Meu querido sonâmbulo escrita por Cellis


Capítulo 27
Meu querido lar


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá: primeiramente, sim, eu estou viva. Queria explicar (rapidamente, eu prometo) que o motivo de eu não ter aparecido foi porque tive um péssimo bloqueio nesse capítulo, em especial na primeira parte. Maaaas, agora está tudo resolvido e, mesmo atrasada, eu trago para vocês esse capítulo escrito e rescrito um zilhão de vezes, porém todas com muito carinho.
Espero que gostem e que me perdoem pelo atraso.

Boa leitura ♥



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Sendo sincera, eu ainda estava tão mexida e atordoada por causa da conversa que acabara de ter com a irmã de Seokjin, que foi somente ao colocar os pés na quadra da minha casa que eu percebi o que Jimin tinha me dito no telefone, além da forma como ele havia dito. O Park tinha uma generosa pitada de nervosismo na voz, como se estivesse se vendo em uma situação da qual ele não tinha ideia de como escapar — o que era péssimo, pois se Park Jimin não conseguia usar a sua lábia sorrateira para se safar de algo, então esse algo era realmente algo

Mesmo que eu não conseguisse imaginar do que se tratava, o nervosismo também foi me atingindo conforme eu me aproximava a passos lentos e hesitantes da belíssima casa de dois andares que, felizmente, hoje eu chamava de minha. Tentando clarear as ideias, eu me lembrei de que Jimin dissera que nós tínhamos uma visita... Poderia se tratar de alguém que sabia sobre o nosso relacionamento, então? Provavelmente não, pois a única pessoa para quem eu havia contado era Naeun e, bem, a loira tinha mais o que fazer ao invés de me prestar visitas surpresas das quais ela já sabia que eu não era muito fã. Nem para Jungkook eu tinha contado, então, se fosse alguém que soubesse sobre nós, deveria vir do lado de Jimin.  

Só podia ser culpa daquele fofoqueiro. 

Como se meu próprio cérebro estivesse buscando uma maneira de aliviar a alta tensão nervosa que percorria o meu corpo desde cedo, eu me lembrei das nossas diversas conversas sobre manter o nosso namoro em segredo. Ele não queria, obviamente, e chegou a argumentar que era uma baita de uma injustiça que eu mesma estivesse me privando de exibi-lo por aí com um sorriso vitorioso estampado no rosto — parecia um pensamento absurdo, mas, unido ao seu bico emburrado e à sua convicção de que estava certo, acabava se tornando uma memória engraçada. 

Mas isso não tinha nada a ver com a tal visita que me esperava e foi ao alcançar a maçaneta da porta da frente que eu me dei conta disso. Respirei fundo; o que ou quem quer que fosse, não deveria ser mais difícil de lidar e digerir do que o restante do meu dia. 

De toda a minha última semana, na verdade. 

Entrei em casa e já da soleira da porta pude ver as luzes da sala todas acesas. Troquei minha bota preta pelos confortáveis chinelos de casa e, ao erguer a cabeça, me deparei com um Park prostrado diante de mim feito uma estátua assustada da Grécia Antiga em tamanho reduzido. 

— Meu Deus, Jimin! — exclamei, sendo eu a assustada da vez. — Você quer me matar do coração? Quer ficar viúvo, é isso? 

Eu estava tão cansada que, francamente, nem tinha me dado conta do que tinha dito — contudo, o preocupante mesmo foi quando Jimin, ao invés de encarar tudo como uma brincadeira como ele normalmente faria e continuado a encenação como se fossemos de fato casados, dobrou os seus pequenos olhos de tamanho em surpresa. 

— Viúvo? — a voz masculina me fez paralisar no meu lugar. Eu já a conhecia tão bem que não precisava mover sequer um músculo para saber de onde vinha ou de quem se tratava. — O que está acontecendo aqui, noona

E, de fato, não precisei me mover para que a figura alta e que eu já não via há alguns bons meses aparecesse em meu campo de visão. Com os cabelos mais compridos do que jamais estiveram, um enorme moletom preto e uma calça jeans comum, Jungkook me encarava com toda a confusão do mundo estampada em seu semblante.  

Céus, ele parecia dois anos mais velho desde a última vez que nos encontramos. 

— Kookie? — indaguei, surpresa. Meu cérebro ainda não tinha assimilado a situação com clareza e, por isso, eu me apressei na sua direção com um enorme sorriso no rosto. — Eu estava morrendo de saudades, garoto! Como conseguiu esse endereço?  

— Não era para eu ter conseguido? — rebateu sério e parecendo chateado, o que fez com que os meus braços, que estavam prestes a apertá-lo num abraço saudoso, parassem no ar no meio do caminho. — Eu só queria lhe fazer uma surpresa e liguei para aquela sua amiga, a Naeun, para pedir o seu novo endereço. Ela estava tão animada, acho que não imaginava que eu não sabia sobre... isso

Mesmo que eu não aprovasse a atitude antipática de Jungkook com Jimin, eu seria hipócrita se dissesse que não o entendia. Eu conhecia a mente do meu irmão e, por mais amoroso que ele sempre fosse comigo, provavelmente o que se passava na sua cabeça naquele momento era que eu havia o traído ou algo do tipo por ter escondido o fato de que estava morando com alguém. 

Com um homem, mais especificamente.  

— Por que nós não entramos? — Jimin sugeriu, claramente se esforçando para aliviar o clima. — Vocês têm muito o que conversar.  

— Então você também é dono da casa? — Jungkook rebateu irônico, me surpreendendo. — Parece ser um bom anfitrião. 

— Jeon Jungkook. — eu disse no tom firme que usava para repreendê-lo desde quando éramos crianças, o que o fez recuar sem que eu precisasse pronunciar mais nenhuma outra palavra. 

Sem dizer nada, meu irmão apenas abaixou a cabeça e tomou o caminho em direção à sala de estar. Jimin abriu espaço para que eu fizesse o mesmo, permitindo que eu caminhasse na sua frente para, alguns passos depois...  

Dar de cara com uma desconhecida sentada no meu sofá? 

— Quem é... 

— Noona, essa é Harumi Ikoma, uma estudante de arquitetura do Japão que está fazendo intercâmbio na minha faculdade por alguns meses. — Jungkook explicou enquanto se posicionava ao lado da bela e sorridente jovem japonesa que, àquela altura, apesar de ainda calada, já estava de pé. De repente, ele tomou a mão dela e entrelaçou seus dedos. — Nós estamos noivos. 

O que?! 

Jungkook tinha sido tão direto que até mesmo a tal Harumi se assustou. Pude vê-la puxar o braço dele em sinal de repreensão e, em troca, ele apenas sorriu doce e sussurrou para ela que estava tudo bem. Ela era apenas alguns centímetros mais baixa do que ele, tinha os olhos escuros desenhados quase que em linha reta e longos e pesados cabelos negros. Era realmente muito bonita e se vestia como se esperava de um estudante intelectual de arquitetura e, mesmo que eu não fizesse ideia de que aquele era o tipo ideal de Jungkook, eu tinha que admitir que a sua beleza era algo capaz de atrair a dispersa atenção do meu irmão.  

Mas não ao ponto de ele querer se casar. 

— Como assim, Kookie? — indaguei. — Noiva? Mas há quanto tempo vocês se conhecem? Por que você não me contou isso antes? 

— Parece que a gente deveria ter contado muita coisa um para o outro, mas não contou. — ele me respondeu, sério. Eu confesso que as suas palavras nitidamente magoadas doíam em mim mais do que uma facada no peito e, sinceramente, eu não sabia sequer como reagir àquilo. Pelo menos do que eu me recordava, era a primeira vez que via Jungkook chateado e ríspido comigo daquele jeito.  

— É diferente, irmão. — rebati calma, tentando fazer com que ele me entendesse. — Eu e Jimin começamos um relacionamento agora e o nosso caso é completamente diferente, tem muita coisa que você não sabe e sequer faz ideia.  

— O que é tão diferente entre casar com alguém que eu conheci há pouco tempo e já estar morando com um cara que você acabou de conhecer?! — ele devolveu e, sem que percebêssemos, começamos a perder a linha um com o outro. — Você não pensou no que as pessoas vão falar, noona? 

Aquela sim tinha sido uma facada diretamente no peito, o suficiente para que eu desse um passo para frente e deixasse o meu lado compreensivo de lado.  

Por mais que eu adorasse o meu irmão, ele tinha passado dos limites. 

— O que? — indaguei num sussurro abismado. — E o que você falaria de mim, Jungkook? O que você, mesmo me conhecendo tão bem, pensa que eu sou por estar morando sob o mesmo teto que Jimin?  

Apesar das minhas palavras, o que realmente me incomodava era o modo como estávamos agindo um com o outro. Jungkook era sempre tão carinhoso comigo e eu fazia questão de demonstrar o quanto o amava... Por que dois irmãos que tinham lutado a vida inteira para permanecerem juntos, agora pareciam tão afastados? 

Céus, eu já tinha tanto acumulado nos meus ombros e sentia que estava chegando ao meu limite de exaustão. 

De repente, senti as mãos quentes e macias de Jimin tocarem os meus ombros.  

— Eu vou levar a Harumi até a cozinha, vocês dois realmente precisam conversar a sós. — disse num tom tão compreensível que, se não fosse a situação no geral, eu teria o abraçado e me escondido na curva do seu pescoço ali mesmo. — Fique calma, por favor. 

Com uma breve troca de olhares e acenos de cabeça, Jimin e Harumi se entenderam o suficiente para deixarem nós dois sozinhos na sala de estar num piscar de olhos. Depois de permanecer algum tempo em silêncio, Jungkook se permitiu sentar no sofá, deixando os ombros caírem e suspirando alto. Em seguida, massageou as têmporas e fez um sinal com a cabeça para que eu me sentasse ao seu lado. Ele também parecia cansado, o que me fez simpatizar com o seu estado e atender ao seu pedido mudo. 

— Há uns seis meses, a Harumi chegou na faculdade sem saber meia dúzia de palavras em coreano, porém cheia de vontade de aprender mais sobre a nossa língua e cultura. Ela sempre foi tão empolgada e alegre, sabe? — iniciou, agora mais calmo e exibindo um sorriso abobado ao falar da mulher. — Mesmo com o problema da comunicação, eu me apaixonei por ela assim que a conheci e, por algum motivo que eu sinceramente não entendo, ela também se apaixonou por mim. Há um mês, eu me candidatei para fazer o mesmo programa de intercâmbio que ela, porém tentando uma bolsa de estudos no Japão. A Harumi volta para casa em algumas semanas e, céus, só de pensar em não poder vê-la mais... 

— Então, o que você está me dizendo é que quer ir para o Japão com ela? — eu o interrompi, agora entendendo melhor a situação. 

— Na verdade, não é que eu queira, mas eu vou. — respondeu firme, porém não rude como antes, mas sim convicto de sua decisão. — Semana passada eu recebi a resposta do programa de bolsas e, bem, eu consegui uma bolsa integral para um intercâmbio de um ano em Osaka. 

Dito isso, Jungkook permaneceu alguns segundos em silêncio para que eu processasse aquilo tudo no meu tempo. Agora sim eu via o meu irmão compreensível e calmo ali, diante de mim, apesar de ele soar alguns bons anos mais maduro. Mesmo assim, saber que ele estava prestes a se casar e ir embora para outro país daquele modo ainda era muito para mim.  

— Eu sei o que você fez, noona. — disse e, em seguida, olhou ao redor com um pequeno sorriso no rosto. — Essa é a casa que eu admirava quando era criança, eu reconheci assim que cheguei aqui. Você a comprou por minha causa, não foi? 

De repente, eu me vi abaixando a cabeça, um pouco sem jeito por ele ter percebido tudo tão de cara. 

— Você disse que queria que fôssemos nós no lugar da família que vivia aqui. — sussurrei. 

Da família de Jimin.  

— Exatamente. — respondeu. — Eu não quero ser um bastardo ingrato, mas o que enchia os meus olhos naquela época não era a casa em si, mas sim a própria família.  

— Como assim? — franzi o cenho.  

— Todo dia de manhã, nós passávamos em frente a esta casa e víamos aquele garotinho sorridente acompanhado dos pais. Naquela época, eu tinha inveja dele. — explicou, parecendo nostálgico. — Por que ele podia ter uma família tão bonita e feliz que parecia um retrato, enquanto eu não tinha nada daquilo? Por isso, quando eu disse que queria que fôssemos nós dois naquela cena, eu quis dizer que também queria ter uma família como aquela. Eu achava injusto, sabe? 

Naquele momento, eu sentia como se o chão sob os meus pés estivesse desabando e um enorme abismo começasse a me engolir. Jungkook só queria fazer parte de uma família feliz e apresentável e, infelizmente, aquilo era a única coisa que eu não podia dar a ele. Eu podia protegê-lo como pai e também como mãe, mas nenhum daqueles dois títulos era, de fato, meu. Eu o compreendia e não o julgava por isso, apenas me sentia miserável por não ter conseguido, no fim das contas, realizar o seu desejo de infância. 

— Desculpa, Kookie. — eu murmurei com a voz já embargada. — Se dependesse só da minha vontade, eu juro que as coisas teriam sido muito melhores. 

— Yah, você vai mesmo dar ouvidos ao meu eu de cinco anos de idade? — indagou rindo enquanto cutucava meu ombro. — Eu era um pirralho que não entendia nada da vida e, em especial, não conseguia ver a família maravilhosa que eu sempre tive. — então, com um sorriso sincero, ele me fitou diretamente. — Você é e sempre foi a família que eu sempre quis, noona. Você foi meu pai, minha mãe, minha irmã e todos os primos e tios que eu poderia pedir. Você foi o meu lar e, quando eu percebi que não precisava de mais ninguém ao meu lado para crescer e me tornar o homem que eu sou hoje, eu cresci feliz e satisfeito com a família que tinha.  

De repente, eu senti uma lágrima quente rolar pela minha bochecha direita. Jungkook estava me dizendo tudo aquilo não porque era o que eu precisava ouvir, mas sim porque era o que estava no seu coração e eu podia afirmar isso só de olhá-lo. Eu estava tão exausta que as emoções pareciam simplesmente me dominar com o dobro de intensidade e, por isso, eu apenas permiti que mais algumas lágrimas rolassem livremente pelo meu rosto.  

— Obrigado por sempre ter sido a família que eu precisava, noona. — ele disse também emocionado e passando os polegares delicadamente pelas minhas bochechas para enxugá-las. — E, mesmo estando distantes um do outro, eu prometo que jamais estaremos separados. Casados ou não, morando no mesmo país ou não... Nós sempre seremos uma família, certo? 

Era hora de deixá-lo ir. O Jungkook diante de mim não era o mesmo de alguns anos atrás — agora ele era um homem decidido e dono do seu próprio caminho. Eu continuaria e observá-lo e cuidar dele o máximo que eu podia, mas agora de longe. Perceber aquilo era um pouco doloroso, contudo, também significava que eu tinha feito um bom trabalho em criá-lo.  

Era engraçado o modo como eu parecia uma mãe vendo o filho saindo de casa para viver a própria vida no mundo lá fora. 

Uma última lágrima escorreu pela minha bochecha e, rindo, eu mesma a enxuguei.  

— Yah, essa Harumi é uma santa ou o que? — brinquei, o que o fez rir também. — Como ela conseguiu transformar você nesse homem todo? Eu deveria agradecê-la no mínimo com um jantar. 

Sorrindo, Jungkook exibia os dentinhos de coelho que eu tanto adorava.  

— Bem, nós não temos aula amanhã. — deu de ombros. — Tenho certeza de que a Harumi vai adorar a sua comida.  

— Vá chamá-la, então. — disse já o empurrando para que se levantasse. O clima era leve novamente e nós dois tínhamos sorrisos em nossos rostos, o que me permitia respirar aliviada novamente depois de tanto tempo. Jungkook se levantou travesso e foi em direção à cozinha, mas parou no meio do caminho. — Noona, me desculpe pelas coisas que eu disse agora pouco e pelo modo como agi. Eu me preocupo com você e, bem, esse é o primeiro namorado seu que eu conheço e tudo mais... 

Não era todas as vezes que eu percebia, mas meu irmão também costumava ser meu pai e minha mãe vez ou outra. 

— Não precisa se preocupar. — respondi. — O Jimin é uma boa pessoa e cuida muito bem de mim. 

— Você está feliz? Digo, com esse tal de Jimin.  

Eu sorri para ele, sincera. 

— Muito.  

— Está bem, então. — balançou a cabeça positivamente, mas não sem me lançar um olhar mais sério. — Mas isso não a isenta de me passar a ficha completa desse cara, ouviu bem? 

Bem, eu realmente tinha a ficha completa do Park, o que me fez rir sozinha. Jungkook não fazia ideia de nada, nem mesmo de que aquele tal de Jimin era o garotinho que ele costumava invejar — inclusive, que sua família não era o retrato perfeito que meu irmão costumava idealizar. Seria engraçado assistir aos dois se conhecendo e eu estava ansiosa por aquilo.  

Pelo menos naquele momento, meu coração estava um pouco mais leve. 

 

*** 

 

O jantar tinha virado uma sobremesa, que tinha se estendido para uma conversa leve e que ultrapassou as barreiras do tempo cronológico. No fim das contas, eu estava acomodando Jungkook e Harumi — que, à propósito, se mostrou um verdadeiro amor de pessoa e corajosa o suficiente para embarcar naquela jornada de mãos dadas com o meu irmão sem soltá-lo — no quarto de hóspedes para que passassem a noite aqui em casa. Já passava da meia noite quando eu lhes entreguei toalhas e lençóis limpos e, depois de desejar boa noite, desci à procura de Jimin no térreo da casa.  

Encontrei o Park enrolado num aventa,l lavando a pia de louça suja que tinha restado do jantar. Sorri e me aproximei dele, abraçando-o por trás. Debrucei meu queixo no seu braço, já que, sem a ajuda de um salto alto, eu não alcançava seu ombro. De relance, eu o vi sorrindo. 

— Sabe qual foi a única coisa que eu sempre procurei em um homem? — perguntei e ele balançou a cabeça num sinal negativo. — Tara por limpeza. Por isso, Park Jimin, a única coisa que você pode gostar mais do que da minha pessoa, é de fazer as tarefas domésticas, está bem?  

Ele riu, entrando na brincadeira. 

— Você pode me contratar como doméstico, o que acha? — sugeriu, terminando de enxaguar os pratos. 

— Por quanto tempo? — indaguei travessa. 

Jimin largou os pratos, fechou a torneira e enxugou as mãos no próprio avental, em seguida pousando-as na minha cintura. 

— Bem, eu sugiro um contrato vitalício. — sorriu de canto. 

Não demorou muito para que os nossos lábios se encontrassem, o que resultou num beijo calmo e terno. Quando nos separamos, eu encontrei uma intensidade em seu olhar que poderia me sustentar nas nuvens pelo resto da vida. 

Brega, porém, verdade. 

— Parece uma ideia proveitosa. — respondi, por fim. 

Aquilo pareceu fazer Jimin se lembrar de algo, o que o fez soltar a minha cintura. 

— Então, eu tenho algo para selar o nosso acordo. — disse, tirando o avental. — Venha comigo. 

Eu não relutei quando o Park me puxou pela mão, me guiando com urgência até a sala de estar. Pediu que eu me sentasse no sofá para esperá-lo e, mesmo sem entender o porquê daquilo, eu o fiz. Subiu as escadas correndo e, um par de minutos depois, já estava se acomodando ao meu lado no sofá. Trouxe consigo uma caixa azul aveludada do tamanho da minha mão; pelo formato do objeto, eu já imaginava do que se tratava. 

Respirou fundo segurando a tal caixa e me encarou.  

— Eu me lembrei do que aconteceu no dia do enterro do Bo Gum. — iniciou direto, o que me deixou sem reação. — Depois disso, reparando no seu comportamento nos últimos dias, não foi difícil perceber que você estava escondendo alguma coisa de mim. Eu não sei do que se trata, mas é óbvio que é algo relacionado ao meu passado.  

— Jimin, eu não...  

— Tudo bem. — interrompeu com um sorriso fraco no rosto. — Você só está com medo do que pode acontecer comigo, eu entendo. Mas, certa vez, você me disse que não precisava da minha proteção e eu não acho que você estava errada; mas um relacionamento não pode se basear nisso, Soojin. — pausou e ergueu a caixa na minha direção. — Por isso, eu quero dar o primeiro passo para consertar isso. Jeon Soojin, você aceitaria, por favor, que eu lhe protegesse? 

Sem palavras diante de tamanha sinceridade, eu apanhei a caixa de suas mãos e, abrindo-a, me deparei com um colar prateado que parecia ser feito de ouro branco. A corrente fina e o pequeno pingente brilhante davam à peça um ar extremamente delicado, porém igualmente resistente.  

— É lindo, mas... — pausei e, no meio das minhas emoções, tentei procurar as palavras certas. — O que significa isso, Jimin?  

— Significa que, onde quer que você esteja, eu estarei lhe protegendo. — respondeu e logo em seguida riu. — É mais ou menos como você tem feito comigo.  

— E por acaso tem um rastreador ou algo do tipo nisso? — perguntei e, mesmo que estivesse brincando e sorrindo, precisei fungar um par de vezes para controlar as lágrimas. 

Ou eu estava muito sensível naquele dia em específico ou, talvez, as pessoas que tivessem tirado o dia para me emocionar —  de um jeito ou de outro, qualquer que fosse a intenção por trás do gesto de Jimin, eu ainda podia sentir o carinho na sua voz e principalmente nos seus olhos, o que fazia com que eu me sentisse acolhida e protegida. Eu não tive o privilégio de poder me sentir sempre assim, principalmente quando era criança, então poder viver aquele momento talvez fosse muito mais especial para mim do que o Park imaginava. 

— Bem, façamos assim: eu conto o que tem de tão especial nesse colar, mas só se você me contar o que tem lhe perturbado tanto nos últimos dias. O que me diz?  

Aquela oferta era, no mínimo, tentadora. Apesar do risco que eu corria de Jimin simplesmente detestar o fato de eu ter escondido coisas tão importantes dele e me repreender por isso — e com razão — eu já estava farta e cansada de passar tudo aquilo sozinha, carregando o que sabia sem nenhuma ajuda de fora. Era exaustivo saber de coisas tão macabras e bizarras com relação a Seokjin e todo o resto e não poder contá-las a ninguém, em especial para Jimin. Eu estava com medo da reação dele, mas também me sentia esgotada demais para continuar mentindo.  

Mas, antes de tomar qualquer que fosse a minha decisão, eu precisava esclarecer uma coisa. 

— Park Jimin, eu amo você. — disse firme, letra por letra. — E eu não estou dizendo isso só porque estou com a consciência pesada nem nada do tipo, é só que eu... 

Antes que eu pudesse terminar minhas explicações, Jimin me puxou para um abraço apertado e confortável. Afagou meus cabelos com uma mão e, com a outra, envolveu meu tronco.  

— Eu amo você, Jeon Soojin. — sussurrou no meu ouvido e eu pude sentir a sua respiração quente no meu pescoço. — E não há nada nesse mundo capaz de mudar isso, você me ouviu bem? 

No fim das contas, Jimin era o meu lar. Como Jungkook havia dito, não se tratava da casa ou do retrato da família perfeita... Era sobre se sentir protegido, amado e acolhido — e Jimin me fazia sentir todas aquelas coisas. 

E eu não estava disposta a perdê-lo, de jeito nenhum. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Soojin conta a verdade, não conta a verdade, bota casaco, tira casaco... E o menino Jeon, ein? Eu sei que vocês estavam ansiosos pela aparição dele!
Se tudo sair conforme o planejado, o próximo capítulo será o último. "Mas autora, você vai resolver tudo em um único capítulo igual novela mexicana?" vocês me perguntam e eu respondo "Esperem e verão.".

Até breve ♥