Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 76
Pensamentos e sentimentos em conflito




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Todas as pessoas mais importantes na guerra contra Thanos se reuniram em frente à casa de campo do Homem de Ferro.

O funeral de Tony Stark estava quase terminando...

Ele e Pepper moravam numa simples casa no norte de Nova York com a pequena Morgan, não muito longe da instalação dos Vingadores.

Todos estavam devastados com a morte do Homem de Ferro, assim como o de Natasha Romanoff.

Pepper, agora viúva do bilionário, ao lado de sua filha, Morgan Stark, prestaram sua última homenagem ao gênio das Indústrias Stark...

Mãe e filha colocavam um arranjo de flores com o antigo reator arc de Tony no lago, em frente à casa onde moravam...

O objeto começou a flutuar pelo lago...

E assim, todos os Vingadores e Guardiões da Galáxia se despediam do Homem de Ferro...

Uma cena triste que marcava um novo começo na vida de todos ali presentes...

.

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O enterro de Tony finalmente terminou...

Steve Rogers se preparava para mergulhar no caos e viajar no tempo.

O objetivo era colocar todas as joias do infinito em seus devidos lugares.

Bucky e Sam acompanhariam o Capitão, esperando que o mesmo terminasse de se aprontar.

Bruce Banner também deixava todos os equipamentos prontos para que Steve pudesse viajar no tempo.

A maioria deles se despedia ali, ao lado da casa de Tony e Pepper.

Carol Danvers e Nick Fury conversavam em particular, longe da maioria das pessoas que se encontravam ali.

T’Challa, Shuri e Okoye, se preparavam para retornar à Wakanda.

Stephen Strange e Wong abriram portais para o Sanctuns ao redor do mundo, finalmente voltando para seus postos, para averiguarem a situação do planeta após o blip.

Wanda e Clint seguiram para o outro lado do lago, no intuito de conversarem, antes que o Gavião Arqueiro partisse com sua família.

A família Pym, juntamente com Scott Lang, também se aprontava para voltar à São Francisco, costa oeste dos Estados Unidos.

E os Guardiões da Galáxia dariam uma carona para Thor, já que o deus do trovão precisaria voltar à Noruega, em Nova Asgard e ter uma conversa particular com Valkyria.

Porém, antes de todos partirem, Peter Quill resolveu se despedir devidamente de Darcy, que pedia gentilmente para ser uma nova guardiã da galáxia, em tom de brincadeira, obviamente.

A dupla trocava mais algumas figurinhas sobre músicas e ele prometia dar uma passada na terra, quando tivesse oportunidade.

A garota também conseguia finalmente vender seu taser, porque Rocket Raccoon chegava com uma pequena mala com 50 mil dólares.

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Como o guaxinim conseguiu o dinheiro? Ninguém sabe... era um completo mistério...

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Peter esperava que ele não tivesse matado alguém por aí e conseguido descolar a grana, já que Rocket era um perito caçador de recompensas.

Em meio a conversa dos dois, Bucky passava pelo local e atentava para o abraço caloroso que a cientista dava no senhor das estrelas, antes dos Guardiões partirem definitivamente.

O soldado resolveu passar reto, mas a feição indiferente podia ser notada por Sam, que sabia que o sargento estava completamente decepcionado após se reencontrar com Darcy.

Enquanto a dupla esperava por Steve, os mesmos observavam Bruce Banner, com o braço danificado, configurando algo no sistema, preparando tudo para a viagem que o Capitão América faria em alguns minutos.

No entanto, os três notaram que alguém se aproximava...

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Era Peter Quill...

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— Hey gente, desculpem atrapalhar, mas será que posso levar um papo com esse cara aqui...? – O senhor das estrelas apontava para Bucky Barnes.

O sargento estreitou o olhar...

“O cara do Missouri...” – Pensava...

— O que quer comigo...? – O tom de James era friamente impassível e obviamente, Peter notava.

— É uma conversa particular. Não vai levar nem cinco minutos.

O que o capitão dos Guardiões da Galáxia queria com ele?

— Aonde você quer ir? – O soldado redarguia, sem um pingo de emoção nas palavras e muito menos em seu olhar.

— Não precisa ser muito longe daqui.

Então, o soldado não respondeu absolutamente nada e logo começou a caminhar para longe dali, passando por ele...

Sam Wilson arqueava uma sobrancelha...

Esperava que Bucky Barnes não arrumasse briga com o cara que estava abraçando Darcy Lewis, porque o clima ali, ainda era de luto e o mínimo que todos podiam fazer, era deixar qualquer diferença de lado, respeitando a dor de Pepper e de todos que possuíam fortes laços com Tony Stark.

Peter seguiu o sargento, que mantinha as mãos no bolso enquanto caminhava para perto do lago...

Era possível visualizar Clint e Wanda do outro lado, conversando...

— Hey, cara, não precisamos ir tão longe. O que eu vou te dizer nem é nada tão sério assim...

— Diga o que você quer. – James declamou de forma apática.

— Olha... eu acabei de conhecer a Darcy e ela me falou sobre você...

O soldado finalmente resolveu encarar Peter e seus olhos mostravam certa perplexidade.

Darcy havia falado a respeito dele para o capitão dos Guardiões da Galáxia? Por quê?

— E por que ela falaria de mim pra você...? – Os olhos do sargento o mapearam, analisando o rapaz em sua frente com muita desconfiança.

Peter revirou os olhos quando percebeu que talvez o mesmo estivesse fazendo um julgamento precipitado.

— Não, não... não é o que você está pensando... ela estava procurando por mim, acabamos tendo uma longa conversa, percebemos muitas coisas em comum, trocamos algumas figurinhas e-

— Trocaram figurinhas...? – James o indagou, não entendendo aquela expressão.

— Não, eu quero dizer... ela me indicou algumas músicas e filmes que eu não conhecia. Estou longe da terra há quase quarenta anos... contando com os cinco anos em que eu tinha virado pó, então...

— E o que exatamente sua conversa com ela tem a ver comigo...? – Bucky rebateu, ríspido. Não entendia aonde ele queria chegar.

— Olha só, cara... Ela me contou sobre a história de vocês... é isso que quero dizer...

— E por que ela diria sobre a nossa história a um completo estranho que acabou de conhecer? – O soldado contrapôs, ficando ainda mais decepcionado com Darcy. Por que a cientista mencionaria sobre a relação que tiveram para um estranho?

Peter sacudiu a cabeça, sabendo que o sargento estava entendendo as coisas da forma errada.

— Por quê ela diria isso? Porque eu perdi a mulher que amava há cinco anos... e de repente ela apareceu do nada na minha frente nessa batalha e...-

— O quê...? – James não parecia entender absolutamente nada do que Peter dizia.

— Olha, isso não importa, o que eu quero dizer é: a Darcy me incentivou a ir atrás dela e é isso que farei, só que eu também a incentivei a ir atrás de você, mas acho que as coisas não deram muito certo, pelo que notei na expressão dela quando fui me despedir. – O senhor das estrelas olhava atentamente nos olhos do sargento, não quebrando o contato visual.

— E agora você está aqui me dizer que devo ir atrás dela?

— Exatamente, cara! É isso! Você tem que ir atrás dela! – Peter estalou os dedos e piscou, sorrindo. Tudo o que ele queria era que a garota que o incentivou a ir atrás de Gamora, também fosse feliz. Ela merecia...

James franziu o cenho. Não imaginava que justo o cara que estava lhe fazendo ter algumas crises de ciúmes internas pela cientista, estava ali agora, lhe incentivando a ir atrás dela.

— Nós conversamos e não conseguimos nos entender. Ela não quer me ver nunca mais... – O soldado sorriu singelamente, numa expressão de derrota.

— E você vai entregar os pontos!? Vai aceitar o que ela decidiu!? Cara, é muito nítido que ela te ama! Enquanto conversávamos, eu podia ver isso nos olhos dela e acho que a Darcy só está muito confusa e frustrada com tudo no geral... você não pode desistir tão fácil assim!

— Se você tivesse visto o que ela fez e o que me disse, talvez não diria isso.

— E daí!? – Peter revirou os olhos.

— Ela me deu três tapas na cara e ameaçou desfigurar o meu rosto com um canivete. – Bucky retorquia, tentando convencê-lo que a cientista estava se comportando como uma mulher amargurada e vingativa, que não daria brechas.

— Só isso!? A minha me deu dois chutes no saco e ameaçou cortar a minha garganta no meio se eu aproximasse de novo! Mas esse é o preço que tenho que pagar por ter me apaixonado pela assassina mais letal da galáxia. – O senhor das estrelas confessava, nada surpreendido por ter ouvido sobre as agressões de Darcy, já que estava habituado as ameaças de Gamora, desde que se conheceram...

Já James, alargou brevemente o olhar ao constatar que o capitão dos Guardiões da Galáxia achava aquele comportamento, algo normal...

No espaço era normal que as mulheres descessem o braço nos homens? Era um comportamento padrão? Se sim, a terra estava bem atrasada nesse aspecto...

— De qualquer forma, não acho certo me aproximar de novo... acho que ela prefere ficar sozinha e preciso respeitar isso... – O soldado admitia, num tom melancólico. Não tinha coragem de forçar Darcy a nada...

Se ela queria que ele ficasse longe, era isso faria...

— Não, cara! É aí que você tem que ir atrás mesmo, marcar cerrado em cima dela! Esse não é o papel das mulheres, entende? Nós é que somos os caçadores! – O senhor das estrelas tentava lhe aconselhar, de acordo com suas próprias convicções, mas o sargento riu diante de suas declarações...

— Você passou muitas décadas longe da terra, então deve estar por fora do que anda acontecendo por aqui... as mulheres de hoje em dia não são mais assim... elas não querem ser caçadas. Elas querem manter o controle de tudo, e algumas delas anseiam estar por cima dos homens, então, acho que esse seu discurso está um pouco velho demais pra se adequar a essa época. – James proferia tais palavras, já conformado com o século 21, que embora tivesse evoluído muito, possuía alguns pontos negativos. A revolução do sexo feminino, principalmente no ocidente, conquistou coisas maravilhosas, mas... alguns excessos vieram junto e muitas mulheres travestiam seus discursos de igualdade de gênero em...

Supremacia feminina...

Homens, corram para as colinas, porque elas desejam a extinção em massa do sexo masculino... mas claro que só as mais extremistas pensavam assim... o que era um grande alívio.

— E daí...? Vai entrar nesses modismos e deixar a sua garota ir embora...? – Peter o intimava, com os braços cruzados, defrontando-o severamente.

— As coisas não são tão simples como pensa...

— Claro que são! Vá atrás dela de novo! – Ele o incentivava e o sargento arqueava uma sobrancelha, ridicularizando o otimismo do senhor das estrelas.

— Eu vou pensar sobre isso...

— Pense com carinho, mas me diga uma coisa... o que vocês mais ouviam quando estavam juntos?

Peter fazia uma pergunta muito aleatória e o soldado achava aquilo um pouco estranho.

— Música, você diz...?

— Sim...

— Hard Rock e Heavy Metal… - Bucky replicava seriamente.

— Alguma banda ou artista em especial?

— Whitesnake...

— Uau... eu conheço! O vocalista fez parte do Deep Purple nos anos 70. Peguei alguma coisa deles... mas não me aprofundei porque fui abduzido em 85... só que o pouco que sei sobre eles é que as músicas são um tanto... eróticas... – O senhor das estrelas enfatizou a última palavra com certa ousadia.

— Nem todas... - James sorriu sugestivo e Peter não imaginava que um homem da década de 40 curtisse músicas daquele naipe...

O capitão dos Guardiões da Galáxia o observava atentamente, analisando-o... não entendia aquela passividade toda em relação à Darcy...

— Cara, você é uma pessoa muito passiva. Pare de aceitar tudo o que ela te impõe. Tome as rédeas da situação. Ela não vai dançar contigo enquanto você não ser ativo e não correr atrás...

James arqueou uma sobrancelha.

— Dançar comigo...? Isso é alguma referência do futuro que eu não sei?

— Não exatamente... mas... o que eu quero dizer é: Você dança, ela dança e está tudo certo. O pior é quando um cara como eu dança, e a mulher que eu gosto não dança, entende? Demorei um tempão pra tornar a minha garota uma dançarina, e quando tudo estava dando certo e estávamos felizes, do nada ela foi morta, cinco anos se passaram e agora me deparo com a versão dela do passado, mais sombria do que quando a conheci.

Os olhos de James os rodearam... perdidos... o sargento não compreendia uma palavra do que Peter dizia.

— Cara... eu não entendi nada...

— Bem, não precisa entender. A única coisa que você tem que entender é: A Darcy te ama, então vá atrás dela e tente reconquistá-la, mas saiba que uma mulher magoada, é osso duro de roer... não vai ser fácil, porém, não desista.

— Eu cheguei a pensar que estava rolando um clima entre vocês dois... – Bucky confessava, agora que sabia as reais intenções do senhor das estrelas.

— Era pra te deixar enciumado. – Ele piscou, sorrindo de forma matreira.

— É mesmo...? Então... não sei se tenho vontade de te socar por ter me enganado junto com ela pra me deixar com ciúmes ou se te agradeço por abrir o jogo comigo.

— Eu sei exatamente o que você está sentindo e só quero te ajudar, mas essa ajuda só valerá a pena se você não for embora e abandonar a coitadinha de novo, porque se você fizer isso e eu ficar sabendo, dou a volta com a Benatar por toda a galáxia e pouso na terra só pra te dar um soco na cara, entendeu!? – Peter se aproximou, ostentando uma pose agressiva, olhando fixamente nos olhos de James.

— Isso é uma ameaça...? – O sargento aproximou um passo, encarando-o com um aspecto combativo.

— Sim... – Peter o encarava intensamente e ambos olhares colidiam, saindo faíscas.

— Creio que não precisará voltar... – O sargento replicou seriamente.

— E eu espero voltar... mas pro casamento de vocês, então, o recado tá dado, Hanson de cabelo preto... – E então, o senhor das estrelas deu as costas pra Bucky, caminhando para fora dali...

O soldado não entendia a referência...

— Hanson...?

.

.

Jane, Erik e Darcy resolveram partir depois do enterro de Tony.

Os dois astrofísicos planejavam visitar as futuras instalações do novo laboratório de Hank Pym em São Francisco, na Califórnia em duas semanas.

O grupo manteve um bom entrosamento, já que todos eram especialistas em física quântica.

Já Darcy, desviou a rota e resolveu passar no interior da Virgínia Ocidental, para averiguar se seus pais estavam bem...

Depois do blip, era notório que tudo estava de pernas pro ar...

A cientista também sabia que seria impossível recuperar seu antigo emprego...

Então, tudo o que lhe restou, foi voltar para o único lugar onde tinha certeza que poderia recomeçar a sua vida...

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Nova York...

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Não só porque ela tinha um apartamento totalmente em seu nome na big apple, herança de seus avós, mas porque de fato, não restava mais nada na Califórnia para ela...

Por mais que amasse viver na costa oeste, a vida não parecia lhe querer ali, e então, a doutora optou por recomeçar na maior metrópole dos Estados Unidos...

A primeira escolha, foi se desvincular de tudo relacionado aos anos em que foi uma agente do Departamento de Estado Americano.

Pelo menos havia algo de bom no meio de toda aquela tragédia, que era esquecer seu maçante e enfadonho trabalho como agente do estado...

Onde procuraria emprego...?

Pelo menos ela tinha 50 mil dólares do taser vendido para o guaxinim.

Quando a garota chegou em seu antigo apartamento, no Upper West Side em Manhattan, a primeira coisa que resolveu fazer foi dar uma linda faxina no local, já que tudo estava demasiadamente empoeirado...

Nos anos em que morou em Los Angeles, a cientista optou por não alugar seu apartamento em Nova York, no entanto, depois de cinco longos anos, o local estava completamente sujo...

Levou três dias e meio para que terminasse de limpar.

Alguns móveis e eletrodomésticos tiveram de ser jogados no lixo.

Ela precisaria comprar muitas coisas novas para seu apartamento, então a primeira iniciativa que tomou, foi calcular quanto gastaria com tudo o que necessitava no momento.

Ali seria o ponto de partida.

Se manter com o dinheiro do taser vendido e procurar um novo emprego.

De preferência que não tivesse relações com o governo americano...

A cientista procurava por vagas de emprego em sites e também em classificados de jornais, afinal, o método tradicional ainda se mantinha de pé, mesmo na era tecnológica.

Os dias se arrastaram entre as folhas do calendário e lá estava ela, na sacada de seu apartamento, circulando com uma caneta, algumas vagas de emprego interessantes em sua área enquanto segurava uma xícara de café.

Ela observava o sol entrando pelas portas da sacada, iluminando e aquecendo sua pele...

A garota suspirou por um instante quando algumas memórias antigas lhe sobrevinham à mente...

Por mais que evitasse ceder à pressão de seu enganoso coração, era impossível ignorar as sensações nostálgicas que sentia quando olhava para seu apartamento e se recordava dos três meses que conviveu com James.

Suas frágeis negações estavam transpondo sua quebradiça fortaleza...

Darcy sabia que não tinha sido cem por cento sincera com o sargento naquele dia em que desferiu três tapas no rosto dele... mas optou por proteger seu coração, em vez de ceder e aterrissar em algo incerto com ele...

Não conseguia confiar... o soldado lhe deixou uma vez, então, quem poderia garantir que ele não faria de novo?

Preferia não se arriscar...

No entanto...

O que estava fazendo ali...?

Sozinha, perdida e sem saber se suas escolhas estavam lhe levando para um lugar seguro...?

A cientista optava por alternativas que não lhe machucassem, que fossem práticas, que lhe poupassem problemas e que evitassem uma série de acontecimentos ruins em sua rotina, mas... estava esgotada mentalmente por ter optado por tantas alternativas seguras, sem precisar se arriscar... exatamente quando fazia quando era mais jovem e sonhadora...

O resultado, era o quanto sua vida não estava na direção que sempre idealizou...

Darcy estava sozinha...

Havia sempre um assento vazio ao seu lado, aonde quer que fosse...

No avião, na mesa em que almoçava, ou no sofá de seu apartamento...

Não era de hoje que a doutora se sentia completamente só... ela também afastou todos aqueles que tentavam se aproximar... Isso incluía o próprio Nathan Lawrence, o eterno satã, que descobriu ser totalmente apaixonado por ela... o que era estranho e bizarro, pois a impressão que tinha do rapaz, era que ele a odiava como sua inimiga número um e não que o mesmo possuía sentimentos amorosos por ela.

De qualquer forma, todas aquelas jornadas lhe trouxeram para Nova York mais uma vez...

O tempo havia passado e continuava passando e a cientista não se sentia deslocada só por causa do estalo de 2018 e o blip em 2023... Antes mesmo de toda aquela tragédia com o universo começar, já percebia que estava arrastando sua vida por caminhos rotineiros que lhe faziam ter fortes crises existenciais...

Enquanto observava a movimentação pela sacada, Darcy notava a brisa fresca daquela manhã ensolarada de primavera confundir seus sentidos...

Depois de seu reencontro com Bucky Barnes, o abalo sísmico que ainda lhe fazia tremer, parecia não ter cessado por completo...

A doutora suspirou, impaciente...

O tempo estava passando e ela estava cansada de sentir a falta dele...

Passou anos administrando aquele maldito sentimento, mentindo pra si mesma que estava tudo bem e que sua história com o soldado havia terminado.

O que Darcy estava fazendo...? Conseguiria ignorar o fato de que o homem que ela ainda amava, estava solto por aí, prestes a recuperar sua vida e com a mente parcialmente curada? Os maiores empecilhos que os separaram um dia, não existiam mais...

Darcy Katherine Lewis estava repensando sobre o que James lhe dissera...?

Ela estava em conflito...

Se arrependeria se não voltasse atrás? Sentiria remorso todos os dias de sua vida por ter optado por desistir dele e não se arriscar?

O que as pessoas ao seu 1redor que a conheciam, pensariam a respeito? A encontrariam daqui a alguns anos, com uma lista de coisas que nunca conseguiu realizar? E um dos tópicos da lista, era ter viajado atrás do soldado e não se arrependido por toda a sua vida...? Outro tópico era não ter jogado fora as suas regras rígidas que seguia apenas para não sofrer, e se arriscado de novo, apenas para ter certeza que não quebraria a cara mais uma vez?

Será que James Buchanan Barnes a esperaria pra sempre...?

Como lidaria com a carga negativa que acumulou durante todos aqueles anos em que esteve sozinha...? Se cedesse aos pedidos egoístas de seu conturbado coração, sabia exatamente o que aconteceria...? Estava certa ou incerta...?

Darcy estava certa sobre algo... quando convencia a si mesma, ela se juntava à estrada e o mundo se movia consigo... porém, quando se sentia perdida, escorregava silenciosamente, e quietamente arrumava suas coisas, partindo...

Esse era o real propósito...? Qual seria a esperança de voltar para casa? Qual seria a vantagem de voltar a ser a velha e inconsequente Darcy Lewis...?

Não era como se tivesse deixado de ser quem era, porém, todo o sofrimento que passou no decorrer dos meses e anos em que tentou superar o sargento, lhe fizeram se isolar em um mundo sombrio e caótico... e ela desejava se libertar, mas tinha tanto medo...

Era tão estranho...

Toda aquela jornada maluca fez com que desse de cara com Bucky Barnes... e a vida acabou lhe trazendo de volta para ele...

Todas as palavras reprimidas que não disse ao soldado, lhe sufocavam agora...

Devia ter dito o quanto a presença dele importava? O quanto o sorriso dele a livrava das trevas de sua mente ressentida?

Devia ter dito que mesmo tendo a deixado, os vestígios dele permaneceram ali...?

Seus lindos resquícios em tons de azul...?

Enquanto Darcy pensava sobre todos os sentimentos complicados que nutria por James, fios úmidos e acalorados escorriam por sua face naquele instante...

As palavras que tentava calar, gotejavam por seus olhos, como numa imensa folha em branco... uma folha que deveria contar a história dos dois...

Mas aquela folha estava rabiscada, amassada, com partes rasgadas e queimadas...

O silêncio lhe fazia lembrar da respiração dele... costurando memórias em sua pele... mas... em alguns segundos, encontrava a voz de James naquele mesmo silêncio...

Quando fechava os olhos, se deparava com o olhar resplandecentemente azul do sargento, na escuridão de seus pensamentos...

O toque dele ainda estava espalhado por cada canto de seu corpo...

Céus... ele era a confusão mais linda que seus olhos insistiam em eternizar em sua retina...

A doutora sentiu sua respiração engatar, fungando, enquanto tentava conter as lágrimas que insistiam em desabar por suas pálpebras...

Era impossível esquecer o último reencontro dos dois...

James a leu com suas mãos... e a tocou com o olhar...

O soldado deixou em seus lábios, o gosto de sua serenidade e equilíbrio... indícios da nova pessoa que se tornou quando sua mente parecia estar quase curada...

Ele reviveu as lembranças mais lindas que ela guardava em seu peito...

Há nove anos, Darcy percebeu que estava apaixonada por James quando ele lhe mostrou suas cicatrizes... mas o amor só brotou no dia em que os lábios dele estavam curando as suas...

E em meio as recordações do passado, a doutora se permitia chover... porque algumas tempestades aconteciam para limpar... purificar...

Então, ela não mais sufocaria suas dores...

Transbordaria...

Porque a cura só acontecia, quando você se permitia recomeçar...

.

.

Vinte dias se passaram desde que Jane, Erik e Darcy deixaram a destruída instalação dos Vingadores no norte de Nova York.

A cientista finalmente havia arrumado um emprego...

.

Como colunista num tabloide de política num jornal local de Nova York...

.

Era algo bem decadente... e a doutora Darcy Lewis se praguejava por ter esnobado tanto a profissão de jornalista, porque no final, era só aquilo que restava para ela... ou a vaga de vendedora de perfumes da Givenchy que ficava na Quinta Avenida... ou a vaga de caixa no McDonald's no mesmo quarteirão de seu prédio...

Pelo menos o salário era razoável... céus, ela tinha tanto nojo da profissão de jornalista nos tempos atuais, e sendo ela uma cientista política que avaliava os dois lados de forma fria e imparcial, achava que todo jornalista deveria prezar apenas pelos fatos, pela transmissão das informações reais e não escrever matérias com títulos tendenciosos, levando os leitores a uma falsa perspectiva...

Era bizarro ver o quanto as redações de jornais se encontravam infestadas de militantes, tanto de esquerda quanto de direita, que deixavam seu ativismo político se sobressair em meio aos fatos. Era nojento e desprezível, porque todo jornalismo deveria ser neutro por regra...

Mas o mundo estava polarizado... e ela nem deveria se importar porque aquela situação era temporária...

Arrumaria algo melhor com o tempo... tinha certeza...

Ou não...

E não era por falta de capacidade, mas porque estava muito indecisa sobre o que pensava nos últimos dias...

Darcy estava num emprego que não lhe prenderia e que não comprometia sua carreira, caso quisesse pedir demissão e sair correndo no mesmo dia.

Ceder ou não ao que seu confuso coração lhe pedia...?

Ela tentava se desvencilhar de tais pensamentos, já que estava em horário de expediente.

Tinha acabado de voltar de seu horário de almoço, depois de ficar todo aquele tempo olhando para o nada através do vidro da cafeteria em que fazia sua refeição, pensando na sua medíocre e miserável vida...

Alguns minutos depois, em meio à sua nova mesa na redação do jornal ‘The New York News’, já sabendo exatamente o que tinha de escrever, Darcy se deparava com o barulho de seus colegas de trabalho ao redor da TV de led no meio do salão.

A cientista inclinou a cabeça para ter algum vislumbre do que fazia seus colegas de trabalho saírem tão disparados até a TV...

Era a cobertura de um ataque terrorista por parte de grupos extremistas...

Então, Darcy resolveu se levantar e acompanhar o noticiário ao lado dos colegas...

Ao ouvir a reportagem da BBC, as imagens que as câmeras faziam ao vivo e do alto de um helicóptero, mostravam dois homens em combate contra vários membros do tal grupo extremista...

Quando Darcy focalizou ainda mais a visão, percebeu que conhecia os dois homens que estavam ali, lutando contra o grupo...

.

.

Falcão e o Soldado Invernal...

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— O quê...? – Sussurrou pra si mesma, não acreditando.

Mal havia acabado a guerra contra Thanos e a humanidade já queria se matar de novo?

O Falcão tentava conter os ataques por cima, com seu traje especial, e Bucky se mantinha no solo, abatendo vários homens com um armamento pesado.

Ao prestar atenção em todos os detalhes, Darcy percebia que James estava com o aspecto totalmente diferente de quando o viu pela última vez...

Seu traje lembrava as roupas que costumava usar quando fazia parte do Comando Selvagem ao lado do Capitão América, nos anos 40.

Ele usava uma máscara de proteção e empunhava duas armas em cada mão, além do braço de vibranium totalmente à mostra e...

.

O cabelo curto...

.

Finalmente, James Buchanan Barnes havia se revelado para o mundo depois de quase oitenta anos...

A cientista se espantava por conta daquelas imagens...

Então Bucky Barnes não mais se esconderia do mundo? Seria ele mesmo depois de todos aqueles anos, fugindo da HYDRA, dos governos de vários países, diversas organizações e instituições de inteligência?

— Onde está acontecendo isso!? – Darcy contestava seus colegas, já imaginando se apenas os dois amigos de Steve Rogers dariam conta de um ataque de grandes proporções como aquele.

— Luisiana, Nova Orleans. – Uma de suas colegas respondia à pergunta.

— Por quê lá...?

— Não temos ideia. Tudo o que a imprensa soube e reportou é que o governo enviou esses dois caras para lá. – Outro colega de trabalho respondia, deixando a cientista mais confusa ainda.

— O secretário de estado você diz?

— Provavelmente.

— Mas quem é o secretário de estado desse mandato? – Darcy ainda estava desatualizada sobre a maior parte das coisas importantes do mundo.

— Ainda é o General Ross...

Ao ouvir aquele nome, a cientista arqueou uma sobrancelha.

Foi por causa daquele cara que Steve Rogers e metade dos Vingadores se tornaram foragidos...

O tal ‘tratado de Sokovia’ foi o causador da grande discórdia entre os Vingadores...

A doutora virou de costas para a TV e os colegas, suspirando, preocupada...

Céus, o que devia fazer...? Depois de todos aqueles dias, imersa em pensamentos, indecisões e sentimentos conflituosos envolvendo o sargento, agora lá estava ele, numa missão extremamente perigosa e suicida...

E se algo acontecesse? E se não tivesse tempo de dizer a ele o que queria dizer...?

.

E se... e se... e se...?

.

Sua vida estava se resumindo apenas no ‘e se...’?

A cientista não conseguia mais se conter...

Estava prestes a fazer a maior burrada de sua vida desde o Blip, mas não tinha alternativa...

Preferia as consequências de suas escolhas naquele momento, do que viver arrependida e se amaldiçoando todos os dias por ter resistido ao que de fato desejava...

Darcy correu para a sua mesa, pegou sua bolsa, casaco e alguns papeis.

Naquele exato momento, seu supervisor se aproximava, atentando para a cena onde a mesma parecia estar prestes a sair da redação.

— Lewis, aonde você está indo...?

A cientista fitou o rapaz em sua frente, com um semblante sério e decidido.

.

.

— Estou indo para Nova Orleans...

.

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