Narração Brunna

Acordei sentindo pequenas alfinetadas no meu cérebro, criando uma dor de cabeça. Era quase como se eu estivesse de ressaca, mesmo com toda a certeza que não tinha bebido desde... um ano atrás.

Bem, talvez fosse só estresse. Foram dias estressantes, afinal. Contando o sumiço de Sarah, a prisão de Nikki, a batalha do festival e ainda por cima a decisão recente que Sofie fez de se casar com Robert...

Pensando nisso, não pude deixar de pensar no que diabos ela estava pensando. Robert era um homem odioso, simplesmente. Não parecia ser uma decisão sensata querer se casar com ele.

Rapidamente me questionei o que havia acontecido com a mulher que eu um dia considerara tão inteligente.

Me sentei na cama, desconfortável com o rumo que meus pensamentos estavam tomando. Olhei pro lado, procurando uma fonte de calmaria. No lugar, encontrei Ruki quase acordando.

Sim, estávamos oficialmente juntos á pouco tempo. Mas isso nunca foi impedimento pra nós dividirmos a mesma cama, correto? Quer dizer, acho que Lua e Subaru estavam namorando a mais tempo que nós dois, mas eles ainda dormem cada um em seu devido quarto...

Tanto faz, eu e Ruki somos um casal mais maduro, pelo menos.

Percebendo que ele estava realmente muito perto de acordar, resolvi me levantar pra me arrumar pro dia que viria: um baile de máscaras. Uau. E eu que achava que essas coisas só aconteciam em livros de época que eu lia.

Assim que pus os pés no chão, usei o lençol da cama pra cobrir meu corpo nu, o enrolando ao redor do meu tronco. Senti os olhos de Ruki em mim, e vi que ele havia finalmente despertado, já com um sorriso no rosto:

—De todos seus vestidos, esse é o meu favorito.

Fiquei levemente vermelha. Caramba, a primeira coisa que ele falou no dia inteiro pra mim foi uma cantada. Não sei como eu deveria me sentir com isso.

—Achava que você me preferia sem os meus vestidos.- Eu retruquei, orgulhosa de arranjar uma resposta tão rápido. Fui até o banheiro, deixando a porta aberta e me olhando no espelho.

Me questionei rapidamente se o que eu tinha na cabeça era um ninho de passarinhos amarelo ou só meu cabelo mesmo.

Lavei o rosto, e quando eu olhei pra trás, me dei de cara com Ruki se levantando da cama.

Ruki não era lá musculoso, eu tinha que admitir. Obviamente, não era um super magricela. Era um meio termo agradável. Mas ele era um homem extremamente bonito. Ia ser orgulho meu falar o contrário.

Daquela posição, eu conseguia ver suas costas exuberantes e pálidas. Nelas, duas grandes cicatrizes horizontais marcavam sua pele, e eu me peguei franzindo a testa.

Claro, eu já havia notado elas antes. Não sou tão burra assim. Mas apesar de tudo, eu ainda não sentia que tinha intimidade o suficiente com Ruki pra perguntar sobre as cicatrizes.

Se meu período de estadia com aqueles vampiros tivesse me provado alguma coisa, é que o ego deles era frágil que nem caco de vidro. E eu gostava demais de Ruki pra fazer alguma burrada que pudesse me custar o que nós tínhamos juntos.

—Você realmente gosta de encarar as pessoas assim?- Me despertei quando vi Ruki olhando pra mim.

—Hm?- Arregalei os olhos- Ah, não. Só encaro você mesmo. Para de reclamar.

Ruki em dois segundos estava perto de mim, e eu segurei a respiração. Ele depositou um beijo na minha mão, antes de morder meu dedo, o colocando logo depois em sua boca e sugando o sangue.

Não fiz caretas ou reclamei. Na verdade, quase não senti dor. Eu já tinha algumas boas marcas cicatrizadas de mordidas pelo meu corpo inteiro que me provavam que é possível se acostumar com uma pequena tortura daquelas. E até gostar, dependendo da hora.

—Posso contar com a sua presença como minha parceira no baile?- Ruki disse, sua boca finalmente se afastando de minha mão e começando a passar os dedos esguios pelo meu rosto.

—Ah. Sim, claro.- Respondi. Não tinha muita outra opção afinal. Eu queria bem mais ficar lendo no quarto, mas isso era fora de questão.- Eu e as meninas vamos nos arrumar juntas. Você sabe como é então. Vamos demorar duzentos séculos, então podem ir descendo antes.

—Uhum.- Ruki pareceu não ter prestado muita atenção, mas se esgueirou pra me dar um selinho.

Desviei, fazendo o beijo acabar na bochecha. Quando ele me olhou confuso, respondi:

—Essas coisas de beijar na boca logo depois de acordar e antes de escovar dente só funciona em comédia romântica, cara.

Ruki pareceu entender, e saiu do banheiro pra me dar privacidade e trocar de roupa.

Tomei uma ducha fria, e quando fui até o quarto ele já havia descido. Separei um vestido largo e confortável qualquer pra eu usar, e quando eu estava quase terminando de me trocar, a porta se abriu.

—EI!- Eu gritei, terminando de passar o vestido pelo meu tronco- PRIVACIDADE NÃO EXISTE AQUI, HEIN?

Era Ayato.

É claro.

—Ah, o Ruki desceu então imaginei que podia entrar, já que vocês com certeza não estavam transando.- Ayato retrucou meio com raiva.

Segurei a risada:

—E o único momento particular que eu posso ter é quando eu estiver transando com o meu namorado?

Ayato arregalou os olhos com a realização, e eu revirei os meus:

—Esquece, você já entrou aqui mesmo. O que foi?

—Só queria saber se você viu a Sofie.

—Eu sei lá.- Dei de ombros.

—Você é a melhor amiga dela!- Ayato brigou.

—Você dorme todo dia na cama dela!- Eu retruquei.

—Não dormi ontem.- Ele bufou- Até eu tenho morais o suficiente pra não dormir com uma mulher comprometida.

—Meu Deus, você tá com cíume.- Eu dei uma risada.

—O que foi que disse?

—Nada.

—Tem uma encomenda pra ela também, eu acho.- Ayato disse- Um bolo de chocolate.

—Quem mandou?- Questionei.

—Ah, tá nome anônimo.- o Sakamaki bufou- As meninas tão lá em baixo berrando achando que ela tem um admirador secreto.

—Sofie? Admirador secreto?- Não acreditava muito naquilo. Sofie não era nem sociável com quem não precisava ser. Era por isso que ela era minha melhor amiga- Tem certeza?

Ayato revirou os olhos:

—Sei lá. Não importa. Então tchau.

Ele fechou a porta.

Cerrei o cenho.

Ayato já era possessivo de natureza, isso eu já sabia.

Mas agora ele estava irritante.

Ano passado, quando eu fingi que namorava Sofie, era engraçado ver ele roxo de cíumes. Agora ele só tá fingindo que não se importa quando claramente gosta demais da garota e está com raiva dela ter se noivado de um homem que não é ele.

Me pergunto se isso causaria problemas no baile de hoje á noite.

E a resposta, obviamente, era sim.

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—Acho uma coisa tão chique, baile de máscara.- Lua disse meio baixo, tomando cuidado pra não se mexer e acabar borrando o delineado que Victoria tentava fazer nela.

—Não é?- Daayene bateu algumas palminhas- Eu achava que isso era coisa de filme de época, mas olha só pra gente!

Daayene deu um girinho. Ela usava um vestido longo. A cauda, além de leve e um pouco esvoaçante, era num tom de rosa claro. O corpete, porém, era negro com alguns detalhes de pedra, além de ser tomara-que-caia.

—Sem querer ser babaquinha, mas vocês deviam abaixar as expectativas de vocês.- Marie retrucou, ajeitando o grande totó que seu cabelo havia formado- Com o noivado da Sofie sendo oficialmente declarado hoje, sabe-se-lá o que vai acontecer.

—Não acredito até agora que vocês apoiaram essa decisão idiota- Priya revirou os olhos- Ele é... sei lá... três vezes mais velho que a Sofie, talvez até mais! E é um babaca!

—Opa, pera lá!- Victoria se desviou de Lua por um segundo- Não apoiamos nada! Só que Sofie já é maior de idade a bastante tempo e já pode fazer suas próprias decisões de vida, infelizmente. Eu, por exemplo, com 18 anos estava chegando na Mansão Sakamaki.

—E casou com 19.- Anna analisou- Perceberam que é a mesma idade que a Sofie tem agora?

—É a maldição dos 19 anos na nossa família.- Lua pareceu chocada- Caramba, será que alguém vai morrer quando eu chegar aos dezenove?

—Que papo horrível.- Eu opinei.

—Concordo.- Daayene fez beicinho.

—Então vamos mudar de assunto- Marie se levantou da cama- Acham que as Creedley vão estar lá?

Marie estava usando um vestido longo todo bege. A saia era um pouco leve, apesar de ter várias camadas. A parte de cima tinha as mangas deslizando pelos ombros nus, além de um decote avantajado e alguns detalhes de pedras pequenas e grandes espalhadas.

—Eu espero que não.- Priya respondeu simplesmente- Sempre quando elas vão pra eventos, acontece uma coisa ruim.

—Sempre quando a gente vai em eventos dá ruim.- Eu corrigi minha irmã, que deu de ombros:

—Dá na mesma.

Priya, apesar de baixa, parecia uma princesa dessa vez, usando um vestido curto até seus joelhos. Tomara que caia, todo branco com o corpete preto e rendado, além de outros detalhes de renda preta descendo pela sua saia. A parte de trás tinha as cordas de um corselet, perfeitamente apertados e ajeitados para seu corpo. Combinando com sua roupa de baile, ela usava uma gargantilha preta.

—Elas não foram no casamento da Lilith?- Lua perguntou, e Victoria reclamou baixo sobre ela se mexer- Não aconteceu nada de ruim lá!
—Fale por você mesma, irmã.- Marie bufou, e todas nós olhamos curiosas pra ela- Ah, o KarlHeinz deu em cima de mim.

—SÉRIO?- Victoria berrou- Pera, como foi isso? Melhor ainda, não me fala. Não quero saber do meu sogro dando em cima da minha irmã. Isso é bizarro. Você é tipo família dele.

—Isso nunca impediu o KarlHeinz de nada, né?- Daayene deu de ombros, e eu olhei confusa pra ela- O Subaru é filho do rei com a prima dele, não sabia?

—Se eu sabia não lembrava.- Opinei.

—O KarlHeinz pode ter nove ou dez filhos e eu não estaria surpresa- Lua respondeu, sinceramente- Ai! Estou quieta!

Lua usava um vestido curto, pouco acima dos joelhos. Era bege, porém decorado com desenhos e bordados de flores. As mangas e a parte do decote eram translúcidas, com algumas bolinhas de detalhe.

Já Victoria, concentradíssima pra não sujar seu vestido de maquiagem, usava um vestido longo e um pouco bufante, num rosa meio pêssego. Uma fita amarrada em sua cintura em forma de laço, além de um decote avantajado e ombros nus. As mangas eram bufantes e translúcidas, num tom meio marrom. Seu cabelo estava preso numa trança, que descia pelas suas costas.

—Mas por que o KarlHeinz daria em cima da Marie?- Anna pensou em voz alta- Não faz nem sentido...

—Talvez ele só quisesse estressar o Laito. Ele tava do meu lado na hora.- Marie respondeu.

—KarlHeinz pode ser um homem bem nojentinho e estressante, mas ele é inteligente.- Anna retrucou- Será que tem algo a ver com...

—Eve?- Todas nós sugerimos ao mesmo tempo.

—Nem sabemos o que é isso direito- Eu continuei.

—Achei que esse assunto tinha ficado no ano passado- Priya cerrou as sobrancelhas.

—Isso porque não tivemos tempo de investigar mais esse ano.- Victoria respondeu- Eu ainda queria muito saber o que é isso, sabe...

Anna se levantou, ela usava um vestido longo e simples azul-claro. As mangas eram longas, e o decote era discreto. Além das vestes, ela usava um pequeno detalhe translúcido azulado como se fosse uma segunda manga.

—Brunna.- Anna me chamou- Talvez você pudesse falar com o Ruki sobre isso. Você namora com ele, né?

—A...hã...-Eu hesitei- Mas eu não quero acabar com nosso relacionamento por causa de perguntas bobas.

—Ele sequestrou a gente, acho que nós temos o direito de saber qual o grande plano dele, já que agora ele está do nosso lado.- Lua opinou- Eu acho, pelo menos.

—Eu verei o que posso fazer.- Respondi.

—E... prontinho!- Victoria acabou de fazer a maquiagem em Lua- Estamos prontas? Vamos?

Todas concordamos e aos poucos fomos saindo do quarto. Antes de eu sair, me olhei num espelho de corpo. Eu usava um vestido curto, pouco acima dos joelhos. A saia era leve e esvoaçante como um tutu, e o vestido era todo azul claro e decorado com bordados de flores rosas e brancas. Perfeito.

Descemos as escadas juntas, e eu me senti num conto de fadas, por mais clichê que fosse. Lá estava eu, com as minhas melhores amigas, descendo com vestidos longos na direção de um baile.

Alguns degraus antes do salão, um homem nos entregou máscaras que combinavam com nossas roupas. As colocamos no rosto sem muita dificuldade e continuamos descendo, até finalmente chegarmos ao enorme salão de festas. Cheio de pessoas, bebidas e comidinhas, a elegância do lugar era de sorrir.

As meninas logo foram se separando. Victoria arrastou Marie pra procurar Reijii, Lua logo achou seu namorado e foi ao encontro dele. Enquanto isso, minhas irmãs pareciam interessadas demais no buffet chique do baile.

Eu observei os arredores, mesmerizada pela beleza do salão naquele dia. Talvez pudesse servir de inspiração pra um conto ou um poema mais tarde.

Andando pelo baile, quase não notei quando quase bati com duas das irmãs Creedley.

—Já está se divertindo?- Eliza deu um pequeno sorriso. Seu cabelo estava atualmente preto e curto, e os olhos num belo tom de marrom claro. Ela usava um vestido longo, todo rosa e cheio de detalhes de rosas e galhos e pregas. Uma fita cor-de-rosa-claro destacava sua cintura, e as mangas estavam quase todas caídas pelos seus ombros, fazendo parecer com que o vestido fosse um tomara-que-caia.

—Ahã.- Eu concordei com a cabeça, pegando um suco de tomate que um dos garçons estava oferecendo- Aproveitando o baile enquanto nada de ruim acontece.

—Devia fazer isso mesmo.- Cousie estava uma verdadeira rainha. Usando um vestido que chegava a arrastar no chão verde escuro, todo desenhado e até um pouco brilhante. Algumas partes eram um pouco transparentes, mas ela não esbanjava nenhum decote. Uma fita preta enrolava sua cintura.- Soube que nem KarlHeinz nem a família Rosemary apareceram ainda.

—Vocês acham que o noivado da Sofie vai dar briga?- Questionei.

—Considerando o pouco que vi das Herbert e dos Sakamaki, eu tenho certeza.- Cousie respondeu, tomando um gole da bebida em sua mão de maneira delicada.- Todo mundo está sabendo já da origem das Herbert.

Suspirei. Priya havia me contado.

—Não se sinta pressionada, talvez não aconteça nada...- Eliza tentou me consolar- Quer um drink?

—Não bebo, obrigada.- Sorri- Cadê a Haruka?

As duas acenaram com a cabeça pra irmã mais nova sentada num sofá, acompanhada de ninguém menos do que Mao Masa.

Me despedi educadamente das duas mulheres, antes de me aproximar do casal.

—EAÍ, BRUNNINHA!- Mao gritou de repente, assustando tanto a mim quanto a Haruka.

—Eaí...Mao...- Eu disse, não sendo capaz de esconder um sorriso alegre por ver o rapaz tão feliz como sempre- Se divertindo, vocês dois?

—Você não faz ideia.- Haruka revirou suavemente os olhos, mas deu um sorriso.

—Minha namorada é incrível!- Mao passou o braço ao redor dos ombros da Creedley- Sabia que, se ela quisesse, ela pode ferver o sangue de alguém?

—Não é tão fácil quanto ele diz.- Haruka o interrompeu.

Haruka estava absolutamente linda. Contrastando com sua aparência azul, ela usava um vestido vermelho longo, com uma longa racha na perna esquerda. As mangas eram longas, mas ela esbanjava um bom decote. O vestido parecia quase de veludo.

—Desculpa... Namorada?- Franzi o cenho- Não sabia que estavam juntos.

—Não faz tanto tempo assim.- Haruka explicou- Eu e Mao ficamos juntos naquela festa um dia e...

—E ela me pediu pra ser o namorado dela!- Mao deu um beijo estralado na bochecha dela.

—Não foi exatamente isso que aconteceu. Eu disse que estava com vontade de comer tacos, você disse que eu era a mulher da sua vida e eu disse “vamos namorar então.”- Haruka explicou, e eu segurei uma risada.

—E eu aceitei!- Mao estava tão feliz e levemente corado que era adorável de ver.

—Não precisa falar pros outros como se eu tivesse te pedido em casamento.- Haruka riu, nervosa e meio envergonhada.

Quem diria que por trás de tudo aquilo, Haruka tivesse um coração de verdade.

—Bem...isso foi inesperado.- Eu sorri- Mas estou feliz de verdade. Por vocês dois.

—Não fique feliz demais ainda, os outros dois melhores casais do universo estão chegando!- Mao comemorou.

Olhando pra trás, vi Jackson e Yui, além de Sol e uma menina que eu não conhecia.

—Você é vergonhoso.- Sol brigou- Começa a namorar a dois dias e já fica se achando o melhor namorado do mundo.

Sol estava usando um vestido azul claro que parecia muito confortável. As mangas eram largas e um pouco transparentes, e ela tinha um bom decote. O vestido, apesar de meio largo, era mais justo na cintura. Ela também tinha uma racha, só que na perna direita.

—Ele foi um namorado agradável nos dois dias que se passaram.- Haruka retrucou, e eu ri.

—Ah, eu aposto que foi.- Jackson sorriu- Você sabia que ele gostava da Nikki antes de você?

—TRAIÇÃO!- Mao brigou com seu melhor amigo.

—Tá de boas, eu não ligo.- Haruka suspirou- Ela tem namorado agora, e você tá comigo.

—Vocês parecem combinar bastante.- Yui deu uma risadinha fofa- Pelo menos agora ele vai parar de reclamar sobre estar solteiro sempre que nos vê.

Yui estava usando um vestido longo, porém que ainda deixava os pés á mostra. Não sabia ao certo se era um vestido branco com bege ou bege com branco, de tão bem que as cores se mesclavam. As mangas eram apertadas e estreitas. O corpete era cheio de desenhos, que desciam pela saia.

—Até você, Yuiyuizinha?- Mao parecia magoado.

Haruka deu uma batidinha no cabelo meio loiro de Mao:

—Relaxa, agora do meu lado você não vai ter que passar por esses podres mais.

—E isso, senhoras e senhores, é amor verdadeiro.- Eu brinquei.

—Enfim...- Sol pareceu envergonhada- Brunna, já que você está aqui... Eu queria te apresentar a Akira, minha namorada.

A menina ao lado de Sol era mais ou menos da altura dela, com poucas curvas e uma pele escura. Seus olhos eram castanho-claro e seus cabelos eram negros e curtos. Ela usava um vestido com um decote discreto, porém com mangas super descidas pelo braço. Com o corpete todo vermelho com pérolas e uma cintura apertada, o vestido tinha a saia branca embaixo de um tecido translúcido avermelhado, e percebi que estava analisando ela depois de bastante tempo:

—Ah, prazer te conhecer! Sou Brunna Hudison... Uma das... amigas da Sol.

—É. Ela me falou- Akira sorriu de forma doce- Estava bem ansiosa pra conhecer todos os amigos da Sol. Ela conhece pessoas... bem intensas.

—ROXANNE!— Mao começou a cantar- YOU DON’T HAVE TO PUT ON THE RED LIGHT...!

—Bro, sem The Police.- Jackson aconselhou- Ou qualquer música, no caso. Esse é um evento sério.

—Que música é essa?- Haruka questionou.

—Ah, uma música sobre um cara que se apaixona por uma prostituta.- Eu expliquei- Bem normal no Mundo Humano.

—THOSE DAYS ARE OVER!— Mao continuou- YOU DON’T HAVE TO SELL YOUR BODY TO THE NIGHT!

—Ele faz isso com costume?- Akira questionou.

—Ah, mais ou menos.- Sol deu de ombros.

—Agora que ele tem namorada, não precisa se preocupar em ter uma reputação.- Yui riu.

—Mao Masa, eu te adoro, mas se você cantar tão alto assim de novo eu serei obrigada a te expulsar- Lilith apareceu atrás do sofá, fazendo todos nós comemorarem. Akira e ela foram devidamente apresentadas, e então eu notei que Lilith estava de mãos dadas com a prima.

A mais velha usava(surpreendentemente) um vestido nos joelhos, e bem conservador. O corpete era preto e apertado, mas o decote e as mangas eram translúcidos e pretos. A saia era mais rodada e um pouco rosa embaixo de um tecido preto. Algumas rendas pretas desciam pela saia, enquanto a pequena Mun estava usando um vestido rodado lilás, com uma pequena fita rosa e branca na cintura..

—Oi, gente!- Mun acenou pra todos, parecendo mais confiante com seu cabelo curto novo.

—Não sabia que iam trazer a criança.- Haruka meio que reclamou.

—Bem... KarlHeinz convidou ela pro festival, então seria estranho se ele nunca visse sua tão proclamada filha.- Lilith deu de ombros.- E também... É minha primeira vez aparecendo depois do fiasco da minha lua-de-mel... E nenhum dos meus primos faz o favor de me ajudar.

—Não vi eles ainda.- Comentei.

—São formalmente obrigados a conversarem com outros convidados de honra.- Lilith explicou calmamente- Enfim, esse baile promete então... Eu vou indo.

Quando Lilith se afastou, Akira perguntou:

—Quem era ela e o que aconteceu na lua-de-mel dela?

—Eu te explico no caminho- Sol disse- Tenho que te apresentar pras outras meninas.

E com isso as duas foram embora.

Acabei me afastando também quando percebi que Haruka e Mao queriam o mínimo de privacidade, e Yui e Jackson foram pro jardim ficar em contato com a natureza.

Resolvi então procurar Ruki.

Narração Kanato

—Não tenho certeza que essa foi a ideia mais genial que você já teve.- Sarah brigou no meu ouvido, tentando ao máximo passar disfarçada no baile.

—Foi esse nosso plano. Você vai se encontrar com suas irmãs no baile e pedir desculpas.- Eu retruquei.- Estou pulando minhas formalidades por você, mal-agradecida.

—Já pensou que minhas irmãs podem não querer falar comigo?- Sarah brigou, cruzando os braços.

Ela era completamente maravilhosa, pensei. Usava um vestido meio estranho, com o decote, as mangas, a parte da cintura e uma parte da saia translúcidas em tom de preto e bolinhas da mesma cor. Um tecido preto ainda mais destacado e simples ficava por baixo. Por todo o vestido, haviam desenhos e bordados de rosas vermelhas. Seu cabelo estava jogado pro lado, e mesmo com a máscara cobrindo o rosto parecia a mulher mais bela que já tinha visto em toda a (literal) eternidade.

Mas eu não podia ficar distraído. Tínhamos um plano. Além disso, Sarah estava furiosa sobre o noivado de sua gêmea.

—Você não vai acreditar no que aconteceu.- Laito chegou perto de mim do nada- Ah, oi Sarah~.

Sarah só guinchou como resposta.

—...É pra eu adivinhar, idiota?- Grunhi

—Hm?- Laito pareceu distraído- Ah, sim. Marie está linda.

—É SÓ ISSO?- Briguei com meu irmão.- VOCÊ FEZ ESSE DRAMA TODO PRA FALAR QUE A MENINA TÁ BONITA?

—Linda.- Ele me corrigiu.

—Só pega ela de uma vez, então.- Eu reclamei.

—Primeiro: Eu já peguei ela, muito obrigado.- Laito pareceu começar a ficar nervoso- Mas eu sem querer chamei ela de Cordelia quando estávamos quase transan...

—Você tem retardo?- Arregalei os olhos- Tá explicado o porquê dela te evitar. Você chamou ela de mãe, cara.

—Não foi...- Laito suspirou- Ok. Foi meio isso que aconteceu. Mas não acha que ela exagerou?

—Isso depende.- Sarah se intrometeu com um sorriso- Você ia gostar de ser chamado de Stephan no meio do sex...

—Vocês dois tem pensamentos nojentos.- Eu bufei- Por que, ao invés de você ficar reclamando que nem criança, não ajuda a gente com o pedido de desculpas da Sarah?

—E talvez você devesse pedir desculpas também.- Sarah deu de ombros.

—Pedir desculpas pelo que?- Ayato se intrometeu.

—Você não tem noção de privacidade nenhuma, né?- Sarah pegou um copo de suco de tomate e levou aos lábios.

—É a segunda vez que me falam isso hoje.- Ayato reclamou- Enfim, vocês não saberiam onde que a Chichinasi está, né?

—E é a vigésima vez que você pergunta isso hoje.- Laito resmungou baixo.- Não. Não sabemos.

—Ela ainda não chegou.- Expliquei.

—É. Deve chegar com o novo noivo dela.- Sarah deu um sorriso, dando ênfase na palavra “noivo”.

—Não precisa agir como se isso me afetasse.- Ayato revirou os olhos.

—E não afeta?- Ela questionou.

Ayato a fuzilou com os olhos.

—Sarah ficou mais divertida~- Laito cantarolou- Devia aprender com ela, Ayato.

—Tanto faz.- Ayato bufou- O novo noivado de Sofie não me afeta nem um pouco. Nem mesmo considerando que eu falei que gostava dela a poucos dias atrás. Que isso.

Todos nós três encaramos meu irmão mais velho.

—Parabéns Ayato, você é oficialmente o último a saber que você gosta da Sofie.- Eu grunhi.

—Bem, não importa agora, né.- Sarah deu de ombros- Sofie fez a escolha dela. Você é obrigado a respeitar isso. Talvez se você mostrasse de outro jeito seus sentimentos...

—Mostrar de outro jeito?- Ayato questionou.

—Vocês três não tem noção nenhuma de romance.- Sarah sorriu- Não é á toa que são os únicos Sakamaki solteiros.

Olhei meio ofendido pra ela.

—Menos você, Kanato, você está quase no caminho certo.- Ela deu outro tipo de sorriso pra mim, e ficou um pouco vermelha.

Segurei um pequeno suspiro dentro de mim.

Me senti abismado e quase odioso de como ela tinha efeito sob mim. Sarah Herbert podia fazer absolutamente nada e ainda conseguia me fazer sentir um bilhão de coisas ao mesmo tempo.

E isso me dava um sentimento de alívio e raiva ao mesmo tempo.

Mas eu falei que ia tentar melhorar por ela, então eu estava tentando excluir a raiva da minha lista de sentimentos.

—Enfim...- Pigarreei- Temos que achar as outras Herbert.

—Estão as três perto da mesa de bebidas.- Laito indicou- Reijii e Subaru estão lá também.

Concordei com a cabeça e guiei Sarah até lá pelo braço. Bufei quando vi que meus irmãos ainda estavam nos seguindo.

Quando chegamos perto, as meninas nos notaram. Especialmente Lua:

—Ah, oi Laito, Kanato, Ayato! E... SARAH?!

Victoria e Marie, que estavam distraídas até então, olharam pra nós.

—Eu mesma...- Sarah pareceu hesitar, amassando a saia do seu vestido.

—Ah. Você decidiu voltar.- Marie mordeu o lábio inferior.

—Eu vim pedir desculpas, primeiro de tudo.- Sarah deu um passo á frente- Eu ando passando por um período muito conturbado na minha cabeça, e um estresse e uma raiva anormal... E eu tentei mudar quem eu sou pra parecer mais forte, mas isso só fez eu machucar todos ao meu redor e eu mesma.

Nossa, ela era boa em pedir desculpas.

—Então eu vim aqui oferecer minhas sinceras desculpas. E eu adoraria voltar pra casa, se vocês me terem.- Sarah respirou fundo.

As outras três se entreolharam.

—Não é bem pra gente que você deve mais desculpas...-  Victoria explicou- Mas se depender de nós....

—A gente te perdoa.- Marie interrompeu- Se você jurar nunca mais fazer isso.

E, de uma forma simples demais, as quatro se abraçaram.

—Vocês são tão melosas.- Subaru revirou os olhos.

—Cala a boca, Subaru.- Lua brigou com o namorado.

—Eu nem falo nada.- Reijii bebeu um gole de vinho.

Quando todas se separaram, elas começaram a rir.

Que meninas doidas.

De repente Daayene correu até nós:

—PESSOAL! Ah, oi Sarah. ENFIM, ELE CHEGOU!

—Quem? Jesus?- Victoria questionou- Eu sabia. Ele tá descendo do céu dançando Lady Gaga?

Daayene olhou pra ela confusa, mas pareceu querer ignorar:

—Enfim, o pai de vocês, meninos... Chegou. E parece que logo atrás vem os Rosemary.

Olhando pro grande trono em frente á todo salão, vi que realmente, meu pai já estava lá. Sentado de maneira majestosa, com um olhar nojento e orgulhoso na cara.

Era hora do show.

Eu estava mais perto do portão de entrada, então eu consegui ver tudo de maneira bem detalhada.

Nem prestei atenção no fato que KarlHeinz resolveu se sentar no seu trono quase na mesma hora que os Rosemary chegaram. Eu estava mais focada na família feiticeira, obviamente.

Sofie estava de braços dados com Robert, andando á frente de todos. Apesar de linda, usando um vestido bufante, longo e todo branco. O tecido da parte de trás das mangas descia como se fosse um véu. Um pequeno decote tinha em seu corpete, destacado por um pequeno cinto azul e um detalhe de flores azuis na sua saia, ela parecia completamente infeliz.

—Acham que ele maltrata ela?- Priya questionou no meu ouvido.

Robert tinha os olhos cintilantes, mas continuava vermelho pelo álcool e a barba e o cabelo continuavam desgrenhados.

Atrás deles, vinha Alice, trajando um sorriso falso porém acreditável no rosto. Ao seu lado, o pequeno Tyrosh tinha um rosto sério, como se fosse o único não tentando disfarçar toda a gravidade da situação.

—Não sei. Essa família é bizarra.— Anna respondeu nossa irmã mais velha.

—Brunna, você está bem?- Ruki me perguntou, segurando minha mão.

Não. Essa era a resposta certa. Eu estava me sentindo suando e fria. E tremendo.

—Sim.- Menti.- Estou bem.

Robert parecia bem orgulhoso de como estava atraindo olhares pra si e pra sua noiva. Eu não me aguentei. Assim que a família se sentou em grandes cadeiras á frente de uma mesa, consegui passar atrás de todo mundo e fiquei mais próxima deles.

—Foi um bom lance o que meu guarda fez!- Robert comemorou, bebendo toda uma taça de vinho em um gole só. Eles deviam ter saído de alguma justa, pensei.- O que achou, Sofie?

—...Foi um bom lance.-  Sofie respondeu, erguendo o rosto e respirando fundo.

—Eu já disse que foi um bom lance.- Robert brigou.

—Sim.- Sofie pegou um copo de suco de tomate, e deu um longo gole nele.

—Irmão.- Alice disse, se virando para Robert- Como os líderes da casa, deveríamos dar nossas honras ao Rei KarlHeinz.

—ELE QUE SE DANE!- Robert riu de maneira escandalosa. Revirei os olhos- Agora eu tenho uma mulher perfeita que ele nunca vai conseguir roubar de mim.

—Questionável.- Tyrosh falou baixo.

—O que disse?- Robert questionou.

—Eu disse que é questionável.- Tyrosh disse mais alto.

Robert ficou um pouco vermelho, e se virou pra Sofie:

—Gostaria de dar as honras para KarlHeinz comigo, mulher?

—Não estou me sentindo bem.- Sofie respondeu- Tenho dor de cabeça.

—Por isso você deveria ir comigo.- Alice retrucou, e Robert bufou antes de tomar mais uma taça de vinho e se saindo. Sua capa tinha um cervo, animal símbolo da família Rosemary.

—Você não precisa fazer isso, Lady Sofie.- Tyrosh disse, e Brunna tentou se aproximar mais.- Não é obrigada a ficar com nossa família. Sua mãe, suas irmãs, os Sakamaki...

—Minha mãe foi uma traidora.- Sofie disse, e  percebi que era só um reflexo que Sofie teve- Minhas irmãs e os Sakamaki também são traidores. Eu sou leal ao meu amado Robert.

—Sem dúvidas.- Tyrosh suspirou- Tão leal quanto um cordeirinho cercado por lobos.

—Cervos.- Sofie o corrigiu- Um cordeirinho cercado por cervos.

Tyrosh olhou pra ela do canto do olho, e segurou sua mão:

—Sim. Mas eu sou apenas um pequeno cervo, criança. E eu nunca irei te machucar.

De repente uma mão me puxou pra trás. Era Shu.

—O que diabos você tá fazendo?- Briguei.

—Eu saí da prisão da minha namorada quando ouvi que Sofie havia chegado. Estou salvando sua vida.- Shu disse como se fosse óbvio.

—E eu estou tentando salvar minha amiga.- Eu retruquei.

—Sofie é uma mulher inteligente. Ela sabe o que está fazendo.- Shu continuou sua linha de raciocínio.

—Ela está se noivando de um monstro. Você não entenderia.- Revirei os olhos.

—Eu entendo. Foi ele que tentou violentar Sofie, não foi?- Shu questionou, e eu arregalei os olhos- Não aja tão surpresa. Eu posso ser muito perceptivo quando quero.

—Se sabe disso, porque apoia que essa maluquice de noivado continue?- Briguei novamente.

—Enquanto nós estamos considerando o porquê de Sofie estar fazendo isso, ela está com o pensamento anos-luz a nossa frente.- Shu explicou- É a mulher mais inteligente que eu conheço. Mas se te verem bisbilhotando a conversa da família real, podem te mandar pra guilhotina.

Engoli em seco.

—Apenas aja como se você não soubesse de nada. Temos que fazer isso, se quisermos o bem de Sofie. Agir como se quase não a conhecêssemos.- Shu respirou fundo- Já expliquei tudo pra Nikki, ela está revoltada. Pela primeira vez, estou agradecido que ela está presa. Pelo menos numa jaula não vai tentar fazer nenhum homicídio. Outro.

Um pequeno barulho de alguém batendo na taça chamou minha atenção. Era KarlHeinz. Ao seu lado, estavam Lilith e Mun.

—Atenção.- KarlHeinz disse de forma elegante- Como todos sabem, sou pai de seis filhos, os príncipes de vocês. Mas durante esse ano, me veio á atenção de que eu tinha mais uma filha. Uma menina, pasmem. Venha, Mun Sakamaki!

Lilith soltou a mão de Mun, que parecia um pouco nervosa.

—Pequena Mun, quantos anos você tem?- KarlHeinz perguntou.

—Falso.- Shu grunhiu.

—Faço onze hoje...- Mun disse.

—Nossa, hoje é anivesário da sua irmã. Deu parabéns pra ela?- Perguntei.

—Eu não lembro nem do meu aniversário, Brunna. Só sei que é quando vejo todo mundo dando parabéns pra Marie.- Shu revirou os olhos.

—Agora, em frente a todos vocês, eu dou meu decreto real!- KarlHeinz parecia orgulhoso- Mun, você agora não é uma bastarda, e sim uma filha legítima da família Sakamaki! Uma princesa!

Todos comemoraram, eu não. Sabe-se-lá o que KarlHeinz planejava fazer com a pobre da criança. Entre gritinhos e palmas, Robert bateu no copo com força:

—Eu também tenho um anúncio pra fazer, se me permite, KarlHeinz.

Sua tentativa de ser legal com o rei era tão falsa que eu senti um pouco de vontade de vomitar.

—Claro, Robert.- KarlHeinz pigarreou, e eu vi do lado do palco Lilith levando sua pequena prima embora.

—A maior parte de vocês deve saber que eu resolvi minha vida- Robert riu alto- Vou me casar! Aquela mulher na mesa de trás, é minha!

Percebi que Alice estava tentando desesperadamente com que seu irmão parasse de falar. Olhando pra mesa onde Sofie estava, percebi que ela parecia um pouco assustada com a atenção repentina.

—Sua?- KarlHeinz debochou.

—O que?- Robert brigou- Com inveja que eu finalmente arrumei uma que você não vai conseguir tocar.

—Eu acreditava que esse tipo de mulher fosse mais o tipo do seu irmão, só isso.- KarlHeinz deu um sorriso.

Como assim “Tipo de mulher”?

—Fala a verdade, você queria uma mulher dessas na sua cama todo dia!- Robert disse, alto e claro.

—Irmão, eu acho que já deu...- Alice tentou o puxar, mas ele pegou a mão de sua irmã e a virou o suficiente pra que ela abafasse um gritinho de dor.

Olhei pra Sofie, que dessa vez estava completamente assustada com a cena. Tyrosh parecia querer falar alguma coisa, mas permaneceu em silêncio.

Procurando pelo salão, eu conseguia ver as reações de todos. As Herbert (incluindo Sarah!) pareciam querer vomitar. Minhas irmãs e os Mukami olhavam abismados com o que viam. As Creedley pareciam sinceramente prontas pra atacar. E os Sakamaki também não estavam muito longe, olhando pro Rei com tanto ódio que eu senti dó dele.

—Agora, isso não é jeito de falar sobre sua noiva.- KarlHeinz se fingiu de bonzinho.- Principalmente com a família dela e outros responsáveis por perto.

—JÁ CHEGA!- Ouvi um grito familiar demais. Quando percebi, Ayato estava no meio do salão.

Pai amado, o que essa criança tá fazendo?

—EU NÃO VOU SENTAR AQUI E VER VOCÊS DOIS FALANDO DESSE JEITO SOBRE A MINHA MULHER!- Ayato berrou, e eu jurei que ouvi Shu grunhindo do meu lado.

—Sua mulher?- Robert debochou- Como assim, miniatura de reizinho?

Ayato foi até a mesa de Sofie, e segurou suas duas mãos.

—Ayato...- Sofie estava assustada, e pálida.

—Sofie. Por favor.- Ayato se ajoelhou, fazendo todos no baile soltarem um pequeno gritinho em união- Eu sei que você não quer isso. Quando Victoria e Reijii se casaram, você mesma falou que duas pessoas que não se amam não deveriam ficar juntas.

—É porque ela me ama!- Robert bufou.

—Ninguém tá falando com você, Vossa Majestade.- Subaru defendeu o irmão.

Robert pareceu ofendido e prestes a voar em Subaru, mas Victoria voltou:

—Ele tá certo. Ninguém tá falando com você.

—Eu não sei o que te levou a tomar essa decisão.- Ayato admitiu- Mas eu preciso te falar. Eu consigo te dar tudo que... ele consegue. Mas eu juro por tudo que você acredita que eu irei te respeitar e te admirar mais do que ele jamais conseguiria. Porque eu te conheço a mais tempo. Eu te entendo.

—Isso não tá acontecendo...- Murmurei.

—Sinto muito em te avisar que sim, está.- Shu parecia tão assustado como eu.

—Se é um casório que você quer... Então por favor, casa comigo.- Ayato apertou mais as mãos da Herbert- Eu nunca implorei nada pra alguém. Mas eu estou te implorando. Casa comigo.

Todo o salão ficou em silêncio, esperando a resposta de Sofie. Gaguejando, hesitando e com muita dificuldade, Sofie abriu a boca:

—Não.

Todo mundo soltou um som de choque ao mesmo tempo.

—N-não?- Ayato arregalou os olhos.

—ESPERA AÍ, COMO NÃO?- Kanato brigou- ELE ACABOU DE SE DECLARAR LINDAMENTE PRA VOCÊ, E VOCÊ DIZ NÃO.

—Eu sou leal ao meu amado Robert.- Sofie se levantou, tremendo, e eu podia entender que falar aquilo estava doendo em cada osso dela.- E eu não poderei mais me relacionar com traidores agora.

—ISSO!- Robert comemorou.

—Alguma coisa está errada.- Ouvi Sarah falando.

—Não. Alguma coisa está muito certa.- Agora foi a vez da voz de Daayene aparecer.

—Eu tô tão confuso...- Ouvi Yuma reclamar.

—Mas que drama desnecessário...- KarlHeinz tentou amenizar- É um baile. Agora que a questão do casório está resolvida e ela fez sua escolha, podemos prosseguir?

Sofie acenou com a cabeça de forma devagar, e Ayato se afastou dela.

Corri até ele.

—Você tá bem?- Perguntei baixo.

—Ótimo.- Ayato murmurou.

—Não entendo porque ela te rejeitou.- Eliza suspirou- Pra mim estava óbvio que vocês dois se gostavam.

—Eu concordo- Haruka disse, sua mão segurando a de Mao.- Especialmente considerando que... é o Robert.

—Eu acho que isso é um plano de Sofie.- Comentei- Ela é mais inteligente que todos nós.

—Copiona.- Shu reclamou.

—Porque... Sofie... Não fica... com a gen...te?- Azusa perguntou.

—Isso é uma ótima pergunta.- Anna deu de ombros.

Olhando pra mesa, eu podia ver Sofie ficando pálida demais. Além de tremer, ela estava claramente com dificuldade pra respirar e segurando lágrimas.

Puta puta merda.

—Sarah.- Chamei a outra gêmea discretamente- Por acaso aquilo é a sua irmã tendo uma crise?

Sarah olhou na mesma direção que a minha, e concordou com a cabeça.

Nós duas seguramos nossos vestidos e corremos levemente na direção dela.

—Ah...Oi...Futura Rainha Sofie...- Eu tentei cumprimentar ela. Peguei um copo de água que um garçom ofereceu- Aceita uma água.

Ela olhou meio confusa pra mim, e depois assustada pra Sarah.

—Viemos...hm...Oferecer nossas honras pra futura rainha.- A irmã dela recuperou, fazendo um carinho discreto na mão dela- Sabemos que há anos que não temos uma.

—Teríamos, se meu irmão fosse pelo menos um pouco mais aceitável socialmente.- Tyrosh deu uma risadinha.

—E também... queríamos oferecer nosso consolo... Deve ter sido difícil passar por uma situação tão... vergonhosa como esse pedido de casamento em público.- Eu comentei, esperando que ela me desse algum sinal do seu plano.

—A história parece que sempre se repete, não é?- Sofie pigarreou- O gene Sakamaki sempre é atraído pelo gene Herbert.

Sarah me olhou confusa. Fiz um sinal de “depois” pra ela.

—É uma honra pra mim ter entrado numa família tão... exuberante. Cheia de história. Talvez eles tenham muito pra me ensinar. Não sei muito sobre o mundo feiticeiro. Especialmente considerando que minha mãe era uma.- Ela deu um olhar pra Sarah.- Gostaria muito de entender os mecanismos e a história dessa família. Quem sabe assim eu posso entender a minha.

Eu finalmente entendi o que estava acontecendo.

É claro. Sofie não estava satisfeita com a história que havia recebido da sua própria mãe. Então ela ia entrar na família Rosemary e tentar descobrir alguma coisa por lá. E talvez até podres da família. E nós, aparentemente, tínhamos que investigar a família Herbert e Sakamaki.

Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, uma porta se abriu. Eram pessoas com o uniforme da rebelião.

—REI ROBERT!- Um deles veio ao centro- Venho impedir que se case com essa mulher!

—Ah meu pai, de novo isso...- Sofie bufou.

—Por que isso, meu senhor?-  Alice questionou, ainda tentando manter a paz do baile.

—Ela é uma assassina!- Ele proclamou, e todos pareceram chocados- Não só é filha de Molly Herbert, uma traiçoeira sanguinária, como também é irmã de Nikki Herbert, que está presa por matar toda a guarda real vampira queimados com um drakon!

Olhei chocada pra Sofie. Os drakons eram um segredo. Tipo, não muito porque Nikki tinha feito o favor de queimar pessoas em praça pública. Mas não eram pra saber que era dela o drakon. Até porque Vic e Sofie também tinham outros.

—Mas ela em si é uma criminosa!- O homem continuou proclamando- Consegui relatos de profetas e ex-prisioneiros de vosso castelo admitindo serem libertados pela senhorita Herbert, um dos príncipes Sakamaki e outras duas pessoas.

Meu olhar se encontrou com o de Ruki. Éramos nós as outras duas pessoas.

—E até nós fomos vítimas da maldade dessa víuva negra!- O rebelde parecia não acabar- No começo do festival, ela e a senhorita Haruka Creedley assassinaram um homem do nosso grupo utilizando de armas e poderes mágicos. Após isso elas cobriram o corpo de tecido e soda cáustica. Mas nós nunca esquecemos. O reino se lembra!
Achei Sofie olhando pra Haruka, e as duas pareciam sinceramente assustadas.

E isso me deu medo.