A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 2
Capítulo 1: QUEDA.


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, eu não tenho palavras para expressar a gratidão pela compreensão e incentivo que recebi de vocês com a reedição dessa estória. Obrigada a todos.

Dedico toda a reedição aos meus leitores: Mille Portinari, Lady Morgana, Anna, MaduBlackfyre, Cerejinha negra, Gabi Felix, Frozen e Niinha.... e para você também, que leu mas não comentou... eu te espero pacientemente.

Espero que gostem...



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Capítulo 1: QUEDA.

Tudo era Escuridão ao redor de Hermione. A Escuridão era impenetrável, ameaçadora e, aos poucos, lhe roubava a consciência. Ela flutuava em meio ao negrume como uma folha solitária fustigada por uma tempestade, indo, indo, indo de encontro a lugar nenhum. Ela já não tinha corpo, e nenhuma forma, e estava se apagando aos poucos, os pensamentos escapando juntamente com o medo, o pânico, e o seu eu... Era irresistível o chamado da Escuridão, e ela precisava se entregar.

Horas, dias, ou anos depois, nunca saberia ao certo, ela ficou consciente novamente. Ela existia enfim, e ocorreu-lhe então, que tinha um corpo e braços e pernas e sangue e um coração que batia fraco, e era seu, e tinha pele e ossos e tudo sacolejava, para cima e para baixo, para cima e para baixo, para cima e para baixo...

Junto com a consciência da existência de um corpo, veio também, a consciência das dores. Cada músculo gritava em protesto, porém, nada superava a sensação do frio extremo, que queimava sua carne e adormecia suas extremidades.

A única fonte de calor era um muro as suas costas, ele subia e descia junto com ela, naquele sacolejar incessante, ela se encolheu ao encontro dele buscando seu apoio quente.

Flashes desconexos invadiram sua mente, lembranças que pareciam ter acontecido há muito tempo: os profundos olhos azuis e angustiados de Harry; o Ministério da Magia; o Departamento de Mistérios; a Sala das Profecias; os Comensais da Morte; a Sala do Tempo; o feitiço roxo que a atingiu no peito e o mundo ficando Escuro e frio.

Será que tinha morrido? Mas morrer era tão... barulhento?

A sua volta, os sons antes inexistentes, ficavam cada vez mais fortes. Havia conversas sussurradas, e o som do vento sobrando entre árvores, metal raspando em couro, e cavalos – céus, cavalos?— chapinhando na lama.

Seu cérebro lutava contra seu corpo, ele queria mais que tudo se entregar a névoa que o rondava, mas então, o muro quente no qual ela se apoiava, apertou os braços em volta da sua cintura.

Hermione abriu os olhos... e rapidamente voltou a fechá-los – que insanidade era aquela?! Era real?

Ela esperou sua respiração se acalmar, um tremor diferente dos calafrios a invadiu, abriu os olhos novamente esperando... rezando, para que o cenário tivesse se modificado, no entanto, ele ainda estava lá, vivo colorido e intenso, como só a realidade poderia ser.

Em volta dela, havia uma verdadeira comitiva, formada por homens grandes e barbudos, que montavam em cavalos maiores ainda, eles vestiam couros e peles e tinham penduradas em suas cinturas, poderosas espadas que facilmente a partiriam ao meio. O grupo cavalgava por uma floresta de mata fechada e anormalmente fria. O muro quente, no qual ela se aconchegava, era em verdade, o peito largo de um homem, que a mantinha sentada a frente dele em um cavalo, os braços dele rodeavam-na para segurar as rédeas do animal que os carregava. Não havia nenhum conhecido avista.

A mente de Hermione ficou em branco, toda a dor, todo o frio, toda a confusão esquecida, ela fez a única coisa racional que a ocasião exigia, virou o corpo de lado na sela o máximo que conseguia e empurrou o peito do homem atrás de si, se debatendo violentamente para se desvencilhar dele.

— Me ponha no chão. Me ponha no chão, AGORA! – Ela exigiu aos gritos, em seu melhor tom mandão, adquirido através de dedicado e extenuante treinamento com Harry e Rony.

Porém, o súbito despertar e a agitação de Hermione, não surtiram os efeitos desejados. O pobre cavalo que os carregava se assustou e se empinou nas duas patas traseiras, jogando os dois para trás, Hermione, num impulso momentâneo, se agarrou a seu captor, e só não foram ao chão, porque o Cavaleiro era muito hábil e conseguiu controlar o animal.

— Acalme-se Senhora. Ninguém lhe fará mal – disse o homem, a quem Hermione agarrava-se como se sua vida dependesse disso - porque provavelmente dependia mesmo— ela o soltou rapidamente, assim que percebeu como o segurava fortemente pela cintura. Sentiu-se corar.

— Uma ova que vou me acalmar. Eu exijo que me ponha no chão – Ela respondeu, cruzando os braços em frente ao peito com exagerada força e lançando olhares cautelosos para o animal embaixo dela, dessa vez, tomando o cuidado de não gritar e nem se debater.

— Você encontrou uma gata selvagem, eu vejo – Disse outro homem, a direita de Hermione, em tom de riso. Ela não conseguia vê-lo e não se atrevia a se mexer novamente no cavalo. - Melhor deixá-la descer, antes que lhe arranque um olho.

 - Ninguém vai desmontar. Já nos demoramos muito no lago e a noite não tarda a chegar – Ordenou uma terceira voz autoritária, essa de um homem mais velho que cavalgava a frente do grupo.

Desorientada, Hermione seguiu indiferente a paisagem que se descortinava ao seu redor, o pânico embaralhava seus pensamentos, e tudo parecia apenas borrões em diferentes tons de verde e marrom.

Lentamente, a ansiedade e o nervosismo foram cedendo espaço para a curiosidade e as perguntas começavam a fazer cócegas em sua mente.

— O que aconteceu comigo? – Ela questionou a si mesma, num sussurrou.

— Não sabe, Milady? – Perguntou o homem que cavalgava com ela, achando que ela falava com ele.

— Não – Hermione respondeu cautelosa, registrando o tratamento antiquado que ele usou.

— Nós a encontramos caída as margens do Lago do Passo, não muito longe daqui. Estava desacordada. – Respondeu o homem com gentileza.

— Mas não entendo. Onde estou exatamente? – Ela voltou a perguntar sentindo a garganta se apertar de antecipado temor.

— Ora, em Winterfell é claro – Ele respondeu surpreso – O que Milady fazia no lago?

— Eu não... me lembro. – Hermione respondeu tremula, o que não era de todo, uma mentira, já que ela não fazia ideia de como havia saído de uma Londres do século XX e ido parar no meio de uma floresta da Idade Média – aparentemente, ou em um set de filmagens - Ela ainda aguardava alguém gritar “corta” a qualquer momento.  Era uma esperança.

— Não tenha medo. Já estamos perto de casa, e então nosso Meistre poderá se certificar de que você está bem. Levaremos você para casa logo depois.  – Disse o homem, claramente tentando tranqüilizá-la.

Hermione não poderia ficar mais longe da tranqüilidade do que com essa promessa, mas supunha que poderia agradecer por ele não fazer mais perguntas.

— Acredito que meu pai irá querer lhe fazer algumas perguntas.

Claro que sim!

Hermione buscou na memória qualquer coisa sobre alguma Winterfell, mas simplesmente nada lhe vinha à mente, enquanto fazia isso, passou a mão pelas costelas, tinha alguma coisa que lhe cutucava incessantemente o lado direito.

Ela sentiu sob os dedos, debaixo das roupas, um objeto cilíndrico e cumprido – mas o que é isso? Ah... é minha varinha. Minha Varinha! Eu sou uma Bruxa! – ela lembrou.

Alivio a invadiu, e teve que se conter para não gargalhar – Como assim você tinha esquecido que era uma Bruxa, Mione?— sua mente gritou com ela, na inconfundível voz de Rony – Cala a boca – ela replicou silenciosamente.— Louquinha, louquinha – Ele assoviou em resposta.

Logo, ficou obvio para Hermione, que aqueles homens não saltariam e não lhe restava alternativa senão seguir com eles para onde quer que estivessem indo.

Ela não fazia ideia de como havia ido parar ali, não fazia idéia de quem eram aquelas pessoas, e não fazia idéia se estava indo em direção de um calabouço, uma pira, ou a ajuda, mas tomou a decisão de não fazer magia.

Se suas suposições estivessem corretas, poderia ser perigoso revelar-se pelo que era. Por outro lado, conseguiu ficar mais calma agora que sabia que não tinha perdido a varinha e poderia contar com magia se as coisas ficassem muito ruins.

O grupo agora estava saindo da orla da floresta, entrando em um extenso campo aberto e esverdeado, a estrada de terra por onde cavalgavam, levava a uma praça repleta de tentas e balcões, e ao redor da praça, tinha uma pequena Vila formada por casinhas de madeira e pedra, a Vila por sua vez, cercava uma poderosa muralha, e por suas ameias muitos guardas faziam a vigia.

Se Hermione ainda não estava convencida de que se encontrava em uma espécie de Sociedade Medieval, o Castelo dentro da muralha a convencera. Não era nada tão impressionante quanto Hogwarts, porém suficientemente impressionante para distraí-la, por um momento, de seus problemas e deixá-la curiosa. 

O Castelo era grande, mesmo dali dava para ver outras construções que se aglomeravam a sua volta, todo o complexo era feito de pedras cruas e argamassa avista, a arquitetura mais rústica e de linhas muito mais antigas que as encontradas nos Castelos da Grã-Bretanha Trouxa.

Ela supôs que o inverno estava começando ou acabando, pois havia pequenos montículos de neve no chão, e fazia um frio considerável.

A comitiva na qual ela se encontrava, tinha mais ou menos vinte pessoas, todos homens. Alguns andavam a pé carregando diferentes tipos de utensílio que ela identificou como objetos antigos para caça; o grupo era uma mistura de homens jovens e velhos, e havia até um anão.

Liderando a caravana, cavalgava a frente dois homens. De onde Hermione estava, pode ver que eram jovens, não pareciam ter mais do que quarenta e poucos anos, o homem a direita era alto e imensamente gordo, seu cavalo parecia um pônei embaixo dele, tinha cabelos pretos, e uma barba emaranhada e igualmente negra, o outro a esquerda, era aquele que havia dado a ordem de não parar, ele também era alto, mas mais atlético, seus ombros eram largos, seu rosto era comprido, e os cabelos eram castanhos escuros e batiam em seu pescoço.

Neste momento, os portões da muralha foram abertos, e por eles saiu um homem cavalgando a toda em direção ao grupo, ele alcançou a comitiva e parou em frente ao homem atlético, os dois confidenciaram por um momento e então, partiram juntos em disparada em direção ao Castelo, deixando o homem gordo e o restante da comitiva para trás. 

— Robb, espere – Alguém pedia, a voz era a mesma do homem que a chamara de “gata selvagem”.

O Cavaleiro que cavalgava com Hermione parou, esperando a aproximação do outro. Um rapaz jovem, talvez com dezenove ou vinte anos, apareceu ao lado deles, montando um baio, ele era magro, tinha os cabelos escuros e olhos azuis. 

— Chamo-me Lorde Theon Greyjoy – Ele se apresentou para Hermione com um sorriso largo e presunçoso nos lábios.

Hermione não lhe devolveu o sorriso e tão pouco se apresentou, não se sentiu confortável diante da maneira como o rapaz a olhava.

— O que pode ter acontecido no Castelo? – O Cavaleiro que se chamava Robb perguntou ao outro, forçando Theon a afastar os olhos dela.

Hermione respirou aliviada por ter a atenção desviada de si.

— Algo grave, para que seu pai abandonasse o Rei desse modo – Respondeu Theon.

Robb nada disse, mas Hermione podia sentir que ele ficou tenso. Os músculos de seu braço flexionaram em volta dela.

Alguns minutos depois disso, finalmente a comitiva começou a passar pelos largos portões da Fortaleza. Hermione que estava bem mais atrás, só podia observar a sua volta as construções e o pátio que se descortinava a sua frente conforme se aproximava da entrada.

Ela notou, que o homem gordo que havia permanecido junto ao grupo, se apressou para desmontar, e bamboleou o mais rápido que seu corpo permitia pelo pátio, até alcançar os degraus que davam acesso ao Castelo, ele sumiu por detrás das portas duplas, logo depois.

Conforme Robb se aproximava mais e mais do pátio, ela sentiu os olhares dos habitantes que ali estavam, presos nela. Hermione gelou e um buraco em sua barriga começou a se abrir lentamente.

Será que de algum modo eles sabiam o que ela era? Estava acontecendo alguma coisa no Castelo que envolvia a sua chegada? Era por isso que os dois homens pareciam tão aflitos?

Cavalariços se apresentavam aos Cavaleiros para ajudá-los a desmontar e recolher os animais às baias. Todos eles olhavam em direção de Hermione e Robb, com expressões apreensivas e lamuriosas.

Hermione sentiu-se doente de apreensão. O clima em volta deles era pesado, tanto que um silêncio enervante caiu sobre a comitiva que desmontava no pátio, havia alguma coisa muito errada acontecendo. Ela estremeceu.

Atrás dela, Robb desmontou aterrissando no chão com graça, ele estendeu a mão para ajudá-la, ela teve dificuldades para conseguir desmontar, nunca tinha feito isso antes, e o nervosismo não estava ajudando. Ela quase se estabacou vergonhosamente no chão, mas foi salva por Robb, que a amparou em seus braços bem a tempo.

Por um segundo, quando Hermione nivelou seus olhos com os de Robb e pode finalmente ver o Cavaleiro, ela se esqueceu completamente de ficar apreensiva. Tratava-se de um rapaz jovem, algo entre os dezesseis  e os vinte anos, era difícil ter certeza, pois embora seu rosto fosse juvenil, seus ombros eram mais largos do que os ombros de seus amigos nessa idade, ele era mais alto do que Harry e mais forte do que Rony, e usava uma barba curta que lhe emprestada um ar de virilidade máscula, seus cabelos caiam em cachos castanhos avermelhados pelo rosto de queixo quadrado e harmonioso, e seus olhos eram de um incrível tom de azul.  

Ele olhava para ela com interesse, mas ligeiramente distraído e claramente preocupado com a atenção estranha que os dois recebiam.

Outro rapaz, tão jovem quando Robb, se aproximou quebrando o contato visual entre Hermione e o Cavaleiro.

— Jon, o que está havendo? – Perguntou o ruivo que ainda segurava Hermione nos braços.

— Não trago boas noticias, irmão – Respondeu Jon solenemente, relanceando os olhos para Hermione apenas o suficiente para registrar sua presença.

Hermione achou estranho que fossem irmãos, pois não podiam ser mais diferentes, Jon era moreno com olhos cinzentos, seu rosto era cumprido e mais oval, enquanto o ruivo tinha ombros largos, Jon os tinha mais estreitos, também era bonito, mas de um jeito diferente, a única coisa parecida com Robb, era a altura.  

— É nosso irmão, Bran. Ele estava escalando a Torre Quebrada. – Jon vez uma pausa e suspirou desgostoso – Ele caiu.

— Mas ele nunca cai – Robb argumentou quase infantilmente com a voz sumida.

— Vá vê-lo – Jon pediu - O Pai e sua Mãe, estão no quarto de Bran com Meistre Luwin.

Robb finalmente soltou Hermione, ele não parecia ter consciência de nada a seu redor, correu escadas acima sem dizer palavra, e foi só então que ela percebeu que os olhares que recebera quando chegaram, não eram para ela, mas para Robb.

Jon voltou-se para Hermione, ele fez mensal de falar, mas então um dos homens que estava na comitiva, o Anão, chamou por ele, e Jon fez uma pequena reverencia para ela, se afastando em seguida e deixando-a para traz.

E foi assim, que Hermione Jean Granger, se viu em Winterfell, deixada completamente só, em um Castelo Estrangeiro, com ninguém em volta para se importar com o fato de que ela era uma Bruxa, que vestia roupas esquisitas, que estava coberta de sujeira, neve e manchas de sangue, e que, pela primeira vez na vida, não sabia o que deveria fazer a seguir.


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