Às estrelas e além escrita por JJ Gleek


Capítulo 5
Capítulo 5




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São Paulo, 10 de dezembro de 2016

 

Acordei com o cheiro de alho e cebola sendo refogados, o que me fez praguejar: sempre odiei acordar tarde, e minha mãe ficava muito brava com Bel toda vez que ela acordava perto da hora do almoço.

— Bom dia, dorminhoca! – disse minha irmã, toda simpática. – Você quer ajuda para arrumar a cama?

— Não, obri... Espera aí! O que está acontecendo?

— Eu só pensei que talvez você quisesse ajuda. Só queria ser legal com você.

Quando cheguei na cozinha, minha mãe já estava terminando de preparar o almoço. Eu a ajudava temperando a salada, quando, ao perceber todos reunidos na cozinha, Isabel soltou o motivo de seus gracejos:

— Pai, mãe. Eu queria pedir a atenção de vocês para fazer um anúncio especial: a Liz está namorando!

Vi o rosto do meu pai começar a ficar vermelho de raiva. Minha mãe, que sempre o acalmava, tinha ficado tão chocada que não teve reação.

— Eu não estou namorando! – imediatamente contestei.

— Ah, e o seu beijo com o Arthur Dent ontem foi o quê? Eu estava indo ao banheiro quando vi vocês dois. Sempre te achei esquisitinha, sempre passava o recreio na biblioteca, desde que sua amiguinha foi embora. Que bela “biblioteca “temos aqui! – falou, toda animada e mostrando o celular. Na tela, havia uma foto do meu beijo na noite anterior.

Foi quando veio o tapa. Eu não aguentei toda aquela exposição de Isabel e, pela cara dos meus pais, eles pensavam que eu estava namorando escondido. Pelo fato de ela armar todo esse circo, dei um belo de um tapa no rosto de minha irmã. Isso durou questão de segundos, mas já era suficiente para um castigo de meses. Sem TV, computador, celular e qualquer outra coisa que eu habitualmente já mal utilizava. Sempre era assim, eu conhecia o discurso, ouvindo-o ser proferido e endereçado tantas vezes à Isabel. Mas a mim, nunca. Eu nunca tinha ficado de castigo.

Diante disso e de um pequeno arrependimento por ter batido em Bel, senti pequenas lágrimas descerem pelas minhas bochechas. Logo minha visão se embaçaria, e eu não daria aquele prazer de me ver chorar a minha irmã. Corri e me tranquei no meu quarto.

Depois de cerca de meia hora de discussão entre meus pais e o choro dramático de minha Isabel, que exageradamente se vitimava pelo tapa sofrido, escutei minha mãe batendo à porta. Abri-a e mamãe logo me abraçou, dizendo:

— Você sabe que vai ficar de castigo pelo tapa, não preciso nem falar. Mas me conta o motivo dessa agressividade toda. Você nunca foi assim.

— Ela me expôs e fez parecer que eu estava namorando escondido. A senhora sabe que eu nunca esconderia nada de vocês três!

— Eu estava feliz por você não ser sapatão! Sempre pensei que fosse, andando pra cima e pra baixo com a Julieta. Pareciam um casal! - estralou Bel, do corredor. Eu já deveria imaginar que ela estava escutando. Era a cara dela se intrometer em tudo!

— Sapatão é um termo preconceituoso. O certo é lésbica.

— Eu não ligo, eu não sou e nem você. Sempre arrumando uma oportunidade pra bancar a nerd. - falou, revirando os olhos.

— Isabel, nem tudo diz respeito a você. Não distrate outras pessoas. Ouça a Liz - disse minha mãe, numa leve reprimenda - E quanto ao menino? Vocês estão ficando?

— Eu não sei sequer o nome dele. Nós começamos a conversar na festinha de despedida do terceiro ano, ontem. Depois ele apareceu aquela hora na nossa mesa e andamos até um lugar menos barulhento. E então... A senhora já sabe o resto.

— Sei bem! Ele é bonito de frente também ou só de perfil? – perguntou mamãe.

Senti minhas bochechas esquentarem. Com certeza estavam coradas.

— Temos gostos em comum. – Apenas respondi.

— Fofos, esses dois nerdzinhos! - disse Bel, animada - O nome dele é Arthur Dent. Ele é irmão da Anne, uma menina sem sal que era da minha sala. Se você quiser eu posso arrumar o número do celular dele pra você- falou, conciliadora.

— Estou sem celular por conta do castigo, esqueceu?

— Quanto a isso, eu você e seu pai podemos renegociar. Ao invés de ficar sem celular, você vai ter que fazer algumas tarefas domésticas a mais.

— Aceita logo! Nunca fizeram isso comigo! - alertou minha irmã.

Sob os olhares animados de Isabel durante uma conversa entre eu e meus pais, o acordo foi firmado: por um mês, eu teria que fazer a faxina da casa, além de passear com o cachorro de minha irmã. Fora a habitual limpeza e organização da cozinha.

— Isso significa menos tempo de leitura. – murmurei, já no meu quarto.

— E mais tempo de troca de saliva, beijoqueira! - falou Isabel, entrando de supetão no meu quarto para entregar o papel onde anotara o número de celular de Arthur.


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