You're Driving Me Crazy! escrita por liz doolittle


Capítulo 6
Capítulo 6




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    Naquela noite, a casa dos Benedito voltou a se encher como nos velhos tempos: todas as filhas de Ofélia e Felisberto foram visitar Elisabeta, que era a única solteira, para o desespero da matriarca, que pedia a Deus (e a Santo Antônio, a Santo Expedito e a São Judas Tadeu) que intercedesse por sua filha mais velha e encontrasse um bom marido para ela.

Lídia era a única que ainda morava com os pais, mas Ofélia suspeitava que por pouco tempo, afinal seu coração estava sendo capturado aos poucos por Randolfo, que sempre fora apaixonado por ela. Assim, todos os esforços da sra. Benedito se concentravam em Elisabeta, que era obstinada e não via no casamento o ponto alto de sua vida, afinal ela queria simplesmente viver e considerava que estava apenas começando a descobrir o significado desta palavra.

— Olha só pra Mariana. — Ofélia disse na mesa enquanto a família jantava após passarem horas colocando o papo em dia. Elisabeta levantou os olhos para a mãe, pois sabia que as palavras haviam sido direcionadas a ela, já que Ofélia não traria o assunto “casamento” à conversa por outro motivo. — Ela ficou tão empolgada com essas corridas que eu achei que ela nem se lembraria mais de casamento. Mas que nada, teve um casamento lindo com Brandão! Um baile maravilhoso! Por isso ainda tenho esperanças que você vai me surpreender e encontrar um partidão.

Elisabeta sorriu. Embora ela e a mãe discordassem em relação a praticamente tudo, tinham uma relação saudável. Elisabeta entendia os anseios de Ofélia, que eram bastante tradicionais, mas bem-intencionados.

— Ofélia, deixe Elisabeta. — Felisberto disse. — Senão ela vai evitar vir nos visitar, já que você só fica pressionando ela em relação a casamento.

— Não se preocupe, papai. — Elisabeta respondeu. — Mamãe, prometo que se eu me casar— Ao receber um olhar de repreensão de Ofélia, Elisabeta reformulou sua frase: — … quando eu resolver me casar, você será a primeira pessoa a saber. Inclusive trarei o noivo aqui para segurá-la, pois tenho certeza que a senhora vai até desmaiar.

Todas as irmãs riram concordando e Ofélia colocou sua mão no peito.

— Você promete? Será o dia mais lindo da minha vida, então por favor, não me iluda atoa.

Elisabeta, que estava perto de sua mãe, se levantou rapidamente para beijar sua têmpora.

— E eu faria isso? — Ela perguntou.

Lídia engasgou.

Mariana disse “sim” enquanto simulava uma tosse.

Cecília franziu os lábios para não rir.

Jane balançou a cabeça, negando.

— Pois saibam… — Elisabeta disse enquanto voltava para seu lugar. — … que eu nunca disse que não quero encontrar um grande amor e me casar, mas não é a prioridade.

Jane estendeu o braço e pegou a mão de Elisabeta.

— Nós sabemos, minha irmã. E estaremos felizes por você da maneira que você escolher viver, sendo casada ou não. Não é mesmo? — Todas as irmãs e Felisberto concordaram, mas Ofélia apenas olhou para os lados. Jane pressionou-a: — Não é mesmo, mamãe?

— Ora! — Ofélia respondeu. — É que o casamento é uma parte importante da felicidade. Ter alguém do seu lado para formar uma família e te fazer companhia.

— E por falar em companhia… — Cecília disse, e Elisabeta agradeceu silenciosamente a irmã por mudar de assunto. — Elisa, eu estou apaixonada pelo Austen! Ele é muito amoroso. Eu não sabia que você o traria para o Vale.

— Eu não estava planejando trazê-lo, mas Darcy me convenceu.

Um longo silêncio se fez presente na sala de jantar.

— Darcy? — Lídia perguntou, por fim. — Darcy? Darcy Williamson?

— Darcy te convenceu? — Mariana demonstrou sua descrença.

Elisabeta começou a se sentir um pouco constrangida, afinal ela nunca tinha feito esforços para esconder suas antigas opiniões sobre ele.

— Ué… sim. — Ela deu de ombros e voltou sua atenção para a sobremesa.

— Como assim Darcy te convenceu!? — Ofélia questionou, como se tivesse demorado um tempo para ela processar a fala de Elisabeta. — Vocês nem se falam. E quando se falam, ou brigam ou são friamente educados um com o outro.

— Que exagero, mamãe… — Elisabeta replicou. — Não é bem assim.

— É exatamente assim. — Lídia discordou.

Elisabeta a fuzilou com o olhar.

— Nunca conheci pessoas mais orgulhosas que vocês quando estão no mesmo lugar. — Ofélia disse e então sorriu maliciosamente. — E que história é essa que ele te convenceu? Ele é bonitão e eu acho que ele conseguiria te convencer facilmente com o charme dele, mas…

— Ofélia! — Felisberto repreendeu-a, mas ela o ignorou:

— Elisabeta?

— Nada demais. — Ela deu de ombros. — Quando ele foi me buscar, sugeriu trazermos Austen e eu achei uma boa ideia, pois todos aqui adoramos cachorros. Só isso.

— E vocês conversaram tanto a ponto de ele saber que você tem um cachorro? Você e Darcy? — E então ela pausou e fitou Elisabeta com olhos semicerrados. — Ou ele sabe do seu cachorro porque entrou no seu apartamento?

Elisabeta sentiu-se corar, percebendo que a curiosidade de sua mãe poderia fazê-la imaginar coisas…

Inimagináveis.

Inconcebíveis

Impossíveis.

— Que perguntas são essas? — Elisabeta se levantou e forçou um riso, preferindo se retirar a responder a verdade. — Senhora Ofélia Benedito, você tem lido ficção demais. — Ela disse, citando a própria própria mãe que costumava dizer isso a Cecília quando a filha ficava imaginativa. — Se vocês me dão licença, acho que já vou me deitar.

— Por acaso você está tentando esconder alguma coisa? — Ofélia questionou, esperançosa.

— É claro que não. Pode ficar tranquila que ainda acho Darcy Williamson a pessoa mais arrogante e insuportável do mundo. Do universo. — Elisabeta mentiu, orgulhosa demais para admitir para sua família que seus pensamentos em relação a ele não eram mais tão negativos… ou nem mesmo negativos.

Afinal, não faria diferença que eles soubessem disso.

Elisabeta se despediu de sua família, mas Jane pediu para conversar com ela. As duas foram até a sala e Jane perguntou:

— Elisa, como foi a viagem com Darcy?

— Foi tudo bem. Por quê?

— Eu queria saber se foi muito difícil para você tolerá-lo.

Elisabeta notou que a irmã estava um pouco apreensiva. Ela estendeu a mão e colocou uma mecha do cabelo loiro atrás de sua orelha.

— Não foi. Nós dois conseguimos conter nossos impulsos assassinos. — Jane arregalou os olhos e Elisabeta riu. — Brincadeira. Não se preocupe, fomos bastante civilizados um com o outro.

— Fico muito feliz de ouvir isso. — Jane sorriu de modo angelical. — Pois eu o convidei para um chá amanhã à tarde e gostaria que você fosse também, pois Camilo e eu precisamos conversar com vocês.

Elisabeta encarou a irmã, desconfiada.

— Jane, você não está com intenções parecidas com as de mamãe, não é?

— Não! Juro que não.

Elisabeta assentiu, aliviada.

— Eu acredito em você. Então sim, eu aceito seu convite. Nos vemos amanhã?

 

~~~~~

 

O chá da tarde do dia seguinte se transformou, na verdade, no vinho da tarde e da noite — exceto para Jane e Camilo, o que significava: apenas para Darcy e Elisabeta.

Darcy já estava na casa dos amigos quando Elisabeta chegou, indo diretamente para os braços da irmã.

— Eu nunca vou me acostumar a ficar sem sua companhia. — Elisabeta confessou quando a soltou e colocou uma mão ao lado da barriga de Jane, que já indicava sua gestação. — Ainda mais agora com este lindinho ou esta lindinha vindo ao mundo. Fico com vontade de ficar aqui com vocês o tempo inteiro!

— Sinta-se à vontade para se hospedar aqui enquanto estiver no Vale, Elisa. — Camilo ofereceu.

— Que saudades de você, Camilo! — Elisabeta abraçou o cunhado. — Como vão os negócios? E como é ser filho e sócio da rainha do café?

Camilo gargalhou.

— Tem sido um desafio e tanto, mas maravilhoso.

Elisabeta ainda sorria quando se virou para Darcy. Por um momento, os dois ficaram parados, pois não sabiam o que fazer.

Um simples aceno, como costumavam se cumprimentar antes, seria formalidade demais.

Um abraço, como eles costumavam cumprimentar os amigos próximos, seria informalidade demais.

— Oi, Darcy. — Elisabeta disse e, vacilante, deu um passo para a frente, optando por estender-lhe a mão. — Como você está?

— Estou bem. — Darcy retribuiu o gesto. — E você? Como está sua recuperação?

Elisabeta colocou uma mão em sua testa, ao lado do machucado que já havia sarado quase que por inteiro.

— Muito bem. Estou até sentindo falta daquele curativo estiloso.

Jane os convidou para irem até a sala. Camilo pediu licença e se retirou por um momento. Quando os demais já estavam sentados, ele voltou com uma caixinha de veludo e Darcy começou a se sentir um pouco tenso, pois o convite para Elisabeta ser madrinha do filho do casal seria feito naquele momento, e ele não sabia que reação esperar dela.

— Elisa... — Jane começou a dizer e seus olhos marejaram. — Primeiramente, eu preciso dizer que não importa qual seja sua escolha, eu entenderei. De coração. Até porque o convite que eu vou te fazer é pouco convencional na nossa sociedade. — Ela trocou um olhar com Darcy ao dizer isso. — Você é uma das pessoas mais importantes que eu tenho na minha vida, e não é só porque somos família, mas porque você é minha melhor amiga, minha confidente, minha irmã no sentido mais amplo da palavra. É a primeira pessoa a me dar a mão quando eu preciso seguir em frente. Você me dá sua força quando eu perco a minha.

Jane deu uma pausa para conter sua emoção e apenas neste momento Darcy percebeu o quanto as palavras dela haviam-no tocado também. O carinho que os Benedito tinham uns pelos outros era algo que sempre tinha-no encantado. Não era tão fácil para ele se lembrar como era ter uma família unida, presente e devota, mas situações como as quais ele estava presenciando agora despertavam as memórias de sua infância e, bem lá no fundo, faziam-no sentir vontade de ter aquilo em sua vida também: uma família de verdade.

Algo raro e, ele pensava, quase impossível de se alcançar.

— E tudo que você é pra mim... — Jane continuou e secou uma lágrima que começou a escorrer do rosto de Elisabeta. — ... eu quero que você seja para meu filho também. E tudo que você é pra mim... — Ela parou novamente e olhou para Camilo.

— Darcy é pra mim. — Camilo completou.  

Os dois assentiram um para o outro e ficaram em pé lado a lado enquanto Jane terminava:

— É por isso que Camilo e eu nos sentiríamos honrados se vocês dois aceitassem ser os padrinhos do nosso filho. Geralmente é um casal que assume este papel, mas você mesmo me ensinou a quebrar as regras e deixar as tradições e convenções um pouquinho de lado. Então… vocês aceitam?  

Antes de responder qualquer coisa, Elisabeta puxou Jane para um abraço apertado.

— Eu amo tanto você, Jane. Tanto! Eu raramente fico sem palavras, mas não consigo encontrar nenhuma pra te dizer o quanto sou feliz por ter você na minha vida. — Elisabeta se levantou e olhou para Camilo. — E você se tornou um verdadeiro irmão para mim. Mas...

Quando Elisabeta disse a última palavra, o coração de Darcy se afundou em seu peito, esperando por sua negação.

Ela caminhou em sua direção.

— Antes de responder, preciso saber algo. O que você diz, Darcy? — Ela perguntou, voltando a dar-lhe esperanças. — Você aceita ser meu parceiro nesta jornada?

E então ela estendeu a mão para ele, como se estivessem prestes a fechar um acordo. Ele se sentiu grato por Elisabeta permiti-lo fazer parte daquele momento tão especial.

Darcy não conseguiu ignorar a emoção dos olhos dela, tampouco a onda de felicidade que o inundou.

Por isso, ele pegou sua mão e apertou-a, mas mais que isso...

Ele a puxou para um abraço.

Embora tenha pegado Elisabeta desprevenida, logo após proferir uma exclamação de surpresa, ela começou a rir e envolveu seus braços ao redor do pescoço de Darcy.

— Será um prazer. — ele disse, e depositou um beijo em sua bochecha, sentindo seu cheiro e a maciez de sua pele.

— Bom… — Jane os interrompeu com uma expressão perplexa, fazendo os dois se afastarem de repente. Ela se aproximou de Elisabeta e lhe entregou a caixinha de veludo, que havia um bracelete de presente.

Elisabeta se encantou com a jóia e a colocou no braço no mesmo momento com a ajuda de Darcy.

— O que vocês acham de deixarmos o chá para outro dia e fazermos uma pequena comemoração? Temos champagne. — Jane sugeriu.

— Mas você não pode beber… — Elisabeta falou.

— Eu nunca gostei muito de álcool. — Jane explicou. — Mas vou tomar suco de uva, como se fosse um bom vinho.

— Então acho que devíamos te acompanhar ao menos na aparência e tomar vinho em vez de champagne, se os cavalheiros estiverem de acordo.

Camilo assentiu.

— Eu acompanharei minha esposa no suco, mas faço questão que vocês experimentem um dos vinhos que eu trouxe de São Paulo na última vez que fui lá. Foram produzidos no sul, numa vinícola cujos donos são amigos da minha mãe.

Darcy e Camilo saíram para buscar o vinho que estava na sala de jantar e Jane foi até a cozinha pegar uma tábua de frios que havia preparado. Levou-a para a mesinha de centro da sala e se sentou num sofá com Camilo. Elisabeta se sentou sozinha em outro, e Darcy em uma poltrona localizada na sua diagonal.

Jane perguntou à irmã como estava o andamento de seu livro, e quando Elisabeta contou que conseguiu o contato de responsáveis pela Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, que lhe enviaram diversos materiais que estavam sendo bastante úteis, ela se empolgou ao revelar que estava avançando na escrita com bastante fluidez. Darcy, que sabia superficialmente sobre o trabalho que Elisabeta estava desenvolvendo, demonstrou seu interesse em conhecê-lo melhor.

Elisabeta explicou que pretendia reunir num livro uma breve e inspiradora biografia de diversas mulheres, tanto as que foram importantes para a história do País quanto as que desafiaram as convenções e limitações impostas pela época e sociedade na qual viviam e seguiram seus próprios sonhos. Darcy perguntou sobre alguns detalhes e, quando ela contou sobre o capítulo no qual estava trabalhando, que se tratava das primeiras mulheres a frequentarem universidades ao redor do mundo — ela o escrevia como uma forma de incentivo às brasileiras que tinham vontade de estudar em Universidades nacionais, que ainda não admitiam suas presenças —, Darcy mal pôde conter o orgulho que iluminou seu rosto quando ele contou que sua irmã Charlotte fazia parte da primeira leva de garotas a frequentarem a Universidade de Oxford.

Elisabeta se encantou ao ouvi-lo, pois nunca tinha conhecido nenhuma mulher que de fato havia se formado no ensino superior. Darcy prometeu dar a ela o endereço e telefone de sua irmã para que ambas pudessem se comunicar, pois Charlotte certamente ficaria empolgada e poderia ajudá-la em seu livro.  

Assim, diversos assuntos surgiram. Os dois se conheciam há tanto tempo, e ainda assim não sabiam quem o outro realmente era. Apesar de Camilo e Jane estarem presentes e participarem da conversa, Elisabeta e Darcy estavam no centro da atenção um do outro.

Ele perguntou a ela sobre suas aspirações profissionais.

Ela quis saber sobre o trabalho dele nas empresas de sua família.

Ele falou sobre como foi estudar em Cambridge.

Ela revelou o quanto era grata pelo empenho de seu pai em educá-la.

Ele contou sobre sua paixão por viajar.

Ela sonhou com as viagens que queria fazer.

Os dois falaram sobre suas próprias histórias e sobre desejos, medos, dúvidas.  

Sem que percebessem, uma garrafa de vinho se transformou em duas e, por fim, em três.

— Eu assisti Huckleberry Finn também. — Elisabeta disse quando o assunto chegou a filmes. — E aquele outro que conta a história de uma garotinha que…

Ela parou de falar quando percebeu que Jane cochichou algo no ouvido de Camilo, olhou de Darcy para Elisabeta e riu.

— O que foi? — Elisabeta perguntou à irmã, que corou fortemente.

— Nada.

Elisabeta semicerrou os olhos.

— Jane Benedito Bittencourt, eu te conheço muito bem. O que é tão engraçado?

— Nada mesmo, Elisa. Está calor aqui, não? Vou buscar um pouquinho de água. — Jane disse e se levantou.

— Vou junto com você. — Camilo afirmou e os dois saíram da sala apressadamente.

Elisabeta não costumava beber com frequência, mas quando o fazia, não demorava tanto para que ela ficasse um pouco alterada. Por isso, passou tempo demais tentando chegar a uma conclusão em relação ao que acabara de acontecer, mas não conseguiu entender nada.

O que Jane poderia ter dito a Camilo sobre ela e Darcy que era tão engraçado?

— O que foi que acabou de acontecer aqui? — Elisabeta perguntou a Darcy.

Ele deu de ombros.

— Também não sei.

Elisabeta assentiu e olhou para o relógio da sala. Já marcava 22h37.

— Bom, preciso ir embora. — Ela disse e se levantou, perdendo parcialmente o equilíbrio. Darcy percebeu e no mesmo instante se levantou, apoiando-a pela cintura.

Ficando perto demais dela.

Ela conseguia até mesmo sentir a respiração dele a poucos centímetros.  

Não havia mais nenhuma chance de ela se desestabilizar e cair, pois já tinha firmado seus pés no chão e diversos segundos já haviam se passado.

E mesmo assim…

Foi praticamente um instinto ela apoiar uma de mãos num ombro de Darcy, próximo a seu pescoço.

 

~~~~~

 

É incrível como, apenas com base em disposição, é possível conhecer uma pessoa em questão de minutos.

Era precisamente isso que Darcy pensava naquele momento, pois, embora não ousasse dizer que conhecia a alma de Elisabeta — afinal ela o surpreendia com cada palavra que proferia, e ele suspeitava que isso nunca deixaria de acontecer —, de alguma forma conhecia todas as emoções que atravessavam a mente e o coração dela simplesmente por analisar seu rosto.

Quando falava sobre algo que a deixava triste ou decepcionada, ela franzia o cantinho de seus lábios.

Quando estava feliz ou achava algo divertido, seu sorriso não era nada contido.

Quando estava em dúvida, pequenas rugas surgiam em sua testa.

Quando alguém a provocava, ela revirava os olhos.

E quando não sabia o que pensar, como se sentir e o que fazer, um intenso brilho surgia em seus olhos e seus lábios se entreabriam parcialmente.

Exatamente como agora.

Deus, ele devia ser um reflexo dos sentimentos dela, pois também não entendia o que estava acontecendo. E talvez teria desistido de tentar descobrir e apenas teria pressionado um pouco mais a cintura dela se os dois continuassem naquela posição por alguns segundos a mais.  

Mas não foi possível, pois Elisabeta se afastou.

— Eu deveria ter bebido menos. O vinho já começou a afetar meus sentidos. — Ela afirmou.

Darcy não disse nada. No mesmo instante, Camilo e Jane voltaram para a sala e Elisabeta pegou sua bolsa ao dizer:

— Jane, está muito tarde. Já vou embora, mas podemos almoçar juntas amanhã?

Jane aceitou o convite, mas demonstrou sua preocupação:

— Elisa, você deveria dormir aqui. Você bebeu demais, não acha?

Elisabeta olhou para Darcy e respirou fundo.

— Acho. — Ela voltou a atenção para  a irmã. — Mas Austen sempre dorme do lado da minha cama. Se ele sentir minha falta, talvez comece a chorar e não deixe ninguém lá em casa dormir.

— Eu levo você, então. — Camilo disse e pegou as chaves de seu carro. — Você vai dormir aqui, Darcy?

Ele negou.

— Vou para minha casa.

— Você veio de carro? — Jane perguntou.

— Sim.

Camilo colocou as próprias chaves sobre a mesinha novamente.

— Então eu levo vocês dois no seu carro. Não acho prudente você dirigir neste estado.

Darcy tentou protestar, mas desistiu de fazê-lo ao ouvir as duas Benedito insistirem para ele aceitar a sugestão de Camilo. Após se despedirem de Jane, Darcy e Elisabeta caminharam para o carro e se sentaram no banco de trás.

No caminho, Elisabeta bocejou duas vezes e Darcy sorriu ao observá-la, se lembrando que já a havia visto fazer isto outras vezes. Elisabeta pareceu saber o que ele estava pensando, porque disse:

— Desta vez eu não vou dormir.

— Se você quiser descansar seus olhos... — Darcy fez alusão às palavras que ela usou no dia anterior.

Elisabeta fitou-o, divertida.

— Você é muito insistente. — E então ela fechou os olhos.

Camilo, que estava alheio à conversa, começou a falar algo, mas Darcy o interrompeu, demandante:

— Fique quieto.

Camilo encarou o retrovisor e viu Elisabeta de olhos fechados, entendendo o recado. Depois de alguns minutos, Darcy olhou para Elisabeta e ele não soube dizer se ela realmente havia dormido, mas de repente sua cabeça começou a se mover para o lado.

Em direção a Darcy.

Até repousar em seu ombro.

Depois ela suspirou.

E Darcy fez o mesmo, mas somente quando seu coração parou de bater de maneira descompassada.  




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