Orquídea Vermelha escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 9
It Was a Mistake


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Cá estamos nós outra vez e desta vez trazendo um capítulo de muita tensão. Esperamos que gostem e boa leitura!



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Assim que os primeiros tiros de canhão saíram do Queen Ann’s Revenge, Killian saltou de volta para o convés para ajudar os marujos que se preparavam para o combate físico. Eles já estavam com as pranchas prontas para invadir o navio inimigo e agitados pela adrenalina.

— Capitão, o senhor acha que o navio aguenta mais um ataque em tão pouco tempo? - Smee indagou com temor.

— Meu navio aguenta qualquer coisa, Smee! - ele respondeu prontamente.

Os tiros acertaram parte dos mastros do navio inimigo e a medida que se aproximavam, acertavam a proa do mesmo. E a cada tiro que acertava o seu amado navio, Barba sentia uma pontada no coração.

— PREPAREM-SE! - Cornélia engatilhou as armas e subiu onde antes estava Killian.

Os marujos se aproximaram da borda com tudo que podiam em riste, mirando na tripulação inimiga.

Já com a experiência do conflito anterior, Cornélia não esperou duas vezes para anunciar o ataque. Dezenas de disparos começaram pelo lado da tripulação do Barba Negra, conseguindo derrubar muitos homens inimigos de surpresa.

O capitão do outro navio começou a berrar ordens em desespero. A ruiva saltou para o convés, mandando que colocassem as pranchas para invadir enquanto balas eram disparadas para todos os lados. Ela mantinha a calma e o controle de quem estava apenas passando por uma chuva.

Logo que os navios foram emparelhados e as pranchas colocadas, o capitão anunciou a invasão e tomou a frente, acompanhado por uma horda de marujos gritantes.

Barba Negra conseguiu chegar no convés inimigo já derrubando dois homens de uma vez, que não esperavam ver o famoso capitão naquele dia, muito menos com a barba em chamas.

Mas para a triste surpresa da tripulação do Queen Ann’s Revenge, o número de marujos inimigos era superior, o que causaria alguns problemas.

Cornélia se preparava para atravessar as pranchas, mas não conseguia passar por nenhuma, pois todas estavam ocupadas com marujos se matando, uns tentando chegar aos navios dos outros.

— AH, MAS PELO AMOR DE DEUS! - ela exclamou jogando os braços para cima.

— Cornélia. Vamos! - Killian a chamou. Ele estava agarrado em uma das cordas e com o braço estendido para ela.

A ruiva chegou a protelar, mas pelo bem maior, aceitou a “carona”. Ela subiu rapidamente na borda e passou os braços ao redor do pescoço do cozinheiro.

— Não ouse se aproveitar da situação. - ela o advertiu.

— Longe de mim. - ele a abraçou pela cintura e deu um meio sorriso antes de se jogar contra a embarcação ao lado.

A Primeira Imediata se soltou rapidamente, aterrisando feito um gato no meio do pandemônio. A espada de Barba Negra cortava o ar com fúria e a ruiva o ajudou a finalizar um inimigo que se aproximou pela retaguarda.

Quando tiros de mosquete começaram a zunir pelo ar, Lady Elisa saiu do torpor em que se encontrava desde o momento em que fora retornada à cabine por Smee. Espiou pela fechadura o combate corpo a corpo que se passava no convés e decidiu que, desta vez, não se acovardaria feito a donzela em perigo que estava destinada a ser.

Lembrou-se do episódio desesperador que vivera naquela cabine, na ocasião em que enfiara suas agulhas de tricô nos olhos de um homem. Definitivamente, não era algo que tornaria a se repetir. A oportunidade parecia favorável, uma vez que os homens não esperariam que uma dama brotasse repentinamente para somar esforços ao grupo que lutava. Então, quando uma espada caiu bem à sua porta, ela levou isso como um sinal para prosseguir.

Nesse meio tempo, Cornélia perdeu o cozinheiro de vista. Barba era um lutador proeminente e dava conta sozinho, por isso a ruiva se limitou a afastar os que se atreviam a enfrentá-la. Ela derrubou com um chute no peito um homem que tentou se aproximar dela feito um louco e seguiu em direção às pranchas que interligavam os navios para auxiliar seus marujos que lutavam lá em cima, mal se esgueirou pelo meio de uma e já conseguiu derrubar dois homens ao mar.

— Saia daqui antes que vire comida de tubarão também, homem! - ela ordenou para o marujo que acabara de ajudar e o mesmo seguiu para a embarcação inimiga.

Cornélia deu uma olhada na situação do Queen Ann’s Revenge e seu coração deu um salto ao ver Lady Elisa arrastando uma espada com as duas mãos e partindo para cima de um dos inimigos.

— ELISA! NÃO! - a ruiva saiu em disparada, empurrando qualquer um que estivesse em seu caminho no oceano.

De fato, Lady Elisa não pensou direito quando se expôs e pegou uma espada que mal aguentava o peso. Totalmente sem jeito, ela tentou erguer a arma e partiu na direção do primeiro homem que vira, um pirata com o dobro de seu tamanho e largura que lutava contra um jovem tripulante de Barba Negra, o marujo Joseph.

Quando Elisa finalmente conseguiu se aproximar, o inimigo estava prestes a matar Joseph esganado, mas ele parou ao ouvir o ruído da lâmina sendo arrastada no convés. E então, no que pareceu extremamente rápido no ponto de vista de Lady Elisa, ela reuniu suas forças, tomou impulso e suspendeu a espada por cima do corpo para por fim fincá-la nas costas do homem. Mas ela não contava com a agilidade dele de esquivar do ataque, usando o pobre Joseph como escudo.

A jovem soltou um grito estridente ao perceber que golpeara a cabeça do marujo. Ela tentou se afastar, mas o homem jogou o corpo do jovem para o lado e avançou em sua direção. A espada escorregara junto com a cabeça do rapaz, Elisa completamente indefesa ante o olhar diabólico do horrendo homem. Cornélia vinha abrindo caminho, vertendo sua espada contra homens com o dobro de seu tamanho. Elisa imaginava que o homem fosse tentar esganá-la, mas correr não parecia uma opção muito inteligente. Ela acabou por tropeçar em alguém que lutava às suas costas, um pirata que terminava de finalizar um dos tripulantes de Barba Negra.

Quando ambos homens a cercaram, tanto Elisa quanto Cornélia sabiam que esta primeira não tinha muita chance de sobrevivência, pois, se um dos homens era forte e musculoso, o outro manuseava com destreza duas longas espadas. Lady Elisa achava que talvez ainda tivesse alguma carta na manga: já vira Barba, Cornélia e os outros marujos escaparem milagrosamente de situações de perigo. Mas será que Deus não a renegara quando ela se juntara a escória pirata?

— ELISA! - Cornélia estava berrando, um borrão ruivo se deslocando feito uma bala.

O segundo homem deslocou uma das espadas no ar, errando por um triz a barriga da jovem. O primeiro se contentou em assistir o esforço da Lady em se esquivar, gargalhando feito um mongolóide conforme seu colega brincava com a vítima. Por fim, Cornélia alcançou o brutamontes e deferiu a espada contra o mesmo, mas o outro foi mais ágil e largou de Elisa para enfrentar a ruiva. Era o que Cornélia queria.

Com a atenção desviada para si, a Imediata lutou contra o rapaz das espadas com um ar de escárnio.

— Quero ver se apagar esse seu sorrisinho debochado quando eu e meus irmãos a atarmos ao porão, refém de nossos desejos - ameaçou ele, entre o zunir das espadas. Cornélia já lutara contra mais de uma espada antes e contava com o fato de o homem a querer viva para seu usufruto.

Ela sucedeu em lhe arrancar a espada de uma das mãos, deferindo um golpe surpresa no estômago do marujo. Teria sido simples dominá-lo dali para frente, mas a ruiva não contava com a rapidez do outro pirata, que apesar de troncudo era bastante ágil. Ele se apressara em resgatar a espada derrubada pelo colega, o que deu a ambos uma vantagem.

Um dos artilheiros de Barba, tão logo notou o que se passava, se concentrou em empurrar Lady Elisa cabine adentro, mas ela estava gritando com ele, dizendo que ajudasse Cornélia ao invés.

— Eu vou se a senhorita estiver em segurança - respondeu ele, meneando uma espada que gotejava sangue.

Mas já era tarde demais… Um terceiro marujo se unira aos outros dois ao entender que Cornélia não se renderia facilmente. Ela manipulava uma espada como ninguém, de quebra se aproveitando dos pontos fracos deixados desprotegidos pela ira dos homens em tentar vencê-la. No entanto, nem mesmo Cornélia era capaz de lidar com três lâminas ao mesmo tempo. A crueldade de tal combate logo teve êxito em tirar da ruiva seu sorriso mais confiante.

Quando Killian Jones ouviu um grito esganiçado de Lady Elisa, achou que fosse a moça em situação de risco. Ao avistar Cornélia, não hesitou em ir ao seu auxílio, embora já imaginando que tipo de falatório teria de aturar quando a moça estivesse em segurança.

O artilheiro que acompanhava Elisa finalmente voltou sua atenção para a Imediata, ao mesmo tempo em que Killian atravessava desajeitadamente a prancha. Quando o primeiro golpe acertou a lateral do tronco da ruiva, Elisa estava clamando pelo Capitão, como se esperasse que sua aparência amedrontadora fosse suficiente para parar os homens. Barba Negra, porém, devia estar metido no porão do outro navio, pois não estava à vista no convés.

Jones golpeou um marujo com o gancho, derrubando-o na manobra, mas os que estavam de pé foram bem sucedidos em derrubar Cornélia, que sangrando perdeu o equilíbrio. Lady Elisa se agitava em pretensão de ajudar, mas já fizera o suficiente apenas se arriscando fora da cabine. O pirata caído golfou em busca de ar quando Killian rasgou sua garganta, em seguida avançando para o segundo homem, que tropeçou ao ser golpeado pelo chute certeiro de Cornélia.   

Nesse meio tempo, o pirata grandalhão deferira um golpe covarde contra a Imediata já derrotada. O rapaz que ajudara Elisa enfiava sua espada na garganta do homem mais próximo, enquanto o cozinheiro atracava com o musculoso. Qualquer um que tivesse olhos notaria a enrascada em que se metera o cozinheiro, enfrentando um oponente que era seu dobro em força e medidas. No fim das contas, foi necessária a força conjunta de três homens para contê-lo.

Quando finalmente conseguiram dar cabo do brutamontes, Killian se virou para a ruiva agonizando no chão, tentando estancar o próprio sangramento sem o menor sucesso.

— Cornélia… Não… Não… - Lady Elisa se jogou ao lado dela, tremendo tanto que mal conseguia tocá-la - A ajudem! Céus…

— Levem-na para a cabine! - Killian ordenou aos homens que estavam ao seu redor - Com cuidado!

— K-Killian… - Elisa se voltou para ele completamente aterrorizada - A culpa é minha! Minha!

— Lady Elisa, por favor, se acalme… - ele respondeu nervoso - Pegue panos limpos e água quente, com urgência! Não podemos esperar!

Ele deixou a moça para trás, sem nem saber se ela tinha condições psicológicas de cumprir suas instruções, e adentrou a cabine acompanhando os que carregavam a ruiva, ele sugeriu que rasgassem a blusa dela para conferir a gravidade do ferimento, mas imediatamente todos os marujos se afastaram com as mãos erguidas.

— Eu não farei isso, tenho amor a minha vida! - um anunciou - Se tocarmos nela, ela vai nos matar!

— SEU PALERMA! ELA PODE MORRER! - ele o empurrou para o lado e foi até ela.

— Não… ouse… - Cornélia murmurou com a pouca força que tinha - Onde... está Elisa?

— Você consegue ser teimosa até nessa situação! - ele fez menção de tirar a mão dela de cima do ferimento mas a ruiva começou a se agitar e resmungar - Cornélia, pare!

— Aqui! - Elisa entrou no quarto como um furacão, trazendo um caldeirão fervente e vários panos amontoados. A moça estava tão desesperada que não notou que suas mãos estavam queimando devido à alça do caldeirão - Saiam!

Os marujos não pensaram duas vezes antes de se retirar, já Killian ainda hesitou, observando Cornélia respirando pesadamente, como se lutasse para se manter viva, antes de sair. Ele fechou a porta da cabine.

O combate havia acabado no espaço de tempo em que a tragédia acontecera, muitos corpos espalhados pelo convés, as velas do navio inimigo começaram a pegar fogo e a tripulação se apressava em voltar para o Queen Ann’s Revenge. Smee saltara animadamente, carregando sacos de moedas consigo e foi até o jovem.

— Até que valeu a pena, jovem Killian! - ele se aproximou energicamente - Veja só o que… Ora, que cara é essa, rapaz?

— Cornélia. - ele sussurrou - Ela está gravemente ferida. Lady Elisa está cuidando dela, mas eu não sei se…

— SMEE! - a voz de Barba Negra os interrompeu.

O capitão chegou ao seu convés largando um baú enorme no chão, resmungando de um corte no ombro que deixara seu braço momentaneamente incapacitado e visivelmente possesso.

— VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR! - ele balançava um pedaço de papel com a mão boa - AQUELA...

Ambos, Killian e Smee, trocaram um olhar cúmplice, claramente nenhum queria ser o responsável por dar a notícia para o capitão. Ele se aproximou dos dois, já estranhando suas feições preocupadas

— Senhor… - Smee foi até ele - Por que não cuidamos logo desse ferimento?

— Que houve? Que estão escondendo? - Barba Negra o ignorou completamente.

— Calma, Capitão.

— Onde está Cornélia? - ele começou ao olhar para os lados.

A porta da cabine se abriu, Lady Elisa chorosa, com a frente do vestido completamente encharcada de sangue apareceu. Ela abriu a boca, mas não conseguiu dizer uma só palavra, apenas soluços escapavam de seus lábios.

— Me deixem passar! - o Capitão empurrou os dois homens e Elisa também.

— Espere! Ela está nua!

— Melhor cuidar do seu ombro, capitão, o corte parece profundo. Tenho certeza que Elisa tem a situação sob controle. - Smee se adiantou atrás do homem.

— O que aconteceu com minha filha? - Barba Negra assumiu uma voz sombria e pausada.

Cornélia mal respirava, suava dos pés a cabeça com um amontoado de lençois ensanguentados em sua barriga e um outro cobrindo seu tronco, seu braço pendia para fora da cama, se não fosse a expressão de dor, já estariam a considerando morta.

— Ela veio em meu auxílio depois que Joseph morreu tentando me salvar… eu… eu sinto muito… ela enfrentou três oponentes de uma só vez... - Elisa explicava em meios aos soluços.

O capitão se aproximou da filha, segurando o rosto dela entre as mãos, a ruiva mal reagia. Sangue vazara para o colchão e começava a manchar os tecidos que a envolviam, pois Elisa mal tivera tempo de conter o sangramento antes que o Capitão adentrasse a cabine de rompante. Os outros três se entreolhavam desesperadamente, procurando meios de amenizar a situação, mas não havia palavras que o fizessem.

— Aqui não é lugar para ela - Barba balançou a cabeça, consternado, esquadrinhando o ambiente violento e alvoroçado que era a cabine de Cornélia - Não nesse ambiente agressivo. Jones, ajude Smee no convés, temos de retornar à Providência o mais rápido possível. Elisa, você vai ter de costurar a Cornélia, eu vou preparar a cabine.

Os três assentiram brevemente, Smee se retirando com prontidão. Killian se voltou para o Capitão antes de seguir o Imediato.

— O Senhor vai ficar bem? Perdeu muito sangue do ombro ferido.

— Manter Cornélia viva é tudo que importa agora, jovem - ele meneou a cabeça em direção ao corpo estirado na cama, como se a visão fosse insuportável demais para que sustentasse o olhar.

Jones apenas assentiu e saiu para o ar enfumaçado do convés. Elisa ainda se dirigiu ao Capitão com um ar choroso antes que ele também saísse.

— Capitão, eu sinto muito… não devia nunca ter saído da cabine achando… bem, que seria de alguma utilidade… Não era a minha intenção dificultar as coisas, eu…

— Eu não devia tê-la trago a este navio - respondeu ele, sequer se dando ao trabalho de fitá-la. Elisa engoliu em seco, notando a expressão irritadiça e decepcionada do homem - Foi um equívoco.

 

Horas depois, após uma desajeitada mudança de cabine, Cornélia se encontrava inconsciente à cama que o pai lhe cedera. Os aposentos de Barba Negra não eram dos mais amplos e confortáveis, mas era compreensível que um pai quisesse prover um ambiente tranquilo a uma filha acamada.

Lady Elisa, que durante cerca de meia hora se dedicara a suturar os cortes, agora quedara silenciosa e imóvel à beira da cama. Não lavara as mãos sujas de sangue e nem mesmo se atentara a trocar o manchado vestido. Não se encontrava mesmo em seu estado normal de espírito e duvidava que algum dia fosse recobrá-lo. Por sua imprudência e ingenuidade, Cornélia, sua melhor e única amiga, poderia ter a vida ceifada no melhor de sua juventude.

— Você sabe que ele não quis dizer isso - o cozinheiro ia lhe dizendo, após ter levado um chá para acalmá-la. Lady tinha o rosto brilhante de lágrimas e murmurara a Killian o que o Capitão lhe dissera.

Ela soltou um fungado, quase um princípio de riso.

— Ah, ele quis… E não o julgo menos por isso - ela limpou o rosto com a palma de uma mão, sem muita delicadeza - Tão logo atracarmos, me retornará ao convento, de onde eu nunca devia ter saído.

— Elisa, você não deve se culpar. Foi força do acaso, Cornélia não é sobrehumana…

— Bem, devia ser eu no lugar dela. A pobre Elisa, incapaz de defender-se. Eu matei um marujo e agora Cornélia. Caso não venha a resistir, me atiro no mar com uma faca no coração.

Fosse pelo comentário ou fosse porque Elisa suspirara dramaticamente, o fato é que o cozinheiro se descontrolou ao agarrá-la por um braço. Lady suprimiu um guincho assustado, percebendo o quanto soara indigna ao dizer aquilo.

— Cale a boca! - ele a sacudiu com força excessiva, esquecendo-se de que se tratava de uma dama - Não ouse fazer com que sua vida termine em vão! Como se eu fosse permitir que Cornélia morresse e, mais ainda, que desperdiçasse a vida por alguém que julga melhor o suicídio pela incapacidade de lidar com a realidade   

— Eu sou fraca - ela piscou, a dor do aperto em seu braço servindo como uma espécie de choque de realidade. De certa forma, ela não absorvera completamente o que causara - A vida nesse navio não me ensinou o contrário. Que espécie de significado uma vida tão servil e inútil quanto a minha pode ter? O Capitão sequer me olha, os marujos ignoram a minha presença… e Cornélia, quando vier a se recuperar, me tratará de que forma? Bem posso tê-la aleijado, transformado seu corpo em uma prisão

— Foi Cornélia quem julgou digno salvá-la - Jones falou simplesmente, terminando por soltá-la.  

— Ela é minha única amiga. Eu não valia o sacrifício.

— Sou seu amigo também e não quero ouvir lamúrias. Se quiser permanecer no navio, o melhor que pode fazer é vingar o sacrifício de Cornélia.

Elisa bebeu um gole do chá, sentindo-se extremamente agitada por dentro. Franziu a testa para Killian.

— O que quer dizer?

— Faça por onde, mostre do que é capaz - o cozinheiro deu uma olhada na ruiva, que soltava murmúrios abafados de quando em quando - Qualquer um pode ser Cornélia, e não pela bravura: pela confiança que deposita em si mesmo. Se quiser fazer valer o sacrifício de Cornélia, eu a guiarei pelo caminho. Só não ouse regressar àquele convento sem sequer ter tentado.

Jones piscara para ela, o suficiente para que sentisse vibrar suas entranhas em uma espécie de onda de emoção. Até o momento, ninguém - nem ela própria - considerara que uma mulher potente se encontrasse adormecida sob todas aquelas anáguas.  

— Obrigada, Killian… - ela respondeu, com a voz embargada - Cornélia realmente o desvaloriza. Sabe disso, não sabe?

Killian se limitou a dar um meio sorriso em agradecimento, na verdade, ele não era acostumado a receber elogios tão adoráveis como aquele, foi então que lembrou que Lady Elisa era dama singela. Todo o drama envolvendo Cornélia o tirou da realidade.

— Assim que voltarmos para Nova Providência, vamos começar seu novo treinamento. - ele a assegurou, erguendo-se da cama e dando uma última olhada na ruiva inconsciente antes de ir para o convés ajudar a tripulação.

 

Barba Negra estava ao leme, quieto demais conduzindo seu navio enquanto Smee cumpria a função que normalmente seria dele ou de Cornélia, a de gritar ordens. Assim que o Segundo Imediato colocou todos em ordem, voltou-se para o Capitão.

— Senhor, tem certeza que não quer que eu peça para Lady Elisa dar uma olhada em seu ombro?

— Ah… Não! Isso não é nada! - ele praticamente cuspiu as palavras - Eu só quero manter minha filha em segurança. O mais rápido possível.

— Sim, senhor. - Smee assentiu e começou a recolher o que podia do convés para jogar no mar ou reaproveitar quando encontrou o papel que o capitão chegara sacudindo no navio - Senhor, o que é isto?

— Isso! - o rosto de Barba Negra assumiu um novo tom de raiva - Aquela bastarda maldita, Smee! Isso é uma carta, dando ordens para que nos atacassem! E informando o valor do pagamento, que foram todas essas sacas de ouro que pegamos.

— Delilah que fez isso? - Killian, que passava por ali, questionou, indo até os dois.

— Por que ela pagou outros e não veio por si só? - Smee pensou em voz alta.

— Ela sabia… - o jovem Jones murmurou - Ela sabia que não seria capaz contra essa tripulação e o navio estando a todo vapor e com Cornélia no comando!

Tanto Barba Negra quanto Smee arregalaram os olhos perante a linha de raciocínio do cozinheiro.

— Está me dizendo, jovem, que Delilah fez isso já sabendo que nós os venceríamos? - o capitão questionou.

— Ela não queria nos vencer! Queria nos debilitar e tirar Cornélia do caminho. Com todo respeito, senhor. Ela atacou os mais fortes primeiro!

— Temos que tirar a Cornélia desse navio! - Barba Negra passou rapidamente por eles e começou a berrar que se apressassem - SMEE, FAÇA ESSAS LESMAS INÚTEIS SEREM ÚTEIS!

— Sim, senhor! - Smee saiu de perto deles como um raio.

— E você, Killian Jones. - o capitão encarou o jovem e se aproximou dele - Estou te encarregando agora de proteger minha filha custe o que custar. Se algo acontecer com ela, eu farei questão de que o mesmo aconteça com você.

— S-Sim, senhor. - pela primeira vez, Killian se sentiu tão amedrontado com Barba Negra quanto se sentiria com Cornélia.


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Notas finais do capítulo

E agora, o que será de Cornélia? E o que esperar de Lady Elisa? Aguardamos comentários. Beijos e até a próxima



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