O Incidente Delthara escrita por Valdir Júnior


Capítulo 8
Dagobah




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O “Dagobah” era grande, com mesas espalhadas pelo salão, quase todas ocupadas por representantes dos vários povos integrantes da Federação individualmente ou em grupos, fazendo com que se misturassem idiomas dos mais diversos. O bar ocupava mais da metade da parede à esquerda da entrada, aonde um habilidoso barman Edosiano, com os seus três braços, fazia malabarismos com as coqueteleiras, preparando as bebidas. Ao fundo havia uma pista de dança, também cheia de gente se agitando ao som da barulhenta música dançante que era o sucesso do momento, tocada por quatro jovens músicos e uma vocalista de voz estridente (kirk ficou em dúvida se eram terráqueos ou centaurianos), de cima de um palco oval elevado.  Do lado direito, mais afastadas da pista, estavam duas mesas de Dom-Jot (1), mas apenas uma delas estava ocupada por três corpulentos nausicaanos (2), que pareciam jogar valendo alguma coisa, a julgar pelos xingamentos e empurrões que trocavam entre si.

O lugar lembrou a James Kirk um daqueles bares com música ao vivo de Iowa, seu estado natal, aonde ele e seu irmão George iam se divertir, beber, arrumar garotas e confusão, quando eram pouco mais que adolescentes. E estas lembranças o fizeram sorrir, com um pouco de saudade daqueles tempos. Ele viera acompanhado de Sulu e M’Ress. Quando o capitão convidou Spock para ir com eles, o vulcano havia respondido com um resmungo, dizendo em seguida que “a lógica indicava que ele seria mais útil se continuasse a trabalhar no computador”.

Os três estavam vestidos como se fossem turistas querendo se divertir, tentando não chamar a atenção. Sulu usava um terno azul claro, com uma gravata fina, que era a última moda em São Francisco. Kirk preferiu usar uma camiseta branca, jeans e a jaqueta de couro que o Dr. McCoy havia lhe dado de presente no seu último aniversário. M’Ress, porém, não conseguiu passar muito despercebida, apesar de estar vestindo um macacão verde claro bem comum e haver prendido os fartos cabelos em uma trança simples. Assim que eles entraram, os olhares de alguns machos das varias espécies ali presentes foram atraídos para as curvas generosas e o andar sensual da tenente. Ouviram-se até alguns assovios não muito discretos. Ela pareceu não ligar e logo que eles se sentaram em umas das mesas, o ambiente voltou ao normal.

— Você está fazendo sucesso, M’Ress – disse Sulu, divertido.

— É que alguns machos, mesmo depois da adolescência, continuam a ser guiados por seus hormônios – respondeu ela, séria.

Uma das garçonetes, loira e de cabelos trançados, se aproximou sorridente da mesa deles para anotar os pedidos.

O capitão pediu uma cerveja andoriana escura, Sulu uma dose de “bourbon” e M’Ress preferiu um suco de ameixa.

A jovem passou os pedidos para o bar através do “pad” e quando ia sair para buscá-los, Kirk a chamou novamente.

— Pois não? – disse a garota.

— Estamos procurando por uma mulher chamada Aysha, que costuma aparecer por aqui. Ela provavelmente é órion. Por acaso você a conhece? – perguntou o capitão.

Aquele nome pareceu chamar a atenção dela. Ainda sorrindo, ela os observou discretamente por alguns segundos antes de responder:

— Sinto muito, mas não conheço ninguém com este nome. – respondeu ela, saindo rapidamente em direção ao bar - Com licença.

Sulu ficou olhando para a garota que se afastava rígida e comentou:

— Com certeza ela sabe de alguma coisa.

— Capitão – disse M’Ress, indicado com um leve aceno de cabeça o balcão do bar.

A garçonete havia ido até o balcão para pegar as bebidas que eles pediram. Porém, após colocar os copos na bandeja, ela se encaminhou discretamente a mesa de Dom-Jot onde os nausicaanos estavam jogando, deixou uma garrafa de cerveja e conversou com eles por alguns segundos. Os grandalhões Imediatamente largaram os tacos e foram se sentar bem perto de onde estavam Kirk e sua equipe. A moça levou as bebidas, colocou-as na mesa, estendeu seu “pad” para que Kirk fizesse o pagamento e saiu rapidamente, sem dizer uma palavra. Os nausicaanos, sem tirar os olhos da mesa do capitão, conversavam baixo entre si.

— Está acontecendo alguma coisa – disse o Kirk discretamente – Fiquem alerta.

Enquanto Sulu e M’Ress tomavam sua bebidas, Kirk usou o comunicador para contatar Spock.

— Spock aqui – disse o vulcano, abrindo o canal.

— Comandante – disse o capitão – parece que nós podemos enfrentar alguns problemas. Preciso que você monitore nossos comunicadores a partir deste momento. Se não entramos em contato dentro de trinta minutos peça ao comodoro Balzad que mande uma equipe de seguranças para a nossa última localização.

— Não seria mais seguro enviar a assistência imediatamente? – perguntou Spock.

— Ainda não tenho certeza de como a situação vai se desenrolar. Por enquanto fique atendo aos nossos sinais e siga as minhas ordens como combinado. Kirk desliga. – disse o capitão, fechando o comunicador.

  Kirk olhou em volta sorrindo, parecendo relaxado. Notou que os nausicaanos ainda os vigiavam. Tomou um grande gole da sua cerveja e se levantou, fazendo um sinal para que Sulu e M’Ress fizessem o mesmo e os três calmamente encaminharam-se para a saída do bar. O capitão viu que os três grandalhões também se levantaram, seguindo-os com os olhos.

— Preparem-se – disse Kirk a sua equipe, em voz baixa.

Eles haviam caminhado pouco mais de cinquenta metros pela rua arborizada, na direção do carro aéreo, quando ouviram uma voz cavernosa dizer às suas costas:

— Parem onde estão e virem-se com calma, com as mãos levantadas.

 Antes de se virarem, os três trocaram olhares discretos entre si e Sulu notou que Kirk já havia tirado um mini-phaser do bolso da jaqueta e estava com ele escondido na palma da mão. Infelizmente ele não o único que notou a manobra.

— É melhor soltar esta arma, porque vocês já estão na minha mira e não vai sobrar muita coisa se eu atirar.

Sem outra opção, o capitão soltou o phaser e eles se viraram devagar, encarando seus atacantes. Kirk e Sulu ficaram estrategicamente em frente a M’Ress, para protegê-la.

 Os três nausicaanos estavam armados. O que estava mais à frente, o maior deles, segurava uma grande pistola de phase (3), muito parecida com os disruptores que os Klingons (4) e Romulanos usavam. Os outros traziam adagas largas na cintura, além de bastões de choque. 

— Quem são vocês? – perguntou o nausicaano.

— Apenas três amigos que vieram se divertir e tomas “umas” – respondeu Kirk  - Algum problema, senhores?

— Vocês são o problema – disse o nausicaano secamente – porque estão procurando Aysha? De onde a conhecem?

— Olhem, deve ter havido algum mal entendido – respondeu o capitão – ela foi indicada por um amigo em comum. Nós estamos apenas tentando encontrá-la para conversar com ela.

— E como este amigo se chama? – perguntou o nausicaano.

— Prefiro não dizer por enquanto – Respondeu Kirk.

O nausicaano deu uma risada grutual.

— Na verdade, isso não importa. Quando acharmos Aysha nós teremos todas as respostas que precisamos – respondeu o grandalhão.

— Então acho que isso resolve a situação – disse Kirk.

— Mas não queremos que ela fale com mais ninguém, a não ser conosco. E nós pretendemos garantir que isso aconteça – falou o nausicaano, com um sorriso sombrio, já levantando a arma para atirar.

 

 

Referências do Capítulo:

(1) O Dom-Jot é um jogo que usa bolas coloridas transparentes  e tacos dotados de molas, que se joga em uma mesa de formato irregular com caçapas e pinos iluminados e mistura certos elementos do bilhar com alguns dos jogos de pinball.

(2) Os Nausicaanos são uma espécie humanóide originária do planeta Nausicaa no quadrante Beta da galáxia. São grandes e fortes, geralmente ultrapassando os dois metros de altura, famosos por sua falta de sutileza e de suas maneiras rudes, além de geralmente estarem mal-humorados. Possuem uma estrutura óssea proeminente na cabeça e tem presas afiadas e salientes em cada lado da boca. Nos seus primeiros contatos com os humanos eram considerados mercenários e piratas espaciais, mas com o passar dos anos se tornaram comerciantes, mineiros e trabalhadores braçais, onde a força era requisito primordial.

(3) As armas de phase são armamentos utilizados tanto pela Frota Estelar (os conhecidos Phasers) como por algumas culturas externas à Federação (disruptores), em forma de armas portáteis (pistolas e rifles) ou em grandes bancos nas naves Estelares. Esta tecnologia está fundamentada na emissão modulada de um feixe de plasma por um cristal resultando numa descarga de partículas Nadion. O Feixe de energia resultante é ajustável, podendo ser regulado para um simples tonteio até a completa desintegração. Os cristais supercondutores são montados em estruturas denominadas emissores de phaser, constituindo no ponto focal do raio de partículas.

(4) Os Klingons são uma raça humanóide de guerreiros que habitam o planeta Qo'noS (Kronos). São um povo orgulhoso e tradicional que valoriza a honra pessoal e familiar acima de tudo. Sua cultura agressiva os tornou um poder militar temido e respeitado por todos. A fisiologia Klingon é bastante diferente, com seus órgãos vitais tendo redundâncias múltiplas, permitindo que eles tenham uma resistência enorme a ferimentos mortais durante uma batalha. Outra característica mais evidente são suas reentrâncias na testa, formando um aglomerado de pele rígida.

 


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