Jeller escrita por Lucca


Capítulo 6
Noite das Meninas II


Notas iniciais do capítulo

Essa one-shot se passa em algum momento enquanto o team ainda vivia na clandestinidade tentando provar sua inocência. A ideia era trazer um pouco da solidariedade feminina em meio aquele caos.
Boa leitura



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A vida em fuga não era fácil, mas agora, mais do que nunca, eram uma família de verdade, compartilhando uma intimidade forçada e também muito eficiente em estreitar os laços entre eles. Descobriram tanta coisa! A maior surpresa para os amigos foi acompanhar o relacionamento de Jane e Kurt mais de perto. Além do amor, da cumplicidade e do cuidado que compartilhavam, os dois eram tão espontâneos um com o outro que pareciam um casalzinho de adolescentes vivendo a primeira paixão. A forma como trocavam carinho, como riam de pequenas coisas, como usavam momentos corriqueiros para flertar... Os amigos trocavam olhares divertindo-se e camuflavam o riso. E aquilo trazia um pouco de leveza aos dias difíceis que viviam.

A grande notícia foi dada à família a pouco mais de uma semana. Jane estava grávida. Aconteceu logo após ela se recuperar do envenenamento por ZIP, mas haviam confirmado quando já estavam em fuga. Mantiveram segredo esperando resolver sua delicada situação de forma breve e compartilhar a boa nova quando tudo estivesse bem. Mas não aconteceu.

A família acolheu a notícia como uma benção. Parabenizou os pais por seu pacotinho de felicidade. De coração desejavam que o casal fosse muito feliz e sentiam que mereciam um filho que fosse dos dois.  Ocultaram no âmago mais profundo de si mesmo todos os medos que viram brotar diante da informação. Eles não aceitariam nada de ruim para essa criança.

Desde que souberam da gravidez, Patterson e Tasha prestavam muito mais atenção em Jane. Por mais que parecesse óbvio que uma mulher casada engravide, não viam a amiga de forma muito maternal. Também tentavam observar sintomas, reações e, quem sabe, notar a barriga crescendo. Era uma forma de cumplicidade feminina. Logo se pegaram trocando informações observadas e perceberam que aquele bebê estava sendo uma desculpa para consertarem a amizade quebrada entre elas.

E a barriguinha de Jane tinha feito questão de se mostrar nos últimos dias. Era discreta, mas já apontava em meio ao largo quadril da morena.

Mais uma noite escondidos num galpão qualquer da área rural não muito distante de NYC. Eles estavam se arriscando mais. O tempo passava rápido e a ansiedade em resolver tudo só crescia. Quase tinham sido pegos no dia anterior, por isso optaram por evitar dar entrada em um hotel ou motel como tinham feitos nas últimas semanas.

Trouxeram pizza e cervejas. Jane recebeu também a salada e tomou suco natural de laranja. Comeram conversando e até riram um pouco. Os meninos estavam animados para discutirem o resultado dos últimos jogos do campeonato de baseball. Havia um clima gostoso entre eles. Sentiam-se seguros ali. Precisavam desse momento.

Entretanto, assim que terminaram de jantar, Jane se despediu e disse que já ia dormir. Kurt se aproximou e trocaram palavras em sussurros. Nenhum deles precisava ouvir pra saber que ele queria saber se ela estava realmente bem. Também já estava acostumados ao olhar meigo com o qual ela o tranquilizou e, depois de um beijo, se afastou.

Tasha e Patterson trocaram olhares e sentaram ao lado uma da outra, um pouco afastadas dos meninos, e começaram uma conversa trivial. Não demorou nem dois minutos para Tasha dizer:

— Ela continua imóvel.

Patterson respirou fundo depois de disfarçadamente olhar em direção à Jane.

— Ela tranquilizou o Kurt... Acho que estamos sendo super protetoras.

— É, pode ser. Mas já percebemos que ela se alimenta por obrigação, dorme pouco e nunca reclama de nada. Olha, se eu estivesse grávida em meio ao caos que vivemos, eu não estaria bem. – Tasha disse quase sussurrando antes de esticar as pernas e movimentar os pés.

— Nem eu. E tem os hormônios que causam grande descompasso emocional durante a gravidez deixando a mulher mais sensível, apesar da discussão que existe sobre mitos e verdades nesse quesito.

— Porém... ela foi uma navy seal, depois uma terrorista, passou por um black site e ainda sobreviveu ao nosso desprezo no final de tudo. Que droga, Patterson, quais são as chances dela pedir ajuda agora? E não ouse responder com números de probabilidade!

— Okay, você está certa. Mesmo assim, ainda acho que chegar lá e dizer que nossas deduções sobre seu histórico de vida associado ao quadro gestacional indica que ela  precisa se abrir conosco porque não deve estar bem,  me parece uma ideia “super bad”.

Tasha riu. A estratégia era realmente péssima.

— Se tudo isso não fosse tão complicado, não é? – disse para a loura indicando com os olhos o geral do galpão que representava a situação de fugitivos na qual se encontravam.

Patterson olhou para Kurt, Reade e Rich bebendo e ainda insistindo no baseball como assunto:

— Acho que eu já sei, Tasha! O que faríamos se não estivéssemos nessa enrascada?

— Ah, Patterson, você já está viajando. Tudo seria completamente diferente. Se fosse com relação à gravidez da Jane, nossas preocupações estariam concentradas em organizar um Chá Revelação...

— E eu juro que encontraria o bolo mais perfeito, ainda melhor do que o que encontrei para o Chá da Allie. Quando me lembro de como Jane ficou ao saber daquilo... – a loura afastou o cabelo do rosto e respirou como fazia quando estava concluindo uma reflexão – sinceramente, acho que ela nem ia querer um Chá Revelação. Se aceitasse, seria pelo Kurt e não por ela. Mas nós poderíamos leva-las às compras.  Já que uma segunda edição da Noite das Meninas só seria possível depois do bebê nascer.

— É, seria uma ideia legal. Mas eu odeio esse “seria”. Nós estamos aqui nesse galpão, Jane está aqui, mas estamos separadas.

— Você tem razão. O caminho mais curto entre dois pontos é uma linha reta. Vamos até lá!

As duas se levantaram sentindo crescer dentro delas a euforia por estarem fazendo exatamente o que queriam. No caminho até o fundo escuro do galpão onde Jane estava deitada, Tasha pegou um colchonete e sinalizou para Patterson fazer o mesmo. Se aproximaram silenciosamente. Lá no fundo, queriam que Jane estivesse realmente dormindo. Sabiam que ela estava cansada. Se entreolharam e Patterson tomou a iniciativa, sussurando:

— Jane, você está realmente dormindo?

A morena, que estava de costas para as duas, se virou e disse:

— Não. Você precisa de algo?

— Queríamos ficar aqui com você, tudo bem? – Tasha foi direta.

Jane assentiu com a cabeça e um leve sorriso. Tasha continuou:

— Está frio aqui... Vai do outro lado, Patterson, vamos deixar a gravidinha no meio para aquecê-la.

Jane, de repente, se viu no meio das duas que se deitaram ao lado dela.

— Nós estávamos planejando a próxima edição da Noite das Meninas. Mas percebemos que vai demorar um certo tempo pra acontecer, já que bebida alcoólica não deve ser consumida durante a gravidez e amamentação... – Patterson começou e foi interrompida por Tasha.

— Sem dados de pesquisas, Patterson. Jane já sabe disso e está se comportando direitinho. Bom, então nós decidimos que seria um “dia das meninas” e te levaríamos pra fazer compras pra você e para o bebê. Afinal eu fiquei te devendo uma orientação sobre roupas novas.

— É uma boa ideia. Acho que vou precisar de roupas novas... – Jane respondeu.

— Tudo bem que minha ideia inicial era montar um guarda roupas mais sensual pra você. Calças de elástico e blusas soltas de malha passam muito longe do que eu planejei, mas, como eu já te disse antes, nada com você é normal, Jane.

As três riram. Patterson se virou de lado, apoiando a cabeça no braço para ganhar altura e poder olhar diretamente pra Jane:

— Mas nós estávamos excluindo a principal interessada: você!

O olhar meigo de Jane dizia muito, mesmo assim ela fez questão de falar:

— Tudo bem, meninas. Só de terem planos para nós depois de tudo isso, eu já fico feliz.

— Então, agora que você sabe que estava na nossa pauta. Nós queremos saber se está tudo bem com você... – Tasha introduziu o assunto mais desejado.

— Sim, sim. Tudo bem. – a resposta veio rápida, como uma auto-defesa logo captada pelas amigas. O olhar de Jane se desviou das duas e se fixou no nada como uma forma de fuga. – quer dizer, claro que eu queria poder resolver tudo isso, mas é só isso.

— Se você diz que está tudo bem, nós vamos confiar nisso. Mas nós queremos que saiba que, se precisar de amigas para desabafar ou até pra ficar contando sobre tudo que está sentindo por causa da gravidez, saiba que estamos aqui e adoraremos ouvir. – Patterson disse.

Jane fechou os olhos e apertou os braços sobre si mesma sentindo-se engando as amigas de novo. Respirou fundo e resolveu falar:

— Eu acho que só estou ansiosa demais. Queria esclarecer tudo isso, devolver a vida que vocês tinham.

— Pare, Jane. Não vá lá. Isso não é sua responsabilidade. Madeline nos colocou nessa situação. Nada de ficar pensando que deve consertar tudo isso sozinha. Somos uma equipe. – A latina marcou sua posição procurando cicatrizar feridas que se abriram ainda no voo até a Islândia.

— Você tem razão. Kurt diz a mesma coisa. Parece que eu sempre cometo esse erro... – e deslizou a mão para a barriga – Mas como não me sentir responsável por ele? Eu estou ficando tão cansada e meu sono está cada vez pior. Juro que estou tentando dormir mas... eu não sei o que acontece comigo... é tanta coisa que se junta na minha cabeça e eu simplesmente não adormeço. Isso é tudo que posso fazer pelo meu filho agora e eu continuo falhando, noite após noite.

Zapata e Patterson trocaram um rápido olhar que comprovava tudo que tinham suposto.

— Jane, não fique assim. Nós estamos aqui e tenho certeza que encontraremos uma estratégia que fará você relaxar e dormir. – Zapata se prontificou apesar de não fazer a menor ideia do que sugerir.

— Ou melhor ainda, uma combinação de diferentes estratégias. Podemos pensar em chás que podem ser usados durante a gestação e histórias! Eu sei histórias ótimas sobre duendes e magos...

— Mira! Uma boa história pra dormir tem que ser um conto de fadas, Patterson.

— Mas o enredo básico dos contos de fadas é sempre o mesmo: apresentação do personagem, a colocação de obstáculos para auto-realização existencial, a superação que traz o final feliz, essa repetição é um tédio! E pode causar sono! Muito boa ideai, Tash.

— Sequencia repetitiva...Obrigada por acabar com a minha infância... Amigas nerd são trash. – a latina reclamou revirando os olhos.

Jane corria o olhar de uma para a outra sem entender direito a disputa. Então achou melhor intervir:

— Eu não entendo muito de histórias ... Kurt lê algumas pra Bethany, sobre ursinhos e um unicórnio. Não sei os detalhes. Sempre me afastei pra deixar que tivessem um momento só deles.

— Você não conhece os contos de fadas? – A preocupação estava estampada na pergunta da latina

— Não. Eu não me lembro de muita coisa do tempo que vivi com meus pais. Shepherd com certeza não era do tipo que conta essas histórias.

— Então está decidido. Contos de fadas. Esqueça a história de dormir. Trate de ficar bem acordada. Você precisa saber todas essas histórias antes desse bebê nascer! – Tasha estava decidida.

As três se sentaram e a latina começou a primeira narrativa recontando a história bem ao seu estilo. Patterson fez a mesma coisa com a segunda questionando-a a partir de dados científicos. Tasha emendou a terceira e a loura a quarta. Contadas forma racional e reflexiva, as histórias se perderam nas análises ficando sem sentido.

— Resumindo: uma princesa já estava morta quando foi beijada, a outra dormiu por cem anos, a terceira passou a vida numa torre e a última foi devorada por um animal feroz. Não entendo porque vocês gostam tanto das histórias dessas mulheres. Eu não gostaria que Bethany ou o bebê tivesse nenhuma delas como exemplo de vida. Além disso, não quero que ela ache que madrastas são más, por pior que a história da madrasta dela seja.

— Nós estamos sendo péssimos exemplos sobre como contar uma história, Jane. Elas podem soar bem melhor se a gente parar de analisar cada detalhe e focar na parte lúdica e fabulosa... Acho que perdemos o encanto da infância. – Tasha tentou consertar e engoliu o nó que se formou em sua garganta após Jane traçar o paralelo entre sua história pessoal e a da vilã da Branca de Neve.

— Vou tentar de uma outra forma, então, sem análises, apenas os ingredientes narrativos dos contos de fadas e uma nova história, nunca antes contada. Preparem-se para ouvir o nosso Conto de Fadas com final feliz! – Patterson estava realmente empolgada e Zapata pagando pra ver. - Jane, você tem que me prometer que fará tudo que eu pedir, certo?

— Certo? – por mais que achasse tudo aquilo muito estranho, Jane estava se divertindo.

Patterson se deitou, estendeu o braço e chamou a amiga:

— Deite-se aqui. Todo bom conto de fadas pra dormir tem que ter colo.

Jane olhou para Tasha esperando apoio para recusar o exagero da loura, mas a latina concordava com Patterson e seu olhar demonstrou isso. Derrotada, Jane obedeceu.

— Olhos fechados. Imagine tudo que eu estiver contando, até nos detalhes e apenas isso, não pense em mais nada.

Jane sacodiu a cabeça enquanto tentava engolir o riso.

— Era uma vez, num reino muito muito distante, um casal de reis que teriam sua primeira filha. Eles desejaram muito aquele bebê e não viam a hora de conhecê-la. Prepararam tudo com carinho e, quando a bebê nasceu, a alegria foi total. Deram-lhe o nome de ... – e fez uma pausa pensando num nome.

— Bee! – Jane disse eufórica abrindo os olhos.

Patterson olhou com carinho para a amiga e apertou os braços ao redor dela:

— Hum, a princesinha Bee é a mais linda e espetacular de todas, mas está num outro universo paralelo a essa história. Ela é um ser de luz com quatro pais que têm uma amor tão grande por ela que isso não permite que nenhum mal possa atingi-la.  A saudade é a pior coisa que acontece por lá e, mesmo assim, é uma saudade muito pequena porque o amor do seu pai e de sua madrasta chega até o coração dela mesmo com a distância. E você trate de fechar os olhos!

Jane fez o recomendado e secou a lágrima fugitiva que lhe escapou.

— A princesa dessa história tem outro nome. Joan!

— Sério que você não vai ser mais criativa nesse nome? – Tasha foi obrigada a interromper.

— Tasha, você sabe que eu não sou boa com nomes... Continuando: Não havia nada que o casal de reis gostasse de fazer mais do que apreciar sua linda filhinha crescendo. Rodearam ela de amor, carinho e tudo que havia de bom. Contaram-lhe que existia um grande tesouro, uma pedra mágica capaz de manter a felicidade em todo o reino, que estava guardada com a família num lugar muito especial. Ela seria a guardiã da pedra sempre. Infelizmente, pouco tempo depois, enquanto a princesinha ainda era pequena, o Reino Escuro atacou e destruiu completamente seu lar, dominando tudo ao seu redor. Os reis morreram, ela foi levada pelos inimigos e criada para ser uma grande guerreira à favor da escuridão. Diziam à ela que seu dever era encontrar a pedra mágica e destruí-la. Ela cresceu e se lançou à procura da pedra para cumprir sua missão. Era muito determinada e foi reunindo vários enigmas sobre a pedra que poderiam mostrar sua localização...

— Eu aposto que a Tasha não está indo com a cara dessa princesa aí... – Jane comentou sorrindo sem abrir os olhos para não quebrar a regra de Patterson.

— Você me conhece, Jane. – e se deitou ao lado da amiga, fazendo questão de envolver sua mão na dela -  O reino está mergulhado na escuridão e princesa aí ainda quer destruir a pedra que é a única esperança de trazer de volta a felicidade, qual é? – e deu um beijo no rosto de Jane a surpreendendo.

— shshsh vocês duas. Sou eu quem está contando a história. Sem interrupções, por favor!

Jane assentiu com a cabeça e havia um sorriso tão inocente em seu rosto que fez Tasha achar pela primeira vez que a estratégia de Patterson poderia funcionar. Talvez fosse possível trazer de volta um pouco da infância que ela perdeu da mesma forma como Kurt a fazia agir como uma adolescentezinha apaixonada quando estava com ele.

— Os anos foram passando e Joan não conseguia decifrar os enigmas. Enquanto isso, se formou um grupo de rebeldes para lutar contra o Reino Escuro. Cinco pessoas muito diferentes que também buscavam a pedra mágica.  Um anão que sabia construir armas mágicas chamado Rico. O ex-líder da guarda real, muito fiel ao antigo rei, chamado Frank. Uma morena especialista em arco e flecha, filha de camponeses e muito corajosa chamada Beck. E uma fada loura que havia tido suas asas roubadas por isso viva na Terra que conhecia os segredos das magias mais antigas...

— Você se superou com isso de ser uma fada sem asas... – Zapata alfinetou e recebeu um leve tapa de Patterson para que se calasse.

Jane bocejou e disse:

— Shshshs, ela vai contar do príncipe agora. – e se acomodou nos braços de Patterson - Ele tem olhos azuis e um sorriso torto...

— Sim, tem sim.  O nome do príncipe era Chet. Além de corajoso, leal, determinado, estava disposto se sacrificar para trazer a felicidade de volta ao reino. Ele tinha lindos olhos azuis...

— E barba. – Tasha completou já segurando o riso.

Patterson teve que respirar fundo pra não gargalhar.

— Tá, olhos azuis, sorriso torto e barba. Era teimoso também. Enfim, Joan descobriu que precisaria dos conhecimentos mágicos da fada para decifrar os enigmas, então se aproximou do grupo rebelde, fingindo querer ajudá-los.

Jane se enrijeceu demonstrando desconforto. Zapata lançou um olhar reprovador à Patterson que tratou de continuar a história:

— Mas as pistas levavam a lugares perigosos e só a união das habilidades de cada um deles foi capaz de fazê-los superar as armadilhas. Assim eles foram se aproximando cada vez mais da pedra mágica e também um do outro. Como a jornada foi se estendendo, a convivência de Joan com aqueles novos amigos foi transformando-a e ela não queria mais destruir a pedra, mas consegui-la para que a felicidade voltasse para vida de seus amigos. Porém, ela sabia que devia dizer a verdade aos amigos, mas temia que nunca a perdoassem.

Jane se encolheu ainda mais e apertou a mão de Tasha que retribuiu e olhou desesperamente para Patterson implorando por um final feliz.

— Entre todos do grupo, Chet era aquele que mais confiava e defendia Joan. Ele estava apaixonado por ela. Numa noite clara, Chet levou Joan até o alto da montanha encantada e declarou seu amor. Aquilo era tudo que ela sonhava, porque também tinha se apaixonado por ele, mas ela precisava dizer a verdade antes de dar qualquer outro passo. Joan contou toda a verdade sobre quem ela era. Chet ficou chocado, mas disse que acreditava em sua mudança e ainda confiava nela. Ainda mais comovida com o amor dele, Joan confessou que também se apaixonara por Chet e trocaram um lindo beijo de amor. Ela ficou tão feliz, mas tão feliz que seu coração começou a brilhar. Chet colocou a mão em seu peito e o coração dele começou a brilhar também. Foram correndo em direção aos amigos que se assustaram ao vê-los. Cada amigo que os tocou também viu seu coração acender. Então, a fada loura percebeu que seus corações eram a pedra mágica e que a união deles dissiparia toda a escuridão. Unidos, eles trouxeram a felicidade de volta ao reino. Joan e Chet se casaram e foram viver num lindo castelo no alto da montanha encantada. E o reino todo festejou quando anunciaram que teriam um bebezinho.

Jane voltou a bocejar e abriu os olhos agora já bem pesados pelo cansaço:

— Que história linda, Patterson. Muito obrigada! – sua voz demonstrava sua comoção - Vou contar para o bebê quando ele nascer. Vocês são as melhores amigas que eu poderia ter.

Tasha não resistiu e perguntou:

— Jane, eu posso tocar sua barriga?

A morena lançou um olhar convidativo para ela:

— Claro que pode.

Tasha foi muito delicada, depositando a mão ali devagar, mas não conseguiu ocultar a euforia nas palavras:

— Nossa! Parece bem maior quando a gente toca.

Instintivamente, Patterson fez o mesmo, também colocando a mão sobre a barriga de Jane:

— Uou! Isso é tão incrível. Você já sentiu ele mexendo?

— Às vezes sinto um tremor. É forte. Bem mais forte e frequente do que sentia com a Avery. Eu sinto mais o peso também. Está sendo diferente.

— Deve ser um bebê maior... – a loura concluiu.

— Ou dois! Seu quadril disfarça, mas tocando a gente percebe o quanto está grande. – Tasha disse e começou a movimentar o polegar para cima e para baixo acariciando a barriga de Jane – Nós amamos você, bebezinho.

Patterson fez o mesmo e completou:

— E também amamos sua mamãe, essa pecinha torta que faltava no nosso tangram.

Jane cobriu as mãos das amigas com as suas e disse:

— Eu também amo vocês.

Incomodada com o clima meloso que se formara, Tasha achou que esse era o momento perfeito para introduzir uma estratégia de ninar que conhecia desde a infância:

— Mas faltou um coisinha só. – Tasha disse em tom de ninar – Um detalhe que minha abuela sempre acrescentava depois das histórias. É hora de afastar os sustos que você passou durante o dia para só ter sonhos bons. Feche os olhos!

Jane não ousaria contestar. Estava se sentindo tão querida. E Tasha começou a recitar muito baixinho versos de uma oração em espanhol. Eram frases curtas e repetitivas. Enquanto as pronunciava, descrevia pequenos círculos primeiro na testa, depois traçava uma linha até os ouvidos, depois o peito e, por fim, corria pelos braços e mãos de Jane. Antes que ela terminasse a terceira sequência de versos, a respiração compassada denunciou que a amiga havia finalmente adormecido.

Tasha e Patterson trocaram um olhar vitorioso. Então, se aconchegaram a Jane e logo também adormeceram.

Kurt, Reade e Rich se aproximaram delas bem mais tarde. Ao vê-las dormindo tão unidas, decidiram dividir entre eles os turnos de vigia daquela noite para não acordá-las. Eles sabiam que ouviriam muitas reprovações na manhã seguinte, mas estavam dispostos a arcar com a consequência.


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Notas finais do capítulo

Por favor, compartilhe comigo suas impressões sobre essa histórias, mesmo que não tenha gostado e queira deixar críticas.

Obrigada pela leitura.



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