Lee-na parou frente à porta do estúdio de Suga e bateu. Não ouve resposta, então ela abriu e encontrou o local às escuras; Suga deitado no sofá, adormecido. Ela tocou-lhe o ombro suavemente, mas ele não despertou. Ela observou-o por um segundo, voltou à porta e trancou-a. Passando por cima de tudo que socialmente era visto como errado ou indecoroso, subiu no sofá e deitou-se sobre o rapaz, abraçando-o e apoiando a cabeça em seu ombro. Fechou os olhos e respirou fundo, murmurando no ouvido dele:

—Eu estou aqui... Estou com você e não vou permitir que Agust D ocupe seu lugar...

            Suga abre os olhos lentamente. Ele vê a estagiária ali, deitada sobre ele, aquecendo seu corpo, estreitando-o em seus braços delicados, protegendo-o. Ele fala com voz grave:

—Não posso fazer isso...

            Ela ergue o rosto e o encara. Ele a segura pelos ombros:

—Não posso te manter comigo temendo perder o controle sempre que algo ameace você.

            Ela abre muito os olhos, balançando a cabeça:

—O que... Oh, não, Yoongi! Você não precisa se...

            Ele ergue meio corpo e se desvencilha dela, saindo do sofá, ficando de pé na pequena sala:

—Você ouviu minha mixtape. Conhece um pouco como eu funciono... Não sou um cara fácil e agora sabe como sou quando perco a calma...

            Lee-na se levanta e vai até ele:

—Tentar me afastar de você não vai funcionar...

            Ele ri:

—É só uma questão de tempo até ficar com medo de mim... Eu causo esse efeito nas pessoas.

—Eu não tenho medo de você... Nunca tive...

            Ela se aproxima mais e toca o rosto dele, gentilmente. Suga fecha os olhos, ela sorri e o abraça, apoiando o rosto no peito dele, escutando o coração do BTS acalmar-se aos poucos. Os braços dele a envolvem pelos ombros, ele se apoia nela e murmura:

—Obrigado por ser tão teimosa...

            Ela ergue o rosto para o rapper e sorri. Ele sorri:

—Não vai desistir de mim, não é?

—Não...

            Suga se inclina e roça os lábios nos dela, provocativo. Avançou e beijou-a devagar, com carinho e quando se afastou, soprou seu rosto e riu:

—Obrigado por vir aqui... Eu quero te levar pra casa.

—Não quero te deixar sozinho agora... Tenho certeza que vai ficar aqui no estúdio ao invés de ir pra sua casa com seus amigos.

—Começou a ler pensamentos também?

            Ela fica séria:

—Yoongi... Não brinque com isso! Eu não quero que fique sozinho com esses... Sentimentos e...

—Então quer ficar aqui comigo?

            Ela apanha o celular e disca. Pouco depois a voz da mãe soa, preocupada:

—Filha? Tudo bem?

—Tudo, ma. Eu... Preciso fazer um trabalho importante na empresa e sairei muito tarde. Acho que vou ficar de plantão esta noite.

            A mãe fala, surpresa:

—Oh, Lee-na... Vai ficar bem? Onde vai dormir?

—Tem um saco de dormir esperando por mim. Ficarei bem, mamãe! Se precisar, me ligue qualquer hora, ok?

—Ok! E o Yoongi? Como está?

—Está bem. Estou com ele no estúdio onde trabalha...

            Suga pega o celular das mãos de Lee-na:

—Sra. Kyun? Olá! Prometo manter sua filha longe de problemas!

            A mulher ri:

—Está certo! Fico mais tranquila. Fiquem bem!

            Suga devolve o celular à estagiária, que se despede da mãe, desliga o aparelho e o encara:

—Não tem mais volta...

            Ele ri e ergue os ombros:

—Ok! Eu me rendo!

            Ela o beija no rosto, abre a porta e volta à sala do manager. Refaz a agenda cancelada e coloca seu relatório em dia. Os BTS aproveitaram o resto da tarde para terminarem o script e Suga juntou-se a eles.

            Eram 17h e 30 quando os estagiários passaram na sala do manager para se despedirem de Lee-na. As garotas a abraçaram e os rapazes fizeram gestos de apoio, fazendo a jovem se sentir revigorada. Pouco depois, Sejin entrou na sala, enquanto ela finalizava o trabalho, desligando os computadores e guardando o material de escritório. Sejin olhou-a e falou:

—Apesar da maneira nada ortodoxa, você conseguiu evitar uma tragédia. A polícia foi à casa do atacante e encontrou armas escondidas. Não sabemos quando ele viria a usá-las e meu coração se retrai só de imaginar essa possibilidade...

            Lee-na cobre a boca, assustada, mas depois acena com cabeça:

—Acho que aquele homem está muito ferido por dentro... Estamos todos cansados e tensos! Precisamos de uma boa noite de sono, não?

            Ele toca o alto da cabeça da jovem:

—Bom conselho, estagiária Lee-na! Até amanhã!

            Ela se inclina e ele sai dali, enquanto os BTS tentam convencer Suga a ir embora com eles, mas este se recusa e diz que pretende trabalhar um pouco com uma composição antiga para relaxar a mente. Namjoon suspira:

—Ligue pra gente se precisar conversar, ok? Por favor, tenha a cabeça no lugar!

—Ei! Desencanem! Vou ficar bem!

            Os cantores o abraçam em grupo, encostando suas cabeças, oferecendo força e carinho para o rapper querido. Saem dali e se deparam com Lee-na na copa, bebendo água. Ela sorri para eles:

—Oi! Já vão? E o Suga?

—Quer ficar trabalhando numa música... E você? Como está?

—Cansada, mas tranquila. No final, o pior não aconteceu!

            Jin faz um cafuné na cabeça dela:

—Kyun Lee-na! Você é garota mais corajosa que eu conheci... Obrigado por ficar do lado do Yoongi!

            Ela se inclina e eles também, saindo dali para o elevador. PD nin aparece pouco depois e fala com a jovem:

—Gostaria de pedir a você que não se meta em mais nenhuma aventura perigosa, mas não há nenhuma garantia disso, não é?

            Ela balança a cabeça e sorri. Ele suspira e ri:

—Será que a BigHit vai sobreviver até o fim do seu estágio?

—Garanto que sim, senhor!

—Vai descer agora?

—Vou me despedir de Yoongi.

—Ele não foi com os outros?

—Disse que vai trabalhar numa composição ou algo do tipo.

—Oh, certo! Bem! Até amanhã!

—Até amanhã e obrigada.

            Ele segue, se volta e diz:

—Sobre o que me pediu antes, tenho uma ideia do que fazer.

            Ela se inclina e ele entra no elevador. PD nin não quis comentar, mas sabia que a estagiária não iria embora. Ele sabia que ela não seria capaz de abandonar o namorado daquele jeito e agradeceu por ela proteger o BTS. Apesar de ser estagiária como os outros, ela se destacava pela ousadia, coragem e senso de responsabilidade, interferindo em vários momentos dos cantores e ajudando-os.

            Lee-na bateu na porta de Suga e esperou. Ele abriu:

—Todos já se foram?

—Sim. PD nin acabou de sair.

            Ela entra na sala e ele se senta em sua mesa de trabalho, tendo a jovem ao seu lado. Suga montava uma mixagem e ofereceu o headphone para ela:

—Ouça isso.

            Ela coloca os fones e ele aperta o play. Lee-na fecha os olhos e balança o corpo. A composição termina e ela sorri:

—Uau! É muito bom! Como você faz?

—Quer aprender?

—Sim!

            Eles trocam de lugar e Suga mostra à estagiária os comandos básicos, as fontes musicais e dá instruções de como se encaixavam. Lee-na escutava e acrescentava os toques e batidas. Ela questionava sobre o tempo de cada introdução e por fim, ela tocou para o rapper. Eles escutam juntos e ele sorri:

—Ei! Isso ficou legal! Você tem um ouvido bom!

            Ela sorri e o beija na face:

—Tive um bom mestre! Mas se fizemos um minuto e pouco de música, fico imaginando um CD completo! É fascinante como vocês criam as melodias e encaixam as letras! Como sabem o que vai funcionar?

—Tentativas, erros e acertos! Por isso é tão demorado, na maioria das vezes...

            Ela concorda:

—O trabalho de um músico é algo surpreendente!

— E doloroso também... Há artistas que fazem música para divertir e alegrar as pessoas, há quem crie músicas que fazem outras pessoas pensarem. Outros fazem música para exorcizar seus demônios.

            Ela o olha por algum tempo e ele sorri. Suga se encaixava nas três modalidades de composição e ele tinha plena consciência disso. Ela se levanta:

—Vou fazer um café pra gente!

—Isso é bom!

            Quando ela se afastava, ele segura sua mão:

—Valeu por ficar... Aqui comigo.

            Ela sorri e segue para a copa. Começa a preparar um café quente e perfumado. De repente, um trovão retumba ao longe e poucos minutos depois, uma tempestade cai sobre a cidade. Lee-na vai até a janela e observa a chuva torrencial. Raios acendem o céu e ela fecha os olhos.

            Gostava de ouvir os sons da natureza se manifestarem desde pequena. Não cresceu com medo deles, nem do escuro ou de fantasmas. Voltou-se para a cafeteira que terminava de passar o café. Apanhou biscoitos no armário, arrumou numa bandeja e foi à sala do BTS:

—Yoongi! Está pronto!

            Ele a segura pela mão e seguem pelo corredor. Suga fala:

—Hum! Cheiro bom!

            Ela serve café para ambos e bebem, sentados na mesinha da copa, sem pressa. O céu parecia tremer com os trovões que se sucediam e Lee-na parece pensar em algo. Ela deixa a copa e Suga não entende quando ela volta com duas toalhas grandes e sorri para o cantor:

—Vem comigo!       

            Ele abandona a caneca e a segue pelo corredor até o elevador. Sobem ao último andar e de lá até a porta de acesso ao terraço. Ela tira os sapatos e ele a imita sem compreender. Quando ela pendura sua toalha no corrimão da escada e abre a porta para fora, Yoongi ri, incrédulo:

—Fala sério!

            Uma rajada de vento colhe o casal e respingos de água da forte chuva chegam até eles. Lee-na ergue os braços e segue, recebendo a chuva gelada sobre si. Ela ri e se afasta e Suga permanece no batente da porta, decidindo se queria ficar encharcado.

            Ele observou Lee-na rodopiar sob a chuva, saltando nas poças que se formavam. O céu acendia com relâmpagos e os trovões seguiam em sequência, mas aquilo não parecia incomodar a estagiária, encharcada e contente. Suga encolheu-se e seguiu para fora e gritou ao receber uma lufada de vento e chuva nas costas. Lee-na correu até ele:

—Venha! Está ótimo aqui!

            Ele fala entredentes:

—Ótimo onde?

            Ela ri e o segura pelas mãos, forçando o rapper a correr com ela. Aos poucos, Suga sente-se mais revigorado e passa a girar com ela, segurando-a pela cintura. Ele ensina alguns passos de dança para a namorada e ela o imita, rindo como uma criança. Fingem dançar valsa e tango, e num movimento rápido, ele a joga para trás e puxa de volta, ficando ambos cara a cara.

            Suga avalia o rosto dela, molhada de chuva e fala:

—Só você para me fazer gostar de ficar molhado e tremendo de frio...

            Ela sorri:

—Pense que essa chuva está levando tudo de ruim que aconteceu hoje.

            Eles estão abraçados, a roupa molhada grudando nos corpos, trêmulos mais por emoção do contato do que por frio. Suga diz:

—Vamos sair dessa tempestade?

—Está tão... Bom assim!

            Ele sorri e se inclina, beijando a testa da jovem, em seguida as faces e por fim os lábios. Os braços de Suga a estreitam contra si, enquanto a chuva escorria em seus rostos, deixando-os ainda mais ansiosos por aquele contato. Ela afastou-se e respirou. Ele beijou o pescoço e ombro da estagiária e ela sorriu:

—Oh, Yoongi... Vamos entrar?

            Seguem abraçados até a porta e uma vez lá dentro, usam as toalhas para secar o excesso de água. Suga sacode os cabelos:

—Precisamos de um banho quente ou vamos adoecer!

—Tem razão!

            Eles descem de volta à empresa e apanham outras toalhas. Suga aponta para o corredor:

—O vestuário fica à esquerda. Pode tomar banho antes de...

            Ela balança a cabeça:

—Nada disso! Não vai ficar aí todo molhado esperando por mim! Vem!

            Ele fica surpreso e a segue até o vestiário. Havia dois banheiros com chuveiros e Lee-na fala:

—Eu vou entrar agora...

            Ele concorda e segue para o seu box. O som da água preenche o local e ambos permanecem em silêncio, experimentando uma ansiedade diferente. Suga termina antes e fala:

—Eu vou à frente e deixo uma roupa seca pra você vestir...

—Está bem! Obrigada!

            Algum tempo depois, ela ouve uma batida na porta e depois silêncio. Era o sinal que ele tinha deixado as roupas para ela, que se enrola na toalha e sai do box. Havia uma calça e um blusão de malha grossa dobrados sobre uma cadeira plástica e chinelos de tecido e borracha. Ela secou-se, vestiu a roupa e seguiu para a copa, onde Suga tomava outra caneca de café.

            Lee-na imitou-o e Suga falou:

—Há tempos que não faço algo do tipo!

            Ela sorri:

—Eu também... Desde a faculdade.

—Foi diferente... Divertido.

            Lee-na boceja, cobrindo a boca com as mãos e ele pergunta:

—Onde pretende dormir?

—Antes preciso colocar minhas roupas para secar...

—Certo! Temos uma mini lavanderia para emergências...

—Oh! Legal!

            Ele a conduz até lá e a estagiária coloca as peças de roupa molhadas na secadora. Ela esfrega os olhos e ele ri:

—Parece a Chaechae com sono...

—Acho... Que a água quente me deixou sonolenta...

—Sem chance de namorarmos um pouquinho?

            Ela sorri:

—Acho que não... Desculpe!

            Ele suspira e diz:

—Bem... Sua roupa está por conta própria. Vem... Vamos nos ajeitar.

            Ele se agacha, oferecendo para carregá-la nas costas. Ela se apoia nele e seguem até o salão de prática, onde ele a deposita gentilmente numa cadeira. Após buscar sacos de dormir e edredons, Suga organiza tudo num canto do salão e deixa apenas uma luz do corredor acesa, apagando todo o salão. Se aproxima de Lee-na, inclinada na cadeira e a pega no colo e a leva para os sacos de dormir, cobrindo a garota com um edredom.

            Ela abriu um pouco os olhos:

—Você arrumou...

            Ele acaricia o rosto dela:

—Durma... Vou colocar meu celular para despertar umas... Seis horas?

—É... Obrigada...

            Após programar o aparelho, ele se deita e puxa o edredom sobre si. Lee-na se move e busca a mão dele, entrelaçando os dedos. Suga ainda permanece acordado, analisando o rosto dela na semiescuridão. A estagiária confiava nele, queria seu bem e não tinha medo do que o atormentava. Ela não possuía o padrão de beleza ao que os BTS estavam acostumados a ver no meio artístico e passaria despercebida se não fosse sua personalidade e inteligência.

            Eun Ja e Minh So eram delicadas e graciosas, se vestiam bem e se preocupavam em estar bem maquiadas. Qualquer um dos cantores ficaria interessado nelas. Suga reconheceu que mesmo ele poderia se aproximar de uma delas se não tivesse conhecido Lee-na. Aparência sem conteúdo não era tão sedutor no final das contas.

Por volta das 3 horas da madrugada, Lee-na acordou abruptamente. Ela tremia e tinha suor escorrendo pela testa e faces, colocou a mão não no peito e olhou ao redor. Tivera um pesadelo, algo que não acontecia há um bom tempo e tentou se acalmar. Suga dormia ao lado dela, rosto tranquilo e a respiração profunda e ritmada, fazendo-o diferente do artista dinâmico e enérgico que ela conhecia. Ela deitou-se mais próxima dele e pousou a cabeça em seu peito. Fechou os olhos e respirou fundo, o pesadelo ainda vívido em sua mente.

            Havia sonhado com o homem que a abordou na rua, mas ao invés de ver Suga atacá-lo, era o sujeito que derrubava o BTS e o atingia, desferindo golpes com o cabo do guarda-chuva na cabeça e no rosto do cantor. Quando ela interferiu para ajudar o namorado, o atacante atravessou-a com a ponta do guarda-chuva e ela acordou. Naquele momento, quando percebeu que tudo não passava de um sonho ruim, ela relaxou o corpo, mas sentiu a terrível necessidade de se aninhar ao rapaz e saber que ele estava bem e seguro ali, com ela.

            Suga despertou ao sentí-la mais próxima e ergueu a cabeça:

—Hum... Lee-na? O que...

            Ela abraçou-o:

—Pesadelo...

            Ele exclamou:

—Oh!

            Abraçou-a, trazendo-a para si e beijou-lhe a testa:

—Vai passar... Vai passar...

            Ela adormeceu e ele em seguida.

Continua...