Jeller escrita por Lucca


Capítulo 7
Decisões


Notas iniciais do capítulo

Como todas as outras histórias desse arquivo, essa é uma one-shot.
Meu objetivo era deixar algo para você ler nesse natal já que estamos tão tristes, separados de nossa série favorita.
Essa história se passa após a vitória do nosso Team favorito sobre Madeline Burke. Tentei fazer um balanço dos problemas que enfrentariam nesse retorno.
O foco, como sempre, é Jeller.
Boa leitura.



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Acabou.

Finalmente eles haviam conseguido provar sua inocência e derrubar Madeline Burke.

Finalmente podiam retomar suas antigas vidas. Ou ainda melhor, recomeçar de forma totalmente nova.

Haviam tanto que queriam fazer. Algumas coisas eram simples como levantar de suas camas pela manhã e sair para uma caminhada aspirando o ar fresco para depois se sentar num café sem a preocupação de estar com a vida em risco. Outras exigiam mais coragem para encarar os dilemas da vida sentimental e profissional. Mas nenhum deles exitou, fizeram o que deviam a si mesmos porque tinham urgência de viver tudo que os últimos meses tirou deles.

Foi assim que Patterson disse adeus ao SIOC e ao FBI para se dedicar aos aplicativos em desenvolvimento. Reuniu tudo de bom que tinha dentro de si para encarar as primeiras visitas ao orfanato. Testar compatibilidade entre ela e a garotinha indicada pelo serviço social era um passo importante no processo de adoção e ela temia sofrer mais essa decepção ou então não ser capaz de entregar seu coração nem a uma criança depois de tudo que passou. Descobriu que estava completamente errada logo nos primeiros dez minutos de interação com Megan, apaixonou-se completamente. E não havia como duvidar da sinceridade daquela criança mágica.

Não foi menos difícil para Rich. Ele que sempre tinha na ponta da língua um conselho pronto a ser disparado na hora de incentivar os amigos a viverem seus sonhos, tinha tantas dúvidas sobre se seria capaz de reconquistar Boston. Ele havia mudado, era um novo homem. Mas o amor que sentia não mudou. Sabia que teria uma jornada longa pela frente, grande parte dela trilhada sobre seu próprio orgulho e arrogância. O mais importante é que o universo conspirava a seu favor. Com a saída de Patterson – algo que arrancou um pedaço de seu coração - Rich se tornou responsável pela parte tecnológica do NYO e tratou de solicitar Boston como parceiro.  O amigo fez menção de não aceitar o cargo, mas o beicinho suplicante do ex-hacker dizendo “Yin Yang” o fez ceder e dizer sim ao novo emprego. Havia uma esperança para aqueles dois.

O caminho mais difícil na retomada de suas vidas estava nas mãos de Zapata e Reade. O tempo que passaram como fugitivos trouxe muito da antiga confiança e da cumplicidade de volta. Deveria ter sido o suficiente para se permitirem viver o amor que sentiam, mas por algum motivo que sequer os dois compreendiam não foi isso que aconteceu. Talvez porque os dois sempre foram focados demais em sua vida profissional. De volta ao FBI, tentaram lidar com a questão da pior forma possível. Reade deixou o cargo para que Zapata o assumisse. Então discutiram muito. Ela não concordava com a decisão. Ele não aceitava retroceder. Foi preciso olharem um nos olhos do outro para tentar fazê-lo compreender. No calor da disputa, esqueceram o quanto essa troca de olhares entre eles era perigosa. Acabaram se beijando e se amando entre os armários do vestiário após o expediente. O casal ainda teria uma longa jornada pela frente: enfrentar a inversão na linha de comando, o SIOC sem Patterson, Rich e Boston como subordinados à Tasha, mas o amor que compartilhavam parecia fazer todo o resto parecer pequeno.

Jane e Kurt voaram para o Colorado na mesma noite em que tudo se resolveu. Precisavam ver Bethany. Passaram dez dias por lá, curtindo a pequena. Compartilharam com Allie e Connor seus planos de voltarem a morar ali, mas não se dedicaram ao projeto. Precisavam descansar. Voltaram para New York City uma semana antes do natal.

Natal Antecipado. Esse foi o nem que escolheram para o evento. Todos tinham compromissos na data oficial. Patterson ficaria com Megan na casa dos pais. Reade e Tasha viajariam para a França para viverem um momento só deles. Rich e Boston tinham uma festa que ninguém quis saber os detalhes. Enfim, apesar de não estarem disponíveis na data certa, precisavam se reunir para festejar e agradecer. Isso trouxe Jane e Kurt de volta do Colorado.

Não pouparam detalhes: a árvore imensa, as meias com seus nomes na lareira, amigo-secreto, ceia natalina completa. Fez-se natal naquele 20 de dezembro com o principal que a data pede: o amor que une as pessoas para além de laços sanguíneos. Eles eram uma família e juraram que continuariam assim agora que suas vidas tomaram novos rumos.

A forte nevasca na noite de 23 de dezembro arruinou os planos de retorno ao Colorado. O aeroporto foi fechado. Jane e Kurt passariam o Natal sozinhos em New York. Isso os fez decidir adiar por mais tempo a viagem e já irem de mudança na semana seguinte.

— Eu vou sair comprar algumas coisas e cozinhar algo especial para nós. Ainda é natal e quero uma noite especial com você. – Kurt disse envolvendo Jane pela cintura e olhando direto em seus olhos.

— Hmmm, uma ótima oportunidade pra eu ser sua auxiliar e aprender um pouco mais sobre como preparar uma ceia de Natal. – ela respondeu envolvendo os braços ao redor do pescoço do marido e beijando seus lábios.

Kurt ficou um tempo observando sua esposa e perguntou:

— Você acha que mudar para o Colorado é realmente o melhor para nós? – ele perguntou pela centésima vez.

Jane reuniu toda serenidade havia no seu interior para passar segurança ao marido:

— Já conversamos sobre isso. Você tem o direito de participar mais da vida de Bethany. É o que você mais quer. Te ver feliz me faz feliz. Então, nós vamos! 

— Para minha relação com Bethany, nossa mudança para o Colorado parece o melhor, mas não foi isso que te perguntei. Falei de nós dois.

— E eu te disse que se você estiver feliz, eu estarei feliz também.

— E eu só estou feliz se você está feliz. Estar com Bethany é sempre bom demais. Foram dias tão incríveis! Mas as coisas também me pareceram tão no seu lugar quando voltamos pra cá. Bethany está bem lá, ela tem Allie, Connor, os amigos, a escola. Ainda quero poder participar de todos os momentos, mas eu também penso em nós. Será que seremos felizes vivendo a vida de Bethany? 

— É a sua vida com Bethany. Não temos como resolver isso de outra forma, Kurt. Para você participar mais, temos que estar lá. Eu vou me adaptar, porque você vai estar lá e isso é tudo que preciso pra ser feliz.

— Então, vou te falar como como me senti ao voltar para NYC. Eu me senti voltando pra casa. Eu me senti eu mesmo, na minha vida. Talvez eu esteja sendo egoísta, mas essa era a sensação: esse sou eu, essa é a minha vida.  Ser pai é uma parte dela, uma parte muito importante. Achei que precisava do Colorado para viver isso plenamente com Bethany, mas nesses dias que estivemos lá, também me senti perdendo muito do que me faz feliz fora de lá. O Colorado foi uma escolha de Allie, não precisa ser a minha.

— Kurt, você fica tão triste toda vez que se separa dela...

— E você, como se sente ao se despedir de Avery?

— É horrível.

— Então, acho que devemos nos mudar para perto dela, não é?

Jane revirou os olhos:

— Avery é adulta e jamais aceitaria isso. Ela tem sua própria vida lá. E nós a nossa ... – e interrompeu antes de finalizar

— E nós a nossa aqui, em NYC.

— Ou no Colorado.

— Ou em qualquer outro lugar. Mas acho que precisamos pensar em nós. Amamos Bethany e Avery, mas nossas filhas tem a vida delas em outro lugar.

Os dois encostaram suas testas e ficaram respirando a presença um do outro sem definições para o futuro.

Foi quando o telefone de Kurt tocou. Ele atendeu de forma casual, mas logo a ruga que se formou em sua testa denunciou a seriedade daquela ligação. Jane apenas aguardou, as respostas curtas do marido não lhe deram pistas para antecipar qualquer coisa.

— Era o Weitz. Representantes da Casa Branca estão no SIOC abordando Weitz sobre o caso HCI Global. Ele quer que eu vá pra lá. Acho melhor não deixar isso só nas mãos dele, com Reade e Tasha viajando...

— Com certeza é melhor Weitz não estar sozinho. Posso te acompanhar

— Melhor não, Jane. Se sua presença se fizer necessária, eu te ligo.

Ela concordou. Kurt se aprontou e saiu. Duas horas depois, uma mensagem do marido a tranquilizou. As coisas estavam indo bem no NYO, mas ele disse que ia demorar e pediu que ela antecipasse as compras.

Jane se agasalhou e saiu. Uma hora depois retornava para casa carregada de sacolas e com a sensação que ainda havia esquecido de algo importante. Entrou no elevador e sorriu para a Sra. Fitzremond, com seus cabelos grisalhos, rugas e o apoio na bengala denunciando sua avançada idade. A velhinha retribuiu o sorriso de forma discreta, sem muita intimidade.

— Hm, vai cozinhar para seu marido na noite de natal. Isso é bom. Minha mãe sempre dizia que depende da mulher manter a família unida e que o fogão é o melhor caminho para isso. – a velhinha disse olhando para a porta do elevador. Ela raramente olhava de forma direta para Jane. As tatuagens pareciam incomodá-la bastante.

Jane sorriu e levantou a sobrancelhas pensando no quanto sua família destoava do convencional e do desastre que seria seu casamento se dependesse dos seus dotes culinários.

— E Kurt merece. Ele é um menino que vale ouro! – a senhora continuou. Jane conhecia a admiração dela por seu marido desde a manhã seguinte à primeira noite que dormiu naquele apartamento. – Ele me ajuda tanto. Sempre que preciso, me socorre. Estou tão feliz que ele esteja de volta. Kurt faz mais por mim do que qualquer um dos meus filhos.

— Ele tem muito carinho pela senhora... – Jane disse recordando das inúmeras vezes que foram até o apartamento da Sra. Fitzremond fazer pequenos reparos. Os dois últimos, Jane fez sozinha porque Kurt estava se recuperando da cirurgia. Mas a velhinha nunca era simpática com ela como com seu marido e disse a todos no prédio que foi ele quem desentupiu sua pia e consertou o aquecer. Jane não se importava. Entendia que a idade avançada tornava difícil para a senhora aceitar a “tatuada” como esposa de seu “menino de ouro”.

— Sim, sim. Ele é um menino incrível. Tão amável e prestativo. Ele mora aqui há muito anos. Todos gostam dele e ele gosta de todos. Kurt gosta daqui, sabia? Eu não sei de onde sua família é, mas você não devia levá-lo para longe por tanto tempo.

— Bethany mora no Colorado... – Jane começou a dizer já tentando preparar o terreno para o difícil anúncio que Kurt faria sobre a mudança definitiva para perto da filha.

— Eu sei. A menina deveria estar aqui com ele e crescer perto do pai. É por tudo isso que esse mundo está desse jeito. Ele tem um bom emprego aqui. É respeitado por todos. Mas a criança não pode ver isso. Depois se envolve com drogas ou então com algum grupo terrorista. E o Colorado não é lugar para alguém como Kurt. Ele é gentil, inteligente, honesto. Precisa estar numa cidade que lhe dê visibilidade para servir de exemplo aos jovens. Não numa fazenda limpando cocô de gado. Se a mãe da menina fosse uma mulher um pouco melhor, teria entendido isso e se casado com ele.

Jane tentou organizar uma fala em defesa do Colorado, do quanto Kurt era um pai presente mesmo à distância e também sobre Allie, mas pensou se aquele enfrentamento teria alguma vantagem. O tempo tinha lhe ensinado a apenas sorrir para as ideias conservadoras da Sra. Fitzremond.

— Eu nunca vou me esquecer que ele salvou minha vida quando quebrei a perna. Se Kurt não aparecesse no meu apartamento, ficaria ali no chão frio até morrer. – a senhora continuou. Jane ouvia essa históira desde o primeiro encontro com a velhinha. – Bem, por favor, diga ao Kurt que amanhã cedo vou até seu apartamento levar uma lembrancinha de Natal. Eu não me esqueceria dele.

— Muito obrigada, Sra. Fitzremond. Tenho certeza que ele ficará muito feliz.

O elevador finalmente chegou ao andar de Jane e ela desceu. Quando a porta se fechou, respirou aliviada. Aprendeu a gostar e cuidar daquela senhora, mas sabia que partiria de Nova Iorque sem ter conquistado qualquer forma de carinho e respeito dela. Era muito claro o quanto a velhinha desaprovava a esposa de Kurt Weller. Talvez ela sequer visse Jane como a esposa dele.

Entrando no apartamento, ela colocou as compras sobre o balcão e tomou um copo de água. Depois foi até a sala e sentou-se no sofá. Consultou o relógio do celular. Era tarde. Olhou as mensagens. Kurt disse que ia demorar. A conversa com a Sra. Fitzremond ainda estava martelando em sua cabeça. Olhou as compras. Ele queria preparar um jantar especial para os dois  e agora não teria tempo. Ela não cozinha bem, mas queria muito que ele tivesse aquele jantar que planejou. Levantou-se decidida: cozinharia sozinha e surpreenderia o marido naquela noite de natal.

Tentou puxar pela memória o que ele havia dito sobre o menu daquela noite. Buscou as receitas na internet, assistiu a alguns vídeos e começou o preparo.

Uma hora depois, ela tinha a certeza de que havia algum enigma escondido nas entrelinhas daquelas receitas. Seguiu tudo à risca e nada estava ficando como deveria. “Patterson devia desenvolver um app para receitas. Algo que tivesse um scanner para as medidas que temos em casa fazendo adequações nas receitas. Vou falar isso pra ela.”

Duas horas depois, Jane só não desistiu porque sua determinação e teimosia a impediram. Resolveu ligar para Tasha pedindo uma opinião sobre aquele molho. Ela tinha perfeita noção dos limites da ajuda que a amiga poderia oferecer à distância, mas era mais um desabafo. A risada da latina ecoou pelo telefone vinda do outro lado do Atlântico:

— Você está cozinhando na véspera de Natal? – e outra risada.

— Jane, - Reade falou pegando o aparelho de Tasha. – Diga ao Kurt que sempre vou admirá-lo por essa determinação dele em viver perigosamente te deixando sozinha à frente do fogão.

— Ha ha ha, muito engraçado. Isso é sério, gente. Não sei o que fazer com essas pelotinhas. Já tentei coar, mas não resolveu...

Tasha reassumiu o telefone:

— Mira, bate tudo no liquidificador até essa pelotinhas desaparecerem. Depois você tenta voltar ao fogo pra ver se chega no ponto da receita. E, Jane, relaxe. Se tudo der errado, Kurt ainda terá o que ele mais quer nessa noite de Natal: você!

— Obrigada, Tash. Desculpe incomodar vocês. Divirtam-se bastante aí na França.

As duas se despediram e ela voltou ao fogão seguindo as recomendações de Tasha.

Quatro horas depois, tudo estava praticamente pronto e a cozinha já não era um completo caos. Os biscoitos de massa comprada tinham passado um pouco do ponto. O assado cheirava bem no forno. Os pratos prontos, inclusive aqueles veganos, não estavam nada bonitos como nas fotos que acompanhavam as receitas na internet, mas pareciam aceitáveis.

Cansaço, decepção e os cheiros da comida se misturava às palavras da Sra. FitzRemond que ainda martelavam em sua cabeça deixando-a um pouco enjoada.

Jane pegou uma água tônica na geladeira e foi até a sacada. O frio era cortante, mas ela precisava de ar fresco. Voltou até o sofá e pegou uma manta que estava ali. Se envolveu nela para suportar o frio.

Na sacada observou a cidade coberta pela neve. Parecia tão fria e indiferente com todas as vidas que ali habitavam. Mas aquela selva de pedra tinha um lugar cativo no seu coração. Não conseguia ver Nova Iorque com a mesma indiferença que a cidade parecia dirigir à ela.

Olhou para dentro do apartamento sentindo o calor que o lugar emanava. Esse lugar foi seu lar. O primeiro desde que seus pais foram assassinados na África do Sul. Nova Iorque e aquele apartamento tiveram uma força incrível sobre sua vida na sua conversão para ser Jane. Sentiria falta daqui. Sentiria falta da Sra. Fitzremond que insistia em ignorá-la, mas era sempre tão carinhosa com Kurt.

De repente, ela sentiu as lágrimas escorrendo. A despedida de New York e do apartamento, o fracasso da ceia... Ela tentou dissipar esses pensamentos e focar em coisas boas: Kurt estaria com Bethany. Trouxe à mente lembranças de momentos dele junto à filhinha. Mais lágrimas. Tentou pensar nos amigos: Rich com Boston, Tasha com Reade, Patterson com Megan. E se viu soluçando sem qualquer poder de conter as lágrimas, totalmente impotente, desconhecendo a si mesma.

A porta se abriu e Kurt entrou. Ela tentou secar as lágrimas o mais rápido que pode. Ele caminhou até a sala cansado. Tudo que ela menos queria era que o marido a encontrasse tão emocional depois de ter enfrentado horas de reunião em plena véspera de natal. Vestiu seu melhor sorriso e o cumprimentou.

— Você cozinhou! – disse sorrindo pela primeira vez.

Meio sem jeito, ela acenou com as mãos:

— Eu tentei... o resultado é meio caótico...

Ele se aproximou do balcão e pegou um biscoito que provou imediatamente:

— Eu esqueci eles no forno um pouco...

— Com certeza. – ele brincou. – mais ainda estão bons. – e se aproximou dela a envolvendo num abraço.

— Como foi com Weitz e o pessoal da Casa Branca?

— Conseguimos fazê-los entender. Na verdade a preocupação deles não era bem o que eu imaginava. Não haviam riscos para nós... – e só então se deu conta da porta da sacada aberta. – Você estava olhando a neve? – disse se aproximando da porta. Jane o seguiu.

— Ah, a cidade na verdade. Vamos fechar isso...

Ele a abraçou por trás e a segurou firme interrompendo sua iniciativa.

— Fica tão diferente tudo coberto de neve, não é? – e beijou o pescoço da esposa.

Jane se aninhou ao marido.

— Encontrei a Sra. Fitzremond no elevador. Ela disse que virá te trazer uma lembrancinha de natal amanhã cedo. – Jane disse tentando desviar do assunto NYC.

— Ela foi gentil com você?

— Hm, o de sempre. Ela contou a história de quando você salvou a vida dela por socorrê-la ao fraturar a perna.

— Ah, ela nunca vai esquecer essa história.

— Ela é grata. Isso é lindo. – pensar na Sra. Fitzremond sozinha naquele apartamento, caída e com a perna fraturada fez o nó na garganta de Jane se apertar e seu corpo enrijecer.

— Foi só isso mesmo? – Kurt perguntou depositando um beijo nos cabelos dela que balançou a cabeça assentindo para evitar falar. – Tem mais alguma coisa que você queira me contar? Você parece triste...

— Estou bem... – ela respondeu quase num sussurro. – Acho que deve ser a decepção com o jantar...

Ele se colocou de frente pra ela e disse:

— Jane, você fez o seu melhor. É muito melhor do que algo comprado, porque tem um pouco de amor em cada bocado desse biscoito muito bem assado.

Ela sorriu para ele e uma lágrima escapou. O polegar de Kurt a interceptou antes que Jane se desse conta desse deslize.

— Isso me parece sério. Por favor, se abre comigo. – ele insistiu.

— Não é nada. Nada mesmo, Kurt. Eu só estou emocional demais. Acho que é o clima de despedida...

— Despedida? Quando fui para o escritório hoje cedo, pensei que não tínhamos nada decidido.

— Ainda estou decidida a te acompanhar numa vida no Colorado. Mas também pensei bastante sobre NYC e nós dois. Eu gosto daqui. Gosto muito da vida que temos aqui.

Ele estreitou a distância entre eles e depositou um beijo na testa dela.

— Temos que acrescentar algo nessa equação complicada. Weitz está deixando o FBI. Eles querem que eu assuma como o novo Diretor.

— Kurt, isso é ótimo! Quer dizer, essa proposta é o reconhecimento por todo o seu trabalho. Parabéns! E como você recebeu isso?

— Saber que confiam em mim e no meu trabalho foi muito bom. Além, disso com esse novo cargo seria possível repor nossas economias e garantir um futuro melhor para Bethany, sem ter que deixar a faculdade totalmente por conta de Allie e Connor.

— Mas como você se sente com relação ao Colorado e Bethany?

— Weitz me garantiu que trabalha muito menos do que eu trabalhava como agente. Vindo dele, não duvido. Se uma parte disso for verdade, poderemos ver Bethany com mais frequência, mas se eu aceitar o cargo, teremos que descartar a mudança para o Colorado.

— Você está pensando em aceitar?

— Essa é uma decisão que precisamos tomar juntos. O ritmo de nossas vidas vai mudar e as novidades não serão bucólicas como foram no Colorado.

— Desde que não envolva cozinhar para o presidente...

Kurt riu alto.

— Falando em comida, estou faminto.

— Depois do banho. Não vou me sentar à mesa toda coberta de farinha.

— Só se eu puder tomar banho junto com você.

Os dois foram para o banheiro e depois sentaram-se para jantar. Jane comeu pouco bebendo a água tônica para ajudar seu estômago a aceitar a comida. Kurt comeu bastante. Elogiou o assado e deu sugestões para alguns erros dela. Conversaram e riram muito. Trocaram presentes.

Jane resolveu abrir uma fresta da porta da sacada para deixar o ar circular apesar do frio. Kurt se aproximou e a abraçou. Os dois ficaram olhando as luzes da cidade lá embaixo.

— Foi nessa cidade que você mudou minha vida, Kurt. Foi nesse apartamento que a gente se amor pela primeira vez. Sempre que eu sonhava com a gente como uma família, era aqui. Então, se você aceitar o cargo de diretor ou se não aceitar e mesmo assim quiser ficar, tem algo que precisa saber.

— É o que te fez chorar mais cedo?

— Não! Bem, eu não sei, talvez...

— Você pode me falar sobre tudo que sente. Combinamos que seria assim, que não esconderíamos mais nada um do outro.

— Eu estive tão ocupada com tudo desde que voltamos, que acabei deixando algo importante passar despercebido. Não me lembro de ter menstruado esse mês... pode não ser nada, mas...

— Mas pode ser ... – e sentiu Jane se encolhendo no seu abraço. – Jane, eu preciso saber.

— Se não descer, assim que o feriado passar, fazemos um teste. – ela disse conformada.

— Deve ter alguma farmácia aberta. – ele estava eufórico.

— Kurt, é véspera de natal.

— Eu tenho um pressentimento. Por favor, vamos fazer isso já.

Um pouco insegura, ela concordou. Os dois vestiram seus casacos e saíram num busca desenfreada por uma farmácia aberta.

23:30 horas encontraram um estabelecimento aberto.

23:45 horas chegaram de volta ao apartamento e leram as instruções.

23:52 horas Jane abriu a porta do banheiro revirando os olhos e mostrando o recipiente com a urina. Os dois testes que compraram estavam na mão de Kurt.

No instante seguinte ao que colocaram os testes em contato com a urina, o tempo desacelerou. Os minutos se recusavam a passar e podiam ouvir as batidas de seus próprios corações.  Se entreolhavam ansiosos, pensando no que dizer diante do segundo negativo de suas vidas.

Nenhum dele teve a certeza de hora era quando o resultado saiu porque isso não importava mais. Suas vidas foram redirecionada para um novo e inesperado rumo.

Quando o som das comemorações estouraram lá fora, eles tinham a certeza que toda Nova Iorque em festa não se igualava a alegria de seus corações. Agarraram-se um ao outro, sem conseguir deixar seus olhares se separarem:

— Feliz Natal, papai. – Jane disse.

— Feliz Natal, mamãe. – ele respondeu.

Alguns meses depois

Kurt e Jane entraram no elevador. Ele carregado de sacolas. Ela apenas levando a barriga saliente no sétimo mês de gestação.

E lá estava a Sra. Fitzremond.

— Bom dia, Kurt.

— Bom dia, Sra. Fitzremond. Tudo bem com a senhora?

— Estou muito bem. Então você agora é Diretor do FBI, filho? Parabéns.

— Sim. Muito obrigada. Sra. Fitzremond.

— Estou vendo que fizeram compras para o bebê.

— Os bebês, Sra. Fitzremond. São gêmeos. Um casalzinho. – Kurt disse ostentando seu mais belo e orgulhoso sorriso.

— Gêmeos? Olha só. Vocês merecem. Kurt, eu preciso te dizer algo já tem algum tempo. Espero que você me entenda e não ache que estou sendo intrometida demais. Tenho um carinho enorme por você, como por um filho. Então, me sinto no dever de te dizer o que observo.

Jane suspirou entristecida. Nunca imaginou que chegaria a isso. Talvez a Sra. Fitzremond abordasse Kurt de forma particular para manifestar sua desaprovação com relação à ela, mas assim, na sua presença dentro do elevador não era algo para o qual ela estivesse preparada.

— Eu passo no apartamento da senhora mais tarde... – Kurt se apressou em dizer, tentando evitar o pior.

— Não, filho. Preciso dizer agora mesmo. É sobre essa moça tatuada com quem você se casou...

— Sra. Fitzremond... – ele fez mais uma tentativa de contê-la

— Essa moça faz por você o que nenhuma outra mulher nunca fez. Ela coloca um sorriso lindo no seu rosto. Além de linda, ainda vai te dar gêmeos! Cuide bem dela, Kurt.

— Muito obrigada, Sra. Fitzremond. – Jane disse emocionada recebendo um leve aceno de cabeça da velhinha em resposta.

— Sim, senhora. Fique sossegada. Vou cuidar dela com todo amor e cuidado por toda a minha vida.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada de coração a todos vocês que dedicaram um pouquinho do seu tempo para essa história.

Boas Festas!



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