Lolita escrita por desireebaker


Capítulo 3
14 Thayer St.




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14 Thayer era a rua onde a casa do senhor Humbert estava localizada. O senhor Godin, cujo era o dono da residência onde pai e filha moravam, dizia desconhecer o paradeiro do que um dia fora seu colega de xadrez. Em suas humildes palavras, Humbert era quieto e não se desempenhava muito em mostrar seu rico vocábulo francês - o que era uma pena, pois Gaston era professor na universidade onde Dolores, um dia, iria frequentar. Seja lá quem fosse. Por alguns segundos, Gaston que vivia preso em seu mundo particular, achava que os passos animados na casa alugada era de um rapazinho e não de uma menina de quase quinze anos. 

— Vamos na escola - Elliot observava os móveis, com as mãos nos bolsos. Seus olhos procuravam pistas, mas não encontravam nada. Humbert havia, com esmero, se livrado de qualquer pista. Um homem de sorte ou sagaz? Benson acreditava na segunda opção. Ela ainda o pegaria, como faria com Clare.

 

Humbert achava que sua pequena Lolita ficaria empolgada pelas novidades de Nova York, se pudessem assistir à uma peça. Cats era atraente, mas seus fundos monetários não alcançaram o preço do bilhete. Lolita, que não havia criado esperança quando seu pai havia lhe dito sobre saírem, dormiu no sofá ainda no final da tarde, para o desespero de um Humbert que odiaria vê-la arrastando suas pantufas - se ela calçasse suas pantufas - no chão gélido da nova casa alugada. 

— Lô - ele a sacudia levemente, trazendo a menina de volta ao mundo real - Vamos ver um filme? 

Ela coçou os olhos, transtornada. 

— Agora?

 

— Agora. 

 

A diretora do colégio onde Vivian e Clare estrearam a infame peça, estava em choque. Ela repetia como em um mantra que "não sabia como Clare poderia ser tão sujo e tão... deprimente". Para ela, ele era um homem culto e nunca o questionou muito. Homens cultos não poderiam ser questionados. Ele era uma estrela e quem era Pratt perto de um homem desses? 

Elliot e Benson, com certa ironia, adoravam saber sobre as visões acerca de Clare nos lugares onde tenha passado, mas de nada isso implicaria no processo final. Todos o amavam. Todos não conseguiam acreditar no que ele havia feito. Era tudo uma mentira, diziam. A noticia corria em todos os jornais americanos, mas muitos não sabiam ou fingiam não saber. Debates sobre a proteção das crianças vieram a tona e o fato de que os Estados Unidos nunca assinaram a convenção de proteção das crianças de 1989 foi realçado publicamente. 

— Queremos saber sobre Dolores. 

— Dolores Haze? 

Elliot sacudiu a cabeça. 

Pratt deu meia volta e buscou as gavetas da sua escrivaninha, pousando os óculos de volta em sua face. Escorregando a mão entre uma pasta e outra, finalizou quando percebeu encontrar o que procurava. 

— Deixe-me ver - ela arrumou os fios desalinhados e convidou os agentes para sentarem em sua frente. Aquilo talvez levasse um pouco de tempo, disse com o sorriso amarelado.

Dolores Haze não tinha as melhores notas. Não era muito solicita e suas gírias sexuais francesas não eram bem vistas na instituição, o que chateou muito seu pai. A mãe havia morrido em uma terrível cirurgia abdominal. Dolores, apesar de soar como se conhecesse muito sobre relações sexuais, nada sabia. Demonstrava desinteresse em namoros ou garotos, o que era estranho. 

— Questionaram seu pai? - Benson perguntou, já entendendo os motivos por trás da ausência em sua libido de adolescente.

— Claro - sorriu - Pedi que ele arrumasse uma moça que lhe pudesse explicar esses pormenores "sujos" - riu. 

 

— Ele concordou? - foi a vez de Elliot. 

— Estava a disposição da escola. 

 

A diretora completou algo que fez os dois agentes satisfeitos por terem saído de sua cidade grande para um lugar onde o sol não se abriga em grandes prédios. Algo quase mágico. 

— Fiz uma carta recomendando Dolores Haze para uma boa escola somente de garotas de Nova York. Infelizmente, não a aceitaram por ser meio de ano. - o papel abanou no ar, entre as garras da diretora, oferecendo-a para os agentes. 

— Humbert soube disso? 

— Eu lhe avisei quando a carta retornou. 

 

Não havia mais filmes interessantes em cartaz para a noite daquela quinta. Como o clima ainda pintava as bochechas de Dolores com o vermelho carmim, Humbert lhe ofereceu um milk-shake, para adestrar sua maldosa cadelinha. Em dias de verão, Dolly se tornava um pesadelo a ser dominado. 

— Querida - ele a observava sugar o chocolate pelo canudo quase entupido de ovomaltine. Lolita apenas levantou os olhos, com um dos dedos moendo um chocolate preso no tubo. - Irei pegar um jornal, não fuja. 

Ela permaneceu a amassar o chocolate, sem se preocupar em rotas de fuga, em olhar garotos ou em ver onde seu pai iria. 

Na capa do jornal, uma foto de Clare ilustrava a primeira página. Humbert riu, comparando-lhe com o velho dentista de Charlotte e Dolores, em Ramsdale. 

E então aquilo lhe atingiu. 

— Lô - ela levantou o olhar, irritada, apenas para vislumbrar uma pequena notícia onde dizia sobre a série de assaltos no Central Park. Humbert, em segundos, escondeu a capa de sua menina faceira. Ele não iria perguntar a ela se aquela pessoa era o escritor da peça em que era protagonista, pelo simples motivo de já saber a resposta.

— O quê? 

— Tem uns quadrinhos que você gosta, na última página. 

Humbert estava aliviado por sua garota não ter para onde ir, ao mesmo tempo que a ansiedade lhe crescia no peito: não poderia ele ser o próximo? 


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