Like a Vampire 3: Lost Memories escrita por NicNight


Capítulo 15
Capítulo 15- Violência é uma doença


Notas iniciais do capítulo

YAAAAY! Mais um cap novinho em folha pra vocês!
E aí, o que estão achando? Estamos oficialmente na metade de LAV 3!
Enfim, boa leitura!



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Narração Nikki

Acordei com uma euforia irritante vindo da varanda do nosso andar.

Me troquei rapidamente e fui até lá pra ver o que estava acontecendo, chegando a tempo de ver todas as meninas paradas olhando pra rua.

—O que está acontecendo?- Perguntei.

—Ah. Só uns caras sem camisa.- Brunna respondeu, parecendo desinteressada.

—“Só” uns caras sem camisa?!- Daayene deu um guincho tão agudo que machucou meus ouvidos- Você quer dizer “os caras mais atraentes que você já viu” sem camisa, né?

Cheguei ao lado das meninas, conseguindo ver uma dúzia de homens( realmente atraentes, não posso negar) fazendo uma corrida sem camisa pelo festival.

Alguns deles notaram que estavam sendo observados, e mandaram acenos e piscadelas na nossa direção.

—Era só o que me faltava...- Ouvi Sofie bufando.

—Para de reclamar, Sofie, foi você que chamou a gente aqui em primeiro lugar!-Sarah brigou.

—Vocês parecem que nunca viram uns caras sem camisa na vida.- Brunna revirou os olhos.- Vic e Lua, vocês nem deviam tá aí!

—Qual é, Brunna, olhar não tira pedaço!- Victoria brincou rindo- Eu sou fiel e amo meu marido? Sim. Consigo admirar a beleza de uns homens desses quando vejo? Também!

—Eu nem sei o que eu tô fazendo aqui...- Anna suspirou.

—Nem eu, sister. Nem eu.- Marie deu de ombros, mas não tirou os olhos dos meninos.

—Se vocês estão afim de reclamar, ok, façam isso mais tarde!- Priya riu- Daqui a pouco tudo que vocês vão poder ver é nós mesmas, uma criança e os meninos.

—Sei lá, o Ruki sem camisa dá de dez a zero em qualquer um desses caras.- Brunna soltou.

Eu engasguei.

—Ok, eu vou fingir que eu não acabei de ouvir isso pelo bem da minha sanidade mental.- Sofie disse se afastando.

—Ei, vocês que ficam reclamando que eu não sou uma Vic ou Lua da vida que fico dando mil e um detalhes sobre meu relacionamento!- Brunna bateu as mãos nas coxas.

—Porque elas já esperam esse tipo de coisa vindo de mim ou da Vic!- Lua deu uma risada nervosa- Não de você!

—Ah, então porque eu sou eu vocês acham que a minha vida sexual não pode existir?- Brunna pareceu extremamente ofendida.

—Eu juro que se você falar mais alguma coisa envolvendo a sua vida sexual eu vou ficar traumatizada pra sempre.- Daayene estava com os olhos arregalados e as bochechas rubras.

Fomos interrompidas de nossa conversa graças á um pigarreio.

Olhamos pra trás, e lá estava Ruki em toda sua glória.

—Ah, oi Ruki!- Victoria parecia segurar a risada- Como você está? Dormiu bem?

Olhei de lado e vi Brunna revirando os olhos, apesar de estar meio corada.

—Dormi bem. Obrigada por perguntar, Victoria.- Ruki respondeu educadamente.

—Eh... A quanto tempo você tá aqui?- Priya perguntou.

—Temo que desde o instante que esse assunto começou.- Ruki deu um sorriso de canto.

—Ah!- Lua deu um gritinho de susto- Desculpa, espero que você não nos ache bizarras agora.

—Acho que ele acha que a gente é bizarra desde quando conheceu a gente.- Sofie estreitou as sobrancelhas.

—Sofie está certa. E eu já ouvi vocês falando coisas piores.- Ruki afirmou.

—Isso não deixa de ser mentira.- Pensei sobre o assunto.

Paramos nossa conversa quando um grito agudo e feminino, além de infantil surgiu do andar de baixo.

—O que diabos foi isso?- Marie perguntou no susto.

—...Mun!- Anna disse, assustada.

Correndo, descemos todas as escadarias até o primeiro andar.

Procuramos (muito) desesperadas onde a garota estava. Felizmente, a achamos no pátio com os meninos.

—Não, isso não está certo- Ouvimos a voz de Reijii- Você tem que segurar mais firmemente no  punhal, entendido?

—Mas eu tô segurando com toda a força que eu tenho!- Mun fez beicinho.

—Ainda não é o suficiente- Subaru disse, sentado no chão- Se alguém vier te atacar, a primeira coisa que vão querer fazer é te desarmar.

—O que está acont...- Marie congelou- Por Deus, vocês estão ensinando a criança a lutar de espada?

Observei melhor a cena. Mun estava com uma espada fina e um pouco menor do que as nossas nas mãos, apesar de ainda usar um vestido cor-de-rosa. Ayato segurava outra parecida, estando bem em frente dela. O resto de seus irmãos estavam todos sentados no chão ou em cadeiras, prontos pra ensinar ou ajudar caso ela errasse.

—Todos os Sakamaki sabem lutar de espada, Chichinasis.- Ayato deu de ombros- É tradição de família. Até a Lilith sabe.

—É, mas ela é só uma criança!- Priya pareceu abismada- Além disso, não falem de Lilith, ela está pleníssima curtindo a lua-de-mel dela com um marido maravilhoso e um filho lindo!
—Que nojo.- Kanato disse baixo.

—Eu ainda não entendi o que tem de errado com Mun aprender a lutar.- Reijii pareceu confuso.- Vocês também aprenderam a lutar. Muito mal. Mas aprenderam. Além disso, é um lugar perigoso. Vocês sabem disso.

—Mas ela é...- Daayene começou.

—Uma garota?- Subaru cerrou as sobrancelhas- Bem hipócrita de vocês falarem isso.

—Ei, parem de tentar fazer nós sairmos como as malvadas da história!- Briguei- Vocês não acham que ela é nova demais pra fazer esse tipo de coisa?

—Não tem problema!- Mun deu um gritinho- Eu vou ficar bem! É só no caso de alguma coisa acontecer! Mesmo!

Nos olhamos com ar de desistência, suspiramos e resolvemos deixar quieto.

—Continuem, então.- Sofie disse, se sentando no chão.

Todas nós nos acomodamos. Eu puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Shu.

—Ela está se saindo surpreendentemente bem.- Sussurrei- Considerando a idade dela.

—Mun é mais pra frente do que você pensa.- Shu disse de volta- Um dia eu perguntei pra ela onde ela queria encontrar o homem certo dela.

—E o que ela respondeu?

—Num cemitério.- Shu disse, parecendo ainda abismado pela resposta da garota.

Eu segurei uma risada alta.

—Ela tá mais que certa.- Eu respondi, ainda me recuperando daquele choque- Minha mãe sempre disse que homem só causa problema na nossa vida.

—E você acreditou?- Shu me questionou.

—Sabe, eu não acreditei tanto na época.- Fingi pensar numa resposta- Mas depois que comecei a conviver com você e seus irmãos, acho que isso virou uma certeza pra mim.

Ri quando ele revirou os olhos.

—Você e suas irmãs que são insuportáveis e barulhentas.- Shu suspirou- Principalmente você, usando seu... sei-lá-o-quê.

—É um fuzil.- Eu completei- Eu não sei o que você quer dizer com isso. Eu já fui bem mais chata com você. Considerando isso, agora eu sou um anjo.

—Você não aguentava ficar no mesmo cômodo que eu.- Shu pareceu se lembrar- Eu lembro quando você fugiu do nosso quarto e se hospedou no da Yui.

—Eu não acho que “fugir” seja a palavra certa. Você me chutou pra fora da cama, até onde eu me lembre.- Cerrei os olhos na direção do loiro- E você não pode reclamar de mim, até ontem você achava que eu era lésbica.

—Eu achava que você era bissexual, na verdade.- Shu se defendeu- Mas sei lá, vai que. Nunca vi você ficando com nenhum homem.

—E a Sofie?- Questionei- Você literalmente viu ela beijando uma mulher.

—E ela é hetero?- Shu disse meio em tom de brincadeira, o que me fez bater no ombro dele de leve.

—E se lembre...- Voltei minha atenção para a aula de Reijii- Quando você quiser realmente atacar alguém, tente ir por trás e atacar pelo pescoço. Com uma lâmina afiada, é a forma mais certeira de morte.

—Alguém viu o Laito?- Ouvi Marie sussurrar pra minhas irmãs.

—Sei lá, eu só vi ele saindo ontem mesmo.- Lua sussurrou de volta- Mesmo assim, achei que vocês dois estavam se evitando.

—Eu tô evitando ele.- Marie ficou tensa- Só tô preocupada com ele. Todo mundo aqui, menos ele. É estranho.

—Você quer sair daqui?- Shu me chamou de volta.

—E ir pra onde, criatura?- Fiquei confusa.- Além disso, desde quando VOCÊ quer sair?

—Sei lá. Não tô muito afim de ver minha irmã aprender a dilacerar um homem.- Shu respondeu.- O que acha?

Eu não consegui conter um sorriso:

—Ok.

—_________________________________________________________________

—Como a comida favorita de alguém pode ser “carne”?- Eu me questionei, mexendo o canudo no meu segundo milk-shake da semana.

—Por que a comida favorita de alguém não poderia ser carne?- Shu retornou minha pergunta.

—Porque é geral demais!- Reclemei, revirando os olhos- É tipo falar que a minha sobremesa favorita é sorvete! Tipo... que tipo de sorvete? Qual o sabor?

—Eu acredito que você está só enchendo o saco por querer uma resposta mais específica- Shu bufou- Além disso, o seu paladar também é questionável. Quem toma sorvete por dois dias seguidos?

—A culpa não é minha que sua alma é amarga e fria. Tá mó calor!- Eu revirei os olhos.

—Você que é amarga.- Shu revidou.

—Sou uma amarga que gosta de sorvete, pelo menos.- Dei de ombros, o deixando praticamente sem resposta.

Shu passou a mão nos fios loiros:

—Será que conseguimos passar uma hora juntos sem discutir por alguma coisa idiota?

—Será que conseguimos?- Eu revidei a pergunta, sorrindo de um jeito meio infantil.

Ele olhou pra mim quase como se dissesse “Desafio Aceito.”

—Você está me imitando?- Shu cerrou os (lindos) olhos azuis dele.

Opa. Pera aí.

Eu pensei lindos? Porque eu com certeza quis dizer horrorosos.

—Por que eu te imitaria?- Dei uma risada, e ele me analisou:

—Então só estamos falando com perguntas?

—Você acha que conseguimos?- Eu suguei um pouco do meu milk-shake de morango novamente.

Ele pareceu pausar por um segundo, e revirou os olhos tomando o milk-shake da minha mão:

—Você vai ficar sem o sorvete que eu paguei.

—Há! Ganhei!- Fiz uma dancinha da vitória quase irônica.

—Porque eu te deixei ganhar. Por pena.- Shu respondeu.

—Ahã, com certeza.- Tomei meu sorvete de suas mãos de novo.- Vou deixar você e sua masculinidade frágil acreditarem nisso.

Percebi que ele ficou me olhando por um tempo. Olhei pra ele de volta:

—Que foi? Quer uma foto?

—Nada. Só estava pensando.- Shu disse tão sinceramente que eu estranhei.

—O que? Me imaginando ficando com uma garota?- Eu disse sem nenhum filtro. Quando Shu arregalou seus horríveis olhos azuis, eu revirei os olhos- É zoeira. Tenho que parar de passar tempo com a Lua, né?

—É, a Lua é o tipo do Subaru, não o meu.- Shu respondeu, e eu faltei cuspir o milk-shake fora com o susto que eu levei:

—É o quê?

Shu passou a mão no meu rosto. Fiquei arrepiada com sua pele fria em contato da minha, que parecia tão quente que quase achei que estava com febre. Também notei o quanto seus dedos eram absurdamente longos.

Tipo, estranhos.

Mas resolvi não comentar nada. Ou melhor, não consegui comentar nada. Ainda estava em estado de choque, e completamente humilhada porque eu COM CERTEZA estava vermelha.

—Tem milk-shake na sua boca.-  Shu comentou, e eu senti seu polegar traçando a linha do meu lábio inferior.

Ok, isso estava ficando MUITO íntimo.

Não que eu planejasse em parar isso, mas mesmo assim. Íntimo demais pro meu gosto.

—Se você acha que essa é uma boa cantada pra usar comigo, pode tirar o cavalinho da chu-

Não pude terminar minha frase, já que fui lindamente interrompida pelos lábios de Shu em contato com o meu.

Fiquei em completo estado de choque, paralisada, por vários segundos. Fechei meus olhos com dificuldade, vendo que os de Shu mesmo estavam assim.

Não sabia como responder áquele gesto, mas não tive que esperar muito. As mãos de Shu seguraram meus braços com uma delicadeza que eu desconhecia no vampiro, e as posicionou em cima de seus ombros, envolvendo seu pescoço.

Depois disso, senti seus dedos percorrerem pela minha cintura, amassando um pouco minha blusa. Shu aprofundou mais o beijo, como se quisesse fechar qualquer espaço existente entre nós.

Senti suas duas presas buscarem meu lábio inferior, quase como se pedissem minha permissão. Levei minhas mãos até seu cabelo, o puxando pra um pouco mais perto de mim.

Suas presas então perfuraram lentamente minha boca, e eu pude o sentir sugando um pouco do sangue que saía dela.

Depois de alguns segundos, ele se afastou de mim, percebendo que o fôlego estava se extinguindo de meus pulmões.

Ele ficou me olhando, percebendo que eu estava com respiração pesada e as bochechas provavelmente vermelhas feito um tomate:

—Você tá bem?

—Eu tô... ótima.- Respondi, colocando a mão no coração- Só... Uau... Tipo... Uau.

—Você esqueceu como frases funcionam?- Shu me olhou com um sorriso quase cínico.

—Pois é, não é todo dia que uma criatura infeliz me beija.- Eu cruzei os braços, apesar de deixar um sorriso escapar.

—Você quer que eu comece a fazer isso todo dia agora?- Shu disse, fingindo estar lisonjeado- Nossa, que carência.

—Fica.Na.Sua.- Briguei, o empurrando- Não me faça te bater.

—Pelo menos agora eu sei que você não é lésbica.- Shu deu de ombros, e eu soquei ele fracamente no ombro:

—Eu te odeio, Sakamaki.

Mas pelo sorriso que eu dei, eu sabia que estava bem claro que eu não odiava. Nem um pouquinho, na verdade.

Eu e Shu resolvemos nos separar quando percebi que, a cada cinco segundos que ele passava perto de mim, eu ficava vergonhosamente vermelha, o que levava ele a me provocar, o que me levava á desafiar ele, o que levava á mais alguns beijos. Por isso, consideramos que talvez fosse mais digno passarmos um tempo separados, antes de qualquer coisa acontecer.

Foi só aí que eu me toquei de uma coisa:

Puta puta merda, eu beijei Shu Sakamaki.

Tipo, meu noivo/inimigo mortal de dois anos atrás. O cara que quando me mordeu pela -primeira vez eu dei um chutão e ainda ameacei atirar nele com meu fuzil (talvez eu ainda faça isso).

O cara que eu jurei de pé junto que era o ser mais irritante da face da terra, que eu queria socar a cada dois minutos. E eu beijei ele.

Fiquei de vermelha só de pensar em como as meninas reagiriam quando eu contasse a notícia.

Se bem que não é uma coisa muito grave, considerando que eu podia, sei lá, estar grávida do anticristo.

Mas Deus, só de pensar no quanto minhas irmãs vão me zoar, eu já perco a vontade de voltar pra casa.

—Me solte!- Ouvi uma voz feminina desconhecida, porém apavorada, e não pude deixar de olhar pra ver quem era.

Me surpreendi, primeiramente, ao me encontrar perdida numa praça meio isolada. Acho que durante meu monólogo interno eu acabei andando por aí e vim parar aqui. Segundo, acho que estava tendo algum tipo de paralisação por lá.

—Bem parecida com a do dia que a gente foi visitar o KarlHeinz...- Me peguei pensando.

Vários plebeus estavam juntos, obviamente, rebeldes com o governo. Me pergunto o porquê daquilo agora, já que, pelo que eu sabia, o “Papamaki” estava no governo há uns vinte mil anos sem nenhum questionamento.

E agora, do nada, uma galera resolve se rebelar contra o governo?

E quem diachos eles querem que entre como rei?

—O que está acontecendo?- Perguntei pra um homem magricela de canto:

—O Rei Sakamaki aceitou as ameaças de guerra da rebelião. Disseram que vão atacar o festival, caso um tratado não fosse discutido.

Bem, não posso dizer que estou surpresa.

—Tratado? Tratado de que?- Questionei, confusa.

—Eles são contra a Dinastia Sakamaki.- O homem disse como se fosse óbvio- Querem que um deles assuma o poder. Mas eles não parecem entender que, se o festival for dizimado, não haverá quem governar. Violência é uma doença, e você não acaba com uma doença a espalhando mais ainda.

Franzi a sobrancelha com a frase do moço. Mas que diabos, agora ainda tinha uma rebelião maluca pra eu me preocupar.

Claro, seria um ótimo momento pras Creedley entrarem no jogo, já que elas querem governar tudo, mas não pareceu certo naquele momento falar “Ei, você odeia o seu rei? Ótimo, porque eu tenho uma opção de rainha renegada dos demônios ín-crí-vel!”.

—Vocês tem que sair daqui.- Ouvi uma voz que me doeu de tão familiar- Agora. Sem tempo.

Virei pra trás, dando de cara com um maldito homem de cabelos e barba longa na cor ruiva. Ele usava a armadura da Guarda Real, e eu sabia muito bem quem ele era:

—Armand.

—Huh? Como sabe meu nome, garota estúpida humana?- Armand disse, com o tom grotesco e nojento que era o mesmo desde ano passado.

—Armand, você não se lembra dela?- Vi George pelo canto do olho- Nossa amiguinha do treinamento.

Merda. Eu realmente odiava aqueles caras.

—Ah sim- Armand riu- A que estava com o braço quebrado e a gente quebrou de novo. Nossa, você está tão gostosa agora que nem deu pra te reconhecer.

Revirei os olhos, e nem quis disfarçar.

—Realmente. Se eu não tivesse na Guarda Real, eu te levava pro cantinho e te faria ir pro céu.-  George passou a mão no meu cabelo, e eu lutei contra a vontade de quebrar aquela mão- A não ser que você queira mesmo com eu como guarda.

—De vocês dois eu só aceito distância.- Dei um passo pra trás- Enfim, não tem coisas melhores pra fazer do que só me encher o saco não?

—A gente podia te levar pro KarlHeinz por desacato á autoridade...- Armand se aproximou de mim, e eu senti meu coração dar um pulo num mix de susto e pânico- Aí você sabe né, a punição depende da boa vontade dele...

A mão de Armand deslizou pelo meu rosto enquanto ele dizia isso, e eu rangi os dentes de raiva:

—Tira a mão de mim. Agora.

—Seu temperamento não mudou muito de um ano pra cá, né?- George riu, e eu vi vários guardas sorrindo e rindo pra situação, enquanto expulsavam o resto dos cidadãos protestantes.

—A sua falta de noção também não, pelo que eu estou vendo- Grunhi- Cuidado, agora eu tenho uma mão pra bater em cada um.

—Esse mundo agora tá cheio de mulherzinhas querendo mandar na parada, mas elas não sabem de nada. Principalmente uma humana que nem você.- Armand provocou, claramente amando o fato que eu estava ficando vermelha de tanta raiva.- O que? Eu te ofendi? Mas você é uma mulher. E uma humana. Seu status quo já é definido desde seu nascimento.

Fechei os olhos, fazendo respirações lentas e prolongadas pra tentar me acalmar.

Não estava dando muito certo, já que eu sentia  a vontade de esganar aqueles homens verberando nos meus ossos. Eu estava tremendo, apertando minhas mãos com força.

—O que foi, garotinha?- George me chamou.

Por aquele maldito apelido.

Garotinha.

Eu estava no meu limite, já sentindo cada pedaço do meu corpo gritar “Bate!Bate!Bate!”
E no fundo da minha cabeça, tinha uma vozinha chamada noção falando “Para!Para!Para!”

Infelizmente eu nunca fui muito boa em escutar minha noção.

Abri meus olhos, só querendo que alguma força divina eletrocutasse aqueles homens malditos.

Quando olhei pra eles de novo, senti que meu nariz estava sangrando um pouco. Limpei o sangue com a mão, achando toda a situação muito estranha.

E numa questão de segundos, eu ouvi um guincho animalesco /que me fez arregalar os olhos.

Algo bateu as asas, fazendo meu cabelo e minha blusa voarem um pouco com um vento. Mas então se pousou ao meu lado.

Helete estava lá, em toda sua glória. Suas penas brancas com detalhes laranjas pareciam mais vivas do que nunca. Seus olhos dourados, parecidos com de cobra, estavam atentos aos seus arredores. Os poucos meses que passamos separados haviam feito bem á ele, já que agora ele já dava quase duas de mim mesma.

Mas como?

Eu o havia acorrentado no porão da Mansão, junto com Ykhar e Darrah. Agora eles estão aqui?

A não ser que...

Dei um leve espasmo com o pensamento de alguém ter os soltado.

Dei mais outro quando me questionei se essa pessoa estava ao menos viva agora.

—O- o que é isso?- Armand tentou se fingir de corajoso, mas eu sabia melhor que isso- Guardas! Guardas!

Achei irônico chamar os guardas, já que ele era um guarda.

—O que diabos é isso?- Um dos outros guardas falou.

—Um drakon?- Outro sussurrou.

—Impossível. Estão extintos.- Um outro ainda respondeu.

—Não pareço mais uma garotinha agora, pareço?- Arqueei uma das sobrancelhas.

—Você é... Não, não pode ser humana- George disse com raiva- Nem vampira, nem feiticeira, nem lobisomem nem mesmo demônia! Mas é algo tenebroso!

Um deles chegou por trás de mim correndo, com a lâmina em mãos. Helete soltou um rosnado, e eu em poucos segundos tirei meu fuzil do cinto e atirei no homem, bem na mão desarmada.

Ele caiu no chão, berrando dramaticamente enquanto me acusava de “bruxaria” (o que aparentemente era uma coisa ruim, mesmo num mundo com vampiros, lobisomens, feiticeiros, demônios e drakons) e  segurando a mão que agoniava.

—Alguém quer ser o próximo?- Disse, ironicamente.

—Você é um monstro!- Armand gritou- É pior que qualquer homem que já existiu! Louca!

—Solte sua arma de fogo agora, ou serei obrigado a te matar.- George apontou sua espada pra mim.

Soltei meu fuzil no chão, e dei um sorriso:

—O fato que vocês estão mais preocupados com meu fuzil do que com meu drakon é absurdamente divertido.

—Matem a fera!- O que parecia o comandante ordenou, e uns dez soldados estavam lá, aterrorizados, porém prontos pra morrer  se isso significava que eu e Helete morreríamos juntos.

Quando eles começaram a avançar para Helete, ele bateu as asas, se mantendo um pouco mais no alto.

—Peguem os arcos e as flechas!- O comandante berrou- Peguem as bestas! Matem a bruxa!

—Vocês acham que tem chance contra mim? Eu não tenho medo de vocês. Já tive um dia. Mas não mais.- Senti meu coração queimar ao olhar os soldados, sentindo um ódio gigantesco crescer dentro de mim- Eu costumo ser bem compreensiva com os que arrependem de quão completamente estúpidos e idiotas são. Mas vocês não conseguem nem sentir piedade por aqueles que juraram defender.

Meu coração doeu pelo impulso que senti ao lembrar de um dos poucos comandos que meu drakon havia aprendido.

Eu então olhei para Helete, suas asas laranjas batendo sob mim:

—Queime-os todos.

Eu fechei os olhos, não sendo corajosa o suficiente pra ver todos os corpos daqueles homens sendo carbonizados. O calor repentino me fez dar vários pulos pra trás, e eu apertei as mãos juntas quando todos aqueles gritos se misturaram.

E então, eles simplesmente pararam.

Olhei pra Helete, que já havia parado de cuspir fogo. E então pro chão, onde jaziam dezenas de corpos completamente queimados. Alguns estavam irreconhecíveis, outros nem pareciam corpos mais.

E, mesmo com toda a raiva, eu me permiti de soltar o ar que eu estava segurando e sentir pena.

—Ei, você!- Alguns outros soldados me viram, e eu nem consegui me deixar em alerta.- O que foi que você fez?!

Olhei pra Helete novamente, e dessa vez ela fugiu, sobrevoando todo o festival.

Exatamente o que eu queria.

—Mulher!- Dois soldados me pegaram pelo braço, tão forte que jurei que meu pulso ia parar- Foi você que matou eles?

Não tive força pra responder, mas todo mundo sabia bem da resposta.

Eu matei eles.

—Vamos ter que levar pra prisão real, senhorita.- Um dos guardas, que parecia mais gentil e quase compreensivo com meu estado de choque, segurou minhas mãos por trás das costas.

Senti algemas frias juntarem meus pulsos com um “Trac!”
—Então agora você vai me prender?-Eu dei uma revirada de olhos fraca, tentando escapar das algemas- O rei de vocês fez coisas muito piores do que eu, e você vai ME prender?

—A senhorita está acusando o Rei de que, exatamente?- O guarda perguntou.

—Tem como citar todos os crimes possíveis de fazer em uma eternidade?- Minha risada era meio rouca.

Meu Deus, eles vão é me mandar pra um hospício, se eu continuar desse jeito.

—A senhorita não está bem, venha conosco até a prisão real.- O guarda mais gente boa me guiou.

Eu não pude deixar de olhar pra trás, engolindo em seco ao ver todos aqueles corpos no chão.

O que foi que eu fiz?

—Ela não atende o celular- Marie se jogou no sofá, desistida da vida.- É isso. Ou ela foi assaltada ou ela morreu.

—Talvez ela só perdeu o celular.- Daayene tentou acalmar a Herbert mais velha- Shu falou que ela estava bem e normal pouco tempo atrás, né, Shu?

Shu passou as mãos pelo rosto, estranhamente inquieto:

—É.

—Ah, agora o outro tá pistola porque a namorada dele sumiu- Ayato revirou os olhos.

—Ayato, não tá na hora.- Subaru bufou.

—Eu não entendo como a Nikki conseguiu desaparecer do mapa numa questão de horas!- Kou reclamou.

Um clima de ansiedade passou pela sala cheia. Victoria havia acabado de mandar mensagens pra Jackson, Yui, Mao e Sol, perguntando se algum deles tinha notícias de sua irmã.

Lua, em especial, parecia estar prestes a ter um ataque de pânico, sendo confortada calmamente por Subaru.

A porta bateu.

—Deve ser ela!- Priya se levantou rapidamente, e todos foram enchidos por esperança.

Mas quem estava na porta não era Nikki. Era Lilith.

—Lilith?- Reijii notou a presença da prima- O que aconteceu?

Lilith estava com um lindo vestido preto completamente rasgado na parte de baixo. Seu corpo estava cheio de hematomas e marcas de aperto. Seu cabelo, desgrenhado e com uma marca de sangue saindo de sua cabeça. Seu rosto estava com lágrimas escorrendo, e uma maquiagem toda borrada.

—O que aconteceu, Lilith?- Shu recebeu a prima na porta do castelo, e ela caiu no chão chorando:

—Eles pegaram... Eles pegaram meu Igor.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam desse final babadeiro? E finalmente Nishuuu! Vocês shippam?
Não se esqueçam de comentar suas teorias e opiniões que eu amo ler, eu não moido :3
Até o próximo capítulo!



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