Às estrelas e além escrita por JJ Gleek


Capítulo 4
Capítulo 4




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(Continuação... São Paulo, 9 de dezembro de 2016)

Na porta do salão de festas, apesar da parca iluminação do poste e das luzes da fachada, consegui identificar um dos seguranças como alguém familiar.

— Leonardo, o que você está fazendo aqui!? Que surpresa ótima! - disse minha mãe, ao reconhecer o ex- namorado de Isabel, 2 anos mais velho que ela.

— Boa noite Dona Marta! Eu estou trabalhando, mas fico muito feliz em vê-la também. Como está a Bel? Tenho certeza que estará mais linda que o normal esta noite. Ela ainda está namorando o Juliano?

— Ela está bem e muito animada para hoje. Eles terminaram no mês passado, depois do acidente de carro que ele sofreu.

—Nossa, coitado! - disse Leonardo, com o semblante aparentemente triste. No fundo, ele devia ter se regozijado com a notícia. Aquele falso, apesar de enganar muito bem minha mãe, nunca me desceu. Não duvido nada ele ter causado o tal acidente.

— Foi tudo muito triste, mas ainda bem que ele está se recuperando. Quando tiver tempo, vá tomar um cafezinho lá em casa. Eu faço aquele bolo que você gosta! – falou minha mãe, toda simpática.

— Vou sim, pode deixar!

No salão lindamente decorado, fomos logo procurar a mesa onde, ansiosamente, minha irmã nos aguardava.

— Mãe, como vocês demoraram! Eu estou louca pra ir dançar com as meninas.

— Pode ir, afobadinha! Eu e a Liz recepcionamos seus avós. - disse minha mãe, fazendo com que Isabel saísse em disparada rumo à pista de dança, com suas luzes oscilantes e a fumaça de gelo seco. Só de pensar nesse ambiente eu já me sentia meio tonta.

Tudo corria na mais perfeita monotonia: buffet-mesa-mesa-buffet, inserindo-se aqui e ali pequenos comentários da minha avó sobre o quão bonita Isabel estava (“Uma mocinha linda, diferentemente dessas outras meninas com suas roupas vulgares!”), perguntas habituais que questionavam minha aparente heterossexualidade (“E os namoradinhos? Você está paquerando alguém?”) e algumas idas minhas ao banheiro.

Foi quando ele apareceu. Eu estava sentada e extremamente focada no meu prato de comida, tanto que demorei cerca de 2 segundos a mais para sentir o cutucão em minhas costas.

— Oi. -falou.

Gelei. O que ele estava pensando!? Parecia um stalker, me seguindo daquele jeito. Primeiro no auditório da escola, agora no baile de formatura. Com a boca cheia de comida, sorri timidamente com os cantos dos lábios. Ele me chamou para conversarmos, e concordei, com a condição de eu terminar meu prato antes.

Ao me ver saindo com aquele garoto completamente estranho a ela, minha avó já estava pronta para me fazer inúmeras perguntas, mas antes que ela pudesse abrir a boca, minha mãe simplesmente deu uma leve cotovelada em seu braço.

Ao nos distanciarmos da mesa, andamos até um lugar mais silencioso, próximo aos banheiros.

— Acho que aqui está bom. Ou a zoada da pista de dança ainda está muito alta? – perguntou ele.

— Está bom.

— Mais cedo não deu tempo de a gente conversar direito. Quais outros tipos de livros você gosta de ler, além dos romances russos do século XIX?

— Eu leio de tudo. De revistas a manuais e bulas.

— Nossa, que incomum! - falou, sorrindo. – Eu gosto muito de livros de mistério. Principalmente do Sherlock Holmes.

— Nossa, sério!?- disse, chocada. - Depois do Hercule Poirot ele é meu detetive preferido! Você já leu Agatha Christie?

— Não, mas já ouvi falar.

— Se você quiser eu posso te emprestar um dos livros dela.

— Isso seria muito legal! Você vê algum anime?

— Não, eu prefiro ler clássicos. Mas poderia experimentar algum.

— Eu indico “Death Note”, já que você gosta de mistério, como eu. De quais autores clássicos você gosta?

— Gosto muito do Machado de Assis e da Jane Austen.

— Meu Deus, você é tão diferente! Nunca vi ninguém falar que gosta de ler Machado de Assis! – falou, sorrindo e me olhando de um jeito estranho. Ninguém nunca tinha me olhado assim, o que me deixou constrangida. –Não precisa ficar com medo...- disse ele, me vendo recuar diante da também súbita aproximação dele, que coincidiu com o olhar. -... isso foi um elogio.

Senti minhas bochechas arderem, e foi tocando “The Only Exception” da banda Paramore que demos nosso primeiro beijo.


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