Entre Páginas escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Boa Noite!
Demorei novamente, não é? Haha
Desculpinha...
BEM, nesse espaço aqui adianto que 'Entre Páginas' NÃO É uma história erótica, embora sexo faça parte da trama. Portanto, não esperem nada explícito ou detalhado, certo? *_*
Um beijão e aproveitem o capítulo ;)



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A festa durou até o entardecer, quando o casal retirou-se para a privacidade de sua casa. As bagagens de Melissa já haviam sido levadas para seu novo lar.
   Lar.
   Melissa agora seria dona de sua própria casa. Formaria a própria família.
   E agora iria se tornar esposa.
   Suas mãos estavam incontrolavelmente frias. Desejou estar usando luvas naquele momento.
   Estavam sentados dentro da carruagem, rumo á mansão.
   -Tudo bem? – Ouviu a pergunta suave de seu agora marido. Estavam acomodados muito próximos um do outro. Poderia até mesmo deitar sua cabeça sobre o ombro dele.
   Era estranho pensar que construiriam uma intimidade a partir dali. Era melhor começar então, pensou.
   Encostou a cabeça na curva de seu pescoço;
   -Sim. – Respondeu. – Apenas pensando...
Ele respeitou seus devaneios secretos ao não pedir que os compartilhasse. Ao invés disso, entrelaçou seus dedos. O anel largo de ouro ficou visível na mão masculina.
   A propriedade localizava-se longe da de sua tia, mas ainda em um bairro nobre. Obviamente a única razão de Os Castro não fazerem parte do mais alto círculo social era por vontade própria. Tinham muitos vizinhos abastados e ex-nobres. Seria tarefa dela, naturalmente, incluir seu novo marido naquele grupo.
   A mansão era em estilo clássico e elegante, embora a moça tivesse certeza que Henrique provavelmente não reparara em nada daquilo antes de adquiri-la. Conseguiu ver também uma parte do jardim, que com certeza era a área favorita de Carolina.
   Ao adentrar, notou que era uma casa muito sóbria e austera. Carecia de cor e... um pouco de alma.
   Rapidamente, Henrique informou que estavam sozinhos, que os empregados viriam no dia seguinte, porem os deixariam á sós. Havia também comida disponível, mas Melissa duvidou que seria capaz de comer mais do que já ingerira na festa. E o nervosismo insistente a deixava sem vontade alguma de comer.
   -Quer ver toda a casa?
   Melissa tocou o encosto de um dos sofás, apertando o estofo, distraidamente.
  -Não tenho certeza se decorarei imediatamente. – Respondeu olhando-o.
   Henrique colocou as mãos nos bolsos, um hábito que tinha, além de checar o relógio várias vezes.
   -Se estiver cansada, podemos subir.
    Melissa piscou, atordoada.
   Com certeza nunca estivera tão patética em sua vida como naquele dia. Não ter controle sobre algo sempre a desarmava completamente.
   -É claro. – Forçou-se a responder.
   Caminhou até sua direção. Ele colocou uma mão em suas costas para guiá-la pela mansão. Realmente, seria um tanto difícil memorizar um lugar tão grande. No entanto, era necessário se viveria ali em diante.
   Havia uma escadaria que levava ao segundo andar.
   Imaginou se ele gostaria de fazer aquilo imediatamente.
   Diante de um corredor cheio de portas, entraram em uma das primeiras.
   O quarto era amplo e muito masculino. A decoração era parca e escassa, como se o dono ainda não tivesse decidido se era necessária ou não, entrando em um meio termo entre não deixar o quarto nu, e não decorá-lo por inteiro.
   -Pode decorá-lo do jeito que quiser. – Disse ele enquanto ela andava lentamente, observando cada detalhe. – Toda a casa, na verdade.
   Melissa sorriu, satisfeita.
   -Se quiser um quarto só para você...
—Não me importo de dividirmos o leito. – Na verdade, ela fazia questão.
   Seus pais compartilhavam o mesmo quarto. Ela desejava um casamento como o deles. Bem sucedido.
   Um silêncio instaurou-se no ambiente.
   Não faria nenhum movimento se ele não deixasse claro suas intenções.
   -Acho melhor trocar de roupa... – Sugeriu. – Vou estar no quarto ao lado. Se quiser se trocar também, pode me chamar quando tiver terminado...
   Acenou, calmamente.
   Quando ele fechou a porta atrás de si, deixando-a sozinha, Melissa abriu o guarda-roupa, reparando que todas as suas roupas estavam ali. Infelizmente para Henrique, ela tinha tantas que suas próprias roupas tiveram de ser removidas para outro guarda-roupa, em outro quarto. Bem... alguns ajustes teriam de ser feitos na casa, além da decoração. Nada fora do comum quando se casa.
   Retirou seu vestido, que não precisava de mais que um par de duas mãos para fazê-lo. Vasculhando sua bagagem, encontrou vestimenta noturna perfeita; uma camisola de seda branca, com um roupão vermelho de veludo luxuoso. Talvez tivesse sido uma descarada ao pedir por tal peça para sua noite de núpcias, mas certamente poderia usar cores mais adultas agora que era uma mulher casada.
   Soltou o cabelo completamente e penteou-o cuidadosamente. Em uma mesa reservada para as coisas de Henrique, encontrou seus perfumes, e utilizou um suave nos pulsos, atrás das orelhas e pescoço. Definitivamente faria daquele lugar seu também naquela semana.
   Olhou-se em um grande espelho localizado em um dos cantos do quarto, ajeitando os cachos. Sentou-se na ponta da cama, esperando e controlando aos poucos sua inquietação.
   Alguns minutos intermináveis depois, Henrique entrou no quarto, trajando um roupão de um azul marinho. Alguns fios de cabelo claro caíram sobre a testa em desalinho. Ele certamente estava muito mais calmo do que ela. Desejou poder absorver aquele controle por aquela noite.
   Contudo, ele estava ciente de seu nervosismo irritante e quando chegou até ela ao caminhar a distância de alguns passos, abaixou-se para olhá-la nos olhos, segurando suas mãos.
   -Não precisamos fazer coisa alguma hoje, se não quiser.
   Uma nova perspectiva atingiu Melissa ao ouvir aquilo e olhar em seus olhos;
   Henrique seria um bom marido.
   Diferentemente de Rodolfo, ele parecia constantemente preocupado com as necessidades dela, e em deixá-la confortável. Era atencioso e mostrara em mais de uma ocasião o esforço para deixá-la contente. Estava até mesmo disposto a abrir mão da noite de núpcias. Melissa nunca duvidou de sua fidelidade prometida. Não por amá-la, e sim por ser um homem de caráter.
   Melissa confiava nele. O bastante para não temer mais tornar-se sua mulher. Porque sabia que ele sempre a respeitaria, e também cuidaria dela.
   Munida de coragem, sorriu tranquilamente e posicionou uma mão no rosto que já apresentava uma barba rala e clara.
   -Eu não estou nervosa. Estou ansiosa. – Ele cobriu a mão com a sua carinhosamente. – Quero ser sua esposa.
   Foi com intensidade que ele a beijou, como se estivesse esperando apenas por sua permissão.
   O beijo foi mais apaixonado do que ela esperava. Certamente muito mais do que qualquer um que já recebera.
   Ele inclinou-se sobre ela, colocando uma mão firme sobre sua cintura esguia, erguendo-se um pouco. Interrompendo o beijo, confessou;
   -Quis fazer isso por um bom tempo. E quase não resisti naquele dia, no jardim.
Mel circundou seus ombros largos com um braço, aproximando-os.
   Não querendo que ela se assustasse, ele conduziu como o faria em uma dança, sempre respeitando o tempo e timidez discreta dela. Indo um pouco mais além, permitiu que ela tivesse um pouco de controle também, instruindo-a em coisas que gostava, e descobrindo o que ela queria.
   A pouca luz vinda do abajur de cristal a gás ajudou em muito em sua inibição inicial. Seu marido parecia tão á vontade. Era óbvio que já tivera suas próprias experiências, o que a deixava com uma sensação de desvantagem. Talvez ela se considerasse uma descarada na manhã seguinte, mas recusou-se a ser uma mera espectadora da atividade, retribuindo todos os beijos e atrevendo-se a apertar e tocar também.
   Não sentiu frio algum ao ficar completamente nua, com o corpo de seu esposo sobre o seu. O calor vindo de dentro de ambos era o suficiente para manter todo o quarto aquecido.
   Foi doloroso. Um pouco desconfortável também. Evidentemente precisariam de mais noites para acostumarem-se um com o outro.
   Preocupado, perguntou se havia sido muito doloroso para ela. Melissa respondeu que não, um pouco constrangida. As batidas do coração normalizaram-se aos poucos, quando começou a sentir frio. Ele a abraçou para que se mantivessem quentes, o que ela aceitou de bom grado, apoiando a cabeça em seu peito.
   O dia e a noite foram tão cansativos que ela não levou muito para cair no sono.

 

Acordou na manhã seguinte, com o barulho de alguém andando pelo quarto.
Ainda desorientada, lembrou-se que não estava no quarto que sua tia lhe reservara. E tampouco no quarto de sua infância. Estava em seu novo quarto, em sua nova casa.
   Rapidamente, cobriu-se até o pescoço, envergonhada, e ajeitou os cachos pesados do melhor modo que pôde.
   Ela não dormira sozinha. Mas acordara assim.
   Onde estava Henrique?
   A mulher que caminhava pelo quarto percebeu que estava desperta, e manteve uma distância cordial.
   -Bom dia, senhora. Sou Adélia. – Apresentou-se. – Desculpe por acordá-la, eu vim apenas ver como estava... O Sr. Castro não sabia se devia ou não chamá-la, por isso saiu. A senhora gostaria de tomar seu desjejum ou...
   Bem, ela certamente não sabia como encarar Henrique pela manhã, ao acordar totalmente descomposta. Todavia, esperava que ele a chamasse para comerem juntos.
   Ajeitou a própria postura.
   -O desjejum foi posto? O senhor meu marido já comeu?
   -Sim. Caso queira juntar-se a ele...
   -Eu quero. – Respondeu Melissa. – Minhas roupas estão no guarda roupa.

                        ♡♡♡

Ao descer, encontrou seu consorte lendo jornal. Assim que ouviu seus passos, deixou o material sobre a mesa.
   -Bom dia. – Disse, ignorando o rubor que tinha certeza de que espalhava-se por suas bochechas. Sentou-se na cadeira ao lado da dele, que encabeçava a grande mesa.
   -Bom dia, Melissa. – Devolveu em uma voz grave que trouxe memórias intensas. – Dormiu bem? Não quis acordá-la...
   -Eu me adapto fácil. – Sorriu de leve. Analisou a mesa farta com pães, bolos, frutas e bebidas variadas. Todas as massas estavam fumegantes.
   -Pedi um pouco de tudo, caso você goste.
Acenou, iniciando sua habituação com a refeição.
   Não perguntou o porquê de ele não ter acordado-a para tomarem o café juntos.
    Para sua ‘surpresa’, ele tomava café forte e quente, com torradas e geléia. Ela preferia suco com pães recheados e bolos. E gostava de morangos com creme. Mas não diria isso a ele. Teriam de descobrir coisas um sobre o outro com o passar da convivência.
  -Vai me mostrar a casa depois? – Perguntou deixando o guardanapo de linho sobre a mesa.
   Ele franziu o cenho, incerto.
   Ah, não.
   De jeito nenhum ele a deixaria sozinha naquela mansão enorme para ir á fábrica. Ela já abrira mão de coisas demais.
   Segurou sua mão, carinhosa.
   -Por favor... – Pediu meigamente. – Você não vai trabalhar por esses dias, não é? Estamos em lua de mel.
   Henrique apertou sua mão de volta.
   Uma vez sua mãe dissera que era mais fácil apanhar abelhas com mel do que com vinagre. Ela também dissera em tom bem humorado que homens eram facilmente manipuláveis, e que muitas vezes não pensavam com a cabeça.
   Melissa estava começando a entender.
   Ele pensou por um momento.
   Mel já estava bolando uma série de idéias para convencê-lo quando o próprio falou;
   -Está bem. – Olhou para ela. – Cuidarei da fábrica daqui. O que a senhora minha esposa gostaria de fazer hoje?
   Melissa sorriu abertamente, satisfeita;
    -Muitas coisas.

                        ♡♡♡

Amanda estava cansada, porem satisfeita.
   Trabalhar o dia todo a impedia de encostar-se em algum lugar e ceder ao comodismo. Era revigorante ter algo para fazer.
   Cozinhava como sempre gostou, limpava a pensão e organizava a desordem deixada pelos clientes. Poderia parecer ruim, contudo, a pensão era de respeito, portanto, assim o era seus freqüentadores. Alguns até mesmo já deixavam suas camas arrumadas, facilitando em muito o serviço.
   De bom humor, carregando uma cesta com velas novas, abriu o escritório destrancado.
   Encontrou sua patroa contando dinheiro e fazendo cálculos.
   Ao notar sua presença, a mulher rapidamente fechou a caixa de madeira rústica com os réus dentro.
   Amanda sentiu-se na obrigação de tranqüilizá-la, pois jamais tentaria roubar nada de ninguém e era de confiança. Mas a mulher era totalmente desconfiada.
   -Sinto muito, eu vim apenas trocar as velas... – Afirmou com a mão ainda na maçaneta que ela mesma polira dois dias atrás. Silenciou o sentimento de ofensa.
   -As velas estão ótimas. – Resmungou a senhora idosa, fechando seu livro de contas.
  -São restos. – Insistiu Amanda, suavemente. – Acho melhor trocá-las.
   A mulher olhou teimosamente para os candelabros antigos de seu cômodo.
   -Ótimas. – Repetiu.
   Manda controlou o impulso de suspirar.      Talvez fosse sua herança de filha de marquês, que via sempre o casarão de seu pai esbanjar riqueza e luxo até nos mínimos detalhes.
   Ou talvez não tivesse a mão fechada como a de sua patroa.
   Na pensão não havia luminárias á gás. Amanda ficara admirada pelo fato de as velas não serem de sebo. Todavia, a dona do estabelecimento fazia de tudo para não desperdiçar uma gota de cera sequer. Literalmente.
    Vendo a dificuldade anterior da patroa em somar o dinheiro recebido, quase ofereceu-se para ajudar. Porem, vendo toda a rabugice, decidiu que esperaria por um pedido. Ela estava ali para auxiliar no que ela precisasse, não é?


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Notas finais do capítulo

Sentiram saudades? Que tal me dizerem o que estão achando?



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