SOBRE A ROSA E OS ESPINHOS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 2
Sobre o Segredo




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Ele teria imaginado tudo diferente, e se o perguntassem, ele diria, honestamente, que teria imaginado mesmo tudo diferente. Que havia imaginado sua graduação em Hogwarts durante um verão quente e colorido, que havia se imaginado tomando o posto de todos os negócios da família, sentado na majestosa cadeira de couro do escritório principal da mansão Malfoy ao lado de uma mulher linda, inteligente, de sangue puro com filhos famosos dotados de orgulho e prepotência, assim como ele. Mas o que ele não esperava era que na verdade haviam boatos de que seria uma guerra. De que as pessoas deveriam se esconder, se proteger, fugirem para lugares seguros. Que uma guerra contra o Lorde das Trevas seria devastadora, que não haviam chances de ganhar dele. Quer Harry Potter poderia ser a única esperança, que ele era o escolhido, o eleito.

A verdade era que haveria sim uma guerra e ela duraria muito porque todas as esperanças que Draco tinha de sequer ponderar sobre o futuro que se imaginara haviam ido por água a baixo no momento em que ele viu seu pai entrar em casa naquele primeiro dia de verão após seu quarto ano. Ele se lembrava claramente da apreensão que sua mãe carregava e então tudo desmoronou quando seu pai arregaçou a manga das vestes, mostrou a marca negra viva tatuada em seu braço e disse: Ele voltou.

Draco não conhecia Voldemort. Tudo que sabia sobre ele vinham de velhas histórias contadas pelos outros. O nome do que eles chamavam de Mestre agora, fora proibido dentro de sua casa por toda a sua infância e se lembrava de que por um bom tempo até achou interessante a ideia de alguém poderoso e temido por todos. Queria ser esse alguém, mas era apenas uma ideia estúpida de uma criança mimada. Draco sempre soube que ser alguém ruim poderia salvá-lo de muitas coisas. Mas não bastava ser apenas ruim, tinha que ser ruim e poderoso e a história de sua família sempre havia lhe mostrado que ser poderoso não era problema para alguém que carregava o sobrenome Malfoy. Era o que o seu pai havia lhe ensinado. Afinal, Azkaban estava mais cheia de inocentes do que culpados. Sua tia Bellatrix era um bom exemplo disso.

Ele se apoiou nessa ideia quando toda a avalanche da notícia sobre Voldemort veio a tona. Nada de ruim nunca aconteceria com um Malfoy. Mas então ele viu seu pai ser carregado para Azkaban e aquilo o destruiu. Foi quando Voldemort aproveitou para se aproximar. Na verdade ele já havia, o ofídico sempre teve um interesse curioso em relação a sua pessoa. Desde que havia retornado espalhavam-se rumores entre os comensais de que o mestre tinha planos grandes para o menino Malfoy e realmente tinha. Quando seu pai foi preso Voldemort se aproximou dele e lhe contou todo o futuro que tinha planejado para ele. Poder, soberania, conhecimento, força. Só havia um preço a se pagar por tudo isso e esse preço era: matar Dumbledore.

Era demais para Draco. Bastava para ele apenas alguns meses para se tornar maior de idade e Dumbledore era um bruxo experiente de sabe-se lá quantos milhões de anos! Era idiotice achar que poderia matar Dumbledore, mas pelo seu próprio bem ele ao menos tentaria. Tinha um plano em mente, mas ele era demasiado difícil de ser executado, portanto havia bolado algumas escapatórias. Teria que ser esperto, inteligente, burlar as regras de segurança de Hogwarts nunca fora tão difícil como seria com o mundo daquele jeito.

O que ele realmente não esperava – ao menos não naquele nível - é que a escola inteira o olhasse com desgosto. A maioria de seus colegas não, ainda era exaltado por eles já que muitos gostariam de se tornar comensais, mas o restante da escola o olhava com tanto desprezo que um ódio crescente o domou desde o primeiro dia em que colocou os pés de volta naquela maldita escola.

Observações foram feitas a partir dos alvos em que deveria manter constante guarda. Potter e sua trupe continuavam patéticos e andando como se não soubessem o caminho que estavam seguindo. Conseguiria distrair bem aquele imbecil. Deveria tomar um pouco mais de cuidado com a garota Granger e seu cérebro extraordinário, mas nada muito difícil, se focasse em manter Potter distraído, nada de importante chegaria aos ouvidos da menina prodígio. E foi assim que ele trabalhou no começo.

Parecia fácil. Não era. Parecia simples. Não era. Ele também achava que era capaz. Mas no fundo sabia que não era. Era um Sonserino, era um covarde, sabia comprar pessoas, sabia reconhecer mercenários, sabia ser influente, sabia usar seu poder, mas executar tarefas como a que Voldemort havia lhe passado era definitivamente algo que ele sabia que jamais seria capaz de fazer. E era nos momentos em que se permitia admitir isso que ele se via como estava agora: miseravelmente largado com uma garrafa de álcool como companhia.

Tinha a vista inteira dos jardins e do lago de Hogwarts. O álcool o fazia ter a sensação de que sua cabeça flutuava e por alguns momentos ele até gostava de acreditar que estava voando. Ali, sentado no dente largo do nicho do lado de fora da larga janela de uma das sessões de armazenagem do salão principal onde Slughorn dava uma bela festa de inicio de outono ele se refugiava com uma garrafa de álcool que um mercenário quartanista havia roubado da sala do novo idiota professor de poções. Pensava em tudo aquilo e se permitia se julgar miserável. Pagava pelos erros do pai.

Ficou surpreso quando a porta do lugar que ele havia trancado se abriu e fechou num ato muito brusco. Desviou seu olhar para o lado de dentro e viu uma garota de movendo com pressa em seu maravilhoso vestido de festa até chegar a parede de pedras a sua frente onde ela pôs a mão, encurvou a cabeça e começou a soluçar. Draco revirou os olhos. Era só o que faltava.

Pensou em se manifestar falando para a garota ir procurar outro lugar para se refugiar porque aquele ali já estava ocupado, mas então ela se virou e ele viu o rosto de Hermione Granger segundos antes dela o cobrir com as mãos e encostar as costas contra a parede.

Ela não tinha o visto ali em cima e talvez nem veria com as emoções que a ocupavam naquele momento. Draco apenas levou sua garrafa de álcool até a boca enquanto observava aquela cena interessante. Queria encontrar prazer em ver a prodígio sabe-tudo sofrer, mas ultimamente nada mais para ele tinha graça ou o poder de animá-lo.

— Escolha Potter, Granger. – Ele se viu dizer e no momento em que sua voz ecoou pelo local ela tomou um susto tão grande que quase tropeçou nos próprios pés ao dar um passo para longe.

Os olhos dela mapearam o lugar com pressa e encontraram Draco Malfoy logo acima sentado na janela. Ela colocou a mão sobre o coração como se pudesse acalmá-lo daquela forma e soltou o ar não deixando de ficar surpresa por encontrá-lo ali.

— Malfoy. – A boca dela disse e não havia desprezo, apenas alívio por saber que não era ninguém como Voldemort.

— Eu disse: Escolha Potter. – Repetiu ele.

Hermione pareceu confusa e somente depois de alguns segundos em silêncio que ela pronunciou:

— O que?

Ele revirou os olhos. Para alguém tão inteligente, ela deveria ter feito as conexões devidas de maneira bem mais rápida.

— Vamos lá, Granger. Hogwarts inteira sabia que esse dia chegaria. Potter, Weasley e Você. Potter e Weasley brigando por você e você confusa por não saber qual dos dois quer de verdade. – O silêncio durou um pouco enquanto ela o encarava como se estivesse se perguntando como ele sabia sobre aquilo. – Escolha Potter. – Finalizou mais uma vez.

Ela ficou em silêncio.

— Por que? – perguntou finalmente e Draco soube que havia acertado em cheio o motivo dos lamentos dela ali.

— Porque Weasley é um idiota. Potter também, mas Weasley consegue ser mais. Além do mais, Potter consegue ser mais reservado o que faz com que as pessoas acreditem que teve boa criação e é educado por um tempo maior do que Weasley. Weasley tem suas manias de pobre. Gosta de falar alto e fazer escândalo. E também pelo que sei, sua relação com Potter é mais saudável do que sua relação com Weasley. - Terminou ele.

Ela pareceu absorver tudo aquilo como se metade fosse besteira mas a outra metade muito considerável. O silêncio durou um bom tempo antes dela se manifestar novamente.

— Gosto dos dois, mas não como-como... – ela disse baixo mais para ela mesmo do que para os dois deixando sua voz morrer.

— Isso significa que na realidade não gosta de nenhum. – Ele comentou virando um gole de sua bebida.

— O que você entende sobre isso, Malfoy? – debochou ela levantando o olhar para ele novamente. – Aliás, o que está fazendo aqui?

— O mesmo que você. – respondeu.

— Então do que está fugindo? – ela levantou a sobrancelha.

No momento em que Draco quase abriu a boca para responder, conseguiu parar e finalmente se perguntar o porque estava conversando com Hermione Granger. Só podia mesmo estar bêbado. Olhou para a garrafa em sua mão e fez o fundo dela bater contra uma pequena pedrinha a fazendo rolar e cair precipício abaixo. Olhou Hermione de onde estava e se questionou se poderia se dar a chance de agir sem compromisso pelo menos uma vez durante aquele ano. Desistiu logo em seguida.

— Vá embora, Granger. Consegui o lugar primeiro. – Viu-se a expulsando.

Ela ficou em silêncio. Não se moveu. Pareceu debater consigo mesmo em silêncio por alguns segundos e desviou seu olhar para a porta como se estivesse cogitando se não seria melhor mesmo sair dali. Talvez aquela idéia a aterrorizasse porque foi exatamente quando ela começou a se mover devagar para próximo dele.

— Não vou saiu por aquela porta enquanto essa festa estúpida não acabar. É melhor ir se acostumando com a ideia de que terá que dividiu o refúgio, Malfoy. É só fingir que não estou aqui. – Ela foi decisiva no que disse mostrando que não interessava o quanto ele fosse ofendê-la para que saísse.

Ao pé do primeiro degrau de pedra ela se apoiou na parede e tirou os sapatos passando a carrega-los na mão. Puxou as saias longas de seu vestido e subiu o primeiro degrau, o segundo e o terceiro chegando ao patamar da enorme janela. A luz da lua a iluminou lindamente mostrando o vestido bonito que usava. Granger estava no caminho para ser uma mulher forte e invejável. Tinha que aceitar aquilo.

Ele curiosamente apenas continuou a observá-la. Como que se estivesse hipnotizada pela enorme vista dos jardins, os pés dela deslizaram passando pelo friso da enorme janela. Ela encarava o lado de fora e de alguma forma parecia estranha. Chegou perto do precipício e olhou para baixo. Seu peito subiu e desceu e então de repente ela deu um passo para trás e sua mão se fechou ao redor da haste de ferro que servia para manter firme os vitrais da parte de cima. Então ele entendeu.

— Tem medo de altura? – sua voz saiu numa pergunta. Ela pareceu se lembrar de que ele estava ali e abaixou o olhar para encará-lo. Assentiu discretamente. – Então é mesmo louca por ter voado daqui até Londres num animal que não pode enxergar final do ano passado. – Terminou e virou mais um gole de álcool. A bebida queimou sua garganta e bateu quente em seu estômago. Ele gostava daquela sensação.

— Ainda não tem idade para ingerir bebida alcoólica. – Hermione comentou depois de alguns segundos. – Não pode ter isso aqui na escola. Onde conseguiu essa garrafa?

Ele riu achando graça de como ela não deixava nunca de ser a monitora Hermione Granger sabe-tudo e seguidora das leis.

— Vai tirar ponto da minha casa por isso? – riu. – Vá em frente. Não me importo.

— Deveria. – Aborreceu-se ela.

— Sei que deveria. – disse ele. – Acha que gosto de não me importar? Queria eu poder me importar apenas com coisas insignificantes como essa. – Seu peito doeu do jeito estranho que costumava doer quando lembrava de tudo que o perseguia nos últimos dias. Desviou o olhar e virou mais um gole.

Ela ficou em silêncio por muito tempo. Aos poucos conseguiu soltar a barra de ferro e se encostar do lado oposto de modo que pudesse encará-lo de frente. A saia de seu vestido movia-se calmamente assim como seus cachos largos e soltos eram levantados pelo vento algumas vezes. Sua respiração era lenta e chamava atenção para o colo de seu pescoço que subia e descia mostrando a simples peça de joia que usava.

Os minutos voaram em silêncio. Depois de passado alguns deles, Draco e Hermione se viram encarando um ao outro naquele claro da noite com o som abafado da música que tocava do lado de dentro do salão de fundo. Ele podia ver nela o turbilhão de perguntas que tinha para fazer, mas ela se continha. Parecia ter medo. Era bem o que todos tinham com relação a ele desde que as noticiais sobre o seu pai vieram a tona. Draco sempre havia sonhado com o dia em que as pessoas o olhassem com temor para que ele pudesse expressar seu poder e sua soberania, mas agora que os tinha sabia que não havia poder algum em suas mãos. Era tudo uma farsa.

— Quer? – ele ofereceu a garrafa. Ela negou com a cabeça em silêncio.

Nunca haviam conversado. Nunca. A história dos dois até ali se resumia apenas a ofensas e rivalidade. Era completamente estranho que estivessem ali, quase que com preguiça de se ofenderem. Como se estivessem cansados demais com seus próprios problemas pessoais para se esforçarem em ser o que eram um para o outro: inimigos.

E sim, eram inimigos. Não somente uma rivalidade estudantil, mas eles eram lados opostos de uma guerra. Granger estava do lado de Potter e ele estava do lado que queria destruir Potter. A guerra estava cada vez mais forte, mais visível, mais tangível e seus papéis e posicionamentos eram tão claros que podiam sentir o clima que criava entre eles ali no silêncio. Dois lados de uma guerra, um de cada lado da janela.

— Você está diferente esse ano. – Ela acabou por comentar.

— Sei que é notável. – Ele replicou.

— Está trabalhando em algo grande, não está? – Ela foi mais fundo.

Saber que realmente estava fazia seu peito se apertar naquela dor estranha e nem um pouco bem-vinda novamente. Desviou o olhar.

— Sim. – disse e tomou outro gole precisando da sensação do álcool descendo sua garganta. – Tem me seguindo?

Ela hesitou, mas respondeu:

— Sim.

— Pensei que fosse só Potter.

Claro. Harry não era inteligente o suficiente para não se fazer ser notado.

— Sou mais esperta do que ele. – disse ela.

Draco teve que puxar o canto da boca num sorriso ao escutar aquilo. Era claro que ela tinha que se gabar de alguma forma. Levou seus olhos para ela que deu de ombros. Soltou um riso fraco. Ela apenas morder o canto dos lábios escondendo o um sorriso esnobe.

Ficou claro que os dois haviam acabado de consentir pacificamente a aquela breve e pequena sessão de confissão. O momento foi bem sentido e apreciado das duas partes. Concordavam com isso num silêncio bem compreendido. Até que ela acabou por soltar um logo suspiro, mostrando-se cansada.

— Olhe para nós, Malfoy. Fomos puxados um para cada lado dessa guerra que está por vir por aquilo pelo qual nos importamos e acreditamos. Eu por estar ligada a Harry e você com... – Hesitou - Sua família. – Ela não parecia exatamente saber como lidar com o que estava dizendo. Estava apenas parecendo vomitar uma sinceridade contida. – Esse é só o começo. As coisas vão ser longas e vão ficar mais feias, mas olhe para nós aqui, no começo, tão diferentes, e podemos ser honestos um com o outro, mesmo que em silêncio, sobre como isso poderia logo ter um fim. Sei que quer que isso acabe logo tanto quanto eu. – Sua expressão tornou-se triste. – É uma pena que essa guerra tenha que acabar com tudo que sempre quis e planejei. Pensei que a vida fosse ser tão diferente.

Beber daquelas palavras fez Draco sentir-se tão absurdamente e involuntariamente conectado a ela que quase a viu como uma aliada. Ela entendia. Granger pensava que tudo seria completamente diferente assim como ele. Ela havia feito planos assim como ele. Mas a guerra mudaria tudo.

Ergueu a garrafa e desencostou-se do seu lado para aproximar-se dela.

— Precisa disso. – Ofereceu a bebida.

A garota considerou hesitantemente. Encarou a garrafa na mão dele por alguns segundos enquanto ponderava severamente. Ele não entendeu o debate, mas não demorou muito para que ela estendesse sua mão e aceitasse a garrafa.

Hermione Granger virou a bebida num longo gole. Naquele momento a figura dela assumiu um tom tão fortemente desejável para Draco que cada detalhe dela pareceu combinar perfeitamente com alguma fantasia que um dia tenha se passado remotamente pela sua cabeça. As sandálias que ela tinha numa mão, a bebida em outra, o modo como as sobrancelhas dela se uniram sentindo a calor da bebida descer sua garganta. O pescoço longo que ele logo quis tocar, o colo onde o pequeno pingente de seu colar descansava, o singelo decote a cintura fina o bom gosto de seu vestido. Tudo. Pareceu um pacote completo. Um pacote que se conectava com ele, que entendia aquela guerra, que entendia as consequências, que compreendia o que estava por vir.

Encararam-se em silêncio dividindo aquele momento que nunca pensaram que aconteceria logo entre eles dois. Dividiram em silêncio a conexão que haviam feito, porque aquela guerra os separaria drasticamente. Pensar naquilo fez com que Draco quisesse que não acontecesse e pensar que não quisesse que fosse separado dela tão brutalmente o fez ponderar sobre como nunca nem mesmo tinham estado juntos.

Era uma pena.

Talvez.

Ela estendeu a mão devolvendo a garrafa. Ele estendeu a sua e tocou a dela propositalmente. O toque foi longo enquanto ele tomava posse do objeto novamente. Por que estava fazendo aquilo?

Aproximou-se perigosamente e ela não recuou, nem o parou, nem agiu de qualquer modo repreensivo. Tomou aquilo como uma vitória. Por que uma vitória? O que estava fazendo?

Apoiou seu punho com a garrafa contra o vão da parede onde ela estava encostada e pela primeira vez em sua vida, teve uma visão detalhada de todas as perfeitas feições de Hermione Jane Grande. Os olhos cor caramelo, os longos cílios, o rosado de suas maças, a pele lisa e uniforme o desenho da boca suculenta. Fez a ponta de seus dedos deslizarem pela linha de sua mandíbula. Havia um certo ar sobre ela que estava o fascinando. Não era só a figura de uma possível fantasia. Era a garota com quem ele criara uma enorme inimizade desde o inicio de sua adolescência, uma garota que não correspondia com absolutamente nada do que ele por perto. Era isso que fazia seus dedos formigarem, seu coração pressionar suas costelas, sua vontade se mostrar clara. O que aquilo significava jogava adrenalina por todo o seu corpo. Ele estava querendo ela. De todas, Ela.

Sentiu a respiração dela contra ele quando seus rostos ficaram perto. Sentir aquela vontade crescendo era entorpecedor. A mão dela tocou seu abdômen como se buscasse pelo toque mais preguiçoso e despercebido. Seus dedos se fecharam contra a blusa dele.

— Está me matando... – ela sussurrou, mas engoliu as próprias palavras quando puxou o ar ao toque dos lábios dele nos seus. Puxou o ar. O ar dele.

Era o toque mais calmo que já dera em uma garota em toda a sua vida. Seus lábios roçaram nos dela. Brincando como se quisesse deliciar-se de cada segundo, de casa sensação, de cada significado. Experimentar aquilo fez todo o seu corpo adormecer. Jogou com tranquilidade a garrafa em sua mão precipício a fora pela janela, segurou entre as suas mãos o rosto dela, colou seu corpo ao dela e finalmente tomou a boca dela por inteiro.

Foi como uma criança experimentando sorvete pela primeira vez na vida. O calor da boca dela, do sabor, da respiração contra seu rosto. De como suas bocas dançavam coreografadas numa sintonia perfeita. Aquilo tinham que ser uma piada de extremo mau gosto porque sabia que não iria rir no fim, iria ficar extremamente rendido. Rendido por saber que agora que conhecia o gosto dela, não conseguiria evitar a vontade de tê-lo outra vez, especialmente quando havia aquele valor extra do que os dois sempre haviam sido um para o outro.

Afastou-se quando percebeu que estavam indo longe demais. Não que já não tivessem ido, mas uma urgência crescia e ele sabia onde aquilo acabava. Suas respirações batiam descompassadas uma com a outra. Ela buscava quase hesitante pela boca dele novamente.

— Você precisa ir. – Ele a alertou.

Ela assentiu mesmo ainda tão próxima. Entendia tanto quanto ele que aquilo não deveria estar acontecendo. Não era certo. Era de uma tremenda irresponsabilidade por serem quem eram, por saberem o que vinha pela frente.

Mesmo que já tivesse dito para que ela fosse embora, seu corpo ainda relutou e demorou para colocar a mão de volta contra a parede e afastar-se dela, por mais mínimo que fosse, dando apenas espaço para que o corpo dela pudesse sair. Não se olharam. Ele apenas continuou encarando o chão até escutar a o som da porta de fechando.

Ela havia ido embora. Jurou para si mesmo de que aquilo não aconteceria novamente, apenas por ter a certeza de que se acontecesse uma próxima, ela não iria.

***

Corria com a varinha em punho. Seu coração batia num ritmo tão acelerado que era como se pudesse medir o nível de adrenalina correndo em suas veias. Hermione não estava pronta para lidar com aquilo agora. Não agora. Tudo estava acontecendo mais cedo do que imaginava.

Subiu as escadas do castelo de Hogwarts conseguindo duelar e escapar com agilidade dos comensais invasores. Nunca se sentira tão frustrada por aquela escola ser tão grande. Tudo parecia enormemente distante e seus pés não eram rápidos o suficiente. Perdera Malfoy de vista. Não podia! Sabia que ele era o responsável. Tudo fazia sentido agora. Conseguia juntar todas as peças e era como se alguém estivesse esmagando seu coração.

Percebeu que estava no caminho certo quando notou que se perdia passando por um lugar que já passara mil vezes em sua vida ali naquela escola. Alguém jogara alguma magia de distração para evitar que estranhos se aproximassem. Era ali que ela precisava ir. A torre de Astronomia. Tentou acessar mais o lugar estava encantado. Jamais conseguiria subir a escada em espiral. Tinha que havia outro caminho.

Abriu uma das janelas e passou para o lado de fora apoiando-se no vão. Seu coração batia forte e começou a suar desesperadamente. Não podia olhar para baixo. Não olhe para baixo, Hermione. Não olhe! Tentou controlar sua respiração enquanto fazia a ponta de seus dedos se agarrarem as pedras mais firmes e salientes da fachada. A ponta de seus pés pegou impulso e numa escalada trabalhosa ela conseguiu subir para a janela de cima. Prendeu a respiração e pulou no telhado que rodeava a base da torre. Correu sobre as telhas sobrepostas e quando os vitrais da torre de astronomia começaram a se abrir para ela teve a visão de Draco Malfoy desarmando Dumbledore.

— Não precisa fazer isso, Draco. Você não é um assassino. – Dumbledore disse calmamente.

Hermione conseguiu passar para o lado de dentro da plataforma.

— Eu não tenho escolha! Eles vão matar minha família! – ele soltou ferozmente, como se tudo dentro de si estivesse contorcendo-se em dor. Um jorro verde saiu de sua varinha quando ele proferiu a Maldição da Morte e atingiu Dumbledore direto do peito.

— Não! – Hermione se viu gritar em desespero e horror ao ver o velho mestre cair para trás em cima das ameias e longe de sua vista.

Seus olhos voltaram-se para Malfoy e eles se encararam quase que com a mesma surpresa de quando cruzaram caminho pela primeira vez após terem trocado um intenso beijo num depósito do Salão Principal escondidos de uma das festas de Slughorn. A diferença era que dessa vez já haviam trocado mais de um beijo, já haviam estado juntos além daquele dia, já tinham se tocado mais de uma vez e já haviam passado mais de uma noite juntos.

Mas ali, não sabiam o que pensar e como agir exatamente como da primeira vez em que seus olhos haviam se encontrado depois daquela primeira vez em que suas bocas haviam se tocado. Ela estava em choque. Não conseguia se mover, não conseguia reagir. Um amontoado de capas negras surgiu braveando palavras que seu cérebro não estava em condições de encontrar sentindo. Viu Draco dar as costas relutante em deixar o contato entre os dois e fugir logo quando Harry surgiu de Deus sabe onde proferindo feitiços contra os comensais que sumiam escada abaixo.

Ela ficou imóvel exatamente onde estava. Seu coração estava sendo moído. Seus olhos embaçaram e ela começou a sentir as lágrimas escorrendo por suas bochechas. Seu peito subiu e desceu ofegante sentindo falta de oxigênio. Ela apertou os olhos com força, juntou os dentes soltando um grunhido mínimo de dor e tentou se recompor por mais miseravelmente que fosse.

Desceu as escadas em espiral sentindo-se tonta, correu pelo castelo em busca da saída mais próxima. Estuporou comensais e conseguiu passar por Harry que estava preso em um duelo com ninguém menos que Bellatrix Lestrange. Assim que alcançou os jardins viu a figura de Draco Malfoy correr para dentro da Floresta Proibida. Suas pernas já doíam, mas ela continuou a correr protegendo-se quando era necessário.

Era louca. Só podia ser louca. Essa era a única explicação plausível para sua teimosia em ir atrás dele mesmo depois do que havia visto. Mas precisava pará-lo, precisava encontra-lo. Era insano e idiota, mas precisava.

Suas pernas queimavam e ela já estava sem forças quando alcançou a Floresta. Parou ofegante encostando-se num dos enormes troncos. O ar mudava imediatamente no momento que se passava para dentro daquele denso lugar. Uma certa apreensão era quase um instinto que levantava a bandeira de alerta em seus sentidos. Escutava barulhos de todas as direções. A Floresta estava movimentada.

Forçou-se a prosseguir por entre o labirinto de troncos e a névoa baixa e fina sobre o chão. Sabia que havia sido sorte quando na infinidade daquele lugar, encontrou Draco em uma pequena clareira ajoelhado no chão, a cabeça baixa, a respiração ofegando e as mãos uma de cada lado conta a terra.

— Malfoy... – ela soltou sem forças, seus olhos inundando ainda mais por vê-lo ali.

— Vá embora, Granger. Eles vão todos se juntar aqui depois, se a verem irão mata-la. – Draco a mandou embora.

— Não. Eu não vou embora. – Ela se aproximou e caiu de joelhos também logo de frente para ele. Estava devastada. Suas lágrimas não paravam. – Por que? Por que fez isso? – Sua voz mal saia.

— Não tive escolha. – Ele não a encarava. – Você precisa ir! – insistiu ele.

— Se tivesse me deixado saber antes, eu poderia ter encontrado uma saída diferente. Tudo poderia ter sido diferente...

— Não! – ele aumentou sua voz finalmente erguendo os olhos cheios de dor para ela. – Não poderia ter sido diferente. Nada poderia ter sido diferente. A vida quem poderia ter sido muito diferente de tudo isso! – ele estava com raiva. – Acha que eu quem quis isso, Granger? Tudo que eu quis para minha vida foi sempre muito simples: crescer, tomar o lugar do meu pai e viver minha vida bem abastada. Eu nunca quis nada disso, nada dessa guerra, nada!

— Eu poderia ter te ajudado.

— Não. Não poderia. Foi tragada por tudo isso tanto quanto eu fui. Eu fiz minha escolha, Granger. Você fez a sua e nós nunca deveríamos ter nos envolvido.

— Eu sei que não. Mas nos envolvemos e...

— Pare de se torturar. – Ele a cortou. – Você sabe bem que não quer estar do meu lado, não quer me defender, mesmo sabendo a motivação que tive para fazer o que fiz. Eu me lembro dos seus olhos quando viu a Marca Negra em meu braço a primeira noite que passamos juntos. Não sou a pessoa para você.

— E ainda sim foi a pessoa que eu quis. – Estendeu a mão e tocou o rosto dele. – Não posso te defender, não quero. Mas eu queria que isso mudasse a dor de estar vivendo o momento em que vamos nos separar e vamos nos tornar de verdade o que essa guerra irá nos fazer ser. Que as horas que eu passava deitada contra você, encarando a marca negra em seu braço, me fazendo acreditar em um lado seu que pudesse ser nobre, se voltaram contra mim como um soco no estômago. Olhe para mim. Acabou de matar o homem mais honrado que já passou por essa terra e eu não consigo ergueu minha varinha e apontar para você. – Soluçou. – Como que eu posso lutar contra você?

— Você irá. – Ele disse decidido. – Irá quando tudo isso ficar apenas no passado e quando nos lembrarmos o quanto nos adiávamos. Terá um milhão de motivos para lutar contra mim. – Barulho de passos começaram a surgir de toda a parte. Alguém chamou o nome de Malfoy alto. – Precisa sair daqui, Granger. Rápido. – Tirou a mão dela de seu rosto.

Ela não contrapôs sabendo que definitivamente correria risco de vida agora. Encarou Draco uma última vez. Talvez aquela fosse a última chance que tivesse de poder olhá-lo daquela forma, com todo o sentimento que criara por ele, toda a fantasia que haviam passado juntos. Queria estar sentindo ódio, mas tudo que sentia era dor. Aproximou-se e colocou seus lábios nos dele uma última vez. A última vez que sentiria a textura e o calor dele.

— Adeus, Hermione Granger. – Ele sussurrou para ela quando se afastou.

Abriu os olhos para encarar a dor nos dele. Ele não estava dizendo adeus para ela, estava dizendo adeus ao fim daquilo que haviam experimentado juntos.

— Adeus, Draco Malfoy. – Sussurrou de volta e levantou-se sumindo pela floresta tentando ir o mais longe a o mais oposto possível aos sons dos passos que escutava.

Encolheu-se contra o tronco de uma arvore qualquer quando se viu perdida e se permitiu ter seu momento de lamento pelas estúpidas escolhas que havia feito aquele ano e as consequências que carregaria por um longo tempo.

***

As correntes que prendiam seus pulsos estavam apertadas, sabia que até o fim do dia estaria sangrando. As em seus pés não faziam muita diferença. O que realmente o incomodava era o uniforme surrado e de péssima qualidade. Era acostumada com roupas finas e caras.

Estava preso em uma cadeira desconfortável em uma sala minúscula. Era o dia de seu julgamento e sabia que seria longo. Mas o que sentia na verdade era paz. Paz por saber que o fim estava próximo, que ele passaria o resto de sua vida numa cela fria e desconfortável. Que talvez até o condenassem a morte mais cedo. Tudo era melhor do que aquela guerra, mesmo o futuro em uma prisão era melhor do que estar debaixo do nariz de Voldemort.

— Malfoy. – Abriram a porta. – Chegou a sua vez.

Draco apenas esperou sem o mínimo ânimo que o desatassem da cadeira e prontamente foi conduzido direto para o enorme tribunal cheio de espectadores do Ministério da Magia. Culpados tinham pouca voz no sistema de justiça bruxo. Draco apenas ajoelhou-se no centro quando o forçaram a fazer e viu seus punhos serem presos a correntes fincadas no chão. Ele poderia até rir. Como se ele quisesse mesmo fugir.

A autoridade que conduziria o julgamento, sentado de seu alto pódio, limpou a garganta e começou:

— Essa bancada se reúne para o interrogatório e julgamento de Draco Lucius Malfoy, acusado de conspirações e ataques contra o Estado, práticas de magia ilícitas e assassinato. O senhor está consciente de suas acusações, Sr. Malfoy?

— Sim. – respondeu secamente. Sabia todos os crimes que haviam cometido. Estava surpreso por não terem listado todos ali.

— Está consciente de que a gravidade de seus crimes se aplica a pena de morte?

— Sim. – respondeu. Desejava a pena de morte.

— Algum comentário inicial da defesa?

— Não. – Foi tudo que seu porta-voz disse.

— O Estado?

— Não. – Respondeu o porta-voz de seus acusadores.

— Inicialmente, pelo crime de conspiração contra o Estado, ataques e prática de magia ilícitas, o Ministério da Magia tem sido forçado, pela atual situação das casas de justiça e dos últimos eventos, a compactar em uma única pesada e significativa acusação a lista de crimes cometidos por Comensais da Morte caso for provado que o acusado tenha sido aliado do movimento. – Iniciou o condutor. – Estado?

— Draco L. Malfoy possui marcar severas de danos causados por tortura na área do braço onde a marca de Voldemort se encontrava. Uma prática já observada em Comensais com tendências rebeldes ao seu mestre. O Estado conseguiu coletar sua máscara e uniforme além dos diversos relatos de participação nos crimes cometidos pela organização terrorista da qual evidentemente fazia parte.

— Defesa. – O condutor passou a palavra para seu porta-voz.

— O acusado nunca escondeu sua ligação e status dentro da organização de Voldemort considerando-se culpado do fato.

O condutor martelou seu pequeno instrumento de madeira do palanque.

— Essa bancada considera Draco Lucius Malfoy culpado pelo crime de Comensal da Morte e das atividades ilícitas praticadas debaixo desse status. – Anunciou o velho. Draco quase riu do modo patético em como tudo aquilo estava sendo conduzido. Não era necessário provas físicas, depoimentos, testemunhas, uma árdua discussão entre defesa e Estado. Sua acusação já havia sido decretada, aquilo era meramente protocolo. Era o show que o Profeta Diário iria precisar. – Sequencialmente o Estado busca esclarecer a acusação contra o assassinato de Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore e encontrar o culpado pela morte desse honrado bruxo. – O homem encarou o porta voz de seu acusador. – Estado. – Passou a palavra para ele.

— O Estado pretende trazer a público o depoimento de duas testemunhas presentes no momento do crime, começando por Harry James Potter.

Draco quis rir outra vez. Claro. Não havia nenhum depoimento mais confiável do que o do adorável herói Harry James Potter. O perfeito herói saiu de sua posição na bancada e tomou a frente subindo no palanque de testemunhas. Enquanto jurava dizer a verdade e nada mais que a verdade, Draco notou que do lugar de onde ele havia saído a corja de aliados da Ordem estava sentada e entre eles estava também a única mulher que durante aqueles oito longos anos de guerra jamais saiu de sua cabeça: Hermione Granger. Ela tinha os olhos bem fixos nele e as sobrancelhas franzidas eram um sinal de que lutava contra os próprios pensamentos ao estar ali.

Potter prestou seu depoimento sendo interrogado pelos dois lados. Quando terminou o Estado chamou por Hermione Granger, que com uma aparente relutância, levantou de seu lugar e tomou o pódio de testemunhas jurando dizer a verdade, nada além da verdade.

Dalí de seu novo lugar, ela não conseguia tirar os olhos de cima dele, nem ele era capaz de desviar os seus dos dela. Haviam sido oito anos onde lutaram bravamente um contra o outro, onde conseguiram reforjar ódios, construir diferenças, produzir atos imperdoáveis. Oito anos que de dia ele procurava mata-la e de noite fechava os olhos para se lembrar do sorriso dela para conseguir dormir. Ali estava ela no final de tudo aquilo, de pé em seu comportado conjunto de roupa, os cabelos perfeitamente bem penteando ondulando para formar os conhecidos e característicos cachos que desciam até abaixo de seus ombros, o rosto limpo, inteira. E ele? Ele estava jogado, condenado para o resto da vida em Azkaban.

— Eu estava o seguindo aquele dia. – Ela começou com sua voz suave, melodiosa e com receio quando recebeu a pergunta da acusação. – Ele estava agindo de forma estranha, mas acabei me distraindo quando percebi que Harry tinha deixado o castelo com o professor. Recebi o alerta da Ordem de que o castelo estava sendo preparado para um ataque e quando tentei refazer os passos de Malfoy para encontra-lo novamente já foi tarde demais. Comensais já estavam invadindo a escola.

— E como chegou a Torre de Astronomia? – perguntou o porta voz do Estado.

Ela puxou o ar sem desviar um momento sequer os olhos dele. Começou a descrever o modo como descobrira a magia de distração para o caminho da Torre e como arriscadamente subira pelo telhado para conseguir chegar até lá.

— Cheguei a tempo de vê-lo desarmar o professor. – Ela parou como se não quisesse reviver aquilo novamente. Puxou o ar mais de duas vezes para poder continuar. – Dumbledore tentou convencê-lo de não o matar, mas Malfoy rebateu dizendo não ter escolha. Malfoy não hesitou. – Os olhos dela brilharam como se estivessem marejando. – Era a missão dele.

— Defesa. – O condutor passou a palavra.

— Srta. Granger, existem suspeitas de que na dada época, tanto você quanto o Sr. Malfoy estavam romanticamente envolvidos...

— Objeção! – exclamou o porta voz do Estado. – Suspeitas infundadas por um ou dois comentários não confiáveis não podem ser usados para tentar invalidar, desmerecer ou tirar crédito do depoimento da minha testemunha.

— Objeção aceita. – Disse o condutor. – A Srta. Granger já esteve de qualquer modo romanticamente envolvida com o Sr. Malfoy? – tentou esclareceu o velho.

Draco viu a saliva descer seco pela garganta dela, sua postura ficou rígida, mas ela empinou o nariz num ar orgulhoso, como se estivesse buscando força naquilo, mesmo que uma lágrima solitária tivesse acabado de rolar por seu rosto.

— Em meu sexto ano já estava envolvida com meu atual noivo, mesmo que por mais tempestuosa que fosse nossa relação naquela época. Fantasiar que eu me envolveria com um Comensal da Morte é no mínimo ofensivo. – Foi tudo que ela respondeu e talvez só ele pudesse ter conseguido sentir o sabor da dor que veio de cada mentira que ela abrira a boca para dizer.

Escutar aquilo fez sua memória puxar a lembrança de como os dedos dela entravam por seus cabelos quando se beijavam, de como o corpo dela encaixava ao seu, do calor do sabor dela, de como se provocavam debaixo do lençol, de como se esquivavam por entre as estantes remotas e vazias da biblioteca, de como trocavam olhares cúmplices durante refeições no Salão Principal, de como a voz dela acalmava seus nervos e seus pensamentos quando conversavam no silêncio da noite.

A bancada anunciou sua condenação e ele sentiu o alívio de ouvir que sua sentença de morte não demoraria acontecer. Aquela patética, apressada e apenas simbólica sessão acabou e ele foi conduzido para fora do tribunal. Lançou o último olhar de sua vida inteira para a mulher dona das lembranças que o fazia dormir todas as noites e viu os caramelos dela o encarar de volta.

Era o segredo deles. Apenas deles. Um passado imutável que pertenceria para sempre ao silêncio que carregariam para o dia de suas mortes.

Era sagrado.

Intocável.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Essa é a primeira de muitas que virão. Sei que essa teve um toque um tanto quando doloroso, mas não tende a seguir esse padrão. Tenho tendências a apreciar a triste beleza do amor impossível de Draco e Hermione, mas teremos one-shots que podem contar uma história inversa.

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