A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 10
Capítulo 9: E AGORA COMEÇA.


Notas iniciais do capítulo

Bem, bem, bem... aí está o famigerado capitulo seguinte. Versão 879561. Demorou? Demorou. Tive culpa? Tive!

Tem quatro zilhões de páginas para vocês lerem. Desculpem! Muitos e muitos diálogos... não consegui cortar muita coisa. Preciso de tudo o que está aí e dividir em duas partes não iria funcionar para mim. Mas, por favor, por favorzinho, contem se foi complicado ler um capitulo tãooooo extenso, para que eu não repita a experiência se for o caso.

E, ah, comentários (positivos ou negativos) alimentam a musa dos escritores (aprendi isso do jeito mais difícil). Alimentem minha musa, ela está faminta...

Agradeço muito a todos que leram e comentaram. O Apoio de vocês é incondicional para essa história continuar. Obrigada.



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 Capítulo 9: E AGORA COMEÇA. 

O dia havia amanhecido instável. Os ventos assoviavam ruidosamente e grossas nuvens carregadas pairavam cinzentas nos céus, com a ameaça sombria de uma terrível tempestade prestes a desabar.

Os sons dos homens preparando o acampamento para a chegada da forte chuva, adentravam no salão da Torre do Portão de modo abafado.

Contudo, embora estivessem vagamente conscientes das dificuldades que o exército enfrentaria nas próximas horas, quando as águas inundassem ainda mais o pântano de Fosso Cailin, no momento, tanto Robb quanto Hermione, estavam absorvidos pela presença da recém-chegada Lady Catelyn Stark.

Era apenas uma coisa boa que o piso da torre fosse feito de pedra sólida, porque mesmo desgastado pelo tempo e pelos incontáveis pés que ali passaram, tornando-o perigosamente liso, ainda era forte o suficiente para suportar os passos furiosos da matriarca que caminhava incansavelmente para a frente e traz no mesmo ponto.

Os motivos para a fúria de Lady Stark eram uma preocupação, mas tantas eram as possibilidades, que um acordo implícito entre Robb e Hermione, de manter o silêncio até que a própria se manifestasse, imperava entre os dois.

Mas, porque Hermione era conhecida por sua inteligência, escolheu deliberadamente sentar-se na cadeira disponível mais distante, com a segurança da maciça mesa de basalto negro solidamente fortificada entre às duas.

Robb aparentava mais coragem. Ele estava tranquilamente de pé, com o cotovelo apoiado na cornija da lareira, olhando para a mãe que marchava à sua frente, com a testa levemente franzida. Eventualmente, ele relanceava olhares, por vezes cúmplices, por vezes acanhados, na direção de Hermione.

A Bruxa, de sua parte, tentava não retribuir, mas não estava fazendo um trabalho muito bom em esconder a cor Grifinóriana que coloria sua face.

Infelizmente, porém, o silêncio sombrio que pairava na sala estava deixando Hermione desconfortavelmente ansiosa, e o desejo de levantar as mãos no ar e fazer perguntas estava quase levando a melhor sobre ela. As questões até já estavam elaboradas e na ponta da língua: “É minha presença que a deixa tão irritada? Ou de algum modo a Senhora descobriu que eu estava me atracando com seu filho nas escadas há menos de uma hora? ”.

“Não… ela não teria como saber... sem a menor chance. É apenas a minha insegurança falando”— Hermione tentou se convencer. Ainda assim, considerou que seria mais prudente manter a cabeça baixa e o foco nas mãos entrelaçadas em seu colo, só para o caso de seu rosto revelar demais sobre suas atividades recentes.

Ela poderia, é claro, tentar se convencer de que a última hora fora apenas um delírio de uma imaginação fértil, não fosse pelo fato, de que ainda conseguia sentir seus lábios formigarem com a presença dos lábios de Robb Stark.

Quão impossível era, que o homem atraente e gentil, que a observava com fervor do outro lado da sala, a tivesse beijado por livre e espontânea vontade? Justamente a ela? Hermione Granger? Ombros encurvados, cabelos lanzudos e rata de biblioteca, nada menos?

“Foi sem querer”— Ela garantiu a si mesma com firmeza – “Foi a proximidade e a adrenalina que nos deixou abalados” “Não tem a ver com sentimentos românticos... com intenção”. Hermione argumento fortemente. “Não é exatamente como se eu fosse uma beijoqueira experiente que tivesse estragado o homem para qualquer outra mulher”.

Ela sorriu com o último pensamento, rolando os olhos para o teto, com sua fantasia ridícula. Era importante que ela mantivesse em mente o erro colossal que seria, criar qualquer tipo de expectativa com base em algo tão... tão... módico, quanto um único beijo... “e contando” – a voz de Lila Brown se intrometeu em seus pensamentos, sussurrando aos risinhos – “Argh”— Hermione gemeu em desprezo, afundando ainda mais na cadeira com as bochechas queimando.

Um romance com Robb Stark era uma ideia absurda, quase ao ponto de ser humilhante. Ela, que nesta mesma manhã e nesta mesma sala, havia sentido a mais profunda indignação com o mau pensamento que os Lordes Nortistas faziam dela, estivera, apenas alguns momentos atrás, beijando o referido rapaz com ardor enquanto uma guerra se desenrolava ao seu redor.

“Completamente patética, é isso que sou”— Hermione se repreendeu com veemência. Era obvio que homens como Robb Stark não olhariam para moças como ela uma segunda vez... “Foi sem querer”.

Hermione mal conseguia olhar para Lady Stark. Sentia que de alguma forma havia traído a mulher que lhe acolhera em uma situação impossível.

O silêncio enervante entre os ocupantes da torre foi perturbado pelo barulho de patas ressoando pelo chão de pedra. Vento Cinzento adentrou no recinto e foi imediatamente ao encontro de Lady Catelyn. Ele lambeu os dedos dela com afabilidade.

Sob a luz da lareira, as cicatrizes feitas pela lamina do assassino de Bran, brilharam esbranquiçadas nas mãos mutiladas da Senhora. Ela acariciou o lobo distraidamente com dedos desajeitados.

Depois de dar seus cumprimentos à matriarca, Vento Cinzento trotou alegremente até Hermione e empurrou suas mãos cruzadas em seu colo, até abrir espaço para repousar a cabeça em cima das penas dela.

A bruxa não pode evitar o sorriso que surgiu em seus lábios com o comportamento sempre esquisito dos animais de estimação dos Stark.

Tristemente, a entrada de Vento Cinzento pareceu despertar Lady Catelyn do torpor que a tinha mantido em silêncio até então. Subitamente, a Senhora parou de caminhar no meio de completar mais uma volta no vai e vem incessante, e pôs as mãos nos quadris com força suficiente para derrubar um Centauro, antes de lançar um olhar gélido de Hermione para Robb, na réplica perfeita da mãe que pega o filho em uma travessura.

Não fosse pela tensão na sala, Hermione poderia ter sorrido ao constatar que as mães eram iguais, fosse qual fosse, o universo em que existissem.

— O que em nome dos deuses antigos e novos, Lady Granger está fazendo aqui? – A Senhora perguntou em tom indignado, virando-se para o filho com brusquidão. Sem esperar resposta, ela continuou asperamente: - Eu pensava que tivesse criado filhos com algum juízo! Então, me explique Robb, como pode ser prudente convocar os portas bandeiras para uma rebelião e trazer consigo uma – Ela se conteve, como se estivesse prestes a dizer algo pouco lisonjeio: - Uma Senhora de lugar nenhum?

Hermione poderia ter ficado magoada, se Lady Catelyn não tivesse sido muito precisa em sua descrição.

Robb ficou vermelho, mas para seu crédito, sustentou o olhar frio da mãe com igual determinação.

— Hermione não é nossa prisioneira – Ele afirmou convicto – Ela pode participar do que desejar.

O coração de Hermione deu uma batida descompassada no peito com a defesa resoluta que ele fazia a seu favor.

— Não de uma guerra... da nossa guerra – Lady Catelyn estalou exasperada – Isso não é lugar para mulheres...

— Então deve fazer as malas mãe, e partir para Winterfell agora mesmo – Robb a interrompeu com os olhos faiscando.

Decididamente, a Sra. Stark não estava pronta para encontrar a força e a segurança que brilhavam nos olhos do filho. Por um momento, ela apenas abriu e fechou a boca sem dizer uma palavra.

O rosto dela estava vermelho de raiava quando finalmente descobriu o que dizer:

— Sou sua mãe. Esposa do Lorde de Winterfell e você ainda não é...

— Lady Stark – Hermione a chamou humildemente, mas com determinação suficiente para se sobrepor ao tom ameaçador da outra – Robb está apenas sendo um cavalheiro e me protegendo. Mas a verdade, é que praticamente o obriguei a me aceitar no acampamento.

A Sra. Catelyn finalmente se dignou a dirigir sua atenção para Hermione. Se estivesse de pé, a moça teria recuado um passo para trás com a frieza com que a Senhora a encarou.

— Porque você faria uma estupidez dessas? – Ela exigiu, com os lábios perdendo toda a cor.

— Porque fiz uma promessa a Bran de que ajudaria Robb - Hermione confessou a verdade.

— Porque ele pediria isso a você? – Ela perguntou piscando aturdida para Hermione.

— Ao que parece, ele está convencido de que eu possa ajudar de algum modo. – A bruxa respondeu cautelosa, arriscando um olhar para Robb. Ele revirou os olhos para o teto com impaciência.

— Porque Bran pensaria algo assim? – Lady Catelyn perguntou, com um ar de descrença.

— Ele está tendo pesadelos que insiste serem reais – Robb respondeu por Hermione, fazendo um gesto de indiferença com as mãos – São apenas fantasias. Hermione que se preocupa à...

— Não me preocupo à-toa – Hermione o interrompeu, ligeiramente frustrada por ser a única a levar o garoto a sério. – Estou convencida de que não se trata de pesadelos, mas de visões.

Robb levantou as mãos para o alto em incredulidade, mas não disse nada.

— Bran? Meu filho Brandon Stark? – A Senhora perguntou em choque.

Hermione balançou a cabeça em afirmação.

Lady Catelyn ficou pela segunda vez no dia absolutamente muda. Suas mãos caíram dos quadris como se não tivessem forças para se manter no lugar.

— Meu filho de nove anos tem visões? Visões sobre guerra? Essa guerra? E de algum modo você faz parte dela? – Lady Catelyn questionou, perplexa.

Novamente Hermione assentiu, sem querer acrescentar nada até que Lady Catelyn tivesse absorvido a parte mais importante.

A Senhora estava visivelmente perturbada, como se um trasgo a tivesse atropelado. Ela ficou paralisada e em silêncio por tanto tempo, que Hermione sentiu-se tentada a se levantar e cutuca-la para saber se ainda estava respirando. Mas, finalmente, Lady Stark se moveu, indo lentamente em direção a cadeira mais próxima. Ela se sentou pálida como um fantasma.

Agora, observando melhor sob a luz da lareira, Hermione notou como a Sra. Catelyn estava mais magra e envelhecida, com a beleza de outrora um pouco apagada pelas olheiras profundas e a rugas mais evidentes.

A fúria que sustentava Lady Catelyn até aquele momento desapareceu, subsistida por desalento. Hermione preferia a fúria.

— Isso não faz sentido – Ela tentou se convencer.

— É o que venho dizendo para Hermione – Robb concordou, voltando a se apoiar na lareira com um suspiro.

Hermione não estava surpresa em ser a única a acreditar no menino, considerando seu histórico particular com coisas excêntricas. Talvez se ela falasse livremente sobre suas suspeitas de que Bran pudesse ser um Bruxo, um bruxo cuja poderes se desenvolveriam conforme ele fosse aprendendo a controla-los, exatamente como ela, eles pudessem acreditar em Bran, porque então, as visões fariam sentido... ou eles poderiam apenas tranca-la em uma masmorra sobre a acusação de bruxaria e separar sua cabeça do resto do seu corpo... e ela gostava de como as duas coisas ficavam bem, juntas.

— Seja como for, isso não diminui o perigo de permanecer aqui, Lady Granger – A Sra. Catelyn arrancou Hermione se seus devaneios, com palavras secas e um renovado ar de desagrado. – Tudo ficará ainda mais perigoso assim que deixarmos Fosso Cailin. Meu marido, e por extensão eu também, mesmo que ele não tenha tido a delicadeza de pedir minha opinião, nos comprometemos com sua segurança. Você é nossa responsabilidade. Preferiria que retornasse a Winterfell.

O cotovelo de Robb escorreu pela pedra da cornija e ele só não foi ao chão, porque os anos com o treino de espadas lhe deram um bom equilíbrio.

— Podemos mantê-la em segurança, mãe – Ele falou num atropelo – Já recrutei Torrhen Karstark como seu guarda pessoal e posso colocar mais, se for necessário.

Catelyn apertou os olhos para o filho com suspeita.

— Ela deve voltar – Ela insistiu determinada.

— Mas e quanto as visões de Bran? – Hermione argumentou.

Lady Catelyn estremeceu ligeiramente.

— Não devem ser nada demais. Com certeza trata-se apenas de pesadelos.

— Mas mãe...

— Quero ela em Winterfell, Robb. Isso deve acontecer antes de marcharmos para o sul.

— Não acho que a obrigar seja correto. Além disso, ela fugiu uma vez, pode fazer de novo.

— Fugiu? Como assim ela fugiu?

Os dois estavam discutindo sobre ela bem na sua frente, como se Hermione nem estivesse presente. Ela não pretendia quebrar a promessa que fizera a Bran. As visões, talvez fossem confusas, talvez imprecisas, mas eram reais. Essa era a única certeza que ela tinha. Era importante permanecer ao lado de Robb, como Bran tinha lhe avisado. A possibilidade de ser mandada embora a afligia. Esperar pacientemente pelo destino não era o seu forte. Hermione estava prestes a se rebelar contra a ideia, quando Lady Catelyn finalmente decidiu que para ela bastava.

Ela gritou com o filho a plenos pulmões.

— Estamos declarando guerra contra o homem mais poderoso de Westeros. Ele tem o poder da Coroa e do ouro. Não temos aliados, a não ser nossos próprios portas bandeiras. Não posso me preocupar com crianças vindas sabem-se deuses de onde, principalmente agora que perdi nosso único refém. Mande-a para Winterfell agora mesmo!

O silêncio que se seguiu ao discurso de Lady Catelyn fez Hermione estremecer. Robb estava olhando para a mãe com olhos semicerrados. Subitamente, ele explodiu também.

— O que quer dizer com “eu perdi nosso único refém”? Onde está Tyrion Lannister? – Ele perguntou, olhando em volta como se esperasse que o anão pulasse para fora de algum esconderijo secreto.

A Senhora Catelyn murchou como um balão espetado por uma agulha. Ela se levantou da cadeira lentamente, dando as costas a Robb.

— Quanto a isso, culpe sua tia Lysa. – A Sra. Stark esbravejou, mas sua explosão súbita desapareceu e seus ombros caíram em derrota novamente. - Depois de capturar Tyrion, tive medo de fazer todo o caminho até o Norte com tanto a perder e decidi pedir a ajuda de minha irmã, já que o Vale dos Arryn está entre Porto Real e Winterfell. Mas Lysa foi tola ao ponto de realizar um julgamento. Nada pude fazer quando os deuses permitiram que ele saísse livre das acusações.

— Mas como deixou que isso fosse acontecer? – Robb exigiu. Aturdido pela revelação.

— Não tivesse escolha – Catelyn suspirou cansada – Eu estava na casa dela. Ele se tornou um prisioneiro dela. Sua Tia promoveu um espetáculo e quando o Lannister exigiu um julgamento por combate, como é direito dele, Lysa não teve escolha a não ser aceitar. O campeão dele ganhou a luta e perdemos nosso refém.

Robb empalideceu diante da luz da lareira. Ele caminhou vagarosamente até a mesa e sentou em uma das cadeiras.

O motivo da raiva inicial de Lady Catelyn finalmente estava explicado. A perda do refém era um golpe duro para os planos de Robb.

— Pretendia troca-lo pelo pai e as meninas. Poderíamos ter terminado com a guerra antes mesmo de ela começar – Robb admitiu, perdido.

O restante das forças da Sra. Catelyn ruiu. De repente, ela parecia apenas uma frágil mulher de meia idade, e não a força da natureza que irrompera porta adentro exigindo explicações.

— Foi uma loucura completa. Além disso, ela está com tanto medo que não se envolverá na guerra, mesmo afirmando que a morte do marido foi provocada pelos Lannisters. Admito que sua recusa em nos ajudar é muito estranha – Lady Catelyn enrugou a testa pensativa – Desde pequena, Lysa sempre teve uma determinação muito fraca.

A expressão de Robb se contraiu num esgar

— Para ser honesto mãe, não estou surpreso. Eu já considerava que não teríamos a ajuda dela. Se fosse para agir, ela teria tomado outras atitudes desde o início. – Ele suspirou e levantou da cadeira com renovada energia, caminhando pela sala até pôr-se de frente para a lareira de costas para às duas - A última vez que uma rebelião contra a Coroa foi bem-sucedida, quatro dos sete reinos estavam unidos.

— Alianças foram feitas à época, meu filho. Alianças constituídas pelo matrimônio. Eu me casei com seu pai e Lysa com Jon Arryn – Catelyn o lembrou – Talvez deva começar a considerar o mesmo.

Robb se virou num sobressalto para a mãe e seus olhos viajaram rapidamente para Hermione. Orbes azuis queimaram com intensidade sobre os marrons, mas antes que ela conseguisse decifrar o significado da estranha expressão dele, Robb desviou o olhar para a lareira novamente.

A ideia dele se casar, provocou um fisgar no coração dela. Uma sensação que a deixou surpresa. Ela ficaria feliz por ele? Triste por si mesma? Decepcionada? - “Foi sem querer”. – Ela recitou o mantra. Mas isso não impediu suas mãos de tremerem.

Hermione tentou acalmar o coração se distraindo com Vento Cinzento que ainda repousava a cabeça em seu colo. O animal fechou os olhos amarelos satisfeito com as carícias. O contentamento do lobo lhe transmitiu um conforto temporário.

— Esse é um golpe considerável. Meus vassalos não vão encarar muito bem. - Robb reconheceu, mudando de assunto.

— Eu bem sei disso – Catelyn concordou.

Ele se calou, passou a mão pelos cabelos distraidamente, absorto em algum pensamento que o angustiava, a julgar por sua expressão.

— Mãe, eu não disse nada para a Senhora antes, porque não tinha me ocorrido agir de outro modo. – Robb falou, subitamente muito sério – Quando a notícia da prisão do pai chegou a Winterfell, também foi oferecido um acordo. Se eu fosse a Porto Real e jurasse fidelidade não haveria inimizade entre nossas casas. Não falava nada sobre libertar o pai, mas talvez, se eu aceitar, posso negociar... posso ir até Porto Real e.… para ter as meninas de volta, posso me oferecer em troca. Uma troca de reféns...

As paredes da torre se estreitaram em volta de Hermione. Robb preso em uma masmorra?

— NÃO! – Hermione e Lady Catelyn esbravejaram em uníssono. Suas vozes ressoaram altas pelo ambiente.

A Senhora buscou com mãos tremulas o encosto da cadeira em que estivera sentada a pouco e se apoiou pesadamente. Ela ficou lívida e parecia prestes a se desfazer em lagrimas.

Hermione fez menção de levantar para amparar Lady Stark, mas Robb foi mais rápido. Com dois passos largos ele estava ao lado da mãe.

— Venha, sente-se aqui – Ele sussurrou aflito, acomodando-a com cuidado no assento. Robb se ajoelhou ao lado dela, preocupado.

Vento Cinzento levantou a cabeça num sobressalto e começou a uivar alto pelo cômodo. Seu uivo parecia um lamento profundamente doloroso.

Robb e a Sra. Catelyn olharam para o lobo com a testa enrugada.

— Shhhhh! Quietinho. Quietinho... Shhhhh. – Hermione sussurrou para animal, acariciando as orelhas dele em uma tentativa de acalma-lo.

Os lampejas estrondosos dos raios que começavam a cair anunciando o início da tempestade, se infiltraram pelas paredes da torre, unindo-se com os uivos do lobo em uma cacofonia de sons de fazer estremecer.

Lentamente, as carícias de Hermione fizeram Vento Cinzento se acalmar até que ele parasse de uivar. Mas os raios não cessaram de cair lá fora.

Foi só então que ela se sentiu capaz de falar novamente, ainda que sua garganta queimasse com uma repentina vontade de chorar.

— Se fizer isso eles matam você – Ela afirmou para Robb, tremula.

A Senhora Catelyn agradeceu pelas palavras dela com um aceno de cabeça, segurando as mãos do filho com força entre as suas.

— Hermione tem razão. Eles não trocarão seu pai por você. Não é uma escolha. É uma armadinha. – Catelyn assegurou energicamente. Seu rosto ainda estava branco - Você jura fidelidade e não terá permissão para partir. Ira se juntar a seu pai nas masmorras da Capital. Não vou perder você também. Você é nossa melhor esperança. Nossa única chance é vencer em batalha.

— Mas e se perdermos? – Robb perguntou, com uma sugestão de temor na voz.

— Sabe o que aconteceu com os bebes de Rhaegar Targaryen, na última rebelião, ao perderem o trono para os Baratheon? - A Senhora perguntou, e diante da negativa de Robb, continuou: - Foram massacrados enquanto dormiam, sob as ordens de Tywin Lannister. Os anos não o tornaram mais piedoso. Se perder... seu pai morre... suas irmãs morrem... nós morremos.

— Então, é bastante simples – Robb, afirmou friamente.

— Creio que sim.

Finalmente, a chuva que prometia cair desde cedo se fez presente. Os grossos pingos de água caíram tão rápidos e tão fortemente sobre a Torre, que foi impossível ignora-los.

Hermione considerou vagamente, que os homens ficariam muito desconfortáveis em suas barracas sob aquele aguaceiro, mas sua mente estava em branco para pensar em qualquer solução.

Ela olhou cautelosa para Robb, com receio de que ele não tivesse abandonado a ideia de se entregar aos Lannisters. Mas ele parecia distante, como se pensasse em outra coisa e Hermione se permitiu se tranquilizar, pelo menos, por hora.

Lady Catelyn parecia igualmente perdida em pensamentos. Seus olhos estavam fixos em Vento Cinzento refletindo toda a sua ansiedade, uma ruga marcava sua testa.

Abruptamente, a Senhora desviou o olhar para Hermione, e a estudou com uma expressão de repentina compreensão.

— Talvez – Lady Catelyn quebrou o silêncio que os cercavam falando vagarosamente, como se considerasse cada palavra cuidadosamente. – Um acampamento de guerra não seja lugar para uma mulher da minha idade permanecer sozinha... talvez, eu possa me beneficiar da companhia de Lady Granger enquanto permanecer junto a você, meu filho.

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Apesar da forte tempestade que encharcou os pântanos no dia anterior, felizmente hoje o tempo estava firme, e se ainda não havia sol, tão pouco haveria chuva, a julgar pelo céu límpido e pacífico que brilhava no firmamento.

Enquanto considerava a jornada pela frente, Hermione ajustou nas mãos as luvas de couro que o Sr. Hallis Mollen, havia lhe dado de presente por seu desempenho nas aulas de equitação.

A sua frente o acampamento que permaneceu por semanas em Fosso Cailin, havia sumido. O mar de fogueiras e tendas que antes se espalhavam pelo pântano como uma pequena cidade já não existiam mais. Os homens estavam organizados em duas colunas, cavaleiros à frente, para seguir em fila, percorrendo um caminho alternativo à Estrada do Rei. Não seria mais seguro, a partir desse ponto, continuar a jornada pelos caminhos convencionais.

Ela mentiria se dissesse que não estava nervosa. Nada em sua antiga vida a havia preparado para fazer parte de uma guerra trouxa medieval. O futuro parecia bastante imprevisível. Entretanto, antes que houvesse tempo para o medo, Hermione já estava montada e posicionada na fileira de soldados, entre Thorrerh e Lady Catelyn, logo atrás de Robb que cavalgaria à cabeça da coluna.

O barulho de uma trombeta relampeou por Fosso Cailin como um aviso funesto para iniciar a marcha. Com um frio na barriga, Hermione agitou as rédeas de sua montaria incitando-a a andar.

Por um tempo, os três cavalgaram em silêncio, seguindo com um ritmo constante e ligeiro, que colocou distância entre a hoste e seu antigo acampamento com rapidez surpreendente.

Havia ao entorno de Hermione, um certo alívio por finalmente estarem em movimento. Os homens pareciam bastante dispostos a prosseguir depois de permanecerem por semanas a fio parados sobre um pântano nada convidativo, mas era inegável que também havia ansiedade entre eles; um sentimento de evidente insegurança com relação à liderança de Robb.

Hermione suspirou apreensivamente. Ela confiava na lealdade à casa Stark, mas seria isso o suficiente para manter o exército unido ao entorno de um líder, cuja decisões ainda não inspiravam confiança?

— Quando deixou Winterfell, como estava meus filhos? – Lady Catelyn interrompeu os pensamentos dela.

A moça encontrou o olhar da Senhora, e sentiu um nó se formar na garganta, ao ver as lagrimas brilharem nos olhos dela. 

— Estavam bem, Senhora. Apesar de sentirem saudade dos pais – Hermione admitiu, se arrependendo de suas palavras logo em seguida, quando viu a culpa se somar a tristeza de Lady Stark. Ela tentou remediar seu erro: - Robb fez um bom trabalho em cuidar deles. Ele se esforçou bastante para que os meninos não soubessem dos detalhes mais sombrios disso tudo. Especialmente quanto a Rickon, embora nunca tenha mentido para eles.

Lady Catelyn relanceou um olhar orgulhoso ao filho mais velho que seguia alguns metros à frente, tendo por companhia Vento Cinzento e Lorde Manderly, com quem conversava compenetrado.

— Meistre Luwin me mandou uma carta. Ele me disse que Bran não se recorda do acidente que sofreu na torre – Lady Catelyn continuou.

— Sim, infelizmente. Ele fica bastante ansioso e agitado quando é questionado sobre o assunto – Ela esclareceu. - O Meistre tem evitado questiona-lo.

A Senhora acenou com a cabeça em concordância com a abordagem, mas sua expressão continuava infeliz.

— O que pode me contar sobre esses tais sonhos que ele vem tendo? – Ela perguntou, com a testa franzida.

Hermione lançou um olhar de esguelha para Torrhen. O rapaz estava prestando a atenção na conversa delas, embora fingisse que não. Haveria algum problema em ele saber?

— Bem – Ela começou incerta. – No começo, eram apenas pesadelos. Sonhos curtos e espaçados, uma ou duas vezes por semana. Nem todos eram maus. Apenas sonhos sem significado aparente. Mas começou a ficar pior, depois que Lorde Eddard foi atacado em Porto Real. Os sonhos começaram a ficar frequentes. Pesadelos ruins; sangrentos; cenas de carnificina. Eventos dos quais, uma criança que cresceu em um ambiente saudável como ele, não teriam sequer imaginação para inventar... eu não sei... ele fica tão nervoso com esses sonhos, e são tão específicos. Não acredito que ele teria como fantasiar essas coisas.

— E foi ele que lhe pediu para acompanhar Robb? – A Senhora perguntou ainda desconfiada.

— Sim. – Hermione confirmou com um aceno de cabeça – Na véspera da partida do exército, Bran acordou aos gritos, completamente em pânico. Relatou um sonho perturbador, e me fez prometer que não deixaria Robb partir sozinho.

Thorrerh se remexeu sobre a sela impacientemente, com o olhar fixo no horizonte a frente e uma carranca de incredulidade, mas teve o bom sendo de se manter calado.

Lady Catelyn também parecia desconfortável, mas ou contrário de Thorrerh seu desconforto vinha do medo e não da descrença. 

— Porque Meistre Luwin não me contou nada sobre isso?

— Porque ele não acredita. Pensa que é simplesmente medo.

— E você, no que acredita?

Hermione ficou em silêncio por um momento. Tentou compreender sob a perspectiva de Lady Catelyn como uma resposta honesta a essa pergunta, seria recebida. Mas, era fácil esquecer como era pensar o mundo através dos olhos de um trouxa. Ela quase não se lembrava de como era ser aquela antiga Hermione. Então, como fazer Lady Catelyn compreender a preocupação dela? Como faze-la crer que a magia existia e não era necessariamente ruim? Que tinham pessoas com dons especiais? Quase impossíveis de existirem no limite da razão? Algo que fazia sentido apenas para alguns, mas que influenciava a vida de todos, acreditando neles ou não? Se pelo menos ela tivesse certeza que revelar seu segredo mais profundo não iria colocar sua vida em risco? Se pelo menos pudesse confiar que ninguém iria querer usar sua magia como uma arma, para atingir interesses mesquinhos?

Hermione suspirou incerta. Era melhor seguir uma abordagem diferente, ao invés da perigosa verdade.

— Penso Milady, que o mundo é tão grande e tão infinito em sua magnitude, que não podemos pressupor arrogantemente, que conhecemos tudo o que nele existe. Talvez, o que por hora seja inexplicável, estranho, um dia faça sentido. No que me desrespeita, não quero correr o risco de compreender essa verdade quando já for tarde demais.

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Que Merlin não permitisse, que Hermione admitisse tal absurdo em voz alta, mas sob a atual conjuntura, as vassouras eram uma opção de transporte muito atraente.

Parecia haver apenas duas possibilidades em seu futuro próximo, ou o excesso de exercício a tornaria a própria Diana Prince, ou a mataria. No final de sua primeira semana de marcha, ela quase desejava a segunda opção.

Afinal, ela descobrira do jeito mais penoso, que permanecer sobre uma sela mais de dez horas ao dia, não era nada divertido como cavalgar despreocupadamente pelo pátio de treinamento de Winterfell, fazia parecer.

Ainda mais porque, Robb estava impondo um ritmo duro de viagem. Quanto mais rápido chegassem aos Lannisters, mais rápido teriam Lorde Eddard em casa, ou assim esperançavam.

Torrhen, tivera compaixão dela e sugerira, em mais de uma ocasião, que Hermione seguisse viajem em uma liteira. Ela teria aceitado de bom grado, não fosse o olhar de desaprovação de Lady Catelyn, sempre que o assunto surgia. Uma liteira diminuiria o ritmo da marcha de toda a comitiva.

De tal modo, que não restava a Hermione alternativa, que não fosse fingir uma disposição que não sentia, e seguir com toda a força de vontade que conseguia reunir, para mais um dia agonizante de dores extenuantes e coxas em carne viva.

Assim, foi com imenso alívio que Hermione recebeu a ordem de parar naquele final de tarde. Ela desmontou deselegantemente sobre o terreno em que o acampamento noturno seria erigido, com os músculos doloridos, pernas tremulas e uma dor de cabeça que começava a despontar.

A sua volta, os homens já trabalhavam para montar as estruturas do acampamento.  Lady Catelyn supervisionava a instalação dos pavilhões dos Vassalos e do Suserano, e Robb distribuía ordens no centro do terreno.

Hermione reuniu os cavalos dela, da Sra. Stark e de Torrhen para leva-los até o riacho e dar-lhes de beber, como era seu costume, enquanto os demais trabalhavam.

— Não se afaste muito – Torrhen pediu, quando viu Hermione caminhar atordoada em meio as carroças, cavalos e homens. Ela concordou com um aceno de cabeça, exausta demais até para falar.

O pequeno riacho era estreito e pedregoso cercado por vegetação rasteira. Tinha por companhia uma pequena cadeia de montanhas que se erguia aos fundos. O sol estava se ponto atrás das colinas, manchando o céu com novas tonalidades de laranja e vermelho. A paisagem era muito bonita de se contemplar.

Hermione soltou a rédeas dos três cavalos para que eles bebessem à vontade, e se pôs a admirar o cenário a frente, um pouco chocada com a semelhança com as Highlands Escocesas.

— Obrigada - Theon Greyjoy falou às suas costas, chamando a atenção de Hermione. Ela se virou para ele com uma sobrancelha levantada interrogativamente – Milady me fez ganhar 5 dragões de ouro em uma aposta.

— Espero que isso seja um bom dinheiro. O que apostaram? – Hermione perguntou, sem se deixar ofender pelas possibilidades.

 - Que voltaria a Winterfell três dias atrás – Theon explicou, com o sorriso mais largo e arrogante que ela já o vira usar – Se estiver curiosa, saiba que eu tenho mais fé na Senhora do que todos os outros. Apostei que não voltaria. Admito que estou impressionado.

— Tsc, tsc, tsc. É uma pena, para eles, que façam tão pouco juízo de mim – Hermione balançou a cabeça com fingida indignação - Onde estão os meus dragões de outro, pelo esforço? – Ela brincou.

Com um gesto um tanto teatral, ele puxou das vestes uma pequena bolsa de couro e empurrou para as mãos de Hermione três moedas. O dinheiro tinha o desenho de um veado em relevo, de um lado, e um rosto masculino que lembrava o Rei Roberto, do outro, e reluzia amarelado brilhando ao sol.

— Eu estava apenas brincando – Hermione gargalhou, tentando lhe devolver as moedas – Longe de mim tirar-lhe o ouro que ganhou com tanto esforço honesto.

 - Não. Não. – Theon se recusou a pegar as moedas de volta. – Faço questão de dividir os lucros, embora, você tenha razão, a parte mais difícil ficou para mim.

Ele sorriu amplamente para ela antes de se voltar para admirar o cenário.

— Bom, não é como se Lady Catelyn não estivesse esperando um sinal de fraqueza, para se livrar de mim – Hermione brincou com a verdade. A Sra. Stark poderia ensinar uma ou duas coisinhas a Alastor Moody, sobre vigilância constante.

— Ela é durona – Theon concordou com um sorriso cumplice. – Mas você irá se acostumar com o ritmo e quando perceber, vai preferir passar seus dias em marcha ao invés de ficar presa dentro de quatro paredes.

Hermione duvidava, especialmente recordando dos dias maravilhosos que passava na biblioteca, ou em frente a lareira da sala comunal da Grifinória cercada por suas pesquisas e tarefas. Ela suspirou saudosa dos dias mais simples.

Uma repentina dúvida fez Hermione se sentir desconfortável sobre a aposta. Não que ela estivesse insultada. Em verdade, sentia-se orgulha da sua própria força de vontade.

— Robb participou disso? – Ela perguntou, remexendo as moedas nas mãos. De repente, sentia-se insegura. Será que Robb também a julgava fraca? Será que ele queria se livrar dela, depois do incidente nas escadas? Ele poderia estar arrependido... poderia não a querer mais por perto.

Theon olhou para os pés sem jeito, o que era um feito raro para ele, mas claramente sua expressão risonha tinha se dissolvido um pouco. Hermione sentiu seu estomago afundar.

— Robb não sabe – Ele confessou, relanceando um olhar apreensivo para ela – Não conte para ele, por favor. Os Stark não gostam desse tipo de coisa.

Hermione sorriu, divertida com expressão temerosa de Theon.

— Não se preocupe. Você comprou meu silêncio – Hermione piscou para ele. Ela sentiu o alívio preenche-la. O pôr do sol pareceu ainda mais belo. 

— O que está achando do Sul? – Theon mudou de assunto com uma curiosidade legitima.

— É muito diferente... colorido. O Norte é tão preto e branco – Hermione tinha notado como gradativamente o clima ao sul do Gargalo era mais quente e ensolarado e a paisagem ia se modificando conforme avançavam.

As florestas, os campos, as montanhas e as estradas, ganhavam novas tonalidades idílicas com seus tons de vermelho, amarelo, lilás e verde. Um contraponto bem-vindo ao monocórdio tom cinzento que havia reinado até ali.

— Então, não gostou tanto assim do Norte? – Theon lançou a pergunta desviando o olhar para a bandeira Stark que tremeluzia agitada no centro do acampamento. Uma expressão ligeiramente esperançosa surgiu no rosto dele. Hermione ficou um pouco confusa com isso.  

— Eu gostei muito do Norte – Ela se apressou em esclarecer, também dirigindo o olhar para o centro do acampamento onde Robb permanecera conversando com alguns soldados. Seu perfil, esguio e jovem se destacava facilmente entre os homens mais velhos que o cercava.

— Compreendo. – Continuou Theon, acompanhando a direção do olhar dela. – As Ilhas de Ferro, o lugar de onde vim, é diferente de qualquer outro em Westeros. É apenas um pequeno grupo de ilhas rochosas, com terras inférteis. Os mares são agitados e pedregosos. O Castelo de Pike, a sede da minha casa, ocupa uma das ilhotas e as torres se erguem acima de falésias pontiagudas. É belo, a sua própria maneira, embora seja um lugar árduo para se viver.

— Sente muita saudade de casa? – Hermione perguntou ligeiramente curiosa. Theon nunca tinha falado com ela sobre seu lar ou seus pais.

Ele ficou calado por um momento, com os olhos perdidos sobre os campos a frente. A expressão tumultuosa que surgiu em sua face, mudou o clima leve da conversa.

— É possível desejar duas coisas opostas? É possível amar e odiar uma coisa em igual medida?

Hermione ficou surpresa com a amargura na voz dele e ainda mais chocada com a declaração tão pessoal. Ela desviou o olhar que novamente estava em Robb, para observar atentamente o perfil de Theon ao seu lado.

Ela nunca tinha verdadeiramente gostado dele. O rapaz parecia viver um personagem. Não havia muita franqueza em suas atitudes, contudo, eis, que aqui estava ele, mostrando um pedacinho pequeno de si mesmo pela primeira vez. Ele até pareceu um ser humano mais real aos olhos de Hermione.

— Não sei – Ela admitiu vagamente, pensando com cuidado sobre o assunto. Ela não gostava desse lugar, mas considerar seu retorno para casa, lhe causava uma ligeira pressão desconfortável no peito que ela não conseguia identificar. Por fim, respondeu ainda incerta: – Talvez.

O silêncio que se seguiu entre os dois, estava cheio de dúvidas.

— Espero que um dia possa retornar ao seu lar Theon, e assim terá a chance de saber o que mais deseja. Ficar ou partir – Hermione tentou reconforta-lo, diante da melancolia dele.

— Um dia retornarei. – Ele afirmou quase com raiva - E meu pai ira me receber como seu herdeiro, serei então um Lorde. Não como Robb que será Protetor do Território. Mas ainda assim, um Lorde. Todos me respeitarão.

— Você já é respeitado agora – Hermione fez notar, se dando conta, de como Theon parecia confuso. – Robb tem muito apreço por você.

— Os demais Lordes não me veem assim. Para eles, sou tão insignificante quanto um bastardo. Percebo como eles me olham, como se os crimes de meu pai, fossem meus.

Essa era uma verdade que ela não podia negar. Ela percebia como os demais Senhores Nortistas olhavam com desconfiança para ele, e até mesmo Lady Catelyn era fria e indiferente à Theon, mesmo ele tendo sido criado junto de seus filhos.

— Eu nem sempre sou uma pessoa agradável, como ou outros filhos de Lordes. Mas também sou bem-nascido e posso ser tão grande quanto Robb, um dia. – Theon continuou, com a antiga soberba retornando em seu tom.

— Tenho certeza que sim. – Hermione disse, ligeiramente desconfortável com a mudança dele.

— Gostaria de conhecer Pike? – Ele perguntou, lançando um olhar estranho na direção de Hermione.

— Sim – Ela respondeu educadamente, esperando que ele não percebesse que sua reposta não era sincera.

Distraidamente, ela voltou a contemplar Robb por sobre o ombro. O Stark estava finalmente sozinho, um feito raro hoje em dia. Ele procurava alguém em meio à multidão.

— Gostaria? – Theon continuou, sem notar a desatenção dela. – Então, farei todo o possível para que isso aconteça, Senhora.

— Uh-HuH... – Hermione concordou distraidamente.

Robb havia localizado o que procurava tão ansiosamente. Ele sorriu para ela, um sorriso que mesmo a distância o tornava diabolicamente bonito. Hermione poderia ter suspirado alto demais, não saberia dizer.

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Considerando todos os esforços necessários e a rapidez com que eram erguidos, os acampamentos medievais eram bastante impressionantes, por mais que não tivessem nenhuma das comodidades trouxas ou bruxas as quais Hermione estivesse acostumada.

As fumaças de várias fogueiras já subiam aos céus indicando que refeições quentes estariam prontas em breve, e as barracas já estavam de pé para servir de abrigo a quem quisessem descansar, quando finalmente Hermione entregou ao cavalariço as rédeas dos três cavalos escovados e alimentados.

A tenda que Hermione e Lady Catelyn dividiriam tinha sido a primeira a ficar concluída e Torrhen aguardava ao lado da entrada com uma expressão de orgulho indisfarçado. Ele estava muito satisfeito com o upgrade de status, que o título de capitão da guarda da mãe de seu Suserano, havia lhe proporcionado.

Quando Hermione adentrou na tenda, suspirou aliviada pela oportunidade de descansar. A barraca era surpreendentemente confortável. Era quase exageradamente grande, na opinião dela. Esteiras forravam o chão em todas as direções até que não se pisasse mais em terra. Um biombo estava armado para esconder uma banheira abastecida com sabão e esponja para o banho. Nos fundos, duas camas de campanha estavam montadas, com muitas peles dispostas sobre elas para fazer às vezes de colchão. Baús repousavam aos pés das camas, contendo roupas limpas. Muitos utensílios para diferentes utilidades estavam distribuídos nos lugares habituais. Havia também bancos que rodeavam uma pequena mesa, braseiros e archotes que iluminavam e aqueciam o pavilhão.

A barraca estava silenciosa e desocupada, e a perspectiva de ter um momento de privacidade e sossego, animou Hermione. Ela estava pronta para mergulhar na banheira e tirar todo o pó da viagem, quando Torrhen adentrou na barraca, com um pedido de licença.

— Milady, Lorde Stark solicita sua presença para a reunião dessa noite, se estiver disposta a participar – Ele informou, bastante solenemente.

— Agora? - Hermione perguntou com uma careta pelos planos frustrados.

— Sim. Lady Catelyn já se encontra lá. – Ele respondeu, tentando a todo o custo não sorrir do desespero dela.

Com um adeus triste e silencioso para a banheira e a cama, Hermione marchou com Torrhen para fora da barraca, e deixou que ele a conduzisse através do labirinto de tendas até Robb.

O pavilhão do Suserano fora armado com duas barracas interligadas, tornando-o o maior de todo o acampamento. A primeira tenda estava preparada para receber os Senhores. Tinha uma grande mesa de madeira com bancos em volta e um braseiro que queimava em um canto. Muitas velas acessas iluminavam bem os pergaminhos dispostos desordenadamente sobre a mesa, inclusive o famigerado mapa de Westeros, que agora, era quase tão bem conhecido por Hermione, que ela mal precisava olha-lo. A segunda tenda, era o espaço pessoal de Robb, e estava protegido de bisbilhoteiros, por uma fina cortina que dividia os ambientes em dois.

Os senhores Nortistas já estavam reunidos no pavilhão e como o Karstark mais jovem lhe informara, Lady Catelyn já estava acomodada no assento à cabeceira da mesa, ela era a única a permanecer sentada.

Robb já tinha iniciado sua fala, por isso, Hermione e Torrhen se dirigiram o mais silenciosamente possível para um canto afastado da mesa aos fundos do pavilhão.

Vento Cinzento, irrompeu da tenda particular de Robb para se aninhar aos pés de Hermione. Ela afagou o dorso do lobo, antes de se concentrar inteiramente no que Robb dizia.

— Nossos batedores já nos trouxeram as informações de que precisávamos sobre a travessia no Ramo Verde. Passo a palavra a ele para nos relatar o que viu.  – Robb tinha um semblante sério e impenetrável quando indicou com um gesto o homem mais velho e careca ao seu lado.

— Não encontramos nenhum ponto seguro para atravessar o rio – O homem falou sem rodeios.

Hermione suspirou de frustração. O Ramo Verde era um grande rio que cortava as Terras Fluviais. O exército precisava cruzar o rio para continuar sua marcha para o Sul de Westeros.

— O rio é bastante profundo e a correnteza é muito forte. Contornar as águas está fora de cogitação. Há muitos afluentes que deságuam no ramo. Ficaríamos dando voltas como idiotas até passarmos por todos eles. – Concluiu o batedor.

— Perderíamos um tempo que não temos – Admitiu Roose Bolton, com seu sussurro enfraquecido habitual – E também esgotaríamos todos as provisões antes de darmos batalha.

— Supondo que nossos cavalos pudessem atravessar o rio a nado, ainda teríamos que construir jangadas para os homens, as armas e demais suprimentos... – Robb afirmou, parecendo já ter avaliado os principais inconvenientes a serem enfrentados.

— E novamente, esbarraríamos no problema do tempo – Reafirmou Lorde Glover cruzando os braços sobre o peito com aborrecimento.

Isso não era nada bom.

— E quanto a Walder Frey? Ele é a responsável pelo único ponto de travessia do rio – Questionou Lorde Bolton, se dirigindo ao mapa. Ele tamborilou o dedo esbranquiçado sobre o desenho de dois castelos idênticos ilustrados sobre o Ramo Verde.

— Essa é nossa única opção de passagem – O batedor admitiu com desagrado – A ponte do Lorde Walter Frey é o único caminho seguro e rápido o suficiente para nos levar ao sul. Mas o Frey reuniu uma força de quase quatro mil homens em seus Castelos, e ainda não hasteou nenhuma bandeira em favor de alguma causa.

— E nem ira. Ele é chamado por todos os Senhores de Westeros de Atrasado Walter Frey – Disse a Sra. Catelyn com desgosto. – É conhecido por sempre chegar muito tarde em batalhas.

— Mas ele é vassalo da casa Tully, seu pai?! – Robb afirmou, com indignação marcada em cada uma de suas palavras.

— Alguns homens encaram seus votos com mais seriedade que outros, Robb. Lorde Walder sempre se mostrou mais amigável para com os Lannisters do que meu pai teria gostado – Lady Catelyn esclareceu - Não espere nada de Walder Frey, e nunca será surpreendido.

— Julga que ele pretende nos trair pelos Lannisters, Senhora? – Questionou Rickard Karstark, em voz grave.

A Sra. Catelyn suspirou.

— A bem da verdade, duvido que o próprio Lorde Frey saiba o que pretende fazer. Tem a cautela de um velho e a ambição de um jovem, e nunca pecou por falta de astúcia.

— Lorde Frey teria de ser um louco para tentar nos barrar o caminho - disse Theon Greyjoy com sua confiança fácil. - Temos cinco vezes mais homens. Podemos tomar seus Castelos se for preciso, Robb.

— Não seria fácil - preveniu-os Lorde Umber - Nem há tempo. Enquanto montamos o cerco, Tywin Lannister traria sua tropa e cairia sobre nós pela retaguarda.

— Temos de ter acesso à ponte - disse Robb acaloradamente.

— Sim. E Walder Frey sabe disso muito bem, pode estar certo disso – Respondeu Lady Stark - Por vezes as palavras são capazes de alcançar o que as espadas não são. Os Frey possuem a travessia há seiscentos anos, e desde então nunca deixaram de cobrar a sua taxa.

— E o que ele há de querer? – Robb perguntou, cauteloso.

— Descobriremos isso, quando chegarmos lá – Lady Catelyn respondeu, estremecendo levemente.

— Supondo que consigamos atravessar, já tomou sua decisão sobre qual exército atacar? – Perguntou Lorde Bolton a Robb.

O Stark permaneceu em silêncio olhando atentamente para o mapa. Hermione gostaria que ele já tivesse tomado essa decisão. Os homens estavam impacientes. Lorde Umber liderava a parcela daqueles que julgavam melhor unir forças com Correrrio, lutando contra o exército de Jaime Lannister. Mas havia aqueles como Lorde Glover, que apostavam em um plano para atacar Lorde Tywin.

— Vejo mérito nos dois planos dos Senhores – Robb falou dando um aceno de cabeça grato à Lorde Umber e Lorde Glover – Mas me pergunto porque Lorde Tywin teria dividido seus homens em dois exércitos tão próximos um do outro? A única resposta a que chego, é que ele espera nos pegar pela retaguarda. Se atacamos o acampamento a oeste em Correrrio, ele cavalga do Leste e chega até nos em menos de três horas. Antes que qualquer disputa esteja definida, ele estará sobre nós com um exército descansado e preparado para nos massacrar. Se atacamos o acampamento de Lorde Tywin, Jaime faz o mesmo vindo do Oeste. Não podemos ser presas tão fáceis.

— Pois, eu digo para deixarem que venham – Bradou Lorde Umber exultado. – Não seremos tão covardes...

— Não se trata de ser covarde... – Lorde Bolton começou.

— Se tratar de ser esperto... – Interrompeu Jason Mallister, praticamente aos berros.

— Não ligo para quem é mais esperto... – Lorde Umber berrou ainda mais alto.

— Ainda bem! Porque você não ganharia nenhuma competição... – Lady Mormont o cortou.

Os gritos na barraca estavam ficando cada vez mais estrondosos e coloridos por palavrões que fariam até os gêmeos Weasley ficarem vermelho.

Torrhen lançou a Hermione um olhar com um pedido de desculpas, ela apenas deu de ombros, indiferente.

— Se pelo menos ainda tivéssemos o anão. Poderíamos oferecer uma troca pelo Lorde Stark e suas filhas. – Resmungou Lorde Karstark audivelmente.

Os homens se calaram abruptamente. Não era a primeira vez que que o pai de Torrhen reclamava pela perda do prisioneiro Tyrion Lannister. O rapaz ao lado de Hermione, se remexeu envergonhado.

— Não fiquei mais satisfeita do que os Senhores. – A Sra. Catelyn se defendeu da acusação.

— A piedade feminina é que fez isso. Um homem teria sido inteligente o suficiente para trazer o prisioneiro diretamente à Winterfell, e então teríamos...

— Chega – Robb cortou o Karstark. Sua voz relampejou pelo pavilhão com a força de um trovão. – Não tolerarei nenhuma ofensa contra minha mãe. Ela ainda é a Lady de Winterfell.

O silêncio que se seguiu foi carregado de tensão. Lorde Karstark se calou amuado, mas não se impediu de lançar um olhar de desdém para Lady Catelyn.

A Senhora levantou o queixo em desafio, mas ninguém mais ousou falar alguma coisa a respeito. Depois de um longo momento finalmente Lorde Bolton se pronunciou:

— Precisamos decidir. O que vai ser? Depois de cruzarmos as Gêmeas, atacaremos Jaime ou Tywin?

Robb levantou uma sobrancelha para o mapa a sua frente apertando a mandíbula com força. Contudo, antes que pudesse responder, uma comoção encheu o ar de gritos e palavrões dos soldados do outro lado da tenda.

Torrhen puxou Hermione para trás de si, segurando com força o punho da espada em um movimento sincronizado com os outros trinta homens.

Lorde Umber colocou seu maciço corpo na frente de Robb.

Uma descarga de adrenalina percorreu Hermione ao som já conhecido de aço raspando em couro, e antes que ela se dessa conta, sua varinha já estava em sua mão. Se alguém notou seu gesto, ninguém comentou, porque todas as atenções estavam voltadas para a entra do pavilhão.

O segundo seguinte se arrastou em câmera lenta, os sons lá fora aumentando conforme se aproximavam da tenda.

Dois guardas nortistas invadiram o pavilhão, carregando entre eles um homem relutante.

O intruso tinha uma aparência comum, um rosto esquecível. Os cabelos cortados um pouco abaixo das orelhas, e roupas folgadas e desparelhadas que não continham nenhum brasão.

— Capturamos um batedor Lannister – O soldado Stark mais velho, explicou a interrupção.

Theon se apressou em cobrir o mapa por sobre a mesa e escondeu alguns pergaminhos das vistas do espião.

— Não se preocupe, Rapaz – Falou Lorde Umber, ao notar o movimento de Theon – Ele não sairá daqui com a cabeça.

O soldado se encolheu com a ameaça.

— Onde o encontrou? – Robb perguntou aos seus homens.

— Na encosta acima do acampamento. Ele estava contando. – Respondeu o soldado Stark.

Os Senhores murmuraram incrédulos entre si. Robb ficou subitamente silencioso. Por um momento, seus olhos se fixaram na mesa, onde o mapa estava escondido debaixo de outros pergaminhos.

Lentamente, Robb caminhou ao redor da mesa e contornou Lorde Umber até se aproximar do homem. Ele encarou o soldado Lannister, avaliativamente

— Quantos contou? – Perguntou, temeroso.

O tom de Robb fez Richard Karstark soltar um resmungo incrédulo e Roose Bolton franziu a testa com suspeita.

— Vinte mil, talvez mais. – O intruso não teve escolha se não responder. Ele tinha uma certa expressão de orgulho pelo trabalho desempenhado.

Hermione estremeceu. O homem errara por apenas dois mil homens a mais. “Ele não sairá daqui com a cabeça”, a fala de Lorde Umber voltou para ela, como um soco no estomago. “A guerra é um negócio sangrento e sujo. Com centenas de decisões questionáveis à frente”. Robb lhe dissera isso.  Ela compreendeu que o homem iria morrer.

Robb tinha uma expressão assombrada, quase que de pena do batedor. Os homens trocaram olhares preocupados diante da incerteza de Robb. Para todos na sala, estava bastante obvio o que deveria acontecer a seguir. Entretanto o Stark estava visivelmente relutante.  

— Você não precisa fazer isso – Foi Lorde Glover, quem primeiro compreendeu a aversão de Robb, com a tarefa à frente a ser desempenhada. – Seu pai entenderia.

— Meu pai entende a misericórdia, quando há lugar para ela – Robb respondeu distante – E ele entende a coragem.

As palavras de Robb deixaram os vassalos desconfortáveis. Ele tinha perdido o juízo? Pretendia mesmo deixar o batedor sair daquela tenda com todas as informações do exército?

Por mais que Hermione o respeitasse ainda mais por sua misericórdia, até mesmo ela, concordava que o espião não poderia ficar livre.

— Deixo-o ir – Robb se decidiu, dando a ordem a seus homens. A misericórdia brilhava em seus grandes olhos azuis, soando estranhamente errada.

Os soldados Stark ficaram tão perplexos que não soltaram o batedor imediatamente. Ao invés disso, eles olharam para os demais Lordes como se esperassem que eles intervissem.

Os sussurros de incredulidade e descontentamento borbulharam no pavilhão.

— Robb, você pode fazer dele seu prisioneiro – Hermione derramou seus pensamentos num impulso. Os homens murmuraram em concordância.

Robb deu as costas ao batedor e lançou um olhar cortante em direção de Hermione, tão gélido, que ela estremeceu do outro lado da tenda. Foi difícil não vacilar no lugar, mas ela sustentou o olhar dele mesmo assim, levantando o queixo em desafio.

Até que viu, por baixo da reprimenda, uma expressão de confiança se ascender em Robb, como se sua decisão tivesse uma intenção secreta. Ela engoliu em seco e manteve-se calada.

Ninguém mais ousou questiona-lo, só então, Robb se voltou para o espião Lannister novamente, mas dessa vez, não havia a piedade anterior, apenas frieza refletida em seus olhos.

— Diga ao Lorde Tywin que o inverno está indo encontra-lo. Vinte Mil homens do Norte marcham ao sul para descobrir se é verdade que ele caga ouro.

— Sim. Obrigada. – O batedor respirou aliviado e chegou mesmo a se atrever a sorrir com escárnio para Robb, antes de ser levado para fora pelos atônitos soldados Stark.

Assim que o homem partiu Hermione começou a tremer. A benevolência de Robb poderia ser a ruína dos Stark, antes mesmo, que ele tivesse a chance de tentar. A julgar pelas expressões dos demais nortistas, eles achavam o mesmo.

Lorde Umber estava com o rosto vermelho de raiva. Ele caminhou com passos duros até a entrada para se certificar que o batedor não estivesse mais ao alcance das vozes, então se virou para encarar Robb. O Stark, apesar de muito mais jovem e menor, encarou-o sem vacilar.

Vento Cinzento, atento a mudança da atmosfera, levantou de seu lugar aos pés de Hermione e foi até Robb, vigiando Lorde Umber com seus olhos amarelos e animalescos. Grande-Jon Umber olhou o animal com cautela. Ele já tinha perdido dois dedos para o lobo. Mesmo assim, a fúria que depreendia dele era tamanha que seu corpo grande vibrava com violência.

Assustada com o que poderia acontecer a Robb, Hermione apertou com mais força a varinha entre os dedos, e deu um passo para o lado para colocar Lorde Umber em sua mira. Pronta para defender Robb se fosse necessário.

Os olhares dos dois homens chamuscavam enquanto se encaravam.

— Está sensível, garoto? Deixando ele ir? Nos colocando em posição tão perigosa? – Lorde Umber gritou. Gotículas de saliva voaram para o rosto de Robb.

— Me chame de garoto novamente! – Exigiu ele, sua voz soou como um chicote. Ele estava estranhamente calma, e de algum jeito, isso soava mais ameaçador do que a fúria de Lorde Grande-Jon Umber.

Grande-Jon se aproximou ainda mais de seu Suserano e Hermione chegou mesmo a dar um passo em direção dos dois.

A tensão na barraca parecia perto da explosão.

— Vá em frente – Ordenou Robb, novamente. Ele era todo gelo, como as neves do Norte.

O Senhor mais velho, lançou um olhar para os demais, e percebendo que mais ninguém estava desejoso de desrespeitar seu Suserano, decidiu recuar, mas ainda estava enfurecido o suficiente para dar as costas a Robb e sair da tenda.

Quando Lorde Umber se foi, a tensão na barraca diminuiu um pouco, mais os demais ainda estavam silenciosamente indignados. Embora ninguém parecesse querer continuar a discussão que Grande-Jon tinha abandonado.

— O que é isso em sua mão, Hermione? – Torrhen sussurrou para a bruxa ao seu lado.

Hermione se voltou para ele com um sobressalto. O Karstark estava observando sua varinha com curiosidade.

— Não é nada – Hermione gaguejou em resposta, guardando a varinha na manga do vestido com o coração aos saltos. Felizmente, Torrhen rapidamente ficou desinteressado.

Com uma expressão imperturbável, Robb se voltou para a mesa e resgatou o mapa debaixo dos pergaminhos, alisando os cantos e voltando a posicionar as peças que demarcavam os acampamentos. Ele endireitou a postura e contemplou todos com um olhar confiante.

— Agora Senhores, se me permitirem, eu gostaria de voltar a nossa discussão inicial, pois, eu tenho um plano.

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O exército Nortista marchava determinado pelas Terras Fluviais. A relativa segurança proporcionada pela permanência no próprio território, ficara muitos dias de marcha para trás.

Agora, as terras a frente pertenciam ao inimigo, e a probabilidade de um ataque surpresa crescia exponencialmente. Não se tratava mais de SE aconteceria, mas de QUANDO.

Esse fato era motivo de uma crescente apreensão que atormentava Hermione. Não era incomum que ela se sentisse permanentemente aflita, especialmente quando algum distúrbio, comum a um agrupamento com mais de dezoito mil pessoas, irrompia subitamente. Nesses dias em especial, ela perdia o apetite e tinha noites inquietas.

Era perto do meio-dia quando a vanguarda chegou nas terras de Lorde Walder Frey, o Senhor da Travessia.

Como o batedor Stark os alertara, o rio corria ali rápido e profundo, mas os Frey tinham construído uma ponte sobre ele havia muitos séculos e enriquecido com o dinheiro que os homens pagavam para atravessar.

A ponte era um sólido arco de pedra lisa e cinzenta, suficientemente largo para que duas carroças passassem lado a lado. Exatamente no centro da ponte, uma torre se elevava dominando quer a estrada, quer o rio.

Das bases da ponte, erguiam-se, em cada uma das extremidades, dois robustos Castelos de pedra. As Gêmeas, como eram chamadas, eram duas fortalezas idênticas, igualmente feias e igualmente fortes.

Ao redor dos Castelos, haviam grandes muralhas, profundos fossos e pesados portões de carvalho e ferro, e pontes levadiças.

Das ameias eriçavam-se lanças, espadas e atiradeiras. Havia um arqueiro em cada ameia e seteira, as pontes levadiças dos castelos estavam erguidas, e os portões fechados e trancados.

O conjunto de fortalezas e pontes, tornavam a travessia impraticável sem a autorização dos Frey.

Grande-Jon começou a praguejar assim que viu o que os esperava. Lorde Rickard Karstark olhava, carrancudo e em silêncio.

— Aquilo não pode ser assaltado, senhores - anunciou Roose Bolton.

— E tampouco podemos tomá-lo por cerco sem um exército na margem de lá para investir contra a outra fortaleza – Heiman Tallhart disse sobriamente. - Mesmo se dispuséssemos de tempo, do qual, na verdade, não dispomos.

Enquanto os Senhores do Norte estudavam as fortalezas, uma porta abriu-se, uma ponte de pranchas deslizou através do fosso e uma dúzia de cavaleiros a atravessou a cavalo para enfrentá-los. Seu estandarte, exibia torres gêmeas azuis-escuras em fundo cinza-prateado claro.

O homem que liderava o grupo devia estar na casa dos sessenta nos e tinha a aparência de uma fuinha particularmente velha e cansada.

— Tenho a honra de ser Sor Stevron Frey, herdeiro de Lorde Walder – O homem se apresentou com uma educação forçada. - O senhor meu pai me enviou para saudá-los e perguntar quem lidera esta poderosa hoste.

— Sou eu – Robb respondeu, do alto de sua montaria, com Vento Cinzento ao seu lado.

O velho cavaleiro olhou para Robb com uma leve cintilação de divertimento nos aguados olhos cinzentos, embora seu cavalo castrado, relinchasse inquieto e se afastasse do lobo gigante.

— O senhor meu pai ficaria muito honrado se pudessem partilhar de sua comida e bebida no castelo, e explicar o que os traz aqui.

Aquelas palavras caíram sobre os senhores vassalos como uma grande pedra atirada por uma catapulta. Nenhum deles aprovou a ideia. Praguejaram, discutiram e gritaram uns com os outros.

— Não deve fazer isto, senhor - argumentou Galbart Glover com Robb. - Lorde Walder não é de confiança.

Roose Bolton fez um meneio de concordância.

— Entre ali sozinho e pertencerá a eles. Poderá vendê-lo aos Lannister, atirá-lo para uma masmorra ou lhe cortar a garganta.

— Se quiser conversar conosco, que abra os portões e venha converse com Robb aqui, à vista de seus homens e dos nossos. - Declarou Sor Wendel Manderly.

Hermione partilhava todas aquelas dúvidas, mas bastava olhar de relance para Sor Stevron para saber que não lhe agradava o que estava ouvindo. Mais algumas palavras e qualquer chance para atravessar aquela ponte estaria perdida.

— Eu vou – disse a Sra. Catelyn, apressadamente. Ela parecia ter chegado a mesma conclusão de Hermione.

— A Senhora? - Grande-Jon enrugou a testa.

— Mãe, tem certeza? - Era claro que Robb não tinha.

— Nunca tive tanta – respondeu Lady Catelyn com leveza, que soou fingida para Hermione. – Lorde Walder é vassalo de meu pai. Conheço-o desde menina. Nunca me faria nenhum mal. - Ela não parecia convencida de suas próprias palavras.

— Estou certo de que o Senhor meu pai ficaria feliz por falar com a Sra. Catelyn - disse Sor Stevron. - Afim de atestar as nossas boas intenções, meu irmão, Sor Perwyn, permanecerá aqui até que ela lhes seja devolvida em segurança.

— Ele será nosso hóspede de honra - disse Robb. Sor Perwyn, o mais novo dos quatro Frey do grupo, desmontou e entregou as rédeas do cavalo a um dos irmãos. - Desejo o retorno de minha mãe até o cair da noite, Sor Stevron – prosseguiu Robb - Não pretendo ficar aqui por muito tempo.

— Como quiser, Senhor – Sor Stevron fez um aceno polido, antes de dar meia volta na montaria e retornar com Lady Catelyn em direção do Castelo.

— Ela ficara segura? – Hermione perguntou a Theon, montado ao seu lado.

— Só podemos esperar que sim – Ele respondeu, olhando para o Castelo de Walter Frey com a testa franzida em dúvida, aumentando os receios de Hermione.

Ela sentiu um mal-estar quando viu a ponte levadiça ser erguida novamente, escondendo Lady Catelyn e a comitiva Frey das vistas de todos.

Assim que a ponte levadiça se fechou, os lordes não perderam tempo e rodearam Robb com suas montarias. Hermione não conseguiu compreender suas vozes sussurradas, mas não era difícil imaginar sobre o que discutiam, a julgar por suas expressões sombrias.

Hermione aproveitou o que esperava tratar-se apenas de uma breve pausa na marcha, para desmontar e esticar as pernas. Lentamente, porque suas pernas estavam ligeiramente amortecidas, ela conduziu sua montaria até a margem do rio para deixar que o cavalo matasse a sede.

Seu estado de alerta estava particularmente falho hoje, o cansaço estava levando a melhor sobre ela. Por isso, não foi surpresa, quando ela viu Robb inesperadamente surgir ao seu lado sem que ela tivesse se dado conta de sua aproximação.

Essa era a primeira vez que Hermione se via a sós com Robb, depois do beijo trocado nas escadas da Torre do Portão, em Fosso Cailin. Ela ficou um pouco chocada consigo mesma, ao se descobrir subitamente nervosa com sua presença.

Não era para menos, o sol do início da tarde estava se derramando sob os cabelos avermelhados dele, mudando a tonalidade quase que para um marrom, e o seus límpidos olhos, brilhavam azuis como um céu sem nuvens, ressaltando sua beleza máscula. 

“Foi sem querer”— Ela repetiu as palavras que tentava a todo o custo gravar em seu coração.

Depois do que pareceu uma eternidade, em que ela se perguntou se não estivera olhando para ele com a boca aberta como um peixe fora d’agua, foi que finalmente Hermione conseguiu parar de admira-lo, para seguir a direção do olhar dele, com esperança de distrair seus pensamentos viciados em Robb.

Robb observava a ponte a sua frente, longa e robusta, com seu reflexo sobre as águas do rio, pairando como uma dupla ameaça a ser vencida, mas nunca destruída.

— Muita coisa depende dessa ponte – Por fim, ele admitiu. Sua voz saiu carregada de emoção, mas que a surpreendeu pela força que continha.

— Vamos conseguir – Ela afirmou mais como a expressão de um desejo, e menos como uma certeza incondicional.

Robb engoliu em seco, mas não acrescentou mais nada, e por um momento, os dois apenas permaneceram calados.

— Caminha comigo? - Ele pediu, algum tempo depois, num sussurro.

Hermione concordou com um aceno de cabeça, enquanto voltava a apertar as rédeas nas mãos para conduzir seu cavalo pelo caminho que Robb escolhia.

Apenas com Vento Cinzento e o garanhão de Hermione para lhes fazer companhia, os dois permaneceram em silêncio, caminhando vagarosamente sem rumo lado a lado.

Abrindo uma nova trilha sobre a grama alta.

Ainda que deliberadamente estivessem dentro do perímetro vigiado pelos guardas, aos poucos, os dois deixaram para traz a cacofonia de sons do exército que preparava fogueiras para uma refeição quente bem-vinda, e armava alguns pavilhões para o descanso.

As Terras Fluviais eram bonitas de se contemplar. Havia muitas espécies diferentes de flores e frutos e as cores eram mais quentes e convidativas. Foi agradável sentir o calor, o sol pinicando na pele e o cheiro limpo que vinha da floresta ali perto.

Robb conduziu Hermione para uma arvore que crescia sozinha no descampado. O carvalho era muito antigo e havia se desenvolvido livremente até se tornar imenso, com raízes expostas e muitos galhos baixos, que proporcionavam uma sombra agradável.

Hermione deixou seu garanhão passear livremente enquanto ela se sentava em um dos galhos robustos mais próximos ao chão, achando divertido poder cruzar as pernas depois de tanto tempo sobre uma sela. Robb escolheu permanecer de pé.

— Acha que fiz bem em deixar que minha mãe fosse em meu lugar? –  Ele quebrou o silêncio, ligeiramente ansioso. 

— Penso que as preocupações de seus vassalos são corretas – Hermione declarou suas suspeitas, levantando a cabeça para encontrar seu olhar.

— Um motivo a mais para não deixar que ela entrasse naquele Castelo. Existe uma possibilidade real de que tenhamos entregado mais um valioso refém aos Lannister.

— Diante das opções, se você mandasse alguém de menor importância, poderia ofender os Frey, e qualquer outro de igual importância, estaria correndo o mesmo risco. – Ela argumento com ele.

Robb não respondeu nada, permanecendo em silêncio com uma expressão mordaz.

— Seu plano, para atacar os Lannister – Ela mudou de assunto, desejando distraí-lo da preocupação com os Frey. – Todos os lordes ficaram impressionados.

— Ficaram? – Robb perguntou levantando uma sobrancelha em dúvida.

— Claro que sim. Nenhum deles pensou em um plano tão ousado quanto o seu. – Hermione considerou, orgulhosa dele. Realmente ela se surpreendera com a engenhosidade de Robb. Mas seu sucesso dependia daquela ponte.

— E quanto a você? O que acha? Soou suficientemente estratégico? – Robb se permitiu sorrir levemente para ela.

— Suponho que se a ideia pegou os velhos nortistas de surpresa, Lorde Tywin Lannister nem saberá o que lhe atingiu. – Hermione sorriu reconfortantemente. Mas ele ainda estava duvidoso.

Foi então, que ela se deu conta de algo. Fora o momento com o batedor Lannister, cuja reação tinha um propósito, Robb nunca demostrava suas dúvidas e inseguranças na frente de seus vassalos. Para eles, o Stark era um homem decidido e confiante. Lady Catelyn e Hermione,  eram as únicas para quem Robb demostrava insegurança ou aflição.

Ela supunha, que essa necessidade fazia parte de ser um Suserano. Só podia imaginar como a responsabilidade que lhe era imposta, era difícil.  

O conhecimento a fez compreender o quanto ele confiava nela, e a descoberta aumentou ainda mais seu carinho por ele.

— É um bom plano, Robb – Ela reafirmou com sinceridade, sentindo que ele precisava de encorajamento – Se for executado como o planejado, tem poucas chances de não dar certo.

Ele suspirou cansado, desviando o olhar para o horizonte, perdido em pensamentos por um momento.

Algum tempo depois, Robb veio se sentar ao lado dela no tronco. Hermione estremeceu com a proximidade; tentou fingir indiferença quando seus joelhos se tocaram, mas seu teatro ruiu, quando ele lhe lançou um olhar penetrante.

Ela podia adivinhar que Robb estava recordando o beijo nas escadas, e a lembrança fez suas bochechas esquentarem.

Hermione abaixo a cabeça, subitamente envergonhada. Pois, apesar de tudo, apesar de ser uma garota de um século diferente, uma garota livre e inteligente, ela ainda era apenas Hermione. Havia trocado alguns beijos infantis com Viktor Krum e gastado todo o restante de seu tempo livre, mantendo Harry e Rony, vivos. O que ela sabia sobre garotos? O que ela sabia sobre si mesma a este respeito?

A única coisa que ela sabia, é que gostava do modo como Robb a olhava, como se ela fosse sua pessoa favorita no mundo; e como a presença dele, fazia uma sensação reconfortante se espalhar em seu peito, como se todo o dia fosse uma manhã de natal.

O beijo na escada não havia sido apenas um impulso? ” — Ela ponderou, vagamente surpresa por ainda ser capaz de pensar. –“Merlin, ele bagunça todas as minhas certezas”.

Lentamente, dando tempo à Hermione para recuar se ela desejasse, Robb estendeu a mão para o rosto dela e acariciou sua bochecha com delicadeza. Suas mãos ásperas pelo uso da espada, despertaram nela a familiar sensação de contentamento.

Gentilmente ele levantou o queixo de Hermione para que ela o olhasse nos olhos. Eles estavam tão próximos agora... Robb umedeceu os lábios com a ponta da língua e seu olhar viajou desejoso para a boca de Hermione... ela estremeceu de ansiedade... o hálito dele soprou quente sobre os lábios dela..., mas ao invés de reivindicar sua boca, ele apoiou sua testa na dela.

A ternura dele a deixou deliciosamente alheia a qualquer pensamento.

— Espero que possa me perdoar por não a ter procurado antes – Ele suspirou pesadamente – Tentei, mas há tanta coisa...

Hermione pousou suavemente um dedo sob os lábios dele, silenciando-o.

— Eu sei – Ela sussurrou, compreensivamente.

Robb beijou delicadamente as pontas dos dedos dela, fazendo Hermione sorrir.

— Queria tê-la conhecido em outras circunstâncias – Ele segredou, chateado – Sinto-me culpado por ter meus pensamentos povoados por ti, constantemente.

— Então, anda pensando em mim? – Hermione o provocou, com um sorriso travesso nos lábios.

— Você ainda dúvida do efeito que me causa? – Robb confessou roucamente, pousando a mão livre na cintura dela para traze-la mais perto. Ela foi sem protestos. – Não tem pensado em mim? – Ele fez beicinho.

— O tempo todo – Hermione admitiu timidamente.

Inesperadamente, Robb capturou os lábios dela. Ele tinha gosto de menta na boca; seus lábios eram suaves e gentis; sua língua afagou a dela como a mais intima das carícias.

O beijo foi ainda melhor do que ela conseguia se lembrar. Despertou um arrepio que a percorreu por inteiro e tocou seu amago.

Hermione correu a mão pelos cabelos dele, enroscando os dedos em seus cachos sedosos. Em resposta, os braços fortes e capazes de Robb, rodearem-na protetoramente.

Ela saboreou a doce sensação de se sentir estimada por alguém; não um amigo, ou um parente, mas um homem que apreciava sua feminilidade.

Hermione experimentou uma felicidade pura que não sentia a algum tempo. Era como se o tempo tivesse parado. Ela flutuava de satisfação.

Quando finalmente eles se separaram, um segundo ou uma eternidade depois, foi apenas porque precisavam respirar.

Delicadamente, Robb descansou a palma da mão na bochecha dela, nivelando o rosto dela com o dele. Ele a encarou com seriedade mantendo-a em seus braços.

— Quando isso acabar... quando essa guerra terminar – Ele falou num atropelo, quase sem folego, mas se calou em seguida, engolindo em seco.

Hermione sentiu o coração disparar, ela achava que sabia o que Robb estava prestes a dizer, mas ela estaria preparada para ouvir? Preparada para fazer a escolha que tais palavras implicariam?

Ela simplesmente não queria perseguir nenhuma dessas respostas. Ainda não! Até porque, não seria justo acrescentar mais peso nos ombros dele, já sobrecarregados.

Hermione vez menção de falar, dizer-lhe que por hora, tê-lo ao seu lado lhe bastava, mas antes que tivesse a chance, o barulho de cascos de cavalo martelando o chão, chegou até eles.

— Alguém está se aproximando. Você precisa me soltar – Hermione pediu num sussurro agitado.

— Deixe que saibam – Ele brincou, apertando-a em seus braços com mais força.

— Sua mãe não gostaria muito disso e seus vassalos menos. – Hermione observou em suplica, se desvencilhando dele, mesmo que internamente ela desejasse que ele se rebelasse contra a ideia.

— Droga! – Robb praguejou em descontentamento, mas obedeceu ao seu pedido, mesmo assim.

Hermione se levantou do tronco sentindo-se encalorada. Ela foi recuperar seu cavalo que pastava ali perto, com a esperança de que a distância de Robb, lhe desse algum controle sobre suas emoções.

Quando ela retrocedeu para a arvore, Robb já estava conversando com o cavaleiro, que acabou sendo um soldado Stark.

— Mamãe está retornando ao acampamento. Vamos montar juntos em seu cavalo para retornarmos mais rapidamente. – Robb falou, assim que ela se aproximou deles.

Sem esperar por uma resposta, ele foi até o garanhão de Hermione para segura-lo enquanto ela montava. Ele subiu para o cavalo logo em seguida, sentando-se atrás dela, como nos velhos tempos.

Dessa vez, porém, a proximidade não deixou Hermione desconcertada. O momento entre os dois estava totalmente diluído pela realidade.

A jornada foi breve, e assim que desmontaram em frente ao pavilhão onde os Senhores nortenhos aguardavam, Hermione pode ver a comitiva Frey retornar com Lady Stark guiando o grupo.

Ela suspirou de alívio ao constatar que a Senhora parecia incólume. Mas seu alívio durou pouco. A expressão de Lady Catelyn estava assustadoramente abatida.

Um calafrio se apoderou de Hermione quando a Senhora chegou junto ao filho e desmontou em um silêncio mordaz.

Robb liderou o caminho para dentro da tenta que havia sido montada para o descanso. Lady Catelyn seguia a seu lado, pálida e infeliz. Os Lordes entraram na barraca trocando olhares preocupados.

Os Senhores e soldados da casa Frey se mantiveram respeitosamente afastados, conversando entre si aos sussurros.

Finalmente, dentro do pavilhão, Lady Catelyn tomou um momento para si, se dirigindo até a mesa para se servir de uma taça de vinho. Ela bebeu o líquido com todos os olhos postos nela. Quando baixou a taça, Hermione notou como suas mãos estavam tremendo.

Muita coisa dependia dos próximos minutos e Hermione tinha um pressentimento ruim quanto a isso.

Finalmente depois do que pareceram séculos de espera, ela falou:

— Está feito. Lorde Walder o deixara passar. Os quatro mil homens dele também são seus, exceto quatrocentos, que deseja deixar para defender as Gêmeas. Sugiro que deixe aqui quatrocentos dos seus homens, uma força mista de arqueiros e espadachins. Ele dificilmente pode levantar objeções a uma oferta para aumentar a sua guarnição... Lorde Walder pode precisar de ajuda para manter a fé.

— Será como diz, mãe - respondeu Robb, olhando pasmado para Lady Catelyn. - Talvez... Sor Heiman Tallhart, que lhe parece?

— Uma boa escolha – Ela concordou, secamente.

— Mas isso é uma notícia excelente. – Rugiu um surpreso Lorde Umber.

— Queríamos apenas a ponte, mas quatro mil homens é uma adição importante – Concordou um animado Lorde Karstark.

— E eu que esperava que teríamos um cerco... – Disse aliviado Lorde Manderly.

Robb lançou um olhar desconfiado para o grupo Frey que permanecia afastado da tenda.

— O que irá nos custar? – Ele cortou as comemorações prematuras. Seu tom era sombrio e sua expressão estava novamente em branco, não revelando nada.

As felicitações cessaram de imediato.

Lady Catelyn lançou um olhar de orgulho à Robb.

— Se puder dispensar um tanto dos seus soldados, preciso de alguns homens para escoltar dois dos netos de Lorde Frey para o norte até Winterfell - disse-lhe ela. - Concordei em recebe-los como nossos protegidos. São novos, com oito e sete anos. Julgo que seu irmão Bran acolherá bem a companhia de rapazes próximos da idade dele.

— Dois protegidos. O que mais? – Robb exigiu, inteligentemente sabendo que tamanha benevolência não sairia barato.

— O filho de Lorde Frey, Olyvar, virá conosco - ela prosseguiu - Deverá servir como seu escudeiro pessoal. O pai quer vê-lo feito cavaleiro a seu tempo.

— Um escudeiro – Robb encolheu os ombros. - Certo, está bem, se ele...

— Além disso – Lady Catelyn continuo alertando o filho de que as exigências não tinham acabado. Robb se calou - Se sua irmã, Arya, regressar em segurança para junto de nós, está acordado que se casará com o filho mais novo de Lorde Walder, Elmar, quando ambos tiverem idade.

Robb foi pego de surpresa. Ele franziu a testa em desagrado.

— Concorda com isso mãe? Arya não ficara satisfeita – Robb argumentou infeliz.

— Toda a filha tem o dever para com sua casa de se casar, e para a filha de um Lorde, esse dever é ainda maior. – Lady Catelyn deu de ombros, quase com indiferença.

Hermione sentiu uma onda de enjoo embrulhar seu estômago. Eles estavam mesmo trocando uma pessoa por uma ponte? Esse era o valor de uma mulher nessa sociedade?

Tinha alguma coisa muito errada aqui. Ela decidiu que iria protestar, se mais ninguém o fizesse. Felizmente, Robb estava descontente com a ideia.

— Há outro jeito? – Ele perguntou a mãe, esperançoso.

— Não, se quiser atravessar aquela ponte!

— Isso não me agrada. Porém, a Senhora é a mãe dela e se concorda com isso, não posso ir contra.

Os Senhores se regozijaram baixinho, aparentemente satisfeitos com a ideia de aumentar seus números a preços tão módicos.

Hermione sentiu um gosto ruim na boca com o desgosto que a aceitação fácil de Robb provocou. Ela esperava que ele protestasse e impedisse a insanidade de um casamento arranjado com termos tão frios e desconsiderados. Para ela bastava, ela iria falar, chamar essas pessoas à razão..., então... então ela viu o olhar aflitivo que Lady Catelyn lançou a Robb e um tremor a impediu de se pronunciar.

— E? – Robb apenas perguntou se dando conta de que havia mais. Ele soou temeroso, embora suas feições estivessem frias como gelo.

Um silêncio perturbador caiu sobre a tenda.

— E... – A Senhora Stark, sempre tão decidida, sempre tão franca, estava relutante em continuar. Ela lançou um olhar estranho, carregado de emoção, na direção de Hermione que fez a Bruxa prender a respiração. Pelo visto, tratava-se de algo suficientemente difícil para desmontar a camuflagem de frieza da Sra. Stark.

— E... – Ela continuou respirando fundo. - Sua Senhoria consentiu amavelmente em deixá-lo escolher a moça que preferir. Tem uma quantidade delas que julga serem adequadas. O casamento deve acontecer assim que a luta terminar.

Hermione deveria ter compreendido mal. É claro que ela tinha ouvido errado... não era possível... Os Frey estavam oferecendo um noivado? Para Robb? Mas não era para Arya?

Ela olhou em volta à procura de alguém que desfizesse o mal-entendido, mas todos os rostos estavam sérios. Alguns, como Lorde Umber, até pareciam constrangidos.

Um lento e profundo buraco começou a se abrir debaixo dos pés de Hermione. Seu coração que estivera batendo no peito como um louco, de repente, diminuiu o ritmo como se não soubesse como continuar a bater.

Hermione encontrou o olhar de Robb. Ele estava pálido e tão incrédulo quanto ela se sentia. Seus olhos azuis estavam tempestuosos; carregados de uma emoção crua indecifrável. Ele nunca desviou o olhar do dela.

— Não – Foi a resposta retumbantemente firme de Robb.

— Não – Ele repetiu, mas dessa vez, apenas para Hermione.

Um silêncio apavorante se ergueu entre os homens. Ela estremeceu.

— Meu filho - Lady Catelyn chamou por Robb, no limite do desespero – Se você recusar a oferta, juro-lhe que nunca irei culpa-lo. Mas peço, por favor... suplico... que considere, que do outro lado daquela ponte, seu pai e irmãs o esperam!

As palavras de Lady Catelyn cortaram mais profundamente do que qualquer espada. Hermione sentia-se sufocar como se um visgo do diabo imenso a estivesse apertando até o limite da vida.

Robb permaneceu em silêncio com as mãos cerradas em punho ao lado do corpo sem desviar o olhar de Hermione.

Pareceu, que o momento que ela e Robb tinham compartilhado a pouco no velho carvalho, se passara a milhares de anos atrás. Subitamente, ela desejou ter obtido dele, aquela promessa que ele parecia tão desejoso de fazer. Não... não... não... teria sido errado! Afinal tudo aquilo não tinha sido real, não é? Foram apenas alguns beijos roubados, sem importância... nenhum dos dois tinha trocas juras de amor... não era nada! Hermione tentou se convencer.

Desejou que estivessem sozinhos, pois, de repente queria muito abraça-lo.

— Talvez devêssemos deixar a família a sós – Disse Lady Mormont, como se tivesse lido os pensamentos de Hermione.

Os Senhores concordaram com um aceno de cabeça e se moveram para a entrada da tenda.

Então... Hermione soube... com um lampejo de compreensão... finalmente ela entendeu. Promessas e desejos, realidade ou fantasia, seus sentimentos por Robb, fossem eles quais fossem, simplesmente não importavam. Porque ela não pertencia a esse lugar. Não podia desejar nada que fosse dele, porque não pertencia a ele.

Não era justo que pedisse a Robb algo que ela mesma nunca poderia lhe dar. Sua permanência em Westeros era apenas passageira. Ela tinha um lar, uma casa, uma vida... outra vida... e Robb nunca faria parte dela. Isso teria fim... para ela, mas não para ele. Não poderia haver para ele.

Seus olhos arderam com as lagrimas que ela lutou para sufocar, mesmo assim, sustentou o olhar de Robb quando se ouviu dizendo numa voz que nem parecia ser sua:

— Eu faria qualquer coisa. Qualquer coisa que eu pudesse. Qualquer coisa que me pedissem... pelo meu pai. – Hermione confessou a única verdade que importava. Porque somente isso era real. Os beijos que eles haviam trocado não eram nada. Mas o pai dele, preso?! As irmãs sequestradas?! Isso era tudo o que importava. Ela suspirou profundamente infeliz e continuo: – Qualquer coisa.

Os homens interromperam sua saída. Eles olharam lentamente dela para Robb, em suspensa expectativa.

Robb engoliu em seco e espalmou as mãos sobre a mesa a sua frente, como que para buscar apoio. Pela primeira vez, ele vacilou diante de seus vassalos.

— Consente? – Lady Catelyn refez a pergunta que estava no ar.

E depois de um silêncio terrivelmente longo...

— Consinto – Robb respondeu solenemente, dando as costas a todos e marchando para fora da barraca com passos duros que ressoaram assustadores no silêncio do pavilhão. Ele nunca chegou a olhar para trás.

 


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