Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 10
Decisões de uma garota maluca


Notas iniciais do capítulo

Hello, World, tudo em riba?
Mais um capítulo de transição para a nova fase da fanfic e eu espero que vocês gostem. Esse capítulo mostrará um pouco do que está por vir daqui pra frente.
Se gostar do capítulo não esqueça de comentar, ok?
Então vamos lá e divirtam-se!



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Você é... O Soldado Invernal...

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Depois de ouvir que Darcy já sabia sobre sua identidade, Bucky agarrou o ombro da garota e a forçou a se virar de frente para ele...

E então...

A encarou furiosamente... um brilho fulminante podia ser visto em seus belos olhos azuis gelo...

A estudante estava com os olhos muito arregalados... Seu maxilar tremia e suas pernas estavam bambas...

Você...— Ele replicou de modo letal... A cólera de um assassino a poucos segundos de cometer um homicídio podia ser sentida em sua voz.

Era obvio que Darcy estava com medo. Os olhos dela mostravam isso... Mas a garota continuou em silêncio, recuando um passo e...

O semblante de pânico instaurado.... Puro e extremo desprezo era tudo o que ele podia supor que ela estava sentindo, até que...

De um rosto totalmente assustado, sua face se desfez numa expressão bizarra e um sorriso travado e robótico foi surgindo e então...

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AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!

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Darcy começou a rir como uma louca, se inclinando sobre o chão enquanto segurava a barriga, afastando-se um pouco dele.

Ela se contorcia no chão... Semelhante a uma lhama com prisão de ventre...

Seus olhos já começavam a lacrimejar e a gargalhada parecia não ter fim.

Um ponto de interrogação estampou a face de Bucky e ele a olhou um pouco horrorizado e confuso.

O quê...?— Aquela reação o pegou totalmente de surpresa e ele não soube como agir.

Será que rir era a mais nova reação do medo?

As pessoas riam quando estavam com medo? Isso não fazia sentido algum.

Naquele século, as pessoas riam quando estavam amedrontadas?

Então, Darcy começou a controlar o riso e voltou a encará-lo, se aproximando novamente, com uma feição totalmente divertida e exultante.

Seu rosto estava mais iluminado do que antes e seus olhos muito abertos. A estudante o fitava, satisfeita, de cima a baixo.

Ela sorriu abertamente, olhando para os lados, completamente feliz.

Bucky ainda não entendia o porquê daquele comportamento.

— Eu não vivia algo tão intenso desde a convergência em Londres!!! – Darcy levantou os braços para o alto e deu alguns pulinhos.

Aquilo estava começando a irritá-lo profundamente.

— Do que você está falando!? – Bradou, sem nenhuma paciência.

Ela virou de frente para ele e seu sorriso ficou ainda mais firme e convicto.

De alguma forma, notava que o medo que a estudante parecia sentir, não estava mais ali...

— Você é o Soldado Invernal! A arma secreta da HYDRA! Mas além de tudo, você é um dos maiores heróis de guerra da América! Será que você não está entendendo o que está acontecendo aqui!? – Darcy redarguiu com muita alegria.

Bucky não entendia o porquê deveria ficar feliz e também porque ela ficaria tão contente em descobrir sobre aquilo.

Se fosse uma pessoa normal, já teria corrido e fugido...

Mas esse era o problema...

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Darcy não era normal...

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Ele a fitou com desprezo ao perceber que a garota parecia gostar de ter vivenciado o perigo de descobrir sua identidade...

— Quando te vi, eu não me lembrei de cara... Apenas me recordava de ter visto sua fisionomia em algum livro que falava sobre o Comando Selvagem, e não tinha ideia de quem você era... Mas agora... Agora sei sua verdadeira identidade! Você... É incrível...! Não só por quem você é, mas eu nunca tinha visto alguém lutar tão bem antes! Quer dizer... Já vi, mas ele não é desse planeta e-

— Você realmente quer morrer...? – Ameaçou, com seu habitual tom de voz grave e letal.

Darcy ficou sem saber o que falar depois da reação dele.

— Aah... Eu... Me desculpe... – A garota não soube como reagir. Entendia que talvez a sua felicidade por descobrir a verdadeira identidade dele, podia não ser algo tão bom de se comemorar.

Sua inconveniência ainda lhe tiraria a vida...

Porém, mesmo que a garota agisse daquela forma com ele, o fato de a mesma saber sua real identidade era um grande risco.

E ele não podia correr riscos...

Darcy interrompeu os pensamentos dele mais uma vez e continuou a falar, mesmo sabendo que o mesmo não estava disposto a ouvi-la.

— Me desculpe agir desse jeito informal durante todo esse tempo. Eu não sabia que estava falando com alguém bem mais velho que eu e... Que era um veterano herói sublime do país, então... É uma honra conhece-lo, Sargento... – Ela inclinou um pouco a cabeça, com a mão direita fechada na altura do peito.

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Uma típica reverência que mostrava respeito.

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Os olhos dele se alargaram e o espanto cobriu sua face novamente...

Por que ela o reverenciaria?

Afinal, James Buchanan Barnes era um herói tão respeitado entre os americanos? Não fazia ideia da imagem que o mundo tinha a seu respeito.

Mas ele também era o Soldado Invernal, então aquela reverência não fazia sentido algum.

O herói americano era também um traidor...

E de alguma forma, não conseguia confiar totalmente no que aquela garota dizia.

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Ele não sabia lidar com aliados. Apenas com inimigos.

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— Você tem ideia no que se meteu!? Tudo o que você viu não é um filme... É algo real... Tem ideia do que está acontecendo!? - Ele se alterava e Darcy se afastava novamente, recuando alguns passos para trás.

A garota esbarrou no veículo logo atrás e então...

Bucky a cercou entre ele e a porta do carro...

Seu braço de metal a rodeou pelo lado esquerdo, enquanto o braço humano a bloqueou pelo lado direito.

Ela ficou presa entre ele e o carro.

E mesmo que quisesse fugir, não teria como escapar dos braços de um homem tão forte como ele.

As orbes geladas fitaram as dela...

Darcy podia se ver pelo reflexo dos olhos azulados... E a frieza daqueles olhos lhe tirava o fôlego em todos os sentidos...

Os efeitos que o soldado estava lhe causando eram devastadores, mas ao mesmo tempo inefáveis...

Bucky a encarava profundamente, sem nenhum temor e com a expressão tomada pelo furor que acendia dentro de seu peito ao assistir toda aquela conduta duvidosa que a mesma mostrava.

Darcy não conseguiu encará-lo mais e desviou seu rosto para o lado...

— Eu... Sei que isso tudo não é um filme... Me desculpe...

— Uma reles garotinha como você, não tem percepção o suficiente para entender o que é um assassino que trabalhou para organizações de serviços secretos, acabar com subordinados de outra organização secreta... Então, se não quiser ter a sua cabeça arrancada, é melhor você calar a boca...

Mesmo receosa com tudo o que ouvia, ela não conseguiu calar a boca...

— Você não sabe o quão incrível é! Está em todos os livros de história, nos museus, em filmes e até nos arquivos secretos das maiores instituições de inteligência! Você é demais! – Darcy soltou um riso contido, se segurando um pouco para não o irritar, mas tudo o que ele fez foi se concentrar no sorriso dela... Nas curvas suaves de seus lábios... Realçados pelo brilho ameno do sol... E impressionado com a coragem daquela garota em insistir sobre James Buchanan Barnes.

Sentia raiva por não ver nada nela o que existia nele... E a cada aproximação entre ambos, Bucky percebia o quão desnorteado estava...

Todas as coisas que sobraram em sua mente e que ele acreditava que fossem verdade, nunca foram raízes para nada mais do que mentiras...

Enquanto o tempo parecia simplesmente escorregar para longe... O Soldado Invernal acabou deixando rastros de sangue ao longo do caminho...

E agora estava perdido, sem saber para onde ir e nem o que fazer...

Darcy imaginava que mil coisas passavam na mente dele.

Até ontem, Bucky era apenas uma marionete da HYDRA e a estudante sabia muito sobre aquela maldita organização. Estudou sobre eles durante um semestre inteiro, mas não tinha ideia de que conseguiriam esconder tão bem do mundo... seus projetos, armas e planos.

Sabia que a vida algum dia lhe daria algo muito difícil de se resolver... Algo que teria um grande impacto... E o momento havia chegado.

Assim como Jane conheceu Thor e causou notoriedade no mundo por conta de suas pesquisas como Astrofísica, chamando atenção até da SHIELD, talvez pudesse fazer algo pela humanidade também, e sua chance estava bem diante de seus olhos naquele momento...

A estudante precisava deixar a sua marquinha na história do país ou do mundo de alguma forma... E aquela era a sua maior oportunidade...

Então decidiu que encaminharia aquele soldado perdido, de volta para o seu pelotão...

Ela seria seu guia...

Vislumbrando o rosto confuso dele, Darcy resolveu tomar uma iniciativa ousada. E então...

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Ela segurou os ombros dele e o olhou convictamente terna...

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— Você não pode controlar as coisas que acontecem com você, mas pode controlar a forma como reage a elas...

Ele a encarou confuso, mais uma vez...

— O quê...?

— A dor é inevitável... Sofrer é opcional... Vai viver como um andarilho errante pelo planeta, hostilizando as pessoas e culpando-as por todo o azar que teve ou vai decidir fazer algo para retomar o seu lugar ao mundo...? Então... O que você vai fazer depois de descobrir que é o Sargento Barnes...?

Ele relutou um pouco em responder, se sentindo incomodado com o fato de a mesma lhe tocar e dizer coisas tão racionais...

Nem parecia mais a mesma pessoa de antes... Aquela garota era...

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Uma incógnita...

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— Eu disse que não gosto que me toquem... – Ameaçou, furioso.

— Aaah, chega dessa coisa de não te tocarem! Nós nos tocamos várias vezes e nem por isso você teve um surto psicótico. Está na hora de vencer esses traumas e eu vou te ajudar! – A voz dela mostrava entusiasmo, e o soldado não conseguia aceitar.

— Não me faça perder a paciência com você... – Protestou, raivoso.

— Como você ficou setenta anos congelado? – A curiosidade de Darcy se encontrava acima de níveis estratosféricos.

Ele não teve nem tempo de responder, pois a ansiedade que rodeava a garota lhe fez perguntar outra coisa, automaticamente.

— O que você vai fazer agora que sabe sua real identidade!? – Os olhos dela brilhavam.

Bucky a fitou por longos segundos, sem saber o que dizer...

— Eu... Ainda não sei... – Olhou para cima, perdidamente aflito...

— Certo... Então agora que você já sabe de tudo... Só tenho uma coisa para te dizer... - Ela tirou suas mãos de cima dos ombros dele e o encarou com ímpeto.

— E o que seria...? – Replicou, um tanto desolado.

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Bem-vindo ao mundo atual! É uma porcaria! Você vai adorar!

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Darcy sorria matreira enquanto seus braços ficaram esticados para o alto, numa pose patética.

Bucky se afastou... O que aquela garota maluca estava dizendo?

— Então, agora que você já sabe onde está, em que ano está e o que perdeu, vamos comer e chorar!!!

— O quê...? – A feição do Soldado foi de espanto. O tempo todo Darcy lhe causava esse tipo de reação.

O que comer tinha a ver com tristeza? As pessoas comiam quando estavam tristes? Aquilo era uma tendência naquele século?

— Se é pra fazer melodrama, faremos isso de estômago cheio! Eu vou te acompanhar! – A garota começou a rir sozinha e Bucky ficava pasmo com a resposta fora de realidade que acabara de ouvir.

Estavam em 2014... O mundo e as pessoas tinham mudado tanto? Reações como as daquela garota eram normais? Ou será que ela era um caso à parte?

— Então, vamos?

— Vamos...? Pra onde...? – Os olhos dele a rodearam, caóticos.

— Pro meu apartamento! Eu não posso te deixar sozinho enquanto tem um monte de caras estranhos atrás de você!

— Você não sabe o que está dizendo... – E então, Bucky se virou, virando de costas para ela.

Darcy se moveu e agarrou o braço dele.

— Espera! Você não entendeu até agora o que está acontecendo!? Eu sou a única pessoa no mundo que pode te ajudar! – Dessa vez, não havia dúvidas em suas decisões. Agora que sabia a identidade dele, não poderia simplesmente deixa-lo ir... não naquelas condições.

— Você está louca!? Isso não é uma aventura... é um caso de vida ou morte... – Conclamou, ainda mais confuso com o comportamento anormal da estudante.

— Bucky... viajamos juntos, coloquei o meu na reta pra te trazer ao museu e fiz várias coisas das quais me arrependeria. Mas é diferente agora... você é um veterano de guerra... um herói americano... não vou virar as costas pra você depois de tudo.

Ele a encarou, abismado. Será que aquela garota entendia a real situação em que o mesmo se encontrava?

— Você nunca vai entender, mesmo se explicar. Isso não é um jogo, nem uma experiência arriscada... é uma missão suicida e não pense que vai me convencer do contrário!

— Mas você não tem ninguém! Eu sou a sua única aliada agora!

— Isso não importa...

— Eu sei exatamente que tipo de organização a HYDRA é. Já fiz diversos estudos profundos sobre eles. Sei muita coisa sobre o plano de controle global deles. Só não tive acesso aos arquivos secretos que falavam de coisas importantes muito sigilosas, incluindo você, o Soldado Invernal.

Bucky já não sabia quantas vezes havia se surpreendido com que Darcy dizia ou fazia.

Suas afirmações eram verídicas?

— Como você pode saber tanto sobre a HYDRA?

— Eu apenas sei... – Ela sorriu, marota. Sabia ter tudo sob controle, pois seu arsenal sobre organizações de inteligência era imenso. Era um verdadeiro hobby estudar sobre aquele assunto.

— O que quer dizer com isso...? – Bucky ainda se encontrava vulnerável. Era uma reação normal, depois de sua luta contra Steve, a queda da HYDRA e da SHIELD, o encontro com Darcy e a descoberta sobre sua verdadeira identidade... Tudo aquilo havia lhe deixado desestabilizado... Mais do que conseguia suportar...

— Eu entendi perfeitamente a situação. Você foi um soldado, nomeado sargento e enviado provavelmente para Inglaterra quando os Estados Unidos entrou na guerra como aliado. Steve Rogers entrou no programa especial de formação de super soldados, se tornou o Capitão América e depois de suas conquistas, montou o Comando Selvagem e você foi junto, então por causa de um acidente em que todos acharam que você tinha morrido, a HYDRA te recrutou, estou certa?

Tudo o que Darcy dizia fazia sentido, mas... Não sabia se ficava impressionado com o fato de alguém de fora confirmar o que já estava em sua mente ou de vê-la resumir tão rápido o que era difícil para uma pessoa normal.

Porém, ela não parecia saber sobre os detalhes de como se tornou o Soldado Invernal, logo suas afirmações eram vagas.

— Como você sabe sobre tudo isso...? – Contestou, ainda muito espantado.

— Você quer ou não a minha ajuda...?

Bucky hesitou. Não sabia se ainda podia confiar nela e ao mesmo tempo... Como alguém como ela lhe prestaria ajuda?

— Sua ajuda é um risco pra si mesma...

— Essa não é a primeira vez que corro riscos. Acredite, já aconteceram coisas bem perigosas comigo. – Afirmava, enquanto fazia uma careta que ele nunca tinha visto antes.

As mulheres de sua época não faziam tais expressões... Elas se esforçavam para ser lindas, meigas e admiráveis...

Já ela...

— Me desculpe, mas não posso aceitar... Eu ainda não confio totalmente em você e também não confio em mim... Minha mente está uma bagunça...

— Você está procurando algo. Eu posso ajudar. – Afirmou com total segurança.

Ele a encarou com dúvida, mais uma vez.

Bucky sabia que todo aquele abalo emocional envolvendo Steve, havia mexido quimicamente com todo o sistema em que o Soldado Invernal se encontrava anteriormente. Ele era um exímio espião, atirador de elite, um super soldado com força sobre humana com um braço biônico, mestre em artes marciais, acrobata altamente treinado, poliglota e um assassino letal... Seu comportamento atual não mostrava nem um terço de tudo o que ele realmente representava...

Se encontrava completamente desestabilizado, tanto como Soldado Invernal, quanto como James Buchanan Barnes.

— Eu sou a única que pode te ajudar agora. Acredite... - Ela olhou fixamente para a mão enluvada do braço de metal.

— Por quê...? O que faz de você uma pessoa especial nesse tipo de situação? – Contestou, receoso.

— Eu não sei o quê ou quem você procura, mas posso achar todas as pistas que irão te levar para onde quer... – Ela dizia tudo com muita confiança. Sua expressão era firme.

— E o que você é exatamente para me auxiliar nisso? – Indagou, subestimando-a.

— Bem... Digamos que eu sei tudo sobre política, sistemas e processos políticos, organizações governamentais, privadas e secretas... Depende de qual é a sua necessidade.

Mais uma vez, Bucky começava a perder a paciência. Aquela garota dizia tudo e ao mesmo tempo nada. Agia como se fosse uma agente secreta, só que com um Q.I inferior.

— Se você não é uma agente secreta ou uma detetive, então você é alguma comediante? Como posso confiar no que diz?

— Eu não sou uma agente e nem uma detetive... Mas estou prestes a me tornar uma cientista...! - Ela riu, simpaticamente simplória.

— Você... É uma cientista...? – Agora tudo parava de fazer ainda mais sentido.

Como uma pessoa como ela seria uma cientista?

— Quase. Me formo esse semestre. Agora vamos, porque eu estou morrendo de fome e quero encher minha barriga de panquecas da minha cafeteria favorita. – E mais uma vez, Darcy esboçou um sorriso, completamente sincero, do tipo que o incomodava em todos os sentidos.

— Eu não tenho provas reais de nada do que você disse. – Relutou, mais uma vez.

Agora era a garota que parecia perder a paciência.

Foi então que ela abriu a porta do carro, abriu o porta luvas e tirou uma carteira que se encontrava dentro da mochila que comprou na loja de departamento, há alguns dias.

Darcy retirou alguns documentos dali e deu para que Bucky analisasse.

— Confira por conta própria. – Os documentos basicamente se resumiam sua identidade, carteira de motorista, título de eleitor, carteira de estudante, passaporte, alguns cartões de crédito, tickets de desconto e carteira de plano de saúde.

Bucky apanhou todos aqueles documentos e os observou com cuidado. O nome dela estava gravado em alguns, assim como sua foto.

Mas o soldado ainda não estava totalmente convencido.

— Você sabe que qualquer agente secreto pode facilmente forjar tudo isso, certo? – Ele contrapôs, sério e implacável.

— Sim. Então olhe os realces e hologramas. Se quiser, posso arrumar uma lupa pra você analisar, já que é um espião, saberá dizer se é falso.

Se tinha uma coisa que ainda se recordava como espião, é que quando uma pessoa mentia, apresentava certas expressões e gestos imprecisos. Mas Darcy permaneceu firme e seus olhos não despregaram dos dele.

Também se recordou de quando se conheceram e de como a reação dela era de uma pessoa inocente, que não tinha ideia do que acontecia ao redor.

— Você está ciente de que na minha situação, é quase impossível confiar totalmente em alguém, seja ela quem for...? – Ele argumentou, tentando convencê-la de que não seria fácil tê-lo ao seu lado.

— Não tem problema. Confiança é algo que tem de ser desenvolvido. Não é do dia pra noite. Então, vamos? – Insistiu.

E por mais que ele não quisesse, ainda não tinha decidido o que fazer.

Tudo o que queria, era descobrir quem tinha sucedido Alexander Pierce.

Por precaução, ele jogou o capuz de seu casaco por cima de sua cabeça. Ainda se sentia vulnerável naquele lugar e naquele tempo...

Bucky trazia consigo muitas questões não resolvidas e o sentimento de vingança pulsava em sua mente.

— Você não pode se decidir enquanto vamos para Nova York? Daqui pra lá são dois palitos!

— O quê? - Ele perguntou absorto, não entendendo nada do que ela dizia, pela milionésima vez desde que se conheceram.

Esquece...— A garota desistiu.

Bucky estava um pouco cansado de não entender gírias e expressões idiomáticas de outro século... Se sentia muito mais fora do tempo do que podia supor.

O que aconteceria, se aceitasse ir para Nova York com ela?

Percebendo o quão indeciso ele estava, a garota pegou em sua mão, abruptamente e o arrastou para o outro lado da estrada, no ímpeto de lhe mostrar parte da paisagem que os levariam para Nova York.

Ele se deixou ser conduzido por ela...

— Dá uma olhada nessa paisagem! Dê uma chance pra esse mundo louco e venha comigo! – Darcy mostrava a visão majestosa de parte da cidade, coberta pelos incríveis raios de sol daquela manhã.

Eles só teriam de cruzar uma ponte... e então, estariam em Nova York...

— Melhore essa cara, Sargento Barnes! ânimo! ao infinito e além! – Darcy ergueu o braço e a cabeça para cima, fazendo a clássica pose de Buzz Lightyear, mas acabou tropeçando numa pedra, caindo no chão.

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Bucky ficou abismado...

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Talvez não fosse ele que precisasse de ajuda...

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— Ok, ok... Isso não foi voar... Foi cair com estilo...! – Ainda no chão, ela sorriu, matreira, fechando os olhos, rindo de si mesma...

Sua risada acalorada, enérgica e vivaz o irritava, lhe causando impressões estranhas.

Darcy era tudo o que achava que não existia... Aquela garota era única...

O soldado ignorou a pose ridícula da estudante, por vergonha alheia. As mulheres daquele século eram todas como ela? Que raios tinha acontecido com toda a feminilidade, delicadeza e sensualidade das mulheres do século 20? Será que isso era o que seus amigos do passado diziam sobre a virada do século? Aquilo era consequência do “Novo Milênio”? Que raios de milênio era aquele afinal?

Ele esperava estar errado sobre todas mulheres serem como ela...

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Enquanto Darcy arrumava as coisas dentro do carro, ele deu a volta e abriu a porta.

Ficou em silêncio, se perguntando por que ela não tinha medo dele.

Não que a mesma não tivesse mostrado medo ao longo de todos aqueles dias, mas por que insistia em erguer sua mão para ajudar um ex-assassino?

E também se contestava de o porquê ter a estranha sensação de ter visto Darcy há muito tempo...

Talvez fosse apenas impressão...?

Quando ambos colocaram o cinto, antes de virar a chave do carro, a garota o fitou, sorrindo.

Ele não se deu ao trabalho de perguntar o porquê.

Estava incomodado a respeito dela, mas não o suficiente para esquecer todo aquele inferno que transitava por sua cabeça.

— Posso te pedir para colocar o boné e o óculos que deixei no porta-luvas? Se tiver agentes da HYDRA em Nova York, precisa estar disfarçado o máximo que pode.

— Não é necessário que me lembre o óbvio. – Retorquiu, incivil. Por mais que a estudante estivesse lhe fazendo um favor gigantesco, não admitia que a mesma lhe lembrasse de métodos que formavam seu caráter como espião.

— Ok ok... me desculpe...! – Aquilo não lhe irritou. Pelo contrário. Já estava um tanto habituada em receber as patadas dele. Os motivos estavam muito claros, do porquê aquele soldado tinha uma personalidade tão aterrorizante.

Depois de um tempo, Darcy esticou os braços, no ímpeto de se alongar.

Ela virou a chave e deu partida no carro, e então...

Eles partiram...

Teria que levar o carro de Terry no mecânico e gastar uma nota na lataria, já que estavam marcadas com alguns tiros que levaram quando escaparam dos misteriosos homens em Washington.

Mas por ora, estava mais preocupada com o fato de um veterano de guerra da década de 40 ser o seu novo hóspede.

“Vou precisar de um manual que me ajude a lidar com um homem fora do tempo...!” – A estudante pensava, animada.

No fim, talvez toda aquela loucura tenha valido muito a pena...

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A dupla seguiu viagem...

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Darcy ligou o rádio para ouvir a sua estação favorita, que tocava somente o gênero rock/pop, que variava de alternativo à progressivo. Seu gosto musical era um tanto peculiar.

No rádio, a música de Natalie Imbruglia começava...

Torn...

— Eu amo essa música! Será que posso aumentar o volume!? – O timbre dela era de felicidade. Se tinha algo que lhe empolgava era música.

— Você pode fazer o que quiser. Eu não estou em posição de dar palpites. – Replicou, sério e impaciente.

Teria de engolir a irritação que a estudante lhe gerava, quase que o tempo todo.

— Sério!? Não vai me ameaçar de morte de novo!? – Ironizava, rindo energeticamente.

Bucky apenas virou o rosto, focando seu olhar para o vidro da janela, observando a paisagem.

Teria de se acostumar com as maluquices dela... não tinha outra forma...

E então, a garota começou a cantar a música, que embora fosse animada, tinha uma letra triste e melancólica.

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I'm all out of faith,

This is how I feel,

I'm cold and I am shamed,

Lying naked on the floor,

Illusion never changed,

Into something real,

I'm wide awake and I can see,

The perfect sky is torn,

You're a little late,

I'm already toooorn…

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A estudante cantarolava, com um sorriso exuberante no rosto. Sua voz ressoava requintadamente melodiosa. Eufônica o suficiente para se assemelhar ao tom exato das notas que saiam do rádio, que tinha como harmonia um violão... demasiadamente aprazível de se ouvir.

A janela estava aberta... E entre o sopro primoroso do vento, o barulho da estrada entrava em grande consonância com aquela canção.

A brisa escorregava cada linha dos cabelos da garota... Suas madeixas castanhas esvoaçavam-se majestosamente...

Bucky atentava para Darcy, de relance... Aquela visão era um tanto excêntrica, mas interessante... Essa era a impressão enclausurada nos confins das sombras dos olhos dele...

A luz do sol viajava através do céu, entrando pelas janelas do carro...

Embora “Torn” fosse uma canção nostálgica dos anos 90, tinha feito parte da imensa trilha sonora da vida de Darcy, depois de levar um pé de seu ex-namorado, Robert Thompson...

Por que quando você termina um namoro, é preciso criar uma playlist de músicas tristes para chorar como louca enquanto se afunda na lama, pra vida ter mais sentido... Isso, segundo Darcy...

A estudante seguiu dirigindo tranquilamente, até que aos poucos o tempo foi mudando e pequenas gotas de chuva começaram a cair no vidro do carro.

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As chuvas de primavera eram as mais loucas...

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Chuva com sol...

Acontecia a típica maravilha da natureza chamada de casamento espanhol...

E então, eles chegaram na ponte George Washington para atravessar para o outro lado de Nova York...

Bucky conhecia aquele lugar como a palma da sua mão... Quando ainda vivia como James Buchanan Barnes...

Essa impressão ficou ainda mais evidente quando seus olhos mapearam o local por onde passavam.

Era nostálgico, mas ao mesmo tempo assustador... Tudo havia mudado, mas a familiaridade com o local continuava a mesma.

Um pouco curioso e retraído, ele resolveu questionar Darcy sobre o local exato para onde estavam indo.

— Para onde estamos indo...? – A voz dele estava mais calma.

— Manhattan... – Ela replicou, sorridente.

— Você mora lá...?

— Sim... – Disse tranquilamente e Bucky fez uma cara de espanto sem perceber.

— Na minha época... Manhattan era o bairro mais caro para se viver em Nova York. – Mesmo desmemoriado, muitas coisas vinham automaticamente em sua mente, sem nem mesmo entender o porquê.

— E ainda é... Os apartamentos lá, custam milhões.

— Então... Você é milionária...? – Perguntou na inocência e Darcy soltou uma gargalhada.

— Claro que não! Foi herança dos meus avós! Eu nunca teria dinheiro pra comprar um imóvel lá!... Sou classe média...! – A garota respondia às perguntas de uma forma bem animada.

A chuva caia intensamente, fazendo os para-brisas se deslocarem rapidamente, abrindo caminho no vidro encharcado.

Mas o sol continuava estalando do lado de fora, firme e forte.

— Por que está correndo nessa velocidade...? – Contestava, pois, a velocidade média era 70 km por hora.

— Porque eu preciso tomar o meu café da manhã, afinal, eu passei por uma grande aventura e meu apetite está monstruoso! Tenho que ir pra casa, tomar banho e depois correr para o trabalho... Minha chefe está uma onça!

Não era normal ter expediente num domingo, mas como faltou todos aqueles dias, precisava mostrar para Jane e Erik que estava séria sobre a última pesquisa em que o grupo inteiro se dedicava, até porque, os dois astrofísicos trabalhavam de domingo a domingo.

A tagarelice de Darcy era uma das características que Bucky não gostava. Ela dizia tudo numa frase só e emendava coisas e situações de uma forma em que não entendia.

As pessoas daquele século pareciam correr o tempo todo durante o dia, e as mulheres...? Bem, ele ainda não tinha observado nenhuma outra que não fosse Darcy, mas o pouco que notou é que a mesma parecia fazer mil coisas ao mesmo tempo, e isso acarretava em ações malucas, por não pensar direito.

Talvez era isso que faltasse nela... Pensar mais e agir menos...

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Quando finalmente chegaram em Manhattan, Darcy estacionou rapidamente numa vaga em frente a uma cafeteria com uma fachada chamativa.

As ruas não estavam tão movimentadas, pois era domingo.

Ela desligou o carro.

— Você vem ou prefere comer no carro?

Ele não soube o que dizer. Ainda estava um tanto incomodado com aquela situação. Uma mulher pagar a sua refeição, era algo extremamente indigno para um homem.

Um homem de seu século.

— Isso não é importante agora...

Darcy arqueou uma sobrancelha.

— Mas você está sem comer desde ontem... Aliás... Quando foi a última vez que se alimentou antes de nos conhecermos?

— Eu... Não sei...

A garota esbanjou um olhar compadecido. Não conseguia imaginar o que podia ter acontecido com ele antes... E muito menos o que teria acontecido depois, se não tivesse lhe ajudado a sair de Washington.

— Bem, então espere um momento aqui.

Ela abriu a porta do carro e saiu correndo, no meio da chuva.

O céu estava com algumas nuvens carregadas e o sol estalando ardentemente ao mesmo tempo.

Bucky não sabia se devia esperar ou sair dali imediatamente sem que ela soubesse.

Seria melhor seguir adiante sozinho e resolver tudo do seu jeito, em vez de aceitar a hospitalidade dela? Mas o mundo havia mudado drasticamente e sua mente instável era um perigo eminente...

Naquele momento, se encontrava no centro dos dois extremos entre James Buchanan Barnes e o Soldado Invernal...

Ambos eram ele, mas...

Não sabia como agir no meio dos dois...

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da porta do carro e uma Darcy desajeitada entrando com sacolas e caixas nas mãos...

Completamente encharcada...

O cabelo dela estava mais cacheado do que antes, por conta da chuva.

— Me desculpe a demora. Eu comprei minha comida favorita pra você também. Mas se não tiver fome, você pode comer mais tarde...

Darcy tirou o casaco molhado, ficando apenas com a blusa que estava por baixo.

Ele estranhava toda aquela reação animada e alegre. Porque ela demonstrava tanto entusiasmo quando estava com ele?

— Porque está fazendo tudo isso? Eu... Não te pedi nada...

Ela fez uma cara patética em resposta.

— Olha, eu estou fazendo isso porque quis. Pare de achar que sou uma garota retardada que não sabe de nada!

— E como você sabe que eu acho isso?

— É obvio... As pessoas sempre agem assim comigo.

— E você sempre reage dessa forma com elas...?

— Sim! Não vou deixar nada externo tirar a minha felicidade só porque as pessoas me julgam errado!

De certa forma, Bucky se sentia incomodado por agir daquele modo, mas ficava tranquilo por saber que a garota não parecia ser uma pessoa sensível que ficava triste por qualquer coisa.

— Eu deveria me desculpar, mas não vou... Lide com as consequências de suas decisões. – O soldado redarguia, num tom orgulhoso.

— Você está querendo dizer que se algo sair errado com você, a culpa é minha?

— Sim.

— Ok... pode deixar... Agora vamos para a minha casa! Eu tenho que trabalhar, mas você também tem muito trabalho pela frente!

— O que quer dizer com isso?

— Você precisa se atualizar! Saber de tudo o que perdeu nos últimos... Setenta anos... Céus...! – Até ela se horrorizava pelo tempo que o soldado havia perdido. Mas nada que não pudesse dar um jeito.

— E por onde devo começar? – Contestou-a, um tanto perdido.

— Você vai descobrir quando chegar na minha casa...!

Darcy sorriu e ele, como de costume, não entendeu. Não sabia o que lhe aguardava e por mais que quisesse descobrir tudo o que havia acontecido nos últimos setenta anos, estava receoso demais... não em deixar James Buchanan Barnes voltar depois de sete décadas, mas...

Que o Soldado Invernal atrapalhasse seus planos...


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Notas finais do capítulo

Nosso querido soldado desmemoriado é o novo hóspede de Darcy Lewis, por tempo indeterminado? O que essa decisão maluca resultará? Acompanhe os próximos para saber.
Vão até o Tumblr para mais detalhes desse capítulo. Lá tem coisas bem legais. Super recomendo! *merchan mode on =D https://wintershock.tumblr.com
Não esqueça de comentar. Ajude a autora a se manter inspirada e bem disposta a escrever.
Até semana que vem.



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