Quando Suga virou uma esquina, Lee-na estava encostada num muro e o estranho homem andava de um lado a outro, falando e gesticulando de modo agitado. Lee-na tentava manter-se calma, mas ele falava alto:

—Entendeu agora! Entendeu porque eu preciso fazer isso?

            Ela falou, suave:

—Eu entendo, mas você precisa avaliar o que aconteceu e buscar a verdade!

—A Verdade? Sabe qual é a Verdade? Eles mataram ela! Mataram ela!

            Suga se aproximou devagar e Lee-na o viu, balançou a cabeça, sutilmente, e mexeu os lábios como se dissesse _ “Vá embora” _ e virou o rosto de volta para o estranho. O BTS franziu o cenho e parou, mas o homem parecia não tê-lo percebido, enquanto andava sem parar, mirando o chão e falando:

—Eu quero saber tudo sobre eles! Seus costumes, os lugares que frequentam, quando entram ou saem da empresa e seus compromissos fora de lá!

            Ela balança a cabeça:

—Eu não tenho essas informações! Não posso te ajudar nisso e...

            O sujeito a encara, furioso:

—MENTIRA! Eu vi você sair com eles quase todos os dias! Eles riem pra você... Confiam em você, não é? Talvez possa trazê-los até mim!

            Lee-na fecha os olhos:

—O que vai fazer não vai trazer sua irmã de volta...

            O homem está alucinado:

—Pode ser que não, mas vou me vingar do que eles fizeram com ela!

            Suga percebe que a situação estava ficando séria e se aproxima com o guarda-chuva aberto, fingindo ser um transeunte. O homem se fasta do caminho e encosta no muro ao lado de Lee-na, que virou o rosto, pálida como um fantasma.

            O BTS seguiu sem prestar atenção nos dois e o sujeito voltou para o passeio, de costas para o cantor. Naquele segundo, Suga virou-se rápido e, fechando o guarda-chuva às pressas, atingiu o homem no lado esquerdo da cabeça. O estranho caiu sentado, atordoado pelo golpe e Suga pulou sobre ele, usando o guarda-chuva para prendê-lo no chão e fazendo pressão em sua garganta, quase esmagando sua traqueia. Travando o braço direito do sujeito sob o joelho, o rosto do BTS estava irreconhecível:

—Ok, seu miserável! Vamos com calma ou vai ter que se alimentar por sonda... Quem é você?

            O homem agita-se sob o peso do BTS, que aumenta a pressão ainda mais no pescoço dele. Este engasga e fecha os olhos, afetado pela força do golpe de Suga e Lee-na fala com voz sumida:

—Yoongi! Por favor... Não!

            Suga está encarando o homem. A chuva encharcando a ambos e escorrendo pelos cabelos e roupas do rapaz:

—Você estava na frente da BigHit! O que quer? Fale Logo!

            O homem balbucia com dificuldade:

—E-Eu... Vou m-matar vocês! Vou matar os que f-fizeram mal para minha irmãzinha! MALDITOS! Vocês são uns malditos!

—Eu não te conheço, idiota! Do que está falando?

            Nisso, Namjoon e Jin chegam correndo e se deparam com a cena toda. Lee-na estava encostada no muro e Suga segurando o homem pelo pescoço com o guarda-chuva. Pessoas assustadas passavam ao largo daquela situação, enquanto o líder BTS se aproxima e fala alto:

—Suga! Pare!

            O gênio BTS ergue o rosto e Namjoon se assusta com a fisionomia do rapaz. Jin se aproxima devagar e toca o ombro do amigo:

—Pode relaxar, Yoongi... Ele está fora de ação!

            Suga desfere um potente soco no rosto do sujeito e sai de cima dele, indo cair sentado no chão, rente ao muro onde Lee-na estava. Ela aproximou-se e tocou o ombro dele, que voltou seu olhar para ela e tocou seu rosto:

—Você está machucada? Ele...

—Eu estou bem agora, Yoongi.

            Uma viatura policial aparece e estaciona rápido ao lado do passeio onde o grupo estava. Dois policiais saem armados e todos ergueram as mãos, mas Lee-na aponta:

—É esse homem!

            O policial olhou-a:

—Fomos informados pelo Sr. Sejin, da BigHit, do que poderia acontecer. Vamos levá-lo agora!

            Lee-na se aproxima de um dos policiais e fala com ele. Os outros dois BTS estão perto de Suga, ainda sentado no chão.  O policial escuta a estagiária e depois fala com o colega. Erguem o homem, algemam e o levam embora. Lee-na volta para junto dos amigos e Yoongi se levanta, avançando para a moça, abraçando-a com força. Ela fecha os olhos e o aperta contra si:

—Eu estou bem, Yoongi... Ele não me fez mal.

            Suga tem os olhos apertados e respira profundamente:

—Eu perdi o controle... Eu queria arrebentar com aquele cara por ter te assustado assim...

            Namjoon e Jin se aproximam:

—Vamos voltar. O manager deve estar preocupado conosco.

            Eles seguem devagar, sob a chuva e são recebidos na entrada da empresa pelo manager e PD nin. Se aproximam e seguram o casal pelos ombros:

—Que loucura foi essa?

            Lee-na cobre o rosto com as mãos e começa a chorar após toda a tensão que havia passado. Suga afaga as costas dela e seus amigos esperam que ela se acalme para contar o que aconteceu.

            Eles sobem e equipe de vestuário é acionada para ajudar Suga e a estagiária com as roupas e cabelos molhados. Enquanto esperam, Suga se volta para ela e pergunta:

—O que aconteceu lá fora? Como ele te levou até aquela rua?

            Ela abaixou o rosto:

—Ele... Ameaçou entrar aqui e matar todo mundo. Eu pedi pra conversarmos num lugar onde não chamasse a atenção, então andamos até ali...

            Ele balança a cabeça:

—Tinha ideia até onde iria com ele?

            Ela faz que não com a cabeça e lágrimas voltam a cair em seu rosto:

­_Eu... Só queria afastá-lo daqui... De vocês!

            Ele toca os cabelos da jovem:

—Isso tudo foi muito louco! O que ele queria afinal?

            Lee-na é chamada para se secar e trocar de roupas e sai dali para uma sala anexa ao vestuário principal. Suga estava sentado, olhando as mãos esfoladas por usar o guarda-chuva contra o sujeito. Quando ergueu os olhos, a porta do vestuário estava semiaberta e ele viu a estagiária despir-se da blusa molhada.         

            Ela examinava a pele da cintura, onde havia um hematoma roxo-avermelhado e franziu o cenho. O atacante a havia convencido a acompanhá-lo à força e ela mentiu para o BTS, evitando que ele fizesse o pior. Então Lee-na ergueu os olhos e, pela fresta da porta, viu Suga olhando para ela. Ficaram estáticos por um segundo, Suga fechou os olhos, balançou a cabeça e virou o rosto. Uma assistente do Staff viu a porta e fechou-a.

            Foi a vez de Yoongi se secar e se arrumar também. A estagiária foi chamada à sala do manager e PD nin estava lá. Ela sentou-se e esperou. Sejin estava ao telefone e quando desligou, voltou-se para a garota:

—O homem não possui antecedentes criminais e nem trabalha para algum jornal, revista ou é fotógrafo. O que aconteceu lá fora, Kyun Lee-na?

            Ela respira fundo:

—Eu fui dar uma volta na hora do almoço...

            Nisso os BTS chegam à sala e Suga olha a estagiária, mas ela não se volta para ele e continua:

—Ele estava do outro lado da rua e me observava. Passou a me seguir e quando liguei para o Yoongi, o homem se aproximou e tomou meu celular. Disse que ia invadir a BigHit e matar todo mundo.

—Ele estava armado?

—Não mostrou arma nenhuma, mas eu não podia arriscar... Falei que trabalhava com comunicação em um jornal... Poderia ouvi-lo e ele me falou que queria se vingar do grupo pelo mal que fizeram à irmã dele.

            PD nin coça a nuca:

—Você disse que podia ajudá-lo?

—Eu disse que podia ouvi-lo... Então comecei a andar pra longe daqui e ele me seguiu. Estava muito alterado, falando alto e gesticulando. Foi quando me empurrou contra o muro por que eu continuei me afastando. Pouco depois, Yoongi nos alcançou...

            Suga tinha a cabeça baixa e os olhos fechados. PD nin falou:

—O que fez colocou sua vida em risco, sabia?

            O BTS balançou a cabeça, sem responder. Lee-na não concorda:

—A culpa foi minha... Eu devia ter chamado a polícia ou...

            Sejin ergue as mãos:

—Certo! O único culpado está preso e o pior não aconteceu, Lee-na... Eles vão tomar o depoimento de vocês. Se importa de ir à Delegacia agora?

—Não, senhor... Ah... Ele disse que queria vingança pela irmã. Ela se matou no fim do mês passado. Estava depressiva há dois anos e no último fanmeeting, ela não conseguiu os ingressos. O homem falou que ela morreu por causa do BTS e eles nem se importaram com isso.

            O grupo se entreolha , surpresos com a notícia. Sejin conduz Lee-na e Suga até o elevador e PD nin fala aos demais:

—Vamos dar um tempo do treino agora à tarde... O manager já cancelou a agenda por hoje.

            Eles voltam ao salão de prática e ficam em silêncio reflexivo. V se deita no chão e suspira, então diz:

—Isso não está certo... Ninguém deve se matar por coisa alguma!

            Namjoon se volta para o amigo:

—Tae... Pessoas com depressão não precisam de muito para tentar tirar a própria vida. Não é uma condição normal e qualquer evento ou aborrecimento é um gatilho para uma crise... Isso é muito sério. Por isso amigos ou parentes precisam ficar atentos e buscar ajuda especializada.

            JHope olhava para o chão e fala, muito sério:

—Isso me lembra da letra da música "The Last", do Suga... Não consigo imaginar... A gente perdendo ele...

            As palavras de JHope deixam os cantores ainda mais pensativos e longe dali, Sejin dirigia, enquanto o casal estava em silêncio no banco de trás. Lee-na mantinha os olhos na rua e Suga observava as próprias mãos. O manager sentiu a tensão entre eles e falou:

—Lee-na... Você foi muito corajosa por tentar nos manter a salvo... E você, Suga...

            O BTS ergue os olhos para o manager:

—Eu quis muito mesmo... Machucar aquele cara... Por tentar ferir a Lee-na. Se Namjoon e Jin não tivessem chegado...

            Sejin fica preocupado e silencia. Suga busca a mão de Lee-na, mas sem olhar para ela:

—Eu... Vi o hematoma...

            Ela vira o rosto, levemente corado:

—Foi quando paramos perto daquele muro... Eu quis continuar me afastando, mas ele ficou nervoso. Não foi nada.

            Pouco depois, na Delegacia, o BTS e a estagiária deram suas versões do ocorrido e o atacante foi reconhecido pelos dois. Souberam que ele também estava em tratamento contra a depressão e insistia em culpar os cantores pela morte da irmã de dezenove anos. O celular de Lee-na foi recuperado e a foto nele mostrou que o atacante havia pintado e cortado os cabelos para não ser reconhecido.

            Após assinarem o termo de ocorrência, eles saem dali e a estagiária está pensativa. No carro, de volta à empresa, ela permaneceu apoiada no ombro do namorado, então falou:

—É preciso fazer algo por aquele homem...

            Suga se vira para ela, que fecha os olhos, cansada:

—A irmã era a única família que restava a ele. Eu... Não me imagino sem minha família... Deve ser enlouquecedor...

            Sejin e Suga nada dizem até a chegada à BigHit. Os outros estagiários estavam na copa e quando Lee-na passou pelo corredor, todos foram até a moça para saber se ela estava bem e o que havia acontecido. Suga observou a cena por algum tempo e saiu dali para o salão, sendo recebido pelos amigos, que o abraçaram e reconfortaram. Namjoon o segura pelos ombros:

—Nunca mais nos assuste daquele jeito, Min Yoongi!

            O rapper respira fundo:

—Estou exausto... Vou pro meu estúdio...

            E saiu dali, se entrou em sua sala. Deitou-se no sofá e fechou os olhos. Não conseguia evitar recordar as sensações que vieram à tona quando viu Lee-na acuada pelo sujeito e quando atacou o homem com muita raiva. Queria ter certeza que o fazia para defender a namorada, mas no íntimo, percebeu que era algo mais.

            PD nin recebeu Lee-na e ela estava abatida. O CEO da empresa estava sério e falou:

—Desde que entrou aqui, sua vida tem sido agitada, não?

            Ela ergue o olhar:

—Senhor... O homem que me atacou...

—Sejin já me contou o que aconteceu com ele. O que você sugere?

            Ela enxuga uma lágrima:

—Na mente dele, a irmã morreu por causa dos BTS. Ela estava doente e quando não conseguiu ir ao fanmeeting, perdeu a noção da realidade. Esse homem precisa tirar isso de seu coração. Ele acredita que o BTS não se importa.

            PD nin coça o queixo:

—Eu... Tenho algo em mente. Vou analisar o que podemos fazer.

—Obrigada, PD nin...

            Ela se inclina e sai da sala. Os cantores estavam esperando por ela no corredor e a abraçaram, afagando seus ombros e sua cabeça. Jin sorriu-lhe:

—Lee-na! Você é uma pessoa intensa!

            Ela sorri, sem muito ânimo:

—Eu? Intensa? É outra piada sua?

            Todos riem e ele reclama:

—Ei! Não faço piadas o tempo todo!

            Todos o encaram e JHope fala:

—Você faz, hyung!

            Jin balança a cabeça:

—Estão mudando de assunto! Vamos falar da Lee-na...

            Namjoon a olha:

—Como se sente agora?

—Exausta e preocupada com Yoongi... Ele não parece bem... Onde...

            V aponta:

—Foi pro estúdio dele...

            Ela acena para todos e segue rumo ao estúdio. Jungkook olha os companheiros:

—Eh... O que realmente aconteceu lá fora?

            Namjoon esfrega o rosto com as mãos e exclama:

—Ah, cara! O Suga... Ele atacou o sujeito com o guarda-chuva. Estava em cima do homem, travando a garganta dele com o cabo e a expressão em seu rosto era...

            Jin olhou para o chão:

—Assustadora. Parecia outra pessoa! Parecia furioso e... Satisfeito ao mesmo tempo!

            Jungkook tem os olhos muito abertos:

—Oh! No meu dia com Lee-na, nós falamos do Suga... É como se tivesse dois lados... Como no livro que ela me mostrou!

            Jimin perguntou:

—Que livro?

—Dr. Jekyll e Mr. Hyde... O médico e o monstro...

            O grupo se cala, assustados e preocupados. Jungkook enxuga os olhos cheios de lágrimas e é confortado pelos amigos:

—Hyungs? Será que ele vai...

            Ninguém continua o assunto e seguem para o salão de prática, onde esperam, sentados, tensos e em silêncio.

Continua...