You're Driving Me Crazy! escrita por liz doolittle


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771641/chapter/5

 Quando Darcy percebeu que o incidente com Austen ocasionou um ferimento em Elisabeta, ele segurou firmemente o cachorro em seus braços e tirou o carro da estrada, levando-o para o acostamento, e então colocou Austen  no banco traseiro.

— Elisabeta? — Darcy perguntou com preocupação em sua voz.

Ela não havia dito nada além de proferir exclamações de dor.

— Eu… Eu estou bem. — Elisabeta afirmou, um pouco atordoada.

Darcy discordou:

— Você precisa de cuidados urgentemente. Vamos para o hospital.

— Darcy, não precisa! Foi só um susto. — Elisabeta tentou acalmá-lo.

— Não, acho que seu ferimento é mais grave do que aparenta. — Darcy começou a abrir a porta de seu carro. — Já volto. Eu tenho uma caixa de primeiros socorros no porta-malas.

Darcy saiu do automóvel e, quando voltou com a caixa a qual se referia, começou a abri-la rapidamente, tirando de dentro os materiais necessários.

— Ei, calma. — Elisabeta segurou seu braço. Ao perceber o quanto sua movimentação fez sua cabeça doer, ela apertou-o e fechou os olhos por um momento e depois disse: — Pode fazer isso sem pressa, porque não é necessário ir pro hospital.

— Elisabeta, realmente precisamos. Olha…

Darcy ia começar a mover sua mão para apontar para o ferimento de Elisabeta, mas antes olhou para baixo e viu a dela segurando seu braço. Ele não sabia se o gesto significava busca por conforto num momento de dor, mas ele não soube como interromper o contato. Faria qualquer coisa para minimizar seu sofrimento, mas como cuidar do ferimento era primordial…

Ele moveu seu braço para que sua mão tocasse a dela e apertou-a para alentá-la. Elisabeta levantou seu rosto para ele e por um momento tudo que Darcy pôde ver foi a cor seus olhos.

Foi Austen quem interrompeu aquele momento, pois se movimentou no banco de trás e latiu. Aparentemente o cachorro de Elisabeta era ciumento e Darcy não o julgava por isso.

Elisabeta se soltou dele e apontou para a caixa:

— O quê você tem aí?

Darcy respirou fundo antes de responder:

— Vejamos... — Darcy pegou o soro fisiológico e molhou algumas gazes, mas antes de limpar os ferimentos de Elisabeta, ele pediu sua permissão: — Posso?

O canto da boca de Elisabeta se curvou em um sorriso.

— Bem que eu queria chegar ao Vale parecendo a estrela de um filme de terror. — Ela disse e apontou para sua testa machucada. — Mas sim, pode.

Darcy riu e começou a limpar ao redor do ferimento.

— Imagina a reação de Ofélia se te visse assim?

— Eu acho que mamãe desmaiaria por qualquer motivo, menos por me ver assim. — Elisabeta gargalhou e depois soltou um gritinho de dor quando Darcy encostou no ferimento.

— Me desculpe.

— Sem problemas. — ela fez um gesto com a mão indicando que estava bem e depois disse: — Mariana e eu aprontávamos de todas as maneiras possíveis quando éramos crianças. Mamãe diz que temos sorte de estarmos inteiras.

— Ofélia já me contou alguns casos. — Darcy começou a limpar ao redor dos olhos de Elisabeta e ela os fechou. —  Tive compaixão pelos pobres nervos dela pela vez que vocês sumiram por uma noite inteira sem avisar, porque foram assistir uma corrida de motocicletas sem que ninguém soubesse.

Ela voltou a fitá-lo e começou a falar animadamente:

— Ah, esse dia foi maravilhoso! Exceto pela parte que meus pais quase morreram de preocupação, é claro. Nós só percebemos o que havíamos feito quando o dia começou a clarear, porque, quando a corrida acabou, fomos para a oficina do Luccino e ficamos conversando durante horas que pareceram minutos. Mariana estava extasiada, e eu acho que naquele dia ela descobriu duas coisas. — Elisabeta refletiu.

Darcy colocou um pequeno curativo sobre o ferimento na testa de Elisabeta e analisou o rosto dela para se certificar que tirou todo o sangue que havia escorrido.

— E então? — Ela perguntou.

— A senhorita teve sorte. Eu acho que você não precisará levar nenhum ponto, mas ainda assim precisamos ir a um médico para ter certeza, afinal o acidente foi muito sério.

Muito sério? — Ela perguntou, divertida, pois seu diagnóstico divergia do dele.

Muito sério. Você devia ver seu rosto. — Darcy respondeu.

— Meu rosto? O que tem ele? — Elisabeta tocou a própria bochecha.

Darcy a olhou atentamente.

Para começar… é lindo, ele pensou. Mas isso não vinha ao caso, então ele pulou para o segundo lugar:

— Bom… — Darcy levou sua mão para a têmpora dela, ao lado do ferimento. — Tem algumas partes arroxeadas.

A intenção de Darcy nunca foi acariciá-la, mas mesmo assim ele manteve seu dedo ali por alguns segundos.

E o ar dentro do carro pareceu insuficiente.

— Eu acho que talvez você tenha um pouco de razão. — Elisabeta suspirou e se afastou sutilmente. — Minha cabeça está doendo. Mas… — Ela disse antes que ele começasse a se preocupar. — … é uma daquelas dores chatinhas que passam rapidamente depois de alguns minutos.  

— Está decidido, vamos para um hospital. — Darcy começou a fechar a caixa de primeiros socorros.

— Não, não precisa.

— Sim, precisa. — Darcy afirmou enfaticamente.

— Não precisa, Darcy. — Elisabeta tinha ainda mais segurança na sua voz.

— Sim, precisa, Elisabeta. — Darcy disse e saiu do carro para guardar a caixa no porta-malas.

— Vamos fazer um acordo, então. — Elisabeta propôs quando ele voltou e começou a dirigir. — Vamos para o Vale do Café, e lá eu faço uma consulta com Rômulo. Eu ainda acho que é desnecessário, mas já que você é teimoso...

— Teimoso, eu?

— Sim.

— E você não?

— Sou apenas sensata. — Elisabeta respondeu de modo angelical.

— Discordo.

— Exatamente como uma pessoa teimosa faria. — Elisabeta deu de ombros.

Darcy a olhou e percebeu que ela estava sorrindo por ter atingido seu propósito de provocá-lo.  

— Ok, senhorita. Temos um acordo.

Elisabeta assentiu e começou a observar a paisagem, deixando Darcy a sós com seus próprios pensamentos. Se alguém tivesse dito há uma semana o quanto Elisabeta era uma companhia agradável, provavelmente ele não teria duvidado, mas responderia que aquela era uma questão de perspectiva: a pessoa e Elisabeta teriam mais coisas em comum e mais disposição para manter uma amizade.

Mas, Darcy admitiu para si mesmo, talvez Elisabeta e ele não fossem tão opostos quanto ele supunha. Ele não sabia dizer exatamente quando e como o gelo entre ambos fora quebrado, porém não tinha sido difícil — ao menos ele achava que não, e por isso começou a se perguntar se ela ainda tinha opiniões ruins em relação a seu caráter, pois se sim…

Precisaria fazer algo a respeito.

— Elisabeta, você acha que… — Ele pigarreou enquanto procurava as palavras. — Acha que podemos ser amigos?

 

~~~~~

 

Amigos.

Elisabeta se surpreendeu pela pergunta de Darcy, pois jamais imaginaria que ele seria tão direto.

— Eu acho que… sim? — Elisabeta disse, incerta de sua resposta.

Ela não sabia se amizade era algo que se pedia, mas, de certa forma, era um status que os dois pareciam estar alcançando aos poucos.

Darcy não falou mais nada em relação ao assunto e apenas voltou a conversar depois de alguns minutos:

— Mais cedo você estava me contando que no dia em que você e Mariana foram assistir a corrida de motocicletas, ela descobriu duas coisas. — Darcy lembrou.

— Ah, sim! Eu já estava me esquecendo. Eu sinto que Mariana mudou aquele dia, como se algo tivesse despertado dentro dela. Sabe quando você se depara com algo na sua frente que te faz pensar: “tudo que vivi até hoje foi para chegar exatamente aqui, pois agora eu sei para onde ir”?

— Eu entendo o que quer dizer, mas não tenho certeza se já aconteceu comigo.

Elisabeta sorriu em cumplicidade.

— Nem comigo. Mas para Mariana foi assim quando ela viu Brandão correndo. Foi naquele dia que ela percebeu o amor que sentia por ele e de brinde ganhou a paixão pelo esporte.

Darcy desviou a atenção da estrada por um segundo para fitá-la.

— Com você isso ainda não aconteceu? — Darcy se ateve à primeira fala dela. — Eu tinha a impressão de que você sempre esteve certa do que quer da vida.

— Sim e não. — Ela confidenciou. — Digamos que já tracei boa parte do caminho que quero seguir, mas não sei exatamente onde quero chegar. 

— Você se refere à sua carreira?

— E ao meu sonho de percorrer o mundo.

— Você sente que, fazendo isso, vai encontrar o seu lugar no mundo? O lugar que vai despertar em você uma sensação de pertencimento? — Darcy perguntou.

Elisabeta se virou para ele e sua expressão era confusa, pois ela estava se perguntando se ele a entendia por querer o mesmo.

— Sim, exatamente.

— Eu tenho feito a mesma busca. — Ele revelou. — Ou melhor, eu vinha fazendo antes de me mudar pro Brasil.

— Você costumava viajar muito? — Elisabeta se sentia curiosa.

— Bastante.  Depois vou te contar sobre os lugares que visitei. — Darcy prometeu.

Elisabeta arqueou as sobrancelhas.

— E ainda não encontrou seu lugar? Tsc, tsc, tsc. Você é muito exigente, sr. Darcy.

Ele sorriu de maneira tão jovial que o coração de Elisabeta pulou diversas batidas. Ah, se ele soubesse quanto seu sorriso era lindo.

— É muito difícil encontrar o fim do arco-íris. — Ele disse, fazendo-a voltar a prestar atenção na conversa. —  Vou esperar você terminar sua busca para me contar onde fica.

— Para você ir até lá nublar o meu céu azul? — ela arqueou as sobrancelhas.

— Só se você quiser.

A resposta de Elisabeta foi um bocejo misturando com riso, pois o friozinho da estrada sempre fazia ela se sentir um pouco preguiçosa. Ela olhou para trás e, quando se certificou que Austen estava tranquilamente deitado no banco, perguntou:

— Você se importa se eu fechar meus olhos por um momento? Não vou dormir, só ficar quietinha aqui. Podemos continuar conversando.

— Fique à vontade. — Darcy respondeu.

Dois minutos depois, ela adormeceu.

E não viu quando Darcy parou o carro novamente para pegar um cobertor para cobri-la.

 

Os dois chegaram ao Vale após algumas horas de viagem e foram diretamente ao consultório de Rômulo, que fez nela um curativo mais profissional e confirmou que o ferimento não foi profundo. Quando ele fez esta afirmação, Elisabeta pensou que, se estivesse em outra situação, ela teria caçoado de Darcy e perguntado retoricamente “eu não disse?”. No entanto, nas últimas horas Darcy se mostrou tão preocupado com ela que isso a comoveu. Por isso, a única coisa que ela pôde dizer a ele foram palavras de agradecimento por seus cuidados.

E também…

Será que era muito cedo para dizer que ela estava grata por se sentir mais leve consigo mesma quando pensava nele? Porque todos aqueles maus sentimentos que ela nutriu por ele por tantos meses… Bom, agora pareciam ter ficado no passado.

Quando chegaram à casa de Elisabeta, não havia ninguém além de Nicoletta, sua vizinha que agora trabalhava para os Benedito. Darcy se ofereceu para lhe fazer companhia, mas, apesar de ter se sentido tentada a aceitar sua oferta, ela optou pelo bom senso e disse que não era necessário, pois ambos precisavam descansar da viagem. Ele desejou a ela uma boa recuperação e ela o agradeceu pela carona e por ter sido um bom enfermeiro, e assim os dois se despediram.

Não demorou mais que meia hora para que os pais de Elisabeta chegassem em casa, e logo depois dos abraços demorados e saudosos, Felisberto lhe perguntou:

— Que ferimento é este na sua testa, minha filha? Foi algo sério?

Elisabeta negou.

— Não se preocupe, papai. Só uma pessoa louca diria que foi sério.

E ela sorriu ao pensar que esta pessoa louca era, de hoje em diante, seu amigo.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You're Driving Me Crazy!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.