Já era possível ouvir o barulho da música clássica sendo tocada.

Gritei um 'esperem' ao ver Suki e Denise no final das escadas. Elas pararam de conversar. Suki sorriu, como sempre, enquanto eu descia. Ambas estavam deslumbrantes: Suki de azul-escuro e Denise de vermelho vivo.

Após trocarmos elogios, seguimos em frente.

Vimos um tapete vermelho no corredor, saindo do Grande Salão, e as duas ficaram tão curiosas em saber onde ele iria dar que me puxaram para o lado oposto.

Chegamos ao Salão das Mulheres, vendo que estava abarrotado de mesas praticamente vazias e muito mais sofás que o normal. Os convidados iam chegando pouco a pouco. Percebi um televisor grande ligado com imagens do Grande Salão, além de uma montanha de presentes no canto do local.

"Ai, não. Por causa das atividades de hoje, esqueci do presente da Kerttu."

Denise me olhou como se eu fosse louca.

"Querida, que tipo de presente você ia dar? Não poderia sair para comprar."

"Eu sei... mas eu podia ter feito pelo menos um cartão..."

"Vocês realmente são amigas?" Me lançou um olhar sério cruzando os braços. Fiquei surpresa com sua atitude, mas agora tudo fazia sentido: Denise nunca falou muito comigo. Apenas com Suki.

Ela ainda me considerava uma ameaça por conta da proximidade com a princesa, embora eu não fosse nenhuma das três escolhidas para os primeiros encontros com Osten. Eu queria mostrar que não tinha vantagem, mas de uma maneira que não parecesse fraca demais.

"Pode-se dizer que sim. Tenho certeza de que se conversar com ela, a princesa vai gostar de você. Já percebi que Kerttu gosta de fazer amizades. Foi assim comigo."

Ela bufou.

"Desculpe a honestidade, mas para mim você só usou a garotinha para o Osten te reparar."

"Claro que não! É que..."

"Não adianta negar. Eu já percebi seu jogo."

Antes que eu pudesse negar mais, Suki tomou controle da situação falando que estamos atrasadas para nos apresentarmos o Grande Salão. A asiática saiu puxando nós duas para lá. O assunto se encerrou e ela foi comentando sobre a decoração dos corredores até lá.

Ao contrário do Salão das Mulheres, o Grande Salão já estava quase lotado.

Entendi na hora porque dois lugares de festa: apesar de o nome dizer grande, haviam 35 selecionadas, músicos, repórteres, celebridades, diplomatas e muitos políticos locais e externos circulando por ali.

A realeza devia ter previsto que seria uma zona todos juntos num só ambiente. Em breve muitos iriam procurar um lugar mais sossegado do que aquele formigueiro.

Reparei que haviam menos mesas e sofás, pois uma grande pista de dança se encontrava no centro.Um pequeno palanque improvisado com microfone indicava que algum membro real faria um discurso mais tarde, e, como o espaço de deslocamento entre os dois ambientes era considerável, conclui que a televisão serviria para que quem estivesse no Salão das Mulheres pudesse acompanhar tudo de lá.

Era... genial.

"Meninas." O grito de Silvia nos fez olhar para a direita.

Ela fazia um sinal para nos aproximarmos. Junto com ela, estavam reunidas quase todas as selecionadas perto de um cenário com câmeras e cadeiras.

A princesa Kerttu estava sendo abraçada e paparicada por muitas delas. A pequena usava num vestido rodado lilás, haviam pontinhos bem minúsculos roxos em sua saia. Tive vontade de rir. Se minha intuição estivesse certa, ela tentava imitar os lírios que gostava. Queria poder abraçá-la, porém havia uma imensa barreira de pessoas entre nós...

Quando o fotógrafo soube que todas as garotas estavam presentes, Kerttu foi colocada no centro da primeira fileira de cadeiras. Fiquei num dos cantos da segunda com Suki e me lembrei de fazer o melhor sorriso espontâneo, conforme Dean me recomendaria.

Foi cinco minutos na mesma posição com o salão inteiro olhando para nós até que acabasse. Procurei me levantar rápido para falar com a princesa. Entretanto, fomos liberadas para circular pela festa, porque outras pessoas tirariam fotos com a aniversariante. Suspirei frustrada.

Suki, Denise e eu nos juntamos a duas meninas que comiam salgadinhos, em pé, ao lado de uma mesa.

Reene e Jesse.

Procurei Mylene pelo cômodo. Encontrei-a com Phoebe conversando com a família real francesa: os antigos rei e rainha Frederick e Daphne, a rainha Camille, o príncipe consorte Ahren e a pequena princesa Giselle. Essa tinha os cabelos loiros quase brancos e parecia ter a mesma idade de Kerttu. As duas eram primas.

"Onde está o príncipe?" Suki questionou do meu lado.

"Não faço a menor ideia." Jesse respondeu." Na última vez que o vi, ele estava conversando com o Primeiro-ministro."

"Olha, a família Singer é a próxima da fila de fotos." Reene apontou para o lugar de onde saímos. Graças às revistas de fofocas de Taylor e Hanna, pude saber exatamente de quem se tratava cada integrante. Quer dizer, todos menos um.

"Quem é aquele homem abraçado com May Singer?" Pergunto em voz baixa a asiática.

"Que homem?" Ela questiona olhando na direção. Escandalosa? Nem um pouco. Todas as meninas prestaram a atenção." Aquele é o irmão dela, Gerard Singer."

"Não, do outro lado. O único que não é ruivo ali..."

"Ah, aquele é o noivo dela, o Simon."

"Você não sabia quem era ele?"

"Não." Dei de ombros para Denise.

"Nossa."Ela trocou um olhar com Reene." E você quer entrar para a família real? Não sabe nada sobre eles." Sua voz destilava deboche.

"A família real é a Schreave, não a Singer. Mas, só para aproveitar, eu sou, sim, informada sobre os Singer." Denise ergueu as sobrancelhas.

"Então prova. Me diga os nomes e o que fazem da vida, e eu acredito."

Revirei os olhos. Aquela menina tinha tirado a noite para me provocar, só podia.

"Foi você quem pediu. Magda Singer é mãe de América. Os irmãos são May, Gerard e Kota. Eles quatro, menos Kota, sendo escultor, são artistas plásticos. O pai Shalom e a irmã dela Kenna faleceram por problemas cardíacos e os filhos de Kenna estão ali também, Astra e Leo. Astra é dançarina de uma academia na Carolina. Ela ganhou um prêmio por isso há um mês e Leo é estudante de engenharia. Ele é o único que não seguiu o ramo artístico da família, mas ele não precisa, porque as castas não existem. Não existe mais o rótulo de Cinco. Ah, e Gerard é casado, mas a esposa dele não está ali." Observei o sorriso de Denise sumir enquanto falo.

"Isso qualquer um sabe."

"Mas você disse que eu não sabia de nada, já é um começo, não acha?" Sorri fazendo-a bufar. As meninas ficam em silêncio pelo clima ruim.

Desviei a atenção para a mesa e peguei um copo de suco para beber.

"Acho que devemos procurar alguém importante para conversar." Suki quebrou o gelo." Estou vendo que quase todo mundo está fazendo isso."

"Você está certa." Jesse comentou. Ela, então, sugeriu um casal para abordarmos."Eles devem ser do governo alemão. Olha o símbolo no casaco do homem."

Permaneci um tempo parada no lugar antes de ir. Não era bem aquilo que eu queria fazer...

Denis e Sammy se apresentaram como diplomatas. Eles falavam inglês fluente e sem sotaque. Devem ter achado estranho um bando de garotas quase correndo em sua direção, no entanto, nos receberam com sorrisos e foram logo perguntando nossos nomes. Questionaram os nomes de integrantes da família da asiática por causa do Cheng e se entusiasmaram em saber que conheciam um de seus tios.

"Nós viemos da Nova Ásia há quatro dias." Denis comentou."Tem sido realmente difícil fazer acordos com eles, mesmo com o fim da guerra, mas estamos em processo. Seu tio foi um grande amigo nosso que viajou conosco para as negociações nesses últimos anos." Suki assentiu animada. Não foi difícil ver que as meninas estavam incomodadas pela atenção dos alemães a ela.

"Como é a vida diplomática?" Denise perguntou.

O casal foi, então, bombardeado por perguntas sobre o assunto. Fiquei calada ouvindo Sammy contar histórias ruins ou engraçadas sobre sua experiência com o cargo. Ela aparentava ter uns quarenta anos e pelo que disse começou no ramo desde nossa idade.

"Vocês precisam aprender muito sobre diplomacia. Os príncipes que não são herdeiros podem seguir o exército ou a diplomacia, e vocês sabem que Príncipe Osten vai ser um diplomata,não sabem?"As meninas concordaram imediatamente com a cabeça, ao passo que eu ergui as sobrancelhas. Aquilo era novidade para mim.

"Eu ouvi falarem de mim?"

"Alteza." Denis cumprimentou Osten com um aperto de mão." Que bom te ver! Estávamos conversando com essas damas. Essas suas pretendentes são realmente adoráveis." O príncipe assentiu e nós agradecemos.

Sammy voltou a falar.

"Estávamos falando sobre seu futuro na diplomacia de Illea. Já ia perguntar sobre as línguas que falam. Então, garotas, quais são?"

"Além de inglês, alemão e francês" Denise respondeu com um tom de orgulho.

"Eu falo espanhol, italiano e francês de idiomas estrangeiros." Reene disse.

"Mandarim, alemão e espanhol" Jesse falou animada.

Todos se surpreenderam ao ouvirem Suki. Ela sabia inglês, mandarim, finlandês,francês, italiano, alemão e espanhol.

"Isso é incrível, Suki. Posso ver que te criaram bem. E você, Rosie, acertei?" Sammy olhou para mim, assim como o resto do pessoal.

É nessas horas que um bom buraco de avestruz serve...

"Acertou. Sei um pouco de francês. Nunca me aprofundei em outros idiomas." Disse sorrindo amarelo. O rosto da mulher se apagou como se estivesse lidando com uma coisa tediosa. Pelo canto do olho,vi Denise sorrir satisfeita.

"Ah, eu entendo... Agora,Osten, conte-nos sobre a dança especial prometida para essa noite. Quando ela vai acontecer?"

"Daqui a pouco devem sortear... Eu achei mais justo desse jeito." Ele deu de ombros.

A conversa voltou a girar em torno da diplomacia. Não conseguia prestar mais atenção. A forma como Sammy me olhou me fez sentir um inseto inútil.

Um tempo depois, Sammy e Denis se despediram para falar com outros representantes de governo, e Osten foi chamado pelo pai para a sessão de fotos. Antes de sair, porém, seu olhar se cruzou com o meu. Tive a impressão de que sorriu de lado.

Em vez de seguir as meninas que já estavam interessadas em procurar mais um alvo para conversar, fui para a mesa de refeições de novo para pegar outra bebida, sem perdê-las de vista. Eu não queria ficar sozinha naquele salão. Aquilo me fazia sentir mais exposta e bastava a vergonha que passei com os diplomatas.

Fiquei magoada. Eu não tinha culpa de não ser uma poliglota. Reparei as selecionadas ao redor conversando com pessoas de destaque. As câmeras rodavam de um lado para outro filmando, de longe ou não, os sorrisos, os cumprimentos e as conversas.

De repente, aquela noite fez total sentido para mim: não estávamos ali apenas como convidadas especiais de Kerttu, estávamos sendo testadas.

 


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