Lolita escrita por desireebaker


Capítulo 1
Lo




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Seu papai estava certo quando disse que aquela escola de meninas o levaria a loucura. Mona poderia ser uma ninfeta – e a amiga perfeita para sua Carmencita – mas havia acobertado a pequena – mas tão perigosa – ninfeta com suas aulas de piano. Quem você está vendo, Lolita? Minha Lolita, engolindo a saliva de outrem? Perdida na fala fácil de um qualquer? Deslizando-se entre o suor de cavalheiros sem pudor? Como pode sua Lo criar uma ficção daquela e desmoraliza-lo? Humbert imaginava sua menina balançando em outras camas, aprisionada entre as garras de outro infeliz, verbalizando o amor em várias tonalidades, cansada. A aula de piano durava duas horas. Em duas horas, Humbert pensava enquanto a tocava – violentamente, incansavelmente – ela poderia ter cessado a sede de muitos homens. Com quem você está, Lolita? Quem tem seu coração de ninfa, meu doce pecado?

Nova York seria melhor por várias razões: achou uma residência boa com um lindo – porém compacto – campo de gramíneas com as flores mais bonitas da rua. Uma escola somente para garotas sem Mona ou distrações – mesmo que, com pesar, Humbert sentiria falta das antigas perdições – e onde ele estaria o dia inteiro, por lecionar para os alunos da faculdade, que era conjunta com a escola. Bom, foi o que ele havia dito a sua filha. Dolores estava arruinada em partir, mas Mona também já havia lhe cansado. Ela insistia em assuntos imorais como o seu caso de incesto com Humby, o que não a agradava. Detalhes? Já havia lhe dado o suficiente. Dolores não queria compartilhar ou ouvir mais. Queria coisas suaves, como um leite matinal, uma série interessante na televisão e um passeio pela vizinhança com sua nova bicicleta. Não mais do que o mesmo.

Dolores não teria mais celular – e aquele veiculo que os seguia, agora estaria a seguir pistas inadequadas. Deixaram o máximo possível na última casa alugada. Humbert tomou o cuidado de vigia-la para evitar novas fugas. Era cativa, cativante, cativada. Dolores viu seu pai com o dinheiro da venda do carro nas mãos, o viu contar nota por nota. Depois, prestes a chorar, o viu comprar passagens para longe. Ela chorou timidamente no banheiro do aeroporto, antes do voo decolar. Estava seu celular para implorar por ajuda.

A casa em Nova York não era como ela havia pensado: era de tijolos velhos e sem espaço para andar de bicicleta nos jardins. As flores mais belas? Eram verdade. Eram as únicas da vizinhança, portanto não havia competição. Seu quarto tinha uma ruidosa janela que dava para a rua não muito movimentada. Dolores passeou os dedos pelo batente da porta, mirando as marcas de caneta que eram de crescimento de alguma criança que ali morava antes. Como seria ter uma família normal? Sua mãe faria isso com ela, um dia? Se em um universo alternativo Humbert Humby não tivesse matado sua pobre mãezinha, teria ela um dia tido uma vida pacata de subúrbio? Com um cachorro peludo, um bebê gordinho, um namoradinho de escola e lugar fixo para morar? Sem as viagens, as noites mal dormidas, as agressões e sem os toques maliciosos que acompanhavam suas lagrimas, todas as noites, todas as malditas noites de sua vida? Teria ela uma cama para dormir onde sempre miraria aquela foto de família feliz ao invés das sombras de seu pai contra a luz de fora? Seria ela... feliz?

No departamento das vitimas especiais de Nova York, Benson, Elliot, Munch, Fin, Cragen e o agente especial da FBI, Huang, debatiam sobre Clare Quilty, cujo havia sido preso por pose de pornografia infantil em Nova York. Eram dezenas, se não centenas de fitas envelhecidas desde a época da queda do muro de Berlim – o que havia sido o tema de um dos vídeos, assustadoramente perturbador para os agentes. Munch e Fin faziam a pior parte: comparavam fotos das crianças com outros cenários encontrados na base de dados da policia. Havia similaridades, algumas meninas conhecidas, outros meninos desaparecidos. Falaram com Vivian, sua parceira e autora de diversos dos mais macabros roteiros para os filmes privados, que negava tudo. Nem o calor da sala – como Elliot costumava fazer, a desligar o sistema de ar condicionado – nem as tentativas de aproximação de Benson com seu jeito educado a fizeram desistir. De nada ela falava.

Mas, infelizmente, seu diário proibido disse as palavras que ela nunca ousaria proferir.

“Ann tem o vermelho boticello da paixão em seus lábios e mesmo que seu papel como a nova ninfa de Q. fosse ideal, ela pertence a categoria de meninas obstinadas a me dar crises de enxaqueca com essa peripécia de adolescente. Não sabe beijar direito, não sabe atuar e insiste em fazer o papel principal na peça onde Dolly está.

Dolly está apaixonada por Q. Acha que ele o salvara de sequer o que ela está passando. Joga bem tênis e precisamos criar táticas para fugir do padrasto. Ela sonha em ser famosa, mas Q. acha que ela precisa começar com os caseiros, antes de ir para o teatro. Até agora ela não quis”.

Não foi difícil para Benson e sua equipe em descobrir que “caseiros” era a expressão utilizada para os filmes imundos que ambos gravavam em várias de suas residências. E então, começou a busca: Quem era Dolly e onde ela estava?


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