Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 53
Declarações e confissões em um perfeito anoitecer


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tá pesado hein? Preparam-se :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771169/chapter/53

Dois dias se passaram e Bucky e Darcy finalmente viajavam juntos.

Ambos pegaram a estrada logo cedo, pois levava em torno de oito horas até chegar na Virginia Ocidental.

Eles não mencionaram sequer uma frase sobre o que tinha acontecido entre ambos dias atrás...

O quase beijo no rio Hudson, a dança na sala do apartamento e todas as coisas estranhas de antes e depois foram deixadas de lado, porque a dupla focava apenas na viagem.

Darcy dirigiu por horas até chegar em sua cidadezinha...

Willowdale...

A garota respirava o ar puro rural do interior dos Estados Unidos, com seus óculos de hippie, que vez outra retirava do rosto para ter um melhor vislumbre da paisagem...

E tudo isso ao som de suas músicas antigas, enquanto dirigia...

O soldado estava um tanto admirado ao presenciar um local calmo, rural, com uma atmosfera limpa e fresca, totalmente diferente do ambiente urbano, barulhento e pesado de Nova York.

Ao chegarem na casa dos pais da garota, o sargento atentou para o recinto.

Era uma casa isolada, sem vizinhos, no meio de uma paisagem onde a natureza predominava, repleta de árvores e um campo gigante a frente.

A casa mais próxima dali, ficava há uma milha.

Quando Darcy terminou de estacionar, ela resolveu o alertar, repentinamente.

— Preciso te advertir sobre algo...

— Sobre o quê?

— Tem um andarilho por essa região que vive passeando por aí e rodeando a casa. Se você o avistar, por favor, não fique com medo e nem o maltrate.

James arqueou uma sobrancelha. Que tipo de pessoa Darcy estava falando?

— Certo... – O soldado assentiu, saindo do carro junto com a estagiária.

Os dois pegavam as malas do porta-malas.

Bucky havia levado uma mala especial com suas melhores armas. Teria de sair dali equipado, caso encontrasse obstáculos no meio do caminho.

Então, eles cruzaram o portão, e quando chegaram na varanda da casa, o tal andarilho que Darcy mencionou, se encontrava bem ali...

O sargento se espantou ao perceber que o andarilho na verdade...

.

Era um gato...

Que entrou no meio de suas pernas no mesmo instante e começou a miar...

.

— Hey, seu safado, onde você estava dessa vez...? – Darcy colocou as malas em frente a porta da entrada e automaticamente pegou o gatinho branco em suas mãos.

James arqueou uma sobrancelha...

Ela tinha um gato...? Por que nunca lhe contou antes sobre ele?

— Dexter... quando você vai voltar de vez pra casa? – A estudante dava uma bronca no bichinho, olhando fundo nos olhos dele, atentamente.

Ele miava para a estudante, numa espécie de cumprimento, já que os dois não se viam a um tempo.

— Nunca me disse que tinha um gato. – Bucky estava surpreso, já que a garota nunca o mencionou antes.

— Ele é dos meus pais... mas vive fugindo e anda como um andarilho por aí. Não estranhe se ele aparecer do nada, como se ainda morasse aqui, mas sumir por dias.

— Ele é o andarilho? – O sargento sorria. Era algo inesperado ter um bichinho daqueles por ali.

— Sim... – Darcy sorriu, fazendo carinho na cabeça do gato.

.

Um tempo depois, os dois se acomodavam na casa.

Darcy deixou as malas em seu antigo quarto, enquanto Bucky colocava as suas no quarto de hóspedes.

O soldado observou muito bem a casa dos pais da garota, que era ampla e muito bonita.

Havia vários retratos de Darcy quando era pequena espalhados pela sala.

Ela era filha única...

De certa forma, era confortável estar num ambiente familiar... e impossível não se recordar de sua família quando jovem, na década de 40.

Seus pais e irmãos...

James não tinha ideia do que havia acontecido com eles... não conseguiu procurar por nada relacionado a sua família quando esteve em Nova York. Não teve coragem...

— Hey, Bucky? – Darcy o tirava de seus devaneios.

— Sim?

— Eu preciso passar no campus pra pegar algumas coisas referentes a apresentação. Será que você pode me esperar aqui?

— Mas e seus pais? Eles realmente não voltam hoje?

— Falei com os dois pela manhã. Eles voltam na semana que vem. Ainda estão em Oslo, então não precisa se preocupar porque ninguém virá aqui... você viu, não temos vizinhos também. – Ela sorriu gentilmente e o soldado apenas se perdia na curva de seus lábios alegres.

Não era fácil esquecer que ele quase beijou aqueles lábios... e por duas vezes não conseguiu...

Se sentia triste por carregar tamanha frustração...

— Certo, então acho que só terei a companhia do Dexter... – O soldado sorriu singelamente e a garota notava certa desolação decorrendo em seus olhos azuis.

Talvez não fosse uma boa ideia deixa-lo sozinho.

— Então você quer vir comigo? Posso te mostrar o campus... – A estudante sabia que algo estava errado com James. Nos últimos dois dias o sargento parecia mais melancólico do que de costume.

Os olhos dele a rodearam, com certo brilho, e ali era nítido que o mesmo aprovava a ideia.

— Acho que desacostumei de ficar sozinho. – Afirmou, num tom mais divertido.

— Então vamos nessa, soldado. – Ela pegou as chaves do carro e ambos saíram.

.

.

Quando a estudante disse que o campus era grande, ela estava certa. Bucky tentava medir a largura do local com os olhos, mas não conseguia. Cobria toda a linha do horizonte.

A universidade de Culver era muito conhecida, ainda que ficasse numa cidade um tanto isolada.

Foi ali que Darcy conheceu Jane e ambas começaram a trabalhar juntas.

Foi ali que também Bruce Banner permaneceu um tempo, envolvido em vários projetos.

A dupla estacionou o carro e percorreu um longo caminho a pé.

Era final de tarde e em breve anoiteceria.

Mesmo sendo verão, o clima do interior dos Estados Unidos era um tanto fresco, fazendo exatos 16 graus naquele momento.

— Esse lugar é muito bonito...

— Sim, a universidade é um dos cartões postais da cidade.

— Mas me refiro a cidade como um todo. Não dá pra acreditar que você trocou a calmaria daqui por um lugar barulhento e populoso como Nova York. – O soldado caminhava com as mãos nos bolsos de seu casaco, olhando tudo ao redor.

— Hey, eu sou uma garota urbana, ok? Nunca me contentei em morar aqui! – Darcy, que se encontrava com os cabelos soltos e seus típicos trajes de sempre, corria para frente do soldado, andando de costas para frente.

E de frente para ele...

— Você por acaso trouxe o taser?

— Céus, não... eu deixei no carro...! – O semblante inocente e confuso dela era encantador...

Bucky percebia duas garotas andando na direção dos dois.

Darcy fechou a cara imediatamente e ele não entendia o porquê.

As garotas que se aproximavam, eram estudantes do campus, e coincidentemente também eram loiras.

Darcy tinha problemas com loiras ou era só impressão dele...?

— Oi Darcy, tudo bem!? – Uma delas cumprimentava, enquanto a outra encarava intensamente o rosto de James.

— Oi... "garotas populares que nunca falam comigo, mas não podem ver um homem bonito." - Ela sorriu de modo irritante, ocultando seus pensamentos sobre elas... no entanto, Bucky conseguia perceber nas entrelinhas que a estudante provavelmente tinha alguma implicância com as duas.

— Não vai nos apresentar seu amigo? – A loira da esquerda sorriu e a da direita ainda continuava encarando o soldado, esperando que ele a olhasse de volta.

— Aah, é... Esse é o James... Meu primo. – Darcy usou a desculpa do ‘primo’ novamente, já que ambos estavam sempre dividindo uma moradia e soaria estranho se fossem só ‘amigos’.

— Oi, eu sou Harper, prazer em conhece-lo. – A loira da esquerda acenava educadamente.

— E eu sou Claire... – A loira da direita que parecia bastante interessada nele, caminhou alguns passos na direção do sargento, estendendo a mão.

— Muito prazer. – O soldado cumprimentava, apertando a mão da garota, de modo gentil e um tanto cavalheiro.

A loira estava com os olhos fixos nele, reparando o quão esbelto era... Ainda que Bucky sempre se escondesse atrás de seu típico boné de baseball.

Darcy revirou os olhos e Claire estava um tanto lisonjeada.

— Sua educação é bem mais refinada que a dos rapazes que conheço... Você não é daqui... É...? – A loira percebia que o olhar e os gestos de James pareciam um tanto distintos.

A garota na frente de Darcy estava seduzida pelo olhar discreto e singelo do sargento. Ainda que ele não estivesse olhando diretamente para ela, era um tanto extasiante encarar aquele belo par de olhos azuis... misteriosos e cobertos pela sombra do boné escuro...

— Não, ele é da Romênia e não vai ficar muito tempo aqui! - Darcy sorriu de modo maquiavélico. Não estava gostando nada de tantas mulheres olharem e tocarem o soldado daquela forma.

Era melhor ele ter ficado com Dexter, isolado de tudo e todos, apenas pra que não precisasse ver aquelas garotas assanhadas lançarem seus olhares cobiçosos para ele.

— Nós vamos dar uma festa na semana que vem no Sunset Club pra comemorar a formatura. Vocês podiam aparecer por lá...

— Veremos a possibilidade. – A estagiária respondeu de imediato, com um nó na garganta.

— Esperamos vocês lá então! – Harper, a loira da esquerda sorria simpaticamente, puxando a amiga dali, que não conseguia despregar os olhos do soldado.

— Ok... Vejo vocês lá então... Tchau, James... - Claire sorriu, acenando exclusivamente para Bucky e ignorando Darcy completamente.

A garota sentia aversão daquela cena...

Não conseguia esconder os seus ciúmes e sua reação foi...

Andar apressadamente, deixando um soldado para trás, totalmente confuso.

— Por que está correndo? – Ele a alcançou rapidamente, indagando-a sobre sua estranha reação.

— Não estou correndo. – Replicou, ríspida, sequer olhando para ele.

— Você está irritada? – A pergunta inocente do sargento fez com que Darcy lhe lançasse um olhar mortífero.

— Não! – A garota respondeu apática. Suas sobrancelhas estavam franzidas, formando uma carranca funesta.

— O que eu fiz...? – A essa altura, James não sabia o que dizer. Não era a primeira vez que Darcy agia daquela forma com ele.

A estudante reagiu da mesma forma quando esbarraram com Clarice nas escadas do prédio, dias atrás.

— Você não fez nada... – Rebateu, exasperada.

Bucky franziu o cenho, desconfiado...

.

— Você está com ciúmes...?

.

A garota travou no mesmo instante e quase tropeçou em suas próprias pernas...

— O quê!? Não é ciúmes, é pura inveja!!! – A estagiária fez questão de enfatizar muito bem aquelas palavras.

Preferia que James acreditasse que ela estava com inveja por ser uma pessoa tão chamativa do que ciumenta... ele jamais podia descobrir que era ciúmes...

— Sua reação parecia de ciúmes, mas se é inveja, então tudo bem, mas saiba que esse tipo de sentimento é tão tóxico quanto ciúmes.

— Eu não tô nem aí... – Darcy bufou, indignada.

— Devia deixar outros sentimentos florescerem, Lewis...

— Que tipo de sentimentos...? – Questionou-o, ainda muito emburrada.

.

— Apaixone-se, donzela...

.

Dessa vez, Darcy de fato, quase caiu no chão...

A estagiária fez uma careta, exageradamente grotesca... e Bucky notava o quão desconsertada ela estava, já que a mesma quase levou mais um tombo clássico...

Mais uma vez, o sargento lhe desnorteava com suas afirmações descabidas e que faziam seu frustrado coração tremer...

Porém, ainda muito zangada...

Ela parou abruptamente na frente do soldado e se virou, com uma carranca muito visível na face.

— Nem pense que eu vou na festa dessas patricinhas alcoolizadas marias-fumaça que vivem tendo overdose de egocentrismo a cada hora e não podem ver um homem bonito que já querem marcar em cima!!!

— E por que acha que eu iria num lugar assim? Isso não faz meu estilo... além do mais, estou sendo procurado. Não posso ficar me expondo por aí.

— Assim espero, porque as garotas daqui são bem atiradas e você... bem, você é bonitão, então ignore-as, por que se demonstrar o mínimo de interesse, elas vão se atirar em você no mesmo instante.

— Eu não dou demonstrações de interesse para ninguém, Lewis... – Bucky estava bastante incomodado por ouvir aquilo. A única pessoa a quem demonstrava interesse, estava alheia a todas as suas investidas...

No caso, ela...

— Você tem que ver... depois que essas garotas bebem, elas puxam os caras pra um canto só pra fazerem um boqu-

— Como sabe de tudo isso...? – Ele a interrompeu, sabendo o termo baixo que a garota soltaria e um tanto cismado em como ela sabia sobre detalhes daquele tipo de festa.

— Já frequentei essas festinhas idiotas uma época. Foi nessa que conheci meu primeiro namorado... céus, se pudesse voltar no tempo, eu jamais teria feito as loucuras que fiz... – Darcy massageava as têmporas quando se recordava de seu passado tenebroso nos primeiros semestres da faculdade.

— Será que realmente não faria...? – Contestou, desconfiado.

De certa forma, Bucky sentia ciúmes do passado da estudante, porque não tinha muitos detalhes sobre ele.

A garota o ignorou e respondeu o que achava pertinente no momento.

— Pode ser que encontremos mais algumas pessoas no caminho, então por você ter os olhos azuis, vão acreditar que você é meu primo.

— Eu já sei de tudo isso... – Redarguiu, impaciente.

— Se alguém se aproximar e perguntar coisas a você sobre mim, dê respostas vagas e discretas, não negue tantas coisas e diga só o essencial. Não puxe conversa porque o pessoal aqui é super tagarela.

James suspirou, aborrecido.

— Lewis, eu sou o espião aqui, esqueceu? Pare de dizer coisas óbvias.

— Ah, claro, senhor espião expert, me desculpe por relembrá-lo o que você naturalmente já faz... eu sou uma idiota mesmo... – E então, Darcy voltou a andar na frente, ignorando-o totalmente.

O soldado notava o quão a estagiária se encontrava irritada naquele momento.

— Me ouça... em vez de ficar aborrecida por nada, vamos esquecer isso, então... tenho um convite pra te fazer... – James denotava, num tom misterioso.

— Que convite...? – Ela replicava, ainda muito exasperada.

James parou no meio do caminho, deixando-a se afastar lentamente, até finalmente revelar o que pretendia...

Quando a garota olhou para trás, Bucky a encarou, com um sorriso firme nos lábios.

.

— Eu quero te levar pra dançar...

.

Ao término da frase, Darcy mais uma vez esboçou uma careta, mas dessa vez, era de surpresa.

— O quê!? – Demandou, um tanto desacreditada.

Ela observava o soldado se aproximar novamente em sua direção, com aquela pose imponente, que lhe causava arrepios descomedidos...

— Quero te levar num encontro. – Ele completava, enquanto fitava fixamente os olhos azulados da garota...

Darcy estreitou o olhar...

Por que ele ia querer leva-la pra dançar?

— Aham... a piada do ano... Darcy Lewis, a quatro olhos do curso de Ciência Política sendo levada num encontro por um herói da segunda guerra mundial. Foi tão forte que não vou nem rir. É indigno demais pra mim. – A feição dela era de pura suspeita.

Ele com certeza estava curtindo com a sua cara, apenas porque achava que ela estava com inveja das loiras do campus. Imaginava que talvez a mesma quisesse que algum homem se aproximasse e lhe convidasse pra sair.

Ou talvez porque quisesse mostrar a ela o quão bom dançarino era, já que não se lembrava direito da noite em que dançaram juntos.

Ela parecia tão desesperada assim...?

— Por que não aceita de uma vez? – Bucky insistiu, não entendendo aquela reação tão piadista da garota.

— Aah, por favor! Você só quer esfregar na minha cara que sabe dançar!

— Por que uma garota moderna como você não iria gostar de ter uma noite divertida dançando com um rapaz da década de 40? - Ele sorriu sedutoramente e ousou piscar, exatamente como fazia com as meninas de sua época.

Mas ao contrário do que esperava...

.

Darcy fez cara de nojo...

.

— Não. Quem sabe numa próxima vida. – A estagiária virou o rosto, deixando de mirá-lo.

— Não tem que ser assim, boneca...

— Você não precisa me chamar dessa forma. – Replicou, ríspida e um tanto irritada.

— Talvez eu queira te chamar assim.

— Talvez eu ache que você está forçando.

— Talvez eu não esteja.

— Prove... – Darcy cruzou os braços, defrontando-o, totalmente apática.

— Bem, eu só chamo mulheres bonitas dessa forma...

— Ah, é mesmo!? Chamava a Natasha Romanoff assim!? E a minha avó!? Ah, e a tal da Connie!? Ah, e quem mais!? A sua lista de mulheres traçadas deve ser gigante, não é mesmo!? – A garota começou a rebater tudo o que James tentava lhe dizer, num tom acusatório...

Em suma, ela estava lhe chamando implicitamente de mulherengo...

Ou não tão implicitamente assim...

— Lewis, até agora não estou entendendo aonde quer chegar com essas respostas. Nós estávamos bem, até essas garotas do seu campus se aproximarem...

— Isso não tem nada a ver com elas! Tem a ver com a sua época!

— Como assim!?

— Na década de 40, quando você queria dar uns 'pegas' ou dar uns 'amassos', vocês homens, vinham com a desculpa de levar pra dançar e chamar de ‘boneca’? Bem inovador, ou melhor, que coisa mais antiquada!

— Não... não é como você está pensando.

— Já ouvi desculpas melhores, sargento... – E então, a garota virou de costas novamente para ele... no entanto...

Darcy parou no meio caminho, sentindo uma pressão aguda no ombro que havia sido deslocado há mais de um mês, quando a mesma foi raptada por agentes da HYDRA.

Automaticamente a estudante colocou a mão no ombro, sentindo um pouco de dor.

O sargento se aproximou dela rapidamente.

— Você está bem...?

— Sim, mas... eu comecei a sentir uma fisgada no ombro... e... ai...! Por que isso está acontecendo!? – A garota exclamou de dor, ainda segurando o ombro.

James percebia que o tempo estava mais gélido por causa do anoitecer. A brisa gélida se encontrava mais forte do que o normal.

— É o frio. A contusão no osso de seu ombro ainda não está totalmente recuperada. – O soldado se aproximou ainda mais e tocou o ombro feminino com a mão humana.

Darcy vestia uma regata, expondo sua pele. Ela precisaria se cobrir, já que o tempo estava gelado.

Os dois permaneceram parados em frente a uma enorme árvore.

Não havia ninguém por perto...

O campus estava totalmente vazio e o céu mesclava-se em duas nuances, em tons azulados e alaranjados, combinados perfeitamente num espectro de cores magistral que somente a natureza tinha capacidade de desenhar...

A junção primorosa do dia com a noite... onde a noite predominava... domando os céus e reinando relativamente...

A brisa oscilava... as folhas das árvores agitavam-se com a aragem fria, e Bucky continuava ali, analisando o ombro feminino, tateando-o suavemente...

A delicadeza como ele a tocava, fazia com que a garota estremecesse...

Automaticamente o coração da estagiária começou a disparar e um calor potente se espalhou por seu peito...

Céus, era sempre a mesma coisa... Toda vez que o soldado se aproximava, ela se derretia diante dele... os sintomas daquela paixão se agravavam a cada dia...

O sargento a fitava, tentando desvendar o motivo pelo qual ela sempre desviava seu olhar dele... como se estivesse fugindo...

— O que há de errado, Lewis...? – Contestou-a, extremamente preocupado.

Darcy não podia dizer que sua expressão apenas externava parcialmente seus sentimentos por ele...

Teria de arrumar alguma desculpa...

— E-eu só, eu... é que... os meus problemas não são nada comparados aos seus. Não é nada de grave, então não se preocupe...

A garota suspirava, tentando acalmar seu coração, que batia freneticamente.

— Eu me preocupo. Me diga o que está acontecendo... – A voz do soldado fluiu delicada, gentil e terna... e aquilo não estava ajudando em nada...

A gentileza dele, apenas fazia com que Darcy se apaixonasse ainda mais...

— Eu só... estou um pouco sobrecarregada... não é nada demais...

— Por causa do seu TCC...? – James deduzia, a fitando com muita intensidade...

— Sim... qual seria o motivo...? Ahahaa.... – A estagiária ria melancolicamente, tentando disfarçar.

Bucky não conseguia desvendar Darcy... ele tentava, mas a garota lhe confundia...

Não sabia o que se passava em sua mente e aquilo lhe deixava deslocado...

Enquanto olhava impetuosamente dentro dos olhos dela, se perdendo no oceano azul de suas íris, instintivamente a mão humana do soldado deslizou pela nuca dela, aprofundando seus dedos nos cabelos ondulados da garota, perdendo-se no toque mágico de suas madeixas tão macias e perfumadas...

— Não precisa ficar nervosa... você estudou e treinou arduamente para esse dia, não é mesmo? Vai dar tudo certo, boneca... – E então, James sorriu de forma afetuosa, piscando lentamente...

Darcy congelou internamente e suas estranhas se contorceram só de ouvir aquele apelido carinhoso que ele lhe chamava, unido ao som de sua voz e a demonstração de preocupação. Ele estava sendo afetivo... ele estava sendo amável, mas... Por quê...?

— Eu não teria tanta certeza... a banca desse ano está metendo medo em todos... – Darcy confessou, receosa com o que teria de enfrentar no dia seguinte.

— Você é brilhante... tenho certeza que vai impressionar a todos. – Bucky retorquia convicto, levando a mão de metal ao rosto dela, num meigo e gracioso carinho, com o único intuito de acalmá-la.

A pele da garota se arrepiou ao toque sintético dos dedos frios de metal...

— Eu não sou tão brilhante assim... – Ela admitia, sorrindo docemente divertida.

James a fitava, encantado... e quando deu por si, já estava dizendo o que vinha em sua mente...

.

— Никогда не встречал девушку, которая улыбается так пессимистично... (Eu nunca conheci uma garota que sorri, sendo tão pessimista).

.

Ele sussurrou longas palavras tolas em russo...

E Darcy riu...

— Isso não é justo! Eu nunca vou entender o que você disse! – A estudante rebateu, emburrada por não compreender uma sílaba sequer do que o sargento dizia.

— Mas essa é a intenção... que você não entenda nada do que eu diga. – Ele alegava, ousadamente.

— Ok... mas saiba que se você falar em russo com outras mulheres americanas e com esse olhar sedutor, elas vão pular em cima de você.

— Por quê...?

.

.

— Por que isso soa incrivelmente sexy...

.

.

Agora era Bucky quem sentia um impetuoso frio na barriga...

Falar em russo soava sexy...?

Ela também achava que ele era sexy...?

O soldado suspirou, olhando momentaneamente para cima.

— Darcy Katherine Lewis, o que devo fazer com você...? – E então, mais uma vez, ele abaixou o olhar para fita-la...

Completamente apaixonado...

A estagiária sentia os efeitos exorbitantes de sua paixão pré-adolescente por James Buchanan Barnes lhe fazendo quase desfalecer...

Tais sensações sufocantes lhe impediam de pensar... de falar... de ouvir e até mesmo de andar, já que vivia tropeçando porque não tinha domínio de seu próprio coração em meio aos violentos desarranjos que seus sentimentos frenéticos causavam em seu corpo...

Porém...

De modo repentino, a garota sentiu outra pressão em seu ombro e automaticamente, deixou escapar um gemido de dor...

O soldado se voltou para ela e mais uma vez atentou para o ombro feminino.

— Ainda está sentindo desconforto?

— Sim... e isso dói de verdade... – Darcy tentava amenizar a situação sorrindo, mas Bucky não estava convencido.

Ele esboçou uma expressão triste, compelida e dolorosa... não conseguia aceitar que por sua culpa, a garota tivesse se machucado daquela forma.

No mesmo instante, o soldado retirou seu casaco e colocou sobre os ombros dela...

A estudante se sentiu fatalmente atraída pelo gesto zeloso do mesmo por ela...

Porém, o semblante melancólico do sargento era muito nítido.

— Hey... o que foi...? – A garota indagou-o, não entendendo sua feição triste.

— Nunca vou me perdoar por todas as coisas ruins que aconteceram com você por minha causa...

— Mas não foi sua culpa... – Ela tentava atenuar os sentimentos pesados de James, mas o olhar dele mostrava o contrário.

— Você não merecia passar por isso... – Bucky sussurrava, de forma lamentável e Darcy não se conformava em ouvir palavras tão tristes...

— Aah, qual é!? Vai ficar todo depressivo só por causa disso!? Aconteceu e foi só um acidente, então vamos esquecer isso de uma vez! – Replicava insensivelmente, afinal, o ombro era dela.

— Eu não posso tolerar o fato de terem te machucado... – Os olhos azuis brilharam... num fulgor obscuro... os traços do Soldado Invernal ainda estavam ali...

Darcy não entendia... por que ele se importaria...?

— Por quê...? Por que isso teria tanta importância pra você...? – Inquiria, como se precisasse daquela resposta assim como precisava de ar para respirar.

— Por que você me salvou... em todos os sentidos... – Bucky nunca conseguiria retribuir tudo o que a estudante fez por ele.

— E-eu não te salvei, para com isso! – Darcy percebia que tudo o que o soldado sentia por ela era apenas gratidão... Não era nada além...

Não podia ser nada além daquilo, não é mesmo...?

— Por que você é sempre tão modesta quando digo essas coisas? – James não entendia o motivo de a estudante se diminuir tanto naquelas horas, reduzindo suas ações heroicas, como se não fossem nada...

Um sorriso melancólico se formou nos lábios da garota...

.

— Por que um cara incrível como você ficaria grato à uma reles pessoa como eu...?

.

A voz dela penetrou gentilmente os ouvidos do sargento, causando um abalo sísmico em seu despretensioso coração.

Darcy o achava incrível? Como ela podia ter essa impressão de um ex-assassino como ele?

Sua mente acelerada voava em torno de duvidosas indagações sobre a impressão que Darcy tinha a seu respeito... e que eram impossíveis de serem desvendadas...

Observar a garota... lhe embriagava pela necessidade de viver...

Ela domava seu coração... num doce olhar... o olhar mais lindo que já vira em toda a sua vida...

Bucky procurava decifrar os enigmas, relendo os olhos azuis celestes da estudante... que expressavam tanta comiseração... ou seria outra coisa...? Admiração...?

Ainda não conseguia decodificar o que Darcy sentia por ele...

Na noite em que dançaram, ela estava bêbada e fez um movimento ousado, mas no dia seguinte, parecia um tanto arrependida, como se tivesse feito algo errado...

O que um beijo no canto dos lábios significava...?

As mulheres modernas não eram como as de sua época... elas eram um tanto indecifráveis e enigmáticas... e Darcy era exatamente assim... uma incógnita... uma fórmula matemática incrivelmente difícil de se resolver...

Um beijo era um simples carinho, corriqueiro e sem importância para a maioria das mulheres do século 21, então... pela lógica, aquilo não significava nada para Darcy...?

Mas se fosse o contrário...? Como as coisas seriam...? O que ele deveria fazer...?

Se os sentimentos fossem mútuos, o que aconteceria com eles...?

O soldado resolveu virar o rosto e tentar se desvencilhar do frenesi de se imaginar com ela no futuro... não tinha esse direito...

Depois de sua mente processar as últimas palavras dela, Bucky não conseguia compreendê-la...

— Eu não sou uma pessoa incrível, Darcy... estou muito longe de ser alguém assim...

— Isso não é verdade. Eu e a maioria das pessoas no mundo não pensam assim! – Rebateu-o, sem pensar duas vezes.

— A maioria das pessoas no mundo não sabe que virei uma arma nas mãos de uma organização terrorista, e se soubessem, não iriam me admirar como o herói que um dia fui chamado...

— Não, Bucky... eu tenho certeza que elas não pensariam assim se conhecessem a sua história verdadeira! Você é apenas uma vítima!

— Nem todas as pessoas chegariam a mesma conclusão que você...

— Talvez não todas, mas a maioria sim!

— Você não entende... – James desviou o olhar... não conseguia aceitar o que a garota lhe dizia.

— Eu entendo! Você é o Soldado Invernal, mas também é o Sargento James Buchanan Barnes...! É o melhor amigo do Capitão América e caiu daquele trem porque estava ajudando a salvar o mundo, mas... você também é um enigma pra mim... alguém que apenas tentei guiar para fora da escuridão... e eu não te enxergo dessa forma que está imaginando... pra mim, você é alguém inacessível, quase intocável...

Os olhos do sargento a rodearam... caóticos...

Então essa era a impressão que a estagiária tinha dele?

— O que quer dizer com isso...? – A indagou, surpreendido pelas afirmações da estudante.

Darcy tinha as palavras prontas para aquela pergunta...

— Você é alguém nobre, honorário e imponente... você foi um sargento e depois fez parte do mais temido grupo de elite do maior herói do país, se tornando também um herói por arriscar a vida em missões extremamente perigosas, e então, por conta de um acidente, se transformou na maior arma de uma grande organização secreta...

Bucky ainda não conseguia aceitar as conclusões que Darcy tirava a seu respeito.

Ela não podia estar falando sério...

— Perdi toda a minha honra quando fui uma arma nas mãos da HYDRA. Sou só uma escória para a humanidade...

— Ainda que você se ache uma escória... pra mim, o Soldado Invernal é alguém extremamente forte, imbatível e quase um deus da destruição. Você é alguém inalcançável ou impossível de ser descrito... pode ter sido chamado de fantasma, como diz nos seus arquivos, mas pra mim, é a maior lenda que supera qualquer ameaça que já existiu...

James estava completamente chocado pela declaração sobre as impressões que Darcy tinha sobre ele... sobre sua vida como uma marionete nas mãos da HYDRA... sobre seu passado manchado de sangue e marcado pela morte de diversas pessoas...

Como ela conseguia ver algo de bom no meio de tanta desgraça...? No meio de sua vida amaldiçoada...? Como conseguia ter alguma admiração por ele, mesmo sabendo de seu passado...?

Como aquela garota conseguia ser tão compassiva e tão misericordiosa em seus julgamentos...? Porque ela...

Tinha de ser tão boa...?

Ele não passava de um flagelo... uma quimera... uma maldição... uma assombração que quase destruiu parte do mundo...

A responsabilidade de quase ajudar a mergulhar o planeta num caos muito pior onde se encontrava, ainda lhe assombrava... e quando se dava conta disso, não conseguia se perdoar...

Ele não se sentia digno nem mesmo de olhar nos olhos de Darcy...

Jamais seria merecedor dela... mas... e se a garota estivesse confusa...? Sua admiração por ele não podia passar de... pena... compaixão e clemência...?

Mas e se não fosse...?

Ao assimilar a realidade de seu passado com a HYDRA, James recuou alguns passos para trás, cabisbaixo, com o olhar no chão...

E Darcy percebia que o mesmo retrocedia, como se quisesse fugir dela...

— Por que está se afastando...?

— Você... Não merece passar por isso... - Ele dizia tal frase com duplo sentido, pois não tinha certeza se ela o queria, mas caso a resposta fosse sim, não desejava que a garota soubesse que ele sabia sobre isso.

Notando que o sargento parecia um pouco perdido em seus próprios pensamentos, automaticamente, a estudante pegou em sua mão metálica...

Aquele toque repentino o assustou... e ela observava seu desconforto...

— O que tem de errado em segurar a sua mão...? – Darcy contestava, inocentemente.

— Não há nada de errado... mas... faz muito tempo que... alguém fez algo do tipo...

— E isso te incomoda...?

James exprimiu um olhar melancólico... a voz dela perfurava seu coração...

"Eu não quero só segurar a sua mão..." - Ele tentou dizer o que pensava, mas as palavras ficaram somente em seu pensamento...

Não tinha ideia se Darcy sentia o mesmo por ele... não possuía a resposta para aquela pergunta, no entanto, não conseguia perguntar diretamente a ela...

Porém, o fato de não conseguir perguntar se a garota sentia o mesmo por ele, não lhe impedia de dizer o que estava preso em seu triste, confuso e martirizado coração...

Darcy não esperava uma resposta do sargento depois de suas últimas palavras, mas observou que depois de um tempo em silêncio, James moveu os lábios para responde-la...

— Darcy... eu quero que saiba que você não é uma pessoa qualquer... – Ele pausou antes de continuar, e então...

Resolveu finalizar a sentença...

.

.

— Você é especial... alguém importante em minha vida... talvez a mais importante de toda a minha vida...

.

.

A garota arregalou os olhos diante de uma declaração tão impactante...

Seu coração disparava tão rápido, que parecia que explodiria...

Ela não soube o que dizer... apenas ficou em silêncio... mirando-o... contemplando sua face séria, convicta, firme e inabalável...

Aquilo foi o ponto culminante da quebra do autocontrole de Darcy. Ela tinha a imensa vontade de abraçá-lo e dizer que ele também era especial para ela... alguém tão importante que não conseguia passar sequer um minuto longe...

Mas...

Ainda não tinha coragem... seus traumas, cicatrizes e medos lhe impediam de ser sincera com James...

Então, a garota não soube o que dizer...

— Ah, eu... e-eu...

Vendo o constrangimento dela, o soldado puxou o capuz de seu casaco sobre a cabeça dela, apenas para não deixá-la embaraçada depois de ser sincero e dizer algo tão importante...

— Está frio e você não pode pegar friagem por causa do seu ombro. – Bucky sorriu docemente gentil, desmontando-a ainda mais com suas palavras e gestos afáveis e cavalheirescos.

O rosto dela ruborizou... Darcy não conseguia mais esconder o que sentia...

Não depois de ouvir aquelas palavras...

.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pra quem não sabe, a tradução do que o Bucky disse pra Darcy em russo foi: “Nunca conheci uma garota que sorri sendo tão pessimista”.
Falta muito pouco pra esse casal se entender. Espero que estejam preparados o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wintershock" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.