A besta que habita em nós escrita por HadassaDermoh


Capítulo 9
Somos os monstros embaixo da sua cama - 13 de abril


Notas iniciais do capítulo

Olá, primeiro quero agradecer a Dudah e ao Lorde, por sempre comentarem nos capítulos, sério mesmo, eu amo a interação que há com vocês!
Bom, esse capítulo já começa em uma nova fase da história. “Nós somos os monstros embaixo da sua cama” vai possuir poucos capítulos que serão narrados pelos monstrinhos da história, ou seja, vai ter vilão narrando por aqui.
Como Elizabeth está presa, achei interessante desenvolver os outros personagens que convivem com ela. Até porque narrar apenas sobre o ponto de vista dela, dentro de um quarto, poderia tornar a narrativa um pouco repetitiva e entediante. Isso é um teste, vocês podem gostar ou não, sinceramente, espero que sim! Caso haja desconforto com a leitura, podemos deixar da forma como era antes.
Aviso para vocês que o mascarado, querendo ou não, também é considerado um vilão, então vai ter sim, narração em primeira pessoa dele hahaha
Bom, desejo a vocês uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770617/chapter/9

13 de abril de 2019 – Jorge Alencastro

 

Estavam todos muito nervosos. Ninguém sabia ao certo o que fazer com ela. Pensei em algumas coisas, mas tive que me controlar para não colocar em ação. Eram erros do passado e eu não podia cometê-los novamente. Meus irmãos haviam me perdoado uma vez, mas duvido que haveria uma segunda. Minhas mãos tremem por mais. Já havia problemas demais a serem solucionados.

— O que está fazendo? – Bethânia entrou na cozinha sem que eu percebesse sua presença. Olhei para o seu rosto magro, algumas rugas começavam a se formar em sua pele e eu sabia que isso a deixava enojada de si mesmo. Desejava sempre ser uma jovem sedutora, como era no passado. Ainda usava os saltos e as saias apertadas, vez ou outra, usava calças. Sentia-se uma mulher de classe, mas profundamente, eu sabia que ela não era.

— Preparando o café da manhã de Elizabeth – Respondi sem vontade, um pouco envergonhado. Por minha irmã, a garota podia morrer de fome. Sentia o olhar desprezador de Bethânia sobre minhas costas.

— Devíamos sair dessa casa – Bethânia colocou suas mãos sobre meus ombros, obrigando-me a olhar para ela novamente – Abandonamos tudo, não precisamos do dinheiro de Vera – Desde que os assassinatos começaram a assolar nossa família, Bethânia sempre implorou para que fugíssemos, mas nunca concordei e minha sentença era a válida.

— Não vamos fugir dele – Sussurrei com raiva, fugindo do seu toque. Peguei a bandeja de cima da mesa e coloquei as torradas e o café – Não vamos mais discutir sobre isso!

— Ah, Jorge – Bethânia estava enfurecida, espalmou as mãos sobre o balcão de mármore com força – Isso é culpa sua, se esse homem está atrás de nós é por sua culpa! – Bethânia iniciou o seu choro cotidiano, sempre que estava amedrontada ou com raiva, ela chorava – Culpa sua e de Elizabeth! – Ela pegou o vaso que ficava próximo à janela e jogou em minha direção, por pouco ela não me acerta – Jamais deveria tê-la adotado.

— Cala-se, Beth! – Gritei, ninguém podia contestar minhas escolhas, por mais que elas pudessem ter sido escolhas erradas – Limpe essa sujeira que você fez e recomponha-se.

Saí da cozinha evitando voltar e esbofetear a cara de Bethânia, quem ela pensava que era para tentar me acertar? Ela não tinha voz naquela casa, apenas eu. Eu comandava aquele lugar e se cenas como essa voltassem a se repetir, ela também receberia o seu castigo. Caminhei pelos corredores com a bandeja em mãos, cheguei a porta que levava ao porão. Sim, tive que deixar Elizabeth lá embaixo. Por Deus, o que ela seria capaz de fazer? Devia me odiar. Odiar toda a família. Tudo o que eu não queria, era seu ódio. Entretanto, isso era tudo que ela era capaz de me dar. Tão ingrata. Tão perversa comigo. Poderia ser tudo tão diferente. Mas o amor tinha suas faces e uma era sempre perversa. Rodrigo havia acabado com os meus planos e isso, eu jamais perdoaria.

Desci as escadas pensando no que diria a Elizabeth. Queria dizer tantas coisas. Aquele lugar era claustrofóbico, me recordava muito bem. Jamais cogitei a ideia de prendê-la, muito menos no porão, mas que escolha eu tinha? Ela mirava uma arma para mim e meus irmãos. Quando Arthur chegou e viu toda aquela situação, fez o que deveria. Quando ela estava deitada no chão inconsciente, tive de pensar rápido no que fazer. Todos concordaram que o melhor era trancá-la. Não pude fazer nada. No final das contas, era o certo a se fazer.

— Venha, vamos descer – Nei disse com um sorriso nos lábios. O encarei confuso. O que ele queria no porão? – Deixa de ser medroso, Jorge – Ele puxou minha mão e juntos descemos as escadas.

— Não devíamos estar aqui, papai não vai gostar – Disse com medo que nosso pai nos encontrasse ali embaixo – Vamos voltar.

— Não – Nei se aproximou com os olhos azuis estranhamente maldosos – Vamos brincar aqui.

Respirei fundo ao lembrar de Nei e de suas brincadeiras no porão. Ele era nosso irmão, por parte de pai. Se nossa moral podia ser discutível, a de Nei certamente, era abominável. Abri a porta, não poderia ficar o resto da manhã relembrando o passado. Elizabeth estava sentada na cama, lendo partes de um livro já despedaçado pela falta de cuidados. A filha de Nei, tão abominável quanto ele. Talvez no início, a distância que eu queria dela, era por me lembrar dele. Mas depois... Depois, ideias mais obscuras transpassaram em minha mente.

— Bom dia – Ela disse sem se mover, continuava dando atenção ao velho livro.

Fiquei constrangido em retornar o bom dia, afinal, o dia dela não devia estar nenhum pouco bom. Não era necessário olhar sua face, para ver que ela estava carrancuda.

— Espero que tenha dormido bem – Coloquei a bandeja em cima da cama, ao seu lado. Ela me fitou com os seus graúdos olhos castanhos, estavam mais escuros. Quando Elizabeth olhava em direção ao sol ou a claridade, notava-se o verde mesclado no castanho, agora com a escuridão daquele quarto, tudo o que seus olhos possuíam, era um tom bem escuro de marrom. Entristeci com essa conclusão, mas o que eu poderia fazer?

Ela largou o livro e colocou a bandeja sobre o colo, por um bom tempo ela olhou apenas a fumaça que saia do café – Se fosse em outra hora, seria certo, que eu jogaria esse café nos teus olhos – Ela sorriu, antes de bebericar – Está bem quente.

— E por que não fez isso?

— Porque você também deve ter uma pistola para mirar em mim, ao pior dos meus movimentos bruscos – Eu sabia o que ela estava tentando fazer. Estava me testando. Bethânia tinha uma pistola e eu não, mas Elizabeth não precisava saber disso. Pois, era exatamente nesse ponto em que queria chegar. Qual as chances de ela conseguir escapar com alguém armado e desarmado? Elizabeth não queria apenas saber sobre a minha possível posse de arma, mas também queria deixar claro, que não tentaria fugir, que o café quente poderia ter sido sua escapatória, mas mesmo assim, ela não tinha tentado nada. Inteligente, mas não mais que eu!

— Você se mostrou um tanto perigosa, agradeça por não optarmos em te mandar para um reformatório – Ibelza até pensou nessa possibilidade, mas não concordei. Queria Elizabeth comigo e não longe. Ali era um lugar seguro para ela e eu não abriria mão disso.

— Preciso de roupas – Ela resmungou – Das minhas roupas, estou usando estes trapos velhos do armário! A água do chuveiro está fria! – Entendi com suas reclamações, que ela queria bancar a pobre vítima. O quarto até podia ser um cubículo de tão pequeno, mas Elizabeth não podia se queixar, tinha um sanitário para ela. Ao qual eu mesmo pedi a Arthur para verificar enquanto ela ainda estava desmaiada. Era tudo mentira dela.

— Tudo bem – Respirei fundo e resolvi entrar em seu jogo – Quando Arthur estiver disponível, vou pedir que venha até aqui – Não, não deixaria Arthur vir até o quarto. Não confiava nele e nem na Elizabeth, ela poderia tentar fugir. Duvidava muito que a água estivesse realmente fria.

Pela sua expressão descontente, talvez ela já tivesse entendido que tinha perdido sua chance. Eu não era tolo. Já havia sido, mas não mais. O silêncio assombrou o quarto e decidi que estava na hora de ir embora – Trago suas roupas na hora do almoço.

— Pode trazer o Apolo para eu ver? – Ela estava ansiosa. Fez sua melhor expressão de menina dócil, achava que podia me enganar.

Ela tinha grande afeto por aquele animal e isso me deixava irado. Elizabeth preferia o cão a mim. Teria que dar um jeito nisso. Peguei as chaves no bolso da calça, não, ela não poderia vê-lo. Não a responderia, mas pensei melhor e tive uma ideia. A melhor forma de manter um prisioneiro comportado é ameaçando algo que ele ama, não seria distinto com ela.

— Comporte-se como uma boa menina e talvez, você possa receber uma visita do seu cão. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, ficou bom, ruim, péssimo? Digam o que acharam da narração do Jorge!
Como eu disse, tudo é um experimento, então qualquer coisa, editamos o capítulo e está tudo resolvido hahaha
Beijoss, até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A besta que habita em nós" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.