A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 3
Capítulo 2: ALIADOS IMPROVÁVEIS.


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, eu não tenho palavras para expressar a gratidão pela compreensão e incentivo que recebi de vocês com a reedição dessa estória. Obrigada a todos.

Dedico toda a reedição aos meus leitores: Mille Portinari, Lady Morgana, Anna, MaduBlackfyre, Cerejinha negra, Gabi Felix, Frozen e Niinha.... e para você também, que leu mas não comentou... eu te espero pacientemente.

Espero que gostem...



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Capítulo 2: ALIADOS IMPROVÁVEIS. 

Aquela era uma floresta muito antiga, que tinha o luxo de crescer despreocupadamente livre das intervenções humanas. Havia múltiplas espécies de vegetação, pequenas clareiras aqui e acola e uma diversidade de árvores com densas copas que formavam um dossel e escondiam, quase que por completo, a luz do dia.

No chão, se acumulavam restos lenhosos e folhas em decomposição, nada que devesse tornar uma caminhada em meio a floresta muito difícil. Contudo, à medida que ela avançava mata adentro, a tarefa ficava cada vez mais árdua, exigindo um esforço considerável, para o qual, ela não estava preparada.

Não havia pedacinho dela que não reclamasse em protesto e seu coração era o mais rebelde, martelando fortemente contra as costelas.

Ela estava exausta demais para continuar, e embora uma parada agora não estivesse em seus planos, prosseguir, tão pouco, era uma opção.

Felizmente, a poucos metros havia uma pequena clareira, por onde a luz penetrava mais livremente e alguns troncos de árvores caídas formavam assentos desejosos.

A magnifica visão, deu a ela fôlego para caminhar na direção do que àquela altura, era um oásis em meio ao deserto.

Caprichosamente, ela escolheu para se sentar o tronco, sobre o qual, o sol incidia mais fortemente, na esperança de se sentir aquecida pelo menos uma vez antes de continuar.

Ali, havia espécies de delicadas flores que só poderiam crescer onde a luz solar fosse mais abundante. Era um lugar idílico e tranquilo.

A medida que a tarde avançava a temperatura caia gradativamente. Ela se encolheu e se envolveu o melhor que pode em sua capa, totalmente consciente de que suas roupas já insuficientes, seriam inúteis ao cair da noite. 

Ela olhou para cima em busca de qualquer pedacinho de céu em que se orientar, e pode constatar, pelo ângulo e o brilho do sol, que o dia estava para acabar em poucas horas, o que em uma floresta tão densa como essa, significava que ela estaria imersa na escuridão muito em breve.

Ainda preocupada, mas muito menos entorpecida, ela considerou a precipitação de seu plano, que há não muitas horas, parecia ter sido um bom plano...

Há não muitas horas, Hermione Granger fora deixada inteiramente só no pátio de um Castelo estranho, em um tempo da história que não era o seu, e completamente incapaz de saber o que fazer de si mesma.

Enquanto Hermione lá permaneceu, oscilando sob os próprios pés, a vida continuou a volta dela completamente inabalável, e o pátio se esvaziou lentamente sem que sua presença tivesse chamado a atenção de alguém.

Entorpecida, assustada e num estado de semiconsciência, ela foi seduzida pela fantasia, de que, além dos muros do Castelo, havia uma Vila, e além da Vila, uma Floresta e em meio a Floresta, o suposto lago, no qual, ela fora encontrada.

Naquele momento, para ela, fazia absoluto sentido que o lago fosse seu portal para casa. E que sua memória fosse incapaz de reconstruir o caminho que ela deveria percorrer para chegar ao tal lago, era apenas irrelevante em seu atual estado de insensibilidade.

O primeiro passo ainda no pátio tinha sido o mais difícil, mas quando ela conseguiu os demais foram fáceis, como caminhar em nuvens fofas ou flutuar.

A consciência do que ela fazia a atingiu somente algum tempo depois, quando ela já estava embrenhada mata adentro, e seu corpo finalmente protestava magoado pelo mal uso que era feito dele, mas então, ela já estava longe demais daquele pátio para retornar e apenas cada vez mais confusa com a sensação de irrealidade em que estava submergida.

Agora, sentada nesse tronco idiota e tremendo de frio ao ponto de bater os dentes, ela considerava a loucura de um plano que era indigno para seus padrões.

Era muito pouco provável, que qualquer coisa magica tivesse deixado resquícios no tal lago, até porque, se tivesse ela possivelmente estaria ardendo em uma fogueira agora.

— O que seria um avanço e tanto – Hermione bufou irritada, falando consigo mesma – Pelo menos me sentiria quente.  

Contudo, não era inteiramente surpreendente que Hermione estivesse confusa e não racionalizasse sobre a situação antes de adentrar na floresta. Umbridge, Brigada Inquisitorial, Centauros e Gigantes, Esparrelas, Comensais da Morte e viagens à Idade Média tinham sido suas últimas e ininterruptas trinta e seis horas.

E apesar disso, ainda havia um resquício da antiga Hermione lá! E havia um pensamento, não totalmente formulado, que estava inquietando sua mente, como uma coceira que ela desejava coçar, mas que era altamente desaconselhável.

Todavia, sozinha e possivelmente perdida, ela não dispunha mais do luxo de negar a si mesma a realidade. Mais do que a impossibilidade de encontrar seu lago, mais do que a probabilidade de nele não exigir as respostas que ela buscava, havia no fundo de sua mente uma suspeita que crescia como erva daninha: a magia que a trouxera para este lugar era qualquer coisa, muito acima de seu nível de conhecimento, algo poderoso e antigo, que talvez ela jamais fosse capaz de compreender o suficiente para reproduzir e voltar para casa.

Esse pensamento finalmente consumiu a esperança na qual Hermione se agarrava como se fosse um bote-salva vidas. Ela sentiu tudo escurecer a volta dela e, por um momento, se obrigou a apenas se concentrar em não desmaiar.

Quando a floresta voltou a se materializar a sua volta, ela sentiu o peso dessa possibilidade incendiar suas entranhas... o ar se recusou e entrar em seus pulmões.  

Uma imagem de seus pais nadou diante de seus olhos e a possibilidade de nunca mais vê-los, permitiu que o medo finalmente a encontrasse em seu esconderijo.

Ela estava tremendo e não era por causa do frio. As lagrimas que ela tanto lutara até ali para que não escapassem, agora embasavam sua visão deixando uma trilha molhada em suas bochechas. Sem que ela desejasse, ou se dessa conta, estava soluçando.

O que ela deveria fazer agora? Continuar procurando pelo lago, do qual, ela não tinha visto nem sinal até agora? Voltar ao Castelo? O que deveria esperar das pessoas desse lugar? Iriam acolhe-la? Dar a ela uma chance? Ou iriam abandona-la a apropria sorte, como ocorrera ainda a pouco naquele pátio?

Pela primeira vez desde que ela se lembrava, não tinha nenhuma resposta, o que era em si mesmo, um motivo de preocupação.

Se debatendo sobre a incerteza de seu destino, ela permaneceu sentada naquele tronco por um longo momento, deixando as lagrimas encharcarem sua roupa e as dúvidas corroerem-na por dentro. Mas depois de um tempo, ela sentia-se mais calma, pelo menos o suficiente para se dar conta da escuridão que se avizinhava.

Foi só então, que ela percebeu um tipo diferente de barulho que circundava a mata, aos poucos, ela passou a identificar a candência de cascos de cavalo trotando nas proximidades.

Ela engoliu em seco, e com dedos trêmulos secou as lagrimas do rosto enquanto se levantava apressadamente.

Instintivamente  tocou a varinha presa no cós da saia, embaixo da camisa, e a dureza da madeira sob o seu toque fez seu coração reduzir um décimo das batidas alucinadas.

Os sons aumentaram rapidamente e vinham inequivocamente em sua direção, o estalar da mata sendo pisoteado era tão audível que Hermione rodopiou em volta de si a procura do som.

Por um momento, ela se debateu sobre a possibilidade de se esconder ou pedir ajuda, mas antes que pudesse se decidir, os responsáveis pelo barulho chegaram até ela.

Eram dois, e vinham da direção do Castelo, pela mesma trilha que Hermione abrira para chegar até ali.

Um bocadinho mais à frente cavalgava um rapaz, cuja idade Hermione supunha, ser de quinze ou dezesseis anos, ele tinha os cabelos muito louros cortados curtos, olhos de um verde aguado, lábios grossos e um porte atlético, e embora suas feições fossem agradáveis de se olhar, eram suas vestes que chamavam mais a atenção, ele estava ricamente vestido com um brocado de fundo vermelho e pequenos leões dourados bordados em todo o tecido, seu único ornamento era um cinto largo e também dourado, de onde pendia uma espada que completava a visão. Nada na sua aparência estava desalinhada, mas isso lhe emprestava um ar de artificialidade.

O outro homem, na casa dos quarenta anos, era o oposto absoluto do jovem. Ele vestia cota de malha negra e um cinto que prendia uma espada imensa as suas costas. Era um homem alto, e em cima do garanhão parecia um gigante. Sua aparência era chocante, pois seu rosto era uma ruína consumida pelo fogo, o lado esquerdo da face era completamente queimado, uma retorcida massa de cicatrizes adornava o olho esquerdo e a bochecha era cheia de crateras e rasgada por fendas profundas, em seu maxilar era possível ver um pouco de osso onde a carne fora arrancada. O lado direito de seu rosto era imaculado, mas não ajudava a amenizava sua dura feição, os olhos dele cinzentos e profundos, eram olhos de alguém cheio de raiva. O homem era o conceito corpóreo da violência.

Um calafrio perpassou o corpo de Hermione e ela desejou ter tido mais cedo, presença de espirito para se esconder.

O Cavaleiro mais velho, pareceu perceber o alarme dela e seus lábios se curvaram em um esgar de escarnio, mas ele não fez qualquer menção de desmontar ou se aproximar.

Ao invés disso, foi o rapaz quem desceu do cavalo. Ele deixou as rédeas de sua montaria com o outro e caminhou pela mata em direção de Hermione com passos e sorrisos confiantes.

— O que faz na Floresta, garota? – Ele perguntou a Hermione de modo petulante, digno apenas de alguém que valorizasse de mais sua própria importância.

Ele olhava para ela de um jeito que a fazia pensar em um conhecido, mas não lembrava quem. 

— Apenas fazendo um pouco de exercícios – Por intuição Hermione mentiu.

O cavaleiro de face queimada, deixou um som de pura descrença escapar de seus lábios.

O Loiro que até então não parecia ter a mesma sensibilidade para detectar mentiras, olhou por cima do ombro para seu companheiro, com a testa franzida.

Quando ele voltou a olhar Hermione, sua expressão tinha um ar de excitação.

—  Sandor, meu cão, não parece acreditar em você. Porque está mentindo? – O menino exigiu saber.

— Não estou mentindo e não é da sua conta o que faço. – Ela respondeu irrefletidamente, com uma certa irritação pela insolência do estranho.

— Como ousa falar assim com seu Príncipe? Tudo o que acontece em meio reino é de meu interesse. – O menino respondeu com a voz se elevando vários tons acima.

A excitação nos olhos verdes dele era contraditória com as feições de raiva, que transformara seu antes harmonioso rosto.

Hermione ficou alardeada diante daquela expressão e sentiu raiva de si mesma por não ter sido mais cautelosa. Seria muito ruim se ela tivesse que enfeitiçar um Príncipe por um desentendimento tão estupido.

Ela fez menção de falar, com a intenção de se desculpar. Mas o Príncipe fez um gesto para que ela se calasse, ela achou por bem obedecer.

— Uma camponesa maltrapilha como você, deveria conhecer seu lugar – O rapaz falou ainda com aquela expressão que não combinava com seus olhos – Como futuro Rei, acredito que seja meu dever ensinar-lhe a lição.

Um sentimento de prazer escureceu o verde de seus olhos. Ele tirou a espada do cinto lentamente, o aço raspou pelo couro da bainha de maneira agourenta.

Hermione deu um passo para trás, e olhou com súplica para o homem ainda montado em cima de seu garanhão, mas o outro não parecia incomodado com a cena que ocorria a sua frente, apenas ostentava uma expressão de tédio.

Ela tocou a varinha e tentou calcular as chances que teria de pega-la antes de ser morta por um dos dois.

O Príncipe levantou a espada virando a lamina de lado como se tencionasse usa-la para bater em Hermione.

As pernas dela viraram gelatina.

— Acredito, meu Príncipe, que a moça não o reconheceu de imediato – O homem a quem o menino chamara de Sandor e também de Cão, falou. Ele tinha uma voz forte e rouca, mas sua expressão de tédio permaneceu inalterada.

O rapaz abaixou a espada e Hermione soltou o ar que nem percebera estar prendendo.

 - Como é possível que não reconheça seu soberano? – Sem tirar os olhos dela, ele questionou seu companheiro.

— Estamos longe da Capital, o Norte é desolado, e uma criança do campo não receberia a educação apropriada para reconhecer a Família Real. 

A resposta apaziguadora só enfureceu ainda mais o Príncipe, mesmo assim, ele recuou, mas não embainhou a espada, mantendo-a frouxa na mão ao lado da coxa.

Hermione lançou um olhar cheio de gratidão a Sandor, mas ele a ignorou como se não tivesse sido o responsável por evitar a violência iminente.

Contudo, isso parecia longe de acabar. Ele rodeou Hermione olhando-a de cima abaixo.

Ela puxando a capa em frente ao corpo para esconder o conjunto de saia e camisa que compunha seu uniforme escolar. Suas vestes chamariam a atenção em qualquer época que não a sua.

No entanto, foi impossível evitar que as lagrimas voltassem a encher seus olhos, ela mal conseguia acreditar no que estava acontecendo. Serie esse o tipo de mundo, no qual, ela ficaria presa para sempre?

 - Peço desculpas por não reconhece-lo, meu Príncipe. – Hermione se forçou a dizer de modo humilde, lutando para desviar a atenção dele de seus trajes. Ela odiou o tom servil que ouviu na própria voz.

— Porque está usando o símbolo da casa Lannister? – Ele perguntou, ignorando o pedido de desculpas dela, porque obviamente não convinha para seus propósitos.

Hermione ficou confusa com a mudança brusca de assunto, e sua expressão deve ter demostrando isso.

— Você é imbecil por acaso? O Brasão da casa Lannister! Porque o está usando? Você não é uma Lannister é obtusa e feia demais para isso.

Os olhos de Hermione correram para a espada que ele ainda mantinha na mão, ele parecia desejoso de usa-la.

— Desculpe, mas não o estou entendendo - Hermione respondeu enrolando ainda mais a capa em torno de si. Tardiamente ela se lembrou de acrescentar: - Meu Príncipe.

Com a mão livre o rapaz pegou o braço de Hermione acima do cotovelo e com um aperto firme ele a chacoalhou bruscamente.

— Não se faça de sonsa. Quero saber porque está usando em suas vestes o Leão da minha casa.

Ela olhou para baixo, acompanhando a direção dos olhos dele, e entendeu. Ele falava do Leão da Grifinória bordado em vermelho e ouro na capa de Hermione. Ela percebeu somente agora, a semelhança do desenho e das cores com a estampa das roupas dele.

— É apenas um bordado que eu achei bonito – Hermione disse, agradecida por ele ter se apegado a esse detalhe, e não a estranheza ou a superioridade da confecção das peças em si.

— Você roubou essa capa de algum Lannister? – Novamente o loiro ignorou sua resposta por pura conveniência.

Ele parecia extasiado, finalmente satisfeito, sua expressão agora combinava com seus olhos, eram de puro deleite.

— O...  O que? – Hermione sentiu sua cabeça rodar, quase não conseguindo acompanhar as mudanças do Príncipe.

— Saiba, meu estimado sobrinho, que gravuras de Leões não são propriedades absolutas dos Lannister. – Disse uma voz masculina inteiramente nova. Havia um toque de escarnio nela.

Hermione não conseguiu ver quem era a nova adição do grupo, pois o garoto estava entre ela e o Estranho.

O rapaz soltou Hermione dando-lhe um empurrão que a jogou no chão. Ela sentiu todo o impacto de ser arremessada por sobre troncos, pedras e galhos desavisadamente.

— Jyck, ajude a Senhora sim? – O homem estranho voltou a falar, mas dessa vez sua voz estava zangada – Posso saber porque está tratando uma Lady de maneira absolutamente abominável, Joffrey?

O barulho agora reconhecível para Hermione, de alguém desmontando de um cavalo, foi capturado por ela apenas parcialmente, pois ela estava concentrada em lutar contra o emaranhado de mata e galhos que se enrolaram nela.

Alguém tocou seu braço e Hermione deixou que o outro a ajudasse a ficar de pé. Atordoada e com o tornozelo esquerdo doendo barbaramente, ela finalmente conseguiu ver o dono da nova voz. Era ninguém menos que o Anão, que mais cedo integrou a mesma Comitiva que encontrou Hermione, nesta mesmíssima floresta.

Ele cavalgava com outros dois homens e de cima de sua sela, parecia tão alto quanto qualquer outro, os cabelos dele eram do mesmo tom de louro do Príncipe Joffrey, mas as semelhanças com o sobrinho acabavam por aí, ele tinha um rosto que não era nada harmonioso.

— Tyrion! – Exclamou o Príncipe de modo pouco cortes, novamente ignorando perguntas ou respostas que não lhe fosse conveniente. – O que faz aqui, tio?

— Joffrey, porque a está chamando de ladra? – Tyrion, parecendo conhecer muito bem as táticas de seu sobrinho, as usou contra ele.

— Ela não é uma Lady. Não passa de uma ladrazinha. – O Príncipe foi obrigado a responder. Sua voz soou frustrada.  

— A Senhora é hospede dos Stark. Porque a está acusando de ser ladra? – Tyrion refez a perguntou bastante sério.

— Ela está usando o brasão da casa Lannister nas vestes, e claramente ela não é uma Lannister.

Tyrion enrugou a testa para o sobrinho, mas ignorando-o ele voltou-se para Hermione.

— Senhora, diga-me a verdade e ninguém lhe fara mal. Tem minha palavra. Roubou essa capa de alguém do Castelo? – Ele perguntou para ela com delicadeza.

— Não Senhor. – Hermione se apressou a afirmar com veemência.

— Vê Joffrey, ela não roubou – Tyrion falou em tom de quem encerra a questão. O Príncipe fez menção de falar, mas o Anão ignorou sua tentativa e elevou o tom de voz para se sobrepor ao sobrinho – Além disso, posso ver mesmo daqui, que o leão bordado na capa tem um formato diferente do leão Lannister. E acho conveniente lembra-lo sobrinho, que você é um Lannister apenas por parte de mãe e sucederá ao Trono de Ferro como um Baratheon. Ou será que já se esqueceu que o Brasão da casa de seu pai é um veado? Devo pedir a minha querida irmã, para que aumente seu tempo de estudo com seu Meistre? Seria vergonhoso que o Rei não fosse capaz de reconhecer os brasões das cassas que lhe são vassalas.  

O menino ficou branco de fúria, mas ele parecia estar diante de alguém que era capaz de lhe imbuir, se não respeito, pelo menos, algum tipo de medo.  

— Caro Sandor Clegane, faça o favor de escoltar meu sobrinho ao Castelo em segurança, tenho certeza de que ele já está pronto para se recolher junto aos nossos anfitriões Stark – Tyrion falou ao companheiro de cavalgada do Príncipe, que Hermione compreendeu ser uma espécie de guarda.

Mandado para a cama mais cedo e sem jantar, o Príncipe pisou duro em direção de seu Cavalo e tomou nas mãos com brutalidade, as rédeas que lhe eram oferecidas por Sandor. Ele montou e sem olhar para qualquer um deles uma única vez, galopou pela mesma trilha em que viera mais cedo.

Tyrion esperou que o Príncipe e seu Guarda estivessem afastados para se dirigir a Hermione. Ainda montado ele lançou a ela um olhar avaliativo que a contemplou da cabeça aos pés.

Ela só podia imaginar o tipo de visão que estava oferecendo. Completamente exausta, suja e desmazelada, mas se ele achou suas roupas estranhas, ou seu estado suspeito, nada disse.

— Milady é a moça que foi encontrada pelos Stark essa tarde, não é? – Ele perguntou suavemente.

Hermione confirmou com apenas um aceno de cabeça.

Talvez Tyrion tenha se compadecido do estado dela, mas ele não acrescentou qualquer outra pergunta, como seus olhos cheio de curiosidade sugeriam que ele desejava fazer.  

— Espero que possa nos desculpar pelo comportamento de meu Sobrinho – Ele pediu de maneira sincera – Posso lhe garantir que os irmãos dele são príncipes mais dignos.

Hermione estava assustada de mais com a imaginação das diversas coisas que poderiam ter dado errado essa tarde, para conseguir falar algo, e novamente ela apenas balançou a cabeça sinalizando que estava tudo bem.

 - Jyck, por favor, ofereça a Senhora sua capa. Eu ofereceria a minha, mas ficaria tão curta, que as pernas dela congelariam – Ele piscou para Hermione.

Jyck, um Senhor na casa dos sessenta anos, a quem Hermione mal tinha registrado a presença, mas que ainda estava ao seu lado, tirou a própria capa que era infinitamente mais grossa que a dela, e a ofereceu a Hermione.

Ela se debateu sobre o préstimo, por um lado não queria deixar o pobre Senhor de olhos amáveis, despojado de sua própria capa, por outro, ela não achava que pudesse suportar mais um minuto do frio que fazia naquele lugar.

Sem dizer palavra, diante da incerteza que Hermione demostrava, o Senhor sorriu encorajadoramente e ele mesmo colocou a capa sobre os ombros dela com um cuidado quase exagerado.

Hermione sorriu em agradecimento e sentiu os músculos da face doerem como se a muitos e muitos anos não tivessem sido convocados para fazer tal esforço.

— Suponho que não saiba montar – Tyrion afirmou, e não esperando uma reposta – Monte com Jyck, por favor. Faremos nosso retorno a Winterfell mais rapidamente assim.

Tyrion percebeu as dúvidas de Hermione e muito perspicazmente adivinhou a origem.

— Os Stark lhe darão abrigo, tenho certeza. São gente honrada e não deixariam uma moça desabrigada. Será tratada com gentileza.

— Eu não tenho certeza, Senhor, se eles me querem por lá.

— Tenho certeza que a Senhora teria sido recebida muito bem por eles hoje. Eu mesmo sou hospede deles, juntamente com o restante da Família Real, e garanto, não temos queixas. Ocorre que uma tragédia se abateu na família hoje, um dos filhos do Lorde Eddard Stark, sofreu um acidente e a eles estão todos desorientados. Mas quando chegarmos lá, Milady vera que não há com que se preocupar.

Diante da firmeza com que ele falou, Hermione seguiu mancando até o cavalo de Jyck que esperava pacientemente para ser montado, o Senhor a ajudou a subir no animal e logo depois pulou para cima da montaria.

Dessa vez, Hermione foi deixada atrás do Cavaleiro, tendo que se segurar em suas costas para não cair. Ela preferiu assim “neste caso”.

— Lorde Tyrion, não iremos mais passar a noite no bordel? – O terceiro Cavaleiro que tinha se mantido absolutamente calado até então, falou pela primeira vez com um ar de pura decepção resignada.

— Desculpe por estragar sua noite de diversão, Morrec. Mas não é todo dia que temos a oportunidade de exibir nosso nobre espírito cavalheiresco. Vamos escoltar a moça para casa em segurança – Tyrion falou cheio de ironia.  

E com essas palavras ninguém mais ousou protestar e os três homens deram meia volta em suas montarias e retornaram em direção ao Castelo.

Depois de um momento Hermione sentiu que já era capaz de falar novamente.

— Lorde Tyrion – Ela chamou com a garganta aranhada, imitando o tratamento que Morrec usou.

O Anão, que cavalgava a frente dos dois homens retrocedeu e emparelhou sua montaria com Jyck, incentivando-a, com um olhar gentil, a continuar.

— Obrigada por hoje – Ela disse, incerta – Espero não ser a causa de nenhum desconforto com seu sobrinho.

— Oh – Ele respondeu surpreso. Uma expressão de humor inundou seu rosto, como se a ideia o divertisse – Não se preocupe criança. Eu nasci unicamente para trazer problemas a família. Sem mim a casa Lannister seria terrivelmente tediosa. 

Hermione não foi capaz de dizer se ele estava sendo perturbadoramente sincero ou zombando dela.

— Infelizmente, Joffrey tem a beleza de meu irmão Jaime e o gênio de minha irmã Cersei, mas nenhum dos outros encantos da família. Não que nós os Lannister sejamos dotados de muitos deles, mas bom sendo e perspicácia são, ou deveriam ser, nossas características naturais, assim como as dos Stark são a sobriedade e a integridade.  – Ele disse com um suspiro cansado.

O homem falava tão despreocupadamente mal da própria família que Hermione não ousou desacreditar dele.

Tyrion sorriu para ela e continuo bem-humorado.

— Por isso serei muito grato se perdoar meu Sobrinho. Os sacerdotes da Fé*, nos dizem que perdoar os idiotas é uma obrigação dos corações verdadeiramente virtuosos e sensatos.

— Não se preocupe Senhor, já está tudo esquecido – Hermione tranquilizou o homem, mas não mencionou que estava inquieta com a possibilidade de voltar a cruzar com o Príncipe – Mas se o Senhor me permite. Não acho que seja o causador dos problemas da família, parece que está mais para o pacificador.

Tyrion olhou para Hermione por um momento, com uma expressão surpreendentemente séria.

— Tem certeza de que não uma Lannister perdida, Milady? Pois é a perspicácia em pessoa. – Ele falou voltando ao seu ar descontraído.

Depois disso, os dois permaneceram em silencio, mas volta e meia, Hermione podia jurar que Tyrion relanceava olhares curiosos em sua direção.

Cavalgando, o caminho de volta foi percorrido muito mais rapidamente do que quando feito por ela a pé, mesmo assim, eles não foram capazes de sair da mata antes da total escuridão.  

Era estranho como o frio, a fome e a privação de sono, quando ampliadas ao seu máximo, tinham a capacidade de amortecer e até mesmo superar, sentimentos como medo ou desespero.

Mas pela primeira vez em sua vida privilegiada Hermione pode sentir o que a necessidade significava verdadeiramente.

Quando pela segunda vez no dia, ficou diante da Fortaleza de Winterfell, ela respirou aliviada. Cansada de mais até mesmo para se preocupar com seu destino, ela já não se importava se fosse jogada em uma masmorra, com tanto que lá houvesse uma cama, chão ou parede em que se apoiar, e se lhe dessem um cobertor, ela estaria no paraíso.

No pátio vazio e agora iluminado por uma dezena de tochas espalhadas por todo o canto, os três homens desmontaram, e novamente Hermione precisou contar com Jyck para descer do cavalo.

Ela constatou com amargura, que estava quase que no mesmo lugar em que fora deixada para trás, mais cedo. Entretanto, agora ela era uma versão mais cansada e suja de si mesma, e ainda tão ignorante de seu destino quanto antes, a única diferença era que agora, ela não se importava.

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Barulhos secos e muito altos, vindos de algum lugar de fora do Castelo, despertaram Hermione muito antes do que ela pretendia. Desejosa de conseguir voltar a dormir, ela rolou sobre os lençóis e tateou pela cama a procura do travesseiro extra, planejando usá-lo como uma barreira contra a claridade do dia, que amanhecia e se infiltrava mesmo através de suas pálpebras fechadas.

Ela ainda se sentia muito cansada, e culpava a péssima noite de sono inquieto e atormentado por pesadelos angustiantes.

Entretanto, o barulho cadenciado de bastões batendo em balaços, junto aos gritos masculinos animados, eram tão incessantes que ela sabia que seu sossego estava arruinado.

— Vou matar esses garotos por se atreverem a jogar Quadribol a essa hora – Hermione rugiu indignada, jogando o travesseiro extra para longe, e finalmente abrindo os olhos.  Ela gritou em choque... seu pesadelo materializado a sua volta.

A doce ilusão de que toda a maluquice do dia anterior não passasse de um sonho ruim desapareceu, embora a sensação de irrealidade fosse bem vívida.

Não! Ela não estava em sua cama na Torre da Grifinória, ela estava em um pequeno quarto decorado com tapeçarias e mobílias autenticamente medievais.

De fato, Lorde Tyrion Lannister tinha razão, os Stark não a deixaram desamparada e Hermione não precisou temer torna-se uma sem-teto mediévica.

Na noite anterior, ela fora recebida por uma das criadas da família, uma Senhora muito idosa e muito simpática chamada Yve, que a conduzira até a ala do Castelo destinada aos hospedes, onde ela foi acomodada em um aposento só seu.

Era um espaço modesto, com uma cama de casal com dossel, dois criados mudos, uma pequena mesa com duas cadeiras ao lado de uma lareira, tapetes de peles, uma janelinha, e meia dúzia de velas fixadas em um castiçal de prata simples. A única mobília que se beneficiava de algum ornamento, era um grande espelho de corpo inteiro, que ficava apoiado em uma das paredes. Ele tinha uma moldura em ouro inteiramente esculpida com intricados desenhos de flores e folhas, e a superfície de prata polida era ligeiramente fosca.

A rusticidade da mobília e da construção, refletiam a exata imagem de sua época, entretanto, era um deleite se comparadas as perspectivas que assombraram a imaginação de Hermione no retorno da floresta ao Castelo, na noite anterior.

Ela permaneceu deitada, por um momento, tentando controlar a agitação de seu estomago, mas a continuidade do barulho e as discussões ininteligíveis, finalmente ganharam toda a atenção de Hermione, e sua curiosidade venceu suas preocupações.

Ela se levantou, notando que havia dormido com seu uniforme, o pé que ela machucara na noite anterior estava bem melhor.  

Hermione caminhou até a janela do quarto para investigar a origem dos sons.

Sua janela dava para um pátio, um pátio interno, provavelmente de uso particular da Família. Além do pátio, outras construções adjacentes ao Castelo se espalhavam pela propriedade.

Ela precisou de um momento para entender o que estava acontecendo lá em baixo.

Havia dois grupos de homens em lados opostos, e entre eles, dois homens vestidos em couro e cota de malha se rodeavam, cada um deles tinha um escudo e uma espada de madeira e se mediam procurando uma brecha para atacar um ao outro.

Hermione estava prestes a correr para o pátio para intervir, quando um olhar mais atento e sua paixão por livros, lhe advertiu que aquilo poderia não ser uma briga, mas um treino, embora a hostilidade que envolvia os dois homens parecesse legítima.

Novamente em choque, Hermione reconheceu os combatentes. O alto e louro era ninguém menos que o próprio Príncipe Joffrey e o outro era Robb Stark.

Havia uma certa tensão na arena, mas Hermione não era capaz de dizer se em função da luta ou outra coisa. 

Repentinamente, Robb atacou o adversário. O Príncipe acabou fazendo um movimento com o braço que abriu uma brecha entre seu corpo e seu escudo e Robb aproveitou a deixa. Ele vez um movimento com o pulso que mudou a maneira como segurava a espada em pleno movimento, e conseguiu acertar o lado esquerdo de Joffrey. A espada não desceu com muita força, mas produziu o mesmo barulho alto que acordara Hermione. Foi o suficiente para desestabilizar o Príncipe, que quase caiu. Robb não esperou que ele se recuperasse, atacou novamente, mas dessa vez Joffrey conseguiu levantar o escuto a tempo.

Robb recuou e se recompôs, continuou a circular o loiro que parecia estar respirando pesadamente, e demorou para voltar à postura defensiva anterior.

Foi a vez de Joffrey atacar, mas Robb conseguiu com facilidade afastar o golpe, e em seguida, seu braço desceu em um novo ataque ao Príncipe, dessa vez, pegando o ombro direito de Joffrey que não pode se defender e caiu no chão com uma expressão de dor.

Um dos grupos de homens, vestidos com roupas em cor cinca e gibões com desenhos de um lobo, bateram palmas de maneira contida, o outro grupo, no entanto, xingou Robb numa torrente de palavrões. Ele não pareceu se abalar, estava bastante concentrado.

Robb se aproximou do Príncipe, ainda no chão, e estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar, mas Joffrey empurrou a mão dele para longe, suas feições eram um esgar de fúria.

— Já chega – Disse ele, quase aos gritos enquanto se levantava sozinho. - Este é um jogo para crianças. E já estou cansado de dar pancada nos Stark com uma espada de brincar.

— Você levou mais pancada do que deu, Joffrey - disse Robb com a testa franzida para o outro.

Um outro Senhor, deu um passo para dentro da arena de luta, era um homem forte e largo com grandes suíças brancas.

— O que sugere? - Perguntou ele ao Príncipe, quando puxava pensativo as suíças.

— Aço vivo.

— Feito - disparou Robb em resposta.

O Senhor pôs a mão no ombro de Robb, tentando acalmá-lo.

— Aço vivo é demasiado perigoso. Permitirei espadas de torneio, com gumes embotados.

Joffrey não disse nada, mas um homem que Hermione reconheceu como o guarda, Sandor Clegane avançou para a frente do Príncipe.

— Este é o seu Príncipe. Quem é você para lhe dizer que não pode ter um gume na espada, Sor Rodrik?

— Sou o mestre de armas de Winterfell, Clegane, e faria bem se não se esquecesse disto.

— Está aqui para treinar mulheres? - Quis saber o homem queimado.

— Treino cavaleiros - respondeu severamente Sor Rodrik. - Eles terão aço quando estiverem prontos. Quando tiverem idade.

Sandor olhou para Robb.

— Que idade você tem, rapaz?

— Dezessete anos - disse Robb.

— Matei um homem aos doze. E pode ter certeza de que não foi com uma espada sem fio.

Robb se irritava. Ele se virou para Sor Rodrik.

— Deixe-me fazê-lo. Posso vencê-lo.

— Então, vença-o com uma lâmina de torneio - respondeu o Sor.

Joffrey encolheu os ombros.

— Venha ter comigo quando for mais velho, Stark. Se não já for velho demais - soaram gargalhadas vindas do grupo ao lado de Joffrey.

As pragas de Robb ressoaram pelo pátio. O moreno que Hermione reconheceu como Theon Greyjoy agarrou o braço dele a fim de mantê-lo afastado do Príncipe. Sor Rodrik coçou as suíças, consternado, com o rosto pegando fogo.

Joffrey fingiu um bocejo e virou-se para partir da arena de treino com seus homens rindo atrás dele.

Theon manteve Robb preso com mão de ferro até que o Príncipe e sua comitiva se fossem em segurança.

Hermione não pode deixar de sentir ainda mais desprezo pelo jovem loiro, e foi então que ela se lembrou de com quem ele era parecido, Draco Malfoy.

O pátio voltou a se esvaziar a não ser pelos trabalhadores que por ali passavam ocasionalmente.

Hermione achou que já não tinha mais nenhuma desculpa para permanecer escondida no quarto. Chegara a hora de enfrentar o que quer que houvesse do outro lado daquela porta.

Ela despiu seu uniforme, fazendo isso de modo apressado para não ter tempo de pensar muito sobre o significado daquilo. Dobrou as peças e rodopiou no aposento a procura de um lugar para esconde-lo. Acabou guardando-o debaixo do colchão de penas, enquanto rezava a todos os deuses para que não fosse encontrado.

Yve, havia lhe deixado em cima da mesa, um conjunto de vestes novas, com a promessa de que ela ganharia outras em breve.

Era um conjunto de botas, capa de inverno, roupas de baixo de aspecto grosseiro, e - ela gemeu— um vestido longo.

Com uma certa fúria contida, ela enfiou o vestido pela cabeça e amarrou a fita que vinha com ela na cintura. Havia apenas uma coisa que lhe agradava na peça, a manga lhe permitia prender a varinha no braço direito sem chamar a atenção.

Ela decidiu manter seus próprios tênis, que eram muito mais confortáveis que a bota de couro rústico. O vestido era longo o suficiente para esconder o moderno par de calçados.

Não totalmente afeita a perder muito tempo com seu reflexo, dessa vez, Hermione se permitiu se observar no bonito espelho que decorava o quarto.

Ao que tudo indicava, Hermione ainda era Hermione, em seu mundo ou neste, e a garota que devolveu seu olhar no reflexo ainda tinha os cabelos castanhos volumosos, olhos cor de mel e sardas sobre o nariz.

Surpreendentemente, ela não estava um desastre. O vestido, de um tom de azul escuro, tinha uma saia em envase, mangas cumpridas, um decote alto e arredondado, e um corpete que ajustado pela fita lhe caiu bem.

Seu cabelo, porém, era outra história. Totalmente rebelde, ele não combinava com a visão no espelho e ela foi obrigada a trança-lo para domar sua teimosia.

Depois de uma refeição, um banho quente e uma noite de sono, Hermione estava pronta para se importar com seu destino novamente, então respirando fundo várias vezes para se acalmar, ela finalmente saiu porta afora do quarto.

Ao contrário do que sua imaginação fértil tinha criado, do outro lado da porta não havia nenhum guarda esperando para arrastá-la a um calabouço.

Ela caminhou de corredor a corredor desorientada no começo, mas logo foi capaz de se nortear, no fim, os Castelos não era assim tão diferente entre si, e embora Winterfell não fosse tão sofisticado ou tão grande quanto Hogwart, era aconchegante a sua própria maneira. 

Hermione continuou caminhando por alguns corredores se permitindo apreciar os pequenos detalhes da construção e da decoração, quando de repente, se viu em uma sala com paredes cobertas por tapeçarias das mais diversas.

Três delas eram as maiores e ocupavam sozinhas uma única parede. No centro, havia uma com um tecido de fundo dourado, e desenhado em tinta preta, um veado coroado que se empinava nas patas traseiras; embaixo do veado lia-se, “Casa Baratheon”. Do lado direito outra bandeira tinha um fundo branco e no centro a figura de um lobo enorme e cinza e intitulado logo abaixo, “Casa Stark”. A terceira tinha um fundo carmesim com um leão dourado desenhado nela e os dizeres “Casa Lannister” se destacam lindamente no vermelho.

O restante da sala estava igualmente decorado com outras tantas tapeçarias com desenhos e cores diferentes, embora fossem muito menores.

Hermione entendeu então, que se tratavam de brasões de Famílias e ela conseguia identificar uma ou outra dessas figuras nos gibões dos homens, inclusive o próprio leão, ela percebeu, era o exato símbolo do Príncipe Joffrey da casa Lannister, embora se ela não estivesse errada, o Brasão do Rei, era o veado coroado.

Enquanto Hermione observava os muitos símbolos e lemas, seus olhos relancearam por uma tapeçaria em cima da lareira, e ela teria passado batida por ela, não fosse o ponto cardeal que brilhava no canto chamando sua atenção.

Ela se aproximou da tapeçaria com o coração batendo em um ritmo alucinado, porque só uma coisa poderia ter um ponto cardeal... um mapa.

Ela não estava errada, bem acima da tapeçaria lia-se Westeros e Essos, e abaixo dois continentes estavam detalhadamente desenhados com campos, montanhas, lagos e florestas indicadas, assim como o desenho de castelos e nomes intitulando-os.

Winterfell se destacava no centro do que ela percebeu ser a região norte do continente que se chamava Westeros.

Hermione sentiu vertigem ao observar o mapa, os contornos dos continentes, lembravam nitidamente, de seu próprio mundo. Westeros era muito parecida com a própria Grã-Bretanha e Essos lembrava o continente europeu, exceto que aqui e ali, haviam alguns “erros” ocasionais que modificavam uma costa ou outra.

O que aquilo significava? Ela tinha voltado no tempo? Mas seria possível que a Europa tivesse sido geograficamente diferente no passado? Ou esse mapa não era preciso? Será que seu estudo de história trouxa tinha sido tão deficitário, que ela não sabia que em algum momento da história a Grã-Bretanha tinha se chamado Westeros?

A cabeça de Hermione estava dando voltas e ela não conseguia encontrar uma reposta sequer para suas perguntas...

De repente, um rosnado de dar frio na espinha, interrompeu seus devaneios. Não era o som que um cachorro faria, mas era com certeza, animalesco... mais do que isso, era sobrenatural.

Lentamente, ela se virou nos calcanhares sem saber que tipo de coisa a aguardava. O que viu a sua frente a fez gelar.

Um lobo a encarava, ele tinha dentes enormes arreganhados e olhos amarelados apertados em sua direção.

Hermione lutou contra o instinto de sair correndo, ela sabia que um movimento brusco e o animal estaria em sua garganta antes que ela tivesse dados três passos.

O lobo tinha uma pelagem cinzenta e havia alguma coisa nele que Hermione não era capaz de identificar, mas que o tornava diferente de qualquer outro lobo que ela já tivesse visto.

Com o coração na boca, ela tentou pensar no que fazer para se livrar do bicho, mas ele se aproximou dela lentamente, ainda grunhindo daquele jeito ameaçador, e o cérebro de Hermione ficou em branco.

O lobo se aproximou ainda mais, a rodeou e cheirou, mas então, quando ele voltou a ficar na frente dela, sentou nas patas traseira e subitamente parou de rosnar.

Os olhos amarelados e ameaçadores do animal, se abriram e ficaram redondos como pires, ele se tornou repentinamente tão dócil que ela ficou desconcertada com a mudança brusca do lobo.

Um desejo súbito se apoderou de Hermione. Ela se abaixou e vagarosamente e estendeu a mão na direção do animal, ele piscou para ela várias vezes como que pedindo carinho, não parecendo mais poder esperar pelo contato de Hermione o lobo se adiantou de encontro a mão dela, e forçou o corpo contra seu toque.

Sem querer, Hermione se sentiu sorrir para o lobo, e quando sua mão finalmente afundou em seu pelo e ela sentiu a carne quente do lobo vibrando, uma corrente de formigamento trespassou o corpo de Hermione, como se algo no lobo reconhece algo nela e todo o medo desapareceu como num passe de mágica.

Foi a coisa mais estranha que acontecera com ela nesse lugar... até agora.

 - Parece que ele gosta de Milady – Disse uma voz masculina, as costas de Hermione.

Ela se levantou apressada do chão e ficou ligeiramente tonta no processo. O lobo se encostou nela, e Hermione jurou que ele parecia querer ampara-la.

Robb Stark estava com o ombro apoiado no batente do arco de entrada observando Hermione e o lobo.

Ele parecia cansado e tenso, e seus cabelos castanhos avermelhados, estavam ligeiramente úmidos, suas bochechas vermelhas. Hermione notou que ele ainda usava as roubas de couro com que treinara mais cedo no pátio.

— Ele é seu? – Ela perguntou, já sabendo que o lobo era dócil demais para ser um animal selvagens.

— Chama-se Vendo Cinzento – Robb acenou com a cabeça – Foi encontrado há alguns meses no mesmo lago onde encontramos a Senhora. Havia seis crias recém-nascidas, que agora pertencem aos meus irmãos. É um lobo gigante.

Ele falou como se isso esclarecesse alguma coisa para Hermione, embora ela continuasse no escuro, contudo, ela sabia que o lobo não era um animal comum, ela podia sentir isso, e bem, se era tão grande ainda filhote, quando chegasse a faze adulta, seria gigante, certo?

— Então o Senhor tem outros cinco irmãos? – Hermione perguntou curiosa.

— Sim. Há Jon. Milady o conheceu ontem. Ele tem minha idade, dezessete anos.

— São gêmeos? – Hermione o interrompeu sem querer.

— Não. Jon é meu meio irmão. Mesmo pai, mães diferentes – Robb explicou com naturalidade. – Depois de mim, nasceu Sansa, ela tem onze anos, e depois Arya com nove, Bran com sete e Rickon com três.

— É Bran que está machucado, não é? – Hermione perguntou sentindo pesar entristece-la.

— Sim – Robb respondeu repentinamente preocupado.

— E como ele está?

— Passamos a noite com ele. Mas está muito mal. Está desacordado e as próximas horas serão decisivas para saber se ele sobrevivera.

— Eu sinto muito. Há alguma coisa que eu posso fazer?

— Temo que não, Milady. Mas agradeço pela preocupação.

Robb ficou em silencio por um momento, ele parecia mais velho que os seus dezessete anos.

— Milady, não parece ter medo de Vento-Cinzento – Robb afirmou, parecendo desejoso de retornar a conversa sobre assuntos mais leves.

Ele se aproximou do lobo que continuava encostado confortavelmente em Hermione e se abaixo no chão para acaricia-lo. Hermione o imitou, e o lobo fechou os olhos em deleite com quatro mãos para lhe afagar.

— Quando o vi, pensei que fosse um animal selvagem, mas ele se aproximou e de repente ficou tão manso, que percebi que não precisava ter medo. Eu tenho um gato sabe, e seu lobo não é tão diferente assim.

Robb rio alto, parecendo novamente o mesmo jovem descontraído que cavalgara com ela no dia anterior.

— Um gato? – Ele falou com um sorriso preenchendo seus lábios. Ele coçou com gosto atrás da orelha do lobo – Vento Cinzento, a moça que está lhe afagando e de quem você parece gostar tanto, acaba de ofender sua masculinidade.

O lobo pareceu compreender o que o dono dizia, e deu uma cabeçada carinhosa em Hermione, como que protestando contra suas palavras.

Foi a vez de Hermione gargalhar, exceto por Bichento que realmente era diferente dos demais, ela nunca tinha visto qualquer outro animal reagir assim.

— Ora, veja como ele é manhoso. Gosta tanto de carinhos quanto meu gato. – Hermione falou fingindo protestar, enquanto defendia seu posto de vista acariciando Vento Cinzento. 

— Ele é apenas um filhotinho. Adulto ele não será mais tão fofo – Robb advertiu ainda brincando – E é muito esperto também. Deixando as moças bonitas lhe fazer carinho...

Robb pareceu falar sem querer e deixou as palavras morrerem em seus lábios.

Hermione abaixo a cabeça de repente tímida, mas ela podia sentir os olhos de Robb queimando em seu rosto, e ela se ariscou a levantar o olhar.

Ele estava novamente sério, e havia uma força contida nos profundos olhos azuis dele, que faziam Hermione lembrar de Harry, e de sua obstinação, mas em Robb havia algo a mais, algo régio e duro como aço, Hermione estremeceu ao enfrentar aqueles olhos.

Robb foi o primeiro a recuar, ele levantou do chão e estendeu uma mão para ajudar Hermione a fazer o mesmo.

— Venha minha Senhora. Vou lhe apresentar ao resto da Família Stark.


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Notas finais do capítulo

Notas do autor:
*Westeros é um continente onde são professadas no mínimo três tipos de fé.
Os Deuses Antigos da Floresta (espíritos inumeráveis e sem nome): É uma religião original do continente, que mais tarde foi rechaçada pela Fé dos Sete. Nos dias de hoje, é a religião majoritária apenas no Norte e Para Lá da Muralha, embora ainda exista uma minoria dispersa de seguidores no sul do continente.
A Fé dos Sete: É a religião dominante em Westeros. Baseia-se na adoração dos "Os Sete" ou o "Deus Sete-Faces", uma única divindade com sete "aspectos" ou "rostos".
O Deus Afogado: É a religião local do povo das Ilhas de Ferro. É a menos seguida das três religiões principais em Westeros assim como a menos difundida.

*Sobre as idades dos personagens: Para quem leu os livros e também viu o seriado de TV, sabe que os personagens são encarnados por atores mais velhos.
Eu fiz um mix dessas duas mídias na minha história. Assim, alguns personagens estão no meio do caminho, como por exemplo, a geração de Eddard Stark, que está na casa dos trinta anos nos livros, na casa dos cinquenta anos na TV e na minha história na casa dos quarenta anos. Mas, sem nenhuma exceção você pode considerar os atores da série como protagonistas dessa história (a menos que para você, esses personagens tenham outros rostos. Neste caso, fique à vontade. A imaginação é sua)!



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