SOBRE A ROSA E OS ESPINHOS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 3
Sobre Redenção


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo! Esse é meu presente para vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770687/chapter/3

 

 

Final da Primavera

5º ano

Aquela foi a primeira troca de olhares onde ambos sabiam a seriedade de suas diferenças. A troca de olhares que revelou seus extremos opostos. Ele mantinha os braços cruzados bloqueando a porta de entrada para o vagão da monitoria quando ela se aproximou. Já não usava o uniforme, mas seu distintivo dourado de monitora estava ajeitado perfeitamente sobre o vestido trouxa que ela usava para descer na plataforma de Kings Cross e ir embora para casa.

Magnífica.

Era uma palavra que a descrevia bem.

Sangue-ruim, era outra.

Hermione Granger andava como se estivesse alheia a qualquer um ao seu redor, entretanto sua postura lhe impunha tanto domínio que ela parecia ter magicamente o controle sobre todo o ambiente. Ela estava se tornando mulher e isso estava chamando atenção das pessoas mais do que o necessário. Algo detestável.

Ele trocou o peso de uma perna para a outra quando ela parou de frente a porta da cabine e o encarou. Seus olhos eram âmbar, mas ali com o sol que vinha da janela lhe tocando quase toda a extensão do corpo, eles estavam reluzindo dourado. Os cabelos que intercalavam seus fios claros e escuros moldavam um castanho exótico que descia perfeitamente alinhados do topo da cabeça e se abriam em enormes cachos para até a altura de sua cintura. Ele não gostava de competir atenção com ela. Não gostava de ver que as pessoas se sentiam divididas quando ela estava no mesmo ambiente que ele. Também a odiava por isso. Era como se até mesmo nas características física, competisse com ele.

Ela esperava que ele lhe desse espaço para passar. Esperava que ele dissesse algo em implicância também, como sempre fazia. Ele tinha sua frase, na ponta da língua, como sempre havia tido. Para provocá-la, fazê-la se sentir ofendida, fazê-la odiá-lo, mas ali para ambos pareceu claro demais que tudo entre eles havia mudado. Havia mudado porque desde que os jornais gritaram o retorno de Lorde Voldemort o mundo virara de cabeça para baixo, mas eles, eles sabiam claramente de que lado cada um estava naquela pequena guerra indireta que havia se iniciado desde o outono passado. Agora tudo era sério e verdadeiramente perigoso.

Não era necessário que ela recebesse qualquer palavra ofensiva. A figura que ele era estando ali parado, com os trajes elegantes de um verdadeiros Malfoy, o porte de um e o olhar tão incrivelmente encantador e assustador ao mesmo tempo já dizia que ela deveria recuar. Mas ela insistia. Mostrava a ele que não tinha medo do que quer que ele pudesse significar agora que Voldemort havia voltado. Então ele deu espaço para que ela passasse sem soltar uma palavra sequer. Ela seguiu seu caminho tão igualmente calada quanto ele. Mas o olhar que haviam trocado mostrava que agora tudo era diferente e que a brincadeira de gato e rato que haviam mantido até então havia tomado uma proporção realmente agravante. Eles estavam prontos para a guerra. Seria mais uma competição entre eles. Uma séria. As insignificantes vitórias de ser escolhido para responder uma pergunta quando levantavam a mão ao mesmo tempo em sala de aula agora iriam fazer parte de um passado que poderia ser considerado até mesmo nostálgico.

 

Início de Outono

6º ano

Ele tinha orgulho de mostrar a todos quem era. Era um Malfoy. A família mais clássica de linhagem puro sangue de todo o mundo bruxo. Pessoas comentam sobre eles, escrevem livros sobre eles, estudam sobre eles, esperam grandes coisas deles. A linhagem Malfoy estava cravada na História. Cada geração possuía, no mínimo, um cofre dez vezes maior do que a anterior. Draco Malfoy tinha o orgulho estampado em seu ego. O sangue que lhe corria as veias valia ouro. E como um perfeito puro sangue ele caminhava por onde fosse com toda a sua glória. Chamava atenção, claro, todos o conheciam, mas ele era o pacote completo. O dinheiro que carregava no bolso valia, mas também sabia que sua família era famosa por possuir traços invejáveis e ele não ficava de fora, especialmente quando tomava conhecimento sobre seu clube de admiradores. Não era modesto. Gostava de entrar no jogo daqueles que conseguiam se colocar no mesmo nível dele para peitá-lo. Gostava do desafio.

Seu único problema era sua personalidade difícil. O mundo parecia dizer que era arrogante, prepotente, orgulhoso, astuto, preconceituoso, intolerante, não confiável, esnobe, e tudo que pudesse haver de pior, apenas porque espelhavam nele, a figura de seu pai. Draco tinha um ponto de vista diferente, mas não negava os traços que herdara do homem.

A verdade era que sempre fora um líder e precisava de sua personalidade forte para se manter em sua posição. Não se via como nenhum rei, mas sua ambição sempre esteve baseada numa ganancia por influência, mesmo que já a tivesse. Para ele, muito nunca seria o suficiente. Sempre havia mais. Mais poder. Mais conhecimento. Mais influência. E ele queria mais.

Via isso quando se sentia num pedestal ali, entrando no salão principal, como fazia naquele exato momento, e via todos os rostos, de todas as casas, voltando-se exclusivamente para sua figura imponente. Cochichos e murmúrios. Esse ano ele via olhares de medo. Esse ano ele dominaria aquela escola. Não havia passado todo o seu verão dentro do ciclo na morte em vão. Esse ano ele sentia-se mais do que conhecido, rico e desejado, esse ano ele sentia o poder emanar da marca de Voldemort cravada em seu pulso.

— Eu pensei que tivesse imobilizado Potter e o deixado no expresso de Hogwarts. – Vicent cochichou para ele.

Draco olhou para mesa da grifinória e encontrou a corja de Potter toda reunida. Fuzilavam-no com o olhar. As orelhas de Rony Weasley ferviam em vermelho e ele quase riu de sua cara patética. Potter poderia ter se livrado de se deixar ser esquecido eternamente naquele trem, mas Draco tornaria sua vida um inferno naquela escola. Que vigor para Draco Malfoy era saber disso.

— Está atrasado, Sr. Malfoy. – Barão Sangrento foi o primeiro a dizer algo quando Malfoy e sua trupe acomodaram-se nos lugares de sempre na mesa da Sonserina. Lugares que ninguém ousaria tomar. – Sabe que não pode chegar depois da seletiva dos novos estudantes.

— Sou monitor. – Draco se limitou a responder engolindo a ofensa que havia pensado para rebater.

— Não te isenta da responsabilidade que tem ao cumprir certas regras da escola. – Retrucou o fantasma.

Draco não tinha cara de muitos amigos, e aquele fantasma estava o provocando.

— E que tipo de punição acha que mereço por isso? – Havia o sarcasmo incrustado no tom de sua voz enquanto o encarava cruelmente com sua intocável expressão Sonserina.

Barão Sangrento devolveu o olhar frio para Draco, fez uma careta e deixou seu lugar voando para se juntar a Dama Cinzenta na mesa ao lado. Malfoy sorriu vitorioso. Ele era o dono da casa Sonserina. Snape havia lhe dado essa autoridade de maneira muito sutil e indireta. Draco entendeu o recado e foi construindo seu reinado muito estrategicamente com o passar dos anos.

Foi obrigado a ajeitar sua postura e amarelar seu sorriso quando a voz sempre acolhedora de Dumbledore soou por todo o salão em seu discurso de boas vindas. Sim. Ele tinha uma tarefa muito simples esse ano.

Seus olhos caíram novamente sobre a mesa da Grifinória. Potter tinha seus olhos verdes ainda cravados nele mesmo que seu adorado mestre estivesse discursando. Malfoy lançou um discreto e fino sorriso desafiador. Quase o viu bufar em fúria. Ao lado da cicatriz mais famosa do mundo estava Ronald Weasley disperso em seu mundo e do outro a magnífica sangue-ruim de Hogwarts com seus olhos cravados nele assim como seu amiguinho Potter. Porém havia uma diferença. Enquanto Potter o fuzilava em seus verdes cheios de ódio, os cor de âmbar de Hermione Granger o focavam friamente carregando um interesse desafiador que ela não fazia questão de esconder. Era um olhar perigoso porque ela o encarava como se soubesse algum segredo seu, o focava como se não houvesse mais ninguém além dele em todo o salão. Ela era com quem ele tinha que tomar o máximo de cuidado. Saberia manipular Potter, Weasley era um patético, mas Hermione Granger era perigosa.

Céus, aquilo o excitava. Ter uma adversária na altura de Granger era o que ele queria. Era seu desafio. Continuou com seus olhos sobre ela naquela pequena batalha que haviam travado encarando-se friamente. Draco tentou desvendar o que quer que ela estivesse pensando com aquele desgosto estampado nos olhos. Conseguia o deixar desconfortável. E foi tão desconfortável que chegou ao ponto onde foi obrigado a desviar os seus dos dela para o diretor em seu discurso.

Havia sido acuado.

Maldita.

Odiou-se por isso. Ele dormiria aquela noite se lembrando daquele olhar. Reviraria em sua cama por saber que havia cedido a ameaça dela. Ninguém o provocava daquela forma. O desgosto dela era cortante e o afetava. Queria coloca-la em seu lugar. Se ela estava disposta a desafiá-lo, também teria que estar disposta a se ver sendo massacrada, independente de quantas pequenas batalhas vencesse.

O diretor estralou os dedos e a comida se materializou por toda a extensão da mesa. A marca em seu braço ardeu e ele ajeitou a manga de seu uniforme. Ele pode notar Dumbledore lhe lançar um rápido olhar antes de se sentar novamente em seu enojado trono de diretor. Seu estomago revirou e a marca em seu braço incomodou novamente. Ele se levantou e deixou o salão.

 

Final de Outono

6º ano

Ela caminhou decidida pelos corredores vazios do castelo. Seus sapatos contra o piso de mármore faziam ecoar seus passos por onde passava. Em seu rosto estava estampado a expressão mais fria e sem vida que ela podia ser capaz de produzir. A noite do lado de fora dos vitrais anunciava sua chegada. Ela odiava a noite.

Parou de frente para um pequeno quadro com a imagem de um vilarejo. Tocou o telhado das casas em uma certa ordem enquanto murmurava a palavra chave e então o viu se enterrar na parede e descer pelo chão fazendo materializar a frente dela uma escada helicoidal, um tanto quando claustrofóbica devido as paredes de pedra que a fechavam. Hermione desceu por ela e quando pisou seus pés no carpete do andar que chegara ela o viu de costas, sentado numa mesa ao canto da lareira.

A sala de estudos privativa dos monitores, quase uma minibiblioteca. Ela sabia que o encontraria ali. Sentiu-se satisfeita por estar certa. Não estava errando com ele ultimamente. O lugar era vazio como sempre. Mas ali, durante o jantar, só havia ele. Como ela havia previsto.

Gostava do ambiente já que era um lugar pequeno, acolhedor, isolado e quieto. Cheirava a pergaminho e ela adorava. Hermione não lutou para esconder sua chegada. Tudo que fazia procurava produzir o mínimo de ruído possível. Ela começava a sentir o olhar dele cair sobre ela.

Draco ergueu os olhos impaciente quando a viu arrastar uma das escadas da estante de modo lento fazendo o ruído tornar-se gradativamente insuportável. Ela não o olhava embora ele soubesse que ela estava tentando o provocar. Aquela garota não tinha ideia mesmo do que ele era capaz.

Ela subiu os degraus da escada para alcançar o topo da estante. Ele a observou no processo. Ela usava o uniforme da escola e estava impecavelmente perfeita como normalmente. Com os sutis movimentos dela ele pode notar a curva de sua cintura unir-se com o desenho das linhas do início de seu quadril escondido pela saia de pregas. Não era certo que uma sangue-ruim pudesse ser tão desejável. Ele queria o nojo que ela deveria lhe causar. Voltou-se para seu estudo tentando ignorar a presença dela.

Hermione conseguiu achar o livro que procurava. Havia o marcado na manhã daquele mesmo dia. Desceu a escada e a colocou no canto da estante. Abriu o livro na página que havia deixado indicado e a analisou com satisfação. Ergueu os olhos para o Draco Malfoy entretido no que quer que estivesse fazendo. Sua expressão quase se tornou uma Sonserina ao permanecer intocável. Foi até ele colocou o livro sobre seus estudos e cruzou os braços.

— O lugar está ocupado, Granger. – ele disse. Sua voz mostrava a falta de paciência. Os olhos dele ergueram até ela e Hermione teve de prender a respiração apenas por alguns segundos. Não era nem um pouco certo que ele tivesse um olhar tão incrivelmente intenso e penetrante.

Ela apontou para o livro.

— Reconhece o desenho? – ela foi direto ao ponto.

Ele desviou os olhos dela para o desenho do livro e o analisou. Era um colar de pérolas simples e caro. Algo na boca de seu estomago lhe enviou uma sensação estranha.

— Por que o interesse? – Ele retrucou.

— Não foi o que eu perguntei. – Ela insistiu. – Reconhece o desenho? – Ela perguntou mais claramente dessa vez.

— Sim, Granger. E por que o interesse? – Ele procurava manter sua voz desinteressada.

— Porque você o tem. – Ela respondeu. – O adquiriu antes de virmos para Hogwarts, no Beco diagonal, na Borgin & Burkes, acompanhado de seu pai. – Terminou piscando calmamente.

A sensação na boca do estomago dele foi mais forte. Não se permitiu mostrar abalado.

— Então anda me seguindo? – Ele tentou seu eu sarcástico. – Granger, não sabia que você me queria tão igualmente como as outras garotas dessa escola.

— Cale essa sua boca nojenta, Malfoy! – Ela cuspiu inclinando-se sobre a mesa. – Não sou estúpida o suficiente para querer uma carcaça oca como a sua! Tudo em você exala covardia!

Ele se levantou sentindo o sangue passar a ferver. Ela recuou ainda mantendo a postura como se estivesse pronta para enfrentá-lo nesse nível agora, se ele quisesse.

— Deveria ter medo das coisas que fala. – Foi a vez de ele cuspir. – O que eu possuo ou deixo de possuir não te diz respei...

— Diz respeito, a partir do momento em que você o traz para dentro dessa escola! – Ela o cortou.

— Prove! Porque se tem tanta certeza de que eu o trouxe para dentro da escola, já deve ter vasculhado meus pertences também, ou não?

— Sabe que eu não poderia...

— Então não tome suposições como verdades! – foi a vez dele a cortar.

— Não me corte novamente, Malfoy!

Riu.

— Quem te deu a autoridade para me dirigir ordens? – Aproximou-se e o orgulho dela não a deixou recuar. - Se tem tanta certeza de que estou com o objeto aqui, entrou na casa da Sonserina para vasculhar meus pertences sem autorização e sabe bem que isso pode te custar seu distintivo. Não vai querer perder seus privilégios logo agora que mais precisa deles, não é mesmo? Escolha bem suas palavras antes de usá-las comigo ou terei que mostrar o porque deveria ter medo...

— Por que então? – Ela o cortou mostrando que estavam chegando ao ponto que queria. – Por que eu deveria ter medo de um Malfoy mimado? - Antes que ele tivesse a chance de sequer pensar em retrucar, o som do quadro no fim da escada helicoidal denunciou que não ficariam sozinhos mais. – Eu sei quem você é. – Ela vociferou entre os dentes.

— Vá em frente e espalhe o medo para a escola inteira então. – A desafiou num tom ainda mais baixo. – Não é como se ninguém desconfiasse.

O monitor da Corvinal apareceu carregando uma pilha de livros.

— Tem um grupo de quartanistas fazendo bagunça nas escadas da ala leste. Seria bom se um de vocês pudesse cuidar do caso se estiverem livres. – Anunciou ele lutando para não deixar a pilha de livros cair.

Granger ainda encarava com um olhar mortal.

— Posso cuidar do caso. – Soltou ainda o desafiando cheio de desgosto, deixando claro que a batalha ainda não havia acabado entre eles. Deu as costas e sumiu.

 

Meio de Inverno

6º ano

Draco Malfoy usou do horário de almoço para visitar a Biblioteca. Em seus dedos estava preso um minúsculo pedaço de pergaminho borrado em letras garranchosas o que precisava procurar. Passou pela grade da área proibida e sentiu o olhar relutante do fiscal que bem sabia que ele tinha permissão para acessar o local.

Draco olhou o primeiro título escrito em seu pergaminho, o procurou na listagem de estantes e rumou para a procura do número de chamada que indicava o local do livro. Encontrou o lugar vazio assim que chegou ao destino dele.

Soltou o ar impaciente.

Certo, era um título facilmente substituível.

Pulou para o seguinte e já sabia onde aquele estaria. Deu a volta, chegou ao local e encontrou a estante vazia no buraco em que ele deveria estar. Bufou. Ele definitivamente odiava ter que compartilhar das coisas.

O último título de sua lista estava sublinhando e ele realmente precisava daquele livro. Era uma questão de sobrevivência ter sucesso em suas empreitadas e seus planos vinham dando mais errado do que certo.

Procurou novamente na listagem de estantes e rumou para o destino do livro. Esmurrou a prateleira querendo soltar um urro alto quando encontrou o lugar vazio. Ele jamais conseguiria fazer com que seu pai lhe mandasse o título que ele muito bem tinha em casa com toda a fiscalização do ministério em cima do castelo.

Seu sangue ardia em fúria quando ele saiu da ala proibida e rumou para o quadro de empréstimos. Há três dias atrás estava constando a entrada dos títulos que tanto precisava em situação de ocupado pelo nome de Hermione Granger. Ele entendeu.

— Maldita! – Murmurou com os dentes cerrados antes de dar as costas e sair.

***

Tudo parecia estar dando errado. O mundo inteiro parecia virado de cabeça para baixo, inclusive o seu. Caminhou sentindo uma fúria corroer suas veias. Aquela guerrinha indireta que travara com Granger já estava se tornando demais e ele já estava farto de seu papel naquela escola. Não queria ser babá de Potter enquanto tudo ia por água abaixo com sua família fora daqueles portões.

Granger juntava os pergaminhos produzidos pelos segundanistas que ela acabara de monitorar a pedido de algum professor, ele entrou na sala reservada com toda a autoridade que sua raiva lhe dava. Ela ajeitou sua postura imediatamente quando ele apareceu, pronta para confrontar o que quer que ele fosse jogar contra ela. Como aquilo o irritava.

— Acha que está vencendo, não é mesmo? – Não tinha medo do cérebro dela.

Deveria, na verdade.

— Se sua guerra é contra mim, definitivamente. – Ela disse com muita calma, naquela arrogância insuportável. – Mas convenhamos que se olharmos para a figura por completo, essa guerra é muito mais do que eu tentando te parar aqui em Hogwarts, Malfoy. E nessa guerra, infelizmente as coisas não parecem estar indo muito bem para o meu lado. Sabe disso. De qualquer forma, que lhe sirva de aviso.

— O dia que eu te fazer abrir a boca para contar como conseguiu descobrir sobre os meus livros vai desejar nunca ter nascido. – Cuspiu.

Ela pareceu achar graça pelo modo como o canto de seus lábios rosados se esticaram.

— Não duvido que os "seus livros" tenham te ensinado bem sobre a eficácia da violência aplicada a interrogatórios, mas não acredito que você seja essa pessoa, Malfoy.

Ah. Ela era ingênua. Muito ingênua. Por isso mesmo ousava desafiá-lo. Aproximou-se sentindo a raiva apitando em seus ouvidos. Foi completamente bruto quando tirou das mãos dela os pergaminhos que segurava, a segurou pelos braços e a colocou contra a parede não muito distante das costas dela.

— Deveria começar a temer pela própria vida, Granger. – Vociferou a poucos centímetros do rosto dela. Nunca esteve tão próximo e nunca fora tão ameaçador. - Aconselharia a ficar fora do meu caminho ou acabara pagando caro por isso. Que lhe sirva de aviso.

Era só aquilo que ele precisava deixar claro, já podia soltá-la, mas por alguma razão, seu corpo parecia travado vendo de perto e em todos os detalhes, a magnifica figura que ela era. O rosado natural da maçã de seu rosto, os longos cílios, o rosado da boca bem definida e a cor exótica dos olhos que o encarava com receio agora.

— Obrigada pela preocupação. – Ela foi irônica, mas num sussurro quase miado.

Demorou, para finalmente conseguir soltá-la. Algo dentro de si protestou pela distância criada novamente entre seus corpos. Era loucura, porque sabia bem que queria ter a chance de mata-la.

Não disse mais nada. Nem ela. Apenas foi embora sabendo que deixara claro seu recado.

 

Final de Inverno

6º ano

Apoiou-se contra uma das pias daquele banheiro isolado na ala oeste sentindo um enorme peso em seus ombros. Fechou os olhos sentindo mais uma pressão em seu peito. A marca em seu braço ardia e ele sabia que sua pele poderia entrar em carne viva se o Mestre das Trevas continuasse com aquela brincadeira que parecia ser sempre exclusiva para ele. Voldemort parecia estar zombando de sua cara. Mesmo com as mangas arregaçadas, não tinha coragem de olhar mais para a marca em seu braço.

Seu pai havia sido preso.

Katie Bell estava quase morta.

E ele assistira o show de horror que fora vê-la receber a maldição do colar. Havia sido recompensado pelo seu feito, óbvio. Recebera a missão de trazer pânico a escola e finalmente estava conseguindo. Mas aquele havia sido o melhor e pior de seus atos. Sabia que logo Voldemort pediria por mortes e ver a forma como se sentia sabendo do que causara a garota Bell o fazia temer por quando esse momento chegasse. Acabara de destruir o futuro brilhante da garota. As sequelas, se sobrevivesse, não permitiria que ela subisse em uma vassoura para jogar Quadribol como fazia antes nunca mais. Ela era uma das garotas que o venerava, que comprava poção de amor e ria com as amigas na tentativa de colocar em sua bebida. O que ele devolvera fora cruel. E por mais que conhecesse bem o cruel e tivesse um ponto de vista diferente sobre isso, nunca imaginara reagir do modo como estava reagindo.

Apertou os lados da pia cerrando os dentes quando concentrou em toda a pressão do peso que carregava. As portas das cabines as suas costas bateram com sua magia involuntária e ele continuou a consumir aquele apertou dentro de si provocando com que a maioria da iluminação se apagasse, os espelhos trincassem e os canos entortassem esguichando água pelo chão.

Abriu os olhos e respirou fundo com medo do que mais poderia produzir se não controlasse e engavetasse todas as sensações ruins que carregava. Não conseguia se lembrar da última vez que sua magia involuntária tinha se manifestado de modo tão significativo. Abriu a torneira e jogou água no rosto. Molhou os cabelos passando os dedos pelos seus fios e se encarou no espelho.

Tinha olheiras fundas.

Não conseguia se lembrar da última vez que dormira em paz e verdadeiramente satisfeito. Tinha que controlar aqueles que estavam debaixo de sua influência, tinha que causar medo, tinha que manter Lorde Voldemort contente, tinha que tentar manter seu distintivo, tinha que driblar a turma de Potter, principalmente Granger. Não se reconhecia mais encarando sua imagem trincada naquele espelho. Afastou-se.

Encostou-se no fundo contra a parede de pedras e escorregou para o chão sentindo-se derrotado embora deveria estar se sentindo satisfeito. Deveria ter subornado alguém da corja que o venerava para conseguir para ele uma garrafa de álcool. Qualquer uma que fosse. Precisava ir para um mundo diferente e sabendo que isolar aquele banheiro só para ele, lhe permitiria ter um tempo para si. Um que mal tinha ultimamente. Principalmente com o número de Sonserinos que lambiam seus pés em troca da esperança de ter o nome mencionado ao Lorde.

Perdeu noção do tempo. Do mesmo modo que pareceu perder até mesmo noção de sua própria consciência a medida que se permitia sofrer sua frustação, entrando cada vez mais num mundo obscuro dentro de sua própria cabeça. Via-se sem forças. Sem ânimo. A marca em seu braço ainda doía e ele se recusava a olhá-la.

Foi quando notou que alguém quebrara o selo que ele colocara na porta da entrada. Deveria ficar furioso, mas parecia quase anestesiado. Continuou a encarar os filetes de água escorrendo pelo chão de pedra empoçando em certos lugares até ter seus olhos direcionados para um belo sapato de festa pisando sobre o empoçado.

Sentia-se tão derrotado, que não se importava com quem fosse e quem estivesse o vendo naquele estado. Não se importava que estavam violando sua privacidade forçada naquele banheiro público e não se importava que fosse alguma garota saindo de uma das famosas festas de Slughorn. Ergueu os olhos e viu Hermione Granger segurando a barra de seu vestido longo para evitar que ficasse molhado. Ela o encarava confusa e com uma empatia que ele nunca vira antes no olhar dela. Não ficou surpresa que fosse ela. Granger era a única que conseguia o seguir sem que ele notasse.

Ela estava linda. Como sempre. Granger não era nenhuma garota para se descartar. O vestido lhe caia bem e mostrava que estava ficando longe de ser apenas uma garota. Ele a apreciou apenas como um belo quadro quando a viu de abaixar bem a frente dele. Ela com aquelas malditas feições perfeitas. A boca, os olhos, a pele, o rosado do rosto, o desenho do queixo, do nariz. Tudo nela sempre estava irritantemente no lugar. Porém, o ódio que tinha por ela parecia trabalhoso demais para se manifestar naquele momento.

— Essa é uma visão que eu não esperava ter. – A empatia na voz dela foi quase uma humilhação para ele.

— Saia daqui, Granger. – Ainda tinha vontade o suficiente para juntar toda a raiva que aquela situação estava lhe causando.

— Sinto muito pelo seu pai. – A voz dela foi suave e quase tão fraca que ele mal pode escutar.

— Você não sente. – Mentirosa.

Ela puxou o ar. Apertou os lábios reconhecendo a própria hipocrisia.

— Verdade. – Admitiu. – Não sinto. Mas sinto pelo o que fez a Katie Bell.

Ele também. Desviou o olhar. Não era difícil admitir aquilo para si mesmo depois de ter a imagem dela sendo amaldiçoada da forma que foi por culpa sua repetindo inúmeras vezes em sua cabeça, como um filme de terror. Ele pensava que conseguisse ser cruel. Não tinha estomago para aquilo.

— Venci essa, não foi? – Sabia que Granger e Potter haviam estado em sua cola em Hogsmead sabendo bem que tinha um plano desenrolando.

— Você não parece muito satisfeito com a vitória. – O tom da voz dela era tão suave que parecia quase uma canção de conforto, se ele não entendesse bem o que dizia.

— Sinto decepcioná-la. – Foi irônico.

Ela não rebateu, mesmo que tivesse tomado ar para poder. Sentada sobre os joelhos, em seu belo vestido de festa ela apenas o observou. Draco moveu os olhos novamente para ela quando ela fixou os seus sobre o braço onde tinha cravado a marca de Voldemort. As linhas suaves das expressões distantes que surgiam em sumiam de seu rosto mostrava um debate feroz que parecia acontecer em sua cabeça.

Granger estendeu o braço receosa e ele não se moveu, mesmo sabendo que não queria que ela estivesse ali, principalmente que o tocasse. Mas ela o tocou. Usou seus dedos finos e gelados para tocar seu braço. Por algum motivo, o toque dela fez com que os cabelos de sua nuca se arrepiassem. Ela girou seu braço com muito cuidado e paciência expondo a Marca Negra que pulsava de dor gravada ali em sua pele. As sobrancelhas dela se uniram e ela mordeu os lábios. Sabia que seu braço aparentava estar machucado pela dor que Voldemort o fazia sentir. Draco não iria olhar. Apenas observou a expressão de Granger para saber que não estava bonito.

— Malfoy... – Ela deixou escapar por baixo de sua respiração. Muito baixo. Quase um sussurro. Os âmbar dela ergueram-se para encontrar os seus cinzas. – Ele não pode fazer isso com você.

Ele soltou um riso fraco embora não tivesse achado graça.

— De onde está tirando toda essa simpatia? – Não entendia.

— Da minha humanidade. – Ela respondeu como se não fosse óbvio sua reação.

— Guarde sua humanidade, Granger. Não vai querer gastá-la comigo. – Não achava justo.

— Não. – Ela não concordou. – Não é certo que ele o controle dessa forma. Você ou sua família. Não é...

— Eu fiz uma escolha. – Ele a cortou. Ela não entendia que não era uma vítima ali.

— Eu não me importo com que ambição sua família ou você tomaram a decisão de se juntar a ele, Malfoy. – Ela contrapôs e pareceu surpresa com as próprias palavras.

Eles se encararam em silêncio. Não acreditava que depois de toda a afronta e todo o medo que havia provocado, ela conversa com ele daquela forma, num tom baixo, compreensivo e cheio de empatia. Como se fossem íntimos. Como se fossem próximos. Como se ela fosse sua consciência. Ela molhou os lábios hesitante e se aproximou ainda mais para continuar como se estivesse sussurrando para ele um segredo:

— Não quer ser como ele.

— Não conhece nada sobre mim.

— Realmente não. – Concordou ela. – Mas tenho a esperança de acreditar no que talvez possa achar que sei.

— Um pensamento idiota para alguém que se prova tão inteligente. – Foi tudo que ele teve a dizer.

— Talvez. – Foi o que ela retrucou.

Eles se olharam em silêncio. Ainda estava bem consciente do toque dela que não deixara seu braço. Não queria ver sua marca, nem queria deixar a ligação criada no olhar que trocavam. Mas ainda assim, algo nele precisou verificar se aquele contato físico era real.

A pele em volta da Marca Negra estava extremamente vermelha e irritada. Não estava tão ruim quando imaginou que estivesse e isso foi um sinal positivo, embora ainda a dor estivesse ali. Os dedos bem esculpidos dela seguravam sem braço num toque cheio da calma que sua voz tinha. Draco vislumbrou a pulseira em seu pulso. Era dourada e estava cheio de pingentes parecidos. Sua vista boa permitiu que ele pudesse ler o que estava gravado em alguns deles, por mais que fosse minúsculo. Era título de livros.

Uma enorme afeição tomou conta dele ao perceber que ela tinha uma pulseira com pingentes onde havia gravado o título de seus livros favoritos. Era algo que combinava muito com ela. Seu dedão moveu-se minimamente roçando contra a pele dela para desvirar um dos pingentes, de modo a poder ler mais um dos títulos do hall de preferências dela. Ele também gostava daquele em específico.

Ergueu seus olhos novamente para ela. Granger também encarava o contato que ainda mantinha. Parecia confusa e quando ergueu os olhos novamente para ele, finalmente recuou sua mão engolindo em seco. Draco ainda ficou alguns segundos em choque com a interação que estavam tendo ali. Precisava urgente sair daquele buraco, e foi com aquele pensamento que puxou o ar, se levantou e passou por ela avisando que era melhor que fosse embora pois chamaria Filch para arrumar a bagunça.

Foi embora querendo apagar de sua memória a única vez em que o olhar dela não expressara desgosto ou medo ao encará-lo. Querendo apagar o tom suave da voz dela. Querendo apagar o toque calmo dela. Querendo esquecer aquele momento. Porque sabia que ele o perseguiria para sempre agora e mudaria a história que tinha com ela até então.

 

Final de Verão

1º ano da guerra

Tinha segundos para sair dali. Conhecia o plano melhor do que qualquer outro Comensal da Morte. Ele não ousava errar com Voldemort. Aquele bruxo maldito brincava com sua família e com ele como se fossem cães. Serviam de exemplo para todos os outros Comensais de que não importava quantos livros já haviam escrito sobre os legados de sua família, sobre quanto dinheiro tinham em seus cofres, sobre quanta influência tivessem, quem estava acima era Voldemort. Quem tinha poder era ele, quem tomava as decisões era ele e quem ousasse escorregar sofreria pelas mãos dele. Ser torturado por Voldemort por cometer um deslize era algo que não queria experimentar nunca mais. Viver essa humilhação de ter que ser parte do time depois do fato também era algo que carregaria para sempre em seu banco de traumas. Ainda assim, não se arrependia de não ter matado Albus Dumbledore.

Queria poder ter tido o gosto de saber o que Granger pensara dele no momento em que Potter contara a ela sobre sua hesitação em proferir a Maldição da Morte quando fora capaz de colocar o velho bem debaixo de seu controle. Será que ela havia usado aquilo para alimentar a esperança de que no final das contas, ele não era nenhum assassino, nenhum monstro ou ser cruel. Queria que ela tivesse alimentado aquela esperança, porque ultimamente, para ele, saber que ela acreditava naquele seu lado, era a única ponta de esperança que ele tinha nele mesmo. Mesmo depois de todo o mal que já havia feito. Mesmo não tendo nenhum contato com ela que fosse.

O ataque a mansão da família Olivaras havia sido planejada de maneira cuidadosa, ainda assim, tiveram que seguir para o "plano B" quando os membros da Ordem apareceram. Não era a primeira vez que uma missão a mando de Voldemort fora interceptada. A guerra se mostrava cada vez mais perigosa e acirrada a medida que os meses passavam.

Tinha poucos minutos. Talvez segundos. Seus pés se moviam rápido pelo piso bem polido e escorregadio pelo corredor principal do hall de varinhas da gigantesca e milenar mansão. Tinha sua varinha em punhos, sua capa e máscara de Comensal o cobria. Precisava manter o caminho livre para que a batalha conseguisse passar por ele e avançasse para o caminho oposto que ele tomava.

Foi quando a viu.

A primeira palavra que veio a sua cabeça foi um expressivo "não". Ela não poderia estar avançando junto com os outros membros da Ordem da Fênix. Não ela. Seus músculos travaram e ele odiou sua própria reação. Ela vinha causando isso nele, desde que partilhara com ele seu momento mais vulnerável naquele banheiro em Hogwarts.

Escondeu-se entre duas estantes quando viu um bando de vassouras com membros da Ordem. Estavam fugindo. Gritavam uns com os outros ordenando que fossem embora. Inferno! Haviam descoberto o plano? Draco continuou a ver Granger recusando atender a ordem dos demais avançando exatamente como fazia algum dos importantes aurores em solo.

Ele não podia sair de seu lugar. Mas contava os segundos e sabia que não tinha muito tempo. Precisava entrar em posição. Tinha que sair dali. Tentava gritar mentalmente para si mesmo. Os segundos passavam e ele viu que ela não mudaria de ideia. A zona onde estava era extremamente perigosa.

Soltou um palavrão quando se viu completamente incapaz de convencer a si mesmo de seguir o plano, mesmo sabendo o que aquilo poderia lhe custar. Correu por entre as estantes entrando de volta numa zona perigosa para conseguir alcança-la de um modo quase invisível. Saiu do mar de estante apenas quando conseguiu alcança-la. Ela corria tanto quanto ele e no momento que o viu, empunhou a varinha, mas ele tão rapidamente desfez-se da máscara revelando sua figura a ela.

Granger pareceu travar e foi perfeito. Perfeito para que ele tivesse tempo de agir rápido levando-a para dentro das estantes, colocando-a contra um pilar alto. Tampou a boca dela no mesmo minuto em que escutou o rugido das explosões ao longe. Conseguiu trazer sua capa para proteger ambos a tempo do mar do bafo quente do fogo verde que passou como um furacão derrubando estantes e caixas de varinhas para todos os lados. Granger soltou um grito por entre seus dedos e ele apenas usou seu corpo e sua capa para tentar manter o dois, de alguma forma, imune ao caos.

Não teve o que fazer a não ser esperar passar. E pareceu uma eternidade embora tivesse sido, na verdade, rápido. Não demorou muito e o mundo parecia parte de um silêncio perturbador. Granger parecia em choque, ali, contra o seu corpo. Afastou-se devagar e com cuidado. Ainda tampava a boca dela. Não poderia arriscar que ela entregasse onde estavam. Tirou a capa de cima deles e viu o caos ao redor. O pilar havia os protegido de muito. O resto, ou ainda queimava em fogo verde, que se apagava a medida que rapidamente sumia aquilo que consumia, ou estava a pelo chão misturando-se caos. Encarou Granger a centímetros de distância dele e os olhos dela estavam arregalados junto com sua respiração ofegante.

Colocou o indicador sobre a boca tentando passar a mensagem de que ela deveria ficar em silêncio. Somente descobriu a boca dela quando ela fez um sinal com a cabeça de que havia entendido o recado. Não passou segundos e ele já notou que Comensais estavam saindo de suas posições para acabar com quem sobrevivera, tentando, na sorte, talvez, encontrar um Harry Potter debilitado que pudessem levar a Voldemort. Mas Draco sabia que Potter estava bem longe dali.

Puxou Granger e fez com que seus corpos se encaixassem entre uma parede e uma gigantesca estante que sobrevivera de modo em que pudesse fazer com que tanto ela quanto ele ficassem nas sombras. Fez novamente um sinal para que ela se mantivesse em silêncio.

Seus companheiros começaram a se comunicar da maneira suja que sempre faziam. Granger colocou os dedos trêmulos contra a boca ao ver Remus Lupin ser arrastado por um dos Comensais e Draco teve que segura-la pela cintura, impedindo que ela saísse de onde estava. Alguém perguntou por Draco Malfoy e outro respondeu que ele deveria estar em posição já nos jardins, o que fez Granger voltar um olhar confuso para ele. Ele apenas continuou pedindo silêncio da parte dela.

Ainda demorou um bom tempo para que a leva de Comensais responsáveis por fazer a varredura finalmente prosseguisse pelo hall de varinha ficando cada vez mais distante deles. Draco respirou fundo quando notou que realmente não haviam sido descobertos.

— Granger. – Chamou e ela voltou seus olhos para ele. Naquele espaço apertado seus rostos ficavam quase que colados. – Precisa parar de colocar sua vida em risco no lugar de seus amigos.

— É algo que não posso evitar. – Ela revidou. Havia lágrimas em seus olhos por ter sido obrigada a assistir em silêncio os companheiros de Draco levarem os aliados da causa dela. Granger carregava um olhar confuso, talvez pensava se deveria ficar grata ou não. – Por que? – Não sabia se deveria mostrar raiva ou não. O olhar dela estava extremamente confuso. – Você me parou. Sabia para onde eu estava indo. Por que me salvou?

Ele não tinha pensando que ela poderia perguntar aquilo quando saiu de onde estava para ir pará-la. Mas era difícil não mergulhar no brilho triste e confuso dos olhos dela. Era difícil não lembrar do que ela causara nele quando mostrara toda uma empatia naquele banheiro em Hogwarts. Era difícil não ver de perto a perfeita escultura que ela era sem se deixar se envolver por sua magia.

— Preciso viva, a única pessoa que acredita que posso não ser um monstro. – Teve que dizer.

Ela ainda se mostrou confusa.

— Por que? – Perguntou numa voz falha, bastante consciente da proximidade deles.

— Porque talvez isso seja a única coisa me impedindo de se tornar um.

Ela tomou ar como se tivesse sido pega de surpresa ao escutar aquilo. Talvez até mesmo Draco tivesse sido pego de surpresa por escutar aquilo sair de sua própria boca. Era difícil acreditar que em pouco tempo sua mente fora capaz de coloca-la numa posição completamente diferente em sua vida. Ali estava ele, prestes a pagar caro por ter falhado com sua parte naquela missão, tendo a certeza de que qualquer castigo valia a pena apenas por estar tão perto dela agora.

— Malfoy... – A voz baixa dela, confusa sobre o que deveria dizer depois de escutar aquilo. – Venha comigo. A Ordem pode te manter longe dos olhos de Voldemort.

— Não diga o nome dele! – Repreendeu Draco. – Não posso ir com você. Eu tenho uma família, Granger!

— Podemos també... – Ela parou de falar quando os membros da Ordem apareceram novamente. Alguns em suas vassouras.

— Eu fiz uma escolha. – Disse para ela mais uma vez. – Vá! – Mandou que ela fosse embora aproveitando que teria assistência se algum grupo de Comensais aparecesse. – E pare de tentar ser o herói. Se te pegarem, irão coloca-la nas mãos do Lorde e juro que não irá querer sofrer as mortes que ele conduz.

Ela não prometeu nada de volta. Pareceu hesitar deixa-lo. Aquilo contribuiu para que ele percebesse que não queria que ela fosse. Seus olhos ziguezaguearam pelo perfeito e esculpido rosto da garota e ele quis tocá-lo. Quis tocá-lo com o fim de quebrar a distância. Estavam tão perto. Nunca haviam estado tão perto. Ele quis. Mas sabia que não deveria. Ela tinha que ir. Era a única chance dela.

Ordenou que ela fosse novamente uma última vez, e dessa vez, ela mordeu os lábios, pareceu contar até três e foi. Saindo das sombras de volta o caos e mostrando-se logo em seguida para seus amigos que estavam confusos com o que tinha acontecido. Draco provou do gosto amargo que foi o vazio de onde o corpo dela havia estado antes.

Estava perdido. Definitivamente estava perdido. Tinha adicionado para seu banco de memórias, uma que o perturbaria todos os dias de sua vida enquanto não tivesse a chance de se render a Hermione Granger.

 

Início de Primavera

1º ano da guerra

Não tinha mais forças quando finalmente caiu sobre o asfalto quase morto na esquina da rua Grimmauld. Não soubera como fora capaz de aparatar e ainda duvidava que todos as partes de seu corpo estavam no lugar certo. Não podia avançar de onde estava sabendo bem da magia de proteção que a Ordem colocava contra comensais naquela área. A sede da Ordem da Fênix não era segredo para ninguém.

Andara por horas para sair da área de proteção da Mansão Malfoy, onde Voldemort tomara como propriedade. Na situação em que se encontrava, após ter sofrido a pior tortura de sua vida, caminhar o tanto que fizera, com a dor da marca em seu braço queimando cada vez mais forte, ele já estava a ponto de perder a consciência.

Ficou ali, sem forças, sabendo que seria encontrado eventualmente. Demorou mais do que havia previsto, mas assim que viu os rostos borrados de Arthur Weasley e um dos gêmeos, soube que havia realmente aparatado no lugar certo.

Foi carregado pelos braços com os pés arrastando na calçada. Por mais que estivesse morto, seus músculos ainda estavam todos travados enquanto ainda sofria a influência da insuportável dor em seu braço. Mal soube entender o caminho que estava fazendo. Tudo parecia um grande borrão. Apenas se viu sendo jogado contra um tapete caro, numa sala escura, alguns longos minutos depois.

Vozes altas começaram a se acumular e a discussão pareceu intensa. Draco mal conseguia entender. Via Potter em algum lugar com a varinha empunhada como se estivesse condenando outros por terem trazido um Comensal para dentro da sede. Outros pareciam chocados por vê-lo ali no tapete. Mais alguns tentavam engajar uma discussão sobre os motivos pelo qual poderia estar ali. Tudo parecia alto. Confuso. Ele só queria um alívio. Um mínimo que fosse. Para a dor pesada em seu braço. Lutava com uma respiração ofegante e os dentes cerrados.

— Malfoy! – Reconheceu a voz dela no meio de todo aquele alvoroço. Com uma visão embaçada, a viu descer as escadas com pressa e abrir espaço por entre os outros para chegar até ele, se ajoelhar ao seu lado e tocar seu rosto de modo hesitante com os dedos frios e quase trêmulos. – Hei. – Ela disse muito baixo, só para ele, quando todos pareceram calar suas vozes por vê-la tão próximo a ele. – Por que ele não foi levado para o quarto da enfermaria? – Granger ergueu os olhos, perguntando quase que indignada para alguém que não interessava a Draco.

— Não levamos Comensais para a enfermaria, Hermione! – Reconheceu a voz de Potter responde-la de modo irritado.

— Harry... – Gina Weasley pareceu acalmá-lo.

O alvoroço intensificou-se novamente com as discussões que surgiram.

— Granger... – Draco tentou ter a atenção dela novamente, mas sua voz mal saiu. Tentou mais uma vez, mas ela estava engajada em defender seu ponto. Juntou todas as forças que ainda tinha para segurar o pulso da mão que ainda tocava seu rosto. Foi quando os olhos dela voltaram-se para ele novamente. Tentou avisá-la sobre o que estava acontecendo com ele, mas sabia que o que sua voz conseguia produzir não chegava a ela com clareza. Os olhos dela mostraram um desespero por não estar conseguindo entende-lo. Granger fez sua voz soar alta e autoritária quando pediu para que todos se calassem. Inclinou-se sobre ele tentando aproximar seu ouvido da boca dele. Draco precisou concentrar-se. – A Marca... – Conseguiu encontrar forças entre suas respirações para dizer. – Vai me matar.

Ela se afastou olhando-o de modo confuso por apenas um segundo. No seguinte, ela já desviava sua atenção e desvirava o braço dele expondo para todos o estado crítico da Marca Negra gravada ali. A última vez que Draco havia olhado, sua pele estava irritada e suas veias estavam escuras e aparente subindo por seu braço. Sabia que agora estava muito pior por estar longe da Mansão, onde Voldemort estava. Foi notável quando a maioria pareceu segurar a respiração ao ver o estrago.

— Oh. – A voz suave de Granger soou num sussurro cheio de dor. – Malfoy... – Talvez ela quisesse dizer que sentia muito pelo que estava vendo. Mas ela não disse. Ergueu os olhos novamente para o seu povo. – Ele precisa de uma poção inibidora. Rápido. – Proferiu. Ninguém pareceu se mexer. Ela se indignou. – Molly! – Implorou. – Ele vai morrer!

A mulher ainda pareceu relutar, mas eventualmente moveu-se saindo um por corredor. Ninguém disse nada por um bom tempo em que Draco agonizou escutando de longe alguém mexendo em algum boticário de poções.

— Temos que movê-lo para uma cela. – Harry insistiu. – Isso pode ser uma armação. Se ele ficar livre para se mover...

— Vamos esperar por Shacklebolt, Harry! – Granger o cortou com uma palavra final.

Molly Weasley voltou com um frasco de poções. Granger deu a ele com pressa e Draco bebeu como se fosse sua última chance de viver. O efeito foi quase imediato e sentiu seus músculos relaxarem a medida que a dor o deixava. Sua respiração foi se acalmando, mas sentia suas forças o deixando de vez.

— Não é bom que ele perca a consciência. – Molly Weasley disse. Estava perto. Agora tanto quanto Granger.

Draco apenas continuou a encarar o par de olhos âmbar em seu campo de visão. Bem próximo. Os olhos dela tinham um tom de verão, de calor, de calma. Ele quis mergulhar ali. Granger tentou mantê-lo acordado, mas nem mesmo se lutasse conseguiria.

Entregou-se para a escuridão sabendo que precisaria do descanso.

***

Vagava entre um mundo obscuro, revivia memórias, criava fantasias, pareceu uma eternidade em que ficou naquele estado até finalmente começar a, muito demoradamente, tomar consciência de seu corpo. Foi como outra eternidade perceber que seus membros todos estavam doloridos, que sua cabeça doía e que a cama onde estava não parecia nem um pouco confortável.

Abriu os olhos com calma. Havia uma claridade mínima que parecia vir de alguma janela coberta. A pintura do dedo estava desgastada e ele conseguia ver mofo crescendo nos cantos. Definitivamente era um lugar que já tivera sua glória. Ali, agora, parecia mais abandonado do que qualquer outra coisa.

Virou o rosto sentido cada músculo que moveu reclamar de desgaste. Foi quando a viu, sentada em uma poltrona, com um pesado livro no colo, que lia concentrada. Ele apenas a observou por alguns bons minutos. O modo como girava uma mexa do cabelo entre dedos, como a fresta de luz que vinha de uma janela mal fechada por uma pesada cortina passava por ela, como parecia completamente em outro mundo devorando cada uma das palavras gravadas naquele livro.

Céus. Ele queria se lembrar do momento em que deixara de desprezá-la. Queria se lembrar do que foi que fez com que ele conseguisse perceber que passara boa parte de sua vida listando as qualidades dela, mesmo que fosse ou para odiá-las ou admirá-las. Por que não parecia nenhuma surpresa para si mesmo de que havia chegado ao momento em sua vida onde podia admitir que a queria. Talvez, a verdade era que sempre a quisera.

— Hei. – Sua própria voz parecia destruída. O mundo do livro onde estava pareceu se desfazer completamente quando ela ergueu os olhos esperançosa para vê-lo acordado. – Seus amigos estão te odiando por estar me tratando como se eu nunca tivesse sido um inimigo?

Ela soltou o ar e sorriu um sorriso triste. Foi notável como aquele parecia um assunto sensível.

— Harry e Rony são especialistas em agirem como duas crianças. – Ela disse. – Mas é sempre temporário. – Fechou o livro em seu colo. – É bom te ver finalmente acordado. Como se sente?

— Moído. – Respondeu. Realmente sentia como se um trem tivesse passado por cima dele. – Quanto tempo fiquei descordado?

— Dois dias. Estávamos começando a ficar preocupados. – Respondeu ela. Mordeu os lábios e ele percebeu que ela parecia hesitante com algo. Apenas esperou. Granger refez sua postura na poltrona onde estava sentada tirando ar pernas cruzadas de cima da poltrona para colocar os pés contra o chão. – O que aconteceu com você? Como veio parar aqui e por quê? – Ela finalmente perguntou.

Draco soltou o ar e desviou os olhos tornando a encarar o teto. Tentou organizar sua cabeça para poder responde-la. Não sabia exatamente por onde começar.

— Eu o desafiei. Na frente de todos. – Começou. – Disse a ele as verdades do porque ele tem um gosto especial em humilhar minha família e eu. – Tornou a encará-la. – Ele odeia que precise de nós. Do nosso dinheiro. Da nossa casa. Da nossa influência. Não é só uma questão de tirar proveito. Ele nos odeia pelo que somos, pelo legado que temos, por sermos grandes. Ele odeia qualquer um que possa estar minimamente acima do que ele está tentando construir. – Respirou fundo sentindo novamente o desgaste de todos os seus músculos. – Então ele me fez pagar. Como nunca havia feito antes. Por eu ter sido insolente. Rebelde. Eu não sou o que ele queria que eu fosse. Não sou minha tia Bellatrix que cortaria os próprios membros se ele mandasse. Eu o humilhei. Ele deixou que eu fizesse, para depois me fazer pagar. Na frente de todos. Tive que ir embora. Sabia que ele me mataria. Ele não deixa brecha para que ninguém seja insolente.

Ela o encarava com uma expressão de dor, como se estivesse sofrendo ao idealizar o que ele havia passado. Draco respirou fundo mais uma vez, soltou o ar com calma e começou a se mover devagar. Sentou-se lutando para não gemer. Puxou as finas cobertas que o cobriam e colocou os pés descalços contra o piso de madeira. Teve que piscar com força várias vezes tentando encontrar foco quando sua cabeça girou e pareceu mais leve que o próprio corpo. Quando finalmente conseguiu se estabilizar, encarou a roupa que usava. A calça era de algodão. A camisa também. O tecido era mole, confortável, o corte em "V" da gola da camisa que usava parecia enfatizar o enorme "W" de Weasley estampado bem ao centro. Weasleys tinham péssimos gostos. Tocou o tecido para senti-lo com os dedos, reconhecendo a baixa qualidade e viu que seu braço estava enfaixado. Seria ótimo se pudesse ficar daquela maneira para sempre, assim não precisaria encarar a Marca de Voldemort estampada nele.

— Vá com calma. Você está fraco. – Ela o alertou quando ele pareceu considerar levantar. – Precisa comer algo. Vou chamar Molly. – Ela se levantou deixando o livro que carregava sobre a poltrona. - Ela tem cuidado de você.

— Não posso ficar aqui. – Ele tratou de dizer. Granger parou. – Não pretendo me juntar ao seu povo, Granger. Eu sei bem o mal que já fiz, não estou esperando que ninguém me aceite por aqui, também não quero ser aceito.

— E para onde você iria? Precisa de proteção, mesmo que não aceite, Malfoy. Eu não sei o número de Comensais desertores, mas sei que nenhum deles sobreviveu para contar história.

Draco sentiu um nível de ansiedade começar a perturbá-lo ao ter que pensar naquilo. Soltou o ar colocando os cotovelos sobre os joelhos e passou os dedos pelos cabelos sentindo aquele incomodo.

— Preciso de tempo para pensar sobre isso. Sobre o que fazer, para onde ir, como sobreviver. Eu não tinha um plano quando deixei minha casa. Apenas a deixei.

Ela se aproximou e sentou-se bem ao lado dele naquela cama nada desconfortável. Parecia não querer olhá-lo.

— Sei que odeia tudo que diz respeito a Ordem. Tudo que fazemos por Harry. As pessoas envolvidas. Talvez até nosso senso idiota de heroísmo. – Ela começou numa voz baixa. - Mas apenas considere que isso tudo é maior do que Harry. Sabe disso porque esteve com Voldemort. Sabe do que ele é capaz, sabe o que ele quer. E porque tem bastante consciência disso por ter visto de perto, sabe que não quer apenas... – Pareceu buscar uma palavra. – Se esconder. – Concluiu.

Draco considerou as palavras dela. Teria que pensar. Tinha muito o que pensar e considerar. Assentiu. Daria crédito a ela, porque não parecia nada muito longe do que estava em sua própria cabeça. Moveu seus olhos para ela, bem ao seu lado. Nunca em sua vida sequer cogitaria a ideia de estar passando o que estava passando, de estar com ela ali ao seu lado, satisfeito por saber que era ela. Parecia loucura que de todas as garotas no mundo inteiro, Hermione Granger fosse a que ele queria que estivesse ali. Eles se encararam por alguns segundos, como se estivessem processando a insanidade do que era a vida ter os levara para aquele momento, depois de toda a batalha que já haviam travado um contra o outro. Até que ela puxou o ar, se levantou e disse que buscaria Molly Weasley.

***

Havia levado um dia inteiro para considerar os planos de Kingsley Shacklebolt. Era perigoso e não o agradava nem um pouco, mas, depois de muito pensar, parecia ser a única saída para o caso dele. Não queria ficar na Ordem. Sair para o mundo por conta própria seria assinar seu atestado de óbito. Voltar para a mansão de sua família com o rabo entre as pernas, parecia uma humilhação, mas a ideia de ser um agente duplo contra Voldemort soava como uma vingança que gostaria de conduzir.

Voldemort o aceitaria de volta. Queria os Malfoy por perto. Era vantajoso. Se Draco se humilhasse e provasse que poderia ser um servo tão devoto quanto sua tia Bella, deixando para trás seu passado rebelde, teria a confiança de Voldemort para poder trabalhar as suas costas. Era extremamente perigoso e Draco já se conhecia o suficiente para saber que não era a pessoa mais corajosa, mas se havia algo em si que gritava mais alto, essa era a vingança.

Granger não estava nem um pouco contente com a ideia. Naquele exato momento, ele conseguia escutar do andar de cima a discussão que ela levava com Shacklebolt e Moody sobre estarem concordando leva-lo de volta ao matadouro como se isso fosse a melhor opção para ambos os lados. E realmente era a melhor opção, ela só não queria aceitar. Draco teria o sabor de trabalhar pelas costas de Voldemort bem debaixo de seu nariz inexistente e a Ordem teria acesso a valiosas informações.

Esfregava calmamente uma mão na outra tentando aquecê-las sentado em uma poltrona próximo a lareira acesa com os cotovelos apoiados um em cada joelho. Acabara de dar a notícia de que estava entrando no desafio. Sabia que sua relação com a Ordem seria conturbada e ele seria o responsável por ditar o ritmo. A ideia de voltar a mansão de sua família no estado em que se encontrava começava a lhe dar calafrios, mas tentava se manter focado. Ter que escutar a discussão abafada que chegava até ele de Granger no andar de cima também não ajudava.

— Como conseguiu seduzi-la? – Potter abriu a boca cortando o silêncio daquela sala. Draco ergueu os olhos para ele, de pé do outro lado da sala segurando sua garrafa de cerveja amanteigada. Só havia restado eles naquela sala de reunião. – Sei que ela não cairia na armadilha que usava com todas as outras garotas que cruzavam seu caminho em Hogwarts. Qual estratégia usou com Hermione?

Draco achou graça do papel defensor que Potter estava assumindo.

— Acredite, Potter. Granger é a última pessoa que eu pensaria em tentar seduzir.

— Não seja hipócrita. Sei bem que Hermione é alguém que chama atenção.

— Concordo. – Definitivamente ela era alguém que chamava bastante atenção. – Mas sempre tive problemas o suficiente com ela para sequer ousar pensar em tentar "seduzi-la". – Se era essa a palavra que ele queria usar. - A diferença com ela, é que ela viu em mim algo que nenhuma outra pessoa se deu ao trabalho de enxergar.

Potter soltou um riso forçado.

— Hermione está sempre tentando ver nos outros o que não existe. – Soltou com desprezo.

— Na verdade, Potter. Você quem se recusa a enxergar além dos seus próprios pré-julgamentos. Não sabe nada sobre a minha vida, sobre a minha história, a minha família, como cresci, o que sempre foi esperado e exigido de mim. Não sabe o que eu passei ou não quer saber. Está afundado no seu mundo triste, no peso que carrega nos ombros e acredita que tudo o que está acontecendo é por sua causa e que todos lutam por você. Está fechado em um universo onde acredita ser o centro e se recusa a ver para além disso. – Levantou-se. – O relacionamento que acha que eu e Granger temos não existe. Não estou tentando tirar proveito dela, e a conhece muito melhor do que eu. Sabe que Granger passa longe de ser alguém ingênua e indefesa.

E saiu.

***

Tudo estava pronto para ir embora na manhã seguinte. Seria sua última noite dormindo na terrível cama do quarto da enfermaria. A ansiedade e até mesmo o medo de ter que encarar Voldemort novamente não deixava que dormisse. Havia desistido de tentar ficado deitado, principalmente porque a marca em seu braço voltara a incomodá-lo novamente. As poções que tomava estavam perdendo enfeito. Essa era uma das provas de que sua única opção era voltar para o ninho de cobras e cães de onde saiu. Passara uma semana na sede da Ordem e já havia sido o suficiente para saber que aquele não era o seu lugar. Um Malfoy sempre seria malvisto por aquelas pessoas, independente da intenção que tivesse. Ele entendia.

Saiu do quarto. A casa inteira estava escura. Era tarde da noite, mas ainda conseguia escutar algumas poucas discussões baixas quando passava por alguma sala ou algum quarto. O ar da Ordem era sempre um temeroso e eles falavam entre si, nunca em grandes agrupamentos. Cada um parecia viver seus medos e compartilhá-los com o mínimo de pessoas possível e o mais longe de Harry Potter possível. Detestava como mimavam o garoto, o tratavam como se ele não pudesse dar conta de verdades. Draco sabia que aquilo só pioraria tudo na mente dele, mas não tinha voz para sugerir nada. Suas discussões se limitavam apenas a Moody e Shacklebolt. Haviam vários planos em curso e ambos pareciam esperançosos com a ideia de um infiltrado.

Chegou a cozinha escura e deparou-se com Granger sentada sozinha na longa mesa de madeira, acompanhada de uma generosa caneca de chá. Ela apressou-se para limpar as bochechas com rapidez assim que percebeu que não estava mais sozinha. Respirou fundo. Trocaram um rápido olhar porque ela tratou de se levantar para dar as costas a ele. Draco quase revirou os olhos com o comportamento dela. Granger estava o tratando friamente desde que anunciara que iria servir de agente duplo para a campanha contra Voldemort. Ela o condenava pela decisão que tomara.

— Não vou ter tempo de ver sua atitude infantil passar. – Alfinetou ele.

— Não estou feliz. Não posso fingir estar. – Ela devolveu enquanto enxaguava a louça que sujara. – Não acho que tomou uma decisão correta.

Ele quase riu.

— Que outra decisão acha que eu tinha? – Deu a volta na mesa para cruzar os braços e encostar-se no balcão logo ao lado dela. – Estou me tornando imune a poções inibidoras e não faz nem mesmo sete dias que estou as tomando.

— Tem que haver outra opção que não te coloque de volta naquele covil. – Ela insistiu.

Draco achou graça da insistência dela. Sentiria falta de tê-la por perto.

— Não acha que é uma grande piada com o histórico que temos, ver você preocupada com o meu bem-estar? – Provocou.

Ela moveu os olhos estreitos para ele. Apertou os lábios e jogou água para cima dele irritada. Dessa vez ele riu. Segurou o pulso dela que estava pronta para lançar outra leva de água e a trouxa para si de um modo muito calmo. Foi estranhamente natural o modo como ela aceitou deixar que seus corpos se unissem enquanto suavizava sua expressão. Passou seu braço pela cintura dela como se já tivesse feito isso um milhão de vezes, mesmo sentindo um choque passar por sua espinha pelo contato. Soltou seu pulso e seus olhos processaram em câmera lenta a forma como tocou o pescoço dela, deslizando seus dedos para dentro dos macios cabelos em sua nuca. Aproximou-se. Sem medo. Sem receio. Sem pensar duas vezes. Granger apenas o aceitou como se já tivessem feito aquilo antes, como se tivessem aquela intimidade.

Parou a centímetros da boca dela apenas para ter o gosto de sentir o hálito quente dela bater contra ele. Aquilo lançou todo o tipo de sensação pelo seu corpo. Avançou satisfeito e tocou os lábios convidativos dela com os seus ao mesmo tempo que os dedos dela entraram por seus cabelos loiros.

Seus lábios dançaram com os dela e todas aquelas sensações correndo por sua pele, fazendo seus pelos arrepiarem, intensificaram. O cheiro dela era doce. Nunca em sua vida tivera tanta certeza de estar fazendo algo certo como naquele momento. Abriu espaço muito calmamente por seus lábios e provou do calor de sua boca. Suas línguas se tocaram e se exploraram com uma paciência curiosa e pacífica. Nunca havia beijado uma garota daquela forma em sua vida. Parecia o modo perfeito. Parecia a forma certa de se ter alguém quando desejo não era a única premissa. Com Granger era um degrau de cada vez.

Se a preocupação dela com ele era uma piada para o histórico que tinham, imagina o que aquele beijo era. Talvez um show inteiro de comédia não parecia o suficiente para descrever o quanto aquele momento poderia zombar do passado que tinham. Afastou-se para ver aquele rosto perfeito novamente e ter a certeza de que aquilo era real.

— Tinha que fazer isso antes de ir embora. – Tocou o rosto dela.

— Ah, Malfoy... – Ela soltou um suspiro triste deslizando suas mãos para o peito dele. – Não posso me apaixonar por você.

Ele tentou um sorriso, mas ele saiu triste. Nem ele por ela.

— É bom que eu esteja indo, então. – Aquilo ajudaria. Ou talvez pioraria.

Ela revirou os olhos.

— Não é. – Disse decidida.

— Todos nós estamos sacrificando algo nessa guerra.

Ela fechou os olhos e assentiu, rendendo-se. Draco segurou seu queixo e colou sua boca na dela de modo simples. Pareciam ter uma intimidade centenária, mesmo que fosse a primeira vez que estavam experimentando daquilo. Não queria que ela escapasse dali nunca, parecia o lugar perfeito para ela estar, ali, contra seu corpo. Foi naquele momento escutou uma movimentação crescente no andar de cima.

Passos pesados desceram as escadas e ele relutantemente a soltou encostando-se de volta no balcão e enfiando as mãos nos fundos dos bolsos da calça bem a tempo do momento em que Ronald Weasley apareceu ofegante e com as orelhas vermelhas.

— Finalmente! Aí está você. – Ele anunciou, sem deixar de lançar para Draco um olhar de desgosto e confusão por vê-lo ali com ela. – Comensais estão atacando Gringotes. Moody tentou intervir, mas está precisando de ajuda extra. Kingsley disse que toda ajuda é necessária. Rápido! – Disse e foi embora com tanto pressa quanto apareceu.

Hermione soltou o ar cansada, mas refez sua postura e fez menção de ir embora, mas ele a segurou pelo pulso novamente. Ela voltou seus olhos para ele.

— Cuidado. – Foi tudo que ele disse.

Ela assentiu.

— Você também. – Devolveu.

Ele também assentiu e a soltou deixando com que ela fosse. Talvez tivesse acabado de piorar tudo entre eles. Como viveria agora, sem saber qual seria sua próxima chance de provar da boca dela outra vez?

 

Meio de Inverno

3º ano da guerra

Ela estava enrolada num pesado e longo cobertor de pele encarando a neve cair pesada do lado de fora da noite escura e silenciosa. Aquele era um terrível lugar para se estar naquela hora da noite, naquele lugar do mundo. Mas eles arriscavam. Mesmo que fossem só algumas horas. Não podiam levantar muitos feitiços de distração ou isolar a área. Magia era facilmente reconhecível e identificável naquela altura da guerra. Haviam Comensais, membros da Ordem e aproveitadores por toda a parte. Não acendiam a lareira, muito menos usavam mais de uma vela.

Já haviam tido todo o tipo de cenário possível, mas aquela cabana de caça abandonada no meio das montanhas ao norte da Irlanda acabava sempre sendo o mais conveniente. Draco era responsável por um acampamento de Comensais nas redondezas e precisava estar ali a mando de Voldemort com frequência. Era extremamente arriscado ter Hermione Granger ali, mas arriscavam. Sempre arriscavam. Tudo que ele fazia, toda decisão que tomava, era um risco de qualquer forma.

— Tudo pode mudar em algumas horas. – A voz dela soou calma enquanto ainda assistia a neve do lado de fora.

Draco não queria apressá-la. Já haviam passado mais tempo ali do que deveriam. Gostavam de conversar, as vezes até eram imprudentes e jogavam cartas bebendo algo juntos. A medida que a guerra ficava mais intensa, menos tempo tinham um para o outro. Não que tivessem tempo, na verdade. Contava nos dedos de suas mãos as vezes em que tivera a chance de realmente ficar com ela durante aqueles últimos três anos.

— Não quero pensar nisso agora. – Levantou-se da cama.

Terminou de fechar sua calça e foi até ela passando os braços por sua cintura e beijando seu ombro exposto. A magia que usavam para aquecer o cômodo tinha que ser discreta e não era das melhores. A pele dela estava fria.

— Você está quente. – Ela murmurou baixo encostando a cabeça contra o peito dele. Fechou os olhos e uniu uma mão sua a dele. Draco depositou um beijo em sua têmpora. – As vezes... Mesmo sabendo que mal ficamos juntos, não desejo o fim dessa guerra por temer o que podemos ser quando tudo isso acabar.

Ele a entendia. O mundo sem Voldemort voltava para uma ordem que não os ajudava mais do que a situação atual. Nunca fora preciso discutirem sobre isso, mas era quase que senso comum entre os dois saber que ele não era o tipo de homem que a merecia, que suas personalidades não batiam, que ela não iria querer ser uma Malfoy, que ele não estava destinado a ter alguém como ela segurando um título de sua família, que o mundo dela também não o aceitava.

— Também não quero falar sobre isso. – Teve que dizer.

Ela mordeu o canto interno dos lábios.

— Sinto que tudo vai mudar dessa vez, Malfoy. – Insistiu.

— Já tivemos situações parecidas e mesmo assim, já faz quase três anos. Parece que essa guerra vai me durar a vida inteira.

Ela respirou fundo e com calma.

— Eu apenas sinto... – Ela sussurrou. Mais para si do que para ele. Virou-se começou a estalar beijos calmos contra a pele dele, seu peito, subindo para seu ombro, pescoço, até ficar na ponta dos pés para alcançar seu ouvido. – Sei que temos que ir, mas preciso de você só mais uma vez. – Ela pediu. Pediu daquela forma doce e vulnerável que o desmontava por inteiro.

Segurou o rosto dela entre suas mãos. Que arma podia usar com ela quando lhe pedia por algo daquela forma? Aproximou-se fechando os olhos para sentir a respiração dela contra o seu rosto. Gostava de fazer aqui para se concentrar nas sensações que corriam seu corpo toda vez que a tinha tão perto. Cada momento que tinha com ela provocava nele algo diferente. Tomou o ar mais de uma vez tentando dizer a ela que deveriam ir embora, que ela tinha que sair dali. Que era perigoso serem imprudentes. Mas ao invés de usar sua voz, a beijou.

Claro que a beijou. Era claro que se renderia. Que outra opção tinha com Hermione Granger? Os braços dela envolveram seu pescoço e Draco atirou para qualquer canto o cobertor que a envolvia expondo seu lindo corpo descoberto e pronto para ser tocado. A puxou pela cintura e ela cercou os quadris dele com suas pernas. A conduziu pelo quarto sem conseguir fazer com que suas bocas ficassem longe mais do que o necessário para tomarem ar. Colocou-a contra a cama e ela o puxou não deixando seus corpos perderem contato. Suas mãos passaram a tocar sem qualquer pudor o corpo que já tivera para si poucas outras vezes.

A beijou e desceu com sua boca por seu cobiçado e sedutor pescoço. Ela era linda. Absurdamente linda. Até os sons que escapavam de sua boca por entre a respiração pesada pareciam ser algum tipo de droga que injetava em suas veias a fome de ter cada vez mais dela. Granger tocou seu membro por cima da calça e ele percebeu a rapidez com que seu corpo respondia ao dela. Não importasse quantas vezes fosse, como fosse. Seu físico por inteiro pedia o dela com rapidez. O calor em seu abdômen crescia facilmente, a inquietude de suas mãos, a vontade de sua boca que passeou por seu estômago, seus seios, seu ouvido. Bocas, línguas, sons. O modo como seus corpos se grudavam, se encaixavam, se moviam. Ela tinha uma insistente mania de dominação que ele adorava desafiar. E ela gostava. Queria ser dominada, queria que alguém fosse superior a ela, que sua pose orgulhosa fosse contida, que fosse conduzida. Ela gostava. Gostava quando ele segurava seus pulsos e usava seu corpo, ou quando menos agressivo, unia suas mãos a dela e a impedia de tomar posição. Também gostava quando ela vencia, quando assumia liderança, quando o fazia se render. Era um jogo. Divertiam-se na cama, se amavam, se entregavam. Era sempre diferente. E Céus, ele queria tê-la todo dia, mas eram obrigados a se esconderem, a se limitarem ao tempo, a temerem pela própria segurança muitas vezes.

Ela desatou sua calça e deslizou sua mão para poder sentir a vontade de tê-la conta sua pele. Conteve um gemido ao prender a respiração marcando o pescoço dela com sua boca. Ela o massageou sabendo exatamente o que fazer. Sentia o corpo dela já sedento por ele apenas pelo modo como os quadris dela se moviam pedindo contato. Tirou a mão de dentro de sua calça e ele uniu seus quadris ao dela. Moveram-se estimulando um ao outro e os sons que produziam começaram se manifestar de modo significativo. Ela o deixava louco com uma rapidez insana.

Afastou-se e a segurou pela cintura, movendo-a para ficar sobre uma pilha de travesseiros. Desfez-se da calça de uma vez e apoiando o peso de seu corpo sobre os braços esticados um de cada lado dela, uniu sua boca a dela. Não se cansava do sabor dela. Da sede que suas bocas tinham em momento como aquele. A mão dela conduziu para que se encaixassem. Granger estava completamente pronta e como gostava quando finalmente deslizou para dentro do corpo dela. Os sons que escaparam do fundo de sua garganta eram uma melodia que fazia o sangue em suas veias queimar, embora soubesse o perigo de quando ficavam intensos. Moveram-se contendo a ânsia de primeira, mas logo o ritmo da urgência que crescia com a fricção de seus corpos criava era irresistível demais. Estavam fazendo algo belo ali. A coreografia de seus corpos poderia ser até mesmo teatral. Queria vender sua alma para ter a chance de apagar da memória dela qualquer outro homem que já tivesse tocado seu corpo. Ela não merecia. Não merecia que nenhum homem tivesse feito a estupidez de não fazer bom uso da perfeita obra de arte que ela, por inteiro, era. Não a dividiria. Nunca a dividiria.

O sobrenome dele escapou de sua boca quando ela arqueou as costas pedindo por mais. O tom de seus sons o excitava impiedosamente e poderia ter se perdido quando ela contraiu-se mostrando toda a sua vulnerabilidade ao encontrar o topo de seu prazer com a crescente fricção de seus corpos. Mas ele sabia que ela precisava de mais. Depois de todas as garotas e mulheres que já havia levado para cama, entendia o porque nenhuma delas o satisfazia quando tinha Hermione Granger em seus braços. Deus. Se ela verdadeiramente soubesse o poder que tinha sobre ele, estaria perdido.

Granger abusou de sua esperteza para conseguir colocar-se sobre ele. Draco até pensou em lutar sabendo que ela gostava das batalhas que tinham na cama, mas já havia tido vitórias demais e estar por baixo não era nem um pouco, nem minimamente que fosse, terrível. Mesmo sabendo que quando ela o montava, ele perdia o controle, gostava de beirar a insanidade para o qual ela o conduzia. Ele apenas a observou, em toda a sua glória, linda, com a boca inchada, e as bochechas coradas, montá-lo com vontade, movendo-se sem reservas, deixando a visão de seus seios firmes e uniformes acompanharem o ritmo. Quando estava naquela posição, entendia o porque ela pedia por mais quando o caso era inverso. Segurou os quadris dela tentando conduzi-la de alguma forma, mas Granger logo tirou as mãos que estavam apoiadas sobre seu peito para segurar as dele, entrelaçando seus dedos e colocando-as longe de seu corpo.

Os quadris dela moviam-se de modo perfeito. Ela beirou o máximo que pode. Conhecia seu corpo, sabia usar seus músculos. Céus. Ele não seguraria por muito mais tempo, principalmente quase ela mostrou que também precisava de mais velocidade. Granger o conduziu naquela tortura maravilhosa até o momento em que seu corpo inteiro entrou em colapso mostrando que acabara de atingir o ponto mais alto onde poderia chegar. O dela foi prolongado, fazendo as paredes dela contraírem-se impiedosamente contra seu membro. Foi então que explodiu assim como ela, jorrando com vontade o resto de energia que havia lhe sobrado.

Pararam ofegantes. Ele continuou a vislumbrar a majestosa visão da mulher sentada sobre ele. A curva de seu quadril, a cintura, a copa dos seios, o desenho da barriga, os cachos bem formados de seu cabelo servindo de moldura. A observou satisfeita até que o cansaço dela fizesse com que deitasse sobre ele ainda lutando para recuperar o ritmo pacifico da respiração. Ele adorava aquele modo exausto.

— Como que nós dois viemos parar aqui, Malfoy? – Ela cortou o silêncio quando suas respirações já haviam se acalmado. O rosto dela estava escondido na curva de seu pescoço e o hálito quente contra sua pele foi para ele quase um afago. – Como que a guerra nos uniu? Nossos mundos não se encaixam.

Ele puxou o ar calmamente sabendo que a cabeça dela não sairia daquele lugar. Não gostava de ser levado para aquela realidade, porque sempre que entrava naquele campo minado, não conseguia ver uma saída.

— Não importa o futuro se, de alguma forma, eu sempre vou voltar para você. – Disse.

Granger processou aquilo. Ergueu a cabeça e eles se encararam.

— Vou te fazer prometer isso.

Ele sorriu. A segurou pela cintura e fez com que os dois trocassem de posição, colocando-se por cima dela.

— Vou ter que te chamar de manipuladora, ou talvez, aproveitadora, se me fizer começar a te prometer coisas depois de me seduzir para a cama. – Brincou.

Ela riu e abriu um sorriso provocador.

— Vá em frente. Nunca tentei ser santa com você. – Deu de ombros.

Riu. Se ela soubesse que o meio que o cercava fazia o pior lado dela não chegar perto de ser, pouco que fosse, corrompido.

— Ah, Granger. – Beijou a linha de sua mandíbula e desceu para seu pescoço - Se você não fosse tão Grifinória... – Subiu novamente até a boca dela. - Talvez. – Selou um beijo ali. – Talvez, quem sabe, realmente não fosse tão santa.

Ela mordeu os lábios estreitando os olhos.

— Você se acha tão mau. – Zombou ela e puxou os cabelos dele para trás com seus dedos. Pareceu apreciar cada centímetro do rosto dele. Desceu as mãos e suspirou desenhando com o polegar a linha de seu queixo e a copa de seus lábios. As expressões dela se suavizaram quando suspirou. – Mas eu conheço sua alma. – Sussurrou para ele numa voz baixa.

Ah, Céus. Ela o desarmava. Sempre. A beijou.

— Por isso sempre volto para você. – Sussurrou contra a boca dela. – Porque é a única.

Mal sabia ele que horas depois, estaria vivendo um pesadelo. Um do qual nunca vivera, mesmo depois de tudo que passara debaixo das asas sombrias de Lorde Voldemort. Se ele soubesse antes, teria tentado encontrar uma forma, alguma magia, qualquer que fosse, para congelar aquele momento e ficar ali com ela. Mesmo que o mundo inteiro desmoronasse ao seu redor, estaria ali com ela.

Horas depois, quando ele arriscou muito mais do que podia, no Ministério da Magia, para finalmente conseguir derrubar Voldemort, tudo o que esperou foi poder cruzar a linha, que no meio daquela batalha já havia cruzado, para o lado deles. O lado da Ordem da Fênix. O lado adorado. Querido. O lado que tinha apoio. O lado que todos queriam que vencesse. Havia os ajudado mais do que qualquer aliado. Arriscara sua própria vida mais do que qualquer outro membro passando informações a eles entendendo do lado de dentro do círculo infernal de Comensais. Se Harry Potter conseguira matar Voldemort, devia isso a ele. Draco Malfoy. Se todo o fim daquela guerra tivesse que prestar agradecimentos, eles deveriam ser feitos a Draco Malfoy!

Mas a verdade foi que Shacklebolt mandou o prender, como qualquer outro Comensal capturado. O arrastou para fora do Ministério como se fosse o mais imundo dos Comensais. Fora tirado dali com a imagem de Hermione Jane Granger nos braços de um Harry Potter choroso, implorando para que ela voltasse a consciência. Ele queria ir até ela. Tirá-la das mãos do amigo. A voz dele a traria de volta. O calor dele a traria de volta. Aquele não podia ser o fim dela. A brilhante Hermione Granger. Aquela que tinha todas as ferramentas para conquistar o mundo. Era errado. Era errado que ele, Draco, vivesse, e ela não.

Foi levado para Azkaban. Sem direito de julgamento ou defesa. Sem saber o que realmente havia acontecido. Se ela sobrevivera ou não. Se estivesse morta, sabia que estava no lugar certo. Não havia nenhuma outra perspectiva para ele, se ela não existisse. Azkaban parecia o lugar certo. Ficou dias ali. Talvez semanas. Sem ver qualquer pessoa, sem saber sobre qualquer notícia. Azkaban tinha o poder de fazer com que perdesse noção do tempo.

Pareceu uma eternidade naquele inferno até Shacklebolt decidir aparecer. Entrou em sua cela receoso e Draco não teve nem mesmo vontade de manda-lo embora. Ele vinha acompanhado de um homem alto, bem vestido, dotado de uma postura superior. Draco apenas continuou sentado em sua cama, se é que podia chamar aquilo de cama.

— Sinto muito ter feito o que fiz. – Começou o maldito homem. – Tive que fazer isso. Vai entender. Irá ter sua liberdade se optar por um caminho diferente. A Ordem te dará todo o suporte. – Tratou de esclarecer com rapidez. Draco não se pronunciou a respeito, poderia ter recebido aquela informação muito antes. – Mas, trouxe alguém para lhe fazer uma proposta.

Draco não quis saber.

— Como ela está? – Foi o que saiu de sua boca. Era tudo que ficava em sua cabeça, vinte e quatro horas. Ela.

— Quem? – Shacklebolt pareceu confuso.

Quem? Ele só podia estar zombando.

— Granger. – Respondeu não muito longe de se mostrar mais irritado do que já estava.

— Oh. – O homem fingiu ter entendido sobre o que havia sido a pergunta. Só podia estar fingindo. Patético. – Ela vai ficar bem. Foi uma maldição pesada, precisará de tempo para se recuperar.

— Quanto tempo? – Perguntou sentindo-se mil vezes mais leve por saber que ela ficaria bem. Que não estava morta. Receber aquela notícia fora como uma gota d'água no deserto.

— Não sei exatamente. Mas ela tem respondido bem a desintoxicação. – Shacklebolt puxou a cadeira que Draco sentava para usar uma pequena mesa de estudos caindo aos pedaços em sua cela e a ofereceu ao homem que o acompanhava. O elegante homem de meia idade sentou-se e Draco perceber que ele queria alinhar o nível de seus olhos fazendo aquilo. – Esse é o diretor da Divisão Europeia de Inteligência Mágica. A Divisão trabalhou juntamente com a Ordem durante e guerra e monitoraram o trabalho que fez nos servindo de infiltrado por todos esses anos.

— Essa vitória deve muito a você, Sr. Malfoy. – O homem disse num sotaque que o denunciou como estrangeiro.

— Interessante forma de agradecimento. – Debochou Draco passando os olhos rapidamente pela cela onde estava.

— Precisávamos preservar sua imagem. – Justificou o outro. – Foram raros os nomes que nos apareceu como o seu. A Divisão tem um sistema muito severo de seleção e recrutamos tanto manualmente quanto por meio de mágica. Faz mais de uma década que nosso oráculo não queima uma carta com o nome de ninguém, até que um ano e meio atrás, nosso oráculo nos entregou isso. – Tirou do bolso um Ás de espadas queimada bem no centro com as iniciais D. L. Malfoy e entregou para ele. Draco a pegou desconfiado, mas cheio de curiosidade. – Se aceitar a proposta da Divisão, será necessário que o mundo acredite que Draco Malfoy foi condenado a uma vida em Azkaban.

Foi então que o homem ali a sua frente, apresentou a ele uma fantasia. Uma proposta para se tornar um dos agentes deles. Seria treinado para tornar-se um mestre em todos as áreas possíveis do conhecimento humano, físico e mágico. Carregaria nas costas a responsabilidade de preservar a ordem, segurança, paz. Tudo isso sem que o mundo o reconhecesse. Mas ainda assim, seria uma celebridade. No meio deles, seria aquele que oráculo escolhera, a carta em que seu nome fora gravado tinha significância, peso. Apenas os importantes saberiam quem era, seus feitos, suas conquistas.

Draco foi conduzido para aquele outro mundo. O homem lhe descrevera uma bandeja de ouro, mas assim que terminou de apresenta-lo para toda aquela fantasia, depois de ter experimentado as vontades que sua ambição adquiria com cada palavra que recebia, foi presenteado com os sacrifícios que teria que fazer. O treinamento soava como tortura. Teria que dizer adeus ao seu estado como civil. Draco precisou dizer que precisaria de tempo para pensar, tempo que foi lhe dado. Assim que o homem foi embora, Shacklebolt virou-se para ele e disse:

— Pense bem, Malfoy. Foi um escolhido no meio de milhões. Queria ter tido essa oportunidade.

— Não acho que posso aceita-la. – Draco disse encarando o chão, esfregando as mãos enquanto mantinha os cotovelos apoiados contra sua perna.

Shacklebolt pareceu surpreso. Parou, abandonando a direção da saída que tomava.

— Esse é um prestígio oferecido para poucos. Entendo os sacrifícios que terá que fazer, mas o oráculo não gravaria seu nome na carta se não soubesse que esse futuro seria o que te traria mais satisfação. – Insistiu ele.

— Não é o único futuro que eu posso escolher. – Ergueu os olhos para o homem. – Não posso abrir mão dela.

O Auror apertou os lábios e puxou o ar ao perceber o que ele queria dizer. Aproximou-se e sentou-se na cadeira de frente para ele. Soltou o ar demorando alguns segundos, como se estivesse tentando encontrar as palavras que deveria usar.

— Hermione Granger não é o seu futuro, Malfoy. – Começou ele. – Sei que o que quer que sente por ela entende bem o desgaste que seria tentar unir esses dois mundos. Ela teria que dar as costas e ignorar os amigos, que hoje são sua família, porque eles te odeiam. Você iria ter que ver o mundo a julgar por se juntar a alguém que se aliou a Voldemort. Receberá perdão, sim, por toda a contribuição para o fim da guerra, mas o mundo tem suas concepções a respeito de sua família e elas não são as melhores. Sabe que para o resto da vida irão pensar que deram um jeito e usaram a poderosa influência capital que possuem para comprar perdão. Consegue imaginar Hermione se confinando a um sobrenome como o seu, vivendo em uma mansão de pedras, tendo filhos que irão ser criados como reis por fazerem parte da elite tradicional do mundo bruxo. Filhos que muito provavelmente seriam selecionados para a casa da Sonserina. Ou você iria ser capaz de descer do seu pedestal para viver a vida simples que faz parte do mundo dela, dos sonhos dela? Sabe que não é possível apagar seu sobrenome. – Aquilo, não era nada que Draco Malfoy já não sabia. - Hermione tem um futuro brilhante pela frente, e a vida que ela sempre quis não é uma por trás da sombra de um Malfoy. – Ele se levantou. – Pense bem. – Terminou e foi embora.

 

Início de Primavera

2 meses depois da guerra

Era tarde da noite quando foi conduzido com todo cuidado pelo extenso jardim de uma ala específica do St. Mungo's. Era a última noite dela no hospital e ele ficava satisfeito de saber que ela se recuperara. A última vez que a vira, estava inconsciente nos braços de Potter e havia quase o levado a loucura pensar que poderia estar morta.

Exposta a lua cheia, ela estava sentada em um banco de madeira, mexendo com uma peça de xadrez da mesa de concreto a sua frente. Parecia entediada. Banhos de lua eram parte de seu tratamento. Ela parecia saudável. Vestia o pijama do hospital, mas seu cabelo estava penteado, seu rosto parecia corado. Ela parecia ter força. Aproximou-se e assim que ela o viu, puxou o ar, endireitou-se e deixando a peça de xadrez de lado. O agente da Divisão e a enfermeira que haviam o levado até ali se afastaram e ele sentou-se logo a frente dela, do outro lado da mesa.

— Hei. – Foi ela quem falou primeiro. – Me disseram que você viria. Parece que todos estão tentando te esconder agora.

Ele assentiu.

— Você parece bem. – Comentou.

Ela concordou.

— Estou deixando o hospital amanhã.

Ele queria poder achar graça da coincidência de seus destinos, mas não conseguia.

— Estou deixando a Inglaterra amanhã. – Anunciou.

Ela puxou o ar. Desviou o olhar abaixando a cabeça. Assentiu.

— Você aceitou. – A voz dela saiu baixa. Draco ficou satisfeito de saber que Shacklebolt não havia escondido nada dela.

— Sim. – Confirmou.

Ela assentiu mais uma vez. Ergueu os olhos para ele e Draco viu que estavam segurando lágrimas. Ela forçou um sorriso triste.

— É melhor assim.

Ele apertou as unhas contra a palma de sua mão tendo que ver o sofrimento na expressão dela. Não sabia como continuar aquela conversa, mas precisou encontrar as palavras.

— Sabe que não seria uma boa ideia tentar fazer com que nós dois... Eu e você... Os mundos do qual fazemos parte...

— Céus. Malfoy. – Ela fechou os olhos negando com a cabeça, tentando fazê-lo parar. – Você não precisa justificar. Quantas vezes me escutou dizer que eu não queria que a guerra terminasse com medo do que seria de nós? Nós dois sabíamos.

Ele assentiu. Eles se encararam no silêncio por um bom tempo. Uma lágrima solitária escapou do olho dela e escorreu por sua bochecha. Draco respirou fundo e levantou-se, estendeu a mão para ela a convidando para ficar de pé.

— Não estou forte o suficiente ainda. – Ela disse.

— Eu te seguro. – Assegurou ele.

Ela pareceu relutante, mas levantou-se tirando um momento apenas para fazer uma careta com a mão sobre o estômago, tentando focar-se na atividade. Draco a segurou e pediu para que ela colocasse os pés sobre os seus. Assim, Hermione subiu nos pés dele e ambos se abraçaram. Draco conseguiu equilibrar bem o corpo dela. Sentiu o cheiro doce característico dela e isso o acalmou. Ela escondeu o rosto na curva de seu pescoço como já havia feito muitas outras vezes. Ele fingiu dançar uma valsa sem música por alguns segundos, o que a fez soltar um riso fraco contra seu pescoço. Parou e inalou o cheiro dela.

— Você tem o mundo para ganhar, Granger. – Sussurrou para ela. – Você e esse cérebro brilhante que tem. – Afastou os cabelos dela e depositou um beijo simples em sua têmpora. – E eu vou encontrar meu caminho até você sempre quando tiver a chance.

Ela assentiu com a cabeça concordando.

— Assim como sempre fizemos até aqui?

— Sim.

— Certo. – Ela disse erguendo a cabeça para encará-lo, tinha um sorriso leve nos lábios. – Sempre gostei da adrenalina das nossas aventuras.

Ele abriu um sorriso. Aproximou-se e selou seus lábios no dela. Talvez Shacklebolt ou os amigos dela acreditassem que era a garota corajosa que almejava uma vida simples, uma casa pequena em uma clareira, com um marido amoroso e um casal de filhos, levando uma jornada normal de trabalho como chefe de algum departamento do Ministério da Magia. Mas a verdade que aprendera sobre ela, era que Hermione Granger gostava de aventuras, de coisas novas, de caminhos incertos, de xaradas, desafios. Ela gostava de surpresas. Gostava de explorar. Nada que parecesse simples demais a atraia. Ela queria os caminhos mais difíceis, mais complicados, mais estreitos.

— Acha que está pronta para a jornada que vamos ter? – Perguntou se afastando minimamente.

— É melhor que tente me manter entretida, Malfoy. – Alfinetou ela.

Riu e a beijou uma ultima vez. Abriram um sorriso triste um para o outro quando se afastaram. Draco a ajudou a se sentar novamente, estalou um beijo simples em sua testa, sussurrou um "Até logo", deu as costas e foi embora mal sabendo quando teria a chance de vê-la outra vez.

Precisava que ela continuasse a acreditar nele. Era aquela sua salvação.

 

Início de Verão

12 anos depois da guerra

Estava a assistindo de uma sala diferente. Ela com seu elegante vestido social, cabelos presos para trás, maquiagem simples, dando uma daquelas palestras que gente importante esperava o ano inteiro para ouvir. Na verdade, o mundo inteiro parava para escutar o que ela tinha para dizer quando abria a boca. Naquele exato momento, expunha seus estudos sobre os avanços de sua teoria em runas. Ela havia se especializado em mais áreas que seres humanos normais eram capazes de conseguir. Tinha livros famosos carregando seu nome. Estava no auge, embora aquele ainda fosse apenas um começo para ela.

Quem a via ali, não imaginava as outras faces que ela guardava. Quem escutava a confiança com o qual expunha a lógica aplicada de seus estudos não conseguiria enxergar a mulher que três anos atrás chorara em seus braços por uma noite inteira quando descobrira que jamais poderia ter filhos quando perdera um logo no inicio de uma gravidez não planejada, tudo por causa da maldição que sofrera no último confronto da guerra. Quem a via ali não imaginava a mulher que seis anos atrás gritara de alegria com o rosto enfiado num travesseiro quando recebera a carta de que seu livro seria publicado. Ninguém ali imaginava o impasse que fora ter que lidar com um noivado que não a levara a lugar algum por dois anos inteiros, dois anos onde ela discretamente escorregava a aliança para fora do dedo toda vez que passava a noite com ele. Um noivado que havia surgido de um estado solitário que queria alguém para acompanha-la em festas, alguém que a levasse para jantar, alguém que lhe desse presentes, mas alguém que ela verdadeiramente não queria, alguém que a fez enxergar que preferia ser independente se não podia ter ao seu lado quem realmente queria que estivesse. Draco havia se culpado, mas sabia que o desgaste viria de outra forma se tivesse feito uma escolha diferente.

O mundo apenas conhecia a inquebrável e independente Hermione Granger. O mundo a conhecia apenas pelo seu extraordinário cérebro. Pelos seus feitos. Pela heroína de guerra que fora. Pela carreira que construía. Pela independência que tinha. Pela postura imponente, exigente e orgulhosa que carregava para onde ia. Ela era intocável para aqueles que não a conheciam de perto, ou até mesmo para alguns que a cercavam, porque ele sabia bem que ela não descia do pedestal de seu orgulho com facilidade. O lado humano de Hermione Granger, ela reservava apenas para um grupo bastante seletivo.

Escutou tudo que ela havia preparado para dizer, mesmo que as poucas pessoas presentes na sala privada onde estavam pareciam dispersas esperando o fim do evento. Ele estudava os artigos dela, lia seus livros, acompanhava a aplicações de seus estudos. Tinha curiosidade de ver as descobertas dela. Talvez fosse seu maior fã. Vivia pelo momento em que iria ter a chance de encontra-la.

Sabia que ela iria estar na Alemanha fazendo seu tour de palestras. Conhecia a agenda dela. Sua sorte foi estar transitando de uma missão para outra, o que permitiu que reatasse contatos com a elite Alemã e trabalhasse nas bases de outra missão para justificar sua estadia no país. Desse modo, ele pode estar sentando em uma das poltronas do quarto de hotel que ela ficaria para recebe-la no dia em que chegara. Quando ela entrou no quarto e o viu, o sorriso que abriu foi exatamente o que queria receber, exatamente o que previra receber.

"Senti que estaria aqui." Foi exatamente o que escutou da boca dela quando o viu. Ela realmente havia ficado boa em desvendar os padrões dele. Sabia que ela adorava o desafio. Era uma jornada e tanto o que viviam. Já haviam passado por todo tipo de momento e ele muitas vezes havia se questionado se era apenas isso que teria dela para o resto da vida. Não que fosse pouco, sentia que finalmente havia chegado ao ponto onde podia afirmar que a conhecia melhor do que qualquer outra pessoa no mundo inteiro. Nunca havia se visto feliz com uma família e filhos numa das mansões de sua família. Aquele futuro que vivia agora era um que nunca previra para si mesmo, mas era um no qual se encaixava com muita facilidade. Era perfeito para ele.

Granger foi direcionada até a sala onde estava depois de sua palestra. Haviam a aplaudido de pé. O mundo a adorava. Não era só uma heroína de guerra, era também a mulher responsável por abrir um caminho completamente novo para o conhecimento da magia. Fazia muito mais pelo mundo do que Potter, que tentava ganhar a vida como um Auror no Ministério.

Foi apresentada individualmente ao seletivo grupo de pessoas ali. Quando chegou a sua vez, percebeu que Granger já estava pronta para usar de todas as suas habilidades teatrais para mostrar-se intrigada por estar vendo ninguém menos que Draco Malfoy ao vivo e em cores logo a sua frente.

— Esse é Draco Malfoy. Agente número um da Divisão de Inteligência Europeia. Acredito que já se conhecem de Hogwarts. – Disse o sargento que a acompanhava.

Ela passou a taça de espumante para a outra mão e estendeu a sua livre para cumprimenta-lo. A mão dela estava fria e úmida. Não era um toque característico dela. Talvez estivesse escondendo o nervosismo de estar em uma sala cheia de um profile de alto nível.

— Honestamente, não pensei que assinar um contrato de confiança com a União das Nações Bruxas fosse me dar a chance de ser apresentada a agentes de inteligência. – Ela se mostrou curiosa. – Pensei que estivesse em Azkaban.

— Esse é o meu perfil civil. – Explicou a ela. – Tenho trabalhado com a Divisão por quase doze anos.

— Me sinto importante tendo a responsabilidade de carregar esses segredos. – Ela parecia não muito confortável.

— Na verdade, a Divisão quer propor que leve o seu trabalho para os nossos departamentos. Queremos explorar seus estudos, aplicar algumas de suas teorias. Um trabalho em conjunto. – Tirou de seu bolso o cartão com seu contato e passou para ela, que o pegou curiosa. – Considere a proposta e entre em contanto quando puder.

— E eles queriam que um rosto familiar viesse me fazer essa proposta, hun? – Ela abriu um sorriso percebendo a jogada na qual havia sido colocada. – Irei considerar. – Fez um aceno respeitoso com a cabeça. – Obrigada pelos seus serviços, agente.

Draco devolveu o acendo com a cabeça e ela foi direcionada para o próximo individuo. Sabia que quando a encontrasse mais tarde, ela iria se mostrar irritada por não ter sido avisada sobre aquilo com antecedência. Apesar do comportamento, ela iria aceitar a proposta, e ele mal conseguia esperar pelo presente que a vida estava os dando de terem a oportunidade de trabalharem tão próximos. E também sabia que ela gostava de surpresas, embora agisse como se não gostasse.

Seu serviço ali estava feito, a proposta havia sido servida e ele estava pronto para seguir para o seu próximo dever naquele país antes de partir. Mas não ficava surpreso por se ver completamente preso a figura de Granger se movendo por aquela sala. Ela era a atração. Todos estavam ali para serem apresentados a grande e famosa Hermione Granger. Ele queria poder ir até ela, tocar sua cintura e acompanha-la mostrando ao mundo que era sua. Mas apesar da vontade de expor sua relação com ela para que ninguém ousasse olhar para sua tentadora figura como se estivesse completamente disponível, ainda preferia saber que a próxima vez que eles estivessem sozinhos, ela desceria de seu salto, soltaria os cabelos e sentaria sobre ele para compartilhar de uma intimidade que ninguém precisava realmente ter qualquer ideia de que sequer existia. Enquanto o sabor do segredo que carregavam fosse doce, ele continuaria a querer que fosse apenas deles.

Ela olhou por cima dos ombros e seus olhos cor de âmbar encontraram os dele cruzando a sala onde estavam. Draco sentiu seu coração apertar dentro do peito ao ter aquele contato com ela, queria cortar aquela distância entre eles, não havia um momento onde ele não se via completamente desarmado quando a via. Esticou o canto dos lábios num sorriso discreto e piscou a deixando saber que estava com ela, mesmo não estando ao seu lado. Sempre estaria com ela, porque não existia um segundo em que ela não estivesse em sua cabeça.

Granger apertou os lábios evitando um sorriso e desfez o contato. Draco virou sua bebida de uma vez, deixou a taça de lado e se preparou para deixar o local avançando para uma saída estratégica onde precisou passar por ela, tocando suas costas respeitosamente pedindo licença, que ela deu de modo a permitir que o contato físico durasse mais do que o necessário. Ele não conseguiu evitar trocar mais um olhar com ela, dessa vez próximos. Seus olhos passaram rapidamente pela boca convidativa e a sua salivou pela dela. Notou um suspiro rápido da parte dela quando sua mão deslizou de suas costas, para sua cintura e a abandonou. Os olhos dela piscaram quase que perdida por um momento e ele precisou evitar sorrir ao notar que havia a desestabilizado. Continuou seu caminho lutando contra a vontade de olhar para trás, a vontade de toma-la, de ter seu corpo no dela, de sentir o efeito que ela lhe causava e saborear do efeito que causava nela. Céus. Aquela mulher. Ela o fascinava de todas as formas.

Esperava que no fim de sua vida tivesse a chance de poder sumir com ela, fugir para algum lugar longe dos olhos do mundo inteiro. Longe dos deveres que tinha como o melhor agente de sua categoria. Longe dos amigos e família dela. Só eles. Todos os dias. Talvez no futuro não se importassem com mais nada além deles mesmos. Por enquanto apenas esperaria a noite cair para tê-la outra vez, mesmo que fosse só por algumas horas. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Feliz ano novo para todos vocês. Esse é um presentinho simples que escolhi para começar o ano de 2019. Nessa one-shot, em especial, adoro a forma como tudo que o Draco precisou foi de um inimigo que se ajoelhou diante dele e se permitiu entender seu lado, para encontrar salvação.

Tudo de bom para vocês esse ano.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "SOBRE A ROSA E OS ESPINHOS - Draco & Hermione" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.