A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 12
Capítulo 11 - BOSQUE DOS MURMÚRIOS.


Notas iniciais do capítulo

Ah… por essa você não esperava, não é?! Uma atualização assim tão rápido (para os meus padrões)?!

É oficial, eu não consigo fazer capítulos curtos. Esse é mais um longo texto, mas gostei muito dele, e particularmente, penso que é um dos meus melhores trabalhos. Espero que você goste tanto quanto eu.

Há diálogos, trechos e descrições reconhecíveis do livro As Crônicas de Gelo e Fogo: A Guerra dos Tronos. Nenhum deles pertencem a mim. Estou apenas brincando com as ferramentas que o papai e a mamãe esqueceram em cima da mesa.
Quem reconhecer as passagens abaixo, perceberá que os Clãs da Montanha e Shae foram excluídos. Não é um erro. Eles apenas não eram importantes para a história.

Aviso de classificação: contém palavrões e violência, siga em frente apenas se não se importar e tiver a idade apropriada.

Obrigada a todos que leram e comentaram. Vocês são minha garantia de sanidade nesses tempos difíceis.



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Capítulo 11 - BOSQUE DOS MURMÚRIOS.

 

Muito consciente de como devia ser ridículo seu aspecto enquanto se bamboleava morro abaixo, Tyrion Lannister, fez o caminho tortuoso até o pavilhão de Lorde Tywin Lannister, com medidas iguais de admiração e asco.

Seu “estimado” pai, não havia enviado nenhum corvo, nenhum contingente de soldados, sequer um único homem, para escoltar Tyrion em segurança para casa, depois que ele foi libertado de seu cativeiro no Ninho da Águia.

Oh, não! Tyrion teve que atravessar a perigosa Estrada da Altitude, dominada pelos selvagens clãs da montanha e temíveis gatos-das-sombras, além de outros tantos territórios, agora declaradamente inimigos dos Lannister, sozinho.

Verdade seja dita, não fosse por sua expertise – ou como costuma dizer seu irmão Jaime, sua boca grande – teria sido mais seguro permanecer nas celas de Lysa Arryn e Catelyn Stark. Foi apenas sorte encontrar Bronn, um taciturno mercenário que falava muito bem com sua espada, e vendia sua arte para quem pagasse mais, e, bem, Tyrion era um Lannister, então, ninguém podia pagar melhor. 

Se agora ele estava no Tridente, vivo e bem, era graças a sua própria e arriscada jogada de exigir um julgamento por combate – por um crime que ele não tinha cometido, veja só - e o mercenário ao seu lado, que havia aceitado ser seu campeão na disputa.

Entretanto, quem olhasse para o vale lá em baixo, pensaria que Lorde Tywin Lannister, não tinha medido esforços pela vida de seu filho anão, a julgar pelo enorme acampamento que se estendia por quilômetros a fio, cobrindo a terra de Carmesim e Dourado.

Tyrion achou que poderia vomitar. Ainda assim, enquanto atravessava o acampamento, exausto até os ossos da longuíssima jornada, tentou sufocar todo o ressentimento que tinha contra o pai. Uma luta talvez há muito, perdida.

A bandeira da cada Lannister, tremulava acima das demais com orgulho. A tenda ocupada pelo Suserano se destacava facilmente em meio as demais por sua opulência. Seu pai, gostava de exibir seu ouro. Ele dizia que o dinheiro intimidava a todos, punha os pequenos em seu lugar. Contudo, Tyrion pensava que era mesmo, uma forma de esconder alguma “pequena” falha de “caráter”. Ele sorriu maliciosamente com a insinuação sorrateira.

O anão marchou até a tenda do pai. Por onde ele passava, os soldados o reconheciam imediatamente e lhe prestavam um cumprimento respeitoso; e um sorrisinho de deboche às suas costas. Mas Tyrion aprendeu a conviver com isso. Ele não tinha escolha.

Sem esperar que o intendente o anunciasse, ele adentrou no pavilhão, encontrando seu pai sentado ao redor de uma grande mesa de carvalho.

Tywin Lannister, Senhor de Rochedo Casterly e Protetor do Oeste, tinha cinquenta e poucos anos, mas era duro como um homem de vinte. Mesmo sentado, era alto, com pernas longas, ombros largos e barriga lisa. Os braços finos estavam envolvidos por músculos. Os olhos eram verde-claros salpicados de ouro.

Sor Kevan Lannister, o único irmão sobrevivente do pai, partilhava um jarro de cerveja com Lorde Tywin. O tio era corpulento e estava perdendo cabelo, com uma barba amarela cortada curta que seguia a linha do maciço maxilar.

Sor Kevan foi o primeiro a vê-lo.

— Tyrion - disse, surpreso.

— Tio e Senhor meu pai. – Tyrion cumprimento, fazendo uma reverência. - Que prazer encontrá-los aqui.

Lorde Tywin não se mexeu da cadeira, mas lançou ao filho anão, um longo olhar perscrutador.

— Vejo que os rumores sobre seu falecimento eram infundados.

— Lamento desapontá-lo, pai. Não há necessidade de saltar da cadeira e vir me abraçar, não desejo que se canse – Tyrion atravessou a sala até a mesa onde eles estavam, agudamente consciente do modo como as pernas deformadas o faziam oscilar a cada passo. Sempre que os olhos do pai caíam sobre ele, ficava desconfortavelmente consciencioso de todas as suas deformidades e imperfeições. - Foi amável de sua parte ir à guerra por mim - disse, enquanto subia em uma cadeira e se servia de uma taça da cerveja do pai.

— Segundo vejo as coisas, foi você quem começou isto - Respondeu Lorde Tywin. Tyrion não ficou nenhum pouco decepcionado com o pai - Seu irmão Jaime nunca teria se submetido docilmente a ser capturado por uma mulher.

— Esta é uma das coisas em que diferimos, Jaime e eu. Ele também é mais alto, talvez tenha notado.

O pai ignorou o aparte.

— A honra da nossa Casa estava em causa. Não tive alternativa que não fosse ir para a guerra. Ninguém derrama impunemente sangue Lannister.

— E por falar nisso, como anda a sua guerra? – Tyrion perguntou. Seu pai poderia enganar a todos, até mesmo seu tio Kevan, mas ele sabia que Tywin não se importava com a vida do filho anão, era mais por causa do legado da família e toda essa merda. Qual seria o respeito que a casa Lannister receberia, se um de seus membros fosse facilmente sequestrado por outra Família? E, por favor, não esqueçamos das férteis terras adicionais que a vitória garantiria. Tyrion não era nenhum tolo, por mais que seu pai pensasse que sim.

Foi o tio quem respondeu.

— Bastante bem, até aqui. Sor Edmure Tully, irmão de Catelyn, cometeu o erro de espalhar suas forças em pequenas companhias ao longo das fronteiras para parar as nossas incursões, e o Senhor seu pai e eu conseguimos destruir, pouco a pouco, a maior parte antes que conseguissem se reagrupar.

— Seu irmão tem se coberto de glória - disse o pai. – Esmagou os Lordes Vance e Piper no Dente Dourado e defrontou o poderio conjunto dos Tully à sombra das muralhas de Correrrio. Os senhores do Tridente foram postos em fuga. Sor Edmure Tully foi feito cativo, com muitos de seus cavaleiros e vassalos e agora Correrrio está sob o cerco de Jaime.

— Deixando-os sem opção? – Questionou Tyrion, relutantemente impressionado com os avanças do pai. Todavia, ele sempre admitia, que o pai era bom em fazer guerra e ainda melhor com a política.

— Não totalmente - disse Sor Kevan. - Walder Frey põe em ordem seus recrutas nas Gêmeas.

— Não importa - disse Lorde Tywin. - Frey só se põe em campo quando o cheiro da vitória paira no ar, e tudo o que cheira agora é a ruína. Uma vez tomado Correrrio por Jaime, ele dobrada o joelho bastante depressa. A menos que os Stark e os Arryn avancem para nos confrontar, esta guerra está ganha.

— Não me preocuparia muito com os Arryn se estivesse em seu lugar. Lysa Arryn não ajudará a irmã, ouso dizer. Se a afeição que vi entre as duas for alguma indicação. - Informou Tyrion. - Os Stark, por outro lado...

— Robb Stark convocou os vassalos, e marcha com uma tropa forte em volta dele.

— Nenhuma espada é forte até ser temperada - declarou Lorde Tywin. - O rapaz Stark é uma criança verde. Provavelmente mais ousado que sábio. Sem dúvida que gosta bastante do som das trombetas de guerra e de ver suas bandeiras esvoaçarem ao vento, mas, no fim das contas, tudo se resume a trabalho de carniceiro. Duvido que tenha estômago para tanto.

Tyrion lembrou-se do garoto que encontrou em Winterfell. O pai não o conhecia, mas ele tinha visto um olhar de aço no rosto do rapaz que teria agradado muito a Lorde Tywin. Ele poderia fazer esse comentário um dia, quando quisesse ultrajar o Senhor seu pai.

Suas reflexões foram interrompidas por uma entrada abrupta do intendente e de dois soldados. Os homens conduziram com alguma presa, um homem de aspecto comum para dentro da tenda.

— Senhor, Sor Addam mandou que trouxessem esse Batedor a sua presença – O intendente justificou a interrupção.

O recém-chegado, caiu de joelhos perante Lorde Tyrion.

— Senhor, consegui me infiltrar no acampamento Stark e descobri seus números exatos. – Disso o homem com evidente orgulho.

— E não é exatamente esse o seu trabalho? – Lorde Tywin cortou friamente.

— Sim Senhor... vinte... vinte mil homens é o número – O homem gaguejou com a reprimenda - Há mais... as tropas Stark descem pelo talude nesse momento. Não devem estar a mais de um dia e meio de marcha a norte da nossa posição.

Lorde Tywin Lannister não sorriu. Ele nunca sorria, mas Tyrion aprendera a ler o prazer do pai mesmo assim, e ele ali estava, em seu rosto.

— Então o lobinho está deixando a toca para vir brincar entre os leões - disse, numa voz de calma satisfação. - Magnífico.

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Os bosques estavam cheios de murmúrios, sobrepostos sobre as águas agitadas do córrego no fundo do vale. No alto do morro, sob a cobertura da mata, cavalos de guerra relinchavam baixinho e escarvavam o solo úmido e coberto de folhas, e homens trocavam palavras nervosas em vozes segredadas. De quando em quando, se ouvia o tinir de lanças, o leve deslizar metálico da cota de malha, mas até esses sons eram abafados.

— Já não deve demorar – Torrhen sussurrou ali próximo, mais para si do que para os demais.

Os trinta homens ao redor de Hermione e Lady Catelyn, encarregados de mantê-las seguras e levá-las a salvo até Winterfell se a luta corresse mal, pareciam apenas levemente menos nervosos do que às duas mulheres montadas lado a lado, observando o pouco que era possível ver entre as árvores, do vale lá embaixo.

Hermione engoliu em seco, surpresa por ainda ser capaz de permanecer montada apesar do tremor que a sacudia por inteira.

Ela sabia que quando a hora chegasse, isso significaria a morte. Talvez a morte de Torrhen... ou Lady Catelyn, ou a de Robb, ou a sua..., não tinha como saber. Nenhuma vida era certa. A única certeza era que centenas de homens morreriam hoje.

Não pela primeira vez, ela se viu considerando sua decisão anterior de manter sua natureza escondida dos demais. Sua magia poderia fazer a diferença? Ela deveria participar da guerra? Eticamente, Hermione estava comprometida com seus valores. Uma coisa era defender-se de um ataque direto, ou lutar contra Voldemort e bruxos das trevas, mas algo bem diferente era usar magia para atacar trouxas. Isso ia muito aquém do que Hermione acreditava, muito aquém do que ela se imaginava capaz de fazer.

Não importava que os Lannister fossem inimigos, seus exércitos eram formados apenas por homens comuns, obrigados a servir seu Suserano. Eles eram filhos, pais, netos, tios e primos, maridos e namorados de alguém, e que sob certa ótica, lutavam para proteger seus lares, manter suas famílias seguras.

Magia não era uma arma, não deveria ser. Não contra um adversário que não dispunha de uma defesa comparável em poder. Era correto jogar uma bomba atômica contra quem lhe atirasse pedras? Quem ela seria se usasse seu poder para machucar trouxas só porque podia? E, principalmente, em um ataque deliberado?

Seria uma aberração.

Como todo o mundo, ela desejava fervorosamente que todos ficassem bem, afinal, ela estava com medo pelas pessoas que amava. Ainda assim, ela precisava acreditar que todos os homens tinham o direito de lutar por suas vidas, de igual para igual.

Apesar disso, ela não conseguia afastar a sensação de que estava cometendo um erro. O que ela deveria fazer? Apenas uma única bruxa realmente faria a diferença? Sua magia poderia salvar alguém? Estava fazendo a escolha certa, ou estava apenas sendo covarde?

Ela engoliu em seco mais uma vez, sentindo a dúvida a corroer por dentro. Uma prece antiga lhe veio à mente, e ela se viu orando silenciosamente para que os mortos não fossem nenhum dos seus, mas o breve pensamento, a fez sentir nojo de si mesma. Quem era ela para pedir que algumas vidas fossem salvas em detrimento de outras?

Se Hermione já não estivesse lutando para não ter um colapso, poderia ter caído em um pranto desesperado, aqui e agora. Sentia-se completamente perdida no jogo inútil da guerra.

Apenas não o fez em favor de Lady Catelyn, que observava o pouco que era possível do inimigo abaixo, pálida como um fantasma e com olheiras debaixo de olhos fundos, que lhe conferiam um aspecto agourento.

Todo o ressentimento que Hermione tinha sentido pela mulher, tinha sido substituído pela pena. Era incapaz de imaginar o horror, pelo qual, a Senhora deveria estar passando, vendo seu filho marchar para a morte, depois de já ter perdido tanto. Ainda assim, apesar de sua aparência, Lady Catelyn mantinha-se firme sobre a sela, com uma compostura impassível e silenciosa, que Hermione sentiu que devia, pelo menos, tentar imitar.

Ela gostaria de ter tido tempo de perguntar a Robb o que ele pensava sobre a guerra, sobre o massacre que se seguiria. Não como o comandante, mas como o homem que dela participaria. Contudo, ela não tivera essa chance.

Foi obrigada a observa-lo de longe, enquanto, com uma calma estudada, Robb se movia por entre os homens, tocando um no ombro, gracejando com outro, ajudando um terceiro a sossegar um cavalo ansioso, sem qualquer indício de medo visível.

Nos preparativos finais, antes das tropas irem se posicionar atrás do vale, em um ponto cego de onde esperariam até o sinal de ataque ser soado, Hermione nem sequer tivera tempo de se despedir.

Não que Robb tivesse feito qualquer movimento para encontrá-la, pelo contrário, ele permaneceu distante e ignorando sua presença, como se ela tivesse deixado de existir.

E então, tudo aconteceu rapidamente a partir daí. Em um momento, ele estava percorrendo as fileiras com palavras de incentivo aos homens, e no minuto seguinte, seu escudeiro Olyvar Frey, estava lhe entregando o elmo. Todos prontos para partir.

Por uma fração de segundos, Robb lançou um olhar à distância em sua direção, novamente com um misto de raiva e decepção, escurecendo suas feições esculpidas em mármore. E antes que Hermione pudesse se decidir se deveria ou não, ignorar o desapontamento com seu comportamento frio, e cavalgar até ele para reivindicar um último abraço; contar-lhe que ele ocupava seus pensamentos constantemente; exigir que ele voltasse para ela, sã e salvo, Robb já tinha posto o elmo, e no lugar do jovem por quem ela estava profundamente apaixonada, surgiu um cavaleiro, montado no garanhão cinzento, alto e imponente, com uma áurea régia a emanar de sua figura.

Dando-lhe um último olhar, Robb ergueu a espada numa saudação, mas Hermione não teve nem o consolo de saber se a despedida era para ela ou para Lady Catelyn a seu lado, e então, ele deu meia volta com sua montaria e partiu, sem nem mesmo um último adeus.

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Ele era um anão, mas um anão abençoadamente rico, e por causa da sua maldita “sorte”, uma grande e luxuosa tenda tinha sido disponibilizada para seu uso.

Depois do breve e desconsiderado encontro com seu pai, Tyrion marchou para sua barraca, a fim de guerrear com os travesseiros e um saudoso colchão de penas, apesar de o sol ainda estar a pino.

Desde seu aprisionamento no Vale dos Arryn, entre as sangrentas celas inclinadas que se abriam para o vazio de uma queda de 80 metros, o frio a penetrar os ossos, a escassa comida estragada e o carcereiro violento, Tyrion não tinha desfrutado de muito descanso, e ainda menos do conforto, ao qual, estava habituado. E, porra, ele estava cansado.

Além disso, precisava recuperar um pouco das forças se pretendia enfrentar os Stark, quando eles, possivelmente, atacassem o acampamento amanhã. Ele “confiava” integralmente em seu pai para organizar a matança que se seguiria, sem sua ajuda...

Assim que adentrou no espaço fresco da tenda, Tyrion se deitou sobre a cama macia, apenas perdendo tempo para tirar as botas enlameadas, e adormeceu instantaneamente...

... e acordou no que pareceram instantes depois, com toque das trombetas.

Grogue, sentou-se e atirou o cobertor para o lado. As trombetas chamavam tempestuosas e urgentes, um grito que dizia rápido, rápido, rápido.

Ele ouviu gritos, o tinir de lanças, o relinchar de cavalos, embora ainda nada que parecesse luta. Mas era um inconfundível toque de batalha.

Pensava que o Stark ainda estivesse a um dia de marcha. Tyrion pôs-se em pé e abriu caminho para fora da tenda.

Homens e cavalos atravessavam aos tropeções; selas eram apertadas, carroças eram carregadas, fogueiras eram extintas. As trombetas tocaram de novo: rápido, rápido, rápido. Cavaleiros saltavam para cima de corcéis que resfolegavam, e homens de armas afivelavam os cintos de suas espadas enquanto corriam.

Bronn se materializou a sua frente, já vestido e armado, montado em um corcel negro, com um meio elmo amassado na cabeça.

— Sabe o que aconteceu? - Perguntou-lhe Tyrion.

— O rapaz Stark roubou-nos uma marcha - disse Bronn. - Sua tropa está a menos de uma milha a norte daqui, em formação de batalha.

Rápido, gritaram as trombetas, rápido, rápido, rápido.

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Uma ave soltou um grito fraco a distância, um trinado agudo e sonoro que foi como uma mão de gelo na garganta de Hermione. Outra ave respondeu; uma terceira, uma quarta.

— Vêm aí. – Segredou, Lady Catelyn. - Que os deuses nos acompanhem.

No silêncio que se seguiu, ela conseguiu ouvi-los, distantes, mas aproximando-se; os passos de muitos cavalos, o chocalhar das espadas, lanças e armaduras, o murmúrio de vozes humanas, com uma gargalhada aqui, uma praga ali, ouviu mais risos, uma ordem gritada, um cavalo resfolegando, um homem praguejou...

... e, então, o chamamento do corno de guerra de Maege Mormont soou a distância, um longo sopro grave que trovejou pelo vale vindo do Leste.

HAAruuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, veio a resposta da outra cumeada quando Grande-Jon soprou seu corno. Para leste e oeste, as trombetas dos Mallister e dos Frey sopraram vingança. A norte, onde o vale se estreitava e se dobrava como um cotovelo erguido, os cornos de guerra de Lorde Karstark adicionaram suas vozes profundas e fúnebres àquele coro sombrio.

Vento Cinzento uivou. O som pareceu atravessar Hermione, que deu por si tremendo. Era um som terrível, um som assustador, mas também havia música nele. Sentiu piedade pelos Lannister lá embaixo. Então é assim que soa a morte, pensou.

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Tyrion se esforçou para ser rápido, ou o mais rápido que lhe era possível, com seu corpo atrofiado. Ainda assim, sentiu como se estivesse se arrastando.

De volta a tenda, procurou num frenesi por sua armadura. Ele era o dono de uma bela armadura de placa pesada, habilmente manufaturada para se ajustar ao seu corpo pequeno... uma beleza de trabalho que estava protegida em Rochedo Casterly, ele lembrou.

Tyrion gritou de frustração. Teria que se arranjar com peças avulsas que conseguisse encontrar no armeiro. Ele se bamboleou para lá, de novo sentindo-se uma lesma em meio ao caos de soldados a sua volta.

Na altura em que conseguiu se armar com um afiado machado, usando uma camisa e touca de cota de malha, o gorjal de um cavaleiro morto, grevas e manoplas articuladas e botas pontiagudas de aço, tudo, ou muito grande, ou muito pequeno, a trompete de guerra estava soando novamente à distância; uma profunda nota fúnebre que gelava a alma.

Mas novamente, Tyrion teve que se admirar, ainda que de modo relutante. Com menos de uma hora de aviso, seu pai havia conseguido colocar o exército em formação. Era um feito impressionante, mas lá estavam as tropas desabrochando como uma rosa de ferro, com os espinhos a raiar.

O tio de Tyrion, liderava o centro. Seus arqueiros dispuseram-se em três longas linhas, para leste e para oeste da estrada, de onde se esperava o ataque principal, e ali estavam calmamente encordoando os arcos. Entre eles, lanceiros formavam quadrados; atrás estava fileira após fileira de homens de armas com lanças, espadas e machados. Trezentos cavalos pesados rodeavam Sor Kevan e os Senhores vassalos Lefford, Lydden e Serrett, com todos os seus subordinados.

A ala direita era toda de cavalaria, cerca de quatro mil homens, carregados com o peso de suas armaduras. Estavam ali mais de três quartos dos cavaleiros, agrupados como um grande punho revestido de aço. Sor Addam Marbrand tinha o comando. Tyrion viu seu estandarte desenrolar-se quando seu porta-estandartes o sacudiu.

O Senhor seu pai tomou posição no exército de reserva; uma força enorme, metade montada, metade a pé, de cinco mil homens. Lorde Tywin escolhia quase sempre comandar a reserva, observando a distância o desenrolar da batalha e enviando suas forças quando, e para onde eram mais necessárias.

Tyrion conseguia agora ouvir o rufar dos tambores do inimigo. Recordou-se de Robb Stark como o vira pela última vez, sentado no cadeirão do pai no Grande Salão de Winterfell, com uma espada nua brilhando nas mãos.

Recordou-se de como os lobos selvagens tinham saltado sobre ele vindos das sombras, e de repente voltou a vê-los, rosnando e abocanhando, com os dentes descobertos na frente do seu rosto. Traria o rapaz os lobos consigo para a guerra? A ideia o deixou perturbado.

De repente, Sor Gregor esbravejou brandindo apenas com uma mão, uma espada longa imensa, impossível de ser utilizada por qualquer outro homem dos Sete Reinos. Não que Sor Gregor se enquadrasse nessa categoria. Estava mais para uma besta das mitologias. Tinha facilmente mais de dois metros e meio, músculos que pareciam membros de auroques e olhos frios e assassinos que gostavam de crueldade. Ele era o líder da vanguarda, e Tyrion lutaria sob seu comando.

As tropas de Gregor se posicionaram à esquerda do córrego. Para flanqueá-los, os Stark precisariam de cavalos capazes de correr sobre a água. Tyrion acompanhou os homens para a margem do rio.

— Aquele rio é nosso. – Gregor gritou aos homens - Aconteça o que acontecer, mantenham-se perto da água. Não a percam nunca de vista. Impeçam o inimigo de se interpor entre nós e o nosso rio. Se eles conspurcarem nossas águas, arranquem seus membros e alimentem os peixes com eles. Se algum dos nossos pensar em fugir, eu mesmo o encontrarei e matarei.

Tyrion fez o corcel descrever um círculo para observar o terreno. Ali, era ondulado e irregular; mole e lamacento. Não era um terreno fácil de manter.

Seu coração batia no peito em uníssono com os tambores, e sentia a testa fria de suor sob as camadas de couro e aço.

Bronn, ao seu lado, desembainhou a espada, e de repente, o inimigo surgiu à frente deles, avançando a passo medido por trás de um muro de escudos e lanças.

“Malditos sejam os deuses, olha para todos eles”, pensou Tyrion, embora soubesse que o pai tinha mais homens no terreno. Seus capitães os lideravam montados em cavalos-de-batalha revestidos de armadura, com os porta-estandartes transportando as bandeiras a seu lado. Vislumbrou o alce macho dos Hornwood, o sol raiado dos Karstark, o machado de batalha de Lorde Cerwyn e o punho revestido de malha dos Glover... e as torres gêmeas de Frey, azuis em fundo cinza. Lá se ia à certeza do pai de que Lorde Walder nada faria. Podia ver-se o branco da Casa Stark por todo o lado, com os lobos gigantes cinzentos parecendo correr e saltar à medida que os estandartes iam se revirando e agitando no topo dos grandes mastros. Onde está o rapaz? Interrogou-se Tyrion.

Uma trompa de guerra soou. Haruuuuuuuuuuuuu, gritou, com uma voz tão longa, grave e arrepiante como um vento frio vindo do Norte. As trombetas dos Lannister responderam-lhe, da-DA da-DA da-DAAAAAAA, um som de bronze e desafio, mas a Tyrion pareceu, que de algum modo, soavam menores, mais ansiosas. Sentia uma agitação nas entranhas, uma sensação de náusea líquida; esperava que não fosse morrer enjoado.

Quando as trombetas se calaram, um silvo encheu o ar; uma vasta nuvem de setas subiu em arco, à direita de Tyrion, de onde os arqueiros flanqueavam a estrada. Os nortenhos desataram a correr, gritando enquanto se aproximavam, mas as setas dos Lannister caíram sobre eles como chuva, centenas de setas, milhares; e os gritos de guerra iam se transformando em gritos de dor à medida que os homens tropeçavam e caíam. Então já uma segunda nuvem estava no ar, e os arqueiros colocavam uma terceira seta nas cordas de seus arcos.

As trombetas gritaram de novo, da-DAAA da-DAAA da-DA da- DA da-DAAAAAAAA.

Sor Gregor brandiu sua enorme espada e berrou uma ordem, e um milhar de outras vozes responderam aos gritos. Tyrion esporeou o cavalo, acrescentando mais uma voz à cacofonia, e a vanguarda avançou.

— O rio! - Gritou a seus homens enquanto avançavam.

Então, o inimigo já havia caído sobre ele, e a batalha de Tyrion minguou para os poucos centímetros de terreno que rodeavam seu cavalo.

Um homem de armas lançou uma estocada contra seu peito, mas seu machado saltou, afastando a lança. O homem recuou dançando, para outra tentativa, mas Tyrion esporeou o cavalo, fazendo-o passar por cima dele.

Uma lança de arremesso precipitou-se sobre Tyrion, vinda da esquerda, e alojou-se em seu escudo com um tunc de madeira. Ele virou-se e lançou-se em perseguição do atirador, mas o homem ergueu o escudo sobre a cabeça. Tyrion fez chover golpes de machado sobre a madeira, movendo-se em círculos em redor do homem. Lascas de carvalho saltaram e partiram voando, até que o nortenho perdeu o equilíbrio e escorregou, caindo de costas sob o escudo. Encontrava-se abaixo do alcance do machado de Tyrion, e desmontar era incômodo demais, de modo que o deixou ali e foi atrás de outro homem.

A batalhe se seguiu pelo que parecem horas a fio. Tyrion lutou com todo o vigor de que dispunha, acertando inimigo após inimigo que se interpusesse em seu caminho. Seu pai, jamais poderia dizer que Tyrion não tinha coragem de enfrentar seus inimigos com a mesma determinação de um homem maior.

Mas ainda era um anão, apesar de tudo. Um nortenho vindo sabe-se deuses de onde, se interpôs em seu caminho com uma ferocidade assustadora. Era alto e seco, com uma longa camisa de cota e manoplas articuladas de aço, mas perdera o elmo e corria-lhe sangue sobre os olhos, vindo de uma ferida na testa. Tyrion lançou um golpe na cara dele, mas o homem alto o afastou.

— Anão - gritou. - Morre - virou-se em círculo, enquanto Tyrion o rodeava montado no cavalo, lançando contra ele, um milhar de golpes na cabeça e nos ombros. Aço ressoava contra aço, e Tyrion depressa percebeu que o homem alto era mais rápido e mais forte do que ele. Onde, nos sete infernos, estava Bronn?

— Morre - grunhiu o homem novamente, atacando-o furiosamente. Tyrion quase não conseguiu erguer o escudo a tempo, e a madeira pareceu explodir para dentro com a força do golpe. Os estilhaços do escudo penetraram seu braço causando um choque torturante de dor.

— Morre! - Berrou o espadachim, avançando e dando uma pancada tão forte nas têmporas de Tyrion que lhe deixou a cabeça ressoando. A lâmina fez um hediondo som de arranhar quando o homem a puxou. O homem alto deu um último sorriso antes que Tyrion conseguisse enterrar o machado em sua cabeça.

— Morre você - disse-lhe, e foi o que ele fez.

As trombetas voltaram a soar, Tyrion olhou em volta horrorizado com a possibilidade de uma nova tropa cair sobre eles, mas era Lorde Tywin enviando a reserva para o flanco esquerdo.

Tyrion observou o pai, que passou por ele a grande velocidade, com o estandarte de carmim e ouro dos Lannister ondulando sobre sua cabeça enquanto trovejava pelo campo afora. Rodeavam-no quinhentos cavaleiros, com a luz do sol arrancando relâmpagos das pontas de suas lanças.

Os restos das linhas dos Stark estilhaçaram-se como vidro sob o poder daquela carga.

E tão rápido quanto começou, tudo pareceu terminar.

Tyrion desmoronou sobre a sela do cavalo, arfando e tremendo, com o braço a latejar de dor, mal acreditando que tinha saído vivo de sua primeira batalha.

— Uma bela vitória - disse Sor Kevan trotando ao seu encontro - Você lutou bem! Tywin retrocedeu para junto do filho a tempo de ouvir o elogio do irmão. Tyrion fitou o pai observando a sua reação. Os olhos verde-claros manchados de dourado o olharam de volta, tão frios que lhe deu arrepios.

— Isso o surpreendeu, pai? - Perguntou. - Estragou seus planos? Eu deveria ter sido massacrado, não é verdade?

Lorde Tywin não negou, apenas continuou olhando para o filho sem expressão no rosto.

— Não foi uma batalha muito difícil. – O pai latiu, arrasando o orgulho de Tyrion com uma facilidade desconcertante - Os batedores se enganaram. Havia dois mil homens Stark e não vinte mil.

Aquilo pegou Tyrion de surpresa. Depois de todo o esforço em batalha, tinha a sensação de ter enfrentado uma tropa trinta vezes maior.

— Pelo menos, pegamos o garoto Stark? – Tyrion perguntou, incapaz de esconder a decepção.

— Ele não estava aqui – Informou Sor Kevan.

Tyrion franziu a testa para a revelação, confuso. Não acreditava que Lorde Eddard Stark, famoso por sua honra, já tivesse gerado um filho covarde. Alguma coisa estava errada.

— E onde está? – Perguntou.

— Com seus outros dezoito mil homens, avançando sobre o cerco de Jaime – Foi Lorde Tywin quem respondeu dessa vez, com um misto de raiva e respeito relutante, brilhando em seus olhos sempre frios.

“Um rapaz verde”, Tyrion recordou as palavras do pai. “Provavelmente mais ousado que sábio”. Teria soltado uma gargalhada, se não doesse tanto.

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Do alto do morro em que a comitiva aguardava, era impossível ver tudo o que acontecia lá embaixo. Hermione conseguia ter apenas vislumbres do Castelo de Correrrio e da confusão da batalha, mas era impossível distinguir os inimigos em meio a luta desesperada. Tudo o que ela tinha para orienta-la, eram os sons que viajavam até eles.

A sua volta, o bosque estremeceu com o barulho de cascos de cavalo; botas de ferro chapinhando em água pouco profunda; o som de espadas batendo em escudos de carvalho e o raspar de aço contra aço; os silvos das setas; o trovejar dos tambores; os gritos aterradores de mil cavalos. Homens berravam pragas e suplicavam por misericórdia, e a recebiam (ou não), e sobreviviam (ou morriam). As vertentes pareciam fazer truques estranhos com o som. Uma vez, ouviu a voz de Robb, tão claramente como se estivesse em pé a seu lado, gritando "A mim! A mim!". E ouviu seu lobo gigante, rosnando e rugindo, escutou o estalar daqueles longos dentes, o rasgar da carne, gritos de medo e de dor tanto de homem como de cavalo. Haveria apenas um lobo? Era difícil dizer com certeza.

Pouco a pouco, os sons diminuíram e desapareceram. Quando o crepúsculo surgiu no Leste, Vento Cinzento começou de novo a uivar.

Esse parecia o fim! Eles tinham ganhado? Correrrio estava livre do cerco de Jaime Lannister? Robb estava lá embaixo caminhando livremente entre os soldados? Ou usava algemas nas mãos? Ainda estaria vivo?

As possibilidades encheram Hermione de ansiedade, e ela aguardou ansiosamente pelo mensageiro que deveria avisa-los em caso de o exército nortista ter perdido, e eles precisassem partir para Winterfell.

Cada resfolegar de cavalo, cada raspar de folha no chão, fazia Hermione prender a respiração em expectativa. Ela olhou para Torrhen montado ao seu lado. Ele parecia tão ansioso quanto ela estava.

E, então, subitamente, a barulho agourento de gritos de guerra rasgaram o relativo silêncio que havia se imposto apouco. As suas costas, uma pequena tropa de soldados caia sobre eles. Lannister...

Tudo aconteceu num ápice. Num fôlego só eles atacaram, e trinta soldados Stark, puxaram suas armas bem a tempo de enfrentar os inimigos que acatavam pela retaguarda.

Os Lannister se derramavam no cume do morro como um rio estrondoso desaguando sobre eles. Todos a pé, soltando gritos de guerra que fizeram o sangue de Hermione congelar.

Os segundos seguintes foram uma confusão sangrenta. O som de aço batendo em acho, explodiu em cima de sua cabeça, quando Torrhen aparou um poderoso golpe de espada desferido contra ele, pelo único soldado Lannister montado.

Lá estava ele, lutando contra Torrhen a poucos metros de distância de Hermione. Ninguém menos e ninguém mais. Ele não usava elmo, e seus cabelos dourados brilhavam quase tanto quanto sua armadura. Apesar de Hermione tê-lo visto apenas de longe em Winterfell algumas vezes, não havia como confundir Sor Jaime Lannister com mais ninguém.

Se houvesse uma versão em carne e osso para todos os príncipes encantados das histórias infantis, esse seria Sor Jaime. Cada traço do seu rosto másculo e elegante era marcado por uma beleza etérea, divina, e ninguém mais tinha olhos verdes tão belos e terríveis, que olhavam de volta com promessas de perigo. Lembrava-lhe Joffrey, lembrava-lhe Lúcios Malfoy.

Hermione saiu do transe de choque no qual se encontrava, quando um grito feminino a atravessou. Lady Catelyn estava cercada por cinco homens a pé que tentavam arranca-la de cima de sua montaria.

Sem dispensar nenhuma consideração a ideia, Hermione virou seu próprio cavalo em direção deles e galopou a toda para cima dos homens, milagrosamente, dispersando-os, no mesmo momento, em que soldados Stark surgiram em seu auxílio, para seu absoluto alívio.

Os soldados cercaram Lady Catelyn e a levaram para longe, mas na confusão da batalha Hermione ficou para trás.

De súbito, ela se viu rodeada pela luta, mal conseguindo distinguir os aliados dos inimigos. Rapidamente ela estava ficando rodeada de corpos, em uma repetição de escala gigantesca, da carnificina que ocorrera na Mata dos Lobos em Winterfell, que agora, parecia ter ocorrido um século atrás.

Como se não bastasse, sua montaria estava muito assustada com toda a confusão, e o medo estava deixando o cavalo incontrolável. Ele se debatia como se tentasse expulsa-la da sela. Até que ele disparou por entre as árvores, afastando-se da luta com Hermione presa a ele, em pânico.

As cordas das rédeas estavam queimando as mãos dela, com a força com que o animal fazia para soltar-se do seu do controle. De repente, ele se empinou nas patas traseiras e jogou Hermione para fora da sela. Ela caiu desajeitadamente no chão, justamente embaixo das patas dele, que pisoteava o solo com a força de um animal de quinhentos quilos.

Mãos fortes a puxaram com rapidez para longe do animal, antes que ele pudesse machuca-la para valer.

Tonta, com a cabeça latejando e tremendo compulsivamente, Hermione conseguiu se pôr de pé, meio que por sua própria força de vontade e meio ajudada pelo estranho, que.

Quando ela conseguiu se endireitar e levantar a cabeça para agradecer ao homem pela ajuda, quase foi ao chão novamente. Jaime Lannister estava na sua frente, com uma expressão homicida que desfigurava seu rosto; sua armadura dourada estava coberta de sangue que não era dele.

O primeiro impulso de Hermione foi recuar para longe. Mas ela ficou completamente paralisada. Incapaz de reagir, incapaz de fugir. Os dois, sozinhos na floresta, se encararam por um momento apavorante.

Estranhamente, ele também não se moveu. Não deu nenhum passo em sua direção. Apenas ficou lá, observando-a com a testa franzida.

Hermione deixou que a varinha escorregasse para sua mão. Defender-se não era o mesmo que atacar. Ela podia usar magia para defender sua vida, até mesmo sendo menor de idade, até mesmo contra um trouxa.

As lições de combate aprendidas na Armada de Dumbledore, lhe vieram à mente como se Harry estivesse ao seu lado na Sala Precisa, sussurrando as instruções para o duelo.

Ela separou os pés, se colou ligeiramente de lado para que a mão dominante tivesse um alcance maior, depositou um pouco mais de peso na perna direita para manter o equilíbrio, e se concentrou no feitiço que usaria.

Ele só precisava ataca-la, só levantar sua lâmina, sua grande e pesada espada, coberta de sangue, e então, Hermione o estuporaria.

O feitiço já cantava em sua mente, pronto para ser usado. As pontas de seus dedos formigaram com o fluxo da magia que se formava no local.

Entretanto, tudo o que Jaime Lannister fez, foi deixar o braço da espada cair. Ele olhou para ela curioso, pendendo a cabeça para um lado. Seu olhar recaiu sobre a varinha, apontada para seu peito e um sorriso debochado levantou um canto de seus lábios.

— Corra, Hermione – A voz de Torrhen preencheu o silêncio entre ela e Jaime Lannister.

O rapaz surgiu atrás do inimigo, com a espada em punho.

Jaime piscou um olho para ela, como se pedisse que ela fosse uma boa menina e esperasse por sua vez. O maldito sorriso debochado ainda brilhava em sua face. Ele se virou para enfrentar Torrhen.

O nortista era alguns centímetros mais alto e ligeiramente mais musculoso, mas quando o Lannister o atacou, seu corpo esguio e menor se moveu com graça e leveza, como se ele estivesse dançando e não tentando acabar com a vida de um homem.

Torrhen conseguiu se defender do primeiro golpe, prendendo a espada do inimigo, e por um segundo, Hermione chegou mesmo a pensar, que Torrhen era capaz de derrotar Sor Jaime. Então, o loiro soltou a espada com facilidade e ficou claro que a perícia dele com a lamina era infinitamente superior.

Na verdade, ele era muito superior a qualquer homem que Hermione já tinha visto lutar no pátio de treinamento. A espada de Jaime parecia fazer parte de seu braço; seus movimentos eram fluidos e orgânicos; seu ataque muito rápido; e praticamente nunca precisou se defender. Era Torrhen quem estava cem por cento do tempo na defensiva.

Foi assustador assistir aos segundos seguintes; dois guerreiros dançando um ou redor do outro, chocando suas espadas em movimentos ligeiros e Torrhen sempre atrasado um segundo ou dois, sob grande pressão.

Inesperadamente, o Lannister mudou o ataque de horizontal para vertical, enganando totalmente as defesas de Torrhen. Sua lâmina riscou o ar, e por um segundo inteiro, pareceu que, pela primeira vez, ele tinha errado o golpe.

Então, o mundo desacelerou para Hermione, e por um milésimo de segundos, até mesmo Jaime olhou surpreso para o adversário, deixando a lâmina pender frouxa na mão.

Um risco de lado a lado na garante de Torrhen se manchou de rubro, primeiro como se um pequeno arranhão tivesse maculado sua pele, depois um fluxo assustador de sangue começou a verter descontroladamente, levando Torrhen a cair no chão, com uma expressão de choque.

Jaime olhou para o inimigo tombado com triunfo.

Um calor inesperado tomou conta de Hermione, um sentimento de raiva acendeu nela, e se espalhou por seu corpo como uma onda que crescia e crescia, grande até rebentar em sua mente e apagar seus pensamentos. A onda a cegou

Antes que ela se dessa conta do que fazia, antes de perceber, pensar, sentir, seu braço estava levantado, apontando sua varinha para Jaime, e antes mesmo que as palavras em voz alta tivessem saído da sua boca, o feitiço se derramou de sua varinha, atingindo o homem que estudava Torrhen a seus pés.

O loiro foi lançado metros à frente, para longe do amigo dela. A cabeça descoberta dele fez um barulho nauseante quando bateu com força contra uma árvore. Ele escorreu pelo tronco e caiu como um boneco de pano no chão. Inconsciente ou morto.

No entanto, Hermione mal prestou a atenção nele, enquanto corria até Torrhen, caindo de joelhos ao seu lado.

Ele ainda estava consciente, seus olhos olhavam turvos para ela, em choque. Ele gorgolejava. O sangue que escorria de seu pescoço já tinha inundado sua túnica, se espalhado embaixo dele, e na pouca luz da mata fechada, parecia um poço escuro se abrindo para leva-lo embora.

Ele conseguiu focar em Hermione, e havia desespero em sua face, havia medo, um medo que ela não conhecia, que nunca tinha visto nos olhos de ninguém.

— Vai ficar tudo bem! – Ela assegurou num sussurro débil, com as mãos tremendo tanto, que mal conseguia segurar a varinha.

A mente dela passou por uma série de feitiços, chocantemente, poucos deles eficazes para curar. Havia muitas poções, é claro. Estranhamente, Snape tinha sido mais diligente em ensinar-lhes uma porção grande delas. Mas esse era um recurso que ela não dispunha no momento.

O som horripilante que o sangue de Torrhen fazia ao sair do corte, estava tornando impossível para Hermione se concentrar.

Ele buscou a mão dela, mas não tinha força suficiente, e seus dedos apenas esbarram em seu braço. Ainda assim, ela entendeu seu pedido, e tomou as mãos dele entre as suas.

Ele fechou os olhos, e por um momento, ela temeu que ele tivesse morrido, mas seu peito ainda subia e descia, só que a cada segundo mais tropegamente. Torrhen desmaiou e não havia mais tempo para pensar, apenas para agir.

Cuidadosamente, ela levantou o queixo dele para expor o corte. Vertia tanto sangue que fazia seu estômago revirar. Ela elegeu essa emergência como a número um.

Hermione respirou fundo, tentando afastar o abismo de medo que tinha congelado seu cérebro. E, então, ela se lembrou que conhecia um feitiço para estancar pequenos sangramentos. Ela sacudiu a varinha inserta se o “Estanque Sangria” seria o suficiente por causa da extensão do ferimento. Milagrosamente, assombrosamente, o fluxo contínuo de sangue, cessou. Se provisória ou permanentemente, ela não sabia.

Ela precisava avaliar o tamanho do corte para realmente decidir o que fazer a seguir, mas havia tanto sangue....

Ela limpou a ferida com um “Tergeo” e prendeu a respiração quando foi capaz de ver o ferimento por completo. Havia um talo com mais de quinze sentimentos, quase de uma orelha a outra. Um risco tão fino, que provavelmente, apenas a ponta da espada tinha rompido a pele, mas ainda assim, fundo o suficiente para ser preocupante em virtude do local, a julgar por todo o sangue que ele já tinha perdido.

“Episkey” era bom para fechar pequenos cortes, ela lembrou, era tudo o que ela tinha no momento, então teria que servir.

Hermione aplicou o feitiço correndo a ponta da varinha pela linha sangrenta na garganta do rapaz. O corte foi se fechando lentamente, mais devagar do que deveria. Não era o feitiço adequado. Mas, pelo menos, uma fina camada de pele uniu a ferida deixando para trás apenas uma linha avermelhada.

Ela observou atentamente o peito de Torrhen, torcendo para que os minutos em que seu cérebro congelou, não tivessem custado a vida dele. Seu peito desceu, e ela prendeu a respiração esperando os próximos segundos como se fossem uma eternidade, até que a caixa torácica dele voltou a subir.

O problema é que ele estava preocupantemente pálido e ainda desacordado, o que não era uma coisa boa, especialmente depois de perder tanto sangue. Hermione não podia garantir que o ferimento não voltasse a se romper, considerando que essa não era a abordagem magica correta para lidar com uma lesão dessa magnitude.

A vida dele ainda não estava inteiramente salva. Era apenas uma frágil solução. Isso sem mencionar uma possível infecção.

Mas ela se permitiu respirar profundamente, apenas para ouvir o barulho de homens correndo pela mata, vindo em sua direção.

O impulso fez Hermione pular no lugar, se colocando entre Torrhen e quem quer que estivesse vindo, mas foi Sor Rodrik que surgiu por entre as árvores, liderando um grupo de soldados Stark. Ela escondeu apressadamente a varinha na manga das vestes.

Os homens olharam confusos para a cena na floresta, até descobrirem Torrhen caído no chão, e se adiantaram a passos rápidos até eles.

Hermione congelou no lugar. Eles não podiam ver a frágil linha vermelha que cobria a garganta de Torrhen, que somado a todo o sangue, não faria sentindo algum. Ela precisaria ser rápida agora.

Se ajoelhando ao lado dele novamente, Hermione rasgou uma barra das anáguas ainda limpas de seu vestido, tirando uma tira de fora e fora, sem saber como estava fazendo suas mãos trabalharem, com todo o tremor que a sacudia da cabeça aos pés.

Desajeitadamente, ela conseguiu amarrar a faixa de tecido no pescoço dele, para encobrir o ferimento recém curado.

Quando os homens os alcançaram, ela já estava fazendo um nó na faixa para mantê-la apertada no pescoço de Torrhen.

Sor Rodrik se abaixo ao lado deles.

— O que aconteceu? – Ele dementou em choque.

— Fomos atacados – Esclareceu Hermione, apontando para o Lannister ainda inconsciente no chão. – Ele feriu Torrhen, mas Torrhen conseguiu derruba-lo antes de desmaiar.

Sor Rodrik olhou com espanto para o jovem, e levou a mão até a atadura.

— Não – Hermione repreendeu alarmada. Ela contorceu as mãos ansiosamente – Consegui com muito trabalho fazer o sangue estancar. Não tire a amara senão pode abrir a ferida novamente.

— Como todo esse sangue é um milagre que ele ainda esteja vivo – O Senhor contemplou o jovem guerreiro, como se não conseguisse acreditar no que seus olhos lhe mostravam.

— Mas que filho da puta – Alguém gritou atrás deles. Desviando a atenção de Sor Rodrik do misterioso golpe de sorte de Torrhen - É Jaime Lannister.

— Ele ainda respira? – O velho Senhor questionou, enquanto se aproximava dos soldados que cercavam o loiro.

— Se ainda estiver, podemos tratar de resolver o problema – disse um dos homens.

— Ninguém toca nele. Esse monte de merda sulista, vale mais vivo do que morto e é agora nosso refém. Amarrem-no e o levem até Lady Stark – ordenou Sor Rodrik. – Busquem também, uma das carroças de transporte dos feridos para o filho de Lorde Karstark e o levem ao Castelo.

Ela se voltou para o Sor em completa agonia, recordando com brusquidão, o motivo para estarem nessa situação, em primeiro lugar.

— Para o castelo? Isso significa que...

— Sim. Lorde Stark conseguiu, o filho da mãe – O Senhor lhe apaziguou com um sorriso orgulhoso – A batalha terminou. Correrrio é nosso.

— E Robb, ele? – Hermione engoliu em seco, não conseguiu terminar. A ansiedade apertava seu estômago em um nó dolorido.

— Não tenho notícias dele, Senhora – Sor Rodrik informou com uma expressão inicialmente apreensiva e depois orgulhosa – Mas ele ficara satisfeito com a captura do Lannister. Por um momento, no campo de batalha, pensávamos que o bastardo tinha conseguido escapar, mas, surpreendentemente, ele não fugiu, como o covarde que jugávamos que fosse. Pelo menos por isso, podemos lhe agradecer.

Hermione concordou com um aceno de cabeça distante, enquanto observava os homens jogarem, sem qualquer cerimônia, um inconsciente Jaime em cima do cavalo que o transportaria até o Castelo Tully.

Ela nunca tinha julgado que o Lannister fosse um covarde, nem quando o vira em Winterfell e muito menos agora. Ela reconhecia a coragem e a audácia quando se deparava com elas.

Pela pura força da teimosia, Hermione insistiu em acompanhar o transporte de Torrhen. Ela precisava garantir que ninguém mexesse em seu curativo improvisado. De modo que, mesmo desgostoso, Sor Rodrik permitiu que Hermione esperasse com dois guardas pela remoção do rapaz. Mas ele não ficou feliz. Segundo o velho Cavaleiro, ainda havia riscos de soldados fugitivos atacarem e ele queria todos dentro das muralhas o mais rápido possível.

Já era noite quando finalmente uma carroça apareceu entre as árvores. Os soldados se apresaram em colocar um Torrhen ainda preocupantemente inconsciente, sobre o veículo. Hermione se encolheu em agonia, enquanto observava atentamente, os movimentos desleixados dos soldados ao lidar com o corpo dele. Cada chacoalhar fazia seus nervos esticarem ainda mais, com o medo de que a frágil cicatrização da ferida se rompesse.

A viagem até o Castelo de Correrrio, pareceu durar uma eternidade. Hermione nem sequer conseguiu admirar a estrutura que se erguia a sua frente. Seus olhos estavam pregados em todo o caos e a destruição que circundava o terreno.

Para todo o lugar em que se olhava, se via mortos. Corpos mutilados, destruídos, amontoados sobre à terra que deixou de ser marrom para se tornar rubra.

Em meio a lama, a sujeira, o sangue e a noite, era impossível distinguir nas armaduras dos soldados, os brasões das casas; as cores cinzas ou carmesim que distinguiriam amigos de inimigos. Só havia pessoas lá... pessoas demais.

Os sons que se levantavam do campo, eram ainda piores. Faziam seu corpo permanecer arrepiado. Eram gemidos de dor dos feridos, suplicas daqueles à beira da morte e desespero dos amigos e familiares.

Ela tentou descer da carroça para ajudar, mas os guardas não permitiram. Eles tinham ordens expressas para leva-la imediatamente para o Castelo.

Hermione não pode evitar as lagrimas que caíram silenciosas por seu rosto. Ela se sentia um lixo. Culpada por ainda estar viva enquanto pessoas mais corajosas jaziam mortas.

A ponte levadiça estava baixada e os portões estavam abertos. Muitas carroças entravam e saiam dos campos para a Fortaleza, transportando os feridos e os mortos. Dentro das muralhas, todos os prédios abrigavam pessoas sendo atendidas com diferentes níveis de lesões.

Mas uma vez, Hermione expressou a intenção de parar para ajudar, mas era incitada a continuar em direção ao Castelo, pelo eficiente soldado que a seguia de perto, não permitindo que ela se desviasse de seu destino nem por um segundo. Ela não se impediu de lançar um olhar irritado na direção do homem, mas ele apenas lhe pediu desculpas gentilmente, antes de obriga-la a continuar.

Quando se aproximaram das portas duplas do Palácio, um intendente parou o soldado, solicitando a identificação deles.

— Tenho ordens para escoltar Lady Granger até a Fortaleza. – Respondeu o soldado, com um tom de orgulho indisfarçado.

— Oh, sim Lady Granger – O intendente se voltou para ela com uma reverência. – Fui instruído por Lady Catelyn a levá-la até um dos aposentos, se não precisar de um Meistre.

— Não preciso. Mas, e quanto a Lorde Torrhen Karstark? – Hermione se virou ligeiramente para permitir que o intendente visse o rapaz que estava sendo carregado, agora em uma maca, logo atrás dela.

— Ele deve ficar no pátio com os demais – O intendente informou de modo distante.

— Aqui? Ao relento – Ela questionou criticamente.

— Não temos espaço para todos na enfermaria – O outro respondeu, tento a decência de baixar a cabeça com humildade diante do olhar frio que Hermione lhe lançou.

— Levem-no para o aposento que seria designado a mim – Hermione ordenou imperiosamente, ignorando completamente o olhar questionador do intendente. Ela não tinha nenhuma autoridade para fazer tal exigência, é claro, mas voaria feliz em um maldito hipogrifo antes de permitir que Torrhen fosse jogado em um frio chão de pedra, apenas com o céu sob a cabeça, depois de ele ter lutado contra o melhor espadachim de Westeros para protege-la.

O intendente parecia disposto a recusar, mas Hermione fechou o rosto em uma careta mordaz e ele pareceu pensar melhor, dando em seguida, um aceno para os soldados que carregavam a maca de Torrhen, para que o acompanhassem.

Hermione os seguiu de perto, olhando a toda a volta à procura de Robb, Theon e Lady Catelyn. Havia muitas pessoas circulando pelos aposentos e corredores, muitos deles com suprimentos médicos e jarros de água ou comida. Ela localizou vários Lordes Nortistas entrando e saindo de aposentos, ou se dirigindo ao Grande Salão, mas nenhum deles era Robb. Ela tentou muito não entrar em pânico com a aparente ausência dele, ainda assim, caminhou logo atrás dos soldados sentindo-se amortecida, como se não andasse sob os próprios pés.

Hermione não prestou a menor atenção ao caminho que fizeram, só sabia que haviam subido por muitas escadas e atravessado diversos corredores, mas, de repente, a comitiva parou em frente a uma porta dupla de carvalho.

O Intendente abriu a passagem que revelou um amplo quarto, iluminado e decorado com mais sofisticação do que Hermione estava acostumada em Winterfell.

Torrhen foi depositado na grande cama de dossel que ficava de frente para um conjunto de portas que se abriam para uma sacada espaçosa. Um dos soldados colocou cuidadosamente a espada do jovem Karstark ao lado de sua cabeceira.

Hermione se adiantou para fechar as portas da sacada e impedir que a brisa da noite deixasse o quarto gelado.

— Traga o Meistre o mais rápido possível – Hermione pediu ao intendente – E também o Sr. Karstark.

— Sim, Senhora – Dessa vez, o homem concordou sem titubear. – Mas temo que o Meistre possa demorar. Há muitos feridos.

Hermione concordou com um aceno de cabeça. Ela mesma tinha visto o caos lá fora. Mal registou a saída dos soldados, perdida em pensamentos.

Torrhen continuava desacordado e ainda usava sua pesada armadura coberta de sangue. Hesitante, Hermione se aproximou da cama, para alivia-lo das botas enlameadas e das pesadas placas de aço sobre seu peito.

Metodicamente, ela soltou cada uma das manoplas, e sozinha para lidar com um homem com mais de um metro e oitenta, ela sofreu para retirar todas as peças de sua armadura. Na altura em que finalmente terminou, estava ofegante e dolorida.

Não muito tempo depois, a porta do aposento foi empurrada com uma certa violência, Hermione pulou no lugar achando, que de algum modo, os Lannister tivessem se reagrupado e tomado o Castelo de assalto, mas era apenas Lorde Karstark mais agitado do que o normal.

O homem com toda a sua aparência selvagem, com toda a sua altura e toda a sua ferocidade, empalideceu e quase desmoronou quando viu o filho deitado sobre os lençóis.

Sem registrar a presença de Hermione, o Sr. Richard caminhou cambaleante até a cama e se ajoelhou ao lado da cabeceira, passando as mãos pelos cabelos do rapaz ainda empastados com seu sangue.

— Meu filho... meu filho – Ele chamou por Torrhen. Seu desespero fez algo se partir dentro dela.

— Ele ficara bem, Lorde Karstark – Hermione o tranquilizou aos sussurros – Perdeu um bocado de sangue, mas acredito que será capaz de se recuperar. Estamos esperando pelo Meistre.

O Senhor piscou para Hermione, reconhecendo sua presença pela primeira vez.

— O que aconteceu? – Ele perguntou procurando os ferimentos no corpo de Torrhen com gestos cuidadosos.

— Ele lutou contra Sor Jaime Lannister. – Hermione explicou.

— O que disse? – O Senhor parou abruptamente sua procura por ferimentos e olhou para ela com olhos arregalados.

— Um pequeno grupo de soldados Lannisters liderados por Sor Jaime, atacou nossa comitiva no sopé do morro. Ele lutou com Torrhen e conseguiu atingi-lo na garganta, mas Torrhen o pegou antes de perder a consciência. Ele capturou Sor Jaime Lannister sozinho – Hermione mentiu. Nunca poderia contar a verdade. Era melhor que todos pensassem que fora Torrhen. Ele certamente merecia a honra, por ter se colocado entra ela e o perigo, sem pensar duas vezes.

O Sr. Richard voltou a olhar para o filho com olhos marejados. O orgulho estampado em cada linha de suas feições cansadas.

— Vou eu mesmo buscar o Meistre. Arrasto o homem pela corrente até aqui, se for necessário – Ele pulou de pé e saiu da sala antes que ela conseguisse impedi-lo.

Hermione sentiu a ansiedade atingir seus níveis mais altos. O Meistre iria remover a bandagem, ele veria a fina linha avermelhada do corte recém-fechado e saberia que não poderia ter se curado tão rapidamente de modo natural.

Era seu fim. Todos saberiam que ela era uma bruxa. Ela estava perdida... antes que conseguisse pensar em qualquer salvação, as portas foram novamente escancaradas, e Lorde Karstark praticamente estava obrigando o Meistre a entrar no aposento, apenas com a força de sua presença.

O homem, na casa dos cinquenta anos e com cabelos já pintalgados de branco, olhou de esguelha para o Sr. Richard enraivecido, mas caminhou rapidamente até a cama do adoentado. Ele jogou as cobertas para longe de Torrhen sem muita delicadeza, e o examinou de modo precário.

— Onde está a ferida? – Ele perguntou um tanto secamente para o pai de Torrhen.

— Foi no pescoço, Senhor. Eu estava com ele quando aconteceu – Hermione se apresou em explicar vendo o olhar indignado que o Lorde lançou para o Meistre – Foi um corte fino de mais ou menos vinte centímetros de comprimento. Não foi muito profundo. Pressionei a ferida até estancar o sangue e então limpei o melhor que pude e enfaixei. – Hermione tentou fazer parecer que o ferimento não passava de um aranhão.

— A bandagem está limpa o que sugere que o sangue foi estancado. Se não há sangramento, não tem com o que se preocupar – O Meistre voltou a cobrir Torrhen e deu as costas a cama.

— Mas ele está desacordado! – Lorde Richard esbravejou perplexo com a indiferença do outro.

— Ele deve ter batido a cabeça com um pouco de força quando foi atingido – O homem voltou a examinar Torrhen, com uma certa impaciência. – Quantas horas faz que ele está assim?

— Umas duas, mais ou menos – Hermione respondeu.

— Vamos observar como ele reage. Deve responder em breve. Se não o fizer dentro de mais algumas horas, então, mandem me chamar novamente.

— Mas você não vai fazer nada? – Exigiu Lorde Karstark

— Meu Senhor, tenho soldados com as tripas para fora; tenho membros pendurados por um filete de osso; tenho amputações para fazer; tenho crânios cujas, cérebros estão totalmente expostos. No momento, um rapaz jovem e saudável, que está respirando bem e cuja única ferida nem suja a bandagem de sangue, não é minha principal preocupação. Fiquem de olho nele. Se não responder em algumas horas, mandem me chamar. - O Meistre esbravejou furioso, mas não perdeu o olhar assassino de Lorde Richard e suspirou cansado - Não se preocupe, meu Senhor. Ele ficara bem. Seu rapaz teve sorte. - Ele conclui com mais delicadeza dessa vez.

Hermione mal podia acreditar em sua sorte. De repente, ela sentiu toda a exaustão do dia cair sobre ela.

— Milady, agradeço por ter ficado com meu filho. Por ter atendido ele assim que se feriu.

— Não se preocupe, Lorde Karstark. E se me permitir, quero ficar de vigia por ele. Se quiser ir descansar. Eu o mandou chamar se houver uma mudança.

O Senhor olhou avaliativamente para ela por um momento, então concordou com um aceno de cabeça.

— Na verdade, eu agradeceria por esse favor imensamente. Tenho que participar de um concílio agora, e ficaria mais tranquilo, se soubesse que ele está em mãos de quem se importa.

— Então, vá sossegado – Hermione informou – Cuidarei dele o melhor que puder. - Volto mais tarde – Lorde Karstark se despediu com um meio sorriso e saiu da sala com passos rápidos.

Quando ele já estava longe, foi que Hermione percebeu que tinha esquecido de perguntar por Robb e pelos demais. Por um momento, ela ponderou se deveria sair dos aposentos e procurar por ele, ela mesma. Contudo, havia feito uma promessa ao pai de Torrhen, e não quis arriscar de estar longe, caso o amigo precisasse dela.

Ela estava exausta, como se tivesse lutado no campo de batalha. Hermione se arrastou para um divã próximo à cama, e tirou o calçado para se deitar. Seu corpo está tão dolorido que ela demorou para encontrar uma posição que conseguisse suportar.

Ela não pretendia dormir, queria apenas descansar um pouco. Ela se concentrou em observar a respiração de Torrhen, atenda a qualquer mudança. Sobre a meia luz das velas e da lareira acessa, foi um pouco difícil manter os olhos abertos, mas lá estava o movimento de descer e subir que o peito dele fazia calmamente, e ela o acompanhou atentamente... subir e descer... subir e descer...descer e subir...

Ela não pretendia dormir, mas tinha caído no sono em algum momento, porque despertou subitamente, ao sentir um vento gelado penetrar seus ossos.

Hermione olhou em volta a procura da origem do frio. O quarto estava consideravelmente mais escuro, porque muitas velas tinham ardido até consumir-se por inteiro. Mesmo assim, ela conseguiu descobrir de onde a perturbação vinha.

As portas da sacada estavam ligeiramente abertas. Uma fresta fazia as cortinas se agitarem. Alguém tinha aberto a porta. Mas, exceto por ela e Torrhen, que ainda repousava tranquilamente sem nenhum sinal de ter se movido, o quarto permanecia vazio.

O mais silenciosamente que pode, Hermione caminhou cautelosamente em direção da sacada, e com mãos tremulas afastou as cortinas e empurrou uma das portas.

De costas para ela, com os cotovelos apoiados no peitoril, Robb olhava distraidamente para o horizonte a sua frente.

Lá embaixo, Hermione conseguia ouvir o barulho dos dois rios que se cruzavam no ponto onde o Castelo tinha sido construído, criando artificialmente uma espécie de ilha, sobre a qual a Fortaleza fora construída.

Hermione fechou as portas com cuidado, para impedir que o frio chegasse a Torrhen, mas não pode evitar, que ela mesma, estremecesse com o vento gélido que sobrava fortemente ali.

Robb se virou para ela com preocupação evidente em sua face.

Finalmente ela o encontrou, depois de um dia mais do que terrível. Hermione o perscrutou avaliativamente a procura de ferimentos. Seu rosto estava manchado de fuligem e terra, mas não tinha nenhum machucado a vista. Ele parecia cansado e mais velho, além dos seus dezessete anos. Seus olhos estavam vorazes e brilhavam com uma emoção que Hermione não foi capaz de identificar. Ela continuou com sua busca meticulosa, passando os olhos por suas mãos e braços agora cobertos apenas pela camisa branca simples que ele usava embaixo da armadura, até que ela viu...

“O meu deus, não. Primeiro Torrhen e agora Robb? Por favor, não” – Ela orou silenciosamente, sentindo o desespero alcança-la mais uma vez.

...o lado esquerdo do abdômen dele estava coberto de sangue.

Toda raiva e desapontamento que ela tinha sentido pelo tratamento frio que recebera dele desde as Gêmeas, desapareceu. Evaporou como se nunca tivesse existido.

Em choque, ela caminhou tremula em sua direção, estendendo as mãos entorpecidas para tocar a camisa um pouco cima da mancha apavorante. O sangue estava ligeiramente seco, e já estava frio sobre o tecido.

— Não é meu – Robb sussurrou ao notar o horror nos olhos dela – É de Dacey. Eu a ajudei a chegar ao Castelo. Ela ficara bem – Ele se apresou em esclarecer.

Por uma fração de segundos eles ficaram em silêncio, os olhos dele perfurando os dela com intensidade. Então, Hermione não soube quem se moveu primeiro, mas antes que se dessa conta, ela estava nos braços dele, chorando e tremendo compulsivamente.

Ele cheirava a aço, sangue e suor, mas era ridiculamente reconfortante.

Ela se apertou contra ele com força, enterrando a cabeça em seu peito, tentando ouvir seu coração para se certificar que ele ainda batia absolutamente.

Robb a envolveu em seus braços, retribuindo o abraço com o mesmo calor. Ele soltou um suspiro de alívio contra seus cabelos.

— Não queria acorda-la, sinto muito por isso. Mas precisava me certificar de que você estava bem. Estive tão preocupado – Robb segredou, a apertando ainda mais contra si. - Quando Sor Rodrik me contou o que houve no morro com Jaime, precisei de todo o alto controle que tenho, para não abandonar a reunião e procura-la imediatamente. Só fiquei mais tranquilo, quando Lorde Karstark me contou que você já estava no Castelo, cuidando de Torrhen.

— Você estava em reunião? – Hermione perguntou com a cabeça enterrada embaixo do queixo dele, vigiando seu coração bater cadenciado sobre o peito.

— Pelas últimas quatro horas. Assim que a batalha terminou, tivemos que tomar uma série de decisões. – Ele contou. Uma de suas mãos veio acariciar os cabelos de Hermione com amabilidade. – Tem certeza de que está bem? Ele não tocou em você? O Lannister não te machucou?

— Não. Ele nem tentou – Hermione admitiu, considerando apenas vagamente, que Sor Jaime teve tempo de sobra para ataca-la antes da chegada de Torrhen, mas não fez nenhum movimento nesse sentido. Inferno, ele tinha até mesmo a salvado de ser esmagada pelo próprio cavalo.

— Tenho muito o que agradecer a Torrhen. – Robb sussurrou, depositando um beijo casto no topo de sua cabeça.

Eles ficarem em silêncio por um momento, apenas aproveitando a companhia um do outro. Os braços fortes dele eram protetores e a mão que ainda acariciava seus cabelos, varia lentamente toda a ansiedade, angustia e medo, que atormentaram Hermione nas últimas horas.

Mas depois de um momento, ela foi tomando consciência de como ela conseguia sentir cada partezinha do tórax quente dele e seus músculos ondulantes, pressionando seu corpo, num contato íntimo, abrasador.

Ela se desvencilhou dele cuidadosamente. Ele tinha uma noiva agora, e esse tipo de coisa entre os dois não podia mais acontecer, sob pena de machuca-los ainda mais.

Robb permitiu que ela saísse de seus braços sem oferecer resistência. Hermione imitou a pose anterior dele, apoiando-se no parapeito da sacada. Robb foi ficar ao lado dela.

Lá embaixo, a fortaleza ainda estava em plena atividade. Dava para ver as pessoas se movendo de um lugar para o outro, iluminadas brevemente pelas tochas que carregavam. Vários pontinhos de luz movendo-se pela escuridão.

Robb fez um gesto para pegar a mão de Hermione que repousava sobre o parapeito, mas ela se encolheu para longe dele.

— O que foi? – Ele perguntou, dessa vez, visivelmente ferido pela distância que ela estava impondo.

Hermione desviou o olhar da atividade lá embaixo e se concentrou nele. Seus olhos azuis estavam queimando com uma dor que pegou Hermione de surpresa. Ela quase pegou as mãos dele entre as suas para conforta-lo. Mas se conteve.

Agora que se certificara de que ele estava bem e inteiro, a mágoa que sentiu com sua frieza anterior, voltou com força contra ela.

— Eu é que deveria fazer essa pergunta – Ela murmurou.

Robb ficou em silêncio por um momento, perdido em pensamentos.

— Me desculpe – Ele falou depois de um tempo, desviando do olhar dela. Ele voltou a contemplar o horizonte escurecido – Tive que te afastar de Lorde Walter e seu filho Stevron. Todos os Lordes Nortenhos conhecem sua história. Eles sabem que encontramos você e que acolhemos você em nosso lar, e estão bem com isso. Podem ter feito objeções no início, mas agora parecem aceitar melhor sua presença na campanha. Eles respeitam você. Mas os Frey, eles não a conhecem. Não sabem nada sobre suas circunstâncias e não queria que eles tivessem um pensamento errado sobre nossa... proximidade. Isso poderia criar dúvidas sobre o acordo e colocar tudo a perder. Mas principalmente, não quero que eles pensem que você não é digna do respeito que cabe a uma Lady. Foi por isso que considerei que o melhor, naquele momento, e com o acordo ainda recém estabelecido, seria mantê-la protegida dos olhos deles.

Hermione não sabia o que exatamente estava esperando que ele lhe dissesse, mas com certeza não era isso. Ela sentiu-se tola por não ter pensado nisso antes. Fazia sentido. Mas não explicava toda a raiva e nem a frieza que ele lhe dispensara, desde as Gêmeas.

— É apenas isso? – Ela insistiu voltando a procurar os olhos dele, em busca de desvendar todo o enigma que era Robb Stark.

Ele suspirou derrotado, também voltando seu olhar para ela.

— Não – Ele admitiu amargamente - Talvez eu tenha sido um pouco infantil. Percebo isso agora. Mas, céus... fiquei tão chateado com você.

— Chateado comigo? – Hermione levantou uma sobrancelha em descrença. O que ela tinha feito para ele, a não ser pensar em seu bem-estar e na sua família?

Ele voltou a suspirar, pesaroso dessa vez

— É claro que não deveria... quero dizer... eu fiz uma suposição errada... não é culpa sua que eu tenha confundido as coisas.

— O que você supôs? – Hermione pressionou, incapaz de tolerar uma pergunta sem resposta completa.  

— Eu – Ele fez uma pausa passando a mão pela nuca com um olhar ligeiramente inseguro em sua direção – Supus que você gostasse de mim. Que meus sentimentos eram recíprocos.

— O que o fez pensar que não são? – Ela se ouviu perguntando, antes que conseguisse se impedir. Um tremor, que não tinha nada a ver com o frio, se infiltrou em sua pele, ela se sentia perto de cometer um erro, mas incapaz de parar.

Robb piscou confuso, incrédulo. Hermione teve que conter um bufo de impaciência.

— Mas você abriu mão tão rapidamente... tão facilmente disso? – Ele fez um gesto entre os dois.

— Você pensa que eu facilmente abri mão?

— Suas palavras na tenda aquela noite... eu pensei que nosso tempo juntos não tinha passado de uma diversão para você.

Hermione se afastou dele sentindo a indignação correr através de seu sistema. Ligeiramente brava com a incapacidade de compreensão dele.

— E o que você esperava que eu fizesse, exatamente? – Ela questionou, colocando as mãos nos quadris com raiva.

Robb também deu as costas ao peitoril encarando ela com consternação evidente.

— Eu não sei! Esperava que nos gostássemos o suficiente para... lutarmos por nós. – Ele revelou, num misto de constrangimento e incerteza.

— Como você pode ser tão estúpido? – Ela vociferou para ele, esquecendo totalmente que Torrhen jazia ferido ali próximo.

Um breve olhar de choque cruzou as feições de Robb. Muito possivelmente ninguém, nenhuma mulher, pelo menos, já o havia chamado de estúpido. Ele ficou pálido.

Hermione continuou:

— Você é a única coisa boa que tenho nesse lugar – Ela esbravejou, sem realmente racionalizar sobre suas palavras, só deixando que seus pensamentos saíssem num fluxo. - Você acha que eu abriria mão do homem pelo qual estou apaixonada, por nada?

Hermione congelou no lugar quando se deu conta do que estava admitindo. Merda, ela tinha feito a coisa idiota toda.

Suas palavras deixaram Robb pregado no chão. Ele ficou paralisado, mas seu olhar se encheu com uma emoção crua que deixou Hermione sem folego. O silêncio dele, porém, acabou com ela.

Ela o viu engolir em seco e cerrar o maxilar com força. Aquela raiva de outrora, voltando a macular as feições dele. Foi como um soco em seu estômago.

— Está vendo? – Hermione questionou agora mal levantando a voz em um sussurro. – Você está com raiva de mim de novo e eu não sei porque.

— Acha que estou com raiva de você? – Robb sibilou irritado. – Deus Hermione, tem certeza de que sou eu, o estúpido? Estou com raiva de toda essa maldita situação. Preciso ganhar uma guerra; preciso proteger minha família e todas as famílias do Norte; a vida do meu pai está em risco e das minhas irmãs; sou obrigado a casar com uma desconhecida que não amo, e tenho que abrir mão de você. E agora, agora que não posso mais fazer nada, você admite que gosta de mim! Me diz se não é para sentir raiva? – Sua voz foi se elevando gradativamente até que ele estava gritando as últimas palavras; seu tórax subindo e descendo com presa.

A garganta de Hermione queimou como braça, com o esforço para segurar as lagrimas. Ela se sentiu culpada por ter admitido seus sentimentos tão abertamente. Isso iria tornar as coisas muito piores agora.

— Me desculpe pelo que eu disse – Ela pediu baixinho, sentindo sua voz quebrar na semiescuridão da sacada. – Eu não tenho mais esse direito.

Robb recuou em sua raiva, e suas feições imediatamente se suavizaram. Ele se aproximou dela novamente, cuidadosamente, dessa vez, como se ela fosse um animalzinho ferido prestes a fugir.

— Não se desculpe. Nunca se desculpe – Ele segredou pegando a mão dela, na sua.

— Mas você é noivo agora. Eu não deveria... – Hermione não conseguiu mais conter as lagrimas que escorreram por seu rosto. A dor nos olhos de Robb era difícil de contemplar, fazia seu coração doer mil vezes mais. Se ela pudesse mudar isso...

— Shhhh. Não chore. Quando você chora, isso me destruí. – Robb sussurrou roucamente, secando as lagrimas que desceram pelo rosto dela com mãos suaves. – Você já estava completamente impregnada em mim, antes de tudo isso, Hermione, e não quero... não vou me desculpar com ninguém por isso.

— Mas você precisa se casar – Hermione afirmou, como se ele estivesse se recusando a fazê-lo.

Os ombros de Robb caíram em derrota e a dor aumentou insuportavelmente em seus lindos olhos azuis.

— Eu irei. Cumprirei com minha promessa e honrarei minha esposa o melhor que eu poder. Serei o marido mais digno que os deuses me permitirem.

Robb depositou um beijo casto nas costas de sua mão, sem desviar seu olhar do dela. Ele continuou:

— Mas, meu coração estará para sempre cheio de ti, Senhora.

Então... então, ele se afastou e saiu da sacada muito rapidamente, como se temesse permanecer mais um minuto em sua presença.

Hermione ficou ali de pé, ouvindo enquanto a porta do quarto se abriu e se fechava, ainda segurando a mão no ar onde Robb a largou, perdida em um redemoinho de sentimentos amargos que ameaçaram afoga-la em um mar revolto. E agora, o que eles iriam fazer?

—__________________________

Depois da partida abrupta de Robb, Hermione pode ter ficado horas ou minutos, sozinha na sacada, ela não saberia dizer. Mas finalmente o frio da madrugada se infiltrou tanto nela, que a obrigou a entrar no aposento.

De costas para a cama de Torrhen, Hermione puxou as portas duplas com cuidado para fecha-las deixando o vento gelado lá fora. Quando se virou, tomou um susto tão grande que pulou contra as portas de vidro.

Torrhen estava acordado; de pé ao lado da cama; pálido como um fantasma; com suor escorrendo por seu rosto. Ele segurava sua espada com às duas mãos apertadas sobre o punho, apontando a arma para ela.

Seu rosto era uma máscara branca de medo, mas, também, de determinação. Ele caminhou em sua direção, diligentemente, e Hermione pode ver o quanto a ação estava custando para seu corpo debilitado, ainda assim, ele continuou avançando contra ela.

Hermione não tinha para onde recuar. As portas de vidro pressionavam contra suas costas com força.

Quando Torrhen chegou perto o suficiente, ele levantou a espada até que a ponta tocasse o peito de Hermione. A frieza do metal atravessou suas vestes e se infiltrou em sua carne.

— O-QUE-VOCÊ-É? - Ele exigiu com voz aranhada e enfraquecida, mas sem qualquer traço de piedade no olhar que lançou para ela.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: A quem possa interessar: Julgamento por combate, é um dos meios, pelos quais, uma parte pode provar sua inocência quando acusada de um crime nos Sete Reinos. O combate pode ser realizado entre o acusado e o acusador, ou entre campeões escolhidos pelas partes, o que é o mais comum, já que um julgamento por combate é um direito apenas dos nobres, e não se espera que eles lutem. Se o campeão do acusado sair vivo da disputa, o réu é considerado inocente pelos deuses, e suas acusações devem ser extintas.... Se não... ele será condenado a morte.

N/A: Eu prometo que haverá mais magia, afinal, esse é um crossover, e não faria sentido se ela não fizesse parte da mistura, mas não acho que Hermione, com seu senso ético bastante afiado, renunciaria a seus valores tão rapidamente, para atacar trouxas. No entanto, isso pode e irá mudar. Estou construindo essa quebra lentamente, e espero que você tenha paciência. Vai valer a pena.

N/A: O plano de Robb de enganar Tywin Lannister com uma segunda tropa, ficou claro o suficiente?



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