Michael de Vulcano escrita por Valdir Júnior


Capítulo 2
T'Pau




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Ela chegou sem avisar, o que não era usual. Sarek encontrava-se em seu escritório revisando alguns relatórios que iria apresentar ao Conselho de Ministros de Vulcano acerca do seu trabalho no corpo diplomático na Terra, quando Sarissa, a rígida governanta que ajudava sua esposa a administrar a casa e a cuidar do pequeno Spock entrou na sala. Ela esperou protocolarmente que o embaixador  lhe dirigisse a palavra.

— Pois não, Sarissa – disse Sarek, desviando os olhos do “pad” que estava lendo – necessita de alguma coisa?

— A Ministra T´Pau (1) acabou de chegar e pediu para falar com o senhor. – disse ela formal – Ela o está aguardando na sala de estar.

Sarek levantou uma sobrancelha, intrigado. “T’Pau? Certamente esta não é uma visita social” pensou.

— Diga a Ministra que irei em seguida – disse Sarek – informe também minha esposa e peça que ela se junte a nós.

A governanta inclinou levemente a cabeça assentindo e saiu do escritório.

Amanda havia acabado de tomar as últimas providências para instalar a menina humana na casa quando foi informada por Sarissa da presença de T’Pau. Da mesma maneira que seu esposo ela ficou intrigada com a visita da mais importante conselheira de Vulcano à sua casa, mesmo sabendo que as famílias dela e de Sarek eram interligadas desde a época das tribos guerreiras, bem antes da Grande Reforma realizada por Surak (2) há quase dois mil anos.

Antes de ir receber a ilustre visitante junto com Sarek ela olhou preocupada para a criança adormecida na cama, que ainda estava confusa, triste e apática deste de que haviam chegado ao planeta há três dias. A menina mal se alimentaria durante este período e tinha pesadelos constantes com o que acontecera no posto científico, que a deixavam muito assustada. A professora, seguindo seus impulsos naturais, sempre estivera por perto para acalmá-la. Naquele momento, porém, a criança parecia dormir calmamente e por isso Amanda tranqüilizou-se e saiu silenciosamente do quarto.

Quando ela entrou na sala, encontrou a Ministra T’Pau sentada na cadeira de encosto alto que geralmente era reservada para Sarek. O Cajado que representava a sua posição de Conselheira estava nas mãos do silencioso secretário que a acompanhava.

A velha senhora mantinha-se numa postura rígida e séria. Apenas desviou levemente o olhar para Amanda quando ela colocou-se em ao lado da cadeira onde o marido se sentara. O filho deles, Spock, estava parado solenemente do outro lado.

— Vida longa e próspera, T’Pau – disse Amanda, fazendo o tradicional gesto de saudação vulcano, com os dedos juntos e abertos em “V”.

A senhora não respondeu, apenas repetiu mecanicamente o gesto e em seguida voltou seus olhos novamente para Sarek.

— Fui informada do ocorrido em Doctari Alfa – disse a Ministra sem preâmbulos – e me disseram que vocês resgataram um criança humana.

— De fato – disse Sarek – ela foi uma das poucas sobreviventes, sendo a única da sua idade. Seu pai foi morto e sua mãe está desaparecida.

— E ela não tem outros familiares a quem vocês possam confiá-la? – questionou T’Pau.

— Ainda estamos tentando localizá-los, mas até o momento não obtivemos resultados. – respondeu o embaixador – Apenas descobrimos que a criança, apesar de ser uma menina, tem o mesmo nome que seu pai, Michael Burnham.

— Diante disso – perguntou novamente T’Pau -  quais são seus planos para ela?

Antes que Sarek pudesse responder, Amanda interveio.

— É nossa intenção adotá-la – disse ela séria – e criá-la em Vulcano.

A Ministra desviou seus olhos para Amanda, encarando-a por alguns segundos e depois olhou também para Spock. E quando falou, seu tom estava mais duro.

— Tem certeza de que é uma boa idéia? – disse – sua família já possui uma característica... especial, que já é motivo de muitos embaraços para vocês em nossa sociedade. Talvez não seja prudente nem lógico acrescentar mais um.

Foi Sarek quem respondeu com firmeza.

— Lady T’Pau – disse ele calmamente – apreciamos e agradecemos suas ponderações, mas não podemos esquecer que ela é sobrevivente de um ataque a um posto que estava dentro do espaço vulcano. Portanto, devido a esta circunstância, somos no momento responsáveis por ela.

— Existe também a questão de nossa cultura ser muito diferente da terráquea – disse a matrona secamente - talvez a criança não se adapte.

Amanda Grayson suspirou e respondeu, tentando esconder certa impaciência na voz.

— Como a senhora citou, nossa família tem características “especiais” e é justamente por isso e também por eu conhecer a cultura de Vulcano bem antes viver aqui é que tenho a certeza de estar plenamente habilitada para educar e adaptar bem a pequena Michael.

T’Pau olhou para Amanda e sua única reação foi um leve franzir de lábios. Levantou-se devagar e estendeu a mão para pegar o cajado que seu secretário lhe entregou.

— Muito bem – disse por fim a Ministra – vejo que a decisão de vocês já está tomada e, portanto, só me resta aceitar. Mas os advirto que a sua escolha já esta causando certo desconforto para algumas pessoas em nosso mundo. Espero que estejam preparados para lidar com as conseqüências desta escolha.

Ela levantou a mão e fez a saudação vulcana, se despedindo.

— Vida longa e próspera - disse ela.

Paz e vida longa – respondeu Sarek.

E sem dizer mais nada, T’Pau virou-se foi embora.

 

Referências do Capítulo:

(1) T’Pau era uma diplomata, juíza e filósofa vulcana que se tornou uma das principais figuras da história do seu mundo. Ficou conhecida por sua lógica às vezes implacável, mas suas ações durante o primeiro contato entre humanos e vulcanos foram responsáveis ​​pelas relações favoráveis ​​entre as duas raças. Também foi a única pessoa na história a ter recusado um assento no Conselho da Federação Unida dos Planetas.

(2) Surak foi um lendário filósofo, cientista e lógico vulcano que no período que ficou conhecido como “Tempo de Despertar”, em que os vulcanos eram tecnologicamente evoluídos mas ainda muito violentos e passionais. Ele fundou um movimento baseado no uso da lógica e no controle das emoções que modificou para sempre a civilização vulcana e deu inicio a uma era de grandes transformações. Por isso Surak é considerado o maior de todos que já viveu em Vulcano e o pai da moderna civilização vulcana.


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