A besta que habita em nós escrita por HadassaDermoh


Capítulo 8
Temporada de Caça - 12 de abril


Notas iniciais do capítulo

Hellloo, seus lindos
Tive dificuldades em relação a esse capítulo, por isso a demora para postar.
Pretendo dividir essa história em quatro fases, Temporada de Caça que está prestes a acabar, possivelmente no próximo capítulo já passarei para a nova fase e gostaria de saber se vocês preferem que continue com a narração onisciente ou se preferem o narrador-personagem, que seria sobre o ponto de vista de Elizabeth em primeira pessoa.
Digam o que preferem e boa leitura!



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12 de abril 2019

 

— Você gosta deste lugar, Elizabeth? – O homem sentou-se ao lado da menininha, no banco de madeira da área verde do Orfanato de Santa Maria.

— Queria estar com a mamãe... – Ela olhava para baixo, balançava as pernas enquanto suas pequenas mãos brincavam com a barra do vestido amarelo.

— Mas ela não está mais aqui – Rodrigo entregou à menina uma caixa embrulhada em papel de presente – Quer dizer, ela sempre vai estar aqui, só que não vamos mais poder vê-la.

— É pra mim? – Elizabeth encarava o embrulho com certa curiosidade.

— Sim – Ele sorriu – Um presente para você.

Elizabeth sorria enquanto desembrulhava o pacote com pressa. Gritou de felicidade quando encontrou uma linda boneca dentro da caixa – Ela é linda!

— De onde venho essa, tem muito mais – Rodrigo fitou ao longe, Jorge acompanhado de um menino, próximos à capela. Seu marido estava exausto com toda a burocracia em torno da adoção de Elizabeth. Ele queria a todo custo ter sua tutela. Porém, prevenido como era Rodrigo, ele queria saber se a menina também desejava ir morar com eles. Talvez, ela pudesse preferir ficar ali, no orfanato – Querida, você já pensou em ir para uma nova casa?

— Achei que eu ia ficar aqui pra sempre – Disse remexendo no cabelo loiro da boneca.

— Você moraria comigo e o tio Jorge? – Rodrigo estava muito nervoso. Sempre teve o sonho de poder ter um filho e agora, estava prestes a ganhar uma menina.

— Sim – Ela disse alegre. Havia um sorriso tão inocente em sua face, tão angelical. Ela correu em direção à Jorge com os seus cachinhos balançando com o vento, pulou no colo do homem e o abraçou com força – Você vai ser o meu pai? – Ela perguntou com os olhinhos brilhando. Jorge acenou positivamente em resposta.

Mas é claro que Jorge nunca foi o seu pai. Nei nunca foi o seu pai. Rodrigo tinha sido e partiu, deixou ela sozinha ao lado daquele monstro que era Jorge. Depois que percebeu que estava trancada naquele cubículo e que há horas, ninguém vinha vê-la, Elizabeth concluiu que este seria o seu castigo. Um cativeiro preventivo. Já havia vasculhado o quarto pela enésima vez em busca de uma saída, mas não havia nada. Apenas uma janela protegida com barras de ferro. Para espantar o tédio e sua ansiedade, olhava algumas velhas fotos que encontrou dentro de uma caixa de madeira, no armário. Em quase todas as fotografias, ela, Rodrigo e Jorge estavam presentes. Em uma ou outra, havia um menino um pouco mais velho que ela, que a todo custo ela tentava lembrar quem era. Odiava-se por não se lembrar de quase nada de sua infância.

Ver todas aquelas fotos lhe-causou náuseas. Lembrar da época em que viveu no orfanato e do dia em que Rodrigo a convidou para morar com eles, causava-lhe decepção. Se soubesse que ser adotada resultaria em todo o transtorno que era sua vida, preferia ter permanecido no Orfanato. Com raiva, pegou cada uma das fotos e rasgou em pequenos pedaços, talvez assim, relaxasse um pouco.

Suspeitava que Arthur tivesse lhe-acertado algum objeto na nuca, mas não tinha certeza. Contudo, o jardineiro era o único que morava no local e não estava na cozinha, naquele momento de surto que Elizabeth teve. Ela já designava como surto, pois nunca na vida tinha mirado uma arma para alguém. Ainda sentia a dor aguda no local do golpe e policiou-se sobre aquele episódio: Jamais ficar em um lugar que alguém possa te apunhalar pelas costas, principalmente se você estiver apontando uma arma para alguém.

Deitou-se no carpete do quarto, evitando enlouquecer. Há quantas horas estaria trancada ali? Pelos rápidos cálculos que havia feito, deveria estar anoitecendo. Mas sabia que quando se estava em um nível de tédio extremo, o tempo tendia a não passar. Ninguém venho ao quarto desde que acordara. Não podia nem reclamar por estar presa, afinal, ela estava com a arma e não eles. Agora teria que convencê-los que não aconteceria novamente, que ela só estava dominada pelo medo. Era uma boa mentirosa.

Sua atenção voltou-se para a porta de ferro, quando esta rangeu. Viu o trinco se mexer e deduziu que alguém viria conversar com ela. De fato, Bethânia entrou no quarto segundos depois, trancou a porta novamente e observou por instantes todas as fotos que Elizabeth tinha rasgado até o momento – Pelo visto você soube como aproveitar seu tempo.

— Bethânia, eu ... - Elizabeth levantou-se da cama, mas parou ao ver uma pistola nas mãos da tia – Ok, tá tudo bem – Ela subiu os braços ao alto da cabeça em sinal de rendição e sentou-se na beirada da cama.

— Não sou idiota de vir até aqui desprevenida – Bethânia crispou os lábios em desaprovação – Achou mesmo que seria superior a nós?

— Sinto muito pelo o que houve – Elizabeth estava com um mau pressentimento. Tinha receio de que eles mantivessem ela presa por um longo tempo. 

— Está tarde demais para se sentir culpada – Bethânia sorriu com maldade – Jamais será uma de nós.

— Não quero ser uma de vocês – Elizabeth se reprovou pela forma grosseira que respondeu, assim jamais sairia dali.

— Pois devia – Bethânia inspecionou cada canto do quarto e por último, pegou um calendário em cima do bidê – É de anos atrás, mas servirá para que você tenha noção dos dias – Ela jogou o calendário nos pés de Elizabeth – Se arrependerá de apontar uma arma para mim, garota! – A mulher abriu a porta e prestes a sair, fitou a sobrinha por uma última vez – Aliás, hoje é dia doze – Fechou a porta e Elizabeth ouviu com pesar o barulho do trinco.

Então era isso? Bethânia dava-lhe um calendário e saía como se aquilo fosse um ato natural? Mas Elizabeth compreendia o que estava acontecendo, Bethânia queria deixar claro, com o seu ar de superioridade, que a sobrinha ficaria trancada por um bom tempo, que o calendário era para marcar os dias e não se perder neles, para que todos os dias, Elizabeth soubesse e se arrependesse do erro que cometeu.

— Merda – Resmungou começando uma nova busca no quarto, precisava encontrar uma saída. Mas como era tola! A sua única saída era pela porta.

Como se a situação não pudesse piorar, estava faminta. Quase dois dias completos sem comer nada. A ideia deles era deixá-la passar fome? Lembrou-se de Apolo, estariam alimentando bem ele? Cuidariam dele?  E o velório de Marcondes, será que ninguém havia sentido sua falta? A porta abriu-se novamente e dessa vez quem adentrou o local foi Ibelza. Como sempre, ela honrava o luto e vestia totalmente preto. Em mãos, mantinha uma bandeja e Elizabeth supôs que era comida.

— É muito triste toda essa situação, mas é para o seu bem – Ela colocou a bandeja de prata sobre o bidê e se direcionou até a janela, afastou as cortinas e vislumbrou as árvores por entre as barras de metal – Presa como um passarinho.

— Eu não queria machucá-los – Elizabeth não tinha certeza sobe sua afirmação – Somente a verdade e vocês me negaram isso.

— Não nos culpe – Ibelza pegou o terço de seu pescoço – Para te proteger – Ela tentou pegar a mão de Elizabeth e entregar a corrente, mas a menina recolheu suas mãos para trás do corpo.

Elizabeth arqueou as sobrancelhas castanhas ironicamente. Estava sendo mantida em cativeiro e Ibelza queria presenteá-la com um terço? Ela não aceitaria. Pessoas que tinham fé em um Deus, não mantinham outras prisioneiras – Onde está Apolo?

— Ele vai ficar bem – Ibelza estendeu a mão com a corrente – Por favor, aceite.

— Eu não preciso da proteção do seu Deus – Elizabeth deu as costas para a mulher e se afastou. Não queria conversar. Tanta hipocrisia em uma só família.

— Tudo bem – Ibelza sorriu tristemente – Só não se esqueça que estamos em uma temporada de caça e o seu predador é o próprio diabo.


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Notas finais do capítulo

E então, alguma ideia de como Elizabeth vai fugir dos parentes loucos que ela tem?
Até a próxima!



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