O Incidente Delthara escrita por Valdir Júnior


Capítulo 3
Nova Missão




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O gabinete chefiado pelo almirante Nogura ocupava quase metade do octogésimo andar do Quartel General da Frota Estelar, em frente à baía de São Francisco, na Califórnia. Como Chefe de Operações era sua responsabilidade coordenar a equipe de capitães Estelares e oficiais, designar as missões das naves e tripulações, programar e supervisionar quaisquer modificações ou avanços tecnológicos que fossem necessários para garantir a funcionalidade da Frota.

James Kirk chegou ao escritório do almirante alguns minutos antes do horário agendado para a reunião. Identificou-se com a ordenança na sala de espera e sentou-se no sofá, aguardando ser chamado. Precisamente no horário marcado, a voz do Almirante soou no intercom: “Diga ao capitão Kirk para entrar”. A ordenança fez um sinal para ao oficial e ele se encaminhou para a porta automática, que estava se abrindo. E quase esbarrou com o contra-almirante Cartwright, chefe do setor de segurança do Conselho da Federação. Ele resmungou, acenou para o capitão com a cabeça e saiu sem dizer nada.

Assim que o capitão entrou, Nogura indicou com a mão estendida uma das confortáveis cadeiras que estavam posicionadas em frente à grande mesa que ocupava.

— Sente-se por favor, Jim -  e assim que Kirk se acomodou, perguntou: - Quer beber alguma coisa?

— Não, obrigado.

— E como vão as coisas na Enterprise?

— Nós passamos por alguns apuros nos últimos meses, mas de modo geral tudo ocorreu bem. Não poderia querer uma tripulação melhor.

— Sim, eu sei – disse Nogura – tenho recebido os relatórios e nós estamos bastante satisfeitos com o bom trabalho que você e a sua equipe tem feito. Pelo menos, eu estou – disse, olhado para a porta por onde Cartwright saíra. E após uma pequena pausa, ele sentou-se em sua cadeira e continuou – E por isso temos uma missão muito importante para vocês.

O almirante pegou um “pad” que estava na mesa e o passou ao capitão Kirk.

— O que você sabe sobre o Projeto Excelsior? – perguntou Nogura.

— Apenas o que foi divulgado confidencialmente de maneira preliminar para todos os oficiais seniores e engenheiros graduados da Frota. Será uma nova classe de cruzadores Estelares, que já está em fase de desenvolvimento, maior e mais pesada que a classe de naves Constitution, que abrange a Enterprise, por exemplo.

— A diferença não será só no tamanho – continuou Nogura – ela terá um conjunto de escudos aperfeiçoado, bancos de “feisers” e torpedos fotônicos duas vezes maiores e de um novo motor, que desenvolverá a velocidade de cruzeiro em dobra sete e poderá alcançar uma velocidade emergência que chamamos de “transdobra”, próxima do fator nove.

“Próxima do fator nove?”— pensou Kirk – “a velocidade máxima de emergência que a Enterprise alcança é pouco abaixo do fator oito. Esta velocidade absurda praticamente só existe em teoria.”

— Como você pode ver – disse o almirante, apontando para o “pad” na mão do capitão – o protótipo já está em fase final de construção, nos Estaleiros de Utopia Planitia, em órbita de Marte.

Kirk observou na tela além dos dados técnicos, fotos em 3D da bela nave, praticamente terminada. Já recebera até o seu número de registro, NCC-2000.

— Ela está montada, com todos os sistemas básicos de operação, navegação e suporte de vida instalados e testados – disse Nogura – mas temos um sério problema. O motor ainda não funciona.

O capitão levantou surpreso os olhos dos dados que estava lendo.

— Como assim? – perguntou kirk – todos os esquemas técnicos da propulsão estão aqui. E as imagens mostram que as naceles (1) já estão operacionais.

— Mas a nave não tem o sistema principal: o núcleo de dobra.

O capitão Kirk colocou o “pad” sobre a mesa e esperou que o almirante continuasse.

— A estrutura do núcleo de dobra da Excelsior foi desenvolvida por um de nossos oficiais, que servia na U.S.S. Intrepid. Quando ele nos enviou os primeiros esboços e simulações, percebemos o imenso avanço que este equipamento traria para a Frota Estelar. E também que alguns potenciais adversários da Federação teriam grande interesse em por as mãos nestes planos, sob pena de ficaram em desvantagem tática. Por isso este projeto foi colocado sob código de sigilo máximo e transferimos o tenente Torias Dax para Delthara, no planeta Alpha Centauri VII, onde ele teria tranqüilidade e recursos para desenvolver o protótipo do motor.  Para o pessoal da nossa base no planeta ele era apenas um mecânico que foi se juntar à equipe de manutenção do esquadrão de caças. Somente alguns poucos oficiais aqui no Quartel General, o comandante da Frota em Delthara e a diretora do laboratório onde ele trabalhava sabem qual era sua verdadeira função. – Nogura fez uma pausa - Ele nos enviava semanalmente relatórios sobre o andamento do projeto, mas há três dias recebemos esta mensagem codificada, por um canal de emergência da Frota.

O almirante acionou um comando no painel da sua mesa e a mensagem de áudio foi reproduzida nos auto-falantes:

“Segurança do projeto comprometida. Movendo localização. Procurem Aysha”.

E desde então ele não foi visto e nem conseguimos contatá-lo. – Continuou Nogura recostou-se na cadeira, suspirando e olhando para Kirk – É por isso que o chamei aqui.

— Quem é Aysha? – Perguntou o capitão.

Nogura suspirou antes de responder, demonstrando irritação.

 - Não fazemos idéia. Mas por motivos de segurança, deixamos este nome fora dos relatórios oficiais. Apenas você e eu temos esta informação.

— Então o senhor quer que eu descubra o que aconteceu com este engenheiro?

— Apesar de ter dado início ao projeto do núcleo de dobra, o tenente Dax não é propriamente um engenheiro – disse Nogura. - Sua formação é como piloto de espaçonaves. Mas ele é um Trill.

— Um... Trill? – Kirk pareceu confuso.                                               

O almirante pegou o “pad” novamente, digitou alguns comandos e o entregou para Kirk, já com o arquivo sobre os Trills na tela.

— Os Trills são uma “raça unificada" – disse Nogura - cujos membros humanóides oferecem seus corpos como hospedeiro para “entidades vermiformes” sencientes, em um relacionamento de simbiose. O pequeno simbionte quando unido a um Trill hospedeiro se aloja na sua cavidade abdominal. Ele preserva as experiências de todos os seus hospedeiros e acumula as capacidades deles, que passam a fazer parte da memória de todos os seus hospedeiros posteriores, que podem ser acessadas pelo simbionte, se necessário. O tenente Torias é o quinto hospedeiro do simbionte Dax e foi o primeiro do seu povo a entrar para a Frota Estelar.

— Então, pelo que entendi, a autoria do projeto do núcleo de dobra da Excelsior não é propriamente do tenente.

— Não, ele começou a ser desenvolvido por um engenheiro chamado Tobin Dax, o segundo hospedeiro, há quase cem anos, durante a guerra contra os Romulanos (2). Porém na época ainda não existia a tecnologia para por suas idéias em prática, então o simbionte Dax aguardou o momento mais propício. Quando o tenente Torias tomou conhecimento do Projeto Excelsior, as memórias do simbionte foram despertadas e ele nos procurou, querendo ajudar.

— Muito bem senhor – disse Kirk, levantando-se – vou voltar à Enterprise para tentar acelerar os reparos e convocar a tripulação. Assim que estivermos preparados...

— Não capitão – Interrompeu Nogura – enviar uma nave Estelar para resgatar um mecânico pareceria um exagero que chamaria muita atenção e levantaria suspeitas indesejadas. Nós preferimos que este assunto fosse resolvido da forma mais rápida e discreta possível. Prepare uma equipe de quatro ou cinco pessoas e vá para Alpha Centauri imediatamente. Vocês vão se apresentar como investigadores da Frota tentando apenas descobrir o que aconteceu com o nosso tripulante.  Uma nave classe Danúbio está a sua espera na doca espacial e as todas as informações a respeito da missão já estão nos seus bancos de dados. É primordial que nós localizemos o tenente Torias o tragamos a salvo de volta à Terra o mais depressa possível.

— Entendo.  – disse o capitão, fazendo uma pequena reverência com a cabeça – vou preparar minha equipe e aviso ao senhor assim estivermos partindo.

E saiu da sala. Como sempre, havia muitas coisas a se fazer em muito pouco tempo.   

 

 Referências do Capítulo:

(1) As Naceles são as partes visíveis do sistema de propulsão das naves da Federação, parecidas com tubos localizados acima ou nas laterais das espaçonaves e são vitais para que elas alcancem as velocidades de dobra. Cada nacele utiliza a quantidade enorme de energia gerada pela reação de matéria e anti-matéria no núcleo de dobra do motor para criar em torno das naves uma bolha sub-espacial que as permite viajar mais rápido que a velocidade da luz. 

(2) Os Romulanos são descendentes dos separatistas Vulcanos (fisicamente eles são quase idênticos) que não concordaram com a filosofia da lógica e da paz implantada pelo líder Surak e deixaram seu planeta natal em busca de um novo Mundo. Encontraram os planetas Ch’rihan e Ch’hauran, onde estabeleceram uma civilização baseada em princípios de coragem, honra e poder. A Nave da Frota Estelar U.S.S. Carrizal, em seus primeiros contatos com eles, chamou os planetas gêmeos de Romulus e Remo. Por sua índole militar e guerreira, iniciaram uma violenta guerra contra a Federação, que terminou com o Tratado de Alpha Trianguli, estabelecendo a Zona Neutra.

 


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