A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 11
Capítulo 10: O PESO DAS ESCOLHAS.


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, espero que todos estejam seguros. Meus pensamentos estão com vocês nesse período difícil. O Brasil está passando por seu pior momento nessa crise sanitária que afeta o mundo, e queria pedir a todos que se cuidem, por suas vidas, e pelas vidas de quem amam, e por todos os demais. O herói sempre se sacrifica no final da história, talvez tenha chegado a hora de resgatarmos esses valores e sermos nossos próprios heróis. Se você puder, fique em casa e se não puder, saia apenas pelo necessário e mantenha o máximo de distanciamento social possível. Quero todos comigo, até o final!

Voltando a história, tenho plena consciência de que o ultimo capitulo foi enfadonho, por isso, fiz uma modificação. Esse capitulo será menor e espero que mais dinâmico, ainda que mais intimista, e o próximo terá mais ação.

Lembrem-se que essas são minhas primeiras histórias e estou aprendendo a escrever conforme elas avançam.

Boa leitura! E Obrigada por me acompanhar nessa jornada.

PS: Para quem gosta dos Vingadores e do Capitão América, comecei um novo crossover (só porque amo crossovers), chama-se “Coisas Quebradas” com Hermione Granger e Steve Rogers... Vou gostar de ter você por lá.



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Capítulo 10 – O PESO DAS ESCOLHAS.

Em algumas horas, assim que a noite estivesse pronta para ceder seu espaço ao deus sol, a marcha de travessia pelas Gêmeas Frey se iniciaria. E então, logo ali, algumas milhas depois das muralhas do Castelo Sul dos Frey, o futuro da casa Stark seria inevitavelmente testado.

Ela deveria estar dormindo, descansando um pouco para o longo, longo dia que viria a seguir, mas ao invés disso, estava deitada em sua cama de armar, sobre os grossos cobertores, completamente insone.

Ela olhou para a direita, apenas por hábito, e não discerniu a figura de Lady Catelyn, dormindo na cama ao lado, embora pudesse ouvir a respiração ritmada da Senhora ressoar calma e profunda.

Protegida pelo véu da noite, Hermione deslizou o dedo indicador sobre a madeira fria de sua varinha, sentindo os contornos delicados do entalhe em forma de ramas que adornava a haste, e o modo como ela vibrava com seu toque. Ela levantou o objeto em frente aos olhos, muito consciente de que não enxergaria seus detalhes na penumbra. Ainda assim, isso sempre a surpreendia, a escuridão.

Nestas terras esquecidas por Deus, a escuridão da noite era diferente de tudo. Era profunda. Terrivelmente vazia. Solitária. Caia como um manto sufocante, jogando o mundo nas profundezas de um abismo, no qual, todo o tipo de malevolência parecia na iminência de ocorrer.

As noites em Westeros costumavam oprimi-la; apertar sua garganta com uma firme mão de aço; fazer sua ânsia por seu lar crescer ainda mais. Em casa, as noites nunca eram terrivelmente sombrias. Sempre havia o farol de um caro, uma lâmpada na calçada, a janela aberta de um vizinho insone, a derramar sua claridade pela noite adentro, amenizando os recantos desse abismo.

Ela não temia a escuridão, mas temia ficar perdida nela para sempre. Seria assim, sua vida neste lugar? Ela permaneceria como a convidada Stark, até envelhecer? Se tornaria apenas um fardo? Sem realizações próprias? E quanto a todos os seus sonhos? E quanto a sua magia? Se descobrissem seu segredo mais secreto, a odiariam ou a temeriam? Ela conhecia as consequências do medo, do preconceito. Eram terríveis. Isso significava que ela seria obrigada a ficar sozinha com sua verdade? Para sempre sozinha?

Por um momento fugaz, ela considerou a possibilidade de ir deitar-se ao lado da Sra. Catelyn e chorar até que a Senhora a tomasse nos braços e a consolasse; lhe dissesse que tudo ficaria bem, como sua própria mãe teria feito. Mas rapidamente a ideia a deixou, substituída pelo ressentimento.

Lady Catelyn não era sua mãe. Sua mãe jamais a teria vendido por uma ponte. Sua mãe teria lutado por sua liberdade até o fim.

A pressão emaranhada em seu peito cresceu até cobrir todo o seu corpo e esmaga-la por inteiro, como se fosse a mão invisível de um gigante a soterra-la embaixo de escombros.

Casa. Ela precisava voltar para casa! Precisava recuperar sua vida, porque era tudo o que ela tinha, era o lugar ao qual ela pertencia, onde sua existência era livre. Ficar era errado, Westeros era errado... ela estava... tudo estava... totalmente fora do lugar.

Um lampejo cruzou sua mente. Um pensamento. Uma ideia fugaz... tão ridiculamente simples, tão elementar que Hermione se repreendeu duramente por não ter pensado nisso antes. Talvez, voltar para casa fosse fácil..., talvez, ela apenas estivesse com a ideia fixa, de que precisava de uma solução complexa, quando, na verdade, talvez pudesse ser mais prática, mais simplista.

Imediatamente sua mente saltou do medo que a consumia para a séria consideração de todas as implicações para tal possibilidade.

Claro que seria um feitiço muito avançado para seu plano escolar. Mas ela já tinha lido tudo o que havia para ler sobre seus princípios mais fundamentais, ainda que estivesse longe de ter se ariscado com a prática, que exigia tempo e uma supervisão cuidadosa.

Se algo desse errado poderia ser sua morte, ou pior, estaria infringindo uma quantidade infinita de leis. Entretanto, o que mais ela tinha a perder?

Uma pequenina chama de esperança flamejou dentro dela, muito efêmera, capaz de ser pulverizada com o mais tênue e suave sopro dos ventos. Ela tentou mantê-la assim, porque ela precisava disso, necessitava se agarrar e essa nova possibilidade para não desmoronar, para afastar a pressão em seu peito, o nó em sua garganta.

Hermione suspirou profundamente para acalmar o coração galopante. Ela fechou os olhos, e apertou nas mãos o objeto esculpido em videira, buscando a força do dragão, cuja, fibras do coração eram o sustentáculo de poder de sua varinha.

Não foi nada difícil evocar as imagens de sua casa; seu destino era a casinha de dois andares e tijolinhos vermelhos; janelas grandes e porta cinza; sala aconchegante e fotos sobre a lareira; seu quarto; sua poltrona predileta onde costumava se aninhar com livros nas mãos; sua escrivaninha debaixo da janela, manchada aqui e acola com pinguinhos de tinta preta.

Tudo estava tão fresco em sua memória, que ela quase permitiu que a represa de emoções em seu peito se rompesse. Precisou de alguns momentos para se controlar e voltar a se concentrar antes de seguir com o próximo passo.

Enquanto seu destino estava firmemente fixado em sua mente a determinação era mais difícil de alcançar, porque havia o que amar nesse lugar.

As pessoas, elas sempre eram difíceis de abandonar. Ela estava encantada pela ousadia de Arya, uma garotinha a frente de seu tempo, a doçura de Rickon, e havia Bran, e a promessa que ela lhe fizera, e Robb... sobretudo... Robb.

Robb, seus lindos e profundos olhos azuis, e sua generosidade, e seu cavalheirismo. Robb e o respeito que ele tinha pela inteligência dela, e o fato de que ele não se assustava com sua audácia, e principalmente o fato de que ele verdadeiramente a apreciava como a garota que ela era, nem mais e, nem menos.

O salto que seu coração dava, o frio na barriga que ela sentia sob o escrutinou cuidadoso do olhar dele, a felicidade ilimitada experimentada com seus beijos roubados, tudo isso... todo esse conjunto desconjuntado de coisa, não deixava que ela mentisse para si mesma: estava irrevogavelmente apaixonada por ele, ainda que agora ele fosse ser de outro alguém, um alguém sem nome e sem rosto, uma agarota Frey.

Ela não se arrependia de tê-lo instigado a aceitar o acordo, mesmo muito consciente de que um pedido seu teria mudado tudo. Era a coisa certa a se fazer, e qualquer coisa diferente disso seria puro egoísmo. Ainda mais porque, muitas vidas dependiam desse acordo, inclusive, e talvez principalmente, a própria vida dele.

Contudo, estar convencida de que agira corretamente, não amenizava o sofrimento que ela sentia; não diminuía a escuridão profunda que engolfava seu coração ou o vazio que parecia tocar sua alma.

Mas quem ela seria se pedisse Robb para si? A felicidade é tão efêmera quanto o tempo. Um dia, quando o que ele achava que sentia por Hermione diminuísse de ardor – mesmo que ela soubesse que seu próprio ardor nunca diminuiria - ele se perguntaria se tinha valido a pena abrir mão da sua família por ela. E então, ele ainda a amaria? Ou a odiaria pelo sacrifício que lhe fora solicitado? E quanto a própria culpa que ela sentiria? O fardo de tal escolha seria a ruína de qualquer sentimento que nutrissem um pelo outro. Ela o perderia, mesmo se ele fosse seu.

Além disso, ela não era uma Lady vinda de além-mar. Ela mentira para ele, e continuava a mentir. Mentira sobre o lugar ao qual pertencia, sobre sua família, sobre o que era. Ela seria capaz de continuar fingindo ser apenas uma trouxa? E mais importante, ela queria deixar de ser quem era?

O melhor seria voltar para casa. Deixar que o tempo desse a Robb uma chance com a garota Frey. Um dia, Hermione seria uma mera lembrança para ele, talvez até uma lembrança doce, e isso seria bom; teria que bastar; teria que ser o suficiente.

O impacto dessa dura verdade fez a imagem de seu destino se fragmentar um pouco e ela precisou de tempo para recompô-la novamente.

Mas ela estava esquecendo de algo, algo ainda mais importante. Seus pais. Ela os amava, mais do que a quaisquer outras pessoas. Eles deveriam estar igualmente sofrendo por ela. Um dia, eles precisariam dela, se já não estavam precisando. Esse também era seu dever, sua obrigação primeira era com sua família. E havia seus amigos... que eram seus irmãos em tudo, ainda que não tivessem o mesmo sangue. Harry precisava dela, mais agora do que jamais precisou antes... ele não tinha ninguém!

A determinação voltou a pulsar por ela, mais força dessa vez.

De olhos muito bem fechados e com deliberação ela executou o feitiço que deveria conduzi-la a sua primeira aparatação...

Seus ouvidos estalaram alto, e seu estomago ficou bastante rebelde, uma forte tontura girou o mundo ao seu redor. Quando as sensações finalmente se acalmaram ela não teve corregem de abrir os olhos.

Tinha dado certo? Ela estava em casa? Ela respirou fundo, apavorada com as possibilidades. Porque se tivesse conseguido aparatar teria falhado, e se não tivesse, teria falhado ainda mais.

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente ela abriu os olhos e foi recepcionada pela mesma escuridão atemorizante de Westeros.

Nenhum milímetro seu havia se movido. Seus cachos continuavam espalhados sobre o travesseiro. Tudo repousava a sua volta exatamente no mesmo lugar.

Fracassara. A decepção fez seu coração parar de bater por um momento. O nó em sua garganta se apertou finalmente até o limite do tolerável. Seu peito estava tão apertado que ela já não sabia mais como respirar.

E por fim, a represa se rompeu finalmente inundando seu íntimo com um misto de sentimentos confusos e em si contraditórios: raiva e frustação e pesar e medo e alivio e culpa.

Hermione não conseguiu reprimir o soluço que escapou de seus lábios. As lagrimas intrusas escorreram por suas bochechas manchando o travesseiro. Ela chorou silenciosamente. Deixou que as lagrimas caíssem uma a uma. Chorou por ela; pelos seus pais; seus amigos, por Robb...

Depois do que pareceu uma eternidade em que Hermione pensou que não havia mais lagrimas para derramar, ela conseguiu se acalmar.

Sentiu-se tão cansada. Queria adormecer até que o tempo tivesse feito aquela dor dilacerante desaparecer.

— Hermione? – Alguém sussurrou seu nome no escuro. Era Lady Catelyn.

A moça engoliu em seco, sua garganta pegando fogo. Ela sabia muito bem que sua voz estaria embargada pelo choro prolongado. Contudo, não poderia fingir que estava dormindo, não depois de provavelmente ter acordado a Senhora com suas lagrimas.

— Sim? – Finalmente ela conseguiu responder, tremula.

— Nunca terei como lhe agradecer o suficiente. Obrigada – Foi tudo o que ela falou, e Hermione não precisava de esclarecimentos.

Ela sabia, instintivamente, que foram as suas palavras que selaram o acordo com a casa Frey. No fim, foi ela que afastou Robb para sempre.

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Algumas horas depois, o vento estava soprando morno entre os cabelos de Hermione. Distraidamente, ela os prendeu atrás da orelha, enquanto observava os Castelos Gêmeos dos Frey se erguerem contra a paisagem pacifica como uma ameaça silenciosa; uma massa mais enegrecida do que a aurora que começava a despontar no céu.

A ponte levadiça estava baixada, e os portões do Castelo Sul abertos para receber a marcha de travessia prestes a se iniciar. Duas colunas de cavaleiros, lanceiros, arqueiros e soldados a pé, esperavam ligeiramente ansiosos a trombeta de alarme soar.

Estavam prestes a partir e Hermione já não tinha mais justificativas para prorrogar o inevitável. Ela pegou as rédeas com mãos hesitantes e incitou sua montaria a galopar até seu lugar habitual, entre Torrhen e Lady Catelyn, na cabeça da coluna.

A madrugada apenas começava a recuar, e um quarto de lua e algumas poucas estrelas sobre o firmamento, era toda a luz de que dispunham, mas Hermione não precisava de mais do que isso para encontrar Robb no meio da multidão.

Montado em seu corcel, com Vento Cinzento ao seu lado, Sor Stevron Frey e a Sra. Stark a lhe fazer companhia, sua figura se destacava majestosamente dos demais. Vigoroso e esbelto, brilhante, mesmo na escuridão.

A aproximação dela chamou a atenção de Robb. Ele olhou desavisadamente por sobre os ombros, decerto, esperando que o recém-chegado fosse algum general que precisasse de sua atenção, mas ao ver Hermione ele empalideceu sob a luz do luar. Uma miríade de emoções cruzou seu rosto quase sempre impassível, até fixar-se em apenas uma: raiva.

Ela nunca vira esse sentimento tão cru macular a expressão dele, e estar direcionado a ela, roubou seu fôlego. Ela tinha feito alguma coisa errada?

Hermione estremeceu diante do desprezo de Robb e interrompeu o galope, incapaz de se aproximar mais. Lagrimas intrusas marejarem seus olhos, novamente. O que estava acontecendo?

Robb fechou os olhos por um momento, e quando voltou a abri-los seu maxilar estava cerrado com força. Ele voltou sua atenção à Sor Stevron Frey, que tagarelava sem prestar nenhuma atenção a distração de Robb. Discretamente Robb fez um sinal com a cabeça para Lady Catelyn em direção de Hermione. Toda uma comunicação silenciosa aconteceu entre mãe e filho nos segundos seguintes, então, a Senhora deixou seu lugar na coluna, relanceando um olhar alarmado a Sor Stevron antes de apressar sua montaria colina acima ao encontro de Hermione.

— Minha querida – Ela a chamou gentilmente, quando a alcançou – Hoje você deve cavalgar com Lady Mormont, se não se importar.

A Sra. Stark parecia ligeiramente ansiosa ao anunciar o novo arranjo. Novamente relanceando um olhar por sobre os ombros para Robb e Sor Stevron.

Então era isso?! Agora ele tinha uma noiva. Uma garota de alto nascimento que, tendo sido criada no mundo dele, deveria ter todos os predicados que os homens admiravam.

Era obvio que agora ele não iria querer manter por perto alguém como ela: uma garota vinda de lugar nenhum, como sua mãe tão amavelmente o tinha lembrado; sem uma gota de sangue nobre, ou castelos e pontes para oferecer; nenhum pouco atraente; e muito enxerida. Seria esse o motivo para o desprezo dele? Hermione deveria ter previsto isso.

Ótimo! Realmente, Ó-T-I-M-O. Ela também não correria atrás dele como uma adolescente com paixonite. Se ela pensava que, pelo menos, eles manteriam a amizade? Era claro que sim! Mas ela estava enganada, não é?!

Por pura força de vontade as lagrimas em seus olhos secaram antes de cair. Ela não daria a satisfação a ninguém de saber que ele a ferira.

— Infelizmente, hoje não poderei lhe fazer companhia. Devo dar atenção ao Sr. Frey e não quero que você fique sozinha. - Lady Catelyn sentiu a necessidade de se justificar, talvez penalizada pelos olhos fundos e a palidez de Hermione. Ela sabia que a garota tinha passado a noite em claro, chorando.

Droga! Hermione pensou, aborrecida consigo mesma, por não ter engolido o choro na noite passada. Ainda assim, ela pode notar que Lady Catelyn mentia, e era muito ruim nisso. Hermione percebeu.

Por um momento, a moça sentiu raiva da Sra. Stark. Ela e o filho deviam ter feito aquele arranjo horas atrás, confabulando para ignorarem-na como uma boa equipe Stark.

— A Senhora não me deve explicações – Hermione a cortou secamente, se sentindo suficientemente mortificada para se importar com seu tom – Vou procurar a Sra. Mormont, se me der licença. - Ela se afastou antes que pudesse falar algo de que se arrependeria.

Um desejo súbito tomou conta de Hermione. Ela simplesmente queria sair desse lugar. Ir embora. Sozinha. Deixar os Stark para sempre. Poderia usar as moedas que Theon lhe dera. Ela não sabia se era dinheiro suficiente, mas poderia procurar algum Senhor que quisesse uma empregada. Ela podia fazer o mesmo trabalho que Yve desempenhava em Winterfell, até que conseguisse encontrar uma maneira de deixar Westeros para sempre.

A ideia era tentadora, por mais mal formulada que fosse, mas de qualquer modo, ela ainda precisaria atravessar aquela mantida ponte, pois, se pretendia ir embora, queria ficar o mais longe possível da Casa Stark.

Com essa fantasia em mente para impulsiona-la, ela procurou nas bandeiras que flutuavam acima das cabeças dos soldados, pelo brasão de armas em fundo verde com um urso negro da Casa Mormont.

Lady Mormont já ocupava seu lugar na marcha. Foi fácil encontra-la porque ela era a última na fila de Lordes que seguiam atrás de Robb, na coluna principal.

“É claro” – Hermione pensou com amargura, lembrando do pouco respeito que os Nortistas tinham pelas Senhoras Mormont. – “Eles têm vergonha em lutar lado a lado com as mulheres, os bastardos” “Estarei melhor com elas. Com certeza”

— Que bom que Milady nos encontrou – Lady Maege Mormont falou, não sem simpatia, à guisa de um cumprimento, assim que viu Hermione se aproximar. – Lorde Stark me pediu para acompanha-la pela travessia.

Hermione lutou para encobrir a pura indignação renovada ao descobrir a extensão da deslealdade de Robb. E pensar que ela passara a noite chorando por ele, a idiota.

Só gostaria de compreender o porquê dessa mudança tão repentina. Quer dizer, ela sabia que agora, qualquer coisa entre ela e Robb jamais poderia acontecer, mas isso não significava que ela precisava ser tão prontamente ignorada. Ela não era nenhuma garotinha estupida, por amor de Merlin!

A Sra. Mormont indicou com um gesto o lugar que ela deveria ocupar ao lado de sua filha, Lady Dacey que a cumprimentou educadamente com um aceno de cabeça.

Dacey era bastante impressionante, por si mesma. Punha em xeque todos os estereótipos de gênero. Era muito bonita; com aproximadamente vinte anos; tinha longos cabelos negros como a noite, que mantinha preso em uma trança; e olhos azuis e brilhantes que queimavam inteligentemente em um rosto harmonioso; era alta – um metro e oitenta, ou mais – e musculosa como qualquer jovem guerreiro seria; e envergava com segurança uma espada de aço negro que usava com presteza e agilidade no campo de treinamento.

Nesse momento, Hermione queria saber usar uma espada tão bem quanto ela. Estava muito tentada a derrubar Robb sobre a própria bunda.

Talvez ela fizesse isso mesmo! Não precisava de uma espada, afinal...

O aviso soou um segundo depois de Hermione tomar seu lugar, e a procissão se iniciou como um cortejo fúnebre.

A dupla coluna serpenteou pelo portão da gêmea oriental como uma grande serpente de aço deslizando pelo pátio no interior do Castelo.

A fortaleza Frey era construída de blocos de pedras amontoadas sem muita inventividade, mas era robusta o suficiente para fornecer uma sólida proteção contra a invasão.

Um arrepiou trespassou Hermione, conforme a vez dela de adentrar pelos portões do edifício se aproximava. Talvez fosse o cansaço da marcha; talvez fosse seu estado de espirito, mas as construções se erguiam opressoras a sua volta, e foi um alívio quando ela deixou o primeiro Castelo para trás e irrompeu pela ponte.

Atrás dela, os soldados seguiam o cortejo muito silenciosamente, e Hermione se perguntou se eles estavam sentindo o mesmo calafrio incomodo que ela sentia. Mas não era provável, porque eles não tinham os motivos que ela tinha para odiar a presença daquelas feias construções.

Logo embaixo deles, o barulho das águas correndo por debaixo da ponte indicavam a presença do Ramo Verde, rebentando contra as pedras, enchendo o ar com o som da sua da violência.

Enquanto percorriam pela ponte, Hermione evitou olhar para a frente. Embora não estivesse próxima de Robb, o vislumbre dele fazia suas entranhas queimarem de desapontamento.

Mais rápido do que ela supunha, e não tão rápido quanto ela teria gostado, o segundo Castelo se ergueu a sua frente, escondendo momentaneamente a luz do alvorecer. Ela contemplou a monstruosidade negra que se atrevia a se interpor contra a liberdade das duas pessoas que Hermione mais gostava em Westeros.

Ela sentiu uma vontade absurda de puxar a varinha e pôr tudo abaixo, como um gigante destruindo os blocos de montar de uma criança. Mas, ao invés disso ela freou sua montaria, quando as colunas desaceleraram até parar.

Esperando pacientemente no pátio do Castelo, havia um Senhor que parecia ser mais velho do que o próprio tempo. Ele tinha uma aparência frágil, com a pele flácida pendendo de um queixo fraco. Muitos dentes lhe faltavam na boca, mas seus olhos eram surpreendentemente vivos e brilhavam com uma malícia que fez Hermione se horripilar.

A julgar por suas vestes suntuosas, ele deveria ser o Lorde Walder Frey. O Senhor da Travessia. Vassalo da casa de Correrrio.

O velho Senhor, estava apoiado no braço de um homem com a mesma cara de fuinha que o Sor Stevron ostentava, embora fosse alguns anos mais jovem.

Atrás deles havia um rapaz ainda mais novo, montado em um belo cavalo branco. Ele tinha as mesmas feições dos demais homens Frey e parecia ser da mesma idade de Theon. Ele usava armadura completa e uma espada. Trazia consigo uma bagagem amarrada à montaria. Hermione se lembrou que Robb deveria tomar um escudeiro Frey por companhia. Olyvar Frey, se não estava enganada. Devia ser ele.

Robb, Lady Catelyn e Sor Stevron Frey, desmontaram de suas montarias e foram ao encontro do velho Senhor. Hermione pode ver os Stark o cumprimentarem com expressões em branco. Lorde Walter, por sua vez, sustentava um sorriso de escarnio nos lábios, que não agradou a Hermione.

De onde estava, ela conseguia ouvir as vozes dos Stark e dos Frey se misturando na conversa, apenas ligeiramente mais alta, do que som das águas que os cercavam. Ela ficou muito quieta, tentando compreender as palavras trocadas, mas burburinhos e sorrisinhos femininos se interpuseram por sobre o som da conversa, impedindo Hermione de entender qualquer coisa que diziam.

Ela olhou em volta a procura da origem do som, mas Lady Dacey foi mais rápida em localiza-la:

— Ali – Ela indicou a procedência dos barulhinhos, com um certo desprezo - Em frente à porta principal do Castelo.

Hermione seguiu o olhar de Dacey e encontrou a fonte do alvoroço. Logo depois da ponte, e do pátio interno, uma forte fonte de luz se derramava para fora de portas duplas abertas, iluminando as escadas e um pequeno grupo de moças.

Elas estavam se revezando em espiar a reunião de Robb e Walter Frey na entrada do pátio interno. Eram sete ou mais e pareciam bastante empolgadas a julgar pelos cochichos e risinhos que perfuraram a noite silenciosa.

Com um sobressalto, Hermione compreendeu que eram as filhas de Walter Frey. Entre elas, estava a futura Lady de Winterfell e esposa de Robb.

A realização atingiu Hermione com força, suprimindo toda a sua raiva anterior. Ela se viu incapaz de desviar o olhar das meninas.

Elas não estavam tão bem vestidas quanto o pai ou os irmãos, mas suas feições eram irrevogavelmente Freys. Eram todas parecidas entre si: queixos proeminentes, cabelos castanhos escorridos e rostos comuns; nenhuma característica especial que destacasse uma da outra. Eram moças simples, não ostentavam nenhum adorno, não pareciam afetadas ou mimadas, na verdade, eram muito parecidas com a própria Hermione em sua singeleza.

Apesar de sorrirem e cochicharem animadamente, como era compreensível que fizessem diante do futuro noivo, Hermione notou a marca do sofrimento em seus rostos, o que a fez questionar o tipo de vida que levavam neste lugar.

Não pode evitar sentir pena delas. As meninas estavam tão envolvidas na miséria desse acordo quanto Robb... talvez ainda mais do que ele, pois, a elas, provavelmente, não fora dado a oportunidade de recusar.

Hermione estava hipnotizada pela visão das garotas Frey e se perguntou vagamente se Robb também prestava a tenção nelas. Será que Lorde Frey iria apresenta-las a ele? Hoje ele conheceria a futura Senhora por quem ansiar?

A possibilidade machucou Hermione mais do que ela conseguia admitir. Seus olhos se inundaram com as malditas lagrimas de novo.

Ela desviou o olhar com o coração disparado no peito, desejando mais do que tudo, que as lagrimas que caíram sem querer, não fossem vistas por ninguém. Ela só queria sair desse lugar o mais rápido possível.

Depois do que pareceu uma eternidade um novo comando para iniciar a marcha foi dado e Hermione incitou o cavalo com as mãos tremendo sobre as rédeas. Ela se atreveu a olhar brevemente para frente. Não parecia que Robb conheceria sua noiva hoje, mas as tropas ganharam a companhia do rapaz montado no cavalo branco que participara da conversa com os Stark.

Finalmente a coluna voltou a se mover. Hermione limpou as lagrimas das bochechas o mais discretamente que pode. Ainda assim, teve a nítida sensação que Dacey perceber seu pranto silêncio. Contudo, se ela vira, decidiu manter a descoberta apenas para si e Hermione gostou dela ainda mais por isso.

Ela estava se aproximando do pátio com rapidez agora, mas para seu alívio as moças já não estavam mais a vista e o próprio Walter Frey, observava a marcha das tropas de modo desinteressado, passando seus olhos por eles, sem realmente enxerga-los.

Ela cruzou todo o pátio e atravessou a última ponte levadiça para voltar a pisar novamente sobre terra firma.

Foi só quando já estava longe o suficiente das gêmeas, foi que Hermione conseguiu novamente voltar a respirar normalmente, com o coração mais dolorido do que quando começara essa jornada.


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