Michael Burnham estava em pé dentro do seu globo computadorizado individual no Centro de Aprendizado Intermediário T’Mara em  ShiKahr, capital de Vulcano. Ela completara doze anos a dois meses e naquele momento estava para responder a um teste de revisão que a capacitaria para fazer a prova que lhe daria a oportunidade de ingressar na classe de estudos que estava um grau acima do seu. Havia se concentrado bastante nos estudos na última semana e se preparado, tanto intelectualmente quando emocionalmente para este momento, usando as técnicas de controle mental que Sarek se ensinara, principalmente porque algumas questões apresentadas referentes ao tema do teste, que versaria sobre raças alienígenas hostis, poderiam trazer-lhe lembranças desagradáveis.

— Pupila Burnham— perguntou a voz metalizada do computador da unidade de aprendizado - em que a ordem social de Klingon se baseia?

— Dinâmica honra-vergonha inviolável – respondeu ela calmamente.

— Correto— disse o computador antes de continuar – Qual é o planeta lar dos Klingons?

— Qo'noS, localizado no setor Omega Leonis, Quadrante Beta. – respondeu Michael - Suas coordenadas são 43.89.26.05 na grade 09, quadrante 68, bloco 27, setor 70.

— Correto. Política de Qo’noS em relação à Vulcano e à Federação?

— Hostil a ambos – disse ela.

— Correto – tornou a máquina – Qual é a ordem política dos Klingons?

—Vinte e quatro grandes casas – respondeu a garota.

— Correto. Localização do território vítima do ataque Klingon mais recente.

Michael já esperava esta pergunta. Porém ao tentar dar a resposta, inexplicavelmente sentiu sua voz se embargar, uma desagradável palpitação tomou conta do seu peito e ela não conseguiu dizer nada. Depois de alguns instantes o computador repetiu a pergunta.

— Localização do território vítima do ataque Klingon mais recente.

Mais uma vez a menina permaneceu em silêncio.

— Duração inaceitável entre consulta e resposta correta— disse o computador da unidade. Ele formulou uma nova questão - Número de sobreviventes no posto avançado humano-vulcano de ciências em Doctari Alfa.

Michael apenas olhou para a tela do terminal, sentindo-se angustiada e confusa.

— Duração inaceitável entre consulta e resposta correta.— repetiu o computador - Número de sobreviventes em Doctari Alfa.

— Não... – balbuciou Michael.

— Resposta inaceitável. - disse a máquina, repetindo mais uma vez - Número de sobreviventes...

— Por favor... – sussurrou a menina.

— Número de sobreviventes...— disse o computador novamente.

— Pare... – disse Michael, já com os olhos marejados de lágrimas.

— Programa pausado— finalizou o computador.

Sarek, que estivera acompanhando o teste de sua pupila, surgiu na passarela logo acima da cápsula onde Michael se encontrava.

— Sarek! – disse ela olhando para ele, ainda com lágrimas nos olhos - Sinto muito. Eu posso fazer melhor.

Ele a olha em silêncio por alguns instantes. E finalmente diz:

— Quando a emoção nos traz fantasmas do passado, apenas a lógica pode nos manter no presente.

— Talvez eu possa tentar aprender Vulcano para ser mais rápida nas respostas – diz Michael, ainda tentando controlar e justificar suas emoções.

— Sua língua humana não é o problema. – diz Sarek calmamente – O que lhe traz dificuldades é o seu coração humano. Você ainda tem um longo caminho de aprendizado a percorrer.

Michael abaixou os olhos úmidos e suspirou. Quando os levantou novamente, encarou o seu mentor com um olhar resoluto.

— Sarek – disse ela – vou esforçar-me mais. Não decepcionarei você de novo.

— Criança – disse Sarek calmamente – lembre-se de que diferentemente do mito corrente, as emoções são profundas nos vulcanos. Muitas delas mais intensas que nos humanos. Mas a lógica nos oferece uma serenidade que eles raramente experimentam. Meu melhor conselho para você é o mesmo que dou a Spock: controle suas emoções, para que elas não controlem você.

Michel empertigou-se, olhando para Sarek séria.

— Entendo – disse ela.

— Ainda não, mas está a caminho de entender. – disse o vulcano – Tenha, porém em mente que você é totalmente capaz de decidir seu próprio destino. A questão a ser enfrentada é que caminho vai escolher. Tentarei orientá-la, mas Isto é uma coisa que somente você pode resolver.

Michael assentiu e recolheu seu material de estudo. Quando subiu a escada, deixando o nicho de aprendizado, viu que Sarek já estava caminhando em direção à saída. Apertando o passo, quase correndo, a garota se esforçou para alcançá-lo.