Jeller escrita por Lucca


Capítulo 4
Confusa


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que esse arquivo contém drabbles e one-shot separadas que reuni aqui para ficar mais fácil de gerenciar.
Escrevi isso horas antes do episódio 4x11.
Boa leitura.



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Há muito tempo ela não sentia essa força dominá-la. Mas eis que agora tomava conta dela por inteiro. Fé, essa era a palavra. A crença mais pura e verdadeira de que tudo daria certo. E Jane sabia exatamente onde e como começou. O dia anterior tinha a deixado frente a frente com todo o seu passado, toneladas de lembranças pesavam sobre seus ombros deixando-a insegura para ir à campo. Então ela se sentiu emergir de seu medo de agir como a Dark Remi quando viu Kurt em perigo. Ela neutralizou os inimigos, mas não foi capaz de impedir que sua cura se perdesse. Naquele momento, pensou que afundaria de novo, mas viu seu marido claramente ponderando colocar sua vida em risco em meio às chamas para resgatar aquelas células por ela, para ela. E, de repente, não exista mais nada além da necessidade de tirá-lo dali, afastá-lo do fogo, colocá-lo em segurança e arrancar do olhar dele a desesperança e culpa. Dali em diante, toda vez que ela o viu calado, preso a qualquer pensamento desanimador, ela deixou enraizar dentro de si mesma a fé numa cura que ainda não podiam ver ou tocar. E sua certeza transbordou em olhares, toques e palavras que convidavam Kurt a compartilhar da mesma certeza.

À noite, em casa, ela o cercou de carinho e carícias até que seus corpos cederam ao amor que sentiam e alimentaram ainda mais a esperança de um futuro feliz. Afinal, era tão imenso, tão intenso, tão profundo, tão especial que era impossível pensar que teriam pouco tempo à frente.

Novo dia, um novo e peculiar caso para resolver. Um escritor excêntrico e suas histórias com uma bizarra semelhança à rotina daquela força tarefa. Dessa vez, Jane não relutou em ir à campo. Os novos sintomas que apareceram naquela manhã pareciam sob controle. Seu foco estava em lutar ao lado de Kurt por sua vida, por eles, para um futuro juntos. Ela disse, na véspera, que sentia que não havia nada que não conseguiriam fazer juntos e ela provaria isso ao lado dele passo à passo juntando as peças do quebra-cabeças e encontrando a cura.

Mas então apareceu o formigamento nas pernas seguido por leves câimbras e...foi tão rápido... ela já não tinha forças para se manter em pé. As horas seguintes cobraram seu alto preço: ser resgatada por Kurt, o hospital, a descoberta que a perda do tônus muscular também afetava os braços e que, diante do agravamento do caso, voltar para casa não era mais uma opção. Naquele momento, Jane descobriu porque o destino trouxe sua memória de volta agora. Ela precisava de Remi, da força e da frieza de Remi para lidar com todo o medo que sentia, isolá-lo num canto do peito que não o deixasse transparecer através da voz.

Foi assim que ela repetiu inúmeras vezes que estava bem, que ainda havia esperança, que confiava no team para encontrar a cura a tempo mesmo que ela não pudesse mais participar da busca. E ela sorriu. Sorriu até mesmo nos momentos em que não foi capaz de retribuir o forte aperto com que Kurt segurava sua mão.

No início da noite, a visão já não estava nítida. Mas ela não disse nada mesmo se sentindo traindo a promessa de contar a ele qualquer novo sintoma que aparecesse. Era apenas por um tempo, talvez até o dia seguinte quando ela se sentisse forte o bastante para transmitir a notícia e suportar a reação dele. Céus, ela odiava admitir que se sentia grata por não ser mais capaz de ver com nitidez a preocupação e a tristeza nos olhos dele. Ela não suportaria.

Quando não foi mais capaz de manter a encenação das frases otimistas e sorrisos, ela disse estar muito cansada e que precisava dormir. Isso daria espaço para ele tomar um café e comer algo, era o que ela esperava. E foi o que aconteceu. Ele saiu do quarto. Era por pouco tempo, ela sabia, mas era o suficiente para deixar as lágrimas brotarem e um grito mudo contorcê-la na cama.

Se tinha uma dor que Jane conhecia de forma íntima era a de ver as pessoas que mais ama partirem. Foi assim com seus pais. Foi assim com Roman. Era dilacerante. Deixava marcas na alma mais visíveis que as tatuagens na sua pele. Não! Ela não podia deixar isso acontecer com Kurt. Ele tinha que estar afastado no momento que ela partisse. Seria melhor. Mas como? Ela conhecia o amor que ele sentia e  sabia que jamais se afastaria...

As lágrimas mal acabaram de ser absorvidas pelo lençol quando Kurt entrou acompanhado por...provavelmente Patterson e Rich, ela mais deduziu do que foi capaz de enxergar. As pistas de Roman indicavam que o Livro dos Segredos estava no Peru. Uma vez em posse dele, poderiam trocá-lo com um milionário excêntrico que possuía as células necessárias para a Dra. Rogan manipular a cura de Jane. Três dias seriam o suficiente para a jornada.

Remi foi necessária de novo para mantê-la firme na encenação de que confiava que ainda havia tempo e encorajar Kurt a seguir com os amigos na missão. Ele recusou, insistiu em ficar. Remi sabia que era preciso manipular sua fraqueza: ela precisava dele em campo, para agilizar a missão e trazer o Livro até os EUA o quanto antes porque estava perdendo a visão também. Ele chorou. Ela o tranquilizou e disse que ficaria bem e que precisa dele mais que nunca, acompanhando Rich e Patterson. Após um tempo de discussão, ele concordou. Se despediu. Deixou o quarto com os amigos. Os médicos chegaram e ela pode ouvir que conversavam no corredor.

Sozinha, ela deixou as lágrimas correrem sem que o resto do seu corpo se entregasse ao choro. Por que agora? Por que quando finalmente ela estava feliz? Por que quando finalmente ela tinha uma família que a amava? Não era justo...

A lembrança de Roman encostado na árvore, agonizando, encheu sua mente. Era a árvore deles, a casa deles onde um dia tinham sido felizes. Mas ele parecia tão sozinho, tão amedrontado... Era assim que ela se sentia agora. Ela desejou que seu irmão estivesse aqui para lhe oferecer seu ombro, seu abraçou, sussurrar-lhe palavras de segurança como ela fez com ele. Tudo que ela queria lá naquele momento na Africa do Sul era que Roman se sentisse novamente em casa. E algo foi tomando corpo em meio às lembranças tristes, Jane saboreou a alegria de ter estado lá por seu irmão naquele seu ultimo momento. A dor que vê-lo partir nunca seria maior do que a certeza de que ela devia estar ali com ele e que ter sido seu colo nos momentos finais foi importante. Tudo que ela queria agora ela se sentir acolhida e aquecida em casa também...

Kurt! Só ele era capaz de dar isso à ela quando a envolvia com seus braços. Ele era seu ponto de partida, sua estrela do norte, seu ponto de chegada. Como ela foi tola afastando-o. Ela não era mais Remi. Ela era amada e não precisava enfrentar isso sozinha.

Reunindo toda força que tinha, ela chamou por ele:

— Kurt... Kurt... – será que ele ainda estava ali ou a conversa no corredor era só sua mente pregando novas peças nela?

Antes que ela ousasse chamá-lo pela terceira vez, Kurt estava ao seu lado, segurando firme sua mão e perguntando se estava tudo bem.

— Me...abraça..._ foi o que ela pediu e ele fez.

E ela se entregou as lágrimas confessando à ele todo medo que sentia e sua tentativa de afastá-lo. Ele ouviu e a segurou mais forte a cada confissão, depois a embalou e sussurrou promessas de que tudo terminaria bem e que jamais a deixaria.

O calor e cheiro dele foram se tornando a única coisa real para Jane naquele momento. Sentir a respiração dele, seu peito inflando e soprando tornava mais fácil respirar também. Ela estava em casa... e foi se acalmando até que adormeceu.


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Notas finais do capítulo

Nem preciso dizer o quanto estou destruída, né?
Por favor, sintam-se à vontade para comentar, sugerir, criticar...
Obrigada pela leitura



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