Não conte a ninguém escrita por StellaHime


Capítulo 6
(Nem tão) Feliz Aniversário


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Já eram quase onze horas da manhã e o almoço de aniversário estava marcado para o meio dia. Seiya se apressou em fazer tudo o que tinha para fazer desde o dia que foi convidado para o aniversário, a fim de que não se atrasasse nem surgissem imprevistos. Ele não queria dar motivos para ser mal visto pelos convidados. Não que ele se importasse, mas era pela garota.

Às onze e quinze ele escolheu uma roupa não muito formal que tinha comprado há pouco tempo – Louis sempre disse para ele ter roupas novas em seu guarda-roupas, já que precisava se apresentar formalmente com frequência como o rico Seiya Kou - e foi se arrumar.

Faltando quinze minutos para o meio dia, olhou-se no espelho e sorriu diante do que viu: estava usando uma camisa de mangas compridas azul clara justa no corpo e enrolada até os cotovelos, calça preta e sapato social também preto. Quando viu o cabelo curto impecavelmente penteado, Seiya sentiu saudades dos longos cabelos que tinha alguns anos antes. Ele teve que os cortar também a pedido de Louis, que dizia que cabelos curtos e bem arrumados eram muito mais apresentáveis e demonstravam mais confiança do que cabelos longos. Ele achava que aquele tipo de roupa não combinava muito com seu estilo, que era mais casual, mas deveria admitir que elas lhe caíam muito bem.

Às onze e cinquenta, pontualmente, o motorista chegou. Claro que não era seu motorista, mas, para todos os efeitos, era Seiya quem o contratava e pagava seu salário. O jovem indicou a casa em que seria realizado o aniversário e após o meio dia chegaram.

Seiya desceu do carro e tocou a campainha. Poucos segundos depois, ouviu a voz de Ikuko, que logo abriu a porta e o cumprimentou com um sorriso:

— Olá, Seiya Kou, seja bem-vindo! Sinta-se à vontade.

Enquanto a mãe de Serena falava, Seiya não pôde deixar de notar a incrível semelhança nos olhos das duas, da mesma forma que o sorriso. Serena parecia uma versão loira e mais jovem da mãe.

— Obrigado, senhora Ikuko. Pode me chamar só de Seiya.

— Venha comigo, vou lhe mostrar a mesa de convidados. Serena está atrasada, como sempre.

A casa da família Tsukino era realmente grande, Seiya pensou. Poderia caber confortavelmente dois orfanatos ali dentro. Eles passaram pela porta e adentraram em um imenso campo cuidadosamente aparado e repleto de árvores e flores. A brisa que soprava era fria e confortável. O local estava todo enfeitado com decorações de cor rosa e branco.

Deveria haver cerca de sessenta pessoas ali, exceto garçons e organizadores. Seiya sentou-se à mesa ao lado de algumas garotas, que Ikuko disse serem amigas de infância de Serena. Ele se apresentou a cada uma e começaram a conversar enquanto comiam e bebiam vinho.

— Meninas – Uma das garotas iniciou, empolgada –, vocês também ouviram os rumores? Soube que hoje vai ser o noivado da Serena. Por isso essa festa enorme!

— Não sei, Mina – a outra jovem, de cabelos vermelhos, disse. – Serena teria nos falado se fosse verdade.

— Ela o conheceu há pouco tempo, no dia do leilão.

— E como já vão noivar? Isso não parece muito com a Serena...

Seiya ainda tentava digerir o que Minako havia falado. Aquela palavra de sete letras o havia atingido como uma lança na garganta. De repente, o ar lhe faltou e ele precisou se levantar para tentar entender aquilo. Então, aquilo tudo era uma festa de noivado, afinal? Droga, como ele se sentia um idiota.

Ele caminhou até uma ponte e se debruçou, acima de um pequeno lago, fitando seu próprio reflexo, quando percebeu que alguém se aproximava. O rapaz posicionou-se ao seu lado e olhou para o lago, da mesma forma que ele.

— É uma bela festa – Seiya comentou, voltando seu olhar ao rapaz, o qual ele logo reconheceu do leilão. Ele estendeu a mão e se apresentou: – Você esteve no leilão, não? Sou Seiya Kou.

— Sim. Sou Darien Chiba – o rapaz respondeu, sério, e apertou firmemente a mão de Seiya. – Ouvi falar muito de você no leilão. Parabéns pelo trabalho que faz. É muito nobre.

— Obrigado.

— Eu estava comentando com Kenji que gostaria de fazer doações à caridade, mas não conhecia ninguém do ramo. Foi quando ele me falou de você e do leilão que estava preparando. É uma boa forma de permanecer anônimo, já que tenho uma grande empresa.

— Fico muito agradecido. É sempre bom receber novos parceiros.

— Quero conhecer um pouco mais sobre esse lugar, mas uma outra hora. – Darien disse, dando aquela conversa por encerrada e voltou-se aos convidados.

Seiya suspirou e fez o mesmo que o rapaz. Mas, antes de sentar-se à mesa das meninas, Kenji foi ao seu encontro, o cumprimentou e pediu que se sentasse com ele, Darien, a esposa e o filho mais novo.

— Hoje é um grande dia para a minha filha – Kenji disse, orgulhoso. E virou-se para Darien – Vocês dois já devem ter se encontrado no leilão, mas agora eu oficialmente os apresento. Darien, este é o homem que salvou a vida de Serena. Seiya, este é Darien, o noivo da minha filha.

Por um momento, Seiya sentiu todo o seu sangue sair do corpo, talvez o ar tenha lhe faltado ou tenha ficado pálido. Ikuko olhou para ele, espantada. Então era mesmo verdade. E ela estava noiva daquele homem, que parecia tão mais velho que ela e tinha uma serenidade espantosa. Então ele se recompôs.

— Acabamos de nos conhecer, que coincidência – Seiya tentou forçar um sorriso. – Serena não me disse que estava noiva.

— Eu não sabia que vocês eram amigos – Darien comentou, direto.

— Depois que eu a salvei, mostrei-lhe o meu trabalho. E desde então ela vai ao orfanato para visitar as crianças.

— Isso é a cara dela – Darien de repente fechou os olhos e sorriu, como se estivesse relembrando algo. A expressão de Seiya se enrijeceu.

— Ele fará o pedido hoje – Kenji interrompeu, novamente com um sorriso orgulhoso, e deu um tapa no ombro de Darien. – Afinal, onde está essa menina? Vou apressá-la. – Ele completou e logo se levantou.

Seiya e Darien se entreolham e esperaram Kenji e Ikuko se levantarem e fugirem das suas vistas. Em seguida, concentraram-se em suas bebidas e celulares, ficando em silêncio e conversando vez ou outra com o irmão de Serena.

~~

Já era meio dia e quinze e os convidados estavam todos no quintal da casa, esperando por ela. Mas Serena não sentia a menor vontade de falar com eles ou sequer comemorar seu aniversário. Ela estava escovando os cabelos longos vagarosamente quando sua mãe entrou no quarto:

— Minha filha, você ainda não está pronta? Sei que hoje é um grande dia, mas, por favor, os convidados estão esperando!

— Ele... O Darien... Já chegou?

— Sim, foi um dos primeiros a chegar. Há pouco chegou aquele rapaz do leilão. Seiya, acho que é esse o seu nome.

Serena não respondeu e voltou a alisar os cabelos.

— Apresse-se, Serena. Não é bom uma dama se atrasar para o seu próprio noivado.

— Eu já falei que não vou me casar com aquele homem – Serena respondeu, firme, olhando para a mãe pelo espelho. – Digam a ele que, se ele fizer esse pedido, eu vou dizer não!

— Mas o que você está dizendo? Está louca, minha filha? – Desta vez foi Kenji quem disse, entrando no quarto.

— Eu já falei, meu pai. Eu não o amo. E não me casarei.

— Minha filha – Ikuko tomou à palavra. – Você sabe que precisa. Pelo bem da nossa família.

— Eu não tenho culpa do que vocês fizeram – Serena disse, séria, e abaixou seus olhos. – Vocês não podem decidir meu destino assim, só porque querem.

— Nós não temos escolha. Você foi prometida àquele homem desde o seu nascimento, sabe muito bem disso.

— Eu direi não – ela sentenciou, deixando sua escova de cabelo na penteadeira e dirigiu-se à porta.

~~

Seiya ainda estava tentando digerir tudo aquilo após conversar um pouco com Darien, que perguntou sobre Serena e como ele a havia salvado, após longos minutos de silêncio. Seiya perguntou como se conheceram e acabou descobrindo que eles nem se conheciam direito. Na verdade, nenhum deles  três também.

Foi então que ele viu de relance um brilho dourado irromper na direção dos convidados. Serena vestia um vestido branco rendado acima dos joelhos, com alças finas e um decote discreto; seus longos cabelos dourados estavam soltos, com duas tranças finas que se encontravam atrás da cabeça.

Seiya se permitiu contemplar a beleza da garota e se levantou quando ela veio na direção da mesa em que estavam, após acenar para os convidados e cumprimentar as amigas.

— Desculpem a demora. Serena tem a péssima mania de se atrasar em tudo – Ikuko disse rapidamente, o que deixou a filha ruborizada por instantes.

— Você está linda – Seiya poderia ter ouvido essas palavras saírem de sua própria boca, mas não foram delas que saíram. – Feliz Aniversário. – Darien completou, pegou a mão direita da jovem e a beijou na junta dos dedos. Ela, porém, limitou-se a agradecer e voltou-se a Seiya,

— Muito obrigada pela mensagem.

— Você está encantadora – ele finalmente disse e se aproximou da garota, dando-lhe um beijo em uma das bochechas e sentindo seu perfume. Talvez ele tenha sentido um quê de ciúmes vindo do olhar de Darien, principalmente após a próxima frase, mas não era como se ele se importasse. – Feliz Aniversário, Bombom – e disse, por fim, com um sorriso largo, recebendo um agradecimento.

Todos se sentaram à mesa e logo depois o almoço foi servido, seguido pela sobremesa. Seiya, Serena e Darien conversavam após a sobremesa quando Kenji se aproximou e pediu que Darien o acompanhasse. Ele logo se levantou e seguiu o governador.

— Parabéns pelo noivado, Bombom – Seiya disse, na esperança de que a loira dissesse algo que fizesse aquilo não parecer verdade. Ela fitou imediatamente o prato de sobremesa vazio e entristeceu. – Quer conversar? Podemos ir àquela fonte, que é mais reservada – por fim, ele disse, e a loira assentiu, inda cabisbaixa.

Seiya e Serena se dirigiram ao local em que Seiya e Darien estavam há pouco. Eles se debruçaram sobre a ponte e ficaram em silêncio por algum tempo.

— O que está acontecendo? É sua festa de noivado, você deveria estar com um sorriso estampado no rosto – Foi o rapaz quem quebrou o silêncio.

— É complicado, Seiya, você não entenderia.

— Você pode começar pelo começo, assim eu vou entender. Como vocês se conheceram?

— As nossas famílias, minha e de Darien, têm uma relação muito próxima. Na verdade, tinham, porque... bem... - Serena iniciou, constrangida e confusa por não saber como dizer aquilo. - Não importa. Nossas famílias são muito conservadoras, aquelas bem tradicionais. E um dia, após um incidente com a minha mãe, ainda grávida de mim, eu fui prometida ao Darien. Então, desde que nasci, eu já sabia que tinha um noivo, mas nós somente fomos apresentados no leilão. Na verdade, era para termos sido apresentados hoje, no dia do pedido.

— Eu não consigo acreditar nessa história maluca. Então, seus pais também...?

— Sim – ela assentiu e abaixou seu olhar novamente. – Foi assim com eles também, e com os pais de Darien, e com nossos avós...

— E você não o ama?

— Como posso amá-lo se sequer o conheço?

— Não há nada que você possa fazer?

— Eu ainda não sei, Seiya. Mas eu não quero fazer isso. Não quero me casar, ainda mais com um homem que nunca sequer conversei direito. Posso afirmar que conheço você muito mais que o conheço.

Seiya cerrou os punhos e os dentes. Era muita informação para um só dia. Ele precisava fazer alguma coisa, não poderia deixar que fizessem isso com ela, ainda que todo esse sentimento também fizesse parte de um plano egoísta para conquistá-la.

— Eu vou pensar em alguma coisa, Bombom. Eu prometo que vou te ajudar – Seiya disse, fitando os olhos claros da loira e então sorriu. – Lembra o que eu te falei naquele dia sobre não desistir e dar a volta por cima? Eu vou te ajudar.

Darien observava a conversa de Serena e Seiya e longe. Ele caminhou a passos curtos na direção dos dois e, quando finalmente se aproximou, disse:

— Com licença, Seiya, posso falar em particular com ela?

Seiya hesitou por um momento, querendo de alguma forma proteger aquela garota das intenções de Darien. Mas o que ele poderia fazer se não era nada além de uma pessoa que ela acabara de conhecer e, talvez, ela só tenha essa ligação com ele porque ele a salvou?

Ele encarou Darien por alguns segundos e se retirou, permanecendo firme com o olhar e espiando os dois de longe, tentando interpretar o que eles estariam conversando.


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Notas finais do capítulo

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