Tony Stark sempre fora uma criança acima da média, aos quatro anos construiu sua primeira placa de circuitos, aos seis seu primeiro motor, um adolescente aprovado no MIT muito antes da idade em que se deveria pleitear uma vaga num instituto de tecnologia, e formou-se aos 17 anos. Todos o chamavam de prodígio, no entanto, sempre odiou o termo. Porém era impossível não querer chamar a adolescente diante dele de prodígio. Shuri era fora da curva, toda a tecnologia de Wakanda estava nas mãos de uma menina, e ela sabia muito bem como usá-la. Tony e Bruce tornaram-se meros assistentes da garota.

Certa vez, numa briga com Pepper, ela dissera a ele  que “Tony Stark jamais conseguiria fazer o exercício de colocar-se no lugar do outro, seu ego não permitiria”. Mas ele meio que estava fazendo isso agora, estava exercitando um papel que há anos não ocupava, era o coadjuvante no desenvolvimento de um projeto importantíssimo, não era exagero dizer que sua vida dependia dele, afinal não saberia como viver sem Pepper.

No primeiro momento, quando Shuri explicou sua ideia os “cientistas” se entreolharam questionando-se se daria mesmo certo, mas depois pareceu óbvio. Os três  estudiosos naquele laboratório entendiam o suficiente de física quântica, então lembraram-se da relação de seus princípios com a consciência humana e o poder do pensamento como construtor da realidade. No entendimento da princesa de Wakanda a mente humana teria uma capacidade profunda de influenciar na disposição das micro partículas atômicas ao redor das pessoas, do modo como elas se comportam e como elas constroem a realidade, sendo assim,  as intenções influenciariam a viagem ao passado. Ela desenvolveu uma pequena placa, tendo vibranium como matéria prima, que com uma micro-cirurgia seria ligada ao sistema neurológico do viajante, sendo assim, a movimentação seria um comando exclusivo da mente da pessoa que viajaria no tempo. Eles só ficaram assustados ao saber que a “cobaia” precisaria ser induzida ao estado de coma.

—Como?!— Tony e Bruce questionaram.

—Coma.—  Shuri afirmou.

—Como coma?— Bruce perguntou.

—O passado existiu, o presente continuará existindo, e o viajante no tempo estará num universo paralelo que poderá afetar diretamente passado e futuro, uma espécie de vórtice temporal. Por isso a única coisa que você pode e deve mudar é o fato de Thanos existir.— ela esclareceu.

—Acho melhor esperarmos alguma notícia do Steve e dos outros, talvez a solução do Dr. Pym não envolva alguém em coma, não é mesmo?— Bruce questiona.

—Não!— Tony se manifesta após algum tempo em silêncio —Eu vou!

—E se não der certo?

Então talvez eu morra, Tony pensou. Se ficasse preso ao medo de não dar certo não teria escapado da caverna no Afeganistão, não teria entrado naquele buraco de minhoca no céu, nem mesmo teria ingressado num relacionamento.

Tony estava convicto e Bruce sabia que não o dissuadiria,  foi como quando começaram o projeto que resultou no Ultron. Ele faria aquilo, encararia a “viagem no tempo” mesmo que significasse ficar em coma pra sempre. Mas, ao contrário da última vez, o Dr. Banner decidiu compartilhar a ideia um tanto quanto insana com os outros Vingadores.

—Não, nenhum sinal de Scott Lang ou Hank Pym, mas nós estamos em San Francisco só há algumas horas, Banner.— Natasha disse a ele.

—Onde está o Steve?

—Procurando, nós decidimos nos separar, por aqui tá tudo um caos, as pessoas estão desorientadas com essa história de sumiço, estão falando, castigo divino, sinal do Apocalipse, sei lá.— ela disse —E como estão as coisas por aÍ, como está a máquina do tempo, gênios?

—Não é como uma máquina do tempo, criamos um dispositivo pra ser acionado neurologicamente, parecia uma ideia boa até…

—O que o Tony fez?— Natasha se antecipou. Pra ela Tony sempre meteria os pés pelas mãos.

—Pra acionarmos o dispositivo o indivíduo precisa estar em coma.

—Como?

—Coma!— ele reiterou.  

—Porquê?!

—Eu não fiquei pra ouvir, mas o Tony se voluntariou e eu não achei uma boa ideia, então vim ligar pra vocês, saber se teriam alguma novidade.

—Bem, como eu disse, nenhum sinal, eles também podem ter sumido no ar, mas Bruuce…

—Sim?

—Nós perdemos tempo demais nessa ligação, talvez o Tony já esteja em outro plano agora.

—Droga Natasha!— Bruce praguejou antes de desligar e correu de volta ao laboratório.

(...)

Shuri havia levado Tony para um local que ficava ainda mais perto da fonte de vibranium, Bruce demorou um pouco para localiza-los e quando chegou Tony já havia implantado a placa em sua nuca.

—Onde você estava Dr.?— Shuri perguntou.

—No telefone, fui saber  notícias.

—Encontraram o Pym?— Tony quis saber, Banner moveu a cabeça em negação —Então vamos logo com isso.— Stark disse ao deitar-se sobre a maca.

—Lembre-se que a sua missão é mudar apenas os últimos acontecimentos, desde quando Thanos apareceu, não sabemos quais serão as consequências das mudanças de qualquer época antes disso.— Shuri alertou, Tony maneou  cabeça em afirmação, seu desejo em voltar no tempo estava diretamente ligado aos últimos dias, sabia que seu futuro seria bom, bastava Pepper e seu filho estarem nele. Então Shuri ministrou em sua veia a dose do soro que o induziria ao coma.

Embora o Dr. Banner estivesse preocupado com o amigo, não havia motivo, Tony seria  monitorado e estava em ótimas mãos. A princesa era um prodígio.

(...)

—Então vai ser assim, ficaremos aqui olhando essa projeção da reação neurológica dele, sem saber em que dimensão ele está?— o Dr. Banner perguntou,  Shuri aquiesceu. —E se ele não for direto pro momento em que a gente precisa?

—Nós conversamos enquanto você não estava, ele sabe o que deve fazer,  parecia bem ciente de onde precisa estar.— Shuri disse —Mas se, por acaso, ele não viajar diretamente pra onde precisa, basta fechar os olhos por alguns instantes e mentalizar pra onde tem de  ir. A capacidade neural do seu amigo é muito maior do que você imagina, Dr. Banner.

Já fazia algumas horas do início da experiência quando do lado de fora do palácio se ouviu um trovão e logo depois um raio tocou o chão quando Thor voltou à Wakanda.

—Onde estão os outros?— Thor perguntou assim que viu Rhodey, que estava treinando com Okoye. Eles haviam decido não ficar no laboratório, assim como Rocket, sabiam que não seriam úteis para os adoradores da ciência.

—No lab da princesa.— Okoye respondeu. —Outro homem branco?— ela questionou ao ver o amigo que Thor trouxera, ele não respondeu,   entrou correndo e os outros foram atrás.

—Alguma novidade, onde estão Steve e Natasha?— Rhodey quis saber, enquanto seguia o Asgardiano.

—Você não iria entender, eu não entendi,  só falo com a princesa e com os outros que entendem de ciência  mais do que eu.— o deus do trovão respondeu —Onde está o Stark?— ele quis saber ao chegar ao laboratório.  

—O corpo dele está ali, mas espero que ele já não esteja mais.— Shuri respondeu.

—Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram?!— Rhodes preocupou-se, então a menina esclareceu. Thor esboçou um sorriso.  

Thor contou que enquanto Steve e Natasha foram a San Francisco atrás de Scott Lang  e Hank Pym ele decidira ir à Londres, embora não falasse com Jane há muito tempo ela ainda tinha um lugar em seu coração e ele precisava saber se ela estava bem. E ela estava. Jane, Darcy e o Dr. Selvig montaram uma frente de pesquisa, pois sabiam que o sumiço das pessoas estava diretamente ligado aos Vingadores,  e não estavam errados. Em Londres, Thor esclareceu aos outros cientistas o que aconteceu e quais eram os planos de reversão, foi então que o Dr. Erik Selvig, diretamente decidiu influenciar nas coisas, por isso Thor o levou à Wakanda.

—Tony está em coma, certo?— o Dr. Selvig questionou.

—Como coma?!— Rhodes quis saber, Shuri rolou os olhos. Essa seria a reação de todos que não entendiam de física? Então novamente ela contou seu plano.

—Você é genial, garota! Genial.— o Dr.  Erik Selvig a cumprimentou.

—Qual é o ponto?— Bruce quis saber, embora fosse um estudioso estava preocupado com o amigo.

—De todos vocês, Tony é o único que poderia se submeter a isso. Com o tesseract, anos atrás,  Loki abriu um enorme buraco de minhoca no céu e houve a invasão chiaturi, vocês se lembram?— todos moveram a cabeça em afirmação —Tony foi literalmente exposto a energia do tesseract ao entrar naquele buraco. O tesseract, ou joia do espaço, como queiram, pode direcionar o portador pra qualquer lugar no espaço onde ele queira ir.

—Mesmo que o Tony não possua a joia ele tem esse poder, apenas por ter sido exposto?!— Bruce questiona.

—Você não tem o seu poder por ter sido exposto aos raios gama?— o Dr. Selvig contrapõe —Só que além da exposição à energia do tesseract, Tony ainda esteve dentro do buraco, não sabemos o que ele viu, talvez nunca saibamos. Mas…

—Buracos de minhoca são fenômenos que consistem em túneis que interligam pontos diferentes do espaço-tempo!— Shuri manifestou entusiasmo.

—Sim!— Dr. Selvig afirmou, os que não entendiam de ciência ainda os olhavam com certo desdém, mas o Dr. Banner também já demonstrava empolgação —Buracos de minhoca não são só atalhos para outros pontos no espaço, mas também passagens para outros pontos no tempo.

—Então, basicamente, o Tony tem um buraco de minhoca dentro da cabeça?— Rhodey questionou, Dr. Selvig aquiesceu.

—Por isso Tony  ficou tão mexido depois de Nova Iorque. E sem dormir. Dormir o transportava, e sem saber o que significava ele quase ficou maluco. Mas com o tempo, passou. Depois de anos ele só voltaria a visitar outros tempos através de um coma profundo.— finalmente o Dr.  Bruce Banner entendeu.

Mais uma vez o destino estava nas mãos, ou melhor,  na mente, de Tony Stark.