Lolita escrita por desireebaker
Vivian estava tão confiante quanto Clare Quilty e a sua própria absolvição, que não reagiu como os agentes esperavam quando seu diário foi lido a voz alta na sala de interrogatório. Apenas respondeu com o ar provocativo e uma pestana sarcasticamente levantada “vocês não tem como provar”.
— Como não temos como provar? – Elliot, já vitima da ira, se desfez na frente da mulher – Os vídeos foram encontrados na residência de vocês, as peças no nome de vocês, as roupas no quarto de vocês e...
— Vocês não tem as testemunhas. Cadê as meninas? – Vivian provocou mais uma vez, com o sorriso a despontar em sua face – Elas não estavam lá, estavam? Não tem ninguém para provar que ele fez aquilo. Ele não aparecia nos vídeos.
— Um perito vai poder dizer que o corpo nu no vídeo é igual ao do Clare.
Ela riu.
— Só deduções.
Casey Novak e Cragen se entreolharam do outro lado do vidro. Casey abanou positivamente com a cabeça, sem precisar verbalizar para Cragen que Vivian estava certa.
— Elliot e Olivia, procurem alguma vitima desse cara que esteja disposta a testemunhar contra. Não podemos perder esse caso.
— E as meninas que estavam no diário da Vivian? Ann e Dolly? Foram as únicas que não encontramos nenhuma foto no nosso arquivo de dados ou nos vídeos caseiros – Olivia reparou.
— Ann não foi abusada por ele – Elliot constatou – Agora Dolly, eu não sei. Talvez ela possa nos dar alguma nova informação.
— Ela estava apaixonada - Olivia rebateu confiante - Ela faria qualquer coisa por ele.
— Achem essa Dolly – ordenou Cragen – Fin, ligue para todas as escolas onde Clare fez a apresentação de suas peças. Talvez tenha alguma menina que deixamos passar.
De ônibus, Humbert mirava sua perdição a contemplar seus devaneios através da janela. Nova-York era tão grande e tão... Pai, olha! Ela apontava para um grande colégio só para meninas. Não seria esse o colégio onde nós, quero dizer, eu iria estudar, mas não me aceitaram?
Humbert viu a menina melhorar o indomável humor de adolescente. Com quatorze anos, Lolita parecia impossível – presa em seus truques de ninfeta, Lolita sufocava Humbert com seus enfurecidos questionamentos. Se não fosse a menina dos seus olhos, Lolita não passaria de uma ordinária peste, desinteressante e estúpida. Por outro lado, Lo não se importava com as imposições culturais de seu papa. Ela já o dava o suficiente. E prestar atenção nele era desnecessário.
— Vamos comprar uma colcha nova para o seu quarto? – Lolita revirou os olhos, transtornando Humbert. Talvez ela não estivesse tão melhor quanto imaginava – Você não quer?
Ela arfou.
— Não vou dormir na minha cama mesmo.
Ele negou, mas por dentro sorria só de pensar em sua pequena no acolchoado de sua cama.
— Toda menina precisa ter um bom quartinho.
E ele manteve a si mesmo, mas a verdadeira razão por trás daquela frase era que, possuir a garota em seu quarto de criança era irresistível.
— Tanto faz, pai.
Ele sorriu de ponta a ponta, sem culpa, com maldade, mas ainda sim sem culpa nenhuma. Estava tão certo que mantendo a menina feliz o relacionamento sexual deles não cairia nas garras da moral (ela queria, vejam como ela me queria, ela era feliz ao lado do seu papai e queria seus toques aveludados) que não enxergava como a menina era infeliz. Agia sem culpa alguma, pois não tinha o que se culpar. Ela não era uma escrava, ela tinha até muita liberdade (de acordo com a mentalidade de Humbert) e frequentava boas escolas, fazia boas leituras, ia a bons museus, via bons lugares, viajou os Estados Unidos inteiro antes dos quatorze e tinha boas roupas. Ela não era forçada a nada: só fazia o que queria.
No entanto, ele se esquecia das vezes em que a ameaçou. Lolita, só de ver a policia, estremecia por dentro. Teria que mentir, ela sabia, sempre tinha que mentir para manter seu papai feliz. Seu velho e doente padrasto.
No NYPD, Olivia e Elliot acharam uma conexão entre uma das peças exportadas para um colégio no interior dos Estados Unidos e o nome dos personagens. Entre os rascunhos da peça “os caçadores encantados”, o nome Dolores aparecia grifado. Questionada, Vivian soltou uma arfada ruidosa.
— Pai dessa guria me causou um problema daqueles. Disse que a menina só poderia participar da peça se até os personagens masculinos fossem feitos por uma mulher. E como dizer não para um talento daqueles, não é? – respondeu ironicamente – Clare queria muito aquela menina.
— É ela a tal Dolly do seu diário?
Ela assentiu com a cabeça.
— Não percam seu tempo – Vivian murmurou em tom de aconselho – Ela sumiu pelo mundo faz semanas.
Cragen, que ainda os observava, já maturava em sua cabeça o plano para achá-la. Sem ter outra escolha, comprou passagens para a cidade de Beardsley, um final de mundo para qualquer um que já se aventurasse pelas ruas nova-iorquinas.
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