Entre Páginas escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Boa Noite!
Levei um pouquinho mais de tempo dessa vez para atualizar, não é? kkkk



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771172/chapter/19

 

No dia do casamento de Melissa e Henrique, toda a mansão acordou cedo. Os empregados, desde que o sol nascera estavam de pé para preparar a casa e jardim, onde a festa depois da cerimônia aconteceria. Seguindo instruções de jardineiros e decoradores contratados especialmente para a ocasião, andavam de um lado para o outro, atarefados.

   Melissa tivera seu sono de beleza e fora a última a ser desperta, embora ainda fosse cedo quando acordou.

   Sua mãe entrou no quarto das filhas seguida por uma das empregadas, Juliana, que carregava uma bandeja com um farto café da manhã.

   Melissa levantou-se e afastou uma mecha escura para longe do rosto, sorrindo;

   -Hoje é seu dia especial, meu amor... – Cantarolou Amélia, focando-se apenas no fato de sua filha do meio estar casando, e não pensando em quem seria seu futuro genro. Inclinando-se sobre a cama de solteiro, acariciou as bochechas da filha e escovou alguns fios de cabelo para trás. Beijou-a carinhosamente em seguida.

   Luísa já estava de pé, com roupão e face ligeiramente amassada. A franja era uma confusão sem comando sobre a testa. Ela abraçou a irmã logo em seguida, desejando felicidade.

   -Mel, espero que você seja muito feliz, e finalmente encontre o que procura.

   Melissa retribuiu o abraço, desconfortável.

   Não sabia se Bianca e seu pai compareceriam.

   Não sabia como agiria se comparecessem.

   Afastou aqueles pensamentos, concentrando-se em alimentar-se.

   Juliana deixou o aposento silenciosamente para cuidar do banho da Srta. Albuquerque.

   Entre uma garfada de omelete e outra, lembrou-se de algo.

   Limpou a boca com um guardanapo;

   -Mamãe... Nunca mais terei de me preocupar com Júlia ou Rodolfo... – Fechou os olhos e respirou fundo, aliviada. – Este pesadelo finalmente acabou.

   -E agora... – Amélia ajeitou o laço de seu roupão branco, sobre a camisola de mesma cor. – Sua vida como esposa de um burguês... Um homem de negócios— Corrigiu-se. – começa. Trate de dar alguma educação á ele, e formarão um par excepcional na sociedade carioca. Agora você será uma senhora casada, fará oficialmente parte da elite do Rio de Janeiro.

   Ao dizer tais palavras, Amélia deu-se conta do fato;

   -Ah... – Murmurou. – Minha filha sai de casa e dos meus braços... – Os olhos claros marejaram. – Terá sua própria casa agora. Sua própria família... – Colocou uma mão fina sobre a face, tentando reprimir uma onde de choro.

   Melissa retirou a bandeja de seu colo e deixando a cama, abraçou a mãe;

   -Mamãe, eu posso sair de nossa casa, mas nunca deixarei de ser sua filha... E vou visitá-los sempre que puder... – Beijou seu rosto.

   A antiga Marquesa fungou tão baixinho e de modo tão contido que quase passou despercebido.

   -Bem... – Recompôs-se, impedindo que as lágrimas caíssem – Nada de choramingos... Temos que preparar a noiva mais linda que esta cidade já viu.

   -Certamente. – Concordou Luísa. – Com certeza será a noiva de maior destaque da cidade. Ninguém viu seu vestido.

   Melissa gargalhou, matreira;

   -Irmãzinha, sua curiosidade será saciada hoje.

   A Srta. Albuquerque teve um banho digno da própria realeza, os cabelos foram lavados, perfumados e escovados, ficando brilhantes e sedosos, como um rio castanho escuro caindo por suas costas até a cintura. A roupa que usaria na cerimônia civil já estava devidamente engomada, em um cabide.

   Trajando um robe, sentada na banqueta da penteadeira, Notou que sua irmã tinha o olhar perdido, sentada próxima á janela;

   -O que foi? – Perguntou. – Não pode ser por causa de meu vestido... Já vou vesti-lo.

   -Não. – Sorriu pela piadinha. – Apenas... – Suspirou. Os ombros caíram, formando uma postura desleixada que com certeza deixaria Amélia contrariada. Toda a família havia tomado o desjejum há pouco, na sala de jantar. – Vai ser... estranho não dividir mais o quarto com você...

   Melissa encarou o próprio reflexo no espelho.

   Girou o anel de noivado, sem saber o que responder.

   A partir daquele dia colocaria tudo que havia aprendido a vida inteira em prática; Marido, casa, filhos... E nem sequer dedicara-se a pensar na noite de núpcias.

   -Lu... Sabe o quanto eu estou me esforçando para não chorar? Por favor, preciso manter o controle, vou me maquiar em pouco tempo...

   As duas riram, espantando a reflexão melancólica.

   Levantou-se, indo até a caçula;

   -Não pense que vai se livrar de mim, ainda mais se você e o Sr. Medeiros se entenderem melhor.

   Luísa revirou os olhos;

   -Não falemos sobre isso, certo?

   Mel deu um aceno de cabeça.

   -Assunto encerrado. As atenções são apenas minhas hoje.

   Melissa teve a impressão de estar casando-se duas vezes naquele dia. Uma cerimônia em cartório, como a república requeria, e uma religiosa durante a tarde.

   Assinou diante de um juiz de paz todos os documentos que a partir daquele momento tornavam-na legalmente casada. Mas só partiria para sua nova casa após o matrimônio religioso.

   Ao voltar para a mansão de sua tia, todo o trabalho para vestir a noiva recomeçou. Desta vez, com o misterioso vestido.

                                               ***

   Luísa observou Leonardo alisar o cabelo castanho claro com cuidado para trás, olhando-se em um espelho da sala de estar.

   -O senhor está muito garboso. – Elogiou Luísa, segurando o riso.

   Leonardo ajeitou pomposamente as lapelas do fraque;

   -O padrinho deve apresentar sua melhor aparência.

   -Ninguém vai reparar em você. Só vão olhar para a noiva.

   -É o que Melissa quer que todos pensem.

   Ambos riram.

   Luísa alisou seu vestido cor-de-rosa, incerta.

   Leonardo imediatamente percebeu a mudança de humor;

   -Ei, o que foi? – Apertou seus ombros confortavelmente. – Algo errado?

   Luísa tomou uma longa respiração;

   -Logo será minha vez... Não sei se estou pronta, não sei se quero isso... Eu...  Talvez eu seja estranha...

   -Você não é estranha. – Afirmou seu irmão, seriamente. – E tampouco normal. Ninguém é.

   -Mamãe diz que todos devemos dar exemplo. Eu tenho que me encaixar e ser como todas as mulheres da nossa classe social.

   -Não, certamente você não deve ser como as mulheres de nossa classe. Já viu Titia? Se não fosse nossa parenta, eu com certeza a acharia irritante.

   -Sobre o que vocês estão falando? – Os gêmeos aproximaram-se. – Esta roupa pinica. – Reclamou um deles.

   Leonardo tocou com carinho o queixo de Luísa, rapidamente;

   -Você não precisa ser ninguém além de você mesma. – Disse baixo, para que apenas ela ouvisse.

   Enquanto isso, ao começo da escadaria, Conrado ajeitava as abotoaduras. Seu olhar perdeu-se nos degraus acima quando algo capturou sua atenção.

   -Veja só se não é uma das coisas mais belas que já vi na vida... – Afirmou.

   Todos olharam na mesma direção que ele.

   Sobre o topo das escadas, Melissa estava belíssima.

   As madeixas foram presas sobre o alto, em um penteado romântico que deixava os cachos elaborados serem vistos. O véu vinha logo abaixo, branco e longo. O vestido era exuberante.

   Branco em seda, caído levemente sobre os ombros. O corpete era liso. A saia seguia o mesmo estilo, porem com bordados sutis finamente bordados na barra e fins das mangas, com um brilho delicado. As mãos enluvadas e um buquê de rosas vermelhas cheio pendendo sobre um dos antebraços.

   Luísa naquele momento entendeu o porquê de tanto mistério.

   O vestido seria inesquecível.

   -‘Uma das’? – Sorriu Melissa após descer com o auxílio de seu pai, que subira para ajudá-la. Sua mãe, tia e tio desciam logo depois.

   -Sua mãe também estava de tirar o fôlego no dia de nosso casamento.

   Amélia corou, deliciada com o elogio.

   Embora Melissa fosse oposta á sua mãe na cor do cabelo e olhos, as duas eram altas e emitiam uma elegância nata.

   -Hoje entrego você para seu marido. – Discursou. – Contudo, eu não perdi uma filha. Ganhei um filho.

   Sim, pensou Lu. Um filho muito vantajoso financeiramente falando.

   Após mais diálogos alegres, partiram.

   A cerimônia realizou-se durante a maior parte da manhã.

   Henrique e Melissa pronunciaram seus votos e ouviram o sermão. Trocaram alianças, argolas de ouro em seus dedos anelares esquerdos.

   Agora era Sra. Melissa Viana Albuquerque Castro.

   Amélia Albuquerque retirou com cuidado a grinalda do cabelo da filha.

   Agora retiraria o vestido pesado e luxuoso e trocaria por um vestido diurno fresco e elegante para a festa celebrada no jardim, onde todos os convidados começavam a chegar. Fora até mesmo cogitado utilizar a própria propriedade de Henrique para tal, no entanto, devido a toda a personalidade reservada dele, decidiram por não expor sua casa, algo tão íntimo dele para pessoas que ele não fazia tanta questão assim de ter como convidados.

   -Sua tia está supervisionando tudo, sua festa não deve ser menos do que memorável...

   -Ah, é uma pena que o casamento só tenha sido mencionado em jornais daqui. – Murmurou Melissa alisando seu corpete com carinho, esperando que a mãe desabotoasse as presilhas nas costas.

   A mulher depositou o véu enorme com cuidado sobre a cama para que uma das criadas o guardasse.

   -Agora... – Desabotoou os grampos. – Estando sozinhas, acredito que seja hora de termos uma conversinha.

   Melissa deixou os braços ao seu lado, leves.

   Se fosse a respeito da noite de núpcias, ela aceitaria qualquer conselho, pois considerava-se informada o suficiente com o que lera em livros informativos surrupiados da biblioteca de sua família, quando era pequena, ou observando horrorizada os animais em excursões tediosas ás fazendas que seu pai a obrigava a ir com seus irmãos, quando adolescente. “Vejam de onde nosso prestígio e fortuna vem. Trabalho de gerações”, dizia ele com orgulho, apontando para as vastas plantações e gado, enquanto apenas Luísa parecia prestar atenção.

   -Confie no seu marido e ele saberá o que fazer. – Afirmou calmamente concentrada em tirar o vestido da filha.

   Os ombros da moça caíram em decepção.

   -Isto é tudo que a senhora vai me dizer?

   Os olhos verdes claros encontraram os seus escuros pelo espelho;

   -Que assanhamento é esse, Senhora?

   -Eu esperava algo mais... direto.

   Amélia colocou as mãos nos quadris, envoltos em seda e renda azul escura;

   -O que pode ser mais direto do que dizer que seu marido saberá o que fazer?

   -Bem... – deu de ombros, curiosa. – Algo mais direto sobre o procedimento... É tão... assombroso como os animais?

   -Melissa! – Sua mãe ficou mortificada.

   -Apenas tenho desejo de saber, somos criaturas racionais, reflexivas, certamente nos diferimos deles neste ponto, não?

   As maçãs do rosto de sua mãe ficaram rubras, em um belo contraste com a pele clara.

   -Ás vezes você é muito direta para uma dama, mocinha...

   -Apenas responda-me e deixarei de perguntar.

   Amélia tocou em seu colar, desajeitada.

   Parecia que sua mãe a ignoraria até o momento em que alguém viesse perguntar por elas, quando por fim ela esclareceu minimamente o assunto;

   -Há certas semelhanças com os animais, mas nada grotesco. Pode haver carinho, e um certo... – Pigarreou. – alívio.

   -Alívio?

   -Já chega! – Ergueu as mãos de modo impaciente. – Já disse mais do que deveria! Vamos terminar isto!

   Carolina apertou seu leque firmemente, contrariada;

   -Quanta audácia ela se atrever a vir. Os dois! – Cochichou para o filho.

   Quando viu o nome dos Paiva na lista de convidados, fora tomada pelo choque. Que só piorou quando ouviu da boca do próprio filho que não alteraria nada. Todavia, ela acalentou uma pequena esperança de que eles teriam decência o suficiente para não mostrarem a cara na cerimônia.

   Pois não só mostraram como compareceram á festa.

  -Como você permitiu um despropósito desses, eu nunca entenderei. – Continuou. – Essa gente não gosta de nós, e mal conhece vocês.

   -Eles não precisam gostar de mim, mãe. Apenas precisam de mim.

   -Sua esposa vai arrastar você para esse mundo de falsos e fúteis. Você vai se tornar um deles, se não tomar cuidado.

   Henrique sorriu;

   -Não seja dramática, mamãe.

   -É verdade. Você é ainda mais ingênuo do que pensei se achou mesmo, por um instante sequer, que aquela moça abrirá mão de todos estes mimos e protocolos. Ela nasceu neste mundo.

   -Esta moça agora é sua filha.

   Carolina acenou calmamente;

   -Eu sei. Desculpe-me. Quero que vocês dois sejam muito felizes. – Alisou a lapela do fraque dele.

   A mão dele, agora com um largo aro de ouro maciço apertou a dela com carinho e preocupação;

   -A senhora ficará bem? – Referia-se á viagem que Carolina faria para o interior do estado pelos próximos dias.

   -Com toda certeza. – Garantiu. – Nossos vizinhos antigos, ar do campo, sossego... o que mais eu poderia querer? Na verdade, acho que vocês deveriam ter optado por uma viagem assim.

   Um pequeno sorriso;

   -Melissa não gosta do campo quase tanto quanto eu. Prefere a agitação da cidade. Se pudéssemos, tenho certeza de que ela gostaria de ter ido para fora do país.

   Henrique sempre tão mergulhado no trabalho não poderia deixar seus negócios sem um administrador confiável, que ele ainda não encontrara. O que resultou no cancelamento de uma viagem para outro país. Melissa ficou desapontada ao saber, é claro.

   -Bem... se ela não se queixou de passar a lua de mel em casa, para mim é um ótimo sinal de que ela será uma boa esposa. E de que está tentando. Contudo, uma moça como ela precisa ser constantemente mimada. Tome cuidado.

   -Tenho plena capacidade de mimar minha esposa, mãe.

   -Eu sei. – Sorriu.

   Mas uma vez não fora o suficiente.

   O que a levou a olhar para a mulher que acabava de chegar, de braços dados com o marido, vestida a rigor da moda.

   Na época em que a conheceu, Henrique não tinha nada para entregar á ela a não ser seu coração. E fora recusado.

   Agora poderia entregar um mundo de jóias, luxos e frivolidades para a recém esposa. Entretanto, seu coração, Carolina temia, era inalcançável.

   -Eu vou cumprimentar os convidados, se eles não me julgarem inferior demais para isso. – Subiu a saia bordada de cor clara alguns centímetros acima para auxiliar o andar e deixou-o para receber seus amigos que se aproximavam.

   Melissa desceu até o jardim com a mãe, já trocada, para aproveitar seu grande momento. O vestido era incrivelmente refrescante comparado com o anterior. Era leve e de tons creme e branco. Seu cabelo foi quase todo solto, caído sobre as costas, enfeitado com flores no penteado localizado atrás.

   Sua entrada no jardim imediatamente foi percebida por todos os convidados. Graciosamente caminhou até o marido. Sua mãe afastou-se logo em seguida dirigindo-se até a mesa reservada para sua família. Seus primos estavam perdidos em meios aos petiscos, enquanto seu pai, irmão e irmã conversavam.

   O olhar com o qual ela mais se importava foi imediatamente capturado por ela.

   Os olhos a escrutinaram, provocando uma deliciosa sensação de triunfo na jovem senhora. Ao menos sabia que ela a considerava atraente.

    Ofereceu o braço á ela, que o aceitou, e juntos cumprimentaram os convidados. Melissa tornou-se especialmente atenta aos que eram caros a ele. Amigos que também eram comerciantes, naturalmente.

   O casal Paiva também fez sua aproximação, chamando a atenção de Mel.

   Era um casal jovem, de fato. A mulher era poucos anos mais velha do que Melissa, quase na casa dos trinta, supôs. Com o cabelo ruivo preso acima da cabeça, um porte refinado e delicado, sua origem fez-se óbvia. O marido também possuía ares aristocratas, com um anel caro de família em um dos dedos e vestido na última moda masculina.

   O sorriso de Cecília Paiva foi belo e amigável. Se Melissa fosse ingênua, talvez deixasse passar a tensão quase imperceptível do momento.

   Mas não era.

   Havia algo ali. Algo que precisava descobrir.

   Mas não na festa de seu casamento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou? Que tal me dizer? Comentários são sempre bem-vindos ;3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Páginas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.