A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 9
Capítulo 8: A CHAVE PARA O NORTE.


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo vai para todos que ficam esperando por essas atualizações demoradas! Ah... e se você ler isso e achar deliciosamente brega, então eu terei atingido meu objetivo, porque eu adorooooooooooooooooooooooo breguice...

Nunca escrevi esse tipo coisa, deixem-me saber se fiz direito! (Isso significa que quero comentários? Sim, por favor!).

(Erros gramaticais, ortográficos, pontuação e sei lá mais o que... go fuck yourself).



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Capítulo 8: A CHAVE PARA O NORTE.

Beijos molhados salpicaram o rosto de Hermione e o peso reconfortante que pressionava levemente seu peito, recuou quando ela finalmente deu sinais de despertar de seu sono profundo.

Os pequenos raios de luminosidade que invadiam seus aposentos através da estreita fenda incrustado na pedra, não chegavam a ser o bastante para ferir seus olhos, mas afastavam a escuridão o suficiente para revelar o intruso que babava em seu rosto.

Vento Cinzento, o lobo de Robb, dava voltas no pequeno armário de vassouras que era atualmente o seu quarto, tão entusiasmadamente, que foi quase impossível ficar aborrecida com ele por ter lhe despertado tão cedo.

O lobo malvado, mordeu o canto das cobertas da garota e as puxou para o chão descobrindo Hermione. Ela soltou um gritinho de protesto quando o frio súbito do quarto a assaltou, mas Vento Cinzento, não se incomodou com o som. Ele voltou a apoiar as patas dianteiras no peito dela, exigindo carícias.

Sorrindo preguiçosamente, ela cedeu ao pedido e coçou atrás das orelhas do lobo. Ele fechou os olhos em apreciação.

Ela também gostaria de poder fechar os olhos e voltar a adormecer. A curta noite de sono, não fora o suficiente para que ela conseguisse se recuperar da cansativa jornada que fizera até ali. Contudo, o quarto em que fora posta, não chegava a despertar tal luxúria.

O aposento era estreito e empoeirado, mobiliado com uma cama de solteiro recostada na parede, um colchão de palha velha que cheirava mal e um criado mudo desgastado, que sustentava uma bacia com água fresca e uma vela consumida pela metade.

O único ornamento era mesmo, Vento Cinzento, que satisfeito com a atenção recebida, foi se aninhar em cima do tapete de peles puído, que cobria o chão de pedra.

Espiando pela fenda que os construtores da torre, decerto um dia ousaram considerar como uma janela adequada, Hermione constatou tristemente que o dia lá fora estava péssimo, terrivelmente cinzento e enevoado.

Ela bufou em descontentamento, lutando para colocar seu corpo cansado em movimento.

— Feche os olhos, Vento Cinzento. – Hermione murmurou, virando a cabeça no travesseiro para encarar o lobo deitado preguiçosamente ao lado da sua cama. – Uma dama vai ficar nua.

Meia hora depois, ela estava inteiramente pronta. Usava seu costumeiro vestido de lã, botas de couro - seus tênis não sobreviveriam a esse pântano - e os cabelos, que haviam crescido consideravelmente, trançados de modo simples e discreto. Bem como ela gostava.

— Vamos, seu labo malcriado – Ela chamou, abrindo a porta do quarto.

Vento Cinzento a obedeceu de imediato, se levantando num salto e saindo porta à fora.

Era impressão dela, ou o lobo estava maior do que deveria?

Em frente à sua porta, ninguém menos do que Torrhen, a aguardava. Ele roía uma unha distraidamente, com um ombro apoiado na parede. Usava um conjunto requintado de vestes e uma capa negra que ainda reluzia de tão nova. Sobre seu gibão, estava bordada a insígnia de um sol prateado sobre um fundo negro.

Quando ele a viu, se apressou em se desencostar da parede e endireitou a postura, repousando o braço sobre o cabo de uma pesada espada presa a cintura.

— Agora entendi porque você é o Sol de Inverno – Falou Hermione, recordando que na noite anterior, o rapaz se identificara com essas palavras ao guarda da Torre.

— Isso mesmo, Senhora – Ele respondeu com uma carranca – É o lema da casa Karstark.

— Mas você é jovem demais para ser o Lorde Karstark – Hermione ponderou, seguindo lentamente em direção as escadas. Torrhen a acompanhou.

— Não sou jovem como pensa. Já tenho vinte e dois anos – Disse ele, estufando o peito cheio de importância. - Sou o filho mais novo do Lorde.

O olho direito do jovem idoso ainda estava arroxeado, embora o corte em seus lábios, tivesse uma aparência muito melhor. Apenas um pequeno aranhão insignificante. Ela nem sabia como fora possível que tivesse sangrado tanto ontem.

Por mais que Hermione tentasse se convencer internamente que ele tivera o que merecera, por praticamente sequestra-la e arrasta-la até o acampamento, estava falhando miseravelmente em ignorar a culpa diante dos hematomas no rosto dele.

— Me desculpe por isso – Ela apontou para o olho ferido, cedendo finalmente ao caráter que seus pais haviam lhe ensinado com tanto zelo.

Torrhen franziu a testa para ela com uma careta de limão-azedo.

— Que foi? - Hermione exigiu, revirando os olhos para ele – Oh, por favor, Torrhen. Foi só uma briguinha de nada. Não acredito que vai ficar chateado comigo para todo o sempre?

— Não estou chateado com isso. Bem… estou, mas – Ele titubeou ficando vermelho sobre o olhar incrédulo que Hermione lhe lançou – É que havia jurado que a Senhora era péssima. Não esperava por pedidos de desculpas.

— Pois, pode apostar que estou sendo absolutamente sincera. – Hermione falou, sorrindo amigavelmente para ele – Não costumo agir desse modo, bem... costumo…, mas não sempre… mais do que deveria, na verdade… uma vez quebrei o nariz de um garoto…, mas ele era decididamente horrível e você não é como o idiota do Malfoy.

Ela se calou, percebendo que estivera tagarelando desenfreadamente.

— Porque não estou surpreso? – Ele perguntou retoricamente, finalmente sorrindo para ela – Neste caso, também lhe devo desculpas pela corda.

— Estamos quites – Hermione deu de ombros, fazendo o seu melhor para ignorar o latejar das feridas, que voltou a doer com força total, por causa dos movimentos em excesso que fizera para se aprontar essa manhã.

Ela retornou sua caminhada lenta pelos degraus em direção à única sala da Torre no térreo. Torrhen, voltou a acompanhar Hermione, com uma expressão tortuosa no rosto.

— Se está tão chateado com isso, porque continua me seguindo? – Ela perguntou com uma sobrancelha questionadora se levantando.

— Não estou seguindo Milady. – Ele se defendeu apressadamente – Lorde Stark me nomeou seu guarda.

O motivo do aborrecimento dele finalmente foi revelado, e Hermione descobriu que havia uma coisa que Torrhen e ela partilhavam em comum.

— Não preciso de escolta - Ela deu um bufo indignado.

— Com todo o respeito, Senhora. Por mais que eu também não esteja feliz com a tarefa, Lorde Stark está correto em tomar essa precaução. Milady é a única mulher entre os doze mil homens neste acampamento. Bem, a única que não sabe usar uma espada. Os homens sabem que não podem mexer com as Senhoras Mormont. O fato é que, por mais que eu acredite firmemente na integridade dos homens da minha casa, não posso dizer o mesmo dos demais. Os soldados ficam muito tempo longe de casa, de suas esposas, e às vezes eles podem ser…

Torrhen não conseguiu continuar. Ele abaixou a cabeça para encarar seus sapatos, envergonhado, mesmo assim, Hermione entendeu o que ele queria dizer. Com um sobressalto, ela se lembrou das mãos pegajosas de Stiv e seu estomago embrulhou.

— Está bem, Senhora? – Perguntou o rapaz, de repente com uma expressão preocupada – Está pálida.

— Estou bem. É só que... – Hermione não conseguiu terminar a frase. Ela respirou fundo e tentou afastar os sentimentos ruins que sempre a acometia, quando ela se recordava do episódio na Mata dos Lobos. – Se isso te chateia tanto, vou pedir a Lorde Robb para que nomeie outro.

— Não faça isso, Senhora, por favor. Essa é a primeira tarefa importante que meu Suserano me dá. Quero provar meu valor. Cumprirei com a obrigação da melhor forma que puder. É só que - Ele parou de falar, lançando a Hermione um olhar de soslaio, enquanto sorria fracamente como quem pede desculpas. – Precinto que a Senhora me dará muito trabalho.

— É possível meu caro. Tudo é possível – Hermione devolveu o sorriso para ele.

Se tinha que ter um guarda lhe seguindo para todos os lados, preferia que fosse Torrhen a qualquer outro.

Um lance de escadas depois, e o rapaz e Hermione, estavam no térreo da Torre do Portão, no mesmo salão em que ela tivera sua pequena discussão com Robb, na noite anterior.

O aposento era ainda mais decadente a luz do dia, cheirava a fumaça e mofo e para fazer companhia à argamassa rachada, possuía um modesto mobiliário: havia cadeiras desparelhadas de pernas bambas, um aparador combalido, uma lareira que fazia mais fuligem do que calor, e uma mesa retangular de pedra negra de basalto, que parecia pertencer ao lugar desde o início dos tempos, e era realmente o único objeto notório na sala.

Aparentemente, o salão arredondado era a sala de reuniões dos Lordes Nortenhos, pois, estavam todos os vassalos da casa Stark, reunidos em volta da mesa tomando o desjejum, enquanto discutiam assuntos diversos. O Senhor de Winterfell, ocupava a cabeceira da mesa e conversava com o homem de aspecto sombrio e fala mansa chamado Roose Bolton.

Assim que Hermione chegou aos pés da escada, os Senhores se esticaram para lhe dar uma boa olhada, alguns com expressões de incredulidade, outros descontentes e quase todos, irritados.

Se Robb lhes dera alguma satisfação sobre sua presença, Hermione não sabia e tão pouco se importava, não era para esses Senhores que ela fizera uma promessa. Entretanto, não precisava ser uma legilimente para saber que eles a consideravam uma tola mimada.

Para o azar deles, porém, Hermione era muito bem treinada na arte de adentrar em salões cheio de olhares julgadores e fingir indiferença. Nenhum desses guerreiros barbudos e grandalhões eram páreos, em praticar bullying, como os adolescentes Hogwarturiano.

Com toda a dignidade que foi capaz de reunir, Hermione caminhou calmamente até um lugar vago à mesa, enquanto vinte pares de olhos a seguiam de perto.

Torrhen, puxou uma das cadeiras para ela se sentar e acomodou-se na cadeira vaga ao lado.

— Bom dia – Ela cumprimentou a todos, surpreendendo até a si mesma com a segurança que ela conseguira imitar em sua voz.

Alguns dos homens resmungaram seus cumprimentos, outros como Lorde Bolton e Halys Hornwood, não se dignaram a tanto, mas Lorde Umber, lhe deu um aceno de cabeça e um sorriso de encorajamento.

— Bom dia, Milady – Robb a saudou com mais formalidade do que o habitual e lançou olhares de desagrado aos homens que a encaravam com desaprovação.

“10 pontos para a Grifinória, Srta. Granger. Pela ousadia em fingir que é seu direito, participar de um concelho de guerra, como se fosse uma inocente Lady representando sua casa”— a professora McGonagall da sua cabeça, a felicitou animadamente.

Um silêncio levemente constrangedor pairou na sala e perdurou durante longos minutos, nos quais, servos entraram com bandejas de alimentos para servir aos recém-chegados.

Hermione estava faminta, tendo comido tão mal nos últimos dias e tão pouco na noite anterior. Ela se serviu de uma generosa fatia de pão preto e um reconfortante bocado de queijo. A moça da cozinha não precisou insistir muito para que ela também aceitasse um pedaço de bolo de mel com especiarias.

— Porque eles parecem tão animados com a minha presença? – Hermione perguntou com ironia, à Torrhen.

O rapaz partiu um pedaço de seu próprio pão e mastigou por um tempo antes de falar:

— Preferiria não responder a essa pergunta, Senhora – finalmente ele disse, engolindo a comida como se estivesse envenenada.

— Por qual motivo? – Ela insistiu, enrugando a testa para o desconforto repentino do outro.

— Porque não é nada lisonjeiro - Torrhen levou às pressas o cálice de cerveja aos lábios, e tomou um gole mais demorado do que o normal, como se quisesse evitar mais explicações.

A bruxa olhou para ele por um momento, tentando entender o que o estava deixando tão acanhado e vermelho, e então, a compreensão a atingiu e ela também corou.

— Eles pensam que estou seguindo Robb...? – Ela não pode continuar.

— Para se enfiar na cama dele? – Torrhen concluiu, embora não fosse bem isso que Hermione pretendesse dizer – Sim. É exatamente o que pensam.

— Eu..., mas... não é por isso que vim! – Hermione se defendeu indignada, um pouco mais alto do que deveria. Várias cabeças se viraram para ela, para aumentar seu desconforto.

— Eu sei Senhora, não precisa me convencer – Torrhen se apressou em afirmar, bebendo mais um longo gole de seu cálice, logo em seguida.

Hermione se virou para a frente e comeu num silêncio incomodado. Como eles ousavam pensar que ela fosse tão... que ela seria... que ela faria uma coisa dessas? Caramba! Será que eles pensavam que o único interesse das mulheres eram os homens? Ela ficou enfurecida e precisou se conter para não levantar e dar um de seus discursos.

Sentiu alguém a observando atentamente, e qual não foi sua surpresa, ao levantar os olhos da sua refeição e encontrar Theon Greyjoy a vigiando com interesse? Ele sorria para ela com um de seus sorrisos maliciosos idiotas. Isso só fez crescer a indignação em Hermione. Ela sentiu vontade de jogar um hipogrifo nele.

Para seu alívio, a sala foi se esvaziando conforme os Senhores terminavam o seu desjejum e se retiravam, alguns para seus aposentos nos andares superiores, e a maioria, para o acampamento dos soldados.

— Senhor? – Torrhen se dirigiu a Robb – Posso ir conversar com meu pai por um instante?

— Sim. Claro – Robb consentiu. Ele se recostou no espaldar da cadeira e fixou um olhar avaliativo em Hermione. – Está livre está manhã. Lady Granger permanecera comigo.

Torrhen não esperou para ser dispensado uma segunda vez.

— Quase não acreditei quando Robb me contou que Milady estava aqui - Theon falou, do seu lugar a mesa. - Não conseguiu ficar longe de mim?

— Não Theon, você é irresistível demais – Ela respondeu com sarcasmo, ainda sentindo a raiva fervilhar por pensarem tão pouco dela.

Mas suas palavras secas não causaram nenhum dano a Theon, que continuou olhando para ela com aquele sorriso irritante, como se soubesse de um segredo divertido que ninguém mais conhecia.

Robb permaneceu calado, observando os dois com uma expressão indecifrável.

Hermione respirou fundo, decidindo ignorar o que pensavam os vassalos de Robb. Havia coisas mais importantes com o que se preocupar, e eles deveriam saber disso melhor do que ela.

O que a bruxa desejava realmente, era que Robb compartilhasse com ela tudo o que estava acontecendo. Contudo, as coisas neste novo mundo não eram como no seu próprio. As mulheres dificilmente eram incluídas em assuntos que “pertenciam” aos homens. A elas, era relegada a responsabilidade da casa e os filhos, mas nunca a segurança dos lares ou os conflitos políticos. Robb não era Harry ou Rony nem seu próprio pai, que nunca deixava sua mãe de fora das decisões.

E então, ela se lembrou de que a própria mãe de Robb, a Sra. Catelyn, tão pouco era submissa ou alienada. Até onde Hermione fora capaz de conhece-la, a Lady de Winterfell, tinha imposto sua presença e vontade com determinação e não fora rechaçada nenhuma vez.

Talvez houvesse um modo de Hermione fazer Robb aceitar sua participação com a mesma naturalidade. Ela tinha que tentar.

Estando apenas os três no aposento, ela julgou que seria seguro falar mais livremente:

— Você pode me contar alguma coisa do que está acontecendo? – Hermione perguntou a Robb com cautela. Desejava mesmo era exigir respostas como faria se estivesse com seus amigos, mas isso aqui, não era a escola.

O Stark despertou dos devaneios em que estivera perdido, voltando a se acomodar na cadeira em uma postura formal. Ele limpou a garganta:

— Bem, já que chegou até aqui, parece que Milady tem real interesse em participar – Começou Robb. Seu tom de voz era grave e cordato, a voz do Lorde de Winterfell – Mas tenho que perguntar... tem certeza que é isso que deseja, Hermione? A guerra é um negócio sangrento e sujo. Com centenas de decisões questionáveis à frente. Você está pronta para se envolver? Pronta para corromper seu espírito? Para renunciar a sua inocência tão facilmente?

Robb a olhava com uma seriedade desconcertante. A preocupação dele a pegou de surpresa. Um choque de realização a assaltou. Ela não estava diante de um rapaz de dezenove anos, estava diante de um homem maduro o suficiente para se preocupar com mais do que machucados e violência física, ele se preocupava com sua consciência. Essa compreensão vez Hermione sentir uma admiração inteiramente nova pelo ruivo a sua frente.

Ela ponderou com cuidado as palavras dele, mas tais preocupações haviam chegado tarde demais para ela. Hermione já não era mais uma moça ingênua. Voldemort conspurcara a inocência dela, com a maldade que impregnava tudo o que ele tocava. O mundo dela, sua vida, já estavam corrompidos pelo mal, mesmo que apenas de modo indireto, porque ela era uma sangue-ruim, ela era amiga de Harry Potter e por causa disso, já estava no centro de uma guerra, já tinha escolhido um lado e, já tinha no coração, as feridas consequentes de sua escolha.

— Não sou, nunca fui, do tipo que prefere à ignorância as custas de outras vidas - Hermione finalmente respondeu, depois de um longo tempo. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro e ela conseguia sentir o medo reverberado em suas palavras, mas não esclareceu mais do que isso.

— Mas você compreende que estou lhe dando uma chance, uma que não tive, de se manter livre do peso e da responsabilidade? – Robb voltou a insistir, seus olhos azuis brilhavam com uma certa tristeza.

— Compreendo, mas do que imagina. Agradeço por isso. Mas já estou comprometida. Posso dar conta disso. Vou provar para você – Ela garantiu resoluta.

— Tudo bem. Creio que faça sentido. Você estava lá, no começo, afinal – Robb suspirou com um misto de alívio e pesar.

Ficaram em silêncio por um momento, e Theon aproveitou para pular algumas cadeiras e se sentar do lado esquerdo de Robb, Hermione o imitou se aproximando e tomando o assento a frente de Theon.

— Depois de montar o acampamento aqui em Fosso Cailin, coloquei espiões no leste e sul para obtermos algumas informações que nos ajudasse a compreender a situação real em que nos encontrávamos. – Começou Robb, relaxando um pouco mais a postura sobre a cadeira – Eu temia que minha mãe tivesse sido precipitada ao capturar o anão, Tyrion Lannister, e infelizmente, eu estava certo. Assim que ela o colocou sob custodia, Tywin Lannister, o pai de Tyrion, tomou isso como uma ofensa, e não esperou para resolver o conflito pelo intermédio da coroa, como deveria acontecer se de fato tivéssemos um Rei. Julgo que meu pai concordaria, que o poder da coroa já estava muito desgastado antes de tudo isso acontecer, e essa guerra só reforça como o Rei Robert perdeu a força de outrora.

Robb divagava, mas Hermione concordou com um aceno de cabeça. Isso fazia sentido.

— Porque acha que a Sra. Catelyn, foi precipitada? Sabendo o que os Lannister fizeram com seu irmão, isso não era inevitável? – Hermione questionou cruzando as mãos sobre a mesa.

Ela mal teve tempo, diante das novidades, para registar que Robb, ao lhe contar as informações que possuía, estava mais do que concordando em deixa-la participar, estava dando-lhe também, um voto de confiança.

— Sim. Em algum momento, a casa Lannister seria confrontada pelos crimes que cometeu contra meu irmão, e possivelmente contra Jon Arryn. Contudo, eu esperava que quando isso acontecesse, tivéssemos nas mãos provas para exigir a justiça do Rei. Esperava ter tempo para fortalecer as fronteiras do Norte e treinar adequadamente um exército. Quem sabe forjar alianças. Achava que quando a hora chegasse, teríamos colocado minhas irmãs em segurança e o pai teria voltado para casa. Porém, as ações da minha mãe, mudaram todo o curso dos acontecimentos. – Robb respondeu contrariado.

Robb tinha razão, mesmo assim, Hermione gostaria de saber se Lady Catelyn tivera tempo e oportunidade de considerar as implicações de suas ações, ou se simplesmente, fora obrigada pelas circunstâncias a agir.

— Lorde Eddard foi ferido e preso na Capital e seus guardas mortos, pelo irmão de Tyrion, Sor. Jaime, correto? – Hermione repassou as informações que conhecia. Quando recebeu um aceno de confirmação de Theon, continuou: Mas quanto a Lorde Tywin, o ele esteve fazendo?

— Tywin mandou seu vassalo, Gregor Clegane, o Montanha, um dos homens mais perigosos de Westeros, saquear e queimar as vilas das Terras Fluviais que ficam no caminho para o norte, terras que são de Correrrio, que pertencem ao pai de minha mãe, o Lorde Hoster Tully. Eles causaram caos na região, forçando os vassalos de meu avô a reagirem. Imprudentemente, os Senhores das Terras Fluviais, ao responderam com aço à Gregor Clegane, acabaram fazendo exatamente o que Tywin queria: espalhar o exército de Correrrio por todo o Tridente e diminuir as forças de meu avô.

— Mas isso é culpa inteiramente de seu tio, Edmure – Theon ressaltou. Pelo tom que usava, ficou claro para Hermione, que aquele era um tópico de aborrecimento para os dois.

— Eu esperava que ele fosse menos impulsivo e mais inteligente. Gostaria de saber o que pensa meu avô. – Robb afirmou, irado.

— Mas o que os Lannister pretendem com isso? Porque não marchar sobre o Norte? – Hermione perguntou, com a testa franzida.

— O Norte é difícil de tomar. Nosso território tem praticamente a mesma extensão dos demais seis reinos juntos. Nosso terreno é cheio de surpresas, com suas neves de verão e com um frio que é único em nossa região. Toma-lo requer recursos, mas principalmente, tempo, coisa que eles não têm. Além disso, claramente Lorde Tywin pretende abocanhar mais terras e nada melhor do que aquelas que já ficam ao lado das suas. Não o vejo desejando um território que não tem minas para explorar ou terra fértil para plantar durante o ano todo. – Robb concluiu, dando de ombros.

— E enquanto tudo isso acontecia, o que o Rei estava fazendo? Porque o que Lorde Tywin está fazendo, não parece estar dentro das leis.

— E não está. Contudo, Robert também não parece ser o mesmo homem de quem Lorde Eddard costumava falar – Theon ponderou, beliscando um canto do bolo de especiarias que ainda repousavam sobre a mesa - Por tudo o que sabemos, ele se ausentou para caçar e voltou gravemente ferido, morrendo logo em seguida.

— Foi meu pai, enquanto Mão do Rei, que reagiu – Robb retomou os relatos – Pouco antes de ser preso e de Robert morrer, ele enviou da Capital uma força sob o comando do Lorde Beric Dondarrion para prender Sor. Gregor e trazê-lo à justiça do Rei. Infelizmente, Lorde Beric e seus homens, foram atacados e quase exterminados pelos exércitos de Tywin Lannister. Por tudo o que sabemos, os sobreviventes conseguiram voltar a se agrupar e se chamam agora de Irmandade Sem Bandeiras, mas é difícil determinar o quanto de verdade há nessa história. Há relatos dos mais diversos e quase todos afirmam que Beric morreu. Isso é tudo o que sabemos. – Robb terminou com um ar soturno.

Hermione ficou em silêncio, contemplando o negrume do tampo da mesa. Não parecia haver uma saída diplomática para o caos em que se encontravam.

— O que você pretende fazer? – Hermione perguntou, depois de um tempo.

— Você realmente não vai desistir, não é? – Robb voltou a perguntar, dessa vez, com um brilho de orgulho no olhar.

— Não vou – Hermione respondeu determinada.

O Stark se levantou da mesa se dirigindo ao aparador recostado na parede. A pequena superfície da mesa, suportava uma infinidade de pergaminhos, mapas, tinteiros e pequenas peças entalhadas em madeira.

Depois de vasculhar o conteúdo do aparador, Robb retornou para a mesa com uma braçada de peças e um mapa. Com um movimento fluido, ele estendeu o mapa em cima da mesa e distribuiu as peças em pontos estratégicos sobre os desenhos coloridos de rios, montanhas, florestas e castelos.

Hermione se levantou da mesa para ter uma visão mais ampla do mapa, que agora parecia um tabuleiro de xadrez.

Todo o continente de Westeros estava minuciosamente desenhado. Ela pode ver ao Norte, ilustrada em tinta branca, a Muralha de Gelo cortando à terra de um oceano a outro; alguns quilômetros ao sul da Muralha, Winterfell estava representada por um Castelo de tinta cinza; havia outras fortalezas com inscrições coloridas, todas propriedades dos Nortistas.

Pequenas peças entalhadas em madeira com o formato de cabeças de lobo, estavam reunidas em um estrangulamento que dividia o fim das terras nortenhas com o sul. Acima das peças, Hermione podia ler em tinta verde as palavras Fosso Cailin, o lugar onde o exército do Norte estava atualmente acampado.

Depois de Fosso Cailin, o terreno se abria para uma porção de terra tão extensa quanto o norte.

Vários quilômetros abaixo, peças de madeira com o formato de cabeças de leão, estavam divididas em dois agrupamentos, dois exércitos, separados por algumas milhas e dispostos quase que em uma linha reta, um a leste e outro a oeste.

O acampamento a oeste cercava Correrrio ameaçadoramente, o exército a leste estava sobre as terras de Harrenhal.

A capital, Porto Real, ainda ficava muitos quilômetros ao Sul.

— Entende de mapas? – Theon perguntou notando o desconforto crescente de Hermione.

— O suficiente para saber, que para chegarmos até Lorde Stark e as meninas, teremos que passar entre dois exércitos Lannisters.

Era pior do que Hermione supunha, mas não totalmente inesperado. Pelo que se dizia, Lorde Tywin, era um dos homens mais inteligente e implacáveis dos Sete Reinos, e Robb, comandava pela primeira vez.

Novamente, o silêncio reverberou desconfortável entre os três, cada um perdido em seus próprios temores.

— Posso fazer uma pergunta? – Hermione questionou, ligeiramente ansiosa com a possibilidade de ofender Robb com sua interrogação.

— Vá em frente – Robb deu seu consentimento.

— Porque escolheu esse lugar para o acampamento? Parece uma pilha de destroços…

Robb sorriu, ligeiramente orgulhoso consigo mesmo.

— Venha comigo, Milady, e explico o porquê – Disse ele, dando a volta na mesa em direção das escadas - Está dispensado Theon.

— Mas pensei que... – Theon ficou incomodado, mas Robb lhe lançou um olhar penetrante e ele não teve escolha, se não, se retirar.

Robb conduziu Hermione pelas escadas em espiral da torre, subindo à frente dela. Os degraus eram muito estreitos e íngremes, e conforme Hermione avançava em sentido anti-horário, subindo cada vez mais alto, sentia que as paredes iam se fechando ao seu redor. A cada novo andar, a escada ficava mais irregular, com saliências pontiagudas nos degraus que machucavam os pés. Em alguns deles, Robb mal conseguia pisar com a sola inteira da bota. O único mecanismo de segurança era uma correte de ferro chumbada na parede, para fazer às vezes de corrimão, mas não chegada a ser sólida o suficiente para acalmar a crescente angústia que tomava conta de Hermione conforme subiam.

Ela não tinha notado o quão perigosa aquelas escadas poderiam ser, ao descer por elas aquela manhã.

Robb olhou para trás a viu Hermione vários degraus abaixo dele. Ela subia hesitante, se agarrando as paredes.

— A velha Yve subiria mais rápido do que você – Ele zombou com sua risada rica e cheia, fazendo ecos pelas paredes.

Robb perdeu o olhar aborrecido que Hermione lhe lançou, enquanto retrocedia para alcançá-la.

— Essa é uma Torre de Menagem. É construída para ser o último reduto de defesa de um castelo. Nesse tipo de torre, todos os acessos devem ser difíceis de tomar. As escadas são edificadas para dificultar a subida do inimigo, por isso, é tão estreita e íngreme. Se você puder colocar seu oponente, degraus abaixo de você, terá uma vantagem inestimável. – Robb lhe explicou estendendo a mão para ela. – Venha, eu a ajudo.

Hermione mal conseguia olhar para ele, tão concentrada estava em pisar nos degraus estreitos. Usar um vestido não facilitava as coisas. Ela estava tremula com a subida e aceitou a mão estendida com um suspiro de alívio.

Como não havia espaço para que caminhassem juntos, Robb subia a frente lentamente, com o corpo virado de lado, para poder segurar a mão de Hermione. A caminhada foi meio desajeitada, mas ela se sentiu capaz de chegar ao topo, com força segura que emanava dele.

Finalmente, o final da escada se abriu para as ameias e Hermione respirou aliviada. A tensão a abandonando por completo.

Em cima da torre, o clima era brutal. O vento soprava com força a saia do seu vestido e os fios de cabelo, curtos demais para se manter presos na trança, ricocheteavam seu rosto. O dia permanecia cinzento e escuro, mas isso não a impediu de ter uma visão surpreendente da paisagem pantanosa que se descortinava a frente.

O terreno se estendia a sua volta, com o pântano cercando-os e engolfando toda à terra firme por quilômetros ao norte, sul, leste e oeste.

Robb cumprimentou os guardas que faziam a vigia com bestas apoiadas nos ombros e com delicadeza, apoiou a mão nas costas de Hermione para conduzi-la até o parapeito sul da torre.

O toque inesperado, fez borboletas voarem no estomago dela. Hermione sacudiu a cabeça para ignorar a distração e prestar a atenção no que ele falava, mas uma parte dela, continuou muito consciente da pressão reconfortante em sua coluna.

— Fosso Cailin, é chave para conquistar o Norte – Ele apontou para a vastidão de terras inabitadas que se espalhava a frente - As três torres dominam o talude de todos os lados, e qualquer inimigo tem de passar entre elas. Os pântanos, aqui, são impenetráveis, cheios de areia movediça e poços, e repletos de serpentes. Para assaltar qualquer uma das torres, um exército teria de avançar através de esterco negro que chega ao peito dos homens, atravessar um fosso cheio de crocodilos e escalar muralhas escorregadias com musgo, e tudo isso enquanto fica exposto ao fogo dos arqueiros nas outras torres – ele deu um sorriso sombrio - Dizem que os velhos Reis do Norte poderiam instalar-se em Fosso Cailin e repelir tropas dez vezes maiores que a sua. E quando a noite cai, dizem que há fantasmas, espíritos frios e vingativos do Norte que têm fome de sangue sulista.

— Obrigada por me avisar. Da última vez que verifiquei, eu mesma era uma sulista – Hermione brincou.

— Não deve ter o que temer, imagino - Ele sorriu para ela, aumentando levemente a pressão dos dedos em suas costas - Tem um espirito suficientemente nortista para que os fantasmas a deixem em paz.

— Pretende esperar por Lorde Tywin, aqui? - Ela perguntou, compreendendo que a escolha de terreno era excelente para lutar contra qualquer ameaça vinda do sul.
— Se ele viesse tão longe, eu esperaria – Robb respondeu desanimado, retirando a mão das costas de Hermione e indo apoiar os cotovelos em uma das largas ameias. Hermione sentiu que o dia ficou mais cinzento – Ninguém realmente pensa que ele virá. Enviei uma mensagem para Howland Reed, o Lorde que comanda essas terras. Ele é um velho amigo de meu pai. Se os Lannister subirem o Gargalo, os cranogmanos os sangrarão ao longo de todo o caminho, mas Galbart Glover diz que Lorde Tywin é inteligente demais para isso, e Roose Bolton concorda. Acreditam que vai permanecer perto do Tridente, tomando os castelos dos senhores do rio um por um, até Correrrio ficar completamente isolada. Precisamos marchar para o sul ao seu encontro.

— É uma pena, porque posso ver como esse lugar parece seguro para quem ataca do norte.
— Se tivesse que escolher um lugar para nossa luta, seria esse. – Robb concordou - Mas não posso me dar ao luxo de esperar, mesmo que quisesse. Esse não é um exército regular como os que as Cidades Livres estão habituadas a manter, nem uma força de guardas pagos em dinheiro. A maioria é gente simples: pequenos caseiros, trabalhadores rurais, pescadores, pastores de ovelhas, filhos de estalajadeiros, comerciantes e curtidores, complementados por um punhado de mercenários e cavaleiros livres ansiosos pelo saque. Quando seus senhores chamam eles se apresentam, mas não para sempre, e o inverno está chegando.

O lema Stark ecoou como um aviso premonitório.

— Grande-Jon pensa que devíamos levar a batalha até Lorde Tywin e surpreendê-lo, mas os Glover e os Karstark pensam que seríamos mais sensatos em rodear o seu exército e juntar forças com Sor. Edmure contra o Jaime – Ele passou os dedos pelos fartos cachos arruivados com um ar infeliz - Embora, quando finalmente atingirmos Correrrio... não tenho certeza.

— E o que você acha? – Ela perguntou, curiosa.

— Estou considerando as possibilidades com cuidado, mas não gosto realmente de nenhuma delas. Os números não estão a nosso favor. O exército Lannister a leste está sob comando do próprio Lorde Tywin, ele tem cerca de vinte mil homens, e a oeste é Jaime Lannister quem comanda, ele tem quinze mil soldados.

— E quantos homens você tem? – Hermione engoliu em seco.

— Quando os homens de Porto Branco se juntar a nós, teremos dezoito mil – Robb suspirou desanimado.

Entre todas as pessoas, Robb era quem mais precisava acreditar que era possível vencer. Se ele mantivesse a esperança, os homens que o seguiam também manteriam.
— Havia um guerreiro, um Rei que foi forçado a assumir a coroa do pai muito cedo. – Hermione falou, se virando para o norte e apoiando as costas no muro de pedra. - Ele também era jovem, como você, e inteligente, como você. Em sua batalha mais importante ele também não tinha os números.

— E ele ganhou? – Robb questionou, curioso, olhando para o sul.

— Nunca perdeu nenhuma batalha e se cobriu de gloria.

— Como ele faz isso?

— Com estratégia. Ele era tão bom nisso que seu nome atravessou os séculos e mesmo depois de dois mil anos, ele ainda é chamado de Grande.

— Tomara que eu possa ser tão brilhante quanto ele. Embora, não seja gloria o que procuro, apenas minha família. – Robb suspirou, pensativo.

— Parece um motivo ainda melhor. Quando pretende partir? – Hermione perguntou, num sussurro, virando a cabeça para olhar o perfil de Robb. A ideia de deixar esse lugar a enchia de medo.

— Assim que Lorde Manderly, de Porto Branco, se juntar a nós com seu exército. Minha mãe está com eles. Foi parar em Porto Branco depois que saiu do Vale dos Arryn. Espero que com ela chegue notícias boas do Vale. Até agora meus corvos não voltaram.

— Lysa Arryn é sua tia. Tem poucas chances de ela não responder – Hermione o tranquilizou, certa de que era apenas uma questão de tempo para as forças do Vale se juntarem a guerra com Robb, afinal, os Lannister também eram responsáveis pela morte de seu Lorde.

Entretanto, Robb parecia mais cético, ele franziu a testa visivelmente inquieto.

— Espero que esteja certa. De qualquer modo, assim que minha mãe chegar, partiremos. E então, começa.

Os dois permaneceram em silêncio sobre as ameias, observando lá embaixo o movimento das tropas. A maioria dos homens se dividia entre as tarefas para manter o acampamento funcionando e o treino de espadas.

— Estou feliz que tenha vindo – Robb confessou, com um murmúrio relutante.

— Pensei que estivesse detestando a minha presença.

— Nunca – Ele se apressou a dizer, ainda olhando para a frente fixamente. - Mas estou dividido entre a sua segurança e o meu desejo de mantê-la por perto. Eu deveria cumprir minha ameaça de prende-la em alguma torre, até que a guerra acabe. Mas talvez, eu deixe meu egoísmo ganhar.

— Eu ficarei bem – Hermione o tranquilizou. Ela chegou a levantar a mão para pousar nas costas dele, num gesto de conforto, mas achou por bem não o faze-lo.

— Milady é tão diferente. É honesta e franca. Ousada até. Se importa com as coisas que as Ladies não costumam de importar. – Ele continuou com uma voz distante - Olho nos olhos dos homens e eles me olham de volta em expectativa, esperando que eu fracasse, com medo dos meus erros…, mas Milady... Milady me olha como se eu já fosse o homem que almejo ser, e isso me deixa em paz.

Hermione ficou pregada no chão. As palavras dele ressoando em sua mente como uma canção de ninar. Ela olhou para o perfil dele sem encontrar palavras, e permaneceu quieta, ficando surpresa ao perceber que o silêncio entre eles, era confortável.

— Vamos descer - Ele pediu, com a voz carregada de uma ternura que fez o coração dela palpitar mais forte.

A bruxa seguiu alguns passos atrás dele, enquanto Robb novamente liderava o caminho para as escadas.

O que está acontecendo comigo? ” – Ela se perguntou, verdadeiramente assustada, enquanto seguia Robb, que novamente tomava a dianteira em direção das escadas.

Não fazia sentindo experimentar esses sentimentos com as coisas que ele lhe dizia..., mas exatamente o que ele lhe dissera? Tinha algum significado oculto, ou era apenas um comentário amigável? Porque as borboletas em seu estomago não estavam se comportando? Porque raios ele tinha que ser tão malditamente bonito? Ele sempre encontrava uma maneira de toca-la, ficar por perto, isso queria dizer alguma coisa? Ela queria que quisesse dizer alguma coisa...? “Estou ficando maluca?

Hermione não estava realmente prestando a atenção no caminho. Sua cabeça rodava, assim como rodavam seus passos pela escada em caracol, em um turbilhão de emoções novas e incompreensíveis.

Subitamente, sua alma deu um salto para fora de seu corpo, interrompendo seu fluxo ansioso de pensamentos.

Seus pés não encontraram a superfície do degrau abaixo, como deveriam. Reflexivamente ela buscou o corrimão improvisado, mas suas mãos livres arranharam apenas a parede. Sua mente ficou em branco, enquanto os próximos milésimos de segundo se arrastaram em câmara lenta e ela se debateu procurando por apoio para evitar a queda iminente.

Inevitavelmente, ela colidiu contra Robb. O coração saltou-lhe pela boca com a imagem macabra que se formou em sua mente, com dois corpos alquebrados e ensanguentados nos degraus abaixo.

Contudo, Robb fora incrivelmente ágil, e com um movimento fluido, ele conseguiu se agarrar ao corrimão improvisado, ao mesmo tempo em que girou o corpo na escada, para amparar uma Hermione em inevitável queda livre.

Seu braço de aço rodeou a cintura dela e a firmou no lugar, bem a tempo de evitar um pescoço partido. Robb, estava firmemente plantado na frente dela como um muro de proteção sólido.

A adrenalina ribombou em seus ouvidos, e por alguns segundos, os dois apenas mantiveram suas posições enquanto a calmaria se instalava.

Hermione sentiu suas pernas falharem. Ela tremia incontrolavelmente e não saberia dizer se era inteiramente por causa do susto, ou pela proximidade arrebatadora dele.

A fragrância masculina que depreendia de Robb, assaltou todos os seus sentidos; lembrava à Hermione o cheiro de florestas, de couro e aço.

Ela levantou a cabeça para agradecer e ele, mas emudeceu diante dos olhos azuis que a fitavam, intensos e escuros, como o céu quando está para chover.

Robb a admirava como se ela fosse uma joia preciosa que brilhava como um farol em meio a escuridão. Diante daquele olhar, ela teve uma compreensão súbita, de que esse olhar, o olhar dele, a fazia se sentir delicada, feminina... era uma sensação inteiramente nova e chocantemente necessária. Ninguém nunca a apreciara desse jeito... de uma maneira que a fazia se sentir uma garota... uma garota bonita.

Inconscientemente, os dois se moveram pelas escadas como se estivessem sendo puxados pela própria gravidade, como uma dança.

Hermione sentiu a parede curva da torre pressionando suas costas e Robb se ergueu a frente dela, alto e imponente. Ele estava tão sério. Ele era sério. Um dos motivos pelos quais ela o achava tão atraente.

A intensidade que queimava no olhar dele a manteve imóvel. As borboletas em seu estomago se multiplicaram exponencialmente.

Ela mordeu o lábio quando Robb levou uma das mãos à parede ao lado dela, cercando-a com sua incontestável presença masculina.

Ele colocou dois dedos embaixo do queixo dela, e suavemente levantou seu rosto para trazer sua boca mais próxima da dele. Seu hálito fresco se derramou por sobre o rosto dela, como uma carícia.

Instintivamente, Hermione abriu os lábios em expectativa e então, finalmente, depois de uma espera dolorosamente longa, Robb se inclinou em sua direção e roçou os lábios cheios contra os dela, e eram tão macios…

Um arrepio a percorreu. O toque fora o mais gentil de todos, mas a deixou inebriada, intoxicada.

Robb se afastou para estudar seu rosto, e os olhos dele estavam ainda mais escuros e vorazes.

Isso estava mesmo acontecendo? Era real, ou um sonho? Ela tinha que ter certeza... Hermione levantou nas pontas dos pés e retribuiu o toque.

Oh! Era real, e ainda mais perfeito que um sonho… ele tinha gosto de mel, gosto de descoberta.

Ele pressionou os lábios dela com mais força… deslizou a mão livre pelo seu rosto… emaranhou os dedos em seus cabelos.

Hermione se apoiou nos ombros fortes dele e abriu a boca instigando-o. Robb aceitou seu convite e deslizou a língua para provar seus lábios e em seguida invadiu sua boca para explora-la. O beijo que começara doce, ficou ardente.

A mão que ele mantivera na parede, caiu para as costas de Hermione; um pequeno suspiro de prazer escapou dos lábios dela, em resposta, Robb, a puxou para si, extinguindo o pouco espaço que ainda restava entre os dois.

O mundo se desintegrou ao redor de Hermione, quando ele saqueou o céu da sua boca, e suas línguas enfim se encontraram…

Um uivo alto de Vento Cinzento, ecoou em algum lugar próximo, e Hermione e Robb interrompendo o beijo com um sobressalto. Os dois arfavam pesadamente.

Robb se afastou o suficiente, mas não a soltou completamente. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios avermelhados e o transformou no rapaz que era. Ele desviou o olhar para o chão, como se tivesse sido pego em uma travessura.

Hermione teve de morder o lábio inchado, para não rir do embaraço dele.

 - Minha Senhora, eu...  – Começou Robb, num sussurro rouco que fez Hermione se arrepiar, mas foi interrompido pelo som alto da porta da torre batendo com força contra as dobradiças.

— Lorde Stark? – Uma voz jovem e masculina chamou lá de baixo. – A comitiva de sua mãe acabou de ser vista se aproximando.

Robb levantou os olhos novamente para ela. Nada precisava ser realmente dito entre os dois. Havia um entendimento implícito, que de se pudesse, ele permaneceria com ela, mas precisava partir.

A mão quente dele, deixou as costas de Hermione e veio repousar sobre a mão dela, que ainda estava descansava no ombro dele. Gentilmente ele retirou a mão dela e depositou um pequeno beijo na palma, fazendo Hermione estremecer.

Robb se afastou para atender ao chamado, mas antes de desaparecer completamente na curva da escada, ele se voltou para ela completamente sério novamente, e lhe lançou um olhar cheio de promessas.

Hermione permaneceu ali, pregada a parede, com a respiração subindo e descendo descompassada no peito, certa de que nunca foi tão completamente beijada.

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Nota do autor: E então? E então? E então? (Dando pulinhos ansiosos), o que acharam?


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