Bom Dia escrita por Mary


Capítulo 1
Bom Dia


Notas iniciais do capítulo

Olá! Vou compartilhar tudo (de decente e legível, claro) em matéria de one-shots, tenho várias que postei na antiga conta, algumas bem engraçadinhas até, que infelizmente perdi. Às vezes me arrependo de ter excluído tudo por um motivo que é melhor não expor (ultimamente ando muito chorona, não sei se é porque 2018 está acabando e não foi nada daquilo que eu queria, porque passei a vida inteira sonhando com jornalismo e agora que estou na metade do curso não sei que área seguir porque eu amo o ramo audiovisual e existe uma ironia bem gritante que faz as pessoas me olharem como se eu fosse doida: eu AMO escrever, só que não gosto de escrever aquilo que "mandam", com o tanto de caracteres e blábláblá, eu gosto de escrever poemas, histórias, pensamentos, frases bobas e ao mesmo tempo existe esse desejo que é forte em mim de algum dia ter coragem para estudar cinema ou teatro, pois sempre imagino as histórias que escrevo como novelas, mesmo não escrevendo roteiros, então fica complicado de saber se devo terminar o curso por dignidade, por aqueles que apostam em mim, mesmo não me sentindo feliz porque as meninas da turma me isolaram e de certa forma também me excluíram (e dói não ter amigas, pode acreditar quando eu digo), porque parece que aquela estrela que tinha dentro de mim se apagou.
2018 foi um ano difícil, doloroso, trombei com muitas pessoas falsas, puxaram o meu tapete, então é por isso que quando posto algo tenho medo de que só julguem os erros, mas não a mensagem que estou tentando passar.
Enfim, desculpe por aborrecer vocês com meus queixumes, vocês estão aqui para ler um conto, não sobre a minha vida.



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Já quebrei a promessa me despindo de formalismos, poupando a inspiração de rebuscar o intento, fechando abruptamente a agenda quando o sinal para o primeiro tempo soa como uma campainha, para mais um dia de setembro que foge ao rigor do inverno e da primavera, se fazendo verão, se passando por janeiro, fazendo com que a vista do horizonte pela janela seja desesperadora.

Não é hora de falar de amor, mas esse bolo que se forma no alto da garganta insiste que preciso escrever pela última vez antes de virar a página para nunca mais ler. Um dane-se para a gramática, sobre as palavras se derramam os lamentos de uma ilusão que acabou, deixando de legado um vazio.

Um vazio que fala por si.

Não entendo nada de geometria. De corpo presente estou, todavia bem longe de me sentir em casa nessas cadeiras duras e nada confortáveis. O professor preenche a lousa com cálculos que parecem tão simples quando resolvidos por ele. Prendo o choro, inibo a vontade de sair correndo dali para satisfazer a urgência que tenho de viver minha juventude, de escrever com a liberdade que clama para que eu não a mate.

Chega o intervalo para o alívio da alma que já declarou inimizade com as disciplinas exatas. Não tenho ninguém com quem trocar ideias. Abro a agenda, procuro me distrair ouvindo música ao longo dos quinze minutos restantes, deixando o coração falar. As marcas das lágrimas não borram as folhas porque sei ser feita de pedra quando se faz necessários, embora meus olhos vermelhos e inchados denunciem quem me olhar de verdade, chorei muito na noite passada, tenho chorado praticamente todas as noites, minha alma está fatigada.

A próxima aula já foi motivo de eu desejar acordar e hoje é apenas mais uma. E a figura que a ministrará foi inspiração para versos, para a invenção dos pretextos mais pueris por um pouco de atenção. Ele costumava ser a representação do amor perfeito para mim, quando perfeita era a ilusão, tão só ela.

Amor, amor, amor.

Tome cuidado com aquilo que se apresenta como amor, pode ser só a projeção das virtudes que você já possui dentro de si, mas as nega porque ainda não se ama o suficiente para aceita-las.

Não se confunda, não se prenda às regras, não vamos transformar isso em uma contável enciclopédia, tampouco padronizar emoções como se fôssemos todos obrigados a sentir na mesma hora e da mesma forma.

Não projete seus anseios em outrem. Não viva a esperar por alguém que não faria nem 1/4 por você. Não morra pelo beijo de alguém que não merece nem sua intenção. Não se permita estar em estado de sofrimento porque existe a diferença entre inevitável e opcional. Viver determinando sua felicidade partindo do princípio que esse amor é o que lhe resta, já começamos mal e olha que eu não sou nenhum exemplo para lhe prosear.

Se me permite, só quero lhe dizer que somos jovens, enquanto vivemos somos jovens, jovens demais para desperdiçar as preciosas lágrimas da fonte por motivos banais. Não julgo a intensidade que compõe seus sentimentos, apenas creio que muitos pensamos que estamos amando do jeito certo, todavia o que nos fascina é a sensação de estar amando, tão brevemente, amando. Isso sim.

Eu não me aventuraria a descrever a apatia como é. Meus olhos eram de vidro, o coração petrificado, corpo fechado. Para o mundo um fardo. Assim era minha vida sem amor, quando num belo dia de dezembro o vi pela última vez. Eu apertava os travesseiros, relia a exaustão do que me era um tesouro, decorei todas aquelas músicas. Criei um ritual de proteção à vida e ela foi passando, o mundo girando, pessoas lá fora se amando e eu por ele aguardando.

Tic tac, eu te amo.

Tic tac, mal vejo a hora de que me veja como a mulher que eu sou.

Tic tac, eu preciso de você como nunca precisei de mais ninguém. Preciso que leve embora a saudade, mas não essa física que se acaba com um abraço. 

Como aprender a me conformar com o que nunca pude ter?

É como dizer a uma garota no Natal que aquela boneca que ela namora com o olhar lânguido na vitrine da loja de brinquedos é muito cara e o Papai Noel não pode dar porque o Papai Noel é assalariado e a aquisição daquele produto tiraria da mesa o pão. É lógico que vai machucar. Algumas ilusões precisam ser desfeitas com sutileza, até que romper o nó não lhe cause nenhum tipo de dano.

Estranho seria viver novamente essa dor por puro prazer. Não faz sentido empinar pipa nessa encruzilhada.

Bom dia.

É só mais um, como você. Um dia eu te olhei, meu salvador, o grande escolhido. Encantamento. Meus olhos se lançaram contra os seus, contudo não me enxergou, pois tinha muita gente por ali. Eu poderia gritar meu nome e te dar bons motivos para ficar, mas não. Eu preferi assim. Renegando meu próprio ser te fiz feliz. Não reconheceu. Nem mesmo quero.

Bom dia.

Que seja bom para todos nós, no auge ou não. Falar de amor não enche a barriga; apontar meus erros sim e são tantos. Eu bem que tento não tropeçar na corda bamba, não olhar para baixo de forma que o medo reduza o campo de visão e amplie os fantasmas do incerto.

Meu bom dia não deve ter ouvido. Deixe-me ver se estou na página certa. Parte do formalismo se cumpriu; pode suspirar agora, não tão alto para que se desmembre a hipocrisia que te colocou aí. Acima de nós. Com a verdade na ponta da língua, tão cheio de indiferença.

Você não era assim ou era e eu não percebi. Vou tentando entender o que vi em você ou deixei de ver ou não enxerguei em mim.

As luzes brilharam sobre sua cabeça, eu te refleti em cada verso de amor que hoje escondo por vergonha, por não querer mais ler, porque a cada aula que passa é verdadeiramente escuro acreditar que tudo não passa de uma crise a fim de fortalecer o que sinto, mas não há como levantar tijolos para montar castelos de baralho; tudo que o vento derrubou, não posso deixar de me machucar, de precisar desse tempo longe, ainda que me custe caro. Eu vim à procura de você e agora saio esquadrinhando por mim, na mais profunda definição.

Meu coração não acelera mais, não sei o que há. Antes ele costumava saltitar, me deixar até desconcertada porque minhas perninhas tremiam, eu mal conseguia andar. Saber que você estava por perto fazia com que as borboletas ensaiassem o balé de antemão, ainda que no momento exato bancassem as amadoras inventando passinhos. No fim das contas era engraçado. Então elas se cansaram, as sapatilhas penduraram, se sentaram a beira do palco. Nenhum refletor ligado. Sempre os mesmos passos, ora bolas, isso cansa qualquer um. Não ver o céu, nem adivinhar de que cor é. Nenhum tambor rufando e chamando para mais um carnaval, o mais mísero dos desfiles que fosse, porém que pudessem se apresentar sem temores.

Alguém ainda acha graça naquelas piadinhas? Antes eram tão originais, bem boladas, poderia refletir horas e horas o que dito foi pelas entrelinhas, o que deveria guardar. Hoje acumulo menos espaço. Nem mais poeira, nem mais retratos. Só segue o que importa e não é frieza, mas sabedoria. O amor é corpo docente e não lhe interessa tomar posse de um coração se for para quebra-lo.

Bom dia, amor.

Eu olho para os cantos, mas ele não está por aqui. Nem em você, nem onde conheci. Nas paredes cinzentas, agora alaranjadas, nem nas cadeiras azuis que aplacaram a ansiedade de um amor secreto e reprimido. Não sou a única. O tablado existe mesmo para delimitar os sonhos. A plateia nunca chega perto da grande estrela.

Somos todas descartáveis no coração; uma carta jogada no lixo, um bombom delicado, um olá plastificado. Você não iria querer saber se está tudo bem. Com você está. No meu lugar senta outra apaixonada pensando que te perder é o fim do mundo. Algumas meninas não desviam o olhar.  Você é o rei delas. Sem esperanças elas vivem de migalhas, choram imaginando quão tediosa será a vida sem a esperança de que alguns príncipes usam óculos e não estão travando guerras para defender a manutenção de reinos, estão por aí como anônimos que levantam cedo para construírem os próprios castelos. Nenhum garoto ao alcance de te superar. Faz bem ao ego dizer não. A fila anda e aumenta, você sabe, mas aprendeu a disfarçar tão bem que é o bem querer de quem aqui fica por sua causa.

As turmas se renovam. Ano após ano. A lista diz quem fica e quem vai. Não seria justo testar as competências em oitenta perguntas. A vida sim é a grande mestre e ela está pouco se lixando para quem ficou em primeiro ou último lugar ou nem sequer figurou dentre aquelas centenas de nomes.

Na visão panorâmica de tão distintos semelhante somos porque independente do tamanho de nossos livros, da profundidade de nossas reflexões, famas e posses, um dia suspiraremos pela última vez, então não me julgue burra ou inferior, não tão bonita para seu aguçado gosto. Julgue-me alguém que tenta entender a vida e que uma vida me seja o bastante para fazer tudo àquilo que estipulei, seguindo ou não as enumerações dos meus desejos. Só sei de algo: ter-te não é mais um deles. Todos os planos que incluíam você simplesmente se dissiparam.

Eu não quero mais viver me sentindo vazia ou dependendo da sua imaginária aprovação. Não me interessa te agradar, muito menos te ferir. Não sei o que me espera quando o verão chegar, mas canto com leveza que estou muito perto de poder me apaixonar. E por mim. Amor que garota nenhuma vai poder estragar. Porque eu saberei o que é melhor para mim. Porque eu sou minha melhor companhia até mesmo no silêncio. E mesmo me desconhecendo me entendo, me recrio. Sempre por amor.

Nada feito pela metade. Nada por você.

Bom dia.

Há quatro primaveras, com os olhos inocentes cheios de lágrimas eu te responderia que você foi a melhor coisa que me aconteceu. É que eu ainda não havia me apaixonado por nada que me fizesse entender que antes de você é de mim que preciso. E nada de falsos amores, sem querer ser indelicada. Contigo eu aprendi muito sobre mim, eu cresci, precisei voltar para entender que o tempo passou e eu aceitei a vida como ela se mostrou, sem capas.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado de ler e que eu possa encontrá-los na próxima fic! ♥



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