SOBRE A ROSA E OS ESPINHOS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 4
Sobre o Orgulho




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O ar formal daquela sala bem decorada era intimidador.

 

— Então os bens de investimento foram transferidos para o cofre de sua família? – Questionou o representante da Corte Superior.

 

Draco soltou o ar cansado daquele depoimento sem propósito. Insistiam naquela conclusão infundada. Passou seus olhos pela figura de Hermione Granger do lado oposto da bancada onde estava de pernas cruzadas, batendo uma caneta contra o um bloco de notas desgastado. Ela também não parecia nem um pouco contente. Sua postura séria e superior refletia a posição alta que ocupava.

 

— Nenhum investimento é transferido para qualquer cofre de posse da minha família. – Foi objetivo. Podia responder apenas pelo que havia sido responsável por atuar, o resto quem tinha que dizer era seu pai.

 

— E o que tem a dizer sobre a movimentação em contas fantasmas encontrados pela equipe de demandantes?

 

— Gringotes faz inspeções anuais em todos os cofres da minha família e, particularmente, nunca fui informado, vi ou recebi qualquer notificação ou alerta sobre irregularidades das contas de nenhum desses cofres. – Aquilo tudo era uma grande palhaçada. Era como se estivessem tentando encontrar qualquer erro que pudesse fazê-los pagar pelos casos mal julgados do passado de sua família.

 

O membro da Corte em sua plena apatia passou a palavra para o time de demandantes. Granger ajeitou sua postura mostrando que sabia exatamente que rumo tomar pela milésima vez naquele depoimento. Ela era presidente e insistia em casos como o dele.

 

— Acaso tem conhecimento de que Gringotes vem adiando a inspeção em alguns dos cofres da família há mais de dois anos? – Perguntou.

 

— Não posso responder pela ineficiência do sistema deles. – Draco começou. – Assinei todas as autorizações de inspeção nos cofres desde que assumi parte dos negócios da minha família.

 

— Minha pergunta foi sobre ter ou não consciência do fato. – Rebateu ela.

 

Às vezes, queria poder esmagar aquela mulher. Buscou ar tentando encontrar paciência.

 

— Sim. Tenho conhecimento sobre o fato. – Era aquela resposta que ela queria.

 

— Então por que falhou em notificar o banco de que não havia recebido os históricos anuais? Certamente gostaria de tê-los e uma inspeção é necessária para produzi-los.

 

— Gringotes nunca falhou em entregar os históricos anuais mesmo que atrasados. Recebi um de três anos atrás, ontem. Minha família é uma das que possui o maior número de cofres na Grã-Bretanha. Tomo por comum o atraso em inspeções de cofres menos significativos.

 

— Então confirma que sua família não dá muita significância aos atrasos recorrentes mesmo tendo consciência de que são de extremo valor para os departamentos de fiscalização?

 

Ah, sim. Ele tinha mesmo vontade de esmagar ela com frequência. Puxou o ar.

 

— Novamente, Gringotes nunca falhou em providenciar as inspeções anuais mesmo que com atrasos. – Repetiu ele.

 

— E poderia dizer a Corte qual desses atrasos foi o mais longo?

 

Draco refez sua postura apertando os lábios. Poderia não responder. Qualquer número acima de quatro ou cinco soaria péssimo para a Corte. Granger poderia achar que ganharia aquela, mas ele tinha consciência de que sua defesa conseguiria rebater mais tarde.

 

— Oito anos. – Respondeu. Era melhor do que se calar ou tentar usar uma justificativa barata sobre ter assumido papel nos negócios de sua família apenas nos últimos anos.

 

Viu Granger recostar-se contra o espaldar de sua cadeira naquela séria expressão vitoriosa.

 

— Isso é tudo. – Disse ao representante da Corte findando seu papel ali.

 

O membro da Corte anunciou o fim daquele depoimento depois de olhar em seu relógio de bolso. Agradeceu a Draco por sua colaboração e presença e dispensou o restante da mesa. Draco se levantou na companhia de seu advogado lançando um ultimo olhar a Hermione Granger que passava a compartilhar suas notas com um colega sentado ao seu lado.

 

— A defesa ficará pronta em não mais de dois ou três dias. Temos um bom time. – Seu advogado o deixou saber quando deixaram a sala.

 

— Temos provas?

 

— Sim. – Respondeu o homem. Entraram no elevador. Draco enfiou as mãos no bolso. – Aconselharia a tentar convencer seu pai para apresentar-se para algum depoimento. Colaboração é essencial.

 

Draco suspirou.

 

— Isso pode ser um processo que levará tempo. – Era tudo que tinha a dizer.

 

Antes das portas do elevador se fecharem, Granger entrou desacompanhada carregando suas pastas e documentos.

 

— Senhores. – Ela proferiu educadamente, como se pedisse licença ao tomar lugar ali. Draco e ela trocaram um olhar rápido, mas ela foi a primeira a desviar o seu, jogando no campo da casualidade, dando as costas para ele. As portas se fecharam e entraram em movimento. Draco fincou seu olhar na curva do pescoço exposto dela logo a sua frente. Quantas vezes já não o deixara cheio de marcas? O perfume dela o invadiu e ele lutou contra a vontade de puxa-la para si, mas logo eles pararam no andar dela. - Boa noite. – Ela desejou formalmente a ele e a seu advogado enquanto as portas se abriam. – Lamento que tenham tido que ficar aqui até essa hora. – Disse e lançou um olhar ao seu advogado por cima do ombro. – Aconselharia a defesa a apresentar as autorizações de inspeção assinadas pelo cliente. – Findou e foi embora.

 

As portas do elevador se fecharam outra vez e ele viu seu advogado soltar um riso fraco.

 

— Essa mulher... – Foi tudo que ele comentou. Como se ele não soubesse o que fazer com o caso.

 

— Eu sei. – Concordou Draco.

 

— Aposto que ainda não a promoveram para um cargo na Corte Superior porque não tem idade. – Ele disse. – Não ficaria surpreso se um dia a tivermos sendo apontada para o cargo de Primeiro Ministro.

 

— Ela ainda teria uma jornada longa a percorrer. – Disse, mas não duvidava também.

 

As postas se abriram quando chegaram no andar principal. Draco se despediu de seu advogado, mas não saiu do elevador, o que foi estranhado pelo outro homem. Porém, não foi questionado. Quando ficou sozinho apertou o símbolo do andar de Granger.

 

Era óbvio que não iria sair dali sem prestar uma visita particular a ela.

 

Desceu em seu andar avançando pelos corredores parcialmente iluminados devido a hora. Granger tinha uma ala só com o seu nome na parte dos demandantes por ser presidente e o lugar estava vazio. Era sempre um dos mais movimentados do Ministério da Magia e Draco achava cômica a ideia de pensar como Granger deveria se irritar em ver que ninguém ali se dedicava a horas extras como ela se dedicava.

 

A única luz mais forte vinha da sala dela, e sem ser impedido pela barreira da recepção, aproveitou que o segurança do andar estava em ronda para ir até lá. Granger vestia seu longo casaco pronta para ir embora quando ele apareceu. Ela mostrou-se preocupada assim que o viu.

 

— Não pode vir ao meu escritório, Malfoy. – Disse enquanto tirava os cabelos de dentro da gola. – A bancada de demandantes jamais pode saber que eu e você passamos da linha da formalidade!

 

Claro, eles tomariam o caso da mão dela.

 

— Não me importo. – Foi até ela puxando-a para si com propriedade sem se importar que ela estivesse receosa. – Está feliz que conseguiu o que queria hoje?

 

Ela revirou os olhos e pareceu não conseguir conter um sorriso fino que apareceu no canto dos lábios.

 

— Sei que sua defesa vai apresentar um bom argumento para a Corte. – Segurou a gravata dele e o puxou aproximando seus rostos. - Sua família ainda está longe de estar em sérios problemas. – Usou aquele tom suave e sedutor que fazia os pelos de sua nuca levantarem. – Mas não espere que eu não vá trazer justiça as pilhas de processos que o Ministério tem tentado engavetar, como se tentasse encobrir todas as ilegalidades praticadas pelo seu pai.

 

— Deveria deixar o passado em paz. – Ela não iria gostar de saber o tamanho da influência que o seu pai tinha dentro daquela instituição.

 

— Vá sonhando.

 

E depois ela quem gostava de o chamar de provocador. Tentou colar suas bocas, mas ela se afastou provocativamente mantendo a mínima distância entre eles. Ele soltou o ar e teve que estreitar os olhos vendo que ela estava querendo barganhar algo.

 

— O que quer, Granger?

 

Ela mordeu o canto dos lábios. Céus. Aquela mulher sabia o fazer.

 

— Ficar por cima. – Sussurrou colocando suas bocas a uma distância quase que torturante.

 

Ele soltou um riso curto.

 

— Não acha que já teve vitórias o suficiente por hoje?

 

Granger fez seus lábios se roçarem.

 

— Você gosta. – Provocou.

 

Como que ele podia dizer não? Tentou provar da boca dela mais uma vez, mas ela continuou naquele jogo torturante ainda se afastando. Draco puxou o ar e tirou a distancia de seus rostos encarando-a com os olhos cerrados enquanto ela mantinha aquele sorriso tentador nos lábios.

 

As mãos dela deslizaram para longe de sua gravata e ela agarrou o cós de sua calça o direcionando até o pequeno sofá de couro de dragão não muito distante recostado a parede de vidro de sua sala. Ela o forçou para sentar-se e de pé a sua frente, desceu do salto, tirou o longo casado, soltou as mechas presas e puxou a saia para colocar as pernas uma de cada lado de seu corpo, sentando-se nele de um modo tentador e provocante. A mão dela puxou sua varinha e apontou para porta. Draco a deteve pelo pulso antes que ela produzisse o feitiço.

 

— A porta fica aberta. – Disse num sorriso malicioso. Ela cerrou os olhos. – Sem feitiços acústicos. – Acrescentou. Queria aquela adrenalina. - Terá que se comprometer em algo, Granger.

 

Ela mostrou-se hesitante.

 

— Existem pessoas que fazem a segurança desse andar, Malfoy. – Informou ela.

 

Ótimo. Tornava tudo mais excitante.

 

— Então seja discreta. – Sugeriu.

 

Ela cerrou os olhos passando a desfazer a gravata dele e abrir os botões de sua camisa.

 

— Sabe que não sei ser discreta. – Disse com os dentes cerrados.

 

Ele estava adorando aquilo.

 

— Mas você adoraria o desafio. – Provocou.

 

Ela soltou o ar derrotada. Aproximou seus rostos.

 

— Você sempre me faz agir como se eu não tivesse um pingo de sanidade.

 

Ele fez sua mão entrar pelos cachos soltos e macios.

 

— Você gosta. – Devolveu vitorioso e por fim, tomou a boca dela com vontade.

 

Granger também o saboreou como se estivesse com saudade. Aquela brincadeira já havia os elevado a um nível faminto. Ele subiu a saia dela quando ela terminou de desabotoar toda sua caminha. Apertou com desejo a carne bem desenhada do volume perfeito de suas nádegas sem se preocupar em deixar as marcas de sua mão ali. Ela já soltou um leve gemido de satisfação e ele soube que estavam perdidos com aquela porta aberta.

 

Os quadris dela apertaram contra os seus e dessa vez ele quem fez escapar seu ruído de prazer ao perceber que ela notara o volume preso em suas calças. Ela o torturou roçando seu quadril ao dele, brincando de maneira bastante sensual para estimular a si mesma.

 

Ele adorava o modo como ela o usava quando estavam naquela posição. Ele, inteiro, parecia uma ferramenta para que ela se satisfizesse. E Deus, se ela soubesse o quanto aquilo o excitava, barganharia por aquela tortura muito mais vezes do que já fazia. Ficava desarmado, principalmente quando ela movia o corpo de modo tão sedutor como estava fazendo naquele momento.

 

Seu membro pulsava preso em sua calça enquanto ele passava a blusa de tecido delicado dela por cima de sua cabeça. Retirou o ornamentado sutiã que ela escolhera para o dia e encheu sua boca com um dos firmes e proporcionais seios. Ela era perfeita. Cada centímetro do corpo dela era perfeito. Hermione gemeu pressionando seu quadril mais ao dele fazendo as persianas baterem contra o vidro quando ela tentou se apoiar nele. Todos os pelos de seu corpo protestaram o arrepio que se espalhou por sua epiderme. Ela continuou com os seus movimentos imergindo naquele mundo de prazer, perdendo completamente a consciência de seus arredores. Ele adorava como ela se perdia com ele. Conseguia deixa-la quase febril numa velocidade absurda porque ela gostava de ser apertada, de ser devorada, de ser marcada.

 

Subiu para o seu pescoço marcando-o sem piedade, lembrando-se da vontade que tivera mais cedo. Ela desceu suas mãos pelo abdômen dele sem pudor, abrindo sua calça para sentiu com a mão e com um toque direto o quanto ele estava mais do que pronto para sentir as paredes apertadas dela o envolverem. Aquele calor em sua barriga fez sua respiração descompassar. A ansiedade o afligiu. Ajudou com que ela se desfizesse da calcinha e ainda brincando com ele, ela fez seus membros de tocarem. Sem nem mesmo entrar dentro dela, Granger conseguiu encharcar seu membro para mostrar o quanto estava completamente perdida e o quanto seria delicioso escorregar para dentro dela. Ele enfiou as mãos pelos fios macios dos cachos dela perdendo a respiração contra o pescoço dela recebendo a afronta da brincadeira dela como a melhor das torturas.

 

Era nítido o modo como ela tentava controlar seus sons. Enquanto brincava com o prazer, deslizando todo o mel dela contra o membro pronto dele. Puxava os cabelos de sua nuca como se aquele fosse o ponto onde pudesse descontar seu nível de urgência. Ele pediu para senti-la quando a tortura começava a fazer com que tivesse que se concentrar, mas ela rebateu dizendo que seria em seu tempo. Ela estava tão pronta quanto ele, mas queria ser teimosa. Orgulhosa. Mas ela não conseguiu esperar por muito tempo. Quando entrou dentro dela, o gemido que veio do fundo da garganta dela foi completamente irresponsável. Ele sentiu seu corpo inteiro queimar debaixo do dela. Aquilo estava muito mais excitante do que havia previsto.

 

Granger começou uma dança experiente fazendo seu quadril ir e vir, como se tivessem todo o tempo do mundo, mesmo tendo colocando-os a beira de seus instintos mais animais. Eles gostavam de beiras o próprio ápice, controlavam aquele estado de urgência para prolonga-lo o máximo que podiam. Os sons dela se repetiram de acordo com o modo como seus movimentos se tornavam mais consistentes, ela não conseguia se segurar por muito tempo. Nem ele. Suas bocas ficaram próximas roubando uma o ar da outra enquanto ela se movia sem piedade, sugando dele todo e qualquer ponto de equilíbrio. Sua mão cravou mais uma vez na carne bem desenhada de sua nádega, seu quadril lutou contra o dela e seus sons aumentaram numa expressão intensa da energia que queria explodir dentro deles.

 

O calor de seus corpos, de suas respirações, da fricção, da forma como ela usava os músculos dela numa maestria cruel os aqueceu a uma altura surreal. O modo como se movia e como seus sons enxiam o ambiente, nenhum segurança ousaria vir averiguar o que poderia estar acontecendo. Ele cravou seus dedos contra os quadris dela incentivando a urgência da fricção e ela, percebendo que não conseguiria ser nem um pouco discreta, escondeu o rosto contra o pescoço dele. O suor de seus corpos que já se mostrava na superfície de suas peles era mais do que prova do tamanho da vontade de explodirem de prazer, e foi no insistente e consistente movimento de urgência dela que retorceu seu corpo contra o dele e soltou seu último som de prazer. Ela tremeu reproduzindo seus espasmos. Draco teve certeza de que aquela exclamação de prazer ecoara no mínimo por toda aquela ala e o modo como as paredes dela contraíram contra ele de forma impiedosa e demorada, colaborou para que ele jorrasse nela soltando o seu grunhido de satisfação logo em seguida.

 

Ficaram ali, um sobre o outro, ofegantes, por um bom tempo. Bem conscientes de que haviam sido ouvidos. Ela subiu seu rosto até o dele e o beijou assim que conseguiu recuperar minimamente suas forças. Afastou-se para olhá-lo nos olhos.

 

— Sou completamente irresponsável. – Ela disse, com as maçãs do rosto coradas e a boca inchada. Não havia visão mais bela.

 

Ele abriu um sorriso. Segurou seu rosto passando o dedo pelos lábios deliciosos que não se cansava de provar. A observava mais do que deveria, sempre havia a observado. Era um exagero. Sabia. Mas suas práticas lhe deram a habilidade de fazer leituras sobre ela que ela mesmo resistia.

 

— Quando vai aceitar que é uma Grifinória e não uma Corvinal? – Disse.

 

O sorriso que Granger abriu foi um surpreendentemente triste. Ela soltou o ar e encostou sua testa na dele, fechando os olhos e apreciando suas respirações juntas.

 

— Você não é minha aventura, Malfoy. – Ela soltou quase que num sussurro.

 

Seu peito aqueceu ao escutar aquilo, mas ao mesmo tempo ele não era idiota. Sabia o que ela andava fazendo da vida. Não era difícil desvendar aquilo que ela queria de verdade. O orgulho de Hermione Granger denunciava muito para ele. Ainda assim, sabendo que não havia um momento de sua vida em que Draco não conseguisse tirar ela da cabeça, fez suas bocas se tocarem com calma e seus lábios abrirem espaço pelo dela preguiçosamente. O calor de suas línguas se tocando e o sabor único que ela tinha era uma satisfação que não cansava de fazer seus músculos relaxarem e seus poros dilatarem. Talvez ela nunca devesse saber como sua cabeça não dava descanso ao divagar, nos momentos mais inoportunos e tediosos de seu ofício, pela memória de seus corpos suados, dos gemidos sedutores que ela soltava contra seu ouvido, de sua voz rendida chamando seu sobrenome. Seu cérebro o lembrava da consciência que ela tinha por ficar completamente rendida a ninguém menos que Draco Malfoy quanto ele tentava negociar um contrato, quanto jantava formalmente com sua família, quando tinha que observá-la, de longe, desfilar em algum vestido que acentuava todas as suas curvas em algum evento do Ministério, quando era obrigado a depor para a Corte na presença orgulhosa dela não muito distante. Ela não podia saber.

 

Granger encerrou o toque de suas línguas se afastando. Ele deslizou sua mão para longe da nuca dela. Granger não o olho quando saiu de cima dele ajeitando a saia que ficara amontoada ao redor de sua cintura. Draco apenas observou a figura perfeita que ela era. Os seios expostos, firmes e proporcionais, a curva dos quadris, a moldura dos cachos. Gostava quando tinha uma ampla visão do quanto ela, por inteiro, era uma obra de arte.

 

— Precisa deixar meu escritório. – Ela disse enquanto usava sua varinha para se arrumar.

 

Ele se levantou tornando a fechar sua calça e abotoar os botões de sua camisa. Ficaram em silêncio enquanto se aprontavam e a pressa dela era aparente. Ele desacelerou seu passo apenas para vê-la ficar pronta antes dele. Seus olhos se cruzaram novamente quando ela tirava outra vez os cabelos de dentro da gola do casaco que acabara de vestir, mas ela logo cortou o contato pegando sua bolsa e tomando seu caminho. Draco colocou o braço como uma barreira contra a porta impedindo que ela fosse. Encararam-se novamente, dessa vez o olhar dela foi exclamativo, desaprovando claramente o ato.

 

— Quando pretende me contar sobre ter aceitado o pedido de casamento de Weasley? – Foi direto sabendo que aquilo era o que estava ocupando a cabeça dela quando se viu vulnerável após a atividade que praticaram.

 

Ela se mostrou rapidamente surpresa pelo fato dele ter conhecimento sobre aquilo. Draco sabia que ainda não haviam oficializado para ninguém, até porque, para o público, estavam separados. Granger recuou o passo como se precisasse estar distante dele para lidar com aquele assunto.

 

— Como sabe? – Tinha o cenho franzido e o olhar suspeito.

 

— Seu discreto futuro marido não consegue guardar aquilo que combinaram como segredo. – E as notícias viajavam mais rápido do que o cérebro pequeno de Ronald Weasley podia imaginar. Granger soltou o ar fechando os olhos e desviando a cabeça. Draco apenas recuou enfiando as mãos no bolso, olhando-a de movo avaliativo. Queria analisar todas as reações dela ali. Adorava decifrar o comportamento de Hermione Granger. – Não deveria ficar surpresa por saber que ele não conseguiria não te exibir como troféu.

 

Ela negou com a cabeça ao escutar aquilo.

 

— Você não sabe nada sobre Ron, Malfoy.

 

— Talvez não. – Concordou tendo a esperança de que Granger não fosse tão estúpida de ter uma história como a que tinha com ninguém menos que o mais imbecil dos Weasley. – Mas sabe bem que esse não é o ponto.

 

Ela soltou o ar e pareceu perdida por um ou dois segundos.

 

— Eu ainda estou pensando sobre... Ainda estou pensando... – A voz dela morreu.

 

— Você aceitou o pedido dele. Não está pensando. Já o aceitou.

 

— Eu sei. – Disse decidida finalmente o encarando. – Não quero discutir sobre isso!

 

— É óbvio que não quer! Não quer porque eu sou pra onde você corre quando quer fugir. Fugir da bolha em que vive. Do sufocante mundo em que colou a si mesma. Do lugar para onde irá se enterrar definitivamente quando mudar seu sobrenome para Weasley! Acaso não foi isso que a trouxe até mim a primeira vez...

 

— Pare! – Ela exigiu com autoridade. Ele parou. O olhar dela suavizou não conseguindo manter-se estável. Ela teve que desviar o rosto e fechar os olhos arrependendo-se de seu tom severo. – Não posso dizer adeus a você. – Despiu-se de seu orgulho para ser honesta. – Preciso de você.

 

Draco mexeu-se inquieto diante da explicita figura que ela pintava sobre o que eram. Aproximou-se sentindo uma fisgada em seu peito.

 

— O que vou dizer, vou dizer apenas uma vez. – Alertou num tom sério e profundo. – Irá sucumbir tentando ser a figura da heroína perfeita que o público a pressiona para ser. Quer que o mundo a ame, que a veja como um exemplo. Quer ser essa mulher perfeita que os jornais contam. Mas sabe bem que está se afundando no desgosto de ver que o lugar que conquistou no Ministério não tem nada a ver com justiça, mas sim com o jogo corrupto desse sistema. Que está se sufocando ao tentar encontrar uma forma de concertar o fato de que Ronald Weasley não é o homem que queria que fosse só para que o mundo possa ver unidos as figuras que bravamente lutaram em prol da comunidade bruxa durante uma guerra suja e assustadora, assim como tiveram o gosto de ver Harry Potter e Gina Weasley. O fato de que insiste para si mesma de que quer ser parte do clã Weasley, mesmo conhecendo os dramas que os rostos sorridentes e acolhedores daquele mundo escondem. O seu mundo perfeito é uma farsa. E quando se vê presa a todas essas correntes, vem a mim como se eu fosse algum tipo de bomba de oxigênio para o seu pulmão contaminado. – Não tinha dó de peitar o orgulho dela. Era aquele orgulho que estava a matando. – Não posso ser o remédio que te trás alívio, Granger. Sou tão humano quanto você.

 

Ela ergueu o olhar ainda evitando o dele. Seus olhos marejavam e ele a viu despida de seu orgulho. Era recompensador o modo como ela se desfazia de seu orgulho quando estava próximo a ele com facilidade, porque só ele conseguia peitá-la. Ela havia ido até ele pela primeira vez já despida dele. Para Granger, tocá-lo pela primeira vez já fora um ato de completo desprendimento de seu orgulho, como se ele fosse um fardo e Draco fosse sua liberdade.

 

— Não posso me permitir pensar que tenho outras escolhas. – Ela soltou baixo.

 

Ele já havia estado naquele lugar, onde pensara que não tinha outra escolha ou tentava não acreditar que tinha. Havia sido por causa da defesa dela anos atrás, com o fim da guerra, que não acabou indo passar o resto de sua vida em Azkaban. Mas também já havia feito por ela algo tão grandioso quanto, quando arriscou a própria vida e a ajudou a fugir da sede de Voldemort quando fora capturada.

 

— Te salvei uma vez. Não me faça ter que salvar outra. – Insistiu ele.

 

Ela puxou o ar de uma vez e a viu vestir novamente aquela capa do orgulho, como se estivesse vestindo uma máscara ou uma sufocante armadura.

 

— Estou construindo algo maior do que imagina. – Ela disse decidia e passou por ele.

 

— As custas da própria sanidade. – Rebateu, mas ela apenas foi embora.

 

Pagaria caro pelas suas escolhas. Fechou os olhos soltando o ar derrotado. Ele, mais do que ninguém, sabia o que escolhas ruins eram capazes de produzir e não podia se convencer de que a atitude dela o levaria a um ponto onde não poderia mais tê-la de nenhuma forma que fosse e isso o fazia querer puxar os próprios cabelos.

 

 

 

***

 

 

 

Subia as escadas da ala privada do Ministro da Magia, no Ministério, na companhia de Blásio e um dos associados do projeto mais recente de sua família. Nenhum deles queria realmente estar ali, mas sabiam que era necessário se esforçar para manter o status que trabalhavam para ter e aquilo significava atender eventos formais das causas sociais que ajudavam. A única parte decente daquele em específico era o fato de ser um evento extremamente reservado, o que significava que não iria ter nenhum desconhecido tentando forçar algum tipo de comunicação.

 

Antes de entrar no salão, pediu para que seus colegas fossem em frente precisando desviar sua rota para atender o chamado de um dos conhecidos de seu pai. Foi direcionado para uma sala reservada não muito afastada onde foi apresentado a um acionista poderoso do mundo bruxo, um que não poupou em fazer propostas bastante ousadas. Draco irritou-se com o momento inoportuno e imprevisível, mas educadamente marcou uma reunião formal sabendo que seu pai o detestaria por não ter se esforçado com alguém com o tamanho da influência daquele homem.

 

Na volta para o salão parou ao escutar a voz autoritária de Hermione Granger vindo de uma porta semiaberta num hall reservado. Recuou um passo para ficar exatamente no ponto onde conseguia escutar as vozes claramente.

 

— ...não vou ceder as pressões dos corruptos da Corte Superior! – Ela dizia de modo claro e alto. – Fui promovida a presidente da bancada pelo Primeiro Ministro e tenho compromissos com a justiça!

 

— Quem acha que colocou o Primeiro Ministro onde ele está? – a voz desconhecida de um homem soou tão autoritária quanto a dela. – Está construindo uma carreira aqui ou não? O que está disposta a sacrificar? Quer ser só um rosto bonito que ficará na ala dos demandantes para o resto da vida? As cabeças mais importante do Ministério tem expectativas quanto a você, Srta. Granger. Se não começar a seguir as devidas pautas, iremos te destruir da mesma forma como te construímos. Sim. Não pense que chegou onde está apenas por mérito. Nós te fizemos.

 

— Como ousa me ameaçar?! Eu quem fiz o meu próprio nome! – Ela estava feroz. - Eu lutei uma guerra onde todos vocês se acovardaram! Não vou priorizar processos em troca de favores e não vou aceitar ser pressionada!

 

— Se comprometeu até aqui. Não dê uma de santa agora. Não pode começar a atuar de modo independente a essa altura do campeonato. Pense em sua carreira!  – Outro homem rebateu e pareceu ir embora por uma porta diferente da que Draco conseguia ver.

 

Balançou a cabeça e começou a seguir seu caminho, mas parou assim que escutou a voz de Ronald Weasley:

 

— Talvez eu devesse começar a pensar que a sua teimosia em comprar brigas dentro do Ministério não seja uma boa influência na minha carreira.

 

— Uau, Ron! – O tom dela foi irônico. – Não sei porque eu ainda fico esperando pelo momento em que será para mim um aliado ou um suporte. Que tal você pensar em mim antes de pensar primeiro de qual time de Quadribol virá a sua próxima oferta?

 

Draco não estava disposto a ter que escutar nenhuma das brigas dos dois. Continuou seu caminho. Tinha um desprezo por Weasleys por se esconderem atrás da máscara de “pobre-coitados” os erros que os levaram a falência. Mas Ronald Weasley conseguia superar barreiras. Não podia ficar alimentado a vontade que tinha de mata-lo.

 

Chegou ao salão e juntou-se a Blásio pegando uma bebida no caminho. Notou rapidamente que suas opções de companhia estavam restritas visto o número de bons moços presentes no evento. Parecia que a Ordem da Fênix ressurgira naquele local. Era como se estivesse vivendo novamente o casamento de Harry e Ginevra Potter. A única diferença era o ar reservado, mesmo que ainda houvessem alguns editores do Profeta Diário presentes.

 

— Adivinha? – Começou Blásio quando se aproximou ainda encarando a figura frágil e feminina que fazia um belo discurso sobre os objetivos alcançados de sua campanha social graças a ajuda financeira de todos ali presentes.

 

— Ah, Céus. O que? – Não estava animado para saber.

 

— Weasley e Granger irão oficializar o noivado hoje durante o evento. – Respondeu. – Para a imprensa. Sabe como é. Weasley tem um discurso a fazer.

 

Draco mexeu-se incomodado tomando um gole de seu espumante logo em seguida.

 

— Por que eles vão se dar ao trabalho? Não é como se a língua solta de Weasley já não tivesse feito o serviço.

 

Blásio soltou um riso desdenhoso.

 

— Sabe como são os Weasley. Gostam da atenção. Mais uma brilhante estrela entrando para a família. Já não bastasse “O Escolhido”, agora terão também o cérebro responsável pela derrota do Lorde das Trevas. Parece até uma estratégia simbólica unir todos a uma linhagem tão desqualificada.

 

Draco riu.

 

— As vezes acho que posso ser cruel, mas então sou presenteado com seus comentários.

 

Blásio partilhou do humor rindo, mas fez um respeitoso gesto com a cabeça, imitando Draco, quando Potter passou próximo a eles acompanhado de Neville Longbottom. A formalidade do cumprimento foi recíproca, mas era óbvio a tensão que ainda havia entre seus dois mundos.

 

Assistiram a um discurso sem importância que parecia estar fazendo algumas senhoras tirarem o lenço de suas bolsas para enxugar as lágrimas, talvez falsas, que produziam.

 

— E finalmente eles aparecem... – Blásio inclinou-se para poder usar um tom de voz baixo e Draco percebeu que Ronald Weasley acabara de aparecer na companhia de Hermione Granger.

 

Ela estava magnifica como sempre estava em todos os eventos formais do Ministério. Granger nunca precisava de muita coisa. O longo que vestia era discreto, neutro, a fenda podia ser considerada comportada, mas lhe caia o corpo perfeitamente. Ela gostava de deixar as costas a mostra, era quase que uma marca própria. Talvez fazia isso para dar valor a cascata que cachos que desciam maravilhosamente por ela. O modo como o tecido sempre leve se ajustava as suas curvas eram de invejar qualquer um. Fazia com que a imagem nua dela viesse a sua mente. Sentia sua falta.

 

Granger e ele não haviam buscado qualquer tipo de contato fazia pouco mais de uma ou duas semanas. Desde quando tiveram um confronto na sala dela logo depois de um dos seus depoimentos a Corte Superior. A tensão daquela discussão que tiveram estava presente agora sempre que seus olhares acabaram se cruzando, fosse no Ministério, fosse aleatoriamente em algum outro lugar. Mas ele já sentia falta de vê-la enrolada em um lençol de sua cama jogando cartas com ele na madrugada enquanto bebiam vinho e discutiam sobre seus mundos distintos. Sentia falta de ouvi-la construir casualmente suas opiniões com tanto embasamento histórico e social. De como o dinamismo do cérebro dela nunca parava e de como havia uma tensão gostosa no modo como se desafiavam e conflitavam em opiniões. Era como se aprendessem um com o outro sobre tanto. Sentia falta da forma como crescia com ela.

 

Seus olhos não conseguiram deixa-la por nenhum momento que fosse. A viu abrir caminho por entre as pessoas cumprimentando quase todas. Ela tinha uma grande círculo social e parte disso era o quanto sua figura se tornara política. Sorria, apesar de ver um brilho opaco em seus olhos. Draco sabia que ela não estava feliz. Não tinha como estar. O mundo dela não era fácil e ela ainda fazia escolhas para piorá-lo. Não havia como estar sorrindo verdadeiramente, não depois do que Draco acidentalmente acabara por escutar minutos atrás.

 

O espaço onde estavam não era gigantesco e não demorou tanto para que o olhar dela encontrasse o dele no meio de tanta gente. Compartilharam por alguns segundos o segredo do relacionamento que tinham no silêncio de seus olhares e ele pode já de cara notar que ela precisava dele. Precisava dele daquele modo como ela sempre o queria. O remédio de alívio para a pressão do mundo que se afundava. Ele quis abrir caminho por todas aquelas pessoas e tirá-la dali para devolver a ela o ar que estava lhe sendo arrancado. Mas isso era só o seu nível de afeto pela incrível mulher que ela era falando bem mais alto do que o seu racional. Tinha receio de saber que não era mais nada para ela além de uma droga, um escape, uma anestesia.

 

— Veja só o desdém que ela carrega. – Blásio não perdia tempo em ser cruel. Granger quebrou o contato com Draco abraçando Ginevra Potter. – A simpatia carregada de orgulho a torna quase que inquebrável.

 

Blásio não fazia a menor ideia do tamanho da frágil figura que Granger escondia por trás daquele sorriso cheio de poder.

 

— Não acha sexy a ideia de poder desafiá-la? – Sondou o que Blásio poderia pensar sobre aquilo e escutou o amigo rir.

 

— É um louco se estiver pensando em desafiar aquela mulher. Não acho que ninguém possa desarmá-la. Quanto ao sexy, posso ver alguém a desejando por motivos muito óbvios. Até mesmo Potter. Veja só como ele a olha quando a esposa não está por perto. A culpa vem acompanhada do desejo. Mas não acredito que Hermione Granger seja amada. Acaso não se lembra da insuportável sabe-tudo? Quem aguenta? – Brincou o colega.

 

Ele sorriu e tomou um gole de sua bebida.

 

— Está errado. – Tinha que informá-lo daquilo.

 

— Talvez. – Blásio deu de ombros. – Eu a lavaria para cama, certamente. Aposto que ela é do tipo dominadora. Quente.

 

Sim, ela é. Quis dizer, mas resumiu-se a:

 

— Talvez pararia por aí. – Draco quis advertir, mas precisou ser casual. Hermione era muito mais do que mandona, orgulhosa, dominadora. Draco arriscaria dizer que aqueles traços era secundários ao que ela realmente era.

 

— Mas eu diria que ela é, de longe, bem mais interessante do que a santa esposa de Potter. Que homem iria querer uma mulher que se finge ser mais encantadora e virgem que os campos floridos de primavera? – Zombou Blásio. Ele começou logo em seguida a soltar seus comentários maldosos sobre Ronald Weasley também, não perdoando quem quer que fosse.

 

Daquela parte Draco conseguiu saborear soltando também seus comentários imperdoáveis, mas não demorou muito para que começasse a reservar as próprias palavras quando notou que havia uma tensão entre Granger e Weasley que a estava a desgastando gradativamente.

 

Era bastante óbvio o modo como Granger estava tentando manter um sorriso no rosto enquanto Weasley parecia fazer de tudo para acabar com ele da maneira mais suja que conseguia soltando indiretas inconvenientes sobre o modo como ela conduzia o próprio trabalho, mesmo que ninguém parecesse estar interessando em comentar sobre trabalho ou até mesmo sobre o de Hermione Granger em específico.

 

Ela acabou se distanciando, depois de ter discretamente vociferado a ele para que vigiasse seu próprio comportamento. Harry Potter puxou o amigo para longe discretamente, como se tentasse verificar o que parecia estar havendo de errado e Granger a essa alta já se mostrava abalada.

 

— Dia ruim? – Draco a encontrou no bar vazio que não servia bebida alguma.

 

Ela ergueu o olhar para ele. Seus olhos marejavam de costas para o lindo teatro social que acontecia naquele salão fechado.

 

— Não sabia que ia estar aqui. – Foi o que ela optou por dizer quando o viu.

 

— Minha família tenta doar o máximo de dinheiro que pode. – Tinham um nome a manter, afinal. – Mas você... – Ele encarou o anel brilhando no dedo dela. Era a primeira vez que o usava em público. Ele sabia daquilo porque observara mais do que ninguém. – Me pergunto se esse anel lhe pesa a mão ou os ombros.  – Ela puxou o ar desviando o olhar e girando o anel em seu dedo. – Está deixando sua máscara perfeita deslizar.

 

Ela fechou os olhos.

 

— Ron quer me tirar essa máscara a qualquer custo e... Ele tem razão. – Puxou o ar. Ela assumia que era uma farsa e sabia que aquilo doía nela mais do que tudo. Queria ser perfeita. Desde sempre. Desde quando Draco a conheceu, tudo que ela tentava ser era a garota que sabia sobre tudo, que conhecia tudo, que era admirada por seus professores, que era invejada por seus colegas. Agora que a guerra não lhe forçava o seu nobre lado Grifinória, sua ambição falava mais alto e isso a enfiara num buraco de escolhas que seu próprio lado Grifinória a condenava por estar. – Eu preciso cair.

 

Ali, Draco vislumbrou que o orgulho dela estava sendo perfurado dolorosamente. Não desafiadoramente, da forma como ela gostava. Ficou mais curioso do que nunca para saber o que havia acontecido. O que Ronald Weasley estava fazendo era perfurar seu orgulho o machucando. Uma estratégia do qual talvez fosse um mestre.

 

Não precisava dizer a ela que havia se colocado onde estava. Ela já sabia disso e já se culpava. Não precisava também lembrá-la de que disse que não iria salvá-la duas vezes, porque ela também se lembrava. Mas vê-la vulnerável o matava. O matava exatamente como havia o matado aos poucos quando tivera que assisti-la gritar debaixo da maldição cruciatos no chão da sala privada da mansão de sua família, quando tivera que vê-la definhar em uma cela. Havia precisado ver aquele nível de dor sobre ela para perceber que se enganara sobre o que sentia por ela desde criança, da mesma forma que vê-la tão vulnerável ali o lembrava porque gostava de leva-la para cama.

 

Queria ter dito a ela que não importasse quantas vezes caísse, ele iria segurá-la quantas vezes precisasse. Mas Luna Lovegood apareceu o encarando estranhamento. Era evidente que vinha confortar a amiga depois de ter percebido as farpas que Weasley deixara no ar.

 

— Dê a ela um pouco de espaço, Malfoy. – A loira dirigiu-se a ele primeiro. – Hermione certamente poderá discutir sobre os processos a respeito de sua família em um horário mais profissional.

 

Ele encarou aqueles brilhantes olhos azuis. Seria possível que ela fosse mesmo tão ingênua? Ponderou sobre aquilo alguns rápidos segundos, mas logo chegou a conclusão de que aquela era Luna Lovegood, a garota conhecida por viver no mundo da lua. Fez um respeitoso aceno com a cabeça e se afastou ainda tendo tempo de escutar a loira sussurrar algumas palavras a convencendo de ir embora com Weasley para evitar que ele fosse mais infantil do que já estava sendo.

 

Foi até a roda de seus conhecidos vendo que Blásio já se permitia flertar com alguma bonita figura qualquer. Sondou a possibilidade de acompanhar seus conhecidos a uma mesa de aposta que pretendiam atender depois daquele evento. Teria que se mover para o outro lado de Londres para acompanha-los, mas merecia a distração depois da longa e trabalhosa semana que tivera, e também por saber que precisaria de algo tentando tirar sua cabeça de Hermione Granger.

 

Foi enquanto escutava uma discussão sobre a que horas o jantar seria servido da parte de seus colegas que tudo aconteceu. Aconteceu rápido, mas para Draco foi como se tivesse durado horas. O torturou até sua rendição.

 

Uma movimentação logo ao centro do evento começou. Vozes começaram a se distinguir acima das outras e ele notou que Granger fazia parte do meio. Ela talvez fosse a peça central. Ou talvez fosse Weasley.

 

— ...foi apenas uma sugestão, Ron! – A voz dela sobressaiu-se.

 

— Você não sabe dar sugestões! Tudo o que dá são ordens! – Ele retrucou.

 

— Ron... – Ginevra começou a repreendê-lo.

 

— Pode não agir como uma criança, por favor? – Ela suplicou percebendo que já haviam chamado toda a atenção possível. – Não precisamos discutir em frente a tanta gente.

 

— Não precisamos discutir nunca mais. Essa é a verdade. Estou cansado. Cansado de tudo isso. – Ele soltou. Talvez de uma vez e sem pensar, porque logo em seguida viu nos olhos dele o arrependimento por trás do orgulho.

 

Todos ficaram em silêncio. Weasley e Granger se encaravam desafiadoramente embora ela já se mostrasse completamente desarmada e vencida. Ela calmamente puxou o ar tentando resgatar os últimos fragmentos de orgulho que Ronald ainda não havia esmagado, tirou o anel brilhante em seu anelar desajeitadamente enquanto segurava sua taça de espumante e colocou-o sobre uma mesa logo ao lado dele. Seus olhos brilhavam encharcados de todas as lágrimas que não ousaria derramar ali.

 

— Também estou cansada de ficamos nos usando para outros benefícios. – Foi o que ela disse. Pacificamente.

 

Weasley não respondeu já parecendo finalmente perceber o papel de idiota que estava se prestando e a comoção que causara. Ele simplesmente estendeu a mão, pegou de volta o anel e deu as costas abrindo caminho por entre as mesas para ir embora. Harry Potter fez menção de ir atrás dele, mas sua esposa o deteve de modo severo. O silêncio foi perturbador. Ninguém sabia o que fazer ou como agir.

 

O olhar dela passou diante da maioria daqueles que a encaravam e congelaram sobre Draco quando o encontrou. Ela havia sido humilhada. As lágrimas que segurava não eram por ter pedido seu noivo, mas por estar despida de orgulho, por ter acabado de ver seu imaculado nome ser sujado de drama, por saber que a vida perfeita que havia trabalhosamente montado jazia agora diante de todos.

 

Ela estava ali. Vulnerável. Era sua queda. Enquanto se encaravam, via nos olhos dela o pedido de ajuda. Talvez socorro. O remédio que ele era para ela. Talvez ela quisesse exatamente ali. Ele não a deixaria cair.

 

Seus pés se moveram sem que nem ele mesmo tivesse dado o comando. A distância entre eles foi diminuindo à medida que avançava e a medida que ela percebia que se aproximava, mostrava-se mais fraca, como se exigisse que ele chegasse antes que desmoronasse. Uma lágrima pulou de seus olhos, mas ele chegou a tempo que outra pudesse escapar. Tirou a taça de sua mão frágil que a derrubaria a qualquer momento. Lançou a peça de vidro conta o carpete com descaço, tirando-a do caminho. Segurou o rosto da mulher e uniu sua boca a dela desligando todo o resto do universo que existia ao redor deles.

 

Seus lábios se ajustaram um sobre o outro como já haviam feito diversas outras vezes e ela se derreteu entrando nos braços dele do modo como fazia quando se entregava completamente, quando queria escape, quando queria esquecer do mundo, dos processos que carregava, das pressões do Ministério, da expectativa dos amigos quanto ao seu relacionamento com Weasley. Sentiu o calor do sabor dela e notou logo o estado frágil em que estava.

 

— Por favor. – Ela pediu a ele com a voz fraca quando se afastaram minimamente. – Me leve para longe daqui.

 

Assentiu. Passou o braço por ela e a conduziu para fora do salão por uma porta oposta, sem que precisasse passar pelos amigos. Não prestou atenção nos olhares. Não queria. Usou Flu em uma das lareiras do foyer e Granger foi a primeira a avançar para as chamas assim que elas brilharam verde.

 

Ela não questionou ou se mostrou perdida quando foram parar no escuro da vazia e solitária pousada de caça que sua família agora frequentava raramente, nas montanhas do norte da Irlanda. Costumavam passar o natal ali com frequência quando era criança e em alguns de seus anos em Hogwarts. Mas então Voldemort retornou e foi embora e eles nunca mais conseguiram ser uma família decente que pudesse passar o natal juntos.

 

Tudo que Granger precisou foi sentar numa das cadeiras cobertas de frente a lareira apagada. Cobriu o rosto e chorou. Provavelmente sentia o corpo cansado pela longa distância que viajaram por Flu e talvez se questionasse em que parte do mundo estava. Draco apenas deixou que ela pudesse externar livremente os sentimentos que a perturbavam. Sabia que aquilo talvez tivesse o poder de cura-la minimamente.

 

Chamou por um dos elfos domésticos de sua família e pediu para que endireitasse o lugar, acendesse algumas velas e enchesse a dispensa, proibindo-o de dizer a seu pai onde estava. Enquanto o elfo trabalhava em tirar os grandes tecidos que cobriam os móveis e iluminava o local usando os estalos de seus dedos, Draco pegou a lenha empilhada ao lado da lareira e tratou de acender algum tipo de fonte de calor para aqueceu o ambiente frio.

 

Quando Granger conseguiu pacificar seus soluços, os móveis já estavam todos descobertos, algumas velas estavam acesas, tudo estava limpo, exceto pela cadeira onde ela estava sentada, que o elfo não ousara mover a mulher para descobrir. Ela tirou as mãos do rosto com calma limpado as bochechas rosadas. Seus grandes olhos brilhantes e âmbar focaram-se primeiro na coleção de espingardas expostas na parede, logo depois na cabeça empalhada dos animais dispostos contra a parede de pedras da lareira. Ela analisou o teto alto, as vigas de madeira aparente, o lustre de ferro e os tapetes de pele. Por fim seus olhos foram parar nele, encostado na lareira com as mãos enfiadas no bolso encarando-a igualmente.

 

— Chá? – Ele sugeriu.

 

Ela segurou mais um soluço e assentiu, concordando com a ideia de que um chá poderia acalmá-la. Ele desencostou-se de onde estava e passou por ela dispensando o elfo com um aceno de cabeça. Colocou a água para ferver.

 

— Onde estamos? Meu corpo está cansado. – Ela perguntou.

 

— Norte da Irlanda. – Respondeu. Ela pediu para que fosse levada para longe, afinal. – É a pousada de caça do meu pai. Costumávamos passar o natal aqui antes da guerra.

 

Ela pareceu analisar melhor o lugar. Draco pegou uma das cobertas dentro de um cesto e estendeu para ela notando que os pelos de seus braços descobertos estavam arrepiados. Granger aceitou o passando pelos ombros.

 

— Você caça? – Ela perguntou quando ele se sentou em uma das poltronas próximo a lareira.

 

Ele assentiu.

 

— Faz bastante tempo desde a última vez, mas... – Havia esquecido seu apreço pela atividade. – Coelhos silvestres fazem uma boa sopa.

 

Os olhos dela fixaram-se no fogo crepitando na lareira. Ficou em silêncio um tempo. A observou morder o lado interno da boça e o modo como seus olhos refletiam perfeitamente o fogo. No silêncio dela, surpreendentemente, por alguns segundos, viu um sorriso fraco surgir no canto de seus lábios. Como se estivesse lembrando de algo feliz. Uma cura pequena para seu estado desgastado.

 

— Meu pai me ensinou a caçar. – Ela começou com uma voz baixa e um olhar distante. – Sinto falta do sentimento de respeito pela natureza. Pelo modo como funciona. Os ciclos. O modo como cada um que faz parte dela é tão presa quanto caçador. O modo como se sente tão humano estando infiltrado no meio das árvores como qualquer outro animal, como todos os humanos que vieram antes de nós fizeram para garantir sobrevivência. O respeito. A consciência de saber que tudo vem da natureza e que no final nós todos vamos voltar para ela. A experiência de ser levado de volta para uma raiz tão ancestral e perceber o quanto nos desconectamos da essência de nossa própria história, daquilo que nos construiu.  - Ele apertou um sorriso em seus lábios. Ela entendia. O fazia querer soltar um longo suspiro de apreço. Gostava de ver o modo como seu cérebro conseguia conectar todos os aspectos da vida em seus conceitos completos e complexos. Talvez não pensasse como ela, mas não importava. Não havia nada mais intrigante e curioso do que a forma como o cérebro dela funcionava. Os olhos dela o encontrou novamente e eles se encararam em silêncio por alguns segundos enquanto ela era lembrada de sua dor. – Posso me esconder aqui para sempre?

 

— Não permitiria que jogasse sua carreira no lixo dessa forma.

 

— Essa não é a carreira que eu queria.

 

— Não é porque você não queria uma carreira, queria um legado.

 

Ela fechou os olhos soltando o ar.

 

— Você não entende... – Deixou sua voz morrer.

 

— Sim, eu entendo. Ganhou uma atenção que nunca pensou que teria na vida. Quis preservá-la de todas as formas possíveis, mesmo que isso te custasse ceder ao sistema para subir de cargo no Ministério ou se casar com alguém que te desgastasse para satisfazer outros e não a si mesma. Harry Potter conseguiu ser a imagem do herói perfeito, conseguiu se promover como um excelente Auror em pouco tempo. Casou-se com a bonita ruiva de Hogwarts exatamente como todos esperavam. Você e Ronald Weasley não poderiam ficar atrás, não é mesmo? Se tornar uma família para vocês seria vantajoso demais. Um perfeito casal de heróis. Influenciaria na carreira de ambos. Na atenção que ganhariam da mídia. Os dois melhores amigos de Harry James Potter. Uma família perfeita. – Os olhos dela já o encaravam novamente. As lágrimas escorriam novamente, mas silenciosas. – Não está chorando porque deixou Weasley, mas porque manchou a imagem perfeita que todos tinham sobre você e ele, sobre o herói trio de guerra, sobre a imaculada imagem de seu nome. Os jornais irão manchar toda essa imagem amanhã quanto contarem sobre o drama em público que passaram, sobre ter desfeito um noivado que nem mesmo chegou a ser oficializado, sobre ter sido amparada por ninguém menos que um Comensal da Morte que conseguiu se livrar de Azkaban por pouco. Por isso que quer se esconder.

 

Caíram num silêncio incomodo que só foi interrompido quando a chaleira apitou. Ele se levantou para terminar o chá que prometera a ela. A porcelana o fazia se lembrar de sua infância. Dos dias felizes que tivera com uma família que não tinha qualquer cicatriz aquela época. Levou a xícara até a mulher que a aceitou relutante. Ele sentou-se novamente em sua poltrona. Granger limpou as bochechas pela milionésima vez. Tomou cuidadosamente do líquido quente e o encarou.

 

— Por que eu? – Ela perguntou. – Me trata diferente de tudo que já escutei de outras mulheres sobre você. E não finja que o mundo não sabe sobre os seus dotes em encantar mulheres. Já não era um segredo em Hogwarts.

 

Ele não conseguiu evitar achar graça daquilo. Certo. Seus hábitos quanto a mulheres não era dos mais comportados, mas era muito mais discreto que todos os seus colegas. Havia sido muito pior em Hogwarts. A guerra o tornara frio, cético. Mulheres eram uma necessidade carnal e ele não conseguia trata-las como mais do que isso. Se Granger percebia que passava a milhas de distância de todas elas, ficava curioso para saber o quanto ela sabia sobre isso.

 

— Como acha que a trato diferente? – Perguntou.

 

Granger tirou alguns segundos para organizar tudo em sua cabeça.

 

— Já me procurou mais de uma vez. – Ela começou. Era verdade que ele não costumava repetir mulheres e não ficava surpreso que isso fosse uma informação pública. – Já dormi em sua cama. – Ele não dormia com mulher alguma, essa ele ficava surpreso que ela soubesse. – Me levou para o seu quarto incontáveis vezes. – Também era verdade que ia para o quarto das mulheres que levava para cama. Nenhuma outra mulher além de Hermione deitara em sua cama no Caldeirão Furado, sua residência temporária que vinha se provando cada vez mais permanente em sua tentativa de fugir de ter que voltar para casa de seus pais. – Me escuta como se eu fosse algum livro de poesia quando tenho algo para falar e sabe que é conhecido por não dar espaço para que falem mais do que o necessário em seus ouvidos.

 

Ela tinha razão em todos aqueles pontos. O fato de ter tido consciência deles enquanto viviam o relacionamento que tinham em segredo fazia com que Draco quisesse rebater a pergunta.

 

— Em Hogwarts... - Começou. – Nunca entendi realmente o porque sentia mais indiferença a Potter do que a você. Passei anos tentando entender, tentando encontrar justificativas e me convencer de um desprezo para justificar a atenção que me chamava. Só fui entender o quanto eu havia me cegado quando a vi no chão da sede de Voldemort gritando por socorro. – Nunca havia dito aquilo em voz alta. - Eu quis matar aqueles que encostaram a mão em você, Granger. Cada um deles. – Os olhos dela estavam congelados nele. Agora ela sabia de seu segredo. – E por que eu? – Perguntou igualmente não conseguindo se esquivar da curiosidade da resposta. – Você quem veio até mim a primeira vez.

 

Ela puxou o ar e desviou o olhar encarando a xícara entre suas mãos. Ficou em silêncio por um bom tempo onde Draco temeu pela resposta que pudesse receber. As vezes fugia da ideia de que se tudo estivesse bem na vida dela, ela nunca teria o procurado e isso lhe causava uma pressão incomoda no peito.

 

— Eu salvei a tantos durante a guerra. - Ela disse com a voz baixa. – Mas quando precisei ser salva, você quem apareceu. – Ergueu os olhos para ele. – Sempre acreditei que odiava ter sido jogado no meio daquela guerra, que se via sem escolha. Que teria feito diferente se fosse seu pai. – Ele sabia daquilo por ter conhecimento de que ela talvez tivesse sido a única em Hogwarts a indiretamente defende-lo quanto todos pareciam condená-lo. - O dia em que me tirou do pesadelo da sede de Voldemort, meu cérebro, talvez, pareceu acordar para algo que surpreendentemente não me pareceu novo com relação a você. Tentei ignorar. Tentei justificar. Tentei esquecer. Porque eu me apeguei ao fato de que não queria nada que tivesse a ver comigo, que nossos mundos não tinham nada em comum, que você não era homem para mim ou eu era mulher para você. Me escondi na confortável e ao mesmo tempo desconfortável bolha que Ronald foi para mim, mas quanto mais eu me esforçava, mais ficava claro para mim mesma que eu queria você. – Ela suspirou. – Eu me preparei para ser para você um divertimento e me convenci de que você seria minha distração. Mas... – Ela fechou os olhos. – Céus, Malfoy. Eu não esperava querer me entregar tanto. – O encarou novamente. Havia uma dor em seus olhos que o colocava em alerta. Ela ainda o negava. Queria que tivesse sido diferente. – Parece que todas as escolhas que fiz e que me trouxeram para onde estou agora estão, de alguma forma, ligadas a minha insistência em querer te desassociar das minhas vontades verdadeiras.

 

— Então quebre o ciclo. – Ele não conseguiu evitar.

 

Ela puxou o ar, mas não disse nada. Pareceu confusa.

 

— O que quer dizer? – Parecia genuinamente confusa.

 

Não era possível que ela não conseguia estar entendendo o rumo que estavam tomando.

 

— Me escolha. – Foi direto.

 

Ela processou e rapidamente o brilho confuso fugiu de seu olhar. Mas o que ele viu no lugar não o agradou.

 

— Malfoy. Do que está falando? Você não iria querer escolher a mim. – Ela ainda queria fugir.

 

Ele soltou uma risada falsa, começando a se irritar.

 

— Mas eu escolhi. – Será que ela não via? Tinha certeza de que ela via, mas queria fingir que não.

 

— Não. – Ela balançou a cabeça. – Está dizendo isso agora porque não viu o que os jornais iriam dizer, sobre o que sua família irá pensar, sobre o que isso significa para o seu trabalho e...

 

— Hermione! – Ele a cortou irritado e chama-la pelo primeiro nome fez com que ela engolisse as palavras e o encarasse surpresa. – Essa é você! É você quem está se preocupando com o que os jornais irão dizer, sobre o que minha família irá pensar e sobre o que isso irá significar para o seu trabalho, sobre o que seus amigos vão pensar! Eu acabei de beijá-la na frente de quantas pessoas mesmo? Eu não me importo. Não me importo com o que os jornais dizem sobre mim ou sobre minha família desde o fim da guerra. Meus pais não ditam minhas escolhas e meu trabalho não tem absolutamente nada a ver com minha vida pessoal.

 

Ela pareceu congelada por alguns bons segundos até mostrar que talvez fosse dizer algo duas ou três vezes. Mas acabou desistindo e desviando olhar. Ele soltou o ar irritado. Levantou-se.

 

— Malfoy, por favor... – Ela soltou quase que como um pedido de desculpas ao notar que ele havia perdido a paciência. – Precisa entender que você...

 

— Que eu nunca fui parte do seu futuro perfeito. – Ele terminou para ela. – Nem você foi parte do meu. Mas veja só onde estamos, não é mesmo? Entenda você, que eu estou me dando a chance de não ser ou fazer o que o mundo espera que eu faça ou seja.

 

Ela mordeu os lábios parecendo estar sofrendo pela agonia de estar sendo puxada de todos os lados e parecendo confusa que ele não estivesse no mesmo dilema. O que ela não entendia era que ele já havia passado por aquilo fazia tempo. Tudo sobre ele havia sido massacrado descontruído e construído durante e depois da guerra.

 

— Por que parece tão fácil para você? – A pergunta dela expressava sua incapacidade de enxergar justamente aquilo.

 

— Não existe nada fácil sobre mim ou você, não tenho mais o tamanho do orgulho e da honra por reputação como você tem. – Soltou sem qualquer pena. Já estava completamente sem paciência e ver que ela ainda resistia mostrava o quanto ele estava apenas gastando sua energia em vão. Balançou a cabeça. – Tem uma cama no andar de cima. Pode usar uma das minhas camisas se quiser. Sirva-se. – Findou e deu as costas a ela deixando-a para ir a varanda sentiu o vento de perto o frio do início de inverno.

 

Ficou ali o que julgou horas. Sua cabeça ia para todos os lugares. Debateu consigo mesmo o que estava fazendo ali, porque gastava tanto de seu tempo com ela se sabia que era muito mais fácil ser quem era sem ela, esperar pelo noivado que viria mais cedo ou mais tarde empurrado pelos seus pais. Granger teria que lidar com a facada que os jornais dariam em seu orgulho no dia seguinte, ela se tornaria fofoca, assim como ele, mas ele não se importava. Já havia passado por aquilo tantas outras vezes que mais uma não sequer lhe comovia. E ainda assim não era o suficiente para ela dar as costas ao fascínio que tinha em querer ter o futuro que planejara para si mesma. Um que ele não fazia parte.

 

Inclinou-se contra o parapeito de madeira maciça encarando a noite escura e o penhasco do outro lado da varanda. Queria ir embora, mas queria ficar. Queria abandoná-la, mas não conseguia. Deus. Aquela mulher o fazia querer arrancar os próprios cabelos. O frio parecia um bom companheiro para acalmar seus próprios nervos. Não havia um momento de sua história com Hermione Granger onde não vivia extremos. Ele só a queria. Só isso. Porque parecia demais quando colocado contra a realidade?

 

Não se deu conta de quanto tempo passou quando ela empurrou a porta que separava a varanda e apareceu. Ele virou-se para vê-la descalça, vestindo uma das antigas camisas de algodão do guarda roupa que ainda tinha ali, tentando se cobrir com o cobertor de pele que entregara a ela mais cedo. Eles se encararam no silêncio e ela encostou o rosto contra a porta que ainda segurava, tentando evitar pisar do lado de fora. Os olhos dela estavam vermelhos. Tinha chorado mais e isso o irritava porque sabia que ela destruía a si mesma tentando se agarrar aquele mundo idealizado que montara em sua cabeça, um que era contrário ao que queria de verdade.

 

— Durma comigo, Malfoy. – Ela pediu numa voz suave e ao mesmo tempo fraca. – Por favor.

 

Ele soltou o ar. Queria chama-la do pior nome possível, mas ao mesmo tempo se viu completamente entregue ao pedido dela. Era perceptível que ela precisava dele, que o queria, que não conseguia fugir disso, e vê-la daquela forma o desmontava por inteiro. Foi até ela e cercou seu corpo, unindo os seus. Beijou sua boca com calma, abrindo caminho por entre seus dentes, tocando suas línguas com paciência apenas para sentir o prazer que os beijos dela causavam em suas entranhas. Sentiu-se acolhido por ela. Inferno. Por que, de todas as mulheres, logo ela?

 

Assentiu assim que se afastaram. Subiu até o mezanino com ela, tirou o cinto de zua calça, desfez-se dos sapatos, tirou sua camisa e deitou-se com ela na cama grande e acolhedora. Debaixo das pesadas camadas de pele e cobertores seus corpos se ajustaram um contra o outro, suas pernas se entrelaçaram uma na outra e seus rostos se uniram de modo a poderem sentir a respiração um do outro. Draco fechou os olhos e limpou sua cabeça. Fingiu que ela era completamente sua ali, que não precisava viver a ansiedade de saber que ela sabia escorregar por entre seus dedos. Fingiu que ela não iria para lugar nenhum que não fosse seus braços.

 

Dormiu. Quando acordou com a luz forte do dia o fazendo ter que cerrar os olhos ao abri-los a viu de costas, encarando a vastidão da vista das montanhas que tinha pela grande janela oposta a cama. Ele quis ir até ela, abraça-la por trás, sentir o calor do corpo dela, assim como havia sentido toda aquela noite. Mas de alguma forma, sabia que nada entre eles estava resolvido. Colocou os pés para fora da cama sentando-se, cobriu o rosto apoiando os cotovelos em cada perna. Tentou esfregar para longe de sua aparecia a sonolência e passou os dedos pelos cabelos tentando ajeitá-los.

 

Granger se virou notando que ele havia acordado. Ele viu os olhos vermelhos dela mais uma vez. Ela abraçava o próprio corpo e tinha um brilho de culpa nos olhos. Sabia bem que decisão ela havia tomado e ele, mesmo que preparado para ouvi-la, não estava pronto. Eles se encararam por um bom tempo.

 

— Ah, Malfoy... – Ela soltou e seus olhos se encheram de lágrimas muito rapidamente. – Não consigo parar de deixar de pensar que somos errados.

 

Ele soltou o ar frustrado. Sim, eram errados porque o futuro ideal montado pela cabeça dela estava longe de passar perto dele.

 

— Ainda assim, não consegue parar de nos querer. – Ele rebateu.

 

Ela fechou os olhos. Parecia extremamente cansada. Batalhava com sua mente desde o dia anterior.

 

— Eu não sei seguir nada que não seja a razão. É quem eu sou. Não posso me entregar a uma vontade.

 

— Você já se entregou, Granger.

 

— Por isso preciso concertar esse erro. – Ela disse de uma vez e ele sentiu o soco no estômago das palavras dela.

 

Sentiu a saliva amargar em sua boca.

 

— Ótimo. – Levantou-se. – Vá em frente e tente.

 

Vestiu-se novamente. Disse a ela que podia ficar quanto tempo quisesse e foi embora detestando e amando aquela mulher ainda mais intensamente.

 

 

 

***

 

 

 

A música dos violinos ao fundo irritava-o profundamente. Mas ali estava ele, vestido formalmente, carregando uma bela mulher para cima e para baixo na recepção de investidores e convidados formais que sua família dava anualmente. Aquela em particular era uma especial. Teria que anunciar seu noivado com Astória Greengrass e não estava nem minimamente que fosse esperando pelo momento que teria que fazer isso. A mulher, do contrário, sorria como nunca havia na vida. Uma parte até considerável da sociedade bruxa já sabia que o noivado seria oficializado ali, mas ele ainda relutava com a ideia de que aquilo era oficial, por mais que soubesse que não havia outro futuro que não fosse aquele para ele. Não que não gostasse de Greengrass. Ela era a mulher perfeita. Era cuidadosa, educada, elitizada. Havia nascido para ser uma Malfoy. Mas sabia bem que aquele momento seria um divisor de águas e sua liberdade estaria para sempre comprometida depois daquele dia, daquele casamento.

 

Encarou a chuva constante que batia contra as janelas e o fim de manhã nublado do lado de fora enquanto escutava a uma tediosa conversa desenrolando-se no círculo social que se encontrava. Tentava convencer a si mesmo de que aquele era apenas mais um daqueles sacrifícios que fazia para reerguer o nome de sua família. Havia levado tempo, mas finalmente, depois de anos, haviam recuperado o orgulho e a influência massacrado pelas escolhas erradas que fizeram durante a guerra. Uma guerra que parecia extremamente distante agora.

 

Sua mãe passou por ele com um sorriso forçado e sussurrou para ele que prestasse atenção nos convidados e que melhorasse as escolhas que fazia sobre quem dava mais atenção, por ordem de seu pai. Draco apenas forçou um sorriso de volta. Sentia-se entediado. Era o que boa parte de sua vida havia se tornado. Um grande e enorme tédio. Não podia errar em suas escolhas para continuar a manter o nome da família em boa média. Era difícil ser um Malfoy. Tinha saudade de quando sua reputação não era das melhores. Tinha saudade da liberdade.

 

Foi enquanto passava os olhos pelo salão da mansão de sua família que viu a figura de Hermione Granger entrando no saguão, passando seu casaco para o homem da recepção, vestida num elegante longo preto, como se estivesse de luto por algo. A postura inabalável da mulher a acompanhava como sempre. Draco sentiu seu estomago pesar e quase que instantaneamente suas mãos ficaram úmidas.

 

Não.

 

Não. Não. Não!

 

O que ela estava fazendo ali?

 

Tocou a mão de Astória em seu braço para ter a atenção dela.

 

— Querida, poderia esperar aqui só momento? – Pediu e Astória logo se mostrou preocupada, talvez estivesse vendo que a cor havia deixado seu rosto.

 

— O que foi? O que está acontecendo?

 

— Nada. Apenas preciso verificar algo. Fique aqui. – Disse e deixou a mulher. Atravessou o salão passando pelos convidados, desceu as escadas até o foyer de entrada e estendeu a mão num sinal de ‘pare’ ao recepcionista que se direcionava para ir guardar o casaco de Granger. – O que está fazendo aqui, Srta. Granger? – Perguntou quando ela notou que ele se aproximava. – Sei que está na lista formal da minha família, mas essa é uma recepção privada só para convidados. Preciso pedir que se retire. – Foi frio. Só sabia ser frio com ela. Era a única proteção que tinha.

 

Ela sorriu um sorriso desanimado.

 

— Lamento que não tenha sido informado, Sr. Malfoy, mas seu pai me convidou. É uma ótima forma de mostrar ao público que sua família finalmente está em um relacionamento saudável com os tribunais. – Ela informou e se aproximou. – Mas nós dois sabemos bem porque ele quis que eu estivesse aqui, não é mesmo? – Disse apenas para ele. – Não perderia por nada no mundo. – Foi irônica e pegou uma taça de bebida da mulher que se aproximou para servi-la. – Obrigada. – Ela agradeceu, forçou mais um sorriso e passou por ele, subindo as escadas para o salão.

 

Draco soltou o ar tentando não mostrar o fato de estar irritado com a surpresa que seu pai havia acabado de lhe proporcionar. A implicância era nítida, mesmo depois de passar tantos anos sacrificando seu tempo e suas vontades para a boa reconstrução do nome Malfoy. Trocou um olhar com o recepcionista, que informou com receio de que o nome dela estava na lista.

 

— Draco! – Astória se aproximou. Havia cruzado com Granger e a reação dela não havia sido nada agradável. – O que ela está fazendo aqui?

 

— Meu pai quer provar a mídia que a família está com uma boa média nos tribunais. – Respondeu não querendo ter aquela discussão com a noiva.

 

— Eu a quero longe daqui. – Exigiu num tom baixo e quase severo.

 

— Eu também. Mas não temos essa escolha. Sinto muito. – Passou a caminhar de volta para o salão.

 

— Precisa fazer algo. – Astória apressou-se a insistir. – Tem que fazer algo, Draco. Eu não a quero aqui!

 

Ele parou e voltou-se para a mulher com uma postura firme. Conhecia bem a personalidade mimada de Astória Greengrass e não estava disposto a dar corda para aquela discussão.

 

— Terá que lidar com o fato de que sua vontade não será feita. – Foi sério. – Fim. – Expressou que não discutiria mais sobre aquilo.

 

A mulher se mostrou relutante de inicio, mas logo viu que Draco não estava disposto a fazer sua vontade e como não ousaria arriscar o grau de relacionamento que tinha com ele, não insistiria. Astória faria tudo para não perdê-lo, até mesmo abrir mão de ser irritantemente mimada.

 

Voltou a passear pelo salão, como se mostrasse a bela mulher que carregava pendurada em seu braço como um prêmio. Sorriu para investidores, discutiu com afiliados, desenrolou discussões, apresentou Astória para o público, fez seu papel. Seu olhar não conseguia evitar sempre procurar por Granger, em seu bem alinhado vestido preto, exibindo soberania sem o pudor de esconder as mais belas curvas de seu corpo.

 

Fazia alguns anos desde que tiveram que lidar com a pressão da mídia sobre a polêmica que causaram quando ele a beijou em público logo depois da sua controversa quebra de noivado com Ronald Weasley. Foi um tempo difícil para ela, mas ele teve que observá-la de longe por insistência dela. Depois de um caso escondido com ela, que talvez não chegou a durar nem mesmo um ano, ele se vira ter que regredir para o passado, onde só podia observá-la e nada mais. Só que dessa vez havia sido muito pior, porque a experimentara e não havia nada pior do que sofrer da abstinência que ela lhe causava.

 

Havia sido pesado. A carreira dela ficou extremamente fragilizada com seu nome rondando fofocas e rumores sobre uma possível traição com ninguém menos que Malfoy enquanto estava claramente noiva de Weasley. A Corte Superior a afastou de vários casos para preservá-la e ela precisou esperar toda o interesse da mídia para com sua vida pessoal passar para poder reerguer sua carreira. Seu nome havia sido manchado. Seu imaculado nome adorado pelo mundo inteiro como o cérebro que derrubou Lorde Voldemort. Granger não abriu a boca para a mídia, assim como ele não ousou uma vez mencionar o nome dela em público. Weasley foi mais idiota e fez declarações polêmicas e infantis colocando lenha na fogueira e tentando manter a discussão pelo máximo de tempo possível, como se quisesse e gostasse da visibilidade, mas eventualmente, o público perdeu o interesse e eles puderam seguir suas vidas.

 

Hermione Granger passara a ser reconhecida como a mão de ferro da presidência do departamento de demandantes. Ela estava longe de viver o mundo ideal que sempre quisera. Tinha uma relação de amor e ódio com a mídia que hora a glorificava, hora a difamava. Tinha inimigos dentro do Ministério e sua postura orgulhosa nem sempre passava a melhor das atitudes. Mas algo ninguém negava, não havia mulher como ela no mundo inteiro.

 

Mas como o bom observador que era, sabia que ela estava sufocada. Absolutamente sufocada com a escolha que havia feito de tentar ser perfeita. Queria saber quem era o remédio dela, onde ela buscava alivio. Porque sabia que ela precisava. havia sido o escape dela e a forma como ela completamente se desfazia em vulnerabilidade com ele era prova de que era extremamente necessitada de possuir uma fuga do mundo claustrofóbico na qual ela mesma se colocava. Era a prior crítica de si mesma. Havia se perguntado algum tempo atrás se esse escape havia se tornado Harry Potter, pelos rumores que a mídia andara levantando, mas Ginevra Weasley veio a público defende-la com unhas e dentes, algo que apagou o fogo da mídia com rapidez. Por mais que se questionasse, duvidava que ela conseguia se entregar a alguém da forma como havia se entregado a ele. Hermione Granger era inegavelmente bela, a mídia só queria especular sempre qual homem que poderia estar aos seus pés. Ele muitas vezes acabava comprando a narrativa em seu interesse insuportável pela vida da mulher.

 

A verdade era que agora, tudo o que tinham para se proteger desse passado era a frieza e a formalidade com a qual se tratavam, mas carregavam o segredo do que já haviam vivido nas entrelinhas. Quase tiveram recaídas, mais de uma vez, não podia negar. Mas do mesmo jeito que ela era irritantemente teimosa, ele também não queria arriscar viciar-se nela novamente. Tentava até hoje desintoxicar-se dela e ainda era um trabalho árduo. Momentos como aquele, era uma clara provocação de seu pai, chamando para a oficialização de seu noivado a mulher que ele abertamente havia defendido dentro de sua casa quando os rumores apareceram do possível relacionamento deles. Seu pai a detestava, ele não iria perder tempo de jogar contra ela a prova de que nunca teria seu filho, mesmo que ela já tivesse optado por realmente não o ter.

 

Mas se seu pai realmente soubesse o quanto a presença dela piorava tudo, não teria mesmo a chamado. As mãos dele suavam gradativamente a medida que os minutos se passavam. A introdução de sua mãe começou e ele começou a pensar que era loucura que estivesse sentindo como se não existisse oxigênio suficiente no ar que respirava. Não poderia voltar atrás depois daquele dia. Não haveria outra saída depois de um casamento. Havia se preparado quase a vida toda para aquele momento e mesmo assim, sentia que estava prestes a ir ao matadouro. Viu as taças de espumantes serem distribuídas. Sua mãe deixou de falar e ele soube que aquele era seu momento. O momento que tomaria a frente, pediria atenção e chamaria Astória para se juntar a ele. Era como se todo o salão já esperasse.

 

Ele se viu travado. Segurava sua taça e sabia que o sorriso de Astória morria a cada segundo que se passavam e ele não saia do lugar. Viu seu pai sair de onde estava para tomar a frente. No caminho que seus olhos fizeram o seguindo, acabou por encontrar Granger. Não muito longe. Taça na mão. Postura orgulhosa, mas os olhos cheios de dor. O brilho que havia nos olhos dela denunciavam lágrimas e ele quis enfiar as unhas contra a palma de sua mão ao ver a expressa vulnerabilidade naquele olhar cravado nele da mesma forma como cravava os seus nos dela.

 

— Meu filho, Draco, tem um anuncio a fazer a todos! – Seu pai apressou-se, tomando a frente e chamando a atenção de todos. – Draco! – Tentou chamar a atenção do filho.

 

Draco ainda teve tempo de ver uma lágrima solitária escapar do olho da linda mulher de ferro ali, não muito longe dele, tentando mostrar-se forte, mas vendo-se inevitavelmente vulnerável. Ela a limpou com rapidez e virou a taça de espumante, como se precisasse do álcool para confortá-la. Ele desviou o olhar até seu pai e percebeu que boa parte do salão tinha a atenção voltada para ele.

 

— Sim, tenho um anuncio a fazer. – Pronunciou-se. – Estou indo embora. – Deixou sua taça, passou os olhos por Astória congelada ao seu lado e disse que sentia muito, embora realmente não sentisse. Deu as costas e atravessou o salão sentindo como se um enorme peso estivesse deixando seus ombros.

 

— Draco! – Seu pai exigiu por atenção em seu tom severo de sempre. – O que está fazendo?

 

Virou-se rapidamente apenas para dizer:

 

— Comprando minha liberdade. – E continuou seu caminho sem se importar com todo o murmurinho que levantava e com toda polêmica que seguiria.

 

Sim, ele foi para a chuva. Era o único caminho para sair da propriedade e poder aparatar bem longe dali. Ele quis gritar de alívio ao sentir as gotas geladas o encharcar. Estava fugindo do seu regime de escravidão, da vida que iria o sufocar, da família falsa que teria. Atravessou o pátio para os portões da propriedade sentindo o sabor da liberdade em sua garganta sabendo que pouco se importaria com o que quer que tivessem a especular sobre sua vida depois daquele evento.

 

— Malfoy! – Foi quando escutou de longe a voz dela por cima do som da chuva.

 

Parou. Soltou o ar e fechou os olhos cerrando os punhos e os dentes.

 

— Você não. – Murmurou para si mesmo. Virou-se para ter a imagem de Hermione Granger atravessando o pátio até ele debaixo da chuva, com as sandálias em uma mão enquanto a outra segurava a saia do vestido. – Como ousa! Como ousa vir atrás de mim! Como ousa vir até aqui! Como ousa derramar uma lágrima!

 

— Pensei que pudesse assistir! – Ela se justificou claramente aflita. Parou logo a frente dele. – Pensei que te ver anunciar para o mundo que existia uma mulher que deitava em sua cama, que dormia ao seu lado, que tinha o seu tempo e sua atenção e que não era eu, me faria ter a certeza que estava me faltando de que havia feito a escolha certa em abrir mão de você.

 

Ele poderia rir se não estivesse com raiva.

 

— Você é tão cega, Granger.

 

— Eu sei! – Ela pareceu chorar, visivelmente frágil.

 

— Então o que quer? – Perguntou. Ela apertou os lábios hesitando. Ele quis rir outra vez, mas se viu ainda mais furioso. – O QUE QUER?

 

Ela fechou os olhos assuntando-se com o tom dele, travando os músculos. Pareceu buscar forças de algum lugar muito profundo dentro de si para finalmente derrubar a barreira de seu orgulho e encará-lo novamente.

 

— Dizer que eu tive medo! – Vomitou para ele. – Dizer que nunca ninguém foi capaz de me desestabilizar como você, de me fazer sentir como se não houvesse mais nada no mundo que não fosse nós quando nossos corpos estavam unidos, de me fazer esquecer sobre autocontrole, sobre sanidade, sobre tudo. Tudo que me sufocava, tudo que me cercava. Você não era meu remédio, era minha liberdade. Não havia um momento em que eu me sentia no controle quando me desafiava e... Céus. Eu tive medo. Porque você sabia exatamente como me tirar o controle. – Ela soluçou. Os olhos vermelhos. Parecia estar admitindo aquilo para si mesma pela primeira vez em voz alta. – Minha razão me alertou e eu tive que fugir. Pensei que estava me preservando, mas eu estava me destruindo porque não houve um momento, nem um minuto sequer, depois de ter te dado as costas em que não precisei desesperadamente de você. – Ela mordeu os lábios. Fechou os olhos e balançou a cabeça. – E eu... Eu sou tão... Tão...

 

— Teimosa. – Concluiu para ela. Granger abriu um sorriso triste e assentiu tornando a encará-lo.

 

Ah... Maldita mulher! Por que havia demorado tanto tempo para que ela finalmente enxergasse?! Tudo dele pareceu se desfazer ao vê-la tirar a venda dos próprios olhos. Era como se finalmente pudesse se render a figura perfeitamente sedutora a sua frente, completamente molhada, aberta, disposta, porque antes tinha que lutar para erguer uma enorme barreira entre ela e ele para poder ter a chance de vencer o efeito que ela lhe causava. Não precisou nem mesmo dar o comando ao seu cérebro, apenas venceu a distância que os separava, segurou seu rosto e uniu sua boca na dela.

 

Deus do céu! Quantas eternidades haviam se passado desde a última vez que tivera a chance de sentir a boca da única mulher que tirava dele o ar? Abraçou sua cintura trazendo o corpo dela para junto do dele e ela cercou o pescoço dele com os braços enquanto eles provavam da boca um do outro naquele beijo molhado sabendo bem que estavam servindo de entretenimento para os curiosos de dentro da mansão. Sabendo bem da polêmica que estavam começando.

 

— Sei que é tarde. – Ela afastou suas bocas minimamente. - Mas eu exijo que me deixe te escolher, porque você só pode ser minha única escolha certa.

 

Teve que rir.

 

— Tem o maldito de um orgulho assustador, Granger. – Ele a alfinetou diante daquela exigência.

 

Ela riu e soluçou. Encostaram as testas. Tudo parecia fazer sentido naquele momento. Até mesmo a chuva que lavava seus corpos e os dedos que ela escorregava pelos seus cabelos molhados.

 

— Não quero te perder. – Admitiu ela.

 

— Não acredito que irá depois de ter, sem sucesso, tentado com tanto afinco. – Ironizou ele.

 

Ambos riram, suas bocas se uniram mais uma vez e o mundo finalmente pareceu entrar na órbita perfeita.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Sim, senhoras e senhores. NA CHUVA! Mais romântico e clichê não poderia ser. Hahaha Por fim, um final incomum para os meus estilos de Dramione. Espero poder ter proporcionado satisfação aos coraçõezinhos de todos vcs. Deixem um comentário para dar força e digam se estão gostando das histórias. Prometo trazer one-shots mais curtinhas. Por enquanto está saindo só essas short-stories. Obrigada a todos que estão comentando e votando. Não deixem de compartilhar se gostaram e acham que mais gente também deveria ler!



Pra quem quer saber, Cidade das Pedras está 80% finalizada. Logo, logo sai o último capítulo. Aguardem só mais um pouco. Obrigada pela paciência.



Vejo vcs na próxima!



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